• Nenhum resultado encontrado

CONSELHO DE DISCIPLINA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CONSELHO DE DISCIPLINA"

Copied!
34
0
0

Texto

(1)

Página 1 de 15

CONSELHO DE DISCIPLINA

SECÇÃO NÃO PROFISSIONAL

Processo disciplinar n.º 85 – 2020/2021

DESCRITORES:

Jogador

Equipa

de

arbitragem – Ética desportiva – Ofensas à

honra,

consideração

e

dignidade

Responsabilidade Disciplinar – Regulamento

Disciplinar – Conselho de Disciplina – Decisão

– Relatório Final – Adesão

(2)

Página 2 de 15

ESPÉCIE: Processo Disciplinar

PARTES: Mateus Pasinato, jogador da Moreirense Futebol Clube – Futebol, SAD, na qualidade

de arguido

DATA DO ACÓRDÃO: 7 de maio de 2021 TIPO DE VOTAÇÃO: Unanimidade RELATOR: Pedro Coelho Simões

OBJETO: Factos ocorridos por ocasião do jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006,

disputado no dia 12 de janeiro de 2021, e que opôs a Moreirense SAD à Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021

NORMAS APLICADAS: 36.º, 158.º, 245.º do RDLPFP, 244.º e 245.º do RDFPF SUMÁRIO:

I. O Conselho de Disciplina pode, ao abrigo da prerrogativa conferida pelo artigo 245.º, n.º 1, do RDFPF, decidir por adesão ao Relatório Final do Instrutor, passando, assim, este – quer quanto à matéria de facto, como quanto à fundamentação de direito – a fazer parte integrante e incindível da decisão, com exceção daquilo em que a contrarie expressamente.

II. Pratica a infração prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP, o jogador que, de forma livre, consciente e voluntária, com conhecimento da ilicitude do respetivo comportamento, durante um jogo oficial e após decisão da equipa de arbitragem, se vira na direção de uma das câmaras do operador televisivo que estava a transmitir o jogo e profere a expressão «roubando, roubando», ao mesmo tempo que, com a palma da mão esquerda virada para baixo e com o polegar da outra mão a tocar-lhe, faz um movimento giratório com a mão direita, abrindo e fechando os dedos dessa mão, gesto que repete várias vezes e que, pelo menos no Brasil, país de onde é nacional, tem o significado inequívoco de “roubar”, e que, além disso, após o árbitro principal consultar a repetição do lance no vídeo árbitro (VAR) e decidir pela regularidade do mesmo, procura novamente uma câmara do

(3)

Página 3 de 15

operador televisivo e, virando-se para a mesma, repete o gesto com as mãos, acompanhado da já mencionada expressão.

III. Nos termos do disposto no artigo 245.º do RDLPFP e, também, no artigo 244.º do RDFPF, em caso de confissão integral e sem reservas, os limites mínimos e máximos das molduras sancionatórias aplicáveis são reduzidos a metade, ficando o arguido dispensado do pagamento da taxa de justiça.

ACÓRDÃO

Acordam, em Plenário, ao abrigo dos artigos 216.º, n.º 1, 229.º, 244.º, n.º 3 e 245.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (1), os membros do Conselho de

Disciplina, Secção Não Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol (2),

I – RELATÓRIO DE TRAMITAÇÃO PROCESSUAL §1. Registo inicial

1. No dia 15 de janeiro de 2021, o CDSNP deliberou a instauração de processo averiguações com vista ao apuramento, e apreciação da respetiva relevância disciplinar, da factualidade reportada em comunicação remetida, no dia 13 de janeiro de 2021, pelo Senhor Diretor de Comunicação da FPF, atinente à alegada «[r]eação de Mateus Pasinato (guarda-redes do Moreirense) depois de ser validado o golo que deu a vitória ao Santa Clara e originou a eliminação do Moreirense da Taça de Portugal», através da qual foram partilhados (via wetransfer) dois ficheiros vídeos, atinentes ao 86.º minuto do jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006, disputado no dia 12 de janeiro de 2021, entre a Moreirense, SAD e a Santa Clara, SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, edição de 2020/2021 (cf. fls. 1 a 4).

2. No dia 20 de janeiro de 2021, o processo de averiguações foi autuado, registado com o número 54/Aver.-20/21 (cf. verso da capa do processo de averiguações) e distribuído a Inquiridor (nos termos e para os efeitos do previsto no art.º 232.º, n.ºs 4 e 5 do RDFPF), após o

(1) Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol com as alterações aprovadas pelo Direção da

Federação Portuguesa de Futebol na sua reunião de 10 de julho de 2020, doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDFPF. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página oficial da FPF na internet e foi publicitado pelo Comunicado Oficial n.º 460, de 13 de julho de 2020.

(4)

Página 4 de 15

que, ainda na mesma data, foram os autos conclusos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, em cujo contexto, por despacho do seu Coordenador, foi nomeada Instrutora (cf. fls. 5).

3. Na data da conclusão dos autos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, o processo de averiguações encontrava-se autuado com a sobredita deliberação de instauração (fls. 1), com a sobredita comunicação do Senhor Diretor de Comunicação da FPF (fls. 2 e 3) e com os ficheiros vídeo pelo mesmo partilhados (fls. 4).

4. Na sequência da aludida nomeação, a senhora Instrutora, em sede de inquérito, promoveu as seguintes diligências probatórias:

a) Juntou aos autos a Ficha de Jogo, as Fichas Técnicas e o Relatório de Ocorrências do Delegado da FPF, todos atinentes ao jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006, disputado no dia 12 de janeiro de 2021, entre a Moreirense, SAD e a Santa Clara, SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, edição de 2020/2021 (cf. fls. 6 a 24);

b) Extraiu e juntou aos autos o Cadastro Disciplinar de Dirigente, atinente a Mateus Pasinato (fls. 25);

c) Solicitou, aos Serviços Administrativos do Departamento Jurídico da Liga Profissional de Futebol Profissional, esclarecimentos relativos à inscrição do jogador Mateus Pasinato na presente época desportiva 2020/2021 (fls. 26), na sequência do que logrou a informação constante de fls. 40 a 43;

d) Pediu à Direção de Arbitragem a disponibilização do contacto de correio eletrónico do árbitro do referido jogo n.º 101.05.006 e, ainda, a disponibilização de cópia do Relatório do Observador da Equipa de Arbitragem (fls. 28), o que lhe foi facultado nos termos constantes de fls. 30 a 39;

e) Juntou aos autos Cadastro Disciplinar de Jogador (fls. 44), “Detalhe de Inscrições” (fls. 45 a 47) e “Player Passport” (fls. 48), todos atinentes ao jogador Mateus Pasinato.

5. Após promoção das sobreditas diligências, a senhora Instrutora apresentou, no dia 1 de março de 2021, nos termos do disposto no artigo 249.º, n.º 5 do RDFPF, “Relatório

(5)

Página 5 de 15

Fundamentado”, onde conclui que «[a] matéria de facto apurada nos presentes autos (vide Cap. II – Factualidade Indiciada), salvo melhor opinião, é suscetível de integrar a prática de infração de Injúrias e ofensas à reputação pelo jogador da Moreirense SAD Mateus Pasinato, prevista e sancionada pelo artigo 158.º, al.a) do RDLPFP», em face do que propôs «nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 249.º, a convolação do presente processo de averiguações em processo disciplinar, nele figurando como arguido MATEUS PASINATO, Licença FPF n.º 1287385, Jogador da Moreirense SAD e tendo por objeto o jogo oficial n.º 101.05.006 disputado entre a Moreirense SAD e a Santa Clara SAS no dia 12 de janeiro de 2021 a contar para a Taça de Portugal Placard» (cf. fls. 49 a 54).

6. Por força da apresentação do referido “Relatório Fundamentado”, os autos foram, para efeitos de apreciação, conclusos ao senhor Inquiridor (fls. 55), que, por despacho datado de 3 de março de 2021 (fls. 57), determinou a «junção aos autos do referido vídeo do jogo (com imagem e som)».

7. Na sequência, tendo os serviços administrativos do Conselho de Disciplina da FPF dado cumprimento ao sobredito despacho (cf. fls. 58), os autos foram novamente conclusos ao senhor Inquiridor, que, por despacho datado de 12 de março de 2021, considerou que «o processo deve ser convolado em disciplinar e seguir termos contra o jogador Mateus Pasinato, titular da Licença FPF n.º 1287385, por existirem nos autos indícios de que este, no jogo em apreço, referente à competição Taça de Portugal Placard, praticou uma infração disciplinar prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do Regulamento Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional», em face do que propôs «ao Conselho de Disciplina que delibere: (i) Que os presentes autos passem a correr termos como processo disciplinar, com aproveitamento de todos os atos já praticados; (ii) Contra o agente desportivo Mateus Pasinato, na qualidade de Arguido; (iii) Para aferição da sua responsabilidade individual à luz do previsto no artigo 158.º, alínea a), do RDLPFP, por factos ocorridos por ocasião do jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006, disputado no dia 12 de janeiro de 2021, e que opôs a Moreirense SAD à Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021» (cf. fls. 59 a 62).

8. Em face de tal despacho, o CDSNP, na sua reunião plenária de 12 de março de 2021, concordou com a proposta apresentada e deliberou a instauração de processo disciplinar contra o agente desportivo Mateus Pasinato, jogador da Moreirense Futebol Clube - Futebol, SAD, para

(6)

Página 6 de 15

efeitos de aferição da sua responsabilidade disciplinar à luz do previsto no artigo 158.º, alínea a), do RDLPFP, por factos alegadamente ocorridos por ocasião do jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006, disputado no dia 12 de janeiro de 2021, e que opôs a Moreirense SAD à Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021 (cf. fls. 62).

9. No dia 15 de março de 2021, o processo disciplinar foi autuado e registado com o número 85/Disc.-20/21 (cf. verso da capa), após o que, ainda na mesma data, foram os autos conclusos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, em cujo contexto, por despacho do seu Coordenador, manteve a Instrutora anteriormente designada nos autos de processo de averiguações (cf. fls. 69).

10. No dia 16 de março de 2021, na sequência da notificação, ao arguido, da instauração do processo disciplinar (fls. 63 a 68), a Moreirense Futebol Clube – Futebol, SAD, por mensagem de correio eletrónico, solicitou «o envio do relatório do árbitro e delegado da Federação Portuguesa de Futebol referente ao jogo n.º 101.05.006, disputado a 12 de janeiro de 2021 entre Moreirense SAD e Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal (fls. 70 e 71). Em face de tal solicitação, a senhora instrutora fez os autos conclusos ao Inquiridor (fls. 72), que, por despacho datado de 17 de março de 2021 (fls. 74), «tendo presente que nos termos estabelecidos pelo artigo 234.º n.º3 do RDFPF «[o] processo disciplinar é secreto até ao fim da fase de inquérito», fase processual essa que, manifestamente, não se encontra ainda concluída», indeferiu o requerimento apresentado.

11. Na sequência da instauração do processo disciplinar, a senhora Instrutora, em sede de inquérito, juntou, de novo, aos autos o Cadastro Disciplinar de Jogador, referente ao arguido (fls. 79), tendo, ainda, extraído e juntado aos autos “Detalhes de inscrições” da Moreirense Futebol Clube – Futebol, SAD (fls. 80 a 82).

12. Na sequência, a senhora Instrutora, entendendo o inquérito findo, considerou existirem indícios suficientes da prática de infração disciplinar e, consequentemente, após lograr adesão expressa do Inquiridor ao projeto por si apresentado (nos termos impostos pelo art.º 238.º, n.º 1 do RDFPF – cf. fls. 85), deduziu despacho de acusação contra o arguido (cf. fls. 86 a 91), onde sustentou resultar suficientemente indiciado nos autos que o jogador Mateus Pasinato, por ocasião do referido jogo oficial n.º 101.05.006, praticou «[u]ma infração disciplinar

(7)

Página 7 de 15

prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP (3), à qual corresponde, em

abstrato, a aplicação da sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o máximo de 75 UC».

13. No dia 13 de maio de 2021, a senhora Instrutora promoveu, através de mensagem de correio eletrónico (cf. fls. 92 a 95), nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 240.º do RDFPF, a notificação da acusação ao arguido, na sequência do que, nos termos e para os efeitos do disposto no art.º 241.º, n.º 1 do RDFPF, foram os autos conclusos ao CDSNP e distribuídos a Relator (cf. fls. 96 e 97).

14. No prazo concedido, o arguido apresentou requerimento por si subscrito (fls. 102 e 103), com reconhecimento presencial, por advogado, da respetiva assinatura (fls. 103), onde, além do mais, declarou «confessar integralmente e sem reservas a infracção que lhe é imputada, nos termos do artigo 244.º do RDFPF».

15. Na sequência, a senhora Instrutora procedeu à elaboração de relatório final do processo disciplinar, ao abrigo do disposto no artigo 243.º, n.º 1 do RDFPF, que consta de fls. 105 a 122 dos autos, e no qual, a final, propõe «a condenação do arguido Mateus Pasinato, pela prática de 1 (uma) infração disciplinar prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP na sanção de 1 jogo de suspensão e multa a fixar em 4UC».

16. No dia 5 de maio de 2021, os autos foram conclusos ao Relator, que considerou encontrarem-se reunidas as condições processuais para encerramento da fase de instrução, na sequência do que prosseguiram os autos para elaboração de projeto de acórdão, nos termos do artigo 245.º do RDFPF.

§2. Da acusação

(3) Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portugal, aprovado na Assembleia

Geral Extraordinária de 27 de junho de 2011, com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 14 de dezembro de 2011, 21 de maio de 2012, 06 e 28 de junho de 2012, 27 de junho de 2013, 19 e 29 de junho de 2015, 08 de junho de 2016, 15 de junho de 2016 e 29 de maio, 13 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 13 de junho de 2018 e 29 de junho de 2018, 22 de maio de 2019 e 28 de julho de 2020, ratificado na reunião da Assembleia Geral da FPF de 26 de agosto de 2020, acessível, para consulta, em www.fpf.pt, abreviadamente identificado no texto por RDLPFP.

(8)

Página 8 de 15

17. Em sede de despacho de acusação, aduz-se que, na sequência de lance de jogo ocorrido ao 86.º minuto do jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006, disputado no dia 12 de janeiro de 2021, entre «Moreirense SAD e a Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard», o «jogador n.º 14 da Moreirense SAD, o guarda-redes Mateus Pasinato, aqui arguido, virou-se na direção de uma das câmaras do operador televisivo que estava a transmitir o jogo e proferiu a expressão «roubando, roubando», ao mesmo tempo que, com a palma da mão esquerda virada para baixo e com o polegar da outra mão a tocar-lhe, fazia um movimento giratório com a mão direita, abrindo e fechando os dedos dessa mão, gesto que repete várias vezes (cfr. minuto 00:47:33 do ficheiro de fls. 58) e que, pelo menos no Brasil, país de onde é nacional, tem o significado inequívoco de “roubar”».

18. Acrescenta o libelo acusatório que, nesse contexto, «após o árbitro principal consultar a repetição do lance no vídeo árbitro (VAR) e decidir pela regularidade do mesmo, o arguido Mateus Pasinato procura novamente uma câmara do operador televisivo e, virando-se para a mesma, repete o gesto com as mãos, acompanhado da mesma expressão referida no ponto antecedente (cfr. minuto 00:50:00 do ficheiro de fls. 58)».

19. Perante tal, a acusação sustenta que o arguido «agiu de forma livre, consciente e voluntária», «[b]em sabendo que as palavras que proferia e os gestos que fazia eram injuriosos e suscetíveis de ofender a honra e a consideração dos visados», «[o] que fez e quis fazer bem sabendo que a sua conduta era desconforme os regulamentos desportivos e, ainda assim, não se absteve de a realizar», o que, no entende do referido libelo, é suficiente para lhe imputar a prática de «[u]ma infração disciplinar prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP, à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o máximo de 75 UC».

20. Vem o libelo acusatório sustentado no acervo probatório já mencionado nos pontos 3., 4., 6. e 11. do presente acórdão.

§3. Da defesa

21. Nos termos acima já anunciados, o arguido veio, em sede de defesa escrita, «confessar integralmente e sem reservas a infracção que lhe é imputada, nos termos do artigo 244.º do RDFPF», concretizado, além disso, em tal articulado, que se envergonha «do

(9)

Página 9 de 15

comportamento que teve no dia e hora da prática da infração, não a conseguindo esconder de cada vez que assiste às imagens da mesma» e que «sabe que deve ser um exemplo para todos aqueles que o seguem e assistem aos jogos de futebol, nomeadamente e principalmente os mais jovens que veem nos atletas, seus ídolos, exemplo a seguir».

22. Acrescenta, em sua defesa, que «sente ainda mais o peso da responsabilidade, pois é pai de uma menina e um menino ainda menores de idade, que devem ver nele o homem íntegro, justo, honesto e sobretudo alguém que age com racionalidade, consciente de que as acções trazem consigo consequências», sendo «também por isso que o arguido confessa a infração praticada, pois sabe ter sido errada e está ciente que não o devia ter feito», além de que «é a fonte de sustento do seu agregado familiar, necessitando por isso de trabalhar para o poder continuar a fazer».

23. Nessa medida, o arguido, considerando «demonstrado o seu arrependimento, vergonha e promessa de não voltar a repetir o comportamento em causa», requer a aplicação de «sanções pelo mínimo regulamentar, ou seja, a suspensão de 1 jogo e, acessoriamente, uma multa de 8UCs».

II – COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE DISCIPLINA

24. De acordo com o artigo 43.º, n.º 1 do RJFD2008 (4), compete a este Conselho, de

acordo com a lei e com os regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos estatutos e das competências da liga profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva. No mesmo sentido, dispõe o artigo 15.º do Regimento deste Conselho (5).

(4) Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações desportivas e do

estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2º e 4º Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último.

(10)

Página 10 de 15

III – QUESTÕES PRÉVIAS

25. Inexistem questões prévias que obstem ao conhecimento da causa ou que cumpra previamente decidir, sendo os elementos constantes do processo disciplinar bastantes para decidir.

IV – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO E DE DIREITO E GRADUAÇÃO DA MEDIDA DA SANÇÃO

26. Compulsados os autos, verifica-se que a apreciação da matéria de facto, a fundamentação de direito e a graduação da medida da sanção constantes do Relatório Final estão corretas, não merecendo, salvo quanto à precisão que adiante se fará, reparo ou acrescento.

27. No vertente caso, como decorre do aludido Relatório Final, encontra-se demonstrado que, de forma livre, consciente e voluntária, com conhecimento da ilicitude do respetivo comportamento, o arguido, durante o jogo n.º 101.05.006, «virou-se na direção de uma das câmaras do operador televisivo que estava a transmitir o jogo e proferiu a expressão «roubando, roubando», ao mesmo tempo que, com a palma da mão esquerda virada para baixo e com o polegar da outra mão a tocar-lhe, fazia um movimento giratório com a mão direita, abrindo e fechando os dedos dessa mão, gesto que repete várias vezes (cfr. minuto 00:47:33 do ficheiro de fls. 58) e que, pelo menos no Brasil, país de onde é nacional, tem o significado inequívoco de “roubar”», além de que, «após o árbitro principal consultar a repetição do lance no vídeo árbitro (VAR) e decidir pela regularidade do mesmo, o arguido Mateus Pasinato procura novamente uma câmara do operador televisivo e, virando-se para a mesma, repete o gesto com as mãos, acompanhado da mesma expressão referida no ponto antecedente (cfr. minuto 00:50:00 do ficheiro de fls. 58)».

28. Ora, demonstrado se encontra que o arguido, conhecendo os seus deveres enquanto agente desportivo, agiu de forma livre, consciente e voluntária, bem sabendo que as palavras que proferia e os gestos que fazia eram suscetíveis de ofender a honra e a consideração dos elementos da equipa de arbitragem, o que fez e quis fazer bem sabendo que a sua conduta era desconforme os regulamentos desportivos (e, ainda assim, não se absteve de a realizar), em face do que não pode deixar de se concluir, sem sombra de dúvida, que a conduta do arguido

(11)

Página 11 de 15

se subsume, tanto em termos objetivos, como em termos subjetivos, na facti species da infração disciplinar prevista e sancionada pelo art.º 158.º, alínea a), do RDLPFP, revelando-se a conduta do arguido culposa, juridicamente censurável por indiferente e contrária aos valores protegidos pelo ordenamento jurídico-disciplinar

29. Em face de tal materialidade, cumpre recordar que a infração prevista e sancionada pelo artigo 158.º, alínea a) do RDLPFP, sanciona com «sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o máximo de 75 UC», o jogador que use «expressões, verbalmente ou por escrito, ou façam gestos de carácter injurioso, difamatório ou grosseiro», «no caso de expressões dirigidas contra a equipa de arbitragem».

30. Note-se, neste particular, que, por força do estabelecido na cláusula 9.ª, n.º 5 do Contrato Celebrado entre a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (6), «[n]o âmbito da participação de clubes das competições profissionais em

competições organizadas pela FPF é aplicável aos jogadores e treinadores o regime sancionatório previsto no Regulamento Disciplinar da LPFP, independentemente da prova onde a infração tiver sido cometida, seguindo-se o procedimento disciplinar estabelecido no Regulamento Disciplinar da FPF».

31. Ora, tendo a materialidade acima referida sido, de forma integral e sem reservas, confessada pelo arguido, que, em consonância, aceitou os termos da imputação que lhe foi dirigida em sede de libelo acusatório, a senhora Instrutora sustenta a aplicação, no vertente caso, do disposto no artigo 245.º do RDLPFP que, prevendo a possibilidade de o arguido, «[a]té ao início da produção da prova na audiência disciplinar, (…) confessar integralmente e sem reservas os factos que lhe são imputados» (n.º 1), caso em que «é a audiência disciplinar dada sem efeito; seguidamente, o relator, por despacho sumariamente fundamentado, procede à qualificação jurídica dos factos e à determinação da sanção aplicável» (n.º 3), sendo «os limites mínimo e máximo das sanções de suspensão e das sanções de natureza pecuniária aplicáveis são

(6) Estabelecido ao abrigo do disposto nos n.ºs 1 e 2 do art.º 23.º da Lei de Bases da Atividade Física e do

Desporto (Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro) e do art.º 28.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas (Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho).

(12)

Página 12 de 15

reduzidas a metade e o arguido fica dispensado do pagamento das custas do procedimento, mas não das despesas a que haja dado lugar» (n.º 6).

32. Embora de pouco relevo na aferição do vertente caso, cumpre, contudo, dizer que, atenta a natureza procedimental da referida norma (atinente à tramitação do processo disciplinar regulado no RDLPFP), o caso concreto determinaria, em rigor, e no que concerne concretamente à relevância processual da confissão do arguido, a aplicação do vertido no artigo 244.º do RDFPF. Certo é, em qualquer caso, que também esta norma determina, em caso de confissão integral e sem reservas, na ausência de dúvidas quanto à sua credibilidade, que «os limites mínimo e máximo das sanções aplicáveis [sejam] reduzidos para metade, aplicando-se o disposto no artigo 45.º n.º 3, [ficando] o arguido (…) dispensado de taxa de justiça».

33. Pelo exposto, atenta a existência de confissão integral e sem reservas, as molduras sancionatórias aplicáveis quedam-se reduzidas, nos respetivos limites mínimos e máximos, a metade, em face do que as sanções a aplicar ao arguido se hão de fixar, no que concerne à sanção de suspensão, entre 1 e 2 jogos e, no que diz respeito à sanção de multa, entre 7,5 UC e 37,50 UC.

34. Além disso, por se tratar de jogador vinculado a um clube da I Liga, no caso a Moreirense Futebol Clube – Futebol, SAD, o valor da unidade de conta (que, nos termos do disposto no artigo 36.º, nº 1 do RDLPFP, é estabelecido «com referência ao valor da unidade de conta (UC) a que se refere o artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de fevereiro, e demais diplomas legais que o complementem ou substituam») é, nos termos do disposto no número 2 do mesmo artigo 36.º do RDLPFP, «objeto da aplicação do fator de ponderação de 1; 0,85; 0,7; 0,55 ou 0,4 conforme total das receitas, excluindo os ganhos associados a transferências temporárias ou definitivas de jogadores, inscritas no relatório e contas da época anterior depositado na Liga, seja superior a 25 milhões de euros, entre 15 e 25 milhões de euros, entre 10 e 15 milhões de euros, entre 5 e 10 milhões de euros ou inferior a 5 milhões de euros, respetivamente».

35. Nesse pressuposto, de acordo com a tabela elaborada pela LPFP, para os efeitos previstos no § único do ponto 2 daquele artigo 36.º do RDLPFP, em caso de aplicação de sanções a agentes desportivos da Moreirense Futebol Clube – Futebol, SAD (que se encontra no primeiro escalão – até € 5.000.000,00 – de “rendimentos operacionais”), é aplicável o fator de ponderação

(13)

Página 13 de 15

de 0,4, em face do que a UC aplicável, no vertente caso, se reduz ao montante de € 40,8 (quarenta euros e oitenta cêntimos) (7).

36. Nessa medida, embora se concorde com a avaliação realizada em sede de Relatório Final, quanto à medida e graduação das sanções a aplicar – nomeadamente no que concerne à devida apreciação, em sede de dosimetria das sanções, do desvalor decorrente da ampla divulgação (televisiva) da conduta em escrutínio – cumpre, porém, referir, no que concerne à sanção de multa, que a sanção concreta se não pode fixar em valor inferior a 7,5 UC, sem prejuízo de, em sede de quantificação, se levar em linha de conta o fator de ponderação referido no ponto precedente.

37. Na verdade, o referido fator de ponderação opera, não na redução dos limites das molduras sancionatórias, mas, em rigor, no valor unitário da UC que, na medida da ponderação aplicável, se vê reduzido.

38. Pelo exposto, em concreto, sopesada toda a materialidade dada como provada e os critérios normativos orientadores da dosimetria da sanção, entende-se adequado e suficiente, tanto em termos preventivos como para efeitos sancionatórios, situar a sanção a aplicar em valor superior ao mínimo legal, embora abaixo do ponto médio das molduras sancionatórias aplicáveis, e, nessa medida, à luz do disposto no RDLPFP, condenar o arguido, pela prática da infração prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP, na sanção de 1 (um) jogo de suspensão e, acessoriamente, na sanção de 10 UC de multa, ou seja, por força da aplicação do fator de ponderação previsto no artigo 36.º, n.º 2 do RDLPFP, no valor de € 408,00 (quatrocentos e oito euros) (8).

39. Em face de tudo quanto exposto, e aqui chegados, feita essa expressa precisão quanto à sanção de multa a aplicar, o CDSNP subscreve, quanto ao demais, o Relatório Final da senhora Instrutora – por se entender que a apreciação da matéria de facto, a fundamentação de direito e a graduação da medida da sanção constantes do mesmo estão corretas – e, ao abrigo

(7) Ou seja, 40,8 = 102 x 0,4.

(8) Ou seja, 408 = 10 x (102 x 0,4), que é equivalente a 408 = 10 x 40,8 (valor da unidade de conta após aplicação

do fator de ponderação previsto no n.º 2 do artigo 36.º do RDLPFP, tomando em linha de conta a tabela elaborada pela LPFP).

(14)

Página 14 de 15

da prerrogativa conferida pelo artigo 245.º n.º 1, do RDFPF, adere a esse Relatório Final, passando, assim, o mesmo a fazer parte integrante e incindível desta decisão.

V. DECISÃO

Nestes termos e com os fundamentos expostos, o Conselho de Disciplina – Secção Não Profissional – da Federação Portuguesa de Futebol considera totalmente procedente a acusação deduzida contra o arguido e, em consequência, decide sancionar o jogador Mateus Pasinato, prática da infração prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP, na sanção de 1 (um) jogo de suspensão e, acessoriamente, na sanção de 10 UC de multa, ou seja, por força da aplicação do fator de ponderação previsto no artigo 36.º, n.º 2 do RDLPFP, em sanção de multa no valor de € 408,00 (quatrocentos e oito euros).

Custas, nos termos regimentais, pelo arguido, que, por força do disposto no artigo 244.º, n.º 2 do RDFPF, se encontra, nos presentes autos, dispensado do pagamento de taxa de justiça.

Registe, notifique e publicite.

Cidade do Futebol, 7 de maio de 2021

(15)

Página 15 de 15

RECURSO DESTA DECISÃO

As decisões do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol são passíveis de recurso, nos termos da lei e dos regulamentos, para o Conselho de Justiça ou para o Tribunal Arbitral do Desporto.

De acordo com o artigo 44.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro, na redação conferida pelo artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 93/2014 de 23 de junho, cabe recurso para o Conselho de Justiça das decisões disciplinares relativas a questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.

O recurso deve ser interposto no prazo de 5 dias úteis (artigo 35.º do Regimento do Conselho de Justiça aprovado pela Direção da Federação Portuguesa de Futebol, em 18 de dezembro de 2014 e de 29 de abril de 2015 e publicitado pelo Comunicado Oficial n.º 383, de 27 de maio de 2015).

Em conformidade com o artigo 4.º, n.ºs 1 e 3, da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto (aprovada pelo artigo 2.º da Lei n.º 74/2013 de 6 de setembro, que cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei, na redação conferida pelo artigo 3.º da Lei n.º 33/2014 de 16 de junho - Primeira alteração à Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro, que cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei), compete a esse tribunal conhecer, em via de recurso, das deliberações do Conselho de Disciplina.

Exclui-se dessa competência, nos termos do n.º 6 do citado artigo, a resolução de questões emergentes da aplicação das normas técnicas e disciplinares diretamente respeitantes à prática da própria competição desportiva.

O recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto deve ser interposto no prazo de 10 dias, contados da notificação desta decisão (artigo 54.º, n. º2, da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto).

(16)

Processo Disciplinar n.º 85 – 2020/2021

RELATÓRIO FINAL

Arguido:

Mateus Pasinato, jogador profissional, Licença FPF n.º 1287385

I. Relatório

§1. Registo Inicial

A instauração do presente processo disciplinar contra o Sr. Mateus Pasinato, licença n.º 1287385, jogador da Moreirense Futebol Clube SAD, foi determinada por despacho do Exmo. Senhor Relator no seguimento de proposta de convolação do Processo de Averiguações n.º 54 - 2020/2021 em processo disciplinar, com o objeto de apreciar factos ocorridos por ocasião do jogo oficialmente identificado pelo n.º 101.05.006, disputado no dia 12 de janeiro de 2021, e que opôs a Moreirense SAD à Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021 (cfr. fls. 59 e ss).

Aos quinze dias do mês de março do ano de dois mil e vinte e um foi autuado o presente processo (cfr. verso da capa), distribuídos ao Exmo. Senhor Inquiridor e conclusos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF (a fls. 69).

No mesmo dia, por despacho do Exmo. Senhor Coordenador da Comissão de Instrução Disciplinar (a fls. 69), nos termos do disposto no n.º 4 do artigo 249.º, do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol1, fui nomeada instrutora e incumbida do

inquérito e instrução do processo disciplinar contra o arguido melhor identificado nos autos.

(1) Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol aprovado pelo Comité de Emergência da Federação

Portuguesa de Futebol, publicado pelo Comunicado Oficial da FPF n.º 460, no dia 13 de julho de 2020, com as alterações aprovadas pela Direção da FPF, na sua reunião de 10 de julho de 2020 e, doravante abreviado, por mera economia de texto, por “RDFPF”.

(17)

§2. Diligências instrutórias realizadas em sede de inquérito

A instrutora, em sede de inquérito, oficiou e juntou aos autos, designadamente, os seguintes documentos:

i. Deliberação do Conselho de Disciplina de 15/01/2021 (fls. 1); ii. Dois vídeos referentes a episódio ocorrido durante o jogo (fl. 4);

iii. Ficha do jogo oficial n.º 101.05.006 disputado entre a Moreirense SAD e a Santa Clara SAS no dia 12 de janeiro de 2021 a contar para a Taça de Portugal Placard (fls. 6 e ss); iv. Fichas Técnicas de cada um dos Clubes intervenientes no jogo dos autos (fls. 9 e ss);

v. Relatório de Ocorrências elaborado pelo Delegado da FPF ao jogo dos autos (fls. 19 e ss); vi. Relatório de Observação e Formação do Conselho de Arbitragem da FPF (fls. 32 e ss); vii. Ficha de Inscrição do jogador Mateus Pasinato, n.º FPF 12873852 (fls. 42 e ss);

viii. Cadastro Disciplinar do jogador Mateus Pasinato (fls. 44);

ix. Listagem de Inscrições do jogador Mateus Pasinato disponível na plataforma SCORE (fls. 45 e ss);

x. Player Passport do jogador Mateus Pasinato (fls. 48). xi. Vídeo completo do jogo dos autos (fls. 58);

xii. Listagem de Inscrições da Moreirense Futebol Clube SAD (fls. 80 e ss).

§3. Acusação

Findo o inquérito, por se entender existirem indícios suficientes da prática de infração disciplinar, foi deduzida acusação contra o arguido Mateus Pasinato, imputando-lhe a prática de:

• Uma infração disciplinar prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP, à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o máximo de 75 UC.

(2) Informação prestada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, na medida em que, tratando-se de jogador

(18)

No dia 25 de abril de 2021, foram os autos apresentados ao Ilustre Inquiridor, nos termos e para os efeitos do disposto no número 1 do artigo 238.º do RDFPF (a fls. 83) e, no dia 3 de maio de 2021, este aderiu expressamente à acusação então submetida à sua apreciação (a fls. 85).

A acusação foi regularmente notificada ao arguido, em conformidade com o número 1 do artigo 240.º do RDFPF, por mensagem de correio eletrónico, datada de 3 de maio de 2021 (a fls. 92 e ss).

Nesse mesmo dia, os autos foram conclusos ao Conselho de Disciplina da FPF (a fls. 96) e distribuídos ao Exmo. Senhor Relator por despacho da Exma. Senhora Presidente do Conselho de Disciplina da FPF (a fls. 97), nos termos e para os efeitos do número 1 do artigo 241.º do RDFPF.

§4. Defesa

No prazo concedido para o efeito, o arguido apresentou a defesa escrita que se encontra junta aos autos a fls. 101 e ss, confessando integralmente e sem reservas as imputações constantes da acusação, nos seguintes termos (transcrição):

1. O arguido envergonha-se do comportamento que teve no dia e hora da prática da infracção, não a conseguindo esconder de cada vez que assiste às imagens da mesma.

2. O arguido sabe que deve ser um exemplo para todos aqueles que o seguem e assistem aos jogos de futebol, nomeadamente e principalmente os mais jovens que vêm nos atletas, seus ídolos, exemplo a seguir.

3. No caso concreto, o arguido sente ainda mais o peso da responsabilidade, pois é pai de uma menina e um menino ainda menores de idade, que devem ver nele o homem íntegro, justo, honesto e sobretudo alguém que age com racionalidade, consciente de que as acções trazem consigo consequências.

(19)

4. É também por isso que o arguido confessa a infracção praticada, pois sabe ter sido errada e está ciente que não o devia ter feito.

5. Mais, o arguido é a fonte de sustento do seu agregado familiar, necessitando por isso de trabalhar para o poder continuar a fazer.

Dito isto,

6. Atenta a confissão integral e sem reservas, devem os limites máximos e mínimos das sanções a aplicar ser reduzidos para metade, que no caso sempre terá de fixar- se a suspensão entre 1 e 2 jogos e a sanção acessória de multa entre 8 e 38 UCs.

7. No presente caso, tendo em conta o comportamento do arguido, demonstrando o seu arrependimento, vergonha e promessa de não voltar a repetir o comportamento em causa, deve ser-lhe aplicadas sanções pelo mínimo regulamentar, ou seja, a suspensão de 1 jogo e, acessoriamente, uma multa de 8UCs.

II. Questões prévias

Inexistem questões prévias que obstem ao conhecimento da causa ou que cumpra previamente analisar, sendo os elementos constantes do processo disciplinar bastantes para que o competente órgão disciplinar possa decidir.

III. Fundamentação de facto

§1. A prova no direito disciplinar desportivo

Em sede de direito disciplinar desportivo, atenta a particular natureza sancionatória do respetivo processo, tem plena validade a convocação, em sede de exame crítico da prova, do princípio geral da livre apreciação da prova, consagrado no artigo 127.º do Código do Processo Penal, de acordo com o qual “salvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente”.

(20)

O RDFPF prevê expressamente este princípio no número 2 do artigo 220.º, onde estatui “salvo quando o Regulamento dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção dos órgãos disciplinares”.

Todavia, no âmbito disciplinar desportivo, a concreta conformação do mencionado princípio vê-se condicionada pelo valor especial e reforçado que os relatórios oficiais e declarações complementares das equipas de arbitragem e dos delegados da FPF merecem em tal contexto. Com efeito, o RDFPF – numa aproximação à previsão constante do artigo 169.º do Código de Processo Penal – passou a dispor, no número 3 do artigo 220.º, que os factos presenciados pelas equipas de arbitragem e pelos delegados da FPF no exercício de funções, e constantes de relatórios de jogo e de declarações complementares, se presumem verdadeiros enquanto a sua veracidade não for fundadamente posta em causa (3). Destarte, a credibilidade probatória

reforçada de que gozam tais relatórios oficiais só sairá abalada quando, perante a prova produzida, existirem fundadas razões para acreditar que o seu conteúdo não é verdadeiro (4).

Para além disso e em segundo lugar, no que tange à atividade decisória, a força probatória reforçada de que tais relatórios beneficiam impõe ao julgador, quando entenda impor-se o afastamento da presunção de veracidade, um “especial dever de fundamentação” (5).

(3) O valor probatório qualificado a que o RDFPF alude constitui um mecanismo regulamentar compreendido e

justificado pelo cometimento de funções particularmente importantes aos árbitros e delegados da FPF, a quem compete representar a instituição no âmbito dos jogos oficiais, cumprindo e zelando pelo cumprimento dos regulamentos, nomeadamente em matéria disciplinar (ainda que isso possa não corresponder aos interesses egoísticos dos clubes). Na verdade, encontramo-nos, nesta sede, no domínio do exercício de poderes de natureza pública – in casu, disciplinares –, que se sobrepõem aos interesses particulares dos clubes. No quadro competitivo, enquanto os clubes concretizam interesses próprios, compete a quem tem o poder e o dever de organizar a prova e fazer cumprir os regulamentos prosseguir um interesse superior ao interesse próprio de cada um dos clubes que a integram. Neste conspecto, o interesse superior da competição, realizado no âmbito de determinados poderes de natureza pública (que são exercidos em representação da própria FPF), justifica perfeitamente que os relatórios dos árbitros e dos delegados e declarações complementares respetivas – vinculados que estão a deveres de isenção e equidistância –, gozem da aludida presunção de veracidade (presunção «juris tantum»). Trata-se, afinal, da consequência necessária e justificada do exercício, no quadro do jogo, da autoridade necessária para assegurar a ordem, a disciplina e o cumprimento dos regulamentos, distanciando-se das disputas que envolvem os participantes nas provas.

(4) Deste modo, perante tal presunção, a todos os que pretendam sindicar e refutar materialidade relatada por

árbitros e delegados da FPF (e declarados como diretamente percecionados no exercício das respetivas funções oficiais) impõe-se um especial esforço probatório, exigindo-se-lhes a apresentação de prova bastante para legítima e racionalmente questionar, colocar fundadamente em causa ou justificadamente pôr em dúvida a veracidade dos factos narrados nos relatórios oficiais ou declarações complementares.

(5) Convocando o pensamento de Paulo Pinto de Albuquerque, este «A limitação do julgador consiste em que ele

deve “fundadamente” pôr em causa a autenticidade ou veracidade do documento», In Comentário ao Código de Processo Penal, 2.ª Edição, Un. Católica Editora, 2008, pág. 452.

(21)

Em todo o caso, importa ainda tomar em linha de conta que, à semelhança do processo penal, são neste contexto, e à luz do que determina o número 1 do art.º 220.º do RDFPF, “admissíveis as provas que não forem proibidas por lei (…) podendo os interessados apresentá-las diretamente ou requerer que sejam produzidas quando forem de interesse para a justiça da decisão”.

§2. Factos provados e motivação

Analisada e valorada, à luz das regras da experiência comum, toda a prova produzida em sede de inquérito constante dos autos, considera-se provada a seguinte factualidade relevante para a decisão:

1. O Arguido Mateus Pasinato, nascido no Brasil em 28/06/1992, passaporte FY100390, encontra-se inscrito, na presente época desportiva, no Clube Moreirense SAD como jogador.

2. O jogador Mateus Pasinato apresenta cadastro disciplinar, quer na presente época desportiva, quer na época desportiva imediatamente anterior em que esteve inscrito.

3. Com efeito, está averbada ao seu cadastro disciplinar a prática das seguintes infrações disciplinares:

3.1. Na época 2020/2021: uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 164.º, n.º 1 e uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 164.º, n.º 2 – se bem que estas infrações tenham sido cometidas em data posterior à do jogo dos autos.

3.2. Na época 2019/2020: uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 164.º, n.º 1, uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 164.º, n.º 2, duas infrações disciplinares previstas e sancionadas pelo artigo 164.º, n.º 3 e duas infrações disciplinares previstas e sancionadas pelo artigo 164.º, n.º 4.

4. A Moreirense Futebol Clube SAD, Clube onde o jogador ora Arguido está inscrito, disputa, na época desportiva 2020/2021, a 1.ª Liga de Futebol Profissional, prova organizada pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

(22)

5. E, consequentemente, disputa a Taça de Portugal Placard, prova organizada pela FPF.

6. No dia 12 de janeiro de 2021, realizou-se, no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos, Guimarães, o jogo oficial n.º 101.05.006, entre a Moreirense SAD e a Santa Clara SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard.

7. O jogo teve o resultado final Moreirense SAD 1 x Santa Clara SAD 2.

8. O jogador Mateus Pasinato foi inscrito na ficha de jogo pelo Moreirense SAD com o n.º 14, assumindo a posição de guarda-redes.

9. Aos 86 minutos, o jogador n.º 70 da Santa Clara SAD salta para a bola, cabeceando-a e marcando golo. Ao mesmo tempo o jogador Mateus Pasinato também salta para a bola, chocando com o jogador n.º 70 da Santa Clara SAD e caiu de forma aparatosa no terreno do jogo.

10. Após a obtenção do segundo golo pela equipa da Santa Clara SAD – golo esse que colocou o resultado em 1-2, favorável à Santa Clara SAD –, o jogador n.º 14 da Moreirense SAD, o guarda-redes Mateus Pasinato, aqui arguido, virou-se na direção de uma das câmaras do operador televisivo que estava a transmitir o jogo e proferiu a expressão «roubando, roubando», ao mesmo tempo que, com a palma da mão esquerda virada para baixo e com o polegar da outra mão a tocar-lhe, fazia um movimento giratório com a mão direita, abrindo e fechando os dedos dessa mão, gesto que repete várias vezes (cfr. minuto 00:47:33 do ficheiro de fls. 58) e que, pelo menos no Brasil, país de onde é nacional, tem o significado inequívoco de «roubar»(6).

11. E, após o árbitro principal consultar a repetição do lance no vídeo árbitro (VAR) e decidir pela regularidade do mesmo, o arguido Mateus Pasinato procura novamente uma câmara do operador televisivo e, virando-se para a mesma, repete o gesto com as mãos, acompanhado da mesma expressão referida no ponto antecedente (cfr. minuto 00:50:00 do ficheiro de fls. 58).

(6) Neste sentido, vide FÁBIO ISHIYAMA DE RICCIO, “A Linguagem Gestual – Comparação entre a Gestualidade Nipônica e

a Brasileira”, p. 50 (disponível para consulta em

(23)

12. O jogador arguido, ao protestar da decisão da equipa de arbitragem, através de palavras e gestos, conforme descrito nos dois pontos antecedentes, agiu de forma livre, consciente e voluntária,

13. Bem sabendo que as palavras que proferia e os gestos que fazia eram injuriosos e suscetíveis de ofender a honra e a consideração dos visados,

14. O que fez e quis fazer bem sabendo que a sua conduta era desconforme os regulamentos desportivos e, ainda assim, não se absteve de a realizar.

A convicção formada apoia-se, fundamentalmente, na prova carreada para o processo, designadamente, no vídeo do jogo dos autos, na ficha de jogo e nas fichas técnicas do jogo dos autos.

Mais se consigna, expressamente, ter-se tomado em consideração todos os documentos juntos aos autos, tendo os mesmos sido analisados de forma crítica e conjugada, quer cada um deles isoladamente, quer todos eles de forma conjunta e global, desse modo permitindo concluir pela verificação da factualidade acima dada como provada.

A convicção formada quanto aos factos provados resulta:

a)

Facto provados 1 – Assenta na Ficha de Inscrição do jogador Mateus Pasinato, n.º

FPF 1287385 (fls. 42 e ss), na sua listagem de Inscrições disponível na plataforma SCORE (fls. 45 e ss) e no Player Passport respetivo (fls. 48), documentos extraídos da aplicação informática interna da FPF e sobre cuja autenticidade não suscita qualquer dúvida;

b) Factos provados 2 e 3 – Sustentam-se no cadastro disciplinar do arguido (fls. 44 e 79), documento extraído da aplicação informática interna da FPF e sobre cuja autenticidade não suscita qualquer dúvida;

c) Factos provados 4 e 5 – Resultam da listagem de Inscrições da Moreirense Futebol Clube SAD (fls. 80 e ss), documento extraído da aplicação informática interna da FPF e sobre cuja autenticidade não suscita qualquer dúvida;

(24)

d) Factos provados 6 a 8 – No que diz respeito aos dados gerais do jogo, os mesmos encontram-se ancorados na ficha de jogo (fls. 6 e seguintes) e respetivas fichas técnicas (fls. 9 e seguintes);

e) Factos provados 9 a 11 – Estribam-se, essencialmente, nas imagens de vídeo do jogo dos autos (a fls. 58), no Relatório do Observador da equipa de arbitragem (fls. 32 e ss) e, ainda, na obra A Linguagem Gestual – Comparação entre a Gestualidade Nipônica e a Brasileira”, p. 50 (disponível para consulta em

http://www.periodicos.ufam.edu.br/index.php/HonNoMushi/article/view/3384/30 42);

f) Factos provados 12 a 14 – Decorrem de toda a prova carreada no processo, conjugada com as regras de experiência comum;

Atenta a prova carreada nos autos, e, designadamente as imagens-vídeo do jogo, não restam dúvidas de que o arguido adotou os comportamentos descritos na factualidade dada como provada.

Para além disso, cumpre, ainda, recordar que o arguido confessou integralmente e sem reservas os factos que lhe eram imputados, pelo que não se vislumbra qualquer abalo à credibilidade dos meios de prova juntos aos autos e assim se conclui que decisão a tomar terá que, necessariamente, neles se basear.

§3. Dos factos não provados e motivação

Atendendo à prova produzida, inexistem factos não provados com relevância para os presentes autos.

(25)

IV. Fundamentação de direito

§1. Enquadramento jurídico-disciplinar – Fundamentos e âmbito do poder disciplinar

O poder disciplinar exercido no âmbito das competições organizadas pela FPF assume natureza pública, em virtude do seu estatuto de utilidade pública desportiva. Tal resulta dos números 1 e 2 do artigo 19.º da Lei nº 5/2007, de 16 de janeiro, bem como do artigo 10.º e da alínea i) do artigo 13.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas.

Nos termos do disposto no número 1 do artigo 52.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas, a existência de um poder disciplinar justifica-se pelo dever legal de sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas, nomeadamente as relativas à ética desportiva, entendendo-se por estas últimas as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo (número 2 do artigo 52.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas).

O poder disciplinar exerce-se sobre clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade desportiva compreendida no seu objeto estatutária (número 1 do artigo 54.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas). Em conformidade com o disposto no artigo 55.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas, o regime da responsabilidade disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal.

O quadro normativo agora sumariado alumia estarmos na presença de um poder disciplinar que se impõe, em nome dos valores mencionados, a todos os que se encontram a ele sujeito, no âmbito já delineado e que, por essa razão, assenta na prossecução de finalidades que estão bem para além dos pontuais e concreto interesses desses agentes e organizações desportivas.

(26)

§2. Das infrações disciplinares em geral

O RDFPF encontra-se estruturado, no estabelecer das infrações disciplinares, pela qualidade do agente infrator – clubes, dirigentes, jogadores, delegados dos clubes e treinadores, demais agentes desportivos, espectadores, árbitros, árbitros assistentes, observadores de árbitros e delegados da FPF. Para cada um destes tipos de agente o RDFPF recorta tais infrações e respetivas sanções em obediência ao grau de gravidade dos ilícitos, qualificando assim as infrações como muito graves, graves e leves.

§3. Das infrações disciplinares concretamente imputadas

Em sede de acusação, foi formulada a seguinte imputação contra o arguido Mateus Pasinato: • Uma infração disciplinar prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP,

à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o máximo de 75 UC.

Em causa encontra-se a previsão constante dos seguintes normativos, cujo teor se transcreve na íntegra:

Nos termos da cláusula 9.ª, n.º 5 do Contrato Celebrado entre a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, ao abrigo dos n.ºs 1 e 2 do art.º 23.º da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro) e do art.º 28.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas (Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho): “No âmbito da participação de clubes das competições profissionais em competições organizadas pela FPF é aplicável aos jogadores e treinadores o regime sancionatório previsto no Regulamento Disciplinar da LPFP, independentemente da prova onde a infração tiver sido cometida, seguindo-se o procedimento disciplinar estabelecido no Regulamento Disciplinar da FPF”.

(27)

O art. 3.º, n.º 1 do RDLPFP estabelece que este último se a aplica “a todos os clubes e agentes desportivos que, a qualquer título ou por qualquer motivo, exerçam funções ou desempenhem a sua atividade no âmbito das competições organizadas pela Liga Portugal”.

E o art. 4.º, n.º 1, al. b) do RDLPFP define como agentes desportivos, entre outros, os “jogadores”.

O artigo 158.º, al. a) do RDLPFP, sob a epígrafe “Injúrias e ofensas à reputação” sanciona o seguinte comportamento: “Os jogadores que usem expressões, verbalmente ou por escrito, ou façam gestos de carácter injurioso, difamatório ou grosseiro são punidos: a) no caso de expressões dirigidas contra a equipa de arbitragem, com a sanção de suspensão a fixar entre o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o máximo de 75 UC.”.

§4. O caso concreto: subsunção ao direito aplicável

A subsunção ao direito aplicável pressupõe que se efetue a exegese das normas sancionatórias, para assim verificar se se encontram ou não preenchidos todos os elementos típicos, objetivos e subjetivos, que a mesma comporta.

De acordo com o art. 17.º do RDLPFP, “[c]onsidera-se infração disciplinar o facto voluntário, por ação ou omissão, e ainda que meramente culposo, que viole os deveres gerais ou especiais previstos nos regulamentos desportivos e demais legislação aplicável”.

Temos assim que o conceito de infração disciplinar integra os seguintes elementos constitutivos: (i) um facto voluntário (ativo ou omissivo); (ii) típico; (iii) ilícito e (iv) culposo. Significa isto que, na medida em que aqueles elementos são de verificação cumulativa, a falta de qualquer um deles comporta, como consequência necessária, a inexistência de qualquer infração disciplinar.

(28)

Ao Arguido Mateus Pasinato, jogador profissional, tendo cometido infração disciplinar em competição organizada pela FPF, aplica-se-lhe o regime sancionatório do Regulamento da LPFP, por força da cláusula 9.ª, n.º 5 do Contrato Celebrado entre a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, ao abrigo dos n.ºs 1 e 2 do art.º 23.º da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro) e do art.º 28.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas (Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho).

Este Regulamento, aplica-se a todos os clubes e agentes desportivos7 que, a qualquer título ou

por qualquer motivo, exerçam funções ou desempenhem a sua atividade no âmbito das competições organizadas pela Liga Portugal (cfr. artigo 3.º, n.º 1 do RDLPFP).

*

Por fim, cumpre efetuar este juízo de exegese quanto à infração que foi imputada em sede de acusação ao clube arguido. O Jogador Arguido vem acusado da prática de uma infração disciplinar prevista e sancionada pela al. a) do artigo 158.º do RDLPFP.

Para que se possa aplicar o referido tipo disciplinar é necessário que, voluntariamente e ainda que de forma meramente culposa, (i) um jogador (ii) use expressões, verbais ou escritas, ou façam gestos de carácter injurioso, difamatório ou grosseiro (iii) dirigidas contra a equipa de arbitragem.

Nesta sede, cumpre recordar, nos termos que resultam da factualidade considerada provada, e que o Arguido confessou integralmente e sem reservas, que o Arguido, no jogo dos autos a contar para a Taça de Portugal, protestou duas vezes de decisões da equipa de arbitragem, por gestos e palavras que são inequivocamente injuriosas (dizendo que o árbitro estava a roubar o Moreirense, enquanto fazia o gesto de “roubar” com as mãos).

Verificados os elementos típico-objetivos da norma sancionatória, urge concluir sobre o elemento subjetivo da mesma. Nesta senda, conclui-se que a conduta da arguida se apresenta

(29)

suscetível de preenchimento do mesmo, na modalidade de dolo, havendo, no caso vertente, conhecimento (ou seja, a arguida agiu com representação de todos os elementos que integram o facto ilícito – elemento intelectual) e vontade (o mesmo é dizer, a arguida dirigiu a sua vontade à realização do facto ilícito, querendo diretamente praticá-lo – elemento volitivo do dolo) de realização do tipo objetivo de ilícito. O arguido, enquanto jogador profissional de futebol, sabiaque as palavras que proferia e os gestos que fazia eram injuriosos e suscetíveis de ofender a honra e a consideração dos visados, e sabendo que o jogo era televisionado, virou-se na direção de uma das câmaras do operador televisivo que estava a transmitir o jogo e proferiu a expressão «roubando, roubando», ao mesmo tempo que, com a palma da mão esquerda virada para baixo e com o polegar da outra mão a tocar-lhe, fazia um movimento giratório com a mão direita, abrindo e fechando os dedos dessa mão, gesto que repete várias vezes – ou seja, o que fez e quis fazer, sabendo que a sua conduta era desconforme os regulamentos desportivos e, ainda assim, não se absteve de a realizar.

Pelo exposto, perante o preenchimento dos elementos objetivo e subjetivo do ilícito disciplinar em causa, só pode concluir-se que o arguido Mateus Pasinato deve ser responsabilizado pela sua conduta e, em consequência, considerar demonstrada a prática da aludida infração disciplinar por facto próprio.

Encontram-se, portanto, reunidos os pressupostos de natureza objetiva e subjetiva de que depende a responsabilidade disciplinar, à luz da alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP.

V. Medida e graduação da sanção

§1. Determinação da medida da sanção

Qualificados juridicamente os factos e operada a sua subsunção aos preceitos legais sancionadores, conclui-se que:

• O Arguido Mateus Pasinato praticou uma infração disciplinar prevista e sancionada pela alínea a) do artigo 158.º do RDLPFP, pelo que deve ser o arguido condenado.

(30)

Importa, por isso, agora proceder à determinação da medida concreta das sanções a aplicar.

É no Capítulo III (medida e graduação das sanções), artigos 52.º a 61.º, do RDLPFP20 que nos deparamos com as normas que possibilitam alcançar a medida concreta da sanção, tendo sempre presente o princípio da proporcionalidade, patente no artigo 10.º,8 e o funcionamento

das circunstâncias que, não fazendo parte do tipo da infração, militem a favor do agente ou contra ele, e que encontram consagração nos artigos 53.º (Circunstâncias agravantes) e 55.º (Circunstâncias atenuantes) do Regulamento. A isto acresce ainda a possibilidade de atenuação especial da sanção, prevista no artigo 60.º, incidente sobre a sanção concretamente aplicada.

Como princípio estruturante da tarefa de concretização da medida da sanção, devemos ter ainda como revelante o disposto no artigo 52.º (Determinação da medida da sanção): «A determinação da medida da sanção, dentro dos limites definidos no presente Regulamento, far-se-á em função da culpa do agente, tendo ainda em conta as exigências de prevenção de futuras infrações disciplinares.»

Portanto, prevenção e culpa são os critérios gerais a atender na fixação da medida concreta da sanção, espelhando o primeiro a necessidade comunitária do sancionamento do caso concreto, ou, nas distintas palavras de Figueiredo Dias, «a necessidade de tutela da confiança e das expectativas da comunidade na manutenção da vigência da norma violada»,9 e constituindo o

segundo dos enunciados critérios, especificamente dirigido ao agente da infração, o limite às exigências de prevenção e, portanto, o limite máximo da sanção.

Mister é, neste particular, notar que é a ideia de prevenção geral (positiva) enquanto finalidade primordial visada pela sanção, que dá sustento ao cumprimento do princípio da necessidade da pena consagrado, em termos gerais, no artigo 18.º, n.º 2 da CRP. São, nomeadamente, as exigências de prevenção geral que definem a chamada “moldura da prevenção”, em que o quantum máximo de sanção corresponderá à medida ótima de tutela dos bens jurídicos e das expectativas comunitárias que a sanção deve alcançar e o limite inferior é aquele que define o

(8) Segundo o artigo 10.º do RDLPFP20, «as sanções disciplinares aplicadas como consequência da prática das

infrações disciplinares previstas no presente regulamento devem ser proporcionais e adequadas ao grau da ilicitude do facto e à intensidade da culpa do agente».

(9) Jorge de Figueiredo Dias, Direito Penal – Teoria Geral, Tomo I, 2.ª ed. (reimpressão), Coimbra Editora, Coimbra,

(31)

limiar mínimo da defesa do ordenamento jurídico, abaixo do qual já não é comunitariamente suportável a fixação de sanção sem irremediável prejuízo da respetiva função tutelar. Nesse contexto, no que concerne às exigências de prevenção especial ou individual, a sanção não pode deixar de alcançar o objetivo de fazer o arguido interiorizar o desvalor da sua conduta de molde a prevenir a prática de futuros ilícitos disciplinares. Em todo o caso, a medida da sanção não pode ultrapassar a medida da culpa, que constitui «um limite inultrapassável de todas e quaisquer considerações preventivas».10 São este, pois, os critérios que orientam o aplicador

do direito na determinação do substrato da medida da pena.

§2. O caso concreto

Ora, apurados os factos valorados como atentatórios da ordem jurídica desportiva e enquadrados nos respetivos tipos de infração, resta apreciar e decidir as sanções a aplicar.

Elucidada a forma como se relacionam a culpa e a prevenção no processo de determinação concreta da pena e qual a função que uma e outra cumprem naquele processo, importa então eleger a totalidade das circunstâncias do complexo integral do facto que relevam para a culpa e para a prevenção. FIGUEIREDO DIAS chama a esta tarefa “a determinação do substrato da medida da pena» e àquelas circunstâncias «os fatores da medida da pena” (11). Na

concretização deste trabalho e nos termos já acima abordados, quanto à determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos no RDFPF, a mesma faz-se em função da culpa do agente, tendo ainda em conta as exigências de prevenção de futuras infrações disciplinares, considerando todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de infração, militem a favor do agente ou contra ele.

A prática da infração disciplinar prevista e sancionada no artigo 158.º RDLPF120 [Injúrias e Ofensas à Reputação] é punida, em abstrato, com o mínimo de um e o máximo de quatro jogos e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 15 UC e o

(10) Jorge de Figueiredo Dias, Direito Penal – Teoria Geral, Tomo I, 2.ª ed. (reimpressão), Coimbra Editora, Coimbra,

2012, p. 230.

(32)

máximo de 75 UC.

Note-se, todavia, que nos termos do disposto no n.º 6 do artigo 245.º do RDLPFP em caso de confissão integral e sem reservas, como sucedeu nos presentes autos, os limites mínimo e máximo das sanções de suspensão e das sanções de natureza pecuniária aplicáveis são reduzidas a metade e o arguido fica dispensado do pagamento das custas do procedimento, mas não das despesas a que haja dado lugar.

Assim, a moldura da sanção de suspensão abstratamente aplicável ao arguido passa a ser entre 1 e 2 jogos de suspensão, enquanto que a sanção de multa se cifra entre 7, 5 UC, no mínimo, e 37,5 UC, no máximo.

Cumpre aqui fazer referência à redução da sanção de multa, prevista nos artigos 36.º, n.º 1 e 2 do RDLPFP.

No caso de agentes desportivos associados ao Moreirense, a redução da sanção de multa cifra-se nos 0,4, pelo que a sanção de multa a aplicar irá variar entre 3 UC e 15 UC.

Posto isto, em termos de prevenção geral, há que ter presente a natureza e a relevância dos bens jurídicos protegidos pelos tipos de ilícito em questão, ou seja, a importância dos deveres gerais de correção, urbanidade e cordialidade no desenvolvimento de qualquer modalidade desportiva, em especial do futebol, onde pululam os fenómenos de violência e de distorção do fenómeno desportivo. Há que destacar, ademais, a (mais) elevada responsabilidade dos jogadores profissionais na transmissão dos valores da ética desportiva e do play fair, do saber perder e do saber ganhar, de onde resulta que sobre eles recai um dever particularmente exigente de evitar comportamentos que possam obstaculizar a dimensão educacional do desporto. Naturalmente que o princípio da ética desportiva constitui o substrato teleológico e normativo de todas as infrações disciplinares previstas e sancionadas nos regulamentos disciplinares, tal como enunciado no artigo 3.º da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto e o artigo 52.º do RJFD. Nesse contexto, é mister assumir que a conduta do jogador arguido, pelas suas características e contexto, representa, no amplo espetro de condutas suscetíveis de ofender aquele princípio, uma ofensa cuja carga lesiva daqueles bens jurídicos se pode qualificar como, ainda assim, moderada.

Referências

Documentos relacionados

Desenvolver e/ou atualizar conheci- mentos sobre a legislação laboral ne- cessários para o desenvolvimento das tarefas inerentes à gestão de pessoal, aplicando a legislação do

Com esta categoria o professor pode ter em conta o saber de referência para ser ensi- nado, o que implica compreender a química verde, ambiental e sustentável (Tabela 2), mais

No presente estudo foram utilizadas medições da evapotranspiração para estimar a pegada hídrica de um olival super-intensivo na região de Évora.. As necessidades

A Medida Provisória 910 modifica a legislação sobre regularização fundiária, isto é, o mecanismo pelo qual o governo regulariza as ocupações informais que foram feitas em

Provisional Measure 910 (MP 910) amends legislation on land regularization, that is, the mechanism by which the government legalizes informal settlements on federal lands,

12 do Código Florestal para dispor que, nos estados de Roraima e Amapá, o poder público estadual poderá reduzir, nos imóveis rurais, a cobertura de vegetação nativa para 50%,

Ocorre que, passados quase sete anos da publicação da Lei n o  12.651/2012 e pacificadas as discussões sobre a sua aplicação, emendas a uma medida provisória em tramitação

The provisional measure addresses the necessary extension of the deadline for entry into the Environmental Regularization Program (PRA), but also contains amendments that aim