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NARRATIVAS SOBRE O SETE DE SETEMBRO: FORMAÇÕES DISCURSIVAS SILENCIADAS SOBRE O CURRÍCULO ESCOLAR E PROCESSOS IDENTITÁRIOS

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Academic year: 2021

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IDENTITÁRIOS

Helena Venites Sardagna- UNISINOS Cecília Irene Osowski - UNISINOS

RESUMO - Problematizo efeitos de sentido de comemorações de sete de setembro em processos identitários de sujeitos sociais e institucionais e suas relações com o currículo escolar. Estudos (Canen, 1998; Canen et. al, 2001; Paraíso, 1996; Osowski, 1995, 2000) apontam para a importância de realizar pesquisas que problematizem discursos hegemônicos sobre o currículo escolar, negando e silenciando-o como espaço onde se constituem identidades e efeitos de sentido são produzidos. Nessa perspectiva, apoiada nos Estudos Culturais (Costa, 2000), busco referências numa perspectiva multiculturalista crítica (Peter Mclaren, 1999) e pós-colonialista (Homi K.Bhaba, 2001; Stuart Hall, 2001). A pesquisa centrada numa escola de identidade cristã de Porto Alegre, RS, apoia-se na análise de discurso (Orlandi,2000; Foucault, 2001; Fischer, 1995) para analisar formações discursivas nas produções textuais e fotografias (Leite, 2000) sobre o sete de setembro na Revista O Eco, editada por esta instituição, nos períodos de 1930 a 1945. Tomo, também, entrevistas de ex-alunos/as desta instituição, que estudaram nestes períodos, para análise das narrativas a respeito desta data comemorativa. Nesta primeira etapa, analiso práticas discursivas sobre o sete de setembro, identificando marcas sócio-culturais e examinando seus efeitos de sentido.

O objetivo desta pesquisa é problematizar efeitos de sentido de comemorações de sete de setembro em processos identitários de sujeitos sociais e institucionais de uma escola de identidade cristã na cidade de Porto Alegre/RS, e suas relações com o currículo escolar.

Para contextualizar este estudo foram recuperadas algumas produções sobre as temáticas: currículo escolar, identidade cultural e comemorações de sete de setembro através do levantamento de estudos publicados na década de 90, anos 2000 e 2001, em periódicos como Educação & Realidade, Educação & Sociedade,Teoria & Educação e em anais da ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em educação, dos anos de 1998, 1999 e 2001.

Os estudos sobre as relações entre o campo curricular e identidade cultural (Paraíso, 1996; Osowski, 2000; Canen, 1998, Canen et. al, 2001) apontam para a importância de pesquisas que problematizem os discursos hegemônicos sobre o currículo escolar, negando-o e silenciando-o como espaço onde se constituem identidades produzindo efeitos de sentido. Alguns estudos sugerem a valorização dos saberes culturais (Araújo; 1997; Corazza, 1999; Candau, 2000, Nodari & Pereira, 1996). Outra preocupação apontada, é de que as disciplinas legalmente definidas não dão conta de muitos problemas que afetam nosso cotidiano, portanto, seriam necessários saberes que se situam para além dos saberes disciplinares, os saberes culturais (Moreira, 2000, 2001).

Já os estudos que abordam práticas consideradas patrióticas, focalizam a função disciplinadora da escola, no contexto brasileiro, no final do século XIX e início do XX, até 1930, na medida em que a escola era uma via para formar uma identidade nacional, num país de muitos imigrantes (Silva, 1999), através de instruções cívico-militares (Rosa F. de Souza, 1999).

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Apoiada nos Estudos Culturais (Costa, 2000), busco referências numa perspectiva multiculturalista crítica (Peter Mclaren, 1999) e pós-colonialista (Homi K.Bhabha, 2001; Stuart Hall, 2001). Desta forma, abrem-se perspectivas para criticamente considerarmos “currículos que favoreçam perceber diferenças, problematizá-las, ao mesmo tempo que culturalmente compreendem-se os pontos de vista e as possibilidades contidas em cada um deles para fortalecer direitos humanos, justiça social e dignidade humana” (Osowski (2000, p.174). Nessa perspectiva, busco problematizar discursos enquanto constituidores de identidades culturais.

Os Estudos Culturais por entenderem a cultura contrapondo-se e resistindo um elitismo edificado, e por desnaturalizar a idéia de um único ponto de referência para essa cultura, trazem elementos para discutir o currículo escolar enquanto lugar de circulação de formações discursivas, onde se privilegiam uns discursos, em detrimento de outros. Para Costa (2000, p. 35), “os estudos culturais e sua multiplicidade de possibilidades analíticas são, certamente, uma das chances que temos de não nos tornarmos meros espectadores do extermínio que está sendo praticado em nome da mediação de uma política racista com poucos precedentes”.

Partindo do pressuposto de que efeitos de sentido são produzidos nos processos identitários dos sujeitos sociais e institucionais, destaco as influências das narrativas nas nossas vidas e chamo a atenção para entendermos essa dinâmica, onde são sancionadas certas narrativas e desconsideradas outras, pois “todas as identidades culturais pressupõem uma certa intencionalidade narrativa e são informadas por histórias particulares” (McLaren, 1999, p.162).

Bhabha focaliza a identidade como resultado da produção de uma imagem de identidade e a transformação do sujeito a partir dessa imagem. Ele aborda a cultura como o entre-lugar onde ocorrem subjetivações singulares e coletivas atentas para “a necessidade de passar além das narrativas de subjetividades originárias e iniciais e de focalizar aqueles momentos ou processos que são produzidos na articulação de diferenças culturais” (Bhabha, 2001, p. 20).

Ao compreender identidade cultural como não fixa que se forja em espaços culturais e plurais, nos entre-lugares, questiono os discursos que privilegiam identidades unificadas, pois“uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações de nós mesmos (...) as culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a ‘nação’, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades” (Hall, 2001,p. 51).

A pesquisa em desenvolvimento, centrada numa escola de identidade cristã, apóia-se na análise de discurso (Orlandi, 2000; Foucault, 2000; Fischer, 1995) para analisar produções textuais e fotografias (Leite, 2000) sobre o sete de setembro. Examinoa Revista O Eco, editada por esta instituição, nos períodos de 1930 a 1945. Para esta análise considero os materiais impressos nas revistas dos meses de setembro e um ou dois números anteriores ou posteriores, se necessário. A revista O Eco está sendo considerada enquanto produção cultural daquela época e como uma possível expressão curricular. Também serão realizadas entrevistas com ex-alunos/as desta instituição, que estudaram neste mesmo período, com o objetivo de ouvir relatos orais a respeito de suas vivências no sete de setembro, buscando uma conexão com os materiais impressos.

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Com base nos autores que enfatizam a análise de discurso, na perspectiva desse estudo, entendo que nos textos, fotografias e nas narrativas dos sujeitos circulam sentidos produzidos por formações discursivas1 que, por sua vez, se inscrevem em contextualizações históricas. Considero, ainda que “uma formação discursiva se inscreve entre diversas outras formações” (Fischer, 1995, p. 26).

Orlandi (2000) entende que a análise de discurso trata dos processos de constituição dos fenômenos lingüísticos e não apenas o seu produto, considerando, também que a linguagem é constituída em processos histórico-sociais, portanto, linguagem e sociedade se constituem mutuamente. Por isso, “tomar a palavra é um ato social com todas suas implicações: conflitos, reconhecimentos, relações de poder, constituição de identidades, etc.” (Orlandi, 2000, p. 17). Assim, tomo a análise de discurso não para enfatizar a análise da estrutura da linguagem, mas para examinar a construção dos fatos pela sua expressão nas práticas discursivas, em sua forma histórica e na sua interpretação. Isto significa que:

embora se apóie nos conceitos da lingüística, o interesse da AD (Análise do Discurso) recai principalmente sobre os textos cujos enunciados seriam restringidos por um forte esquema institucional; também sobre aqueles materiais lingüísticos em que se inscrevem e se cristalizam embates sociais significativos; finalmente, sobre os textos que se afirmam por constituir um espaço próprio, no exterior de um interdiscurso limitado. (Fischer, 1995, p. 22).

Nesta perspectiva investigo os materiais impressos, fotografias e as narrativas referentes a este estudo, levando em conta as especificidades na análise das imagens fotográficas.

A análise fotográfica se faz necessária uma vez que, “sobre os silêncios das fotografias existe muito o que elaborar” (Leite, 2000, p. 20). Além do objeto, o conteúdo precisa ser levado em conta. Na leitura da imagem é importante que se considere o olhar nas suas determinações sociais e conjunturais. A autora enfatiza que, embora a fotografia tenha caráter diverso da documentação escrita, é usada como vitrine dos textos ocultando ou disfarçando informações e exige “um estudo comparativo de sistemas de significados, das mediações entre a realidade que se quer compreender e a imagem dessa realidade” (Leite, 2000, p. 26).

Nesta primeira etapa da pesquisa, analiso práticas discursivas sobre o sete de setembro, identificando marcas sócio-culturais e examinando seus efeitos de sentido. Cabe questionar: que efeitos são esses? De que forma podem estar relacionados com o currículo escolar?

1

Segundo Foucault (2000, p. 43), formações discursivas decorrem “se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações)”.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Miguel Almir L. de. Educação e identidade cultural. Identidade: Alternativas Educacionais. Revista Dois Pontos Teoria & Prática em educação, Belo Horizonte, MG. Jan/fev.1997.

CANEN, Ana. Educação Multicultural, identidade nacional e pluralidade cultural: tensões e implicações curriculares. 21ª Reunião anual da ANPED , GT 12, 1998.

CANEN, Ana. ARBACHE, Ana Paula, FRANCO, Monique. Pesquisando multiculturalismo e educação: o que dizem as dissertações e teses. Práticas do global e das singularidades. Educação & Realidade, v. 26, nº 1 Porto Alegre, RS. Jan/jul. 2001, p.161-181.

CANDAU, Vera Maria. O currículo entre o relativismo e o universalismo: dialogando com Jean-Claude Forquin. Educação & Sociedade. Campinas, SP: CEDES, v. 21 nº 73, dezembro, 2000.

CORAZZA, Sandra Mara. Currículo como modo de subjetivação do infantil. 22ª Reunião Anual da ANPED, GT 12, Caxambu, MG, 1999.

COSTA, Marisa Vorraber (org.). Estudos Culturais – para além das fronteiras disciplinares. Estudos culturais em educação. Porto Alegre, RS: Ed. da Universidade/ UFRGS, 2000, p. 13-36.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. A análise do discurso: para além de palavras e coisas. Educação & Realidade, v. 20, n. 2, jul/dez. 1995, p. 18-37.

FOUCALUT, Michel. A Arqueologia do saber. Tradução Luiz Felipe Baeta Neves. 6 ed. Rio de Janeiro, RJ: Ed. Forense Universitária, 2000.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 5. ed. Rio de Janeiro, RJ: DP & A Editora, 2001.

LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia histórica. 2. ed. rev. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. Propostas curriculares alternativas: limites e avanços. Dossiê “políticas curriculares e decisões epistemológicas”. Educação & Sociedade, Campinas SP: CEDES, v. 21 n.73 dez .2000, p. 109-138.

MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. A recente produção científica sobre currículo e multiculturalismo no Brasil (1995-2000): avanços, desafios e tensões. Revista Brasileira de Educação. Universidade Federal do Rio de janeiro, 2002, p. 65-81.

NODARI, José Maria & PEREIRA, Eliana Povoas. Parâmetros Curriculares Nacionais: Recusa ou Submetimento? – Algumas Notas para uma Leitura Crítica. Parâmetros Curriculares Nacionais em debate. Revista Espaços da Escola. Vol. 4, nº 20, abril/junho 1996. Ed. Unijui.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e leitura. 5 ed. Campinas – SP, Editora Unicamp, 2000.

OSOWSKI, Cecília Irene. Projeto pedagógico, diálogo e participação: repensando os cursos de especialização na Unisinos. Educação Unisinos. vol. 4, n.7, p.161 -177, jul-dez. 2000.

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PARAÍSO, Marlucy Alves. Estudos sobre currículo no Brasil: tendências das publicações na última década. Educação & Realidade , Porto Alegre: v. 19, n. 2, jul/dez. 1996, p. 95-114.

SILVA, Carlos José Rodrigues. A escola como espaço de construção da cidadania: a formação da identidade nacional. 22ª Reunião Anual da ANPED, Caxambu, MG,1999. SOUZA, Rosa Fátima de. A militarização da infância: expressões do nacionalismo na cultura brasileira. 22ª Reunião Anual da ANPED, GT 02, 1999.

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