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CARACTERIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UNESC NA VISÃO DOS DOCENTES

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR

ADÃO PAULO RONCONI

CARACTERIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE

CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UNESC NA VISÃO DOS DOCENTES

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CARACTERIZAÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE

CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UNESC NA VISÃO DOS DOCENTES

Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior.

Orientadora: Profª. (MSc.) Kátia Aurora Dalla Libera Sorato

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Dedico este trabalho à luta constante por melhores condições para a educação no Brasil. Àqueles professores que de uma maneira ou de outra, estão sempre abertos e prontos a experimentar e a ousar. A todos registro minha admiração. Dourival Giassi, Parabéns, você é um destes.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, a quem não devemos oferecer somente as dores de nossas penitências, ofereço então este grande momento de alegria. Sem vergonha digo que a conclusão deste trabalho tem de sua força e pela Fé Nele, conquistada em combates diários, afirmo ter alcançado o conhecimento que exatamente precisava alcançar neste dado momento de minha vida!

Devoto gratidão a minha Família, Pai, Mãe e meu Irmão, bênçãos nesta vida, cuja presença constante me moveu e move sempre na busca dedicada pelo melhor, presente no futuro incerto. Só o que é certo em nossas vidas são as mudanças que em um curto espaço de tempo podem ocorrer, mas a condição e a idéia de Unidade Familiar que vocês me passaram estará para sempre gravada em minha memória. Obrigado por tudo.

A minha Orientadora Professora Kátia e a Professora Rosimere a quem prefiro chamar tão somente de Mere, devo-lhes mais que gratidão, devo-lhes momentos de profunda reflexão, inspiração, alguns também de descontração – ninguém é de ferro – mas nem por isso perdermos o foco e o norte na construção deste trabalho. Vocês são pessoas especiais colocadas em meu caminho claramente não por acaso, mas porque certamente vocês não permitiriam que eu me desviasse do Bom Combate, a que me propus travar em nome de meu sonho. Obrigado, é contando com pessoas como vocês que nossas vidas se tornam interessantes.

Agradecer a todos os meus amigos é tarefa das mais gratificantes, pois vocês foram e são meus lastros, o ombro seguro que posso contar. Em especial manifesto, correndo o risco de ser injusto por esquecer de alguém, meu carinho ao

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Alessandro, a Samira, ao Jéferson, a Eliane, ao Marcelo, a Letícia, ao Cláudio, a Gizele, e a Fernanda; saibam que vocês estarão sempre em minhas preces diárias. Tenho uma teoria; a de que amigos são irmãos que antes de nascer escolhemos por afinidade, e isso é tão significativo que só o fato de poder escolhê-los os torna tanto quanto parte de nossas famílias. A cada um deixo um beijo no coração e a certeza de que os guardo comigo.

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“Dedica todo o tempo livre a aprender o que não sabes, e faze-o logo, como se o necessitasse para o futuro imediato. Aprende até os misteres mais insignificantes. Ser-te-á grato depois, saber que podes fazer tal ou qual coisa, mais ainda se para ajudar a alguém, te vires circunstancialmente obrigado a lançar mão disso.”

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RESUMO

Esta pesquisa objetiva caracterizar a interdisciplinaridade no curso de ciências contábeis da UNESC pela visão dos docentes, sendo que para isso, busca apoio em estudos presentes na literatura, procurando evidenciar as nuances presentes em sua utilização, pela comparação com o que há de referencial teórico a respeito do assunto. Buscou-se selecionar uma amostra para a pesquisa dentro do universo de 23 professores que integram o corpo docente da matriz curricular onde a metodologia interdisciplinar se faz presente desde o primeiro semestre de 2004. Como procedimento metodológico adotou-se a abordagem qualitativa com pesquisa do tipo exploratória e descritiva. A coleta de dados foi efetuada por meio de entrevista semi-estruturada com o coordenador do curso e questionário com os professores enviado por e-mail, onde se buscaram avaliar a aplicação prática das peculiaridades inerentes à metodologia interdisciplinar, seus problemas, facilidades e adaptações. Em relação aos resultados, a pesquisa mostra em seu final, que a prática interdisciplinar está ocorrendo ainda de forma gradativa e que há a necessidade de adaptações tanto imediatas quanto paulatinas nesta metodologia, a fim de se obter melhores resultados relativos à relação ensino/aprendizagem realizada em sala de aula pelos docentes e professores, sendo estes os indivíduos responsáveis pelo funcionamento do processo interdisciplinar desenvolvido pelo curso de ciências contábeis desta universidade.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade; metodologia, docente, discente, ensino/aprendizagem; processo interdisciplinar orientado.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1: Principais autores e obras do Período Mnemônico ... 26

Quadro 2: Doutrinas da Contabilidade, seus Líderes e Seguidores... 30

Quadro 3: Professor x Qualidade no Ensino ... 37

Quadro 4: Classificação Terminológica de Sistemas Metodológicos ... 49

Quadro 5: Processo Interdisciplinar Orientado I (1ª Fase)... 76

Quadro 6: Processo Interdisciplinar Orientado II (2ª Fase)... 78

Quadro 7: Processo Interdisciplinar Orientado III (3ª Fase)... 80

Quadro 8: Processo Interdisciplinar Orientado IV (4ª Fase)... 82

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 11 1.1 Tema e Problema... 11 1.2 Objetivos da pesquisa... 12 1.2.1 Objetivo Geral ... 12 1.2.2 Objetivos Específicos ... 13 1.3 Justificativa... 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 15 2.1 Evolução da contabilidade ... 15 2.1.1 Período Primitivo... 16 2.1.2 Período Mnemônico ... 17 2.1.3 A Contabilidade Lógico-Racional... 20

2.1.4 O início da Literatura Contábil... 21

2.1.5 Período Pré-Científico ... 24

2.1.6 Período Científico ... 28

2.1.7 Período Normativo... 31

2.2 O Ensino da Ciência Contábil... 33

2.2.1 O professor como agente propulsor do ensino... 34

2.2.2 Metodologias de Ensino da Ciência Contábil ... 41

2.2.2.1 O Aluno como sujeito passivo no processo de aprendizagem ... 43

2.2.2.2 O Aluno como Sujeito Ativo no Processo de Aprendizagem ... 45

2.3 Interdisciplinaridade... 47

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2.3.2 Limitações e dificuldades na prática interdisciplinar... 52

2.3.3 Perspectiva Contextual da Interdisciplinaridade... 56

3 METODOLOGIA... 59

3.1 Quanto aos Objetivos... 60

3.2 Quanto aos Procedimentos ... 62

3.3 Quanto a Abordagem do Problema... 63

3.4 Instrumento de Coleta de Dados... 65

3.5 Definição da Amostra... 66

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 69

4.1 Início da Interdisciplinaridade no Curso de Ciências Contábeis da UNESC69 4.2 Procedimentos Organizacionais ... 72

4.2.1 Procedimentos Organizacionais PIO I ... 75

4.2.2 Procedimentos Organizacionais PIO II ... 77

4.2.3 Procedimentos Organizacionais PIO III ... 79

4.2.4 Procedimentos Organizacionais PIO IV... 81

4.2.5 Procedimentos Organizacionais PIO V... 83

4.3 Caracterização da Interdisciplinaridade ... 85

4.3.1 Envolvimento organizacional e estrutural das disciplinas ... 85

4.3.2 Foco de estudo das disciplinas... 86

4.3.3 Conceito de contextualização ... 87

4.3.4 Relações das disciplinas com a realidade social ... 88

4.3.5 Conceito de criticidade ... 89

4.3.6 Conhecimentos do conteúdo programático das disciplinas do curso... 89

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4.3.8 Discussões e planejamentos comuns entre as disciplinas implementados

pela Interdisciplinaridade ... 92

4.3.9 Dificuldades na articulação das disciplinas relativas a interdisciplinaridade... 93

4.3.10 Facilidades na articulação das disciplinas relativas a interdisciplinaridade... 94

4.3.11 Impressão a respeito do emprego da interdisciplinaridade ... 95

4.3.12 Superação das dificuldades ao contato com a interdisciplinaridade ... 96

4.3.13 Conceito de problematização ... 97

4.3.14 A interdisciplinaridade extra classe na aproximação das disciplinas.... 98

4.3.15 As práticas interdisciplinares permeando a relação ensino/aprendizagem ... 99

4.3.16 O comportamento dos alunos frente a interdisciplinaridade ... 100

4.3.17 O plano de ensino como ferramenta na articulação interdisciplinar .... 101

4.3.18 Sugestões para o Processo Interdisciplinar Orientado – PIO ... 102

5 CONCLUSÃO ... 104

REFERÊNCIAS... 108

APÊNDICE ... 112

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Tema e Problema

No anseio por uma melhor qualificação dos profissionais da contabilidade, vem-se discutindo a utilização do ensino interdisciplinar em sua formação acadêmica. Em termos globalizados da educação, isso vem ocorrendo a fim de responder os anseios da sociedade e, por conseguinte do mercado de trabalho, cuja busca se estende a multifuncionalidade e capacidade de interação em seu papel como ser social inserido nas mais diversas áreas da economia mundial.

A interdisciplinaridade deve ser encarada como uma mudança comportamental na construção do conhecimento. A saber que nada tem fim em si mesmo, que os processos relacionados ao ensino são complexos e interligados, é visto que a interdisciplinaridade visa modelar e dar preenchimento ao conhecimento como um todo, gerando conexões entre as diversas áreas do saber, de maneira que os meios tradicionais de aprendizagem, onde as disciplinas são lecionadas isoladamente umas das outras, devem ser repensados e com mais propriedade na universidade, pois é principalmente nela que se fomenta o homem inserido na sociedade como ser pensante.

Num âmbito de estudo dirigido ao curso de Ciências Contábeis da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, será esclarecido por meio de pesquisa, como vem sendo trabalhada e encarada a idéia interdisciplinar junto aos professores, em termos de comportamento construtivo do processo de ensino e aprendizagem, a fim de verificar os possíveis erros e qualificar os acertos na utilização desta nova metodologia de ensino. É importante deixar claro que este

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estudo não visa aprovar ou reprovar tais questões, mas sim, reforçar pontos fortes e fracos, conforme a necessidade apresentada pela realidade do Curso de Ciências Contábeis da Universidade em questão.

A interdisciplinaridade ainda é tratada como um ato a ser desmistificado, porém, vem se implantando dentro deste curso, posto que as diversas áreas do conhecimento contábil estão interligadas nos dias de hoje a margem da economia globalizada, facilitando trabalhar com o método em questão. Não deixando de considerar que como em qualquer novidade a cerca de sua utilização, em qualquer área, seja do conhecimento ou não, a possibilidade de erros existe e aos quais se devem os futuros acertos, não obstante que para se ter certeza que está acertando é necessário saber o poder do inverso, ou seja, do erro.

Inserido nesse contexto, o presente trabalho tem como questão norteadora da pesquisa a seguinte indagação:

Quais as características da interdisciplinaridade no curso de Ciências Contábeis da UNESC na visão dos docentes?

1.2 Objetivos da pesquisa

1.2.1 Objetivo Geral

A presente pesquisa surge da vontade de olhar para a realidade metodológica do curso de ciências contábeis visto que está ocorrendo neste, um novo movimento no que diz respeito à maneira como vêm sendo ensinados os conteúdos no curso por meio da interdisciplinaridade. Assim, o objetivo geral deste,

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é o de analisar as características da interdisciplinaridade no curso de Ciências Contábeis da UNESC na visão dos docentes.

1.2.2 Objetivos Específicos

Com relação aos objetivos específicos, podem-se destacar os que se consideram mais importantes a serem encaminhados nesta pesquisa, são eles:

¬ Evidenciar na literatura disponível, aspectos positivos e negativos na aplicação da interdisciplinaridade;

¬ descrever o projeto interdisciplinar orientado no curso de Ciências Contábeis da UNESC;

¬ verificar por meio da pesquisa de campo, como os professores do curso de Ciências Contábeis da UNESC estão trabalhando a interdisciplinaridade; e

¬ comparar o referencial teórico com a realidade observada dentro do curso de Ciências Contábeis na UNESC.

1.3 Justificativa

A necessidade da formação de profissionais de qualidade deve motivar sempre a busca por métodos de ensino que comprovadamente respondem aos anseios da sociedade transformada a cada momento no mundo globalizado.

Estes métodos tendem a encontrar e suprir dificuldades no dia-a-dia dos alunos nos bancos universitários, levando à melhoria nos sistemas utilizados para a

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formação de profissionais motivados, estimulados e comprometidos com a realidade, deste que é um dos métodos utilizados para o enfoque do presente trabalho.

A interdisciplinaridade tem como papel transformador, unir as disciplinas até então lecionadas fragmentadamente, possibilitando aos discentes a percepção da necessidade de envolver, entrelaçar o conhecimento entre elas e sua importância no resultado final da formação profissional, aqui em especial, o da Contabilidade. Seguindo este caminho, sabe-se que deve haver comprometimento com tal sistematização da qualidade no ensino da prática contábil pelos dois lados envolvidos: alunos e docentes, cada qual colaborando com sua parcela de interesse, primando pela boa aplicação interdisciplinar em função de uma postura profissional, científica e social.

Tal atitude deve ser mostrada de forma clara e comprometida tendo em vista que o profissional desta área será responsável pela espinha dorsal dos organismos empresariais. São estes profissionais que por meio de instrumentos pertinentes a sua atividade, obtém relatórios com os quais as empresas inseridas no mundo globalizado tomam suas decisões, essas podem impulsioná-las economicamente ou se forem errôneas, provocar o encerramento de suas atividades.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Evolução da contabilidade

A contabilidade surgiu da necessidade do homem de registrar e controlar suas posses. Historicamente, é considerada uma das ciências mais importantes para a evolução da humanidade em razão do que representa no envolvimento do processo macroeconômico da sociedade. A seguir tem-se uma retrospectiva dessa evolução, situando-a na história ciência atrelada à evolução da sociedade.

Segundo Hansen (2002, p. 80),

estudando-se o passado, percebe-se que a Contabilidade se desenvolveu a partir da evolução da humanidade. Como todo ramo do conhecimento humano, avançava em épocas de prosperidade da humanidade e também não evoluía em épocas de estagnação do desenvolvimento da cultura humana.

A humanidade teve em todo seu crescimento, períodos difíceis, conturbados e muitas vezes estagnatórios, levando consigo a contabilidade que, não diferente de todas as outras áreas do conhecimento sempre esteve atrelada às vontades do homem e as circunstâncias a que ele esteve submetido.

Em se tratando de períodos da história, é interessante lembrar o que disse Melis (1950, p. 3 apud SÁ, 1997, p. 15)“desde que o homem se preocupou com o amanhã, preocupou-se, também, em ‘fazer as contas’, mas, em verdade, nem sempre soube, racionalmente o que fazer com as informações que guardou.”

Partindo-se desta constatação de Melis, Sá (1997) divide a história da contabilidade em grandes períodos e a cada um, estabelece características que mostram claramente os degraus galgados por esta que é hoje uma nobre ciência a serviço da humanidade e de sua caminhada econômico-social.

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Afirma Sá (1997, p. 18),

a mim me parece que, desde que exista preocupação em colocar ordem nos fatos observados para torná-los coerentes e compreensíveis ao pensamento criador, existe um inequívoco esforço científico, ainda que seja inicial e rudimentar a forma de encetar tal procedimento [...].

Acompanhando então a caminhada histórica, têm-se os períodos e suas particularidades como segue:

2.1.1 Período Primitivo

Data as mais antigas formas de controle de patrimônio a que se tem notícia. Assim, quando o homem se entendeu como ser pensante, logo percebeu a necessidade de controlar seus pertences, seus bens. Nos primórdios não havia regras sociais de conduta, o que tornava ainda mais difícil manter os bens sob seu domínio.

Em pinturas líticas, em gravações em ossos de rena, foram encontrados muitos registros que identificam o elemento patrimonial (geralmente animais), constituindo-se algumas de desenhos e de traços identificadores de quantidades e outras apenas de sulcos ou traços, sem a identificação do objeto. (SÁ, 1997, p.20)

Estas pinturas líticas e as gravações em ossos de rena, foram científica e arqueologicamente estudadas, até se obter subsídios que remeteram a realidade dos primeiros registros contábeis há que se têm notícias. Estima-se então, que a história da contabilidade iniciou-se há mais de 20.000 anos, quando a sociedade se organizou e nasceram as primeiras células familiares.

Recentemente foram descobertos, conforme Sá (1997, p. 21) “registros impressos em grutas no sul da França, de cerca de 27.000 anos, muito anteriores aos de Lascaux, como aqueles descobertos por Cosquer, com mais de 100 inscrições primitivas em época próxima a glacial.”

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Sá (1997, p. 22) afirma que

[...] nos domínios da arqueologia, grandes são as dificuldades de interpretação e de atribuição de exata finalidade de alguns objetos encontrados, dada a precariedade de provas e de bases, mas é inquestionável, pela comparação destes elementos, que se trata, no caso que comentamos de peças contábeis.

É fato que de maneira alguma se consegue definir com precisão como eram interpretados os métodos primitivos por quem os criou. Assim, de maneira clara, só se pode afirmar por meio de estudos já realizados, que certamente eram utilizados para fazer contas, mesmo que estas tenham sido realizadas completamente diferentes do conceito que se tem nos dias atuais.

Certamente a evolução social colaborou para que se fosse aprimorando as técnicas e maneiras de contar o patrimônio do indivíduo. A organização social, a formação de grupos sociais comunitários, todos estes fatores traçaram a caminhada da evolução dentro do período primitivo. Foi longo este percurso, mas que permitiria descobertas que mais tarde proporcionariam avanços significativos nos tempos que sucederiam na evolução da Contabilidade.

2.1.2 Período Mnemônico

Pode-se constatar que na história, durante o período mnemônico, houve a necessidade do desenvolvimento da memória contábil em função das grandes riquezas dos povos. Buscou-se criar métodos mais racionais de controlar estas riquezas, inclusive estabelecendo meios de avaliar seu valor.

Sobre isso Sá (1997, p. 24) indica o ensaio do que seria a moeda de hoje a racionalização das memórias, para fins de controle das riquezas, criou inclusive, critérios simbólicos de avaliação e ensejou, segundo alguns estudiosos, as bases para a criação das moedas. Tais foram os aperfeiçoamentos burocráticos para a realização da escrita na Mesopotâmia, que esse local, sem nenhuma dúvida, pode ser caracterizado como o ponto alto da racionalidade mnemônica da riqueza.

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Considera-se, portanto, que a Mesopotâmia é o berço histórico da contabilidade. Foi nessa época que surgiu todo o movimento impulsionador de registros contábeis, primeiramente em placas de barro, como consta na história.

Descobertas arqueológicas evidenciam o sistema primitivo utilizado como escrita. Este demonstrava e registrava fatos e pensamentos por meio de imagens figurativas e também de símbolos. Não obstante, estudiosos se puseram a comparar determinadas figuras com o método das partidas dobradas surgido na Itália. Isto os levou a concluir que determinados métodos de contabilização utilizados pelos povos mesopotâmicos, se assemelhavam com registros mais modernos. (SÁ, 1997).

Sobre isto Hansen (2002, p. 80) afirma que

o interessante do estudo é a percepção clara de que a evolução do conhecimento contábil está ligada a fatos relacionados à evolução da humanidade. São vários os exemplos. O renascimento do comércio no Mediterrâneo criou as primeiras empresas comerciais que, para controlar e registrar suas operações, acabaram por criar controles que deram origem aos primeiros lançamentos de partidas dobradas. Posteriormente, a invenção da imprensa possibilitou a publicação e difusão da obra de Frei Luca Pacioli.

A evolução da contabilidade passa também pelo antigo Egito, onde o papel do contador tinha grande importância em todas as esferas da organização social. Prescindia-se de contadores, para tarefas de gênero administrativo, diplomático e até mesmo militar. (SÁ, 1997).

O sistema contábil desenvolveu-se no Egito graças à vocação agrária do povo como citado por Sá (1997, p. 26) “contribuiu para o aperfeiçoamento daquela contábil, utilizada com eficácia nos grandes armazenamentos que se faziam de colheitas em razão das periodicidades do rio Nilo.”

Não se pode deixar de citar que o fato mais importante trazido pela civilização Helênica para a história da contabilidade, seria que a Grécia foi precursora do patrimonialismo contábil. Foi na Grécia que a contabilidade teve seu primeiro impulso na realização do controle do patrimônio. Todas as operações

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contábeis eram postar a vista da população que tomava conhecimento da contabilidade pública. Sá (1997, p. 29) ressalta que “a pública era gravada em estrelas de mármore e estas colocadas em praças para que todos tomassem conhecimento das entradas e saídas de dinheiro.”

Pode-se observar daí a rica colaboração Grega aos sistemas que hoje permeiam a contabilmente, inclusive da publicação de balanços e demonstrações contábeis e financeiras das empresas públicas.

De acordo com Sá (1997), na Grécia também o trabalho contábil era bem valorizado, pois o profissional desta área, respondia pelo gerenciamento dos tributos, das riquezas públicas e dos templos religiosos. No caminho da evolução contábil, Roma aparece talvez, como aquela que mais contribuiu para com a Contabilidade.

Sendo o Império Romano vasto e demasiado rico, exigia um controle ainda maior destas riquezas. Vários são os registros criados pela necessidade de controle de suas riquezas, dado seu sistema administrativo à frente, em modernidade se comparado a dos outros povos.

Sá (1997, p. 30) lembra quais estes registros:

conhecemos pelas referências literárias, a existência dos livros Adversária (uma espécie de rascunho dos fatos), o Codex accepti et expensi (livro básico de prova e que se destinava fundamentalmente a movimentos de Caixas e de Contas Correntes), Ratio praedii (livro de propriedades), Ratio pecoris (livro de rebanhos), Ratio vinaria (livro do movimento vinícola), Ratio olearia (livro da produção de azeite) etc. Os registros imediatos eram gravados em tábuas com cera e com estiletes pontiagudos e depois passados para os livros.

Em Roma a Contabilidade Pública aparece como uma das mais importantes áreas administrativas do império, ficando fácil de compreender o porquê ao se tomar conhecimento histórico do tamanho deste. As dificuldades de transporte tornavam necessário um controle mais acurado das riquezas, visto que não se podia estar presente territorialmente falando, em todas as áreas pertencentes aos

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Romanos. O papel precursor, porque não dizer, de um contador, teve relevante valorização nesta época, dando-lhe o cargo mais bem remunerado do Império. (Sá, 1997).

2.1.3 A Contabilidade Lógico-Racional

A história da contabilidade passa também por um período em que sua evolução segue a linha da sistematização das idéias em favor da escrituração dos fatos contábeis dentro de uma lógica compreensível.

Com a queda do império romano (Sá, 1997), a Igreja passou a ter o poder em suas mãos, transferindo para si, os templos romanos, reordenando a seu modo, os controles contábeis.

Sá (1997, p. 34) esclarece que

no oriente, todavia, sem os problemas decorrentes dos latifúndios e declínios das cidades e das sociedades, sem influência do clero, estruturou-se um critério de registros que mais tarde estruturou-se aperfeiçoaria na Itália, na Baixa Idade Média, e que seria denominado de partidas dobradas.

Por sua vez, Hansen (2002, p. 81) expõe que

não se sabe precisamente o ano em que se foi utilizado, pela primeira vez, o sistema de partidas dobradas, mas um dos primeiros registros de seu uso data de cerca de 1340, em Gênova. O desenvolvimento das partidas dobradas é atribuído a um funcionário público responsável, durante um ano, pela tesouraria da cidade de Gênova. Ele tinha todo controle de caixa e de outros itens para prestar contas à comunidade ao final deste período (um ano). O ciclo contábil de um ano e o balanço das contas apresentadas apontaram para necessidade fundamental de responsabilidade e controle sobre os negócios públicos. Esta prática ajudou a expandir os métodos contábeis naquela cidade. Entretanto, a origem das partidas dobradas é divergente entre os historiadores.

Sá (1997, p. 35) aponta que “livros que ensinavam Contabilidade, editados em 1307, 1330, 1340 e que se encontram na Aysofia Biblioteca de Istambul, são obras que circulam mais de um século antes que aquela de Pacioli.”

O certo é que a história indica que com o desenvolvimento das ciências matemáticas, o método dos lançamentos de igual valor mas de ordem inversa

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(Método das Partidas Dobradas), em que se mostra a causa e o efeito da natureza contábil, surgiu provavelmente de um pensamento lógico.

Sá (1997, p. 34) esclarece que “o hábito das equações, o valor das matemáticas associadas à Contabilidade, pode ter gerado o hábito da igualdade de débito e crédito.”

Outro marco relevante na evolução da contabilidade ocorreu quando da introdução dos números arábicos em seus sistemas de registros. Esta novidade acontece no mesmo período em que surgiu o método das partidas dobradas, acumulando neste momento da história, mais um ponto de destaque na caminhada crescente da contabilidade. Nesta época então, já se adotavam livros de registros contábeis, dos quais ainda hoje se utilizam tais como, o caixa, diário e razão.

Sá (1997, p. 38), informa que

os critérios contábeis, tornaram-se sofisticados, com separações de valores dos custos por atividades, por localidades, por empreendimentos, assim como se formaram quase todos os recursos no trato das contas que até hoje empregamos. O processo lógico, fundamentado em causas e efeitos, na equação entre o que se denominava de débito e crédito, consolidou essa fase de grandes progressos da escrita contábil e criou tão vigorosos alicerces que ainda hoje são respeitados.

Estes livros eram denominados pela análise do que neles era registrado, em outros momentos designados também pela cor de suas capas. Eram então os primeiros movimentos da escrita contábil em livros. Este movimento é reconhecido e respeitado até os dias atuais, em virtude de sua importância como documento justificativo da realidade temporal dos serviços contábeis.

2.1.4 O início da Literatura Contábil

Escrever sobre como se faz contabilidade, ou melhor dizendo, como se fazia contabilidade, cada prática em seu tempo, iniciou-se conforme Sá (1997, p. 39)

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“[...] a partir do século XI, de nossa era, intensifica-se no Oriente médio no século XIV”. Este autor prefere tratar o século XI como marco na história da literatura contábil. Ele se firma nesta posição por se tratar de um tempo em que já havia “um bem desenvolvido sistema de registros.” (SÁ, 1997, p. 39-40). Como se observa, a literatura contábil vem sendo conduzida pelas veredas do ensino desde a muito.

Ainda assim, este trabalho de tornar a contabilidade uma prática com técnicas pré-estabelecidas em livros, teve seu impulso maior somente com o aparecimento da imprensa de forma substancial e crescente. Muitos estudiosos e historiadores importantes consideram este sim o marco da literatura contábil.

Neste momento da história, Sá (1997, p. 39) transcreve que

os livros e livretes manuscritos que existiam para ensinar escrituração contábil, circulavam desde o século XI, como se tem prova, mas na realidade, o impulso da difusão só se conseguiria com a obra do frei italiano Luca Pacioli, editada em novembro de 1494, em Veneza.

É importante ressaltar que Sá (1997), não quer de forma alguma, discordar com o que dizem historiadores mais antigos. Este autor considera então como marco, não o fato de a impressa facilitar a distribuição, falando de quantidade e facilidade, mas a maneira como os registros literários facilitaram o ensino da prática contábil.

Sá (1997, p. 40) lembra que

nada menos que seis obras de contabilidade circularam no Oriente Médio antes que a de Pacioli fosse editada, segundo os estudos de Göyüç, referidos pelo professor Ismail Otar. A obra manuscrita de Abdullah Ibn Mohammed Ibn Kya al – Mâzenderâni, de 1330, copiada em Teerã, já é um livro respeitável de 277 páginas , em oito capítulos, apresentando já Diário, Razão, Livro de Apuração de Resultado, assim como diversos livros auxiliares e casos especiais de escrita contábil (Construção, Armazéns, Navegação, etc.). Tal obra, todavia, surge em época em que outras já haviam aparecido no Oriente e outras ainda surgiriam, todas antes do livro do frei italiano. A referida nos estudos do professor Otar é de 1304 (190 anos antes daquela de Pacioli), encontrando-se na Biblioteca Aysofia, de Istambul, catalogada sob nº 4.190, de autoria de Felek A’la-yi Tebrîzî. No entendimento do autor, a respeito dessas obras não tão difundidas por ainda não existir a imprensa como facilitadora no processo de distribuição do

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conhecimento, mostra coerência em sua afirmação que este deva ser o marco no surgimento da literatura contábil. Considerado que eram obras de boa qualidade, contendo inclusive o método das partidas dobradas.

Em se tratando da realidade vivida tempos depois na Itália, Sá (1997, p. 41) relata que antes mesmo de Pacioli, ainda naquele país, outro autor já havia escrito sobre o método das partidas dobradas, “era a obra de Benedetto Cotrugli, produzida em 1458, intitulada Della mercatura e Del mercante perfetto. Tal obra seria editada em 1573, mas estava escrita desde 1458.”

É também em virtude desta constatação que, sem medo de equivocar-se, o estudioso Lopes de Sá (1997), em toda sua caminhada dentro das suas descobertas arqueológica na história da Contabilidade, afirma e reafirma que o marco contábil chamado de Partidas Dobradas já existia desde muito antes de Pacioli escrever sobre ele. Depois dele, outros autores também reescreveram o que ele havia literariamente relatado. Alguns destes, puderam usar de sua peculiaridade individual para dar nova cara e até mesmo melhorar, por assim dizer, a maneira como era lançado aos aprendizes de contabilidade, este método de partidas de igual valor.

Do século XVI ao XIX, muitas obras dedicadas à contabilidade surgiram em toda a Europa. Iniciava-se uma fase de muitas contribuições, descobertas, redescobertas e avanços na literatura em questão. Era como se a contabilidade fosse um tesouro, e na verdade o era quando utilizada para controlar as riquezas da sociedade em geral.

Segundo Sá (1997, p. 43),

por isso, a literatura contábil deixou de estar apenas limitada a uma reprodução de práticas, pois, paralelamente, a fase do escrever descrevendo processos foi cedendo lugar a um período pré-científico de busca de conceitos, proposições e teorias.

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Foi uma fase em que seu valor para a humanidade tomou corpo, começou a caminhar independente. Já não havia mais tanta ligação entre a contabilidade e o conceito matemático que antes lhe era atribuído. Dessa forma, portanto, dá-se a contabilidade como ciência.

2.1.5 Período Pré-Científico

Para tornar-se ciência, houve a necessidade dentro da contabilidade, de explicar seus fatos registrados. Esta busca do entendimento, nada mais é que a procura da verdade existente naquilo que se deseja explica. Ter vocação de ciência é antes de qualquer coisa, ter meios e métodos de estudar estas informações.

Assim, Sá (1997, p. 44) destaca que,

entendo que as bases de nossa ciência (e de muitas outras) foram lançadas por intuições que os gregos tiveram, mas as teorizações específicas só emergiram dos primeiros conceitos, também específicos, que aceito como”pré-científicos”. Nessa mesma época desenvolveu-se o Contismo, ou seja, a posição dos estudos centrada no instrumento contábil, que é a conta, como se fosse o objeto principal de observação de nossa disciplina. No desenvolvimento de uma ciência, é natural que se “corte” a primeira fatia de tal conhecimento para estudá-la. Nada mais natural que se iniciar o estudo pelo que se via de mais importante na contabilidade, as contas e seus métodos de realização.

Neste estudo, Ângelo Pietra (apud SÁ, 1997, p. 45), surge como o autor que tentou mostrar a Ciência da Contabilidade com responsabilidade de quem defende a existência de algo pelo que ela significa e não somente pelo que ela faz. Este autor deu origem por meio do que chamava de Contismo, ao olhar técnico da contabilidade em si. Deixou de lado a tão somente preocupação com o Direito do indivíduo para dar inclusive o molde do que seria um Plano de Contas.

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A obra é a primeira a analisar, fora das óticas do direito, os conceitos genuinamente sob o aspecto contábil, de débito e crédito, valor, quantidade, preço, custo, apresentando um pequeno dicionário, um esboço de Plano de Contas, de classificação de fatos contábeis, de um princípio de teorização das contas, matrizes de elementos patrimoniais, avaliação de bens (inclusive com conceitos atinentes ao preço de mercado), exercício social, cronogramas de atos administrativos e do profissional, entre outros assuntos. (SÁ, 1997, p. 46)

Sá (1997, p. 45), acredita que em relação à contabilidade, “o pré-científico só ocorre, ostensivamente, a partir da obra de Ângelo Pietra, cuja primeira edição é de 1586.”

Para uma ciência nova surgir, se mostrar, o caminho é longo, tendo que se transitar pelas veredas da observação dos fatos e posterior conceituação destes, por meio das quais, muitas idéias são formuladas. É como diz Sá (1997, p. 45), “o conceito é o caminho da enunciação das verdades e estas, reunidas, o das formações teóricas, e só um conjunto de teorias constrói a ciência.”

Sendo assim, é sem sombra de dúvidas, o autor citado por Sá (1997) o insersor do período pré-científico à Contabilidade, por ter sido ele o primeiro a se preocupar com a observação, conceituação e teorização dos fatos contábeis. Diferente de autores anteriores cuja preocupação, era somente de espalhar a maneira de registro contábil, sua preocupação está em mostrar a utilidade da contabilidade em função de um crescimento social. Ou seja, é ele o precursor da análise de dados contábeis, apontando dentro destas análises falhas nos processos econômicos sociais.

Outros autores surgiram então, após Pietra, trazendo consigo suas colaborações à evolução da contabilidade dentro do período pré-científico como segue o Quadro 1:

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ANO AUTOR CONTRIBUIÇÃO / OBRA 1691 Giovanni Antonio Moschetti Foi o primeiro autor a dedicar-se a Contabilidade Industrial

1636 Ludovico Flori

Considerado precursor das bases de um princípio contábil da prudência. Lhe é atribuída a introdução, em livros, da partida de múltiplos débitos e créditos, ou seja, de “diversas contas”, rompendo a tradição que se limitava a registros simples de um só débito e de um só crédito.

1655 Bastiano Venturi

Contribuiu com as mais avançadas e pré-científicas considerações de azienda e gestão patrimonial. Conseguiu transpor os limites do estudo contábil para atá-lo ao campo da gestão, pode ser considerado um dos mais avançados precursores da Contabilidade Gerencial ou Diretiva.

1712 Matthieu La Porte

Iniciou o trabalho teórico de

Classificação de Fatos Patrimoniais, em contas. Preocupou-se em distinguir os fatos que se

relacionavam com a empresa, dos que se referiam a seus donos, situando-se em uma ótica

nitidamente personalista, de direitos e obrigações das pessoas naturais e jurídicas.

1795 Edmond Degranges

Teve como preocupação fundamental os registros, mas também, de cada um, sobre cada fato, busca classificar a natureza do fenômeno.

Quadro 1: Principais autores e obras do Período Mnemônico Fonte: Adaptado de Sá (1997, p. 47-52)

Cada um desses autores teve sua parcela de contribuição para que a contabilidade se tornasse o que é hoje, uma ciência de respeito e com história. Muitos outros autores ainda escreveriam sobre o conhecimento contábil e sua escola contista. A primeira obra que se tem conhecimento, em língua portuguesa, surgiria em Portugal (SÁ, 1997), e seu autoria seria João Batista Bonavie. Portugal então, posteriormente trazia ao Brasil suas regras e normas de contabilização.

Começava a despontar na Itália e na França, conforme Sá (1997, p. 54), discussões que levariam a contabilidade ao terreno definitivo da Ciência:

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O ardente desejo da passagem definitiva do conhecimento contábil para o científico já se espelhava no título de uma obra de 1803, de Nicolo D’Anastasio: La scrittura doppia ridotta a scienza (A escrita dobrada reduzida a ciência); embora o livro ainda não fosse nitidamente científico, manifestava já a tendência que corria na época.

Este foi um período em que estudos sobre a história da contabilidade também se desenvolveram, gerando correntes de pensadores estudiosos, cunhados à ciência. Quanto a isso Sá (1997, p. 54), resgata que “dois grandes estudiosos italianos foram os verdadeiros elementos que ligaram o pré-científico ao científico, e eles foram Crippa e Bornaccini.” Conforme Sá, Bornaccini teria sido segundo Masi (1918, apud SÁ, 1997, p. 54) o “que proclama que só a ciência poderia combater o empirismo existe de só se preocupar com as contas e não com aquilo que elas representam.” Surgia aí a visão científica da contabilidade, abandonando a idéia desta como arte, que o próprio Bornaccini tinha, embora já escrevesse sobre ela como se ciência fosse.

Para Sá (1997, p. 54),

as contas que registravam, para Crippa, os fenômenos que alcançavam coisas e pessoas eram contas do “objeto”, ou seja, passa a reconhecer como matéria de nosso estudo, isolada, a riqueza. É inquestionável que sua obra editada em dois fascículos, um em 1838 e outro em 1839, sob o título La scienza dei conti..., contém matéria reflexiva e disciplinada logicamente que daria todas as condições a seu seguidor Villa para que se abrissem as portas do período científico.

Segundo Sá (1997) Crippa, por sua vez, colaborou para essa transmutação com sua classificação das contas contábeis em dois grupos relacionando-as ao objeto e ao sujeito do estudo contábil. Observa-se ainda, que esse deu ênfase à riqueza, isolando-a, a fim de desmistificar os acontecimentos a seu redor e não somente o modo utilizado para registrar. Daí por diante, o legado deixado por estes autores, facilitaria a caminhada nos anos que viriam rumo ao crescimento científico da contabilidade.

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2.1.6 Período Científico

O período científico foi o momento da ruptura do observar as contas, de sair do Contismo, sem o desconsiderar, claro, e partir para a análise do porque de sua existência. Neste momento, uma nova linha de raciocínio se desenvolvia em prol da necessidade do estudo do que fazer com a informação obtida no registro das contas. Criava-se aí um elo entre o conhecimento empírico e o conhecimento científico.

Sá (1997, p. 59), lembra que “conquistara-se o raciocínio de que a conta é apenas a informação sobre algo que se vai observar e não o próprio objeto de estudos de nosso conhecimento.” A partir desse pré-conceito determinante, fica evidente o nascimento do período científico para a história da contabilidade.

É importante, entretanto, esclarecer o que é ciência, sem vinculá-la a contabilidade, de modo que esta possa ser vista posteriormente com melhor entendimento do seu rigor científico. Segue então algumas considerações trazidas por Herrmann (1978, p. 25):

o saber científico distingue-se do saber vulgar pela segurança das suas conclusões. O conhecimento vulgar pode ser certo; alheio, porém, às causas, é incapaz de demonstrar a certeza. O primeiro caráter da ciência é, pois, o de ser “certa”. A ciência é geral. Fundando-se em postulados extraídos de relações de mútua dependência, os fatos a que se refere, pelo menos em certa medida, tendem a repetir-se sempre que se verificarem as condições necessárias à sua manifestação. O saber vulgar cinge-se ao conhecimento de fatos isolados e concretos; o saber científico abrange a generalidade dos fatos, isto é, os seus aspectos uniformes no tempo e no espaço.

O autor evidencia a diferença entre o que é o saber científico e o empírico, mostrando que a ciência procura investigar as causas de determinados fatos e suas relações com o cotidiano, de modo a saber as variáveis que os interferem e os criam. Assim sendo, é aí que a ciência diferencia-se do chamado

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saber vulgar ou empírico, pois este, é permeado somente pelo que há de concreto nos acontecimentos, pelo observável independente de suas causas.

Assim, para que a contabilidade fosse considerada ciência, procurou-se observar todos os acontecimentos ou fatos relacionados a mudanças no patrimônio das pessoas e da sociedade. Posteriormente, conceituando-se e teorizando-se todos os aspectos causadores e resultantes da modificação do objeto de estudo.

Nesta época, conforme Sá (1997), encontravam-se vertentes semelhantes no pensamento contábil, onde diversos estudiosos de locais diferentes, posteriormente acabavam aglutinando seus conceitos, confirmando-os. Essas vertentes são também chamadas de correntes científicas. Essas eram provenientes de escolas científicas, que por assim dizer, tinham sua raiz sob aqueles que criavam bases doutrinárias e teorias e assim, eram considerados mestres, tendo inclusive discípulos.

A contabilidade como qualquer outra ciência, desenvolveu-se e ramificou-se em escolas diferentes. Herrmann (1978, p. 38), cita que “considerada por longo tempo, como simples método, a contabilidade logrou, afinal, enquadrar-se entre as ciências sociais, graças aos trabalhos de Cerboni e Fábio Besta.” Para o autor, foi por meio da obra de Fábio Besta que “duas doutrinas prevaleceram no estudo da matéria: 1ª a que dá a contabilidade fundamento jurídico; 2ª a que estabelece sua filiação à economia.” (HERRMANN, 1978, p. 38). E seguindo ainda o que diz o autor, “em torno desses princípios fundamentais formaram-se os seguintes conceitos: contismo, personalismo, neocontismo, controlismo, aziendalismo e patrimonialismo.” Cada uma dessas correntes, se preocupa com a contabilidade de forma a dar-lhe corpo como ciência e sua fenomenologia. Sá (1997), utiliza uma classificação onde considera esta divisão com alguns aspectos diferentes, dentre os quais, cita além

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dos relacionados por Herrmann (1978), os conceitos do materialismo substancial e reditualismo. Em sua divisão, o autor considera o contismo uma corrente do período pré-científico.

Se segue no quadro 2, breve apanhado de autores e suas idéias dentro de cada corrente:

Doutrina /Escola/Corrente

Científica Característica

Precursor – Líder

Intelectual Alguns Principais Intelectuais

Materialismo substancial Tinha a riqueza como substancia ou objeto essencial de estudo

Francesco Villa Foi base para Besta, Zappa e Mais

Personalismo Criação das primeiras contas contábeis ligadas a conceitos jurídicos Giuseppe Cerboni Giovanni Rossi, Giovanni Massa, Francesco Alberigo Bonalumi, Vincenzo Gittii Controlismo / Neocontismo

Tem como objeto de estudo o controle da riqueza aziendal, considerando a contabilidade como ciência do controle econômico Fábio Besta

Carlo Ghidilia, Pietro D’Alvise, Vittorio Alfieri, Pietro Rigobon, Francesco de Gobbis Reditualismo Dedica-se ao estudo das empresas e seus resultados visando lucros e/ou riquezas Eugen Schmalenbach Mallberg, Geldmacher, E. Walb, K. Mallerowicz, M. R. Lehmann, W. Rieger F. Leitner, A. Hoffmann Aziendalismo Cuida de todos os fenômenos que ocorrem em torno das aziendas Alberto Ceccherelli, Gino Zappa

Pietro Onida, Lino Azzini, Carlo Masini, G. Cudini, Aldo Amaduzzi

Patrimonialismo

Estudo da “conta” como uma unidade

de valor e esta unidade de valor constituindo o patrimônio Vicenzo Mais Francisco D’Áuria, Alberto Arevalo, Jaime Lopes Amorim, José Maria Fernandes Pirla

Quadro 2: Doutrinas da Contabilidade, seus Líderes e Seguidores Fonte: Adaptado de Sá (1997, p. 62, 63-156)

Esta maneira de classificar as diversas escolas dentro do período científico esclarece toda a caminhada que a contabilidade fez para que se chegasse

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aos dias de hoje. Interessante observar no quadro 2, a caminhada que alguns precursores fizeram transitando por escolas anteriores até atingirem o nível de líderes intelectuais, como é o caso de Fábio Besta, Gino Zappa e Vicenzo Masi, valorizando ainda mais sua importância no processo evolutivo da contabilidade como Ciência.

2.1.7 Período Normativo

O século XX determinaria alguns aspectos importantes na corrente que impulsionou a necessidade de se trabalhar os resultados contábeis de maneira igual em diversas partes do mundo. Foi da metade deste século em diante que o aziendalismo e o patrimonialismo ganharam forças e se sobrepuseram as demais escolas do pensamento contábil. Daí por diante a contabilidade se libertou de vez das linhas do pensamento jurídico que as atrelavam.

Como diz Sá (1997, p. 165),

a contabilidade libertou-se do envolvimento excessivo com o Direito, implicando a queda do personalismo; deixou-se de definir o patrimônio como conjunto de direitos e obrigações, arrefeceu-se o ângulo de estudos da posse no campo contábil [...].

Nesta mesma época, outro paradigma foi quebrado quando da libertação do vínculo que a contabilidade tinha com a economia. Por meio de muitos estudos, chegou-se a conclusão que se deve estudar a riqueza em seus aspectos sociais e particulares separadamente econômica e contabilmente. Nesse mesmo momento da história, Sá (1997, p. 165) diz que “observou-se que o estudo da riqueza tem que ser analisado com objetividade, como fenômeno específico e esta importância reduziu as chances de uma ciência única e global da empresa ou da azienda”, e é assim que

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aziendalismo começa a perder força justamente por esta separação das duas ciências e seus campos de estudo.

Com estas mudanças, o interesse pelo rigor científico cresceu muito de modo que muitos dos estudiosos de contabilidade ansiaram por uma normatização geral do conhecimento contábil. Muitas obras nesse sentido surgiram, em especial nas escolas italiana e espanhola.

Sá (1997, p. 167) expõe que

alguns locais, todavia, sobressaíram-se pela quantidade e qualidade de obras editadas, bastando citar entre os que conheço com maior volume participativo nas últimas décadas do século XX e que são a Itália (escola de Pisa, comandada pelo genial mestre Egidio Giannessi) e a Espanha[...] Foi a partir deste mesmo século que a normatização consolidou-se, com a total influência da escola norte americana e da Grã Bretanha. No Brasil, antes mesmo dos britânicos já se havia tentado enveredar-se pelos caminhos da normatização a fim de que por meio de regras específicas, o trabalho dos contadores pudesse ser entendido por qualquer profissional da área em qualquer parte do país.

Sobre isto, Sá (1997, p. 169) favorece o entendimento quando,

justificam as normatizações, segundo seus defensores, a necessidade de se entender uma situação patrimonial levantada em qualquer parte do mundo, com o mesmo teor e condições técnicas, assim como a preservação de uma sincera exibição dos dados. A uniformização de registros e demonstrações, ou seja, a padronização dos critérios de informação contábil é que tem sido a justificativa do movimento uniformizador, intenso.

Há que se considerar também, a influência da quantidade de problemas que começava a se observar nas informações contábeis. Eram questões que faziam referência à veracidade dos dados e a interpretação de relatórios e balanços que pela maneiras diferentes de serem apresentados, podiam trazer lucro ou prejuízo, dependendo do critério adotado em sua elaboração. Tais fatos contribuíram para a normatização e ainda para a adoção de regras reconhecidas e utilizadas

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mundialmente. Nestas regras, estaria contemplado não somente o interesse de se poder analisar da mesma maneira e com maior rigor e segurança, um balanço em países diferentes, mas também a necessidade de gerar maior compromisso ético do profissional para com sua a verdade e a honestidade que a profissão de contador exige.

Desde então, a partir da normatização, a ciência contábil foi ganhando ares culturalmente elevados em toda parte do mundo. Surgiu então o bacharel em ciências contábeis. Sá (1997, p. 170) nos diz que “no Brasil, a separação dos cursos de Contabilidade, dos de Administração e Economia trouxe benefícios expressivos a evolução cultural, a partir dos últimos anos da década de 40 do século XX.” Daquela época até hoje, tem-se procurado aperfeiçoamentos a fim de encontrar a melhor maneira de ensinar contabilidade.

A partir daqui, o presente estudo seguira pelo caminho da educação, trazendo alguns avanços culturais e metodológicos dentro da Graduação em Ciências Contábeis da UNESC. Curso este, preocupado com o aproveitamento de seus alunos tanto em ambiente acadêmico como fora dele, no mercado de trabalho.

2.2 O Ensino da Ciência Contábil

Há muito se vem enfrentando dificuldades em ensinar contabilidade nas escolas e universidades do Brasil. Diversos são os fatores que contribuem para isto conforme destaca Franco (1992) e dentre eles, pode-se destacar que a principal causa é a má distribuição de verbas para o ensino em todas as fases da educação. Conseqüentemente, o que se vê são discentes despreparados ingressando às universidades e professores costumeiramente adeptos a metodologias tradicionais e

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ultrapassadas, isso quando verificado que as possuem. Tomando como ponto de partida para abordar-se o ensino da Contabilidade, buscou-se apoio em palavras do Dr. José Carlos Marion, estudioso empenhado em como ensinar no sentido real da palavra, de didaticamente, oferecer a chance de os alunos aprenderem bem contabilidade.

Sei que a Contabilidade ensinada sem critério didático é árida, algo indigesto, difícil de “engolir”. Esta área mal ensinada provoca verdadeiros traumas para aqueles que tentaram e não tiveram sucesso em sua aprendizagem. Observo que, na maioria das vezes, a culpa é da metodologia inadequada no processo de ensino. (MARION, 2001, p. 10) Traduz-se do exposto, a necessidade da busca principalmente por parte dos docentes, visando melhorarem como sujeitos condutores das metodologias de ensino e aprendizagem. Observa-se também a necessidade latente da busca por novos métodos a serem utilizados nesta usina produtora de idéias que é a universidade.

2.2.1 O professor como agente propulsor do ensino

O professor surge no meio do anseio por minimizar os medos, desafetos e porque não dizer, desespero de alguns acadêmicos ao terem a primeira vista, a contabilidade como algo tão improvável de se entender quanto impossível de assimilar. Tal angustia, remete os acadêmicos à condição de possíveis desistentes, antes mesmo perceberem como o curso de ciências contábeis pode se tornar apaixonante. É aí que a excelência do magistério faz diferença e o docente bem preparado pode mudar a impressão que o aluno possa ter da profissão que escolheu.

Ilustrando o que foi dito anteriormente, é interessante observar um exemplo da relação professor aluno, no processo ensino-aprendizagem, descrito por

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Chauí (1980 apud LAFFIN, 2001, p. 27):

O professor de natação não pode ensinar o aluno a nadar na areia fazendo-o imitar seus gestfazendo-os, mas fazendo-o leva a lançar-se na água em sua cfazendo-ompanhia para que aprenda a nadar lutando contra as ondas, fazendo seu corpo coexistir com o corpo ondulante que o acolhe e repele, revelando que o diálogo do aluno é com o pensamento, com a cultura corporificada nas obras e nas práticas sociais e transmitida pela linguagem e pelos gestos do professor, simples mediador.

O docente estabelece relação entre seu comprometimento com o ensinar, de tal modo a surgir uma relação de cumplicidade com a prática pedagógica. Desta maneira, ensinar não é somente dar as ferramentas para o aluno construir seus saberes, é caminhar com ele sabendo que logo à frente, quando estiver pronto, ele andará sozinho.

Cabe esclarecer que a realidade do aluno da ciência contábil é incomoda à medida que enfrenta normalmente em sua jornada de trabalho, oito horas diárias. Isto o traz a universidade já cansado e desgastado física e emocionalmente, dificultando ainda mais seu aprendizado.

Na questão que envolve o processo desenvolvido individualmente pelo aluno para aprender, Marion (2001) sugere duas maneiras de se ensinar uma classe de discentes em que existem realidades diferentes umas das outras. Uma destas apresentada pelo autor, reflete o ensinar para uma classe homogênea, porém leva em consideração que ali se encontram alunos que trabalham na área contábil, outros possuem formação técnica na área mas não exercem a profissão, há também aqueles que ainda não possuem nem formação técnica e nem trabalham na área. Este fato acaba por gerar conflitos de interesses entre os discentes que por vezes se indispõem uns com os outros por saberem mais ou menos sobre assuntos discutidos referente à disciplina em questão.

Outra maneira identificada pelo autor como instrução programada, seria a aula ministrada de acordo com o nível de entendimento de cada aluno, ou com sua

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capacidade manifestada para a disciplina ou matéria. Neste caso, a seqüência de conteúdos dados, segue um caminho onde é possível que o próprio aluno perceba e avalie sua evolução no processo de aprendizagem. A trajetória é realizada paulatinamente mas que transmitem confiança ao aluno, pois jamais se passa para um conteúdo disciplinar novo sem antes estar provado que o anterior tenha sido assimilado. É o ritmo de cada um sendo respeitado.

É necessário que haja cumplicidade, fator importante na relação professor aluno, por intermédio da qual se coadunam características fundamentais na construção do entendimento entre ambas às partes, a fim de que o processo de ensino-aprendizagem se realize efetivamente. Assim, o aluno conseguirá confiar no professor e na sua metodologia de ensino, se sentindo seguro para aprender o que lhe é proposto como proposta de aprendizado.

Marion (2001, p. 28-29) indica o que acredita ser qualidades para um bom professor:

[...] – Sabe mostrar ao aluno a beleza e o poder das idéias;

[...] – Consegue que seus alunos participem ativamente da aula. Educação não se despeja goela a baixo. Aprender é um processo ativo, em que o aluno trabalha (intelectualmente) tanto quanto o professor;

[...] – Consegue que todos aprendam o que tem de aprender, que cada um aprenda quando está pronto para tal e que sejam felizes no aprender. Para ser um bom docente, não se deve somente repassar os conteúdos didáticos constantes de um programa pré-planejado, a fim de mostrar ao aluno quais possíveis problemas surgirão e que ele terá um número definido de maneiras de os resolver. Ensinar também é fazer com que os alunos entendam que podem criar suas alternativas e que essas por sua vez, podem satisfazer inúmeros outros profissionais da contabilidade.

Então, depois que sair do ambiente universitário, sua caminhada como aluno, como pesquisador, como sujeito ativo na sociedade continua, ou melhor dizendo, está

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apenas começando e que inclusive, conceitos dados como imutáveis, podem ser mudados.

Sugere-se no quadro abaixo, algumas considerações a respeito professor a fim de zelar pela qualidade do ensino:

Quadro 3: Professor x Qualidade no Ensino Fonte: Adaptado de Franco (1992, p. 61-62)

Pode parecer forçoso falar principalmente do professor e jogá-lo, o que é perceptível, no papel de algoz da educação no Brasil. Pelo docente, todas as profissões são formadas e seria irresponsável vislumbrar um ensino de excelência, se não o trouxesse para a posição de agente transformador da realidade. É visível que as sugestões acima citadas por Franco, em 1992 são difíceis de serem realizadas. Primeiro porque faltam recursos financeiros tanto para os docentes, individualmente, quanto para as universidades a fim de subsidiarem o aperfeiçoamento pedagógico de seu corpo docente, segundo porque faltam cursos direcionados ao mestrado e doutorado na área contábil.

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Os desafios que hoje surgem, dizem respeito às raízes e ranços presentes no modelo clássico de como ensinar baseado por meio de livros, ou de metodologias prontas e fechadas. Tais desafios persistem desde que a burguesia portuguesa preocupada tão somente em preparar a população para o mercado de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades econômicas, trouxe ao país um modelo de educação de disciplinas estanques, separadas, com docentes no papel de meros repassadores do conhecimento.

É preciso atentar as metodologias de ensino para que não se ensine por ensinar, tendo em vista um resultado lógico. Japiassu (1975, p. 152-153) acrescenta que o educador tem que

[...] despertar no educando o espírito de busca, a sede da descoberta, da imaginação criadora e da insatisfação fecunda no domínio do saber. O essencial é que o educando permaneça sempre em estado de apetite. Quando tudo lhe é explicado, não só a explicação é errônea, mas ele não deve ter entendido, porque, quem compreende, sempre tem dúvidas, está sempre insatisfeito e disposto a novamente interrogar. Se o educador tem algo a “ensinar” ao educando, creio que se trata de um “ensinamento” que o leve a compreender que é ele mesmo quem deve assumir sua própria educação; cabe a ele fazer dela sua obra fundamental e original, única e intransferível. Ninguém se educa, como ninguém cria, com idéias “ensinadas”. Ensinar a aprender, a se construir ou a se reconstruir: eis o papel do educador.

Pensar o ensino hoje é valorizar uma educação ligada diretamente ao desenvolvimento da inteligência. Cabe ao professor então, instigar o pensamento, a criação e a descoberta de novos conceitos transformando a idéia de aprender que o aluno tem. Dentro da literatura direcionada ao ensino da contabilidade, Marion (2001, p. 133), concorda com Japiassu quando lembra que

[...] o professor deverá sempre propiciar que “a chama da motivação” do aluno permaneça acesa. Há diversos educadores que defendem a idéia de que o professor não ensina, mas sim os alunos que tornam a iniciativa de aprender. As pessoas aprendem por si sós. O professor deve instigar, desafiar o aluno, entusiasmá-lo mostrando como seu mundo é maravilhoso, convidando-o a provar a sua “boa comida”.

Para tanto, é necessário repensar a formação de educador, transportando-se para a realidade do planejamento de suas aulas, deixando-as

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abertas à participação do aluno, tornando-as conseqüentemente mais criativas em função da diversificação de idéias que surgirão e que poderão ser utilizadas na metodologia aplicada ao ensino naquele e em outros momentos. O docente deve se tornar um sistematizador de problemas a caminho da criação e recriação do conhecimento, participando ativamente na elaboração do que será ensinado de modo tão interativo quanto à possibilidade do aluno de experimentar novas possibilidades nesta criação.

Adentrando na formação didática deste professor, há que se considerar que esta é uma ferramenta fundamental a serviço da relação ensino-aprendizagem. Suas alternativas servem como meios de permear a prática dos conteúdos intrínsecos a cada disciplina. É importante levar em consideração dois aspectos didáticos na prática pedagógica que são o porquê agir de tal forma e como agir por meio dessa forma a fim de atingir o objetivo fundamental da relação ensino-aprendizagem. Pensar uma prática pedagógica efetiva, é pensar um planejamento ligado à ação em sala de aula. Nesta posição, ainda hoje o docente aparece muitas vezes, tão somente como detentor da ação planejada por profissionais que não tem contato com a realidade ou que não a executam.

Sobre isto, Luckesi (1986, p. 29-30) remonta à visão onde

[...] ação e reflexão compõem um todo inseparável, a menos que seja para uma compreensão lógica e didática do processo. Este esfalecimento entre teoria e prática é interessante aos detentores do poder, pois que sempre poderão tomar as decisões fundamentais deixando aos executores tão somente as decisões de “como fazer”, sem nunca lhes permitir interferência no “o que fazer”.[...] quem consegue descobrir o “o que fazer”, que consegue definir um projeto histórico a ser desenvolvido, saberá encontrar os meios e os caminhos para atingi-lo. Não será, assim, tão necessário que trabalhemos tão-somente os meios seccionados dos fins. Com imaginação e comprometimento afetivo-ideológico e uma constante meditação sobre a sua prática, o educador conseguirá encontrar os meios para atingir os fins. Contudo, o contrário não é verdadeiro da mesma forma, ou seja, que se poderá chegar a algum lugar conhecendo tão-somente os meios.

No caminho da melhor aplicação metodológica à sala de aula, o professor encontra e encontrará sempre alguns grandes e outros novos desafios. Grandes,

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porque está sempre sendo desafiado por problemas conceituais das clássicas formas de ensinar que se conflitam com as novas metodologias projetada ao aluno com objetivo de fazê-lo construir-se e reconstruir-se. Novos, porque constrói a si mesmo diária e constantemente como educador e se descobre como quem precisa sempre se atualizar e não se deixar levar pelas imposições e modismos emergentes a todas as profissões mas em especial a de educador. É necessário experimentar sim práticas inovadoras, porém sempre com comprometimento e visão de quem é responsável pela formação cultural, intelectual e profissional de muitas pessoas.

Demo (1996, p. 77), faz dura crítica ao docente que não se manifesta positivamente frente a esses novos desafios e observa que

o professor que reprova a maioria dos alunos, está reprovado, pois mostra que não se coloca a serviço do desempenho do aluno, razão central de ser do professor; se o aluno está mal preparado é mister fazer disso um desafio a mais, não um pressuposto gratuito, nem se trata de nivelar por baixo – é pura incompetência -, mas de lançar mão de todos os meios para que o aluno tenha rendimento satisfatório, inclusive a produção própria de material didático; esta, de modo geral, não existe.

É primordial considerar a arte de lecionar não como uma complementação de renda, sob pena de se tornar medíocre, colaborando assim, para que profissionais despreparados, apáticos e incompetentes façam parte das filas de desempregados e dos noticiários de escândalos financeiros e policiais. É preciso como professor, ter coragem, acreditar nas possibilidades, em si mesmo e nos seus alunos como ser social e histórico na caminhada da educação e cultura da realidade em que está inserido.

Aos discentes, surge então a possibilidade real de serem sujeitos participativos e co-autores da construção e descoberta de novos conceitos, uma vez estimulados a trabalharem a facilidade da organização e reorganização deste.

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2.2.2 Metodologias de Ensino da Ciência Contábil

A metodologia de ensino é o que determina a maneira como o aluno participará do processo de aprendizagem. O professor então, decide como será esta participação, definindo a melhor maneira de ministrar suas aulas, se com a participação do aluno na construção do conhecimento ou se ele será somente receptor ou depositário do conhecimento que será repassado.

Direcionando a metodologia para o ensino da ciência contábil, Romanowsky e Beuren (2002, p. 84), destacam que

durante muitos anos, na maioria das instituições de ensino superior, o ensino de contabilidade tem sido realizado, de modo geral, por profissionais que apresentavam sucesso em suas atividades profissionais e eram convidados a lecionar [...] por sua vez, os alunos do curso de ciências contábeis enfrentavam dificuldades no entendimento e recebimento das informações que eram transmitidas, sendo que a metodologia empregada pelos professores exigia a reprodução dos conhecimentos, tanto durante as aulas como nas avaliações. Ao terminar o curso de ciências contábeis, embora tivesse tido um bom desempenho acadêmico, sentiam-se ineptos para o exercício profissional, com dificuldades para atuar na área. Era como se tivessem que aprender tudo novamente.

Fica claro nas palavras dos autores, que a necessidade de um preparo por parte do docente para exercer esta profissão, é constante e latente. Não basta ser bom profissional e conhecer a teoria na prática, é fundamental que o professor desenvolva suas qualidades de docente por meio do estudo, da pesquisa como instrumento de melhoria e aprimoramento do seu conhecimento específico, a fim de consagrar suas próprias metodologias de ensino.

Sobre isso, Romanowsky e Beuren (2002, p. 84) afirmam que

a contabilidade deve ser ensinada com critério didático, com pesquisa e não apenas ensinada por “auleiros”, que transmitem o conhecimento por meio de cópia do que já existe. Muitas vezes, o problema está na forma inadequada do processo de ensino, levando-se a concluir que se deve pensar em uma mudança de postura no sentido didático-metodológico como também no sentido profissional, interrompendo um transmitir meramente intuitivo, sujeito a palpites, improvisações e humores de cada professor. Assim, a metodologia aplicada no ensino deve ser aquela que contemple

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as necessidades do acadêmico, de modo que este apresente sinais de satisfação e realização em meio ao aprendizado adquirido. Aprendizado este, cuja bagagem lhe será pertinente ao exercer mais tarde a profissão que escolheu para seu futuro, ainda que esta seja cheia de percalços e dificuldades.

Marion (2001, p. 13) aponta alguns desafios:

- excluir como fonte primária do ensino os livros-textos.

- envolvimento maior do estudante nas atividades ensino/aprendizagem: seminários, simulações, pesquisas, análises de casos... sempre de posse da tecnologia mais avançada.

- atividade em equipe com tarefas que mais tarde irão enfrentar na profissão, proporcionando soluções em conjunto numa moderna dinâmica. Novas discussões vem sendo feitas à medida que se percebe que a contabilidade exige mudança de postura do profissional diante desta realidade diferente daquela que já não tem mais espaço na economia e na sociedade.

É claro que a Ciência Contábil segue uma lógica organizacional no propósito de melhorar seus resultados, inclusive conduzindo com esmero, mostrando os caminhos aos que buscam aprender esta ciência em ambiente universitário. Nesta realidade, o papel do docente é de vital importância na escolha da mais acertada metodologia de ensino. Assim, o ensinar contabilidade deixa de caracterizar-se apenas pelo exercício das práticas que não se conhecem, mas que são transmitidas pelos docentes por meio de sua experiência profissional e passa a contar com professores dinâmicos, preocupados em inserir no contexto da sala de aula, outros instrumentos metodológicos que poderão colaborar para a eficiência das aulas e de seus conteúdos lecionados.

Sobre isso, Romanowsky e Beuren (2002, p. 84), esclarecem que

o professor de Contabilidade pode envolver o aluno em atividades ensino-aprendizagem, como seminários, pesquisas, simulações, e em atividades em equipe com tarefas idênticas às que encontrarão na profissão, proporcionando soluções a situações práticas do cotidiano. Outra situação inclui problematizar questões para desenvolver as habilidades dos futuros profissionais e introduzir materiais e tecnologias utilizadas no exercício profissional, e outras situações que permitam ao aluno participar e refletir sobre os conhecimentos pertinentes ao campo profissional.

Referências

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