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A EXPERIÊNCIA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NOS CONSELHOS ESCOLARES: UM PASSO IMPORTANTE PARA A MELHORA NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

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CONSELHOS ESCOLARES: UM PASSO IMPORTANTE PARA A

MELHORA NA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

BERGAMO, Edmir Aparecido – PUCPR edmirbergamo@yahoo.com.br

Eixo Temático: Políticas Públicas e Gestão da Educação.

Resumo

A importância dos conselhos escolares não está em serem órgãos burocráticos, cartoriais e engessadores da dinamicidade dos profissionais e administradores da educação ou dos sistemas, mas abrirem uma relação entre Estado e sociedade, a serviço das finalidades maiores da educação, que é melhorar a aprendizagem dos alunos. É dentro dessa problemática que os conselhos escolares são um órgão gestor que cooperativamente, zelam pela aprendizagem e pela vivência política das escolas públicas brasileiras. Todos os conselhos escolares têm uma única convergência final, que é garantir o acesso e a permanência de todas as crianças, de todos os adolescentes, jovens e adultos em escolas com qualidade na aprendizagem. Assim, o objetivo deste artigo é discutir a escola pública brasileira, com o intuito de compreender a sua realidade de gestão democrática, para tentar melhorar os níveis de aprendizagem dos alunos, já que a partir dos conselhos escolares é possível um maior acompanhamento dos pais em relação a seus filhos nessa escola. Os conselhos escolares permitem o efetivo funcionamento da gestão democrática autônoma nas escolas públicas brasileiras, melhorando a aprendizagem dos alunos. Nos conselhos escolares, a comunidade escolar tem condições de se sentir os responsáveis pelo seu destino, de seus filhos e do futuro da escola. A comunidade escolar adquire nessas reuniões dos conselhos escolares uma consciência política, e passam a entender que a dinâmica interna do sistema educacional na sua escola, depende indiscutivelmente de sua mobilização, para exigir mudanças e solucionar os problemas educacionais de forma compartilhada. Nesse sentido, a metodologia empregada nesse trabalho é a dialética, uma vez que essa análise tem o poder de demonstrar a comunidade escolar que a responsabilidade pelo fracasso na escola pela aprendizagem dos alunos também é da comunidade e não somente do Estado.

Palavras-chave: Conselhos. Escolares. Gestão. Democrática. Aprendizagem.

Introdução.

O objetivo deste artigo é discutir a escola pública brasileira, com o intuito de compreender a sua realidade de gestão democrática, para tentar melhorar os níveis de

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aprendizagem dos alunos, já que a partir dos conselhos escolares é possível um maior acompanhamento dos pais em relação a seus filhos nessa escola. No sentido que a escola pública atual, esta permeada pelo autoritarismo do Estado burguês, principalmente na figura do cargo de diretor, mesmo que esta escola pública esteja tentando seguir as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996.

Por isso, neste artigo defende-se uma gestão democrática na escola pública brasileira de modo colegiado entre todos os membros que compõem a comunidade escolar, formada pelo diretor, pelos funcionários, pelos pais de alunos e os próprios alunos. Isto quer dizer, por meio dos conselhos escolares toda essa comunidade escolar agora tem o poder nessa forma de se organizarem de gerar uma autonomia nessa gestão democrática escolar, tanto em nível estrutural como em nível pedagógico.

Assim, essa comunidade escolar sabe dos limites que a própria noção de democracia burguesa colocou na escola, quando essa escola tenta se adaptar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n.º 9.394 sancionada em 20 de dezembro de 1996. Mas, ela sabe também de uma nova prática de gestão, ou seja, entende que o conselho escolar seja um grande instrumento de renovação política e de luta hegemônica, desde que implantado no conjunto da experiência escolar. Trata-se de cotejar esse ideal de conselho com a prática atualmente vigente para pensar em reformulações na escola. Isso quer dizer, por meio dos conselhos escolares a gestão democrática pode tornar-se autônoma a partir da prática cotidiana de participação dos interessados, vistos como dirigentes da sua comunidade escolar. É uma maneira de gerir a escola através da comunidade escolar, onde todos participam ativamente da discussão dos problemas, sejam eles pedagógicos, financeiros, etc... E esta participação nas reuniões dos conselhos escolares acontece sem medo dos participantes sofrerem qualquer tipo de repressão por parte do diretor, porque os participantes entendem conscientemente que esta discussão democrática é seu direito como membro da comunidade escolar.

A experiência da gestão democrática nos conselhos escolares e na LDB, como uma forma de melhorar a aprendizagem dos alunos.

A importância dos conselhos escolares para o efetivo funcionamento da gestão democrática autônoma nas escolas públicas brasileiras com a intenção de melhorar a

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aprendizagem dos alunos, é possível de ser medida pela real participação da comunidade escolar nas decisões da escola. Segundo, aponta Werle:

Falar de participação na educação reporta a compreensão de que qualidade se busca com a inserção de todos os envolvidos nos processos de gestão. Problematizar as articulações entre compromisso técnico e o compromisso político pode contribuir para ampliar a compreensão da administração da educação. (WERLE, 2003, p. 33)

Partindo dessa visão nova de gestão democrática, a escola pública só pode existir necessariamente com a participação da comunidade, tanto na execução das metas, como é mais comum, quanto na tomada de decisões, que é a partilha do poder. Uma partilha de poder que deve envolver a gestão tanto a nível estrutural da escola, em relação à parte financeira, etc..., como no nível pedagógico, no assessoramento da melhora da aprendizagem dos alunos. É nesse sentido que Paro afirmar, que é importante ter sempre presente este aspecto na gestão democrática para que não se tome a participação na execução como fim em si mesmo, quer como sucedâneo da participação nas decisões quer como maneira de escamotear ausência desta última no processo. (PARO, 2001, p. 16)

Trata-se de um sistema de participação na gestão democrática da escola pública brasileira que, se realmente praticado, demonstra de forma clara que a comunidade escolar tem voz nas decisões na escola, ou seja, cria as condições de inserção de todos os envolvidos diretamente nos assuntos relacionados aos vários interesses educacionais. De acordo com Werle, é uma nova forma de compreender a gestão democrática na escola pública, pelo viés da busca pela autonomia nas tomadas de decisões, uma vez que esses conselhos podem possibilitar o contexto de “heterogeneidade, de gratuidade e de inclusão, espaço público de aprendizagem de comportamentos democráticos, envolvendo tolerância, cooperação e respeito mútuo, em que todas as questões referentes à gestão escolar são tratadas” (WERLE, 2003, p. 16). Isto vem demonstrar, como afirma Schlesener, que a ação dos conselhos escolares na escola pode ser:

um processo contínuo, gerador de uma nova experiência de gestão política, que nasce da consciência crítica elaborada na ação e no debate. Na escola, a gestão estaria assim nas mãos de todos os participantes e envolvidos nas atividades educativas, isto é, professores, alunos, país e comunidade, e não apenas de um conselho ou de um diretor. (SCHLESENER, 2006, p. 184)

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Assim, a importância dos conselhos escolares não está em serem órgãos burocráticos, cartoriais e engessadores da dinamicidade dos profissionais e administradores da educação ou dos sistemas, mas abrirem uma relação entre Estado e sociedade, a serviço das finalidades maiores da educação, que é melhorar a aprendizagem dos alunos. Trata-se de um órgão gestor que cooperativamente, zela pela aprendizagem e pela vivência política nas escolas públicas brasileiras. Conforme Cury, todos os conselhos escolares têm uma única convergência final, que é garantir o acesso e a permanência de todas as crianças, de todos os adolescentes, jovens e adultos em escolas de qualidade. (CURY, 2000, p. 45)

Os conselhos escolares têm a finalidade de ser um espaço onde todas as decisões tomadas vão na direção de melhorar o sistema de ensino na escola. A escola, com a presença dos conselhos escolares, dá um passo à frente na direção de ser uma instituição que busca criticamente resolver problemas históricos de permanência e qualidade de ensino para seus alunos. É nesse sentido que Werle afirma que “cada conselho escolar é criado e produzido pela racionalidade, pela afetividade e pelos conflitos de seus participantes... A cada reunião, o conselho escolar organiza-se concretamente pela ação dos sujeitos particulares que o compõem. (2003, p. 101)

Nos conselhos escolares, a comunidade escolar tem condições de se sentir os responsáveis pelo seu destino, de seus filhos e do futuro da escola. A comunidade escolar adquire nessas reuniões dos conselhos escolares uma consciência política, e passam a entender que a dinâmica interna do sistema educacional na sua escola, depende indiscutivelmente de sua mobilização, para exigir mudanças e solucionar os problemas educacionais de forma compartilhada. Nesse sentido, a responsabilidade pelo fracasso na escola da aprendizagem dos alunos também é compartilhado entre a comunidade e o Estado. Essa reflexão se completa com o pensamento de Werle:

Os conselhos escolares podem trabalhar no refinamento da concepção de qualidade de ensino na escola. Assim, fazendo, estarão ocupando seu espaço de liberdade, pondo em evidência o pluralismo de posições que os compõem e, por certo, também, envolvendo questões de acesso e permanência de alunos. È uma temática desafiadora e que situa os conselhos escolares como um espaço da cidadania. (WERLE, 2003, p. 49)

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Assim, a gestão democrática vivida nos conselhos, por atos e relações que se dão no nível da realidade concreta da escola, se concretizam nas discussões. Uma vez que essas discussões visam a resolver temas relacionados à melhora imediata da aprendizagem dos alunos, em níveis sociais, políticos, pedagógicos, etc...

Por isso, os conselhos escolares são formados por pessoas que se interessam diretamente pela melhoria da escola, que querem ver seus filhos em melhores situações educacionais na sociedade:

Na dinâmica real, ... os conselhos escolares adquirem vida e forma material nas articulações relacionais entre os atores sociais que os compõem; na forma como pais, alunos, professores, funcionários e Direção apropriam-se do espaço do conselho, enquanto o constroem, de maneira dinâmica e conflitiva, utilizando-se, neste processo, de seus saberes ... Portanto, o conselho escolar é um processo e um produto de uma construção coletiva, cotidiana e particular de cada escola. (WERLE, 2003, p. 102).

E é neste contexto, que a figura do diretor assume um novo significado. Mesmo que o diretor tenha uma personalidade centralizadora, se a comunidade escolar for politicamente ativa na gestão por meio dos conselhos escolares, tanto em nível financeiro quanto pedagógico, dificilmente o diretor conseguirá controlar as decisões tomadas pelos conselhos, ou atuar como um mero preposto do Estado. A comunidade, ainda que o diretor queira se impor como autoridade, sempre irá vê-lo como mais um membro do conselho com participação igualitária, sem determinar os rumos da discussão.

A luta para garantir a gestão democrática autônoma na escola pública brasileira por meio da participação dos conselhos escolares precisa fazer-se no cotidiano e depende do grau de maturidade da comunidade escolar para defender o seu espaço democrático nesses conselhos. Conforme Cury, a ação nos conselhos escolares significa:

... tanto ouvir alguém , quanto submeter algo a uma deliberação de alguém, após uma ponderação refletida, prudente e de bom senso. Trata-se, pois, de um verbo cujos significados postulam a via de mão dupla: ouvir e ser ouvido. Obviamente à recíproca audição se compõem como ver e ser visto e, assim sendo, quando um conselho participa dos destinos de uma sociedade ou de partes destes, o próprio verbo consulere já contém um principio de publicidade. (CURY, 2000, p. 47)

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É nessa perspectiva, que a comunidade precisa se mobilizar na forma de conselhos, ou instituições similares, para conseguir, nem que seja de forma inicialmente mínima, participar da gestão escolar, e interferir positivamente na aprendizagem dos alunos. O poder de participação na gestão democrática autônoma sempre dependerá da força da comunidade em querer interferir e pressionar o Estado. Nessa visão, “deduz-se dessas colocações que uma teoria e uma prática de gestão dependem ... das relações políticas e da estrutura de poder que se instaura em determinados momentos históricos. (SCHLESENER, 2006, p. 179) Trata-se de relacionar a prática cotidiana com as questões políticas fundamentais, para criar novas condições de vivência democrática.

Nesse contexto, a leitura de Gramsci torna-se essencial para a proposição de uma nova gestão que se construa com o efetivo envolvimento de todos os interessados no processo e que tal envolvimento se constitua em renovação não apenas da escola, mas da própria individualidade daqueles que participam da construção dessa nova experiência. Porque trata-se de um processo de conquista da “maturidade e da capacidade de criação intelectual e prática”, capaz de gerar “uma certa autonomia na orientação e na iniciativa” (GRAMSCI, 2001, p. 36), possível apenas numa efetiva gestão democrática. Para criar essas condições, é preciso que a gestão escolar seja entendida dentro de um processo mais amplo de formação para a luta hegemônica. E, então, o trabalho dos conselhos pode deixar de ser mera execução de tarefas determinadas pelo diretor ou por políticas públicas, para tornar-se correlação de forças, conquista de espaços, criação de nova atitude política, e o mais importante de uma nova concepção pedagógica sobre a aprendizagem.

A conquista da autonomia na gestão democrática da escola pública brasileira exige, agora, a interação comunicativa, a discussão pública de problemas e soluções em busca do consenso em pautas básicas. Essa participação implica processos de organização, procedimentos políticos-administrativos reais adequados à coordenação, o acompanhamento e avaliação das atividades e, principalmente, cobrança de responsabilidades.

Na leitura de Bordignon e Gracindo, é preciso a substituição da postura de resignação e passividade da consciência servil, alienada, obediente e acrítica, pela consciência ativa que recria a si própria. Essas mudanças só são possíveis a partir da revolução da consciência que passam necessariamente pela mudança individual. O que faz com que essas mudanças propostas por esse novo paradigma da gestão democrática baseada na ação colegiada da comunidade escolar precisa de mudanças de estruturas mais radicais de pensamento.

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(BORDIGNON; GRACINDO, 2000, p. 152).

Mas, infelizmente, no Brasil, essa realidade da gestão está longe de acontecer concretamente. Mesmo que o Brasil afirme na LDB que a União, os Estados e os Municípios tenham responsabilidades solidários no cumprimento do dever constitucional de oferecer educação pública de qualidade para todos, na prática o Brasil vive dilemas de um modelo que está longe de ser eficiente. Conforme Garcia, este quadro parece real quando se vê orçamentos votados não cumpridos integralmente, programas abandonados aos sabores de interesses imediatos e a entrada cada vez mais intensa de recursos externos que causa a impressão de que esses são tomados mais para suprir omissões internas do que ampliar as possibilidades da qualidade da oferta educativa. (GARCIA, 2000, p. 127)

Assim, a esperança para mudar radicalmente este quadro de aparente participação da comunidade escolar na gestão da escola pública é se apegar às brechas deixadas por essas mesmas leis que garantem a vigência desse sistema e por meio delas conseguir mudar essa realidade da educação pública; a comunidade escolar precisa lutar, participar, por meio colegiado, principalmente nos conselhos escolares, para alterar essa realidade de aparente autonomia na gestão democrática escolar e torná-la realmente efetiva. Com isso quer se dizer, é preciso que a comunidade por meio dos conselhos escolares interfira diretamente na parte pedagógica da escola, ou seja, na melhora da aprendizagem dos alunos.

Nesse sentido, a LDB é a instância legal que gera um paradoxo, já que garante esse sistema de colaboração entre União, Distrito Federal, Estados e Municípios com seus programas insatisfatórios para a população brasileira e também garante a presença da comunidade escolar brasileira com suas peculiaridades locais a participar da gestão na sua forma democrática. Por isso, apoiados em Gramsci, podemos dizer que a questão política é tornar a escola pública repleta da comunidade escolar, e garantir a participação concreta e coletiva, gerando as condições de gestão democrática autônoma. A gestão efetivamente democrática e autônoma na escola pública implica tanto a reunião da comunidade escolar na forma de conselhos escolares, quanto à democratização da sociedade. A LDB, na sua riqueza e contradições, é o instrumento legal que precisa do respaldo da prática democrática no contexto de todas as relações sociais e políticas. Caso contrário, continuará a ser letra morta, a servir para a pequena política palaciana e para continuidade das atuais relações de poder.

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A atividade do diretor modificada na escola, tanto em termos de gestão financeira e pedagógica, a partir dos conselhos escolares.

A gestão democrática autônoma por meio da participação da comunidade escolar nos conselhos escolares é um dos caminhos, mas sendo o principal, para um ensino de qualidade. Porque tal experiência exige mudar urgentemente a estrutura administrativa escolar da escola pública brasileira. No sentido que segundo Paro “se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escola que temos aí ... Nesse sentido, que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola.” (2001, p. 10)

Durante um longo período, a gestão na escola pública brasileira consistiu para o diretor numa tarefa bastante rudimentar. O diretor era encarregado de zelar pelo bom funcionamento de sua escola, o que prejudicou muito o processo de qualidade da aprendizagem dos alunos. Contudo, com as transformações que surgiram, tanto no interior do sistema de ensino, quanto no meio social, que ocasionou o fortalecimento da sociedade civil, provocaram mudanças na concepção da educação, do papel da escola na sociedade e do papel do diretor (VALERIEN e DIAS, 2001, p. 78). Por isso concordando com Dourado, hoje:

A administração escolar configura-se, antes do mais, em ato político, na medida em que requer sempre uma tomada de posição. A ação educativa e, conseqüentemente, a política educacional em qualquer das suas feições possuem apenas uma dimensão política, mas é sempre política, já que não há conhecimento, técnica e tecnologias neutras, pois todas são expressões de formas conscientes ou não de engajamento. (DOURADO, 2000, p. 82)

Diante de uma nova realidade política da gestão escolar, o diretor não pode se colocar como uma mera autoridade designada pelo Estado. O diretor precisa se adaptar a uma nova prática, negociar as decisões tomadas, tanto em relação à gestão financeira quanto pedagógica na escola, o que melhora a realidade de aprendizagem dos alunos. Ainda que o Estado garanta a prerrogativa de autoridade imperativa ao diretor. Conforme Gutierrez e Catani, é preciso que o diretor comece a entender que a gestão democrática na escola pública precisa construir a autonomia por meio da real participação da comunidade escolar nesta gestão, é uma relação entre desiguais, mas que busca discutir todos os assuntos sobre educação de interesse da comunidade escolar. (GUTIERREZ e CATANI, 2000, p. 69)

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A direção se constrói e se legitima na participação, no exercício da democracia e na competência da construção coletiva de um projeto que reflita o projeto de homem e da sociedade que a comunidade quer. É a partir daí, que o diretor começa a respeitar posições contrárias aos seus pensamentos e começa a entrar na lógica da gestão escolar autônoma e coletiva dos conselhos escolares. (FERREIRA, 2000, p. 113)

Mas, infelizmente o que se tem hoje na escola pública brasileira ainda é um sistema hierárquico que coloca todo o poder nas mãos do diretor. Esse diretor é considerado à autoridade máxima no interior da escola, e isso lhe dá grande poder, sendo um preposto da autoridade do Estado. Esta regra de gestão, segundo Paro, astutamente mantida pelo Estado, confere um caráter autoritário ao diretor, na medida em que estabelece uma hierarquia entre ele e a comunidade escolar, onde sua figura é de chefe, contribuindo para uma imagem negativa da pessoa do diretor, que é confundida com o próprio cargo. A função do diretor na escola é a mesma desempenhada pelos intelectuais da classe dominante (PARO, 2001, p. 11). Segundo Valerien e Dias:

O diretor da escola é um burocrata, na medida em que ocupa uma situação concedida pela autoridade de um sistema hierárquico. Este diretor está encarregado, em certa medida, de manter as estruturas existentes e de satisfazer a vontade dos superiores hierárquicos, com os quais geralmente se identifica. (VALERIEN e DIAS, 2001, p. 83)

É para mudar esse quadro, que é preciso que o diretor compreenda que a maior tarefa da prática da gestão democrática autônoma é estar comprometida com a formação de homens e mulheres, ou seja, melhora do processo de aprendizagem dos alunos com a participação da comunidade na gestão da escola, para transformá-los em brasileiros fortes e capazes de dirigir seus destinos e os da nação. Para isso, conforme Ferreira, a gestão democrática educacional tem que possuir a força de gerar um conhecimento-emancipador, que possibilite o equilíbrio da afetividade nas relações, a competência em todas as atividades e a riqueza firme de caráter que norteia as ações. (FERREIRA, 2000, p. 113) Pesquisa concluída no inicio da década de 1990, demonstra que a realidade desse tipo de gestão escolar autônoma e coletiva que emancipe as pessoas esta longe de coadunar com a forma de gestão democrática praticada na escola pública brasileira, mesmo que existam os conselhos escolares. Nesse sentido, Dourado lança um alerta importante:

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... a democratização do processo pedagógico não se dá a margem de relações sociais mais amplas, daí a importância de se recuperar o caráter político da educação, de modo a se reestruturar a pratica educacional por meio do enfrentamento real de questões básicas, tais como: acesso, permanência e gestão democrática articulada a projetos concretos em que a relevância social da educação articula-se, inexoravelmente, à eficiência, eficácia e, particularmente, à efetividade, vinculando-as, organicamente, a respostas à sociedade civil organizada ... (DOURADO, 2000, p. 94)

Assim, a prática imperativa do diretor, além de inviabilizar a gestão democrática, enfraquece politicamente a comunidade, e prejudica o processo de aprendizagem dos alunos. Porque, participar da gestão da escola “caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem o seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados... “ (LUCK, 2000, p. 17) A atuação do diretor como gestor da escola pública não mudou muito, mesmo que se afirme que exista hoje uma gestão democrática por meio dos conselhos escolares, que prima pela participação da comunidade escolar. Por isso pode se afirmar que a autonomia da escola pública brasileira só ocorrerá se a comunidade tiver consciência do seu papel nessa mudança de foco da gestão, tanto em termos financeiros quanto pedagógicos, que passa de individualista para a colegiada, e não por um ato de preocupação democrática do diretor ou do Estado.

É nessa perspectiva de dificuldade que “a democratização se faz na prática”. Isto quer dizer, a comunidade escolar, os trabalhadores, têm que se envolverem diretamente com os problemas de sua escola, se interessar com o desenvolvimento diário da escola, pois “a democracia só se efetiva por atos e relações que se dão no nível da realidade concreta”. (PARO, 2001, p. 18).

Nesse contexto, para a gestão democrática na escola pública se efetivar, depende de consciência política e união da comunidade escolar. Segundo Paro, a gestão democrática da escola pública só vai mudar, tornando-se democrática e autônoma de fato, se a comunidade escolar estiver consciente da força da sua união, e exigindo a partir daí seus direitos como comunidade escolar unida. Porque nessa realidade cada escola constitui-se um núcleo de pressão para defender seus interesses educacionais, o que faz com que exista uma sintonia com elencos cada vez maiores, ao se aglomerar com outras entidades reivindicativas. Nessa

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atitude, a comunidade escolar está se colocando em nível de igualdade para argüir atos autoritários do Estado. (2001, p. 13).

Se retornarmos à perspectiva de Gramsci, a democratização das relações no interior da escola só pode acontecer num processo social de construção de novas relações de hegemonia, o que significa a luta por novas relações econômicas, sociais, políticas e culturais no conjunto da sociedade. A escola pode ser um núcleo de pressão, de formação e conscientização política, construídas na prática cotidiana, porém, sem nunca perder de vista que a garantia da gestão democrática depende da capacidade de mobilização da comunidade escolar na forma de conselhos escolares, onde nesses conselhos a comunidade passa a participar ativamente, exigindo seus direitos estabelecidos pela LDB.

Portanto, a gestão colegiada é a melhor forma para a classe trabalhadora realmente fazer parte da gestão democrática escolar autônoma, interferindo no processo de aprendizagem, pois pode exigir por meio da mobilização da comunidade escolar melhorias na parte pedagógica, financeira, etc... sem precisar de uma autorização do Estado na pessoa de seus técnicos políticos, como a pessoa do diretor.

A democracia no sistema de gestão escolar colegiada com a participação efetiva da comunidade escolar deixa de ser um ato de concessão, uma palavra vazia, com o diretor sendo, ou relutando ser o preposto direto do Estado e torna-se uma experiência de fato, com o diretor acatando as decisões tomadas nos conselhos pela comunidade escolar, a favor ou mesmo contra a sua vontade.

Considerações finais

A gestão democrática na escola pública é um processo de longo prazo, que exige o amadurecimento das pessoas envolvidas e a democratização de toda a sociedade. Num conselho escolar, as pessoas envolvidas nesse processo precisam entender que as decisões não podem ser tomadas na base do autoritarismo ou da arrogância de pensar ter mais privilégios do que seus companheiros de conselhos. O conselho escolar foi estipulado justamente para que esse tipo de atitude das pessoas sejam eliminadas. Num conselho escolar, todos devem ter a oportunidade de se expressar livremente, porque é isto que faz o conselho ser realmente democrático. Se isto não acontecer, os conselhos escolares tornam-se ferramentas tão enrijecidas que em vez de proporcionar uma gestão democrática faz

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transparecer novamente uma gestão autoritária. O conselho escolar é um meio de exercer a gestão democrática, desde que ele seja realmente tratado como uma ferramenta democrática, do contrário ele será mais um órgão que consolida os interesses do Estado, mas não aprofunda a questão, tornando a realidade sempre igual só que utilizando outros meio para parecer ser diferente do modo anterior.

As pessoas membros dos conselhos escolares conscientemente percebem a partir daí, que sua opinião tem peso no momento de discutir os assuntos relacionados à sua escola e decidir sobre os encaminhamentos. E o diretor por mais que seja uma autoridade direta do Estado, no conselho escolar a sua opinião tem o mesmo valor como de qualquer outra pessoa. Nesse sentido, num conselho escolar que prime pela gestão democrática autônoma ás pessoas membros da comunidade escolar decidem por meio de um debate livre e aberto, sem medo de sofrerem represálias depois que se acaba a reunião. A única maneira desse quadro se inverter é se o diretor da escola também acumular o cargo de presidente do conselho escolar. A gestão democrática realmente se concretiza no cotidiano por meio da gestão coletiva dos conselhos e essa prática precisa ser incentivada nas escolas.

REFERÊNCIAS

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e a escola. In FERREIRA, Naura Suria Carapeto e AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Orgs.)

Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000, p. 147-176.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Os conselhos de educação e a gestão dos sistemas. In FERREIRA, Naura Suria Carapeto e AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Orgs.) Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000, p. 43-60.

DOURADO, Luiz Fernandes. A escolha de dirigentes escolares: políticas e gestão da

educação no Brasil. In FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.). Gestão democrática da

educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2000, p. 77-95.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org).Gestão democrática da educação: atuais

tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2000.

GARCIA, Walter. Tecnocratas, educadores e os dilemas da gestão. In FERREIRA, Naura Syria Carapeto e AGUIAR, Márcia Ângela da S. (Orgs.). Gestão da educação: impasses,

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PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática na escola pública. São Paulo: Ática, 2001.

SCHLESENER, Anita Helena. Revolução e cultura em Gramsci. Curitiba: UFPR, 2002. SCHLESENER, Anita Helena. Gestão democrática da educação e formação dos conselhos

escolares. In FERREIRA, Naura S. Carapeto. (Org) Políticas públicas e gestão da educação:

polêmicas, fundamentos e análises. Brasília: Líber Livro, 2006, 177-189.

VALERIEN, Jean e DIAS, José Augusto. Gestão da escola fundamental: subsídios para

análise e sugestões de aperfeiçoamento. São Paulo: Cortez, 2001.

WERLE, Flávia Obino Corrêa. Conselhos escolares: implicações na gestão da escola

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