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IDENTIDADES E FRONTEIRAS ÉTNICAS NO CRISTIANISMO DA GALÁCIA

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Academic year: 2021

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IDENTIDADES E FRONTEIRAS ÉTNICAS NO CRISTIANISMO DA GALÁCIA

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Coleção PalimPsesto

Coordenação editorial: Prof. Dr. Paulo Nogueira

O caminho do Cordeiro: representação e construção de identidade no Apocalipse de João, Valtair Afonso Miranda

Bíblia, literatura e linguagem, Júlio Paulo Tavares Zabatiero / João Leonel • Mateus, o Evangelho, João Leonel

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IDENTIDADES

E FRONTEIRAS ÉTNICAS

NO CRISTIANISMO

DA GALÁCIA

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1ª edição, 2013

Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos Assessoria bíblica: Paulo Bazaglia

Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes Revisão: Iranildo Bezerra Lopes

Tiago José Risi Leme

Diagramação: Dirlene França Nobre da Silva Capa: Marcelo Campanhã

Impressão e acabamento: PAULUS

© PAULUS – 2013 Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 – São Paulo (Brasil) Tel.: (11) 5087-3700 Fax: (11) 5579-3627 www.paulus.com.br editorial@paulus.com.br ISBN 978-85-349-3740-5

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Izidoro, José Luiz

Identidades e fronteiras étnicas no cristianismo da Galácia / José Luiz Izidoro. — 1. ed. — São Paulo: Paulus, 2013. — (Coleção Palimpsesto)

Bibliografia

ISBN 978-85-349-3740-5

1. Etnicidade 2. Fronteiras 3. Identidade 4. Interação social 5. Pluralismo religioso 6. Religião e sociologia 7. Religião 8. Religiosidade

I. Título. II. Série.

13-10025 CDD-291 Índices para catálogo sistemático:

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AgrAdecimentos

Ao Professor doutor Paulo Augusto de souza Nogueira: pela amizade, pelo incentivo e pela ousadia na busca de novos paradigmas metodológicos para os estudos de literatura bíblica.

À Professora doutora Elisa rodrigues: pelo carinho e pela dedicação ao trabalho de revisão dos textos.

À minha família: pelos valores como seriedade e perseve-rança que norteiam a minha vida.

Ao Pe. Gervásio ronchi, sVd: pela amizade verdadeira (in memoriam).

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introdUÇÃo

A

formação e a construção dos textos sagrados que compõem

a biblioteca bíblica resultam de um processo histórico-lite-rário no qual culturas, etnias, religiões e sociedades estão pre-sentes mediante representações simbólicas, linguagens, discur-sos e outras convenções em contato. A fim de compreender esse processo, a pesquisa bíblica lança mão de conceitos de matriz histórico-antropológica para decifrar as dinâmicas das identida-des sociais que interagem no âmbito das culturas no cristianismo primitivo. o suposto de que houve diversidade de culturas no interior do cristianismo das origens leva-nos a afirmar que não é possível uma interpretação unívoca dos textos bíblicos, o que nos conduz à apropriação desses conceitos histórico-antropoló-gicos como subsídio teórico para a realização da pesquisa bíblica, isto é, a interpretação dos textos da Bíblia que intente uma apro-ximação dessa pluralidade cultural e de suas representações no processo de formação das identidades.

Na perspectiva contemporânea, as identidades socioculturais e religiosas, as fronteiras étnicas e os diálogos culturais e religio-sos, sem dúvida, compõem uma das pautas do debate sobre as religiões, as religiosidades, as culturas e as identidades. Esse tema também se faz importante no âmbito dos estudos da Antiguidade, no campo fenomenológico e para a história das interpretações. Assim se estabelecem grandes desafios para a interdisciplinarida-de, no que concerne ao debate teórico-conceitual e à construção do diálogo no âmbito das religiões, de seus interlocutores e das religiosidades, no exercício da alteridade dos sujeitos e na dinâ-mica de interação entre suas fronteiras. Esses desafios se tornam

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IdentIdadesefronteIrasétnIcasnocrIstIanIsmoda GalácIa

exigências éticas e metodológicas para as ciências sociais, para a pesquisa bíblica e para o exercício da exegese de textos sagrados.

Nesse debate atual, a identidade étnica é ainda um fator ur-gente das políticas mundiais contemporâneas, como o é para a compreensão dos fenômenos constitutivos das dinâmicas de for-mação das identidades no mundo antigo greco-romano. A ques-tão da interpretação dos cruzamentos culturais tem sido discuti-da em muitas publicações como um assunto de interesse global.1 Entre historiadores e pesquisadores de religião e cultura, ao se discutir o tema identidade, emerge a perspectiva da fluidez como um descritor analítico. A partir da década de 1960 e com base nas contribuições da pesquisa de campo, foi possível detectar a fluidez como característica das identidades seja nos indivíduos, seja nos agrupamentos humanos. Com isso, as identidades pas-saram a ser consideradas no plural, em constante processo de mutação e com diferentes fisionomias.

A discussão moderna de identidade como processo de cons-trução se aplica também ao mundo greco-romano, onde famí-lia, parentesco, história, religião, costumes e linguagem, supos-tamente, separavam o “nós” dos bárbaros e estrangeiros, mas também provocavam aproximações e interação, quando, depois, cristãos judeus estariam empenhados nas mesmas estratégias. Essa dinâmica está presente na interação de outros grupos so-cioculturais, que, na elaboração dos fatores constitutivos da for-mação de suas identidades, provocaram rupturas, resistências, como também se adaptaram e assimilaram novos sistemas sim-bólicos. isso em decorrência da permeabilidade das fronteiras ét-nicas em que comunicações, trocas, conflitos e interações se dão através de fronteiras caracteristicamente porosas e tênues.

1 Mark G. BRETT, “Interpreting Ethnicity. Method, Hermeneutics, Ethics”, em Mark G. BRETT (org.), Ethnicity and the Bible, p. 3 e 7.

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Introdução No horizonte das categorias histórico-culturais presentes nos escritos cristãos antigos, com acento crítico, destaca-se a opinião de que os autores do cristianismo antigo consideravam grupos étnicos um “mecanismo polêmico”, o que, com o tempo, contribuiu para cristalizar definições idealizadas do cristianis-mo primitivo e dos grupos étnicos que participaram do período greco-romano. Atualmente, os estudos etnocríticos estão abrin-do novas janelas para esses escritos cristãos.2 recentes estudos de identidade étnica, historiografia etnográfica e etnocriticismo resultam de um grupo de pesquisadores que visam desenvol-ver certa estrutura teorética para a compreensão do impacto das diferenças étnicas no cristianismo primitivo, considerando a in-terpretação paulina uma espécie de crítica cultural, uma visão de comunidade – em que “não há jew nem gentio” – que é hoje espécie de agenda. Nesse âmbito, a Bíblia registraria uma longa e acalorada discussão sobre como as fronteiras da comunidade israelense foram construídas e mantidas. Além de que os textos bíblicos apresentariam uma série de identidades que interagiram socialmente e que dependiam do lugar onde as pessoas se encon-travam. Existiram povos cananitas, egípcios, babilônicos, persas, africanos, judeus, gregos e romanos apresentados em Pentecos-tes (At 2,5-11), que corresponderiam a certo ambiente que en-trelaçou nações, etnias, povos, culturas e geografias.

Por essa razão, consideramos as viagens de Paulo que desde damasco priorizaram o ambiente da diáspora. As quatro viagens missionárias de Paulo dilatam e ampliam a área mínima da co-munidade cristã estabelecida em jerusalém. de damasco para a Arábia e Antioquia, passando por Pafos, Atália e Antioquia de Psídia; de Filipos, Tessalônica, Atenas, Corinto, éfeso, Galácia e Cesareia para Creta, Malta, roma etc. Esse itinerário supõe 2 Gay L. BYRON, Symbolic Blackness and Ethnic Difference in Early Christian Literature, p.

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um amplo horizonte geográfico que ultrapassa os limites reco-nhecidos num possível olhar ao cristianismo palestinense. Tal processo de mobilização e interação dos povos e das identidades propiciou conflitos e tensões no âmbito da reelaboração dos pen-samentos e das diversas concepções religiosas, étnicas e sociocul-turais, provenientes da diversidade dos fenômenos vivenciados no mundo antigo e das nuanças identitárias que caracterizam os grupos socioculturais em seu percurso histórico. o ponto crí-tico a ser apreciado é que a diversidade de comportamentos e compreensões reflete, em parte, uma série de discursos na so-ciedade, o que certamente é resultado das experiências vividas e interpretadas por sujeitos oriundos de complexas e diversificadas cosmovisões, dentro de um movimento sincrônico e diacrônico da história.3 Brett considera que alguns desses conflitos básicos na teologia bíblica encontram um paralelo nos recentes deba-tes sobre a natureza da etnicidade, o que claramente corrobora para a ideia de fronteiras fluidas e da rejeição das concepções de cultura e identidade como categorias monolíticas, estáticas e impermeáveis. 4

desse modo, na perspectiva do debate teórico sobre os conceitos histórico-sociais e antropológicos é que concebemos termos como cristianismo, judaísmo e helenismo: não como cate-gorias isoladas e autônomas, impermeáveis ou absolutas, mas, sim, no sentido de aproximações conceituais flexíveis, que nos remetem a variados e multiformes modos de compreensões e interpretações dos acontecimentos históricos e sociorreligiosos resultantes da diversidade das linguagens e dos discursos dessas sociedades.

3 D. J. MATTINGLY, “Dialogues of Power and Experience in the Roman Empire”, em MATTINGLY, D. J. (org.), “Dialogues in Roman Imperialism. Power, Discourse and Discrepant Experience in the Roman Empire”, Journal of Roman Archaeology Supplementary Series 23 (1997), p. 13.

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Em nossa abordagem, consideramos paradigmática a pes-quisa de j. l. Martyn (1997), assim como as novas perspecti-vas que vêm do reconhecimento do solo fértil das pesquisas já realizadas,5 porém somadas a novas e estimulantes vertentes li-terárias, como as de daniel Boyarin (1994), louis H. F. Feldman (1992), E. P. sanders (1977; 2009), james d. G. dunn (2003; 2009), john dominic Crossan e jonathan l. reed (2007), jero-me Murphy-o’Connor (2000), j. Paul sampley (2008), justin K. Hardin (2008) e Mark G. Brett (2002), entre outros.

Conquanto outras contribuições dos estudos históricos e so-cioantropológicos também sejam empregadas para a orientação de nosso uso dos conceitos e para a aproximação do tema que propomos: fronteiras e identidades fluidas no cristianismo da Galácia. Nesse sentido, foi necessária a definição de alguns conceitos que elaboramos com base em, principalmente, Fredrik Barth (1969), jonathan M. Hall (1997), stuart Hall (2005), judith lieu (2002), Kenton l. sparks (1998), denys Cuche (1999), Peter Burke (2003), Michael A. Meyer (1990), Martin Goodman (2008) e shaye j. d. Cohen (1999).

Propomo-nos examinar a Carta aos Gálatas, que entende-mos ser um esboço sobre o início do movimento cristão na pers-pectiva das culturas, das religiões, das etnias e das sociedades, em sua dinâmica de fluidez, diferenciação e interação, no que concerne à formação de identidades cristãs no interior do cris-tianismo paulino. dessa forma, ao analisar trechos de Gálatas, identificamos componentes teológicos e socioantropológicos que subjazem aos conflitos e tensões presentes nas igrejas da Galácia. Nesses trechos, Paulo indicaria um novo ethos que se sustenta nas orientações éticas e teológicas cristãs, segundo as quais a unidade em Cristo jesus se dá apesar das diferenças religiosas, étnicas e so-5 Werner Georg KÜMMEL (1982), Timoty GEORGE (1994), Hans Dieter BETZ (1979), Ronald

Y. K. FUNG (1988), Richard N. LONGENECKER (1990), Philipp VIELHAUER (2003), Martin HENGEL (1980), Hans CONZELMANN (1992), entre outros.

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cioculturais. isso gera alternativas de relevância para que judeus, gentios, mulheres, homens, escravos e livres fossem inseridos no processo de formação das identidades no cristianismo da Galácia.

No primeiro capítulo, apresentaremos os pressupostos teó-ricos para a interpretação da história do cristianismo primitivo e a questão das identidades, ou seja, abordaremos o processo de interação e conformação dos grupos socioculturais e religiosos e suas fronteiras étnicas no contexto do cristianismo da Galácia.

A Carta aos Gálatas provoca um considerável debate no que concerne a seus destinatários. refere-se a uma região geográfica ocupada por povos e etnias de origens diversas e em contínua mobilização e interação na dinâmica do império romano, onde se inserem os grupos cristãos. desse modo, no segundo capítulo, faz-se necessária uma aproximação da história antiga, na pers-pectiva de nossos referenciais teóricos e de Gálatas, cujos com-ponentes históricos, religiosos, geográficos, imaginários e de suas representações remetem a tradições dos povos celtas e indicam a presença de vestígios de uma etnicidade céltica no cristianismo paulino da Galácia, assim como a judaica e a helenística.

No terceiro capítulo, apresentaremos as atividades missio-nárias de Paulo no contexto do cristianismo paulino da Galácia e das identidades em formação.

No quarto capítulo, consideraremos as questões pertinentes ao texto de Gálatas em sua estrutura e gênero, como também suas possíveis fontes, apresentando a pesquisa bíblica de acordo com a perspectiva histórica e socioantropológica. Por fim, ainda neste capítulo, trataremos da configuração das identidades no cristianismo primitivo, com base na evidência oferecida pelos Gálatas: a possibilidade de uma nova identidade para gentios e judeus elaborada no seio do cristianismo paulino da Galácia, o que incidirá enormemente no processo da compreensão históri-ca, antropológica e teológica do cristianismo.

Referências

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