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RAÇA E ETNICIDADE BREVE HISTÓRICO DAS IDEIAS RACIAIS.

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Academic year: 2021

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RAÇA E ETNICIDADE

Atualmente é importante a discussão entre os aspectos relacionados à raça e etnicidade. Considerando o Brasil enquanto um dos países mais misturados em termos raciais no mundo. Podemos entender temas como o preconceito e discriminação como fatores desse caldeirão de grupos étnicos. A questão das cotas raciais, por exemplo, ainda gera muita polêmica e posicionamentos que levam em conta os possíveis efeitos positivos ou negativos de sua implementação. O racismo entendido muitas vezes como um tema tabu entre os brasileiros ou tema pouco discutido, uma vez que, no Brasil ninguém se considera racista. Atualmente a discussões travadas, no que diz respeito ao amplo assunto da desigualdade social, coloca o tema raça e etnicidade como ponto de discussões que fazem parte de nosso cotidiano e essa é a proposta da sociologia quanto ao estudo de raça e etnicidade.

BREVE HISTÓRICO DAS IDEIAS RACIAIS.

O tema referente aos diversos grupos de seres humanos e suas particularidades, teve maior destaque a partir do processo das grandes Navegações na Europa. A “descoberta” de novos grupos humanos como o africano, o asiático e principalmente o índio americano, proporcionou uma nova postura do europeu quanto a essa diversidade étnico-cultural. Diferentes hábitos e costumes variados forçaram os europeus há pensar um pouco mais sobre o papel desses grupos recém descobertos.

Foi no século XVI, com as grandes navegações o inicio do enfretamento do mundo europeu com esses novos grupos humanos (denominados de selvagens). A expansão marítima empurrou navegadores, comerciantes, administradores, aventureiros e religiosos para outros continentes descobrindo novas culturais além da compreensão européia. Cada um, a seu modo e tempo, descreveram a fauna, a flora do “Novo Mundo”. Essa imagem construída correu o imaginário coletivo europeu e ajudou a desenhar a arquitetura de uma nova ciência social, séculos depois, chamada Antropologia.

Antropologia (antropos, pessoa/homem; logos razão) foi a primeira ciência a estudar os hábitos e culturas de diferentes civilizações, necessariamente a compreensão do

homem ou o “novo homem”. No início das grades navegações tivemos o que

normalmente era chamada de antropologia Espontânea, pois estava alicerçada em narrativa e relatos (cartas, diários, relatórios), feitos por leigos (não cientistas) como missionários, viajantes, comerciantes, exploradores e administradores de terras; por exemplo, o relato da carta do escrivão Pero Vaz de Caminha descrevendo as formas dos nativos:

Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mas que de sobrepente, de boa gravura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solopa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria as orelhas...

A visão sobre esse novo homem era de estranhamento, o europeu entendia o índio como um ser inferior ou selvagem. A discussão na Europa destacava questões: esse índio

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etnocêntrica racista era freqüente. A igreja católica, por exemplo, tendia a olhar para o índio como uma criança que deveria ser orientada para a religião cristã.

A Carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) – escritor português que exerceu a função de escrivão da armada do navegador Pedro Álvares Cabral (1467-1520) – que narra a chegada dos portugueses ao Brasil, é um modelo típico dessa antropologia espontânea,

Posteriormente alguns intelectuais como o filósofo iluminista Rousseau elaborou o conceito do “Bom selvagem” sobre o índio, um ser puro e sem maldade que ainda não havia sido corrompido pelos valores da “civilização.” Aos poucos, a concepção de homem e da sua história deixou as fronteiras da Teologia e ingressou no campo da ciência.

PRIMEIRO CONCEITO

Raça

As teorias científicas sobre raça surgiram no final do século XVIII e inicio do século XX, sendo utilizadas para justificar a ordem social emergente à medida que a Inglaterra e outras nações da Europa tornavam-se potenciais imperiais que submetiam territórios e populações ao seu domínio (...) termo “raça” criada pelos europeus classificava os indivíduos nas categorias diferentes visto como características físicas: raça branca, negra e oriental. (GIDDENS)

Raça e etnicidade são idéias socialmente construídas. Nós as utilizamos para distinguir pessoas com base em diferenças físicas ou culturais percebidas, o que traz conseqüências profundas para suas vidas. Marcas e identidades raciais e étnicas mudam de acordo com a época e o lugar. Relações entre grupos raciais e étnicos ajudam a modelar essas marcas e identidades. (Robert Brym, 211, 2006)

EVOLUCIONISMO SOCIAL: O ingresso da Antropologia na era da Ciência.

A antropologia pode ser compreendida como ciência somente a partir do século XIX, quando diversas teorias como o Evolucionismo social começaram a atuar com mais velocidade. A antropologia, no seu início, como estudo científico apresenta-se com ideias ainda conservadoras e preconceituosas. Dentre essas ideias temos o Evolucionismo que destacava os grupos humanos a partir de processos de desenvolvimento intelectual e racial.

De inicio foi a obra de Charles Darwin conhecida como A Origem das Espécies de 1859, que provocou uma revolução científica na forma de entender os processos de evolução. Em sua obra Darwin formula a teoria da evolução das espécies, via seleção natural: no processo, ocorrem com os indivíduos variações úteis na luta pela existência;

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essas variações transmitem-se, reforçadas, aos descendentes. Com base nessas observações, elaborou a teoria evolucionista.

Charles Darwin e a visão científica sobre a origem das espécies.

Herbert Spencer, outro teórico do século XIX, procurou aplicar as leis de evolução das espécies, desenvolvida por Charles Darwin, a todos os níveis da atividade humana. Ele é considerado no campo das ciências sociais como o mais importante teórico do

Darwinismo Social, mesmo nunca tendo usado esse termo para expressar suas idéias.

Seu conceito básico se expressava na seguinte noção: “sobrevivência do mais apto”. Graças a essas noções, Spencer é considerado o principal teórico do racismo “científico”, ou seja, a noção de que se pode comprovar a superioridade racial de um grupo em relação a outro, como base na ciência. (Xavier, p 45, 2008)

A escola Darwinista influenciou fortemente o debate racial. Segundo Vera Regina, as ideias dessa escola também ecoam fortemente nas perspectivas que colocam a “raça” “branca” no topo da escala hierárquica dos grupos humanos. O traço fundamental dessa escola é a ideia de uma superioridade da raça branca em relação aos índios e negros. A presença de um tipo híbrido – da “mistura das raças” – seria um perigo para a “superioridade” branca.

Dentro da condenação da mistura das raças temos diversos teóricos que usam da ciência como um instrumento da divulgação do racismo declarado. Alinhado a essa escola, temos aquele que é chamado de o pai do racismo: o francês Arthur de Gobineau (1816-1882) que entendia as “raças” em processo de evolução sendo o branco, a mais evoluída dos seres humanos, desprezando o oriental e o negro como raças menores. Gobineau destaca ainda a condenação da miscigenação, ou seja, não concorda com as misturas de raças; ele entendia que, pior do que ser negro era ser híbrido. Para Gobineau a mistura dos grupos raciais proporciona a degeneração das pessoas, o surgimento de seres humanos inferiores e decadentes.

Dentro das ideias da ciência racista do século XIX, temos o norte americano Dr.

Samuel George Morto (que colecionou e mensurou Crânios humanos vindos de diversos

lugares e épocas, pertencentes a membros de diferentes raças. Conforme imaginava, Morton entendia que quanto maior o cérebro, mais inteligente o indivíduo. Esse cientista chegou a conclusão de que aquelas raças que estavam no todo da evolução como os brancos europeus teriam o cérebros maiores do que os negros e os orientais e, portanto bem mais evoluído.

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Um medidor de cabeças do século XIX, o tamanho de cérebro como sinal de evolução e superioridade.

Outro autor em destaque da ciência racista do século XIX, foi Cesare Lombroso conhecido como o pai da antropologia criminal, interessou-se pelo fenômeno da delinqüência ao observar as frases obscenas tatuadas nos corpos dos soldados da Calábria, no sul da Itália. Ele acreditava que essas tatuagens permitiam distinguir o soldado desonesto do honesto. Lombroso também compreendia que certos traços físicos poderiam identificar criminosos. (Robert Brym, 213, 2006)

Como ciência, a Antropologia tem dois braços de estudo: a Antropologia Física (Biológica), estuda a natureza do homem, suas origens e evoluções, estrutura anatômica, características raciais e a Antropologia Cultural.

SEGUNDO CONCEITO: preconceito e discriminação

Preconceito é a manifestação de uma atitude negativa contra toda uma categoria de pessoas, geralmente minorias éticas ou raciais. Se você se ressente porque seu colega é bagunceiro, você não e necessariamente preconceituoso. Mas, se você estereotipa (marca social) seu colega imediatamente com base em características, como raça, etnia ou religião, isso será uma forma de preconceito. O preconceito tende a estabelecer definições falsas de indivíduos e grupos. (SCHAEFER, p. 245,

2006)

Discriminação: é o tratamento injusto de pessoas devido ao fato de pertencerem a um

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DEBATE SOBRE “RAÇA” NO BRASIL

O termo “raça” surgiu da influencia das ciências biológicas, tendo a ideia equivocada de raças variadas. Hoje sabemos que raça só existe uma, a raça humana. Considerando também que as diferenças físicas e mesmo os padrões culturais distintos estão relacionados ao termo etnia. Entretanto durante muito tempo a ciência utilizou o termo das ciências Naturais para definir os indivíduos em superiores e inferiores. No Brasil os grandes representantes do racismo científico foram os médicos Silvio Romero (1851-1914) e Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Os dois autores influenciados por ideias racistas acreditavam na perspectiva evolucionista do atraso das raças ou do “atraso” do brasileiro em relação ao europeu. Encontramos aqui uma releitura de elementos das escolas mencionadas anteriormente. O mestiço é interpretado, segundo esses autores, como um tipo “indesejado”, já que o cruzamento de “raças” diferentes transmitiria tipos de “defeitos” pela herança biológica.

Segundo o autor Nina Rodrigues, a presença negra no Brasil seria um fator explicativo para a “inferioridade” do povo brasileiro. É importante considerar que Nina Rodrigues foi professor de Medicina da Universidade da Bahia e um dos maiores representantes do chamado racismo científico. O autor também considerou a cultura afro-brasileira como inferior. Isso proporcionou uma análise negativa do caráter racial brasileiro, que efetuavam relações da raça negra e mestiça como “potenciais criminosos”: traços da aparência de um sujeito poderiam revelar uma natureza delinqüente e perigosa.

Essa visão racista sobre o povo brasileiro acabou sendo muito desenvolvida (a partir de meados do século XIX), principalmente na ideia da miscigenação da população como um aspecto fundamental de degradação da sociedade. Entretanto na década 30 do século XX, com o trabalho de Gilberto Freyre (1900-1987), teremos mudanças na forma de olhar o homem brasileiro. A visão deixa de ser biológica (determinista) para ser de caráter cultural; Freyre em sua obra “Casa Grade e Senzala” destaca de maneira inovadora para os padrões da época, o lado positivo da miscigenação da população brasileira. O autor Freyre vai exaltar a cultura brasileira e mencionar a contribuição do negro africano para a sociedade.

Segundo sociólogo Gilberto Freyre a mistura racial promoveria o clima fértil para a construção de uma harmonia das raças. Para Freyre essa harmonia passa na ideia que no Brasil não existiu a segregação entre brancos e negros, ao contrário, a relação pacífica entre esses grupos proporcionou uma “Democracia racial”.

O sociólogo pernambucano Gilberto Freyre. Essa harmonia, contudo contribuiria para a diluição de outras fronteiras na sociedade, como a existente entre ricos e pobres, homens e mulheres e assim por diante. A mistura realizada entre brancos, negros e índios seria um elemento de promoção da

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harmonia social e não de decadência ou atraso do povo brasileiro, como nos demonstraram outras correntes e autores.

A teoria de Gilberto Freyre destaca o caráter positivo da miscigenação dos grupos, o que apresentaria uma suposta ausência de preconceito racial no Brasil. E o famoso

“mito da democracia racial” que menciona, o brasileiro como não sendo preconceituoso.

A idéia de que o brasileiro não seria racista, pois os grupos étnicos apesar de suas diferenças viviam sem conflitos ou discriminações declaradas. Segundo Daisy Barcellos: o fato de a sociedade brasileira possuir a democracia racial como ideal afirmado e desejado, conduziu encobrimento da realidade das relações entre brancos e negros. O sentido discriminador e indiretamente segrega dor que essas relações apresentam tendeu a ficar encoberto pelo discurso da ideologia dominante. Este discurso, de um lado, afirma a igualdade e investe na negação do racismo; de outro mantém a profundidade das desigualdades sociais só explicáveis através da discriminação e do preconceito, cuja conseqüência mais imediata é a segregação social. (ULBRA, 2009)

Para Gilberto Freyre as relações entre os grupos étnicos são bem mais igualitárias no Brasil. O próprio brasileiro não se vê como racista e mesmo aqueles que são discriminados, buscam formas ou status para fugir da marca social. No Brasil o racismo é bem atuante, mais diferente do racismo norte-americano (direto), o nosso racismo apresenta-se de forma escondida, menos direta nas relações. A maneira como as pessoas encara o racismo é diferente, pois se busca na postura alegre do povo brasileiro o discurso ideal para não falarmos de racismo.

O livro de Gilberto Freyre: Casa Grande e Senzala. Gilberto Freyre teve seus méritos para criticar os critérios das ciências naturais na definição dos grupos. Mas não é possível considerar a sociedade brasileira como não racista sem nenhum tipo de preconceito, vivendo numa democracia racial. O preconceito efetivamente existe, a diferença é que no Brasil tendemos a considera sempre o outro como racista. O indivíduo em si jamais se entende como racista ou apresentam qualquer tipo de preconceito.

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ATIVIDADES

01- A expansão ultramarina promove o encontro do “Novo Mundo”, provocando nos europeus a necessidade de reflexão sobre a alteridade humana e cultural. Por que isso ocorre?

Gabarito: A expansão marítima propicia a chegada dos europeus ao “Novo Mundo” e o contato com seus habitantes. Esses povos encontrados eram diferentes em tudo. Seus costumes e comportamentos provocaram profunda ruptura nas identidades dos povos europeus que compreendiam um padrão de comportamento ante o mundo. Essa ruptura promove a necessidade de desvendar tamanhas diferenças apresentadas pelos novos povos.

02- Como a escola evolucionista colabora para o desenvolvimento da teoria do “racismo científico”?

Gabarito: o conceito de “unidade histórica do homem, desenvolvido na escola evolucionista, passou a expressar a idéia de que no processo de “seleção natural” os mais aptos – os europeus – sobreviveram como um povo superior aos demais. Esse pensamento, o “racismo científico”, teve forte influência sobre a intelectualidade brasileira que estudava a formação da sociedade e as políticas adotadas para essa sociedade no século XIX.

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REFERÊNCIA

Giddens, Anthony. Sociologia. 4 ed, - Porto Alegre: Artmed, 2005. Xavier, Juarez de Paula. Teorias Antropologicas. Brasil S.A, 2008.

Sociologia: sua bússola para um novo mundo – Robert Brym – São Paulo. 2006

Referências

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