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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825

Causas de óbito relacionadas ao HIV / Aids em Instituição de referência,

Amazonas, 2016

Deaths related to HIV / AIDS in reference institution, Amazonas, 2016

Recebimento dos originais: 19/12/2018 Aceitação para publicação: 28/01/2019

Evela da Silva Magno

Especialista em Infectologia pela Universidade do Estado do Amazonas.

Instituição: Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD). Endereço: Av. Pedro Teixeira, nº 25, Dom Pedro, Manaus-AM, Brasil.

E-mail: evelamagno_2011@hotmail.com

Maria das Graças Gomes Saraiva

.Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas pela Universidade do Estado doAmazonas. Instituição: Fundação de Medicina Tropical DoutorHeitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

Endereço: Av. Pedro Teixeira, nº 25, Dom Pedro, Manaus-AM, Brasil. E-mail: gracag.saraiva@gmail.com

Camila Helena de Aguiar Bôtto de Menezes

Doutorado em Doenças Tropicais e Infecciosas pela Universidade do Estado doAmazonas. Instituição: Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD):

Endereço: Av. Pedro Teixeira, nº 25, Dom Pedro, Manaus-AM, Brasil

RESUMO

Objetivo: Descrever o perfil e as causas mencionadas ao óbito de pacientes com HIV/AIDS, em uma instituição de referência no município de Manaus, Amazonas, 2016. Métodos: O estudo é uma série de casos de HIV/AIDS notificados no SINAN com data de óbito em 2016. As causas associadas de morte foram obtidas do protocolo de registros da instituição de referência e a data do início da dispensação de TARV foi consultada pelo prontuário dos pacientes. As causas de morte foram agrupadas por consulta eletrônica em capítulos, conforme a CID10. Resultados: Em 2016 ocorreram 246 óbitos em casos notificados como HIV/AIDS. A distribuição de casos por mês ocorreu sucessivamente, sendo o mês de abril (28/246-11,4%) com maior registro. Os casos de óbito foram mais frequentes entre os homens (193/246-78,5%). Com relação a distribuição por idade, a faixa etária de 13-40 anos não diferiu significativamente em relação ao grupo maior de 40 anos (p valor= 0,63) e a idade média ao morrer nas mulheres foi igual a dos homens (p valor=0,37). A sobrevida dos pacientes foi definida pelo tempo decorrido entre o diagnóstico de HIV/AIDS e o óbito,variando em < 1 mês (78/246-31,7%), <1 ano (54/246-22,0%), entre 1-2 (26/246-10,6%), 2-5 (36/246-14,6%) e mais de 5 anos (52/246-21,1%). Nos casos com mais de 5 anos de TARV observou-se menor registros de óbito (13/246-5,3%). A distribuição por causas associadas de morte por capítulos da CID teve como destaque doenças infecciosas e parasitárias. Conclusões: As doenças indicativas de AIDS foram as mais mencionadas no óbito. Diagnóstico precoce e melhorias no acompanhamento e tratamento no cenário em que a TARV melhorou expressivamente a sobrevida dos pacientes estão relacionados à maior qualidade de vida ao portador de HIV/AIDS.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 .

Palavras-chave: Óbito HIV/AIDS; causas múltiplas de óbito; comorbidades HIV / AIDS

related causes of death in a reference institution, Amazonas, 2016.

ABSTRACT

Objective: To describe the profile and causes mentioned to the death of patients with HIV / AIDS at a referral institution in the city of Manaus, Amazonas, Brazil. Methods: The study is a series of HIV / AIDS cases reported in SINAN with date death in 2016. The associated causes of death were obtained from the protocol of records of the reference institution and the date of the beginning of the ART dispensation was consulted by patients' records. The causes of death were grouped by electronic consultation in chapters, according to ICD10. Results: In 2016, there were 246 deaths in cases reported as HIV / AIDS. The distribution of cases per month occurred successively, with the month of April (28 / 246-11,4%) with the highest registry. Cases of death were more frequent among men (193 / 246-78.5%). Regarding age distribution, the age range of 13-40 years did not differ significantly in relation to the group over 40 years (p value = 0.63) and the mean age at death in women was equal to that of men (p value = 0.37). Patients' survival was defined by the time elapsed between HIV / AIDS diagnosis and death, ranging from <1 month (78 / 246-31.7%), <1 year (54 / 246-22.0%), between 1-2 (26 / 246-10.6%), 2-5 (36 / 246-14,6%) and more than 5 years (52 / 246-21,1%). In cases with more than 5 years of ART, there were lower death registers (13 / 246-5.3%). The distribution by associated causes of death by ICD chapters was characterized by infectious and parasitic diseases. Conclusions: The diseases indicative of AIDS were the most mentioned in death. Early diagnosis and improvements in follow-up and treatment in the setting in which ART significantly improved patient survival are related to higher quality of life for the HIV / AIDS carrier

Keywords: HIV / AIDS death; multiple causes of death; comorbiditie.

1 INTRODUÇÃO

A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e sua manifestação clínica em fase avançada, a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), ainda representam um problema de saúde pública de grande relevância na atualidade, em função do seu caráter pandêmico e de sua transcendência1. Além disso, a falta de diagnóstico precoce, em um país onde se tem acesso gratuito ao tratamento antirretroviral, acaba custando a vida

dos portadores do HIV 2

O vírus HIV ataca o sistema imunológico que é o encarregado de defender o organismo das doenças. Entre as células de defesa, as mais atingidas são os linfócitos T CD4+, de modo que o sistema de defesa vai pouco a pouco perdendo a capacidade de responder adequadamente, tornando o corpo mais vulnerável a agravos oportunistas que se desenvolvem a partir dessa fraqueza do sistema imunológico3.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 A progressiva deterioração da imunidade culmina com o aparecimento da Aids. A queda da imunidade celular explica dois grandes grupos de problemas nesses pacientes: as infecções e as neoplasias4.

Nos últimos anos foram obtidos grandes avanços no conhecimento da patogênese da infecção pelo HIV. Com isso várias drogas antirretrovirais em uso combinado (TARV) se mostram eficazes na elevação da contagem de linfócitos T CD4+e na redução na carga viral (títulos plasmáticos de RNA do HIV). Com isso, a progressão da doença tem sido controlada, evidenciada pela redução da ocorrência das complicações oportunistas, da mortalidade, por uma maior sobrevida, bem como por uma importante melhora na qualidade de vida dos indivíduos5.

Quando utilizada corretamente, a TARV resulta no rápido controle do HIV e restauração parcial da função imune, levando à prevenção das diversas complicações que definem a AIDS. Isso não significa que a saúde é totalmente restaurada, no entanto estudos conduzidos em países de renda alta relatam que adultos infectados pelo HIV que sofrem de supressão mediada duradoura da replicação do HIV pelo tratamento estão em risco de desenvolver uma série de condições não - Aids, incluindo doenças cardiovasculares, câncer, doença renal, doença hepática, os teopenia / osteoporose e doenças neurocognitivas (coletivamente referidas como "eventos graves não - Aids")6 ..

O Brasil é também o que mais concentra casos de novas infecções por HIV. O país responde por 40% das novas infecções, segundo estimativas mais recentes da UNAIDS, enquanto Argentina, Venezuela, Colômbia, Cuba, Guatemala, México e Peru respondem por outros 41% desses casos 7. Em 2015, entre as 27 UF, 21 (77,8%) apresentaram coeficiente de mortalidade superior ao nacional, sendo que o estado do Acre apresentou o menor coeficiente (1,5 óbitos/100 mil hab.) e o Rio Grande do Sul, o maior (10,2 óbitos/100 mil hab.). Os estados do Rio de Janeiro e do Amazonas taxas de(8,7) 8. No Estado do Amazonas, as notificações dos casos retratam maior concentração da doença no município de Manaus, com aproximadamente 90% dos casos 9.

Do início da epidemia de AIDS (1980) até dezembro de 2015, foram identificados 303.353 óbitos cuja causa básica foi a AIDS (CID10: B20 a B24). Observou-se uma leve queda no coeficiente de mortalidade padronizado para o Brasil, o qual passou de 5,9 óbitos/100 mil habitantes em 2006 para 5,6 em 2015, o que representa uma queda de 5%. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a tendência foi de crescimento nos últimos dez anos.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 Na região Norte, esse coeficiente aumentou 56,2%, passando de 4,7 óbitos/100 mil habitantes em2006 para 7,3 em 20158.

A morbidade e a mortalidade entre os pacientes HIV positivos são cada vez mais devidas a doenças não - AIDS, incluindo doenças hepáticas, cardiovasculares e renais 10,11,12.

A maior causa de morte em pacientes com AIDS tem sido as chamadas doenças oportunistas, que surgem como consequência da grave imunodeficiência característica da infecção pelo HIV. O número de linfócitos CD4+ circulantes está intimamente correlacionado com o risco de desenvolver diversas infecções oportunistas, sendo que quando os níveis de CD4+ caem para menos que 200 células/mm3, o risco de desenvolver essas doenças chega a quase 60% dentro de um período de dois anos13.

Devido ao aumento da prevalência de infecção pelo HIV e à melhora nos esquemas de TARV e na terapia preventiva das infecções oportunistas, uma população cada vez maior de pacientes com AIDS tem apresentado maior sobrevida, sendo necessário compreender o comportamento das principais doenças (infecciosas e neoplásicas) nesse grupo de pacientes14

Dessa forma, surge um novo cenário de morbi mortalidade e um estudo de causas múltiplas de óbito relacionadas ao HIV/AIDS pode promover subsídios para atuação na prevenção de comorbidades, que mudaram ao longo do tempo. O estudo visa descrever o perfil dos casos de óbito por HIV/AIDS e das causas de óbito hospitalar que mais frequentemente aparecem a elas associadas, em uma instituição de referência no município de Manaus, Amazonas, 2016.

2 MÉTODOS

O estudo é uma série de casos notificados de HIV/AIDS registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) como óbito em 2016. Essa informação foi obtida nos campos 47 e 48 da ficha do SINAN (Anexo 1). Os dados de causas associadas foram obtidos do protocolo de registros de óbitos do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da unidade de referência e a data do início da dispensação de terapia antirretroviral foi consultada pelo prontuário eletrônico dos pacientes.

Valendo-se da base de dados de casos de óbito de HIV/Aids foi possível complementar as informações com as causas associadas de morte contidas no protocolo dos registros dos óbitos e com a data do início de terapia antirretroviral (TARV) do prontuário

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 eletrônico dos pacientes, ambas informações acrescentadas a base foram checadas manualmente por “nome”, “data nascimento” e “nome da mãe” no protocolo e no prontuário para correta identificação dos pacientes.

O conjunto de causas descritas no protocolo por paciente gerou uma variável média de diagnóstico. Esse conjunto foi designado causas associadas de óbito e cada causa individualmente foi agrupada por consulta eletrônica em capítulos, conforme a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID 10.

A diferença da data do diagnóstico de HIV com a data do óbito na notificação de HIV/Aids gerou a variável sobrevida. Para estabelecer o tempo de tratamento, a diferença da data do início da dispensação do medicamento com a data do óbito gerou a variável tempo do uso de TARV.

Para complementar a base foi necessário ter acesso aos nomes dos indivíduos. Para tanto, foi utilizado o Termo de Compromisso de Utilização de Dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, em agosto de 2017, sob o número de aprovação n° 2.554.889.

Análise dos dados

Para estabelecer se o óbito em homens foi maior em relação a mulheres foi utilizado o cálculo de razão.

A variável média diagnóstico foi usada para estabelecer a relação com sexo e idade. O p valor foi utilizado para verificar se a média variou significativamente, trabalhou-se com significância de 5%, analisados com teste de Wilcoxon.

3 RESULTADOS

Em 2016 ocorreram 246 óbitos em casos notificados como HIV/AIDS. Adistribuição de casos de óbito por mês ocorreu sucessivamente: janeiro (21/246-8,5%), fevereiro (21/246-8,5%), março (24/246-9,8%), abril (28/246-11,4%), maio (16/246-6,5%), junho (24/246-9,8%), julho (23/246-9,3%), agosto (19/246-7,7%), setembro (17/246-6,9%), outubro (14/246-5,7%), novembro (18/246-7,3%) e dezembro (21/246-8,5%). Nos homens (193/246-78,5%) a frequência de morte foi maior que nas mulheres (53/246-21,5%). Em relação a razão dos sexos (M:F) em maio e junho variou de (7:0) e razão geral de 3,6, conforme a Tabela 1.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 Tabela 1: Distribuição de casos dos óbitos de HIV/Aids por mês, sexo e razão dos sexos em unidade de referência, Manaus, Amazonas, Brasil, 2016.

óbit o masc ulino femi nino razão Meses N % N % N % M:F Janeiro 21 8.5 1 6 8.3 5 9.4 3.2 Fevereiro 21 8.5 1 6 8.3 5 9.4 3.2 Março 24 9.8 1 8 9.3 6 11.3 3.0 Abril 28 11.4 2 0 10.4 8 15.1 2.5 Maio 16 6.5 1 4 7.3 2 3.8 7.0 Junho 24 9.8 2 1 10.9 3 5.7 7.0 Julho 23 9.3 1 8 9.3 5 9.4 3.6 Agosto 19 7.7 1 3 6.7 6 11.3 2.2 Setembro 17 6.9 1 5 7.8 2 3.8 7.5 Outubro 14 5.7 1 0 5.2 4 7.5 2.5 Novembro 18 7.3 1 5 7.8 3 5.7 5.0 Dezembro 21 8.5 1 7 8.8 4 7.5 4.2

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 Total 246 100. 0 1 9 3 100.0 53 100.0 3.6

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-NET)

As idades dos óbitos por grupo foram: 13-24 (25/246-10,2%), 25-40(135/246-54,8%) e ≥40 (86/246-35,0%), com relação à média de diagnósticos a faixa etária de 13-40 anos não variou significativamente ao grupo ≥40 (p valor= 0,63) e a idade média ao morrer nas mulheres foi igual a dos homens (p valor= 0,37).

A sobrevida dos casos de óbito variou em < 1 mês (78/246-31,7%), ≤1 ano (54/246-22,0%) e em anos 1-2 (26/246-10,6%), 2-5 (36/246-14,6%) e mais de5 anos (52/246-21,1%). Nos casos com mais de 5 anos de TARV observamos menor registros de óbito (13/246-5,3%)

Tabela 2.

Tabela 2: Características clínicas dos óbitos de HIV/Aids em unidade de referência, Manaus, Amazonas, 2016.

Variáveis N % Sobrevida < 1 mês 78 31,7 ≤ 1 ano 54 22,0 1-2 anos 26 10,6 2-5 anos 36 14,6 5+ anos 52 21,1

Tempo de uso de TARV*

Não iniciou 46 18,7

< 1 mês 33 13,4

≤ 1 ano 46 18,7

1-2 anos 24 9,8

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825

5+ anos 13 5,3

Fonte: Protocolo de Registros de Óbitos, Prontuário Eletrônico e SINAN-NET * terapia antirretroviral

Na distribuição das causas associadas de morte por capítulos da CID em casos notificados de HIV/Aids que evoluíram com óbito em 2016, o destaque foi para doenças infecciosas e parasitárias que incluem as infecções oportunistas.

Outras doenças bacterianas corresponderam a (129/300-43,0%) das causas, com ênfase para septicemias A41.8 (44 casos) e choque séptico A41.9 (83 casos), correspondendo a (127/129-98,4%) dos óbitos nessa categoria; tuberculose (A15; A16.5; A17; A18.3 e A19) representou o segundo grupo mais citado com (66/300-22,0%) de causas, seguida de doenças devidas a protozoários como pneumocistose (B59) e toxoplasmose (B58) (55/300-18,3%) que foram as causas mais mencionas sucessivamente(Tabela 3).

O capítulo das doenças do aparelho respiratório foi o segundo em importância com (166/666-24,9%) de causas associadas descritas na tabela 3, as afecções como pneumonia (J18) e insuficiência respiratória (J96) constituíram-se em (146/166-88,0%) dos motivos do óbito, predominando nestegrupo.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 As agrupadas pelo capítulo sintomas, sinais, achados anormais de exames clínicos e laboratório, não classificados em outra parte, conhecido como causas mal definidas foi o terceiro grupo mais citado com (67/666-10,1%) das causas de morte.

Nas doenças do aparelho geniturinário o destaque foi para insuficiência renal aguda (N17) (23/33-69,70%) das causas associadas, no aparelho digestivo, doença hepática tóxica (K71) e doença do aparelho digestivo (K92.9) predominaram com (12/26-46,2%) na categoria, seguidas por doenças do aparelho circulatório (21/666-3,2%), neoplasias [tumores] (20/666-3,0%) doenças endócrinas nutricionais e metabólicas (15/666-2,3%), doenças do sistema nervoso (12/666-1,8%), doenças do sangue e órgãos hematopoiéticos e transtornos imunitários(3/666-0,5%), doenças da pele e tecido subcutâneo (2/666-0,3%) e transtornos mentais e comportamentais (1/666-0,2%) das causas associadas ao óbito de HIV/AIDS (Tabela 3).

4 DISCUSSÃO

Utilizar os dados do SINAN, o registro dos casos de óbito e o prontuário eletrônico dos pacientes para estimar a real prevalência de morte, descrever as causas associadas ao óbito e verificar o tempo de terapia antirretroviral, tem sido útil para monitorar a sub notificação, identificar as doenças que participam do complexo evento da morte no HIV/AIDS e verificar possíveis efeitos adversos nessa população com o uso TARV.

No estudo, os óbitos de HIV/AIDS em 2016 corresponderam a 246 casos, mas 18 desses declarados no registro de óbito não foram reportados ao SINAN. A subnotificação de casos no SINAN traz relevantes implicações para a resposta ao HIV/AIDS, visto que permanecem desconhecidas informações importantes no âmbito da epidemiologia, tais como número total de casos, comportamentos e vulnerabilidades, entre outros. Além disso, a ausência de registro pode comprometer o fornecimento de medicamentos e as ações prioritárias para populações-chave e populações mais vulneráveis8.

O número médio de diagnósticos neste estudo foi de 3,5 porém esse dado informado nas declarações de óbito (DO) é usado como indicador de qualidade dos dados de mortalidade, quanto maior o número informado de causas melhor o conhecimento da história natural de doenças e consequentemente maior prevenção dessas mortes, portanto a falta de preenchimento dos campos da DO pode ser um limitador principalmente em doenças crônicas como o HIV/Aids em que estão presentes várias causas no momento da morte15.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825 Observou-se que 78,9% dos óbitos de HIV/Aids tiveram sobrevida menor que cinco anos. Desconhecer a condição sorológica é o principal fator que favorece a disseminação do vírus e torna os pacientes difíceis de tratar, uma vez que indivíduos com baixa contagem

de CD4 + normalmente têm uma resposta pior à terapia antirretroviral16. O registro de óbito foi menor nos casos com mais de 5 anos de tratamento, pois o uso de terapia antirretroviral tem impacto positivo na sobrevida dos pacientes17.

Na distribuição das causas associadas em doenças infecciosas e parasitárias, destacou-se as bacteremias, enfatizando septicemias e choque séptico correspondendo a 98,4% neste grupo. Sabe-se que a resposta sistêmica é atenuada à infecção em indivíduos imuno deprimidos, levando o paciente a evoluir de forma mais grave. Desta forma, para precisa identificação da pior evolução em indivíduos com HIV/Aids e sepse seria necessária mensuração de marcadores específicos que precocemente pudessem auxiliar o diagnóstico, tratamento e apontar um melhor cenário que o óbito18.

Apesar de recomendações nacionais para reduzir o risco de desenvolver tuberculose (TB) em pacientes com infecção latente de TB, a doença ainda foi a segunda causa de morte no grupo de doenças infecciosas e parasitárias, seguidas de pneumocistose e toxoplasmose, doenças que se manifestam usualmente com contagem de LT-CD4 + < 100 céls/mm3 19.

O grupo do aparelho respiratório foi o segundo em importância, asafecções como pneumonia não especificada (J18) e insuficiência respiratória (J96) predominaram neste grupo. As pneumonias são uma causa comum de morbidade e mortalidade nesses pacientes. A etiologia, a fisiopatologia e as manifestações clínicas dependem do tipo e grau de dano nas defesas orgânicas, uma grande variedade de agentes oportunistas pode ser encontrada nesta população. Porém neste estudo (77/166-46,4%) dos casos de pneumonias não tiveram

etiologia identificada e foram classificadas como não especificadas (J18)20.

As agrupadas pelo capítulo sintomas, sinais, achados anormais de exames clínicos e laboratório, não classificados em outra parte, conhecido como causas mal definidas foi o terceiro grupo mais citado como causa de morte.Um estudo evidenciou a grande heterogeneidade na cobertura e qualidade dos dados disponíveis, com as regiões Norte e Nordeste apresentando proporções muito elevadas de óbitos por causas mal definidas21.

A alta citação de causas mal definidas pode ter sido um limitador nesse estudo já que a história natural da infecção e da doença pode ser parcialmente recuperada se forem descritas a sequência patológica dos eventos no HIV/AIDS.

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Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 787-799, mar./apr. 2019. ISSN 2595-6825

5 CONCLUSÕES

Neste estudo das causas associadas de óbito em casos notificados de HIV/Aids que evoluíram à óbito em 2016, as infecções indicativas de Aids foram as mais citadas, sendo que (79/246-32,1%) dos pacientes que morreram não estavam em tratamento ou estavam com menos de um mês.

Entre só pacientes com menos de um até cinco anos de TARV, ocorreram(154/246-62,5%) dos óbitos. O uso de antirretro viral leva a prevenção de complicações do vírus e sua introdução resulta em aumento expressivo de sobrevida.

Acompanhar e tratar os portadores de HIV/AIDS é essencial para melhorar a qualidade de vida, de modo que os serviços oferecidos devem ser de qualidade e resolutivos.

A citação de causas mal definidas de óbito no estudo foi expressiva o que compromete o conhecimento da amplitude dos eventos no HIV/AIDS e a orientação de medidas preventivas que norteiem ações de saúde, sendo, portanto, fundamental investimento em educação permanente do profissional de saúde responsável pelo preenchimento da declaração de óbito.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colaboração da Diretoria de Assistência Médica (DAM) e do Departamento de Epidemiologia e Saúde pública (DESP) da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado.

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Referências

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