revista
JUNHO
N.º 6184
125$00
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N.
06/84
JUNHO
revista
Director: A. Gentil Martins Redactores: A. Osório de Araújo Tello Morais A. Castanhinha,
sumario
Editorial
Relações e/ o Governo
Opinião
Congressos
e Reuniões Internacionais
Impostos
Defesa sócio-profissional
Relações internacionais
Vária
3
5
11
13
14
18
20
Na capa: Quadro de Columbano, existente na Faculdadede Medicina de Lisboa. em que se podem ver (da esquerda para a direita): Eduardo Motta, May Figueira, Sabino Coelho, Ricardo Jorge e Oliveira Feijão
Propriedade, Administração e Redacção:
Ordem dos Médicos Preço Av. Almirante Rela, 242. 2.0-Esq.
Telef. 805412 - 1000 LISBOA
editorial
No cumprimento
do dever
A. GENTIL MARTINS
.
Já não deveria causar surpresa mais uma notícia de
violência, que se tornou já rotina no quotidiano do nosso
País; mas este caso brutal não deixou de nos atingir
mais profundamente já que se tratava da morte crimi
nosa de uma Colega, consequência de ter pretendido
cumprir na íntegra a sua ética profissional. Não pode
neste momento a Classe deixar de prestar a sua sentida
homenagem a alguém que se mostrou verdadeiramente
digno da profissão que abraçou.
Recusar um atestado de doença quando de facto
ele não parece justificado é não só um acto de cora
gem como um acto de verticalidade profissional que
importa realçar; e sobretudo de realçar, quando como
neste caso trágico, as consequências representam o
sacrifício da própria vida.
Este acontecimento não deverá senão fazer reforçar
nos Médicos a fortaleza de ânimo de proceder segundo o
exemplo da nossa Colega Maria Cândida Pereira de
Ataíde.
Já vão felizmente longe os tempos da loucura pós revo
lucionária e da demagogia que campeava nos anos que
sucederam mais imediatamente a Revolução de 25 de Abril
de 197 4; segundo era voz corrente - mas nunca conse
guimos confirmar concretamente, houve casos de médicos
que sugeriam aos doentes que se reformassem «para dar
lugar aos mais novos», seguindo uma orientação de ca
rácter político bem definida mas seguramente errada. Foi
assim que Portugal se transformou num País em que
existem dois trabalhadores para um reformado (muitos
destes trabalhando em mercados paralelos) isto quando
se sabe estarem países, como os Estados Unidos, já alta
mente preocupados porque a proporção passou de sete
para seis trabalhadores por cada reformado. Daí as refor
mas baixíssimas que os cofres do Estado, em Portugal,
não conseguem melhorar.
PUBLICAÇÃO MENSAL Execução gráfica:
avulso: 125$00
-
Altagráfica24.000 exemplares Estrada da Carvoeira Telefs. 52483/52874 - 2640 MAFRA
Infelizmente é acusação frequente que por
vezes as baixas são dadas com uma certa ligei
reza, quando não mesmo inconsciência, face
aos graves problemas sociais que levantam,
sem falar já na
quebra ética clara que repre
senta uma baixa infundada ou mesmo frau
dulenta.
sentido de avaliar com clareza quando se
trata de verdadeira doença ou simples simu
lação, sem referir as tentativas de coacção e
mesmo os insultos e as agressões! A assas
sinada
nossa Colega,
no cumprimento do
seu dever profissional,
deverá representar
para todos nós um estímulo e um
exemplo a seguir para dignificação
da nossa profissão
ao serviço dos verda
deiros doentes.
Se tal acontecer o seu
sacrifício não terá sido em vão.
O sacrifício da nossa Colega servirá
talvez para abrir os olhos
a alguns Colegas e
sobretudo
a muitos políticos que mais não
sabem do que criticar os médicos sem reco
nhecer o seu brio profissional e o seu escrú
pulo de actuação, tantas vezes difícil no
António Gentil Martins
CONSELHO NACIONAL EXECUTIVO
COMUNICADO
O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos M�icos, reunido no Porto, em 18 de
Junho de 1984, face às notícias divulgadas nos Órgãos de Comunicação Social de que
o Ministério das Finanças, em conjugação com o Ministério da Saúde, iria actuar sobre
os médicos entendeu declarar:
1 . Repudia frontalmente a discriminação abusiva que é feita em relação aos médicos,
omitindo-se não só as restantes profissões liberais mas também a generalidade dos
Portugueses, como se só entre aqueles existisse quem não cumpra com os seus deveres
fiscais.
2. Repudia o duplo critério usado pelo Governo para com os médicos, pois não paga juros
de mora do dinheiro que lhes deve mas exige que tais juros sejam pagos, impiedosa
mente, quando é o médico que se encontra em falta.
,
3. Considera totalmente inaceitável que se apresentem publicamente números que quando
muito apenas constituirão excepção, assim dando uma falsa imagem do problema real da
Classe Médica e escamoteando que os valores que paga por certos actos médicos estão
já francamente abaixo do seu valor real, obrigando os médicos a deixar de os executar
por absoluta impossibilidade financeira.
4. Embora defendendo a necessidade de moralizar a vida pública surpreende-se que o
Governo sinta autoridade moral para lançar campanha pública sobre contrôle da evasão
·
fiscal apenas para a Classe Médica, alegando dívidas para com o Estado, enquanto o
próprio Estado não cumprir os seus compromissos financeiros para com os Médicos e de
que são exemplos o atraso de vários meses no pagamento das Convenções Médicas e a
ausência do pagamento não só dos aumentos já promulgados como dos retroactivos
devidos aos Médicos dos Serviços Médico-Sociais.
COMPETE
A
ORDEM DOS MÉDICOS LUTAR PELA DIGNIDADE DOS
MÉDICOS, PELA QUALIDADE DA MEDICINA E PELA PROMOÇÃO DA SAÚDE
•
68$00
�elações com o governo
SEGURANÇA SOCIAL
Vale a pena meditar sobre este tipo de soluções para os quais a nossa Segurança Social actual não
tem resposta.
Transcrevemos da carta de um Colega recentemente recebida e que bem traduz o dramatismo e a
injustiça de toda uma situação:
«Estou à beira dos 74 anos e ainda vou trabalhando, ainda que, agora, um pouco mais «au ralanti».
Estou completamente exausto, e já me custa viajar. Como todos ou quase todos ou, pelo menos, muitos
dos Colegas da minha idade, encontro-me, ao fim de uma vida de trabalho no «duro», praticamente
marginalizado, quanto à reforma! Pessoalmente, além da medicina particular fui, durante cerca de 27
anos, médico do Hospital Distrital de ... Nos dois primeiros anos, estava de serviço 24 horas por dia
(fazia as urgências, o Banco e Raios X) 30 dias por mês e 365 dias por ano! Não fazia férias? Sim, mas
à minha custa, pois pagava a um Colega para me substituir nas férias (acontecia até, que pagava mais
ao Colega do que pagavam a mim, pois só assim conseguia arranjar substituto). Nesse tempo, era
• 1
assim ....
Fiz também a consulta do Dispensário de Puericultura durante 6 anos. Fui Professor da Escola de
Enfermagem. Fiz o Serviço de micro-radiografia- rastreio torácico - na Delegação de Saúde (nesse
tempo considerado pioneiro) - fiz também, durante algum tempo, o Serviço de Raios X do Hospital ...
Aos 65 anos, cansado, pedi a reforma. Concederam-ma, no valor de 5500$00 mensais! Depois, foi
subindo, subindo, e encontra-se agora, nos 12 500$00! Menos de metade da reforma de um polícia ou
de um guarda republicano! Vale-me a reforma da Caixa de Previdência dos Médicos ... que é de
490$00 mensais (note bem: mensais, não anuais ... )
Dizem-me que a reforma do Hospital é tão pequena por eu ter estado a trabalhar em regime de
«tempo incompleto»! Eu, que ia para o Hospital, durante o Inverno, com os faróis do carro acesos e que,
praticamente, todas as noites fazia serão! Acontecia que eu nunca olhava para o relógio mas sim para o
serviço a despachar. Fui idiota, e agora estou a pagar isso! ...
»•
CARREIRA DE INVESTIGAÇÃO
NO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA
DE FRANCISCO GENTIL - Centro de. Lisboa
A Ordem dos Médicos enviou à Secretaria de Estado do Ensino Superior um ofício, datado de 25 de Maio de 1984, rio qual o Presidente reiterava duas .posições da Ordem:
1 -A Carreira Médica clínica, a nível hospita lar, é simultaneamente uma Carreira de assistên cia, ensino e investigação. Não se tratará aqui de investigação pura mas trata-se certamente de investi gação clínica, através da qual se conseguirá um contínuo aperfeiçoamento do médico, até pela análise dos seus próprios resultados e das suas próprias insuficiências.
Entendemos que quando algum médico tem uma !deia que se possa considerar válida no campo da investigação não tem mais do que fazer um protocolo e que o submeter a aprovação das hierarquias corres pondentes, a fim de que lhe sejam dadas as facilida des (quer de tempo quer materiais) que lhe permitam
levar a cabo essa investigação; é o sistema da «dis pensa de comparência ao serviço» ou «das bolsas» quando necessárias, a fim de permitir levar a cabo um projecto de investigação que de outro modo não seria realizável. Ser investigador por Decreto, em Medicina Clínica, não nos parece solução válida e que saiba mos não leva, em lado nenhum, a resultados concre tos. Se compreendemos a Carreira de Investigação no sentido da investigação pura e em disciplinas não clínicas já o mesmo se nos afigura inadequado no campo clínico, em que a investigação é parte inte grante da vida do médico.
2 -Devem os médicos fazer parte da Carreira Médica e não ser colocados como técnicos
riores de laboratório. Essa anomalia, deve ser ur
gentemente corrigida, independentemente dos inte resses pontuais ou da vontade expressa de um ou outro médico que, enquanto tal, apenas se deve po der integrar na sua própria Carreira.
Tanto quanto saibamos qualquer destas duas ano malias, «Carreira de Investigação no corpo clínico» ou «médicos deslocados para uma Carreira de técnicos superiores de laboratório» apenas existe no Centro de Lisboa do Instituto Português de Oncologia e não se encontra nos outros Centros da mesma Instituição (Porto e Coimbra) dependentes desse Ministério;
•
igualmente não se encontra ao nível das Instituições Hospitalares do País dependentes do Ministério da Saúde. Isto sem referir já que tal não está nem no espírito nem na forma das Carreiras Médicas actual-· mente existentes e que, se bem que contestadas,
neste ponto têm a nossa concordãncia.
Solicitava igualmente a Ordem dos Médicos que aquela Secretaria de Estado procurasse clarificar aquela situação e que fosse implementado, com a possível urgência, e não só, o quadro dos Centros do IPOFG como toda a estrutura geral e o novo Estatuto daquela Instituição .
APLICAÇÃO DO ESTATUTO DO MÉDICO
AO INSTITUTO DE MEDICINA TROPICAL
Em 30 de Dezembro de 1983, a Ordem dos Médicos enviou ao Secretário de Estado do Ensino Superior um ofício no qual solicitava a rápida promulgação de diploma sobre a aplicação do Estatuto do Médico ao Instituto de Medicina Tropical, e que passamos a transcrever:
.) «Há muito vem esta Ordem dos Médicos lutando
pela aplicação do Estatuto do Médico a todos os de partamentos oficiais de saúde, como aliás a própria Lei contemplava (Dec. 373/79 de 9/09/79).
Em vésperas da solução do· problema do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, que já se arrasta há cerca de 4 anos, pensávamos estar já resolvida, aliás de acordo com informações do Gabi nete de V.Exa., a problemática dos médicos do Insti tuto de Medicina Tropical, já objecto de outros ofícios. Tivemos agora conhecimento que mais um com passo de espera se apresentava, através do envio do
projecto de legislação - já pronto para promulgação, à Universidade Nova de Lisboa.
Neste momento, acabámos de escrever ao Reitor dessa Universidade solicitando-lhe a maior urgência no seu Parecer, já que se afigura não só extrema mente injusto, mas até à revelia da própria Lei, a não aplicação do Estatuto do Médico aos Colegas que tra balham no Instituto de Medicina Tropical.»
Em 23 de Março de 1984, enviou a Ordem dos Médicos novo ofício àquele Secretário de Estado soli citando a resolução urgente deste assunto, que aguarda solução há quase 5 anos (!).
•
PROJECTO DE DECRETO-LEI
E REGULAMENTO GERAL DO RUÍDO
Contactada a Ordem dos Médicos pela Secreta ria de Estado do Ambiente quanto ao Projecto de Decreto-Lei e Regulamento geral sobre o ruído, sugeriu esta Ordem, em ofício de 16 de Maio de 1984, que fosse alterado o texto referente ao art. º
eventual trauma sonoro para os trabalhadores, as en tidades fiscalizadoras imporão a realização de rastreio audiométrico anual aos trabalhadores, quando estes forem supostos normais ou não. referirem quaisquer queixas auditivas. Nos trabalhadores em risco de au dição, os exames serão feitos com intervalos máximos de três meses, ou menores, se a circunstância clínica assim o exigir.»
18. º passando a ser:
«Nos locais onde seja previsível a ocorrência de
Informam-se todos os Colegas que, perante qualquer eventual inquérito disci
plinar que possam ser sujeitos e quando pretendam que a Ordem dos Médicos seja
parte e apoie no processo (ao abrigo do Art. 15.º, alínea d) do estatuto da OM - Dec.-Lei
282/77 de 5 de Julho de 1977), deverão informar-se na respectiva Secção Regional,
previamente a ser ouvidos em auto, de quais os seus direitos solicitando, se necessá
rio, apoio imediato à Consultadoria Jurídica da Secção.
Igualmente se aconselham todos os Colegas em tais circunstâncias a exigirem,
durante todas as fases do inquérito, a presença do seu advogado.
.
·-op1n1ao
ENTREVISTA CONCEDIDA PELO PRESIDENTE
DO SINDICATO MÉDICO DO SUL,
DR. FERNANDO MOREIRA SIMÕES, AO «ESPAÇO MEDICO»
Os últimos anos têm vindo a assistir a uma explosão da população médica nos países industrializados, uma regra a que Portugal não tem escapado. Parale lamente, a força reivindicativa das populações e a maior responsabilização do Estado pelo bem-estar
• dos cidadãos tem alargado os cuidados médicos �ratuitos (ou melhor, de baixo preço) a camadas mais e mais amplas. O médico começa assim a surgir cada ·
vez em maior número como empregado e, especial mente, como empregado do Estado.
O boom médico tem provocado alterações consi deráveis na estrutura clássica da classe médica. Uma
nova classe médica, numerosa, jovem, assalariada, começa a invadir a profissão e, com ela, um novo tipo de preocupações profissionais que por vezes se pren dem com a simples sobrevivência soma-se as proble máticas mais clássicas.
Acompanhando esta evolução, também o associa tivismo médico tem vindo a sofrer em todo o mundo uma modificação de vulto. Com o relativo decresci mento da percentagem de médicosprofissionais -por conta própria, e o consequente surgimento de médicos-empregados (e de outro estilo de preocupa ções profissionais, distintas dos problemas científicos e deontológicos que ontem como hoje ocupam a classe).
Na entrevista que publicamos com o dr. Fernando Moreira Simões, tentámos estabelecer a trajectória do sindicalismo médico português e situá-lo relativa mente à classe, nomeadamente aos seus elementos mais jovens, assim como relativamente à Ordem dos Médicos a quem tem vindo desde sempre a disputar o campo socioprqfissional como zona de actuação.
EM -Ao ser inaugurada a nova sede do SMAS em andar adquirido pelo próprio sindicato, como sente o presidente do sindicato este momento?
Dr. Fernando Moreira Simões-Sinto-me evi dentemente satisfeito pois a aquisição de uma sede própria para o Sindicato dos Médicos representa uma melhoria substancial nas instalações que permite dar nova dinâmica ao funcionamento do Sindicato, além de dar maior independência financeira.
EM -Sabemos que esta aquisição só foi pos sível graças aos títulos de solidariedade de 5, 1 O, 20 e 50 000$00, subscritos pelos vários associa dos os quais serão posteriormente devolvidos. Qual foi a aceitação desta iniciativa?
FMS - A subscrição de títulos de solidariedade foi boa, por parte dos associados, mas existem encargos
financeiros resultantes de empréstimos pelo que a subscrição de títulos e dádivas devem continuar.
EM -Quer fazer-nos uma breve história sobre o sindicalismo médico em Portugal?
FMS - Tudo leva a crer ter nascido o associati vismo médico português no primeiro quartel do século XVIII, na cidade de Beja. Teria âmbito científico e cultural, em geral e, curiosamente, viria a ter proble mas com a Inquisição. Em finais do século XVIII e princípios do século XIX, novas associações, com o mesmo âmbito, viriam a surgir. A partir de meados do século XIX este processo entrou em consolidação e, simultaneamente, surgem as primeiras associações com características deontológicas destinadas, no es sencial, a fazer face ao charlatanismo e assegurar regras à concorrência entre os médicos.
De finais do século XIX em diante, surgem as pri meiras tentativas de criação de sindicatos de médi cos, de vida curta e que além das preocupações deontológicas fizeram face ao «empregador,, Estado e Autarquias.
Várias tentativas modestas de carácter mutualista viriam a ser absorvidas pelo regime fascista, bem como os organismos sindicais híbridos, ultimamente cria dos.
Surgem as Ordens, nomeadamente, a Ordem dos Médicos, com estatutos impostos de cima para baixo, de âmbito essencialmente deontológico, reflectindo o carácter «liberal» das práticas médicas, então esma gadoramente dominante.
Temos de esperar pelos finais dos anos cinquenta deste século para que a primeira movimentação médica de carácter fundamentalmente sindical viesse a ser desencadeada. Reflecte a primeira tentativa estatal de criar uma medicina de carácter social e já não caritativa. Embora realização de fachada, destinada a assegurar um mínimo de condições de saúde às massas traba lhadoras, logo com o objectivo exclusivo de manter a produtividade da mão-de-obra das empresas capita listas, viria a levantar a primeira grave contradição entre os médicos e o regime salazarista.
Com o incremento deste tipo de exercício de medi cina e o eclodir da guerra colonial, as contradições agudizaram-se, culminando com novas movimenta ções sindicais no final dos anos 60. Em 1969, a lista concorrente aos Corpos Gerentes da Zona Regional do Sul, com um programa de carácter sindical, viria� sair vencedora. Impugnada e, mais tarde, anulada, vi ria, a ser novamente eleita em 1970. O dinamismo
desses Corpos Gerentes despertou a máquina re pressiva do «Caetanismo». Os Corpos gerentes foram suspensos, interrogados pela PIDE e alguns dos seus membros processados em Tribunal de Trabalho.
A Ordem dos Médicos, regida daí em diante por um carácter de nomeação governamental, amordaçada fi caria até ao 25 de Abril de 197 4.
Com a Revolução, viria a ser eleita uma lista com um programa declaradamente sindical. Foi na sua vi gência que foram aprovados em Assembleia Geral, os primeiros estatutos com carácter verdadeiramente sindical dos médicos portugueses.
Os acontecimentos políticos criados, em Portugal, de finais de 1975 a princípios de 1978 e uma com preensão errada do seu reflexo nas condições do exercício de medicina, levaram um grupo numeroso de médicos a relançar a respectiva Ordem, em termos de alternativa a um sindicalismo que somente encon trou forças de relançamento em 1979. Daqui em diante, o sindicalismo médico tem vindo progressivamente a consolidar-se. Renasceu o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, a que de juntariam depois os novos sindica tos do Centro e Norte.
O assalariamento da maioria dos médicos portu gueses, uma nova filosofia dos cuidados de saúde a ser prestados à população portuguesa por parte do Estado e, finalmente, um «numerus clausus» não res peitado no acesso às faculdades de medicina, gera ram novas contradições que culminaram na ameaça de desemprego médico para as novas camadas de clínicos.
Sem uma percepção correcta do que é o sindica lismo médico e da necessidade premente de o ex pandir e consolidar, neste último quartel do século XX, não será possível fazer face às actuais dificuldades por que passam os médicos jovens e àqueles que ainda estão para vir e que tudo leva a crer dirão respeito a todas as outras camadas de clínicos.
EM - Diariamente chegam até si várias edi ções e jornais de informação médica. Parece-lhe haver maior receptividade para a Ordem do que para os Sindicatos Médicos, por parte dessas pu blicações?
FMS - Infelizmente tem existido por parte das edições e jornais referidos maior receptividade para a Ordem do que para os Sindicatos. Esperamos que num futuro próximo exista igualdade de tratamento.
EM - Em termos globais qual é a percentagem de médicos sindicalizados?
FMS - Considerando a Zona Sul a percentagem de médicos sindicalizados ronda os 20%, percenta gem semelhante à das Zonas Centro e Norte conside radas globalmente.
EM -A relação entre a Ordem e os Sindicatos Médicos parece ter vindo a melhorar. Assistiu-se a uma mudança de tónica da Ordem quando se refere aos Sindicatos. Assim começaram por ser « ... o chamado Sindicato Médico» passando depois a « ... Sindicato Médico». Neste momento qual é a relação Ordem-Sindicato Médico?
FMS - Não confundimos a actividade da Ordem, mais no sentido ético-profissional, com a actividade do Sindicato, mais do âmbito socio - profissional.
São duas actividades distintas embora existam as pectos complementares.
Lamentamos e repudiamos a atitude dos actuais dirigentes da Ordem, que reivindicam para si aspectos socioprofissionais que competem aos sindicatos e que dependem de uma política de saúde retragada e ne fasta para a esmagadora maioria dos médicos, espe cialmente para as camadas jovens ameaçadas pelo desemprego.
Na realidade, ao defenderem como forma privile giada a Medicina privada e a convencionada, defen dem os interesses duma minoria da classe, o chamado «sector empresarial médico».
EM - Em vários comunicados emitidos pelos
Sindicatos Médicos chamam estes a si as acções reivindicativas de âmbito sociq-profissional. Pare cem excluir a Ordem dessas funções. Se assim é quais serão, para o Sindicato Médico, as funções da Ordem?
FMS - As funções da Ordem serão mais do âmbito
ético-profissional.
EM - Continua a assistir-se a uma grande di
vergência entre a Ordem e o Sindicato no que respeita às Carreiras Médicas. Contudo a Ordem
l)
J
celebrou, na década de 50, uma extraordinária vi tória ao conseguir a consagração da existência das Carreiras Médicas. Partindo deste facto nãolhe parece possível ao Senhor Professor
chegar--se a um entendimento entre a O. e o S. sobre esta matéria?
FMS - A Ordem que conseguiu na década de 50 a consagração das Carreiras Médicas era constituída por dirigentes médicos que estão no nosso Sindicato, alguns deles na direcção actual ou na sua fundação. EM - Num projecto de estatutos do S.M.R.S. no art.º 12.º parágrafo 3.º lê-se« . .. estão isentos de quota os sócios que se encontrarem na situa ção de reforma ou aposentados e os sócios que se encontrem na situação de desemprego». Parece -nos que já nessa altura o Sindicato encarava a hipótese de haver desemprego médico. Concreta mente, qual a ideia do Sindicato sobre a potencia lidade de desemprego das novas gerações de mé dicos e que acções se propõe o Sindicato levar a
efeito na defesa desses mesmos jovens? ./
FMS - A isenção de quota prevista para os sócios em situação de desemprego na altura em que foi ela borado o projecto de estatutos· do S.M.R.S. é para uma situação ·eventual, como por exemplo um médico despedido numa empresa.
Encaramos que não há razão para que os actuais médicos policlínicas sofram o desemprego.
Toda a movimentação de policlínicas apoiada
pe-·Ios Sindicatos Médicos e a greve, com adesão de 85% de policlínicas (P1, P2 e P3), na Zona Sul é a demonstração cabal do interesse do nosso Sindicato para contrariar a política de desemprego do Governo em relação aos médicos jovens.
Houve um recuo nítido na intenção do ministro da Saúde em despedir médicos com o argumento que existiriam médicos a mais. O senhor ministro da Saúde recuou na sua posição e admitiu publicamente que não há médicos a mais e, pelo contrário, há falta de médicos especialistas, especialmente nos ramos da Estomatologia, Anestesia e outros.
EM ___: Uma das acções em que o Sindicato se empenhou foi na defesa e formação profissional
.DA.
:;ral
A.
dos jovens bem como do ensino da Medicina. A
respeito do ensino da Medicina parece-me que os
Conselhos Directivos e Científicos das várias Fa
culdades de Medicina têm tido pouca preocupação
em fazer consultas aos Sindicatos Médicos. Tem
efectivamente sido assim?
FMS
- Tem sido assim. Esperamos que os Con selhos Directivos e Científicos da Faculdade de Medi cina façam consultas aos Sindicatos, dada a implanta ção no seio da classe, cuja influência real ultrapassa a percentagem de sindicalizados.EM -
Ainda em relação com a pergunta anterior,
como vê o Sindicato a possibilidade de começar a
ter impacto nos estudantes das Faculdades de Me
dicina que, tradicionalmente, têm a Ordem como
representante da classe?
FMS - O impacto que teve o nosso apoio ao re
cente movimento reivindicativo dos jovens médicos terá igualmente impacto nos estudantes de Medicina.EM -
Assistiu-se recentemente a mais um
congresso organizado pela Ordem. Há toda uma
dinâmica de actuação da Ordem na vida dos médi
cos portugueses que parece faltar ao Sindicato.
Posso perguntar-lhe porque não leva a efeito, o
Sindicato Médico, acções deste tipo?
FMS
- Os congressos organizados pela Ordem estão mais no seu âmbito. No entanto, o Sindicato encara a realização de cursos profissionais e cultu rais, logo que consiga resolver problemas mais ime diatos, como seja a resolução dos problemas dos jo vens médicos, o pagamento da sede e a maior im plantação no seio da classe.No entanto, posso já citar a realização da Confe rência de Clínica Geral no passado dia 26 de Novem bro, promovida. pelos Sindicatos Médicos.
EM -
Por último, e como presidente duma as
sociação voltada para· a defesa socioprofissional
dos médicos, q_ue mensagem quer deixar
àjovem
população médica deste país?
FMS-
Fazemos um apelo à jovem população médica que se una dentro dos Sindicatos Médicos na defesa dos seus interesses contra a ameaça de de semprego e para uma melhoria das condições de tra balho e de salário nos três cursos das Carreiras Médicas.O recuo do ministro da Saúde e a abertura do diálogo com os Sindicatos faz prever um futuro mais digno para a classe médica.
Na sequência das afirmações proferidas pelo Presidente do Sindicato dos Médicos do Sul o
Presidente da Ordem dos Médicos enviou ao Dr. Manuel Athayde Cabeçadas, Director Adjunto do
Jornal «Esp�ço Médico)), em 5 de Abril p.ºp.º, com o pedido de publicação naquele jornal, o ofício
que a seguir se transcreve na íntegra:
Exmo. Senhor:
Perante a entrevista com o Dr. Fernando Moreira Simões, Presidente do Sindicato dos Médicos da Re gião Sul e o título bombástico que o «Espaço Médico» publica na capa do seu número de 24 de Janeiro de 84, não podemos deixar de solicitar ao vosso Jornal a publicação, com idêntico relevo, das considerações que tal entrevista nos sugere.
Como é do conhecimento geral o núcleo
base do Sindicato dos Médicos da Região Sul
não é efectivamente diferente do grupo que,
logo após o 25 de Abril de 1974, procurou
transformar a Ordem num simples Sindicato.
Se não vejamos a sua filiação persistente na CGTP -IN, lntersindical Nacional e a sua defesa da Lei 56/79 (SNS).Esse grupo tem-se no entanto caracterizado pela «versatilidade», já que os seus argumentos e opiniões mudam aparentemente ao sabor daquilo que é mais útil em cada momento - aliás, dentro de uma linha de pensamento bem característica e caracterizada.
Para além da entrevista citada representar uma evidente deturpação de factos históricos e conter con tradições dentro do próprio texto, cabe ainda realçar que a meia verdade é por vezes pior do que a mentira evidente: aquela igualmente oculta a verdade mas é mais dificilmente desmentível!
O sector ideológico de que o Presidente do Sindi cato dos Médicos da Região Sul faz parte (e honra lhe seja feita pela sua coerência, pois tanto quanto
sabe-mos, a ele sempre tem pertencido) é o mesmo que, quatro dias após o 25 de Abril de 1974, numa Assem bleia «selvagem» (convocada «ad hoc» com 24 horas de antecedência) aprovou a transformação da Ordem num Sindicato. Assim, podia-se ver na folha informativa n. º 1 de Maio de 197 4, na sua contra-capa, uma foto grafia da fachada do n.º 65-1.º da Av. da Liberdade, com o título «Ordem dos Médicos-Sindicato Livre».
No n.º 15 do Boletim da «Vida Sindical»,
edição do «Sindicato dos Médicos da Região
Sul», em Janeiro de 1976, pode ler-se pela boca
do grupo de que faz parte o Presidente do Sindicato
dos Médicos da Região Sul:
«Muito se tem dito e escrito
nas Assembleias Geraissobre o assunto que nos últimos tempos
tem dividido a Classe Médica, o falso dilema Or
dem versus Sindicato.
Pode facilmente verificar-se que, desde
1939, existe em Portugal o Sindicato dos Mé
dicos
que adoptou a denominação de Ordem, adop ção que não foi tomada por consenso geral dos seus membros mas por imposição governamental. Para conhecimento transcrevemos a legislação aplicável neste assunto.Nestes textos legais verifica-se:
1 . º - Que o Decreto-Lei 23050 estabelece que
certos Sindicatos nacionais entre eles o dos Médi
cos podem adoptar a denominação de Ordens.
2.º -
O Decreto-Lei 29171 constitui o Sindicato
Nacional dos Médicos
com a denominação de Or dem dos Médicos.3.0
-O Decreto-Lei 40651 limitou-se a alterar o
Estatuto sem revogar qualquer legislação anterior. O Decreto-Lei n.º 215-8/75 revogou a legislação sindical anterior, portanto o Decreto-Lei 23050 e, automaticamente, toda a legislação nele baseada.»
Não será preciso lembrar ao Presidente do Sindi cato dos Médicos da Região Sul, depois desta bri
lhante defesa do Sindicalismo da Ordem dos Médicos antes de 25 de Abril de 1974, que à Ordem competia já a ractificação dos contratos de trabalho dos médicos e que foi essa mesma Ordem que pug nou, globalmente, em 1961, pelas Carreiras Médicas (a que adiante nos voltaremos a referir).
«Parece-nos assim que a Ordem dos Médicos na
denominação dada ao Sindicato Nacional dos Mé dicos foi extinta pelo Decreto-Lei n.º 215-B/75. Esse Diploma, por seu turno, contempla a instituição do Sindicato dos Médicos da Região Sul cujo Estatuto foi aprovado por larga maioria na Assembleia Geral de 27 de Julho de 1975.»
Isto leva-nos a ter que lembrar ao Presidente do Sindicato dos Médicos da Região Sul que o que ele chama «o verdadeiro Estatuto Sindical dos
Médicos Portugueses aprovado,: foi aquele que
foi proposto pela linha ideológica que, neste mo mento, está na Ordem dos Médicos, sendo a linha
ideológica que o Presidente do Sindicato dos Médi cos da Região Sul representa derrotada por larga maioria.
Mas o mais grave é que o grupo a que o Presidente do Sindicato dos Médicos da Re gião Sul pertence, logo ao ser aprovado o ponto 3 do artigo 3. º desse Estatuto, que pres supunha a existência de uma Associação Médica correspondente a uma Ordem renovada, em vez de prosseguir na discussão dos restantes 57 artigos do Estatuto e 13 artigos do Regulamento Eleitoral, preferiram abandonar a sala e as discussões, cantando o hino da Mocidade Portuguesa e ace nando lenços brancos -atitude certamente como vente e reveladora do conceito de democracia que têm os sindicalistas que o Presidente do Sindicato dos Médicos da Região Sul representa.
O Presidente do Sindicato dos Médicos da Re gião Sul passa em claro, igualmente, que durante meses e em várias Assembleias se procurou asse gurar a realização de um plebiscito à Classe Médica a fim de que ela definisse, livremente, em voto secreto, aquilo que pretendia quanto ao seu asso ciativismo. Após a Assembleia mais concorrida de sempre, realizada na Secção Regional do Sul em 7 de Fevereiro de 1976, são demitidos os Corpos Ge rentes do «Sindicato/Ordem» (os cheques conti nuavam a ser assinados em nome da Ordem dos Mé dicos . .. !) e substituídos por uma Comissão Direc tiva provisória (eleita por cerca de 800 votos contra 200 do grupo Sindicalista que serve de base no actual Sindicato dos Médicos da Região Sul. Só então foi possível fazer um plebiscito nacional em que foram colocadas três grandes opções aos médi cos quanto ao associativismo que desejavam:
1 . º - Se a existência de uma Ordem com fun ções Sindicais:
2.0
-Se a existência de uma Ordem com fun
ções predominantemente deontológicas e técni cas e dum Sindicato com funções de defesa sócio -profissional;
3.º - Se bastaria um simples Sindicato, como até então desejavam os Corpos Gerentes nesse momento substituídos.
O resultado claro da vontade dos médicos, expressa
nesse plebiscito, numa das maiores votações de sempre, deu que 78,8% dos médicos desejavam uma Ordem com Funções Sindicais, 15,6% deseja vam uma Ordem e um Sindicato Médico separados e apenas 5,2% desejavam um Sindicato apenas.
Ficou assim insofismavelmente
demons-trado que os Médicos desejavam «um único organismo» com funções deontológicas e técnicas mas igu�lmente que os defendesse
t1}
sócio-profissionalmente.Tudo isto se baseava no conceito da «uni dade,> da profissão médica, seja qual for a rela ção de tràbalho que estes assumem (da profissão puramente liberal ao assalariado, passando pelos re gimes de convenção, de avença, etc.).
Na sequência desta decisão plebiscitária livre mente assumida pela esmagadora maioria dos médi cos foram elaborados novos Estatutos e esta
belecido um prazo para que quaisquer outras correntes ideológicas pudessem propôr alternati vas. Nenhuma alternativa surgiu e posto a ple biscito o Estatuto foi aprovado pelo voto favorável de 92,3% dos votos expressos numa das maiores votações de sempre a nível nacional (mais de 40% dos médicos). O Estatuto plebiscitado foi depois aprovado como Decreto-Lei (282/77 de 5 de Julho de 1977) pelo Governo de então, sendo Primeiro-Mi nistro o Dr. Mário Soares e Presidente da República o
General Ramalho Eanes.
t
i
Dá-se então um fenómeno expressivo no seu significado: o grupo ideológicamente afecto ao Sin dicato dos Médicos da Região Sul, que não apresen tou um Estatuto alternativo que retirasse à Ordem dos Médicos a opção Sindical, furtando-se ao con fronto democrático dos votos, preferiu contestar atra vés do bem conhecido «Conselho da Revolução» e da Comissão Constitucional. Por esta via, veio a ser retirada à Ordem parte das suas funções sindicais ou seja, expressamente, a capacidade de representar di rectamente os médicos em contratos colectivos de trabalho.
É de frisar, no entanto, que o Conselho da Re volução deixou à Ordem a capacidade de de fender os médicos a todos os níveis e no meadamente a nível sócio-profissional, dei xando igualmente aos médicos a capacidade de recorrer à Ordem sempre que lesados nos seus interesses enquanto médicos. Não será isto uma actividade sindical, mesmo após os «cortes» do Conselho da Revolução, e dos quais aliás a Ordem vai recorrer para o Tribunal Constitucional?
•
Quando o Presidente do Sindicato dos Médicos
da Região Sul se refere às relações Ordem/Sindicato diz «lamentar e repudiar a atitude dos actuais diri gentes da Ordem, que reivindicam para si aspec tos sócio-profissionais que competem aos Sindi catos e que defendem uma política retrógrada e ne
fasta para a esmagadora maioria dos médicos, espe cialmente para as camadas jovens, ameaçadas pelo desemprego. Na realidade, ao defenderem como for ma privilegiada a medicina privada e convencionada
defendem os interesses de uma minoria da Classe, o chamado sector empresarial médico».
Em relação a este tipo de afirmações do Presi dente do Sindicato dos Médicos da Região Sul, que outros do mesmo grupo têm várias vezes re petido, bastará lembrar que a orientação dos ac tuais dirigentes da Ordem representa a von tade expressa por cerca de 4/5 dos médicos no plebiscito de 76, opção que ainda se mantém como as recentes eleições vieram demonstrar, no meadamente a votação nacional para Presidente da Ordem dos Médicos.
Afinal onde está a minoria? Do lado dos que de fendem uma medicina estatizada e burocrática ou dos que preferem uma actividade profissional livre_ e responsável? Como explicará o Presidente do _S1�
dicato dos Médicos da Região Sul que a maioria dos médicos vote naquilo que ele apelida de polí tica de saúde retrógrada e nefasta para a maioria: será que pretende passar um atestado de incapa cidade mental aos seus colegas?
Como é possível o Presidente do Sindicato dos Médicos da Região Sul ainda confundir a Medicina Convencionada ou mesmo a Medicina Privada indivi
dual com um sector empresarial médico? Existe certa mente uma face empresarial médica, correspondente àquelas Especialidades que envolvem larga tecnolo gia e investimentos financeiros como a Radiologia, Patologia Clínica e Fisiatria! Mas o que tem isso a ver com a actividade de profissionais independentes e livres quer se agrupem ou não conforme as suas afini dades, e que o doente escolhe livremente? Não há
pior cego do que aquele que não quer ver! Basta ter os olhos abertos para verificar que a Medicina Estati zada apenas leva à perda da liberdade dos doentes e à degradação dos cuidados, ao tratar por igual o dili gente ou o preguiçoso, o competente o� .º inapto, e desmotivando todos. Na responsabilidade do
médico e na liberdade do doente está o melhor garante de uma melhoria da qualida de técnica e humana da Medicina.
Exprimindo a vontade da Classe, a Ordem não prescinde da sua actividade na def�s� sócio-profissional e lembra que nunca se opos a existência de outros sindicatos ainda que entenda
que ela apenas contribui para dividir a Classe_ e a enfraquecer. Se os médicos estiverem unidos
numa única organização certamente a sua força reivindicativa será maior - e não só as pectos puramente sindicais como em todos os outros.
Não temos aliás dúvidas que a Ordem, mesmo com o seu Estatuto actual, mantém capacidade sin
dical, que só uma visão «política» diferente fez ao
Conselho da Revolução contestar. Basta analisar quais as bases fundamentais que caracteri
zam um Sindicato e todas elas possui a Ordem:
a) não dependência de qualquer poder ou au
toridade política, religiosa ou outra;
b) completa autonomia e liberdade eleitoral, e finalmente;
c) capacidade de se extinguir por vontade
expressa dos seus membros.
A inscrição e registo obrigatórios não são por outro lado contra os direitos da liberdade de asso ciação, como já o demonstrou o Tribunal Europeu
dos Direitos do Homem: apenas representam a ne
cessidade do cumprimento de funções públicas
que, por delegação expressa do Governo, foram da das à Ordem dos Médicos e reveladoras da con
fiança que os dirigentes políticos têm na honesti dade, isenção e valia técnica de uma profissão como a profissão médica.
Afirma o Presidente do Sindicato dos Médicos da Região Sul que «a Ordem», que conseguiu na década de 50 a consagração das Carreiras Médicas, era constituída por dirigentes médicos que estão no Sindi cato, alguns deles da Direcção actual ou da sua fundação. Esquece-se o Presidente que o rela tório das Carreiras Médicas, publicado em 61, con tinha uma filosofia semelhante àquela que defende a actual Direcção da Ordem dos Médicos e não a filosofia que defende o seu Sindicato!
Basta ler o Relatório das Carreiras Médicas para perceber-se que nelas os médicos eram indepen dentes e responsáveis, que recebiam fundamental mente por acto médico e pugnava-se pela destrui ção do sistema estatizado das Caixas de Previdên cia. Por outro lado, a tentativa de apropriação da pa ternidade do Relatório das Carreiras Médicas a um grupo ideológico único, quanto a nós, manifestamente abusiva e indevida e revela mais uma vez (como disse logo de início) a «versatilidade» que caracteriza os nossos Colegas do Sindicato dos Médicos da Região Sul. Curioso é também que, arvorando-se em autores das «Carreiras Médicas de 61 », lhe repudiem agora a filosofia e a critiquem nos actuais dirigentes da Ordem dos Médicos.
Fala o Presidente do Sindicato dos Médicos da Região Sul na necessidade dum Numerus Clausus: pena é que nunca o tenhamos visto, publicamente ou junto do Ministério da Educação defendendo tal ideia desde 76, ao contrário do que sucedeu com a Ordem dos Médicos que ele critica.
Refere o Dr. Moreira Simões, como se isso fosse solução para a falta de vagas para novos médicos, a escassez de Especialistas, como Estomatologistas, Anestesistas e outros; esquece-se, no entanto, o Pre sidente do Sindicato dos Médicos da Região Sul que isso em nada resolve o problema das vagas para os novos médicos, já que não se pode admitir a abertura de vagas para além da capacidade de ensino ?ºs
Serviços (extremamente limitada, sobretudo ao nivel da Estomatologia).
Contraditória é a pos1çao do Presidente do
Sindicato dos Médicos da Região Sul que após
afirmar que compete
àOrdem a função técnico
-deontológica
e ao Sindicato a função de defesa sócio-profissional, devendo distinguir-se claramente uma das outras,vem manifestar surpresa por o
Sindicato não ter influência nos Conselhos Direc
tos e Científicos das várias Faculdades de
Medicina!
Afinal de contas o que tem o Sindicato que ver com o Ensino Médico?
Será que o Sindicato quer
tomar as atribuições da Ordem para si?
- ao con trário do que se poderia deduzir das afirmações do Dr.Moreira Simões na primeira parte da sua entrevista?
Refere o Presidente do Sindicato dos Médicos
da Região Sul as greves promovidas pelo Sindi
cato, citando a dos Policlinicos,
P1, P2 e P3 na Zona Sul e durou um dia,esquecendo a insignifi
cante adesão que têm tido as greves que tem
•
promovido de parceria com os Sindicatos
aderentes à CGTP-IN. Estas ao nível médico,
têm tido uma «significativa» adesão de
1 %a 2%
- o que revela bem o impacto do seu sindicalismo ao nível dos Colegas.Isto sem esquecer que o
Sindicato dos Médicos do Sul boicotou a gre
ve de 1979 em que a esmagadora maioria dos
Médicos lutou durante 3 semanas pelo
Esta-tuto do Médico
. . .A verdadeira defesa da Classe Médica estará
na Ordem dos Médicos unida e que respeite as
opções maioritárias da Classe expressas através
do voto democrático e livre. Uma Ordem com
funções Sindicais foi e continua
aser a gran
de opção dos Médicos Portugueses.
Será que os resultados das votações não têm validade para os dirigentes do Sindicato dos Médicos da Região Sul? Seguramente os seus conceitos de verdade, liberdade e democracia são diferentes dos nossos. E é pena!MEDICAMENTOS E COMPARTICIPAÇÕES
Paulo Mendo
O nosso desconhecimento dos perfis de prescrição e do consumo dos fármacos não autoriza a
modificação do regime de comparticipações. Não temos ainda o barco para atravessar o rio.
O Serviço Nacional de Saúde Português corre o risco de ter o mesmo fado que a carne na Polónia: mantém o preço e continua baratíssima só que ... não existe no mercado!
Também nós nos orgulharemos de ter o S.N.S. com o acesso a taxas mais baratas do mundo. Só que será o acesso a nada, porque nada funcionará. Será um S.N.S. gratuito e inexistente. De rir, se não fosse mos todos nós os sofredores.
Acaba o Ministério da Saúde de deixar «ilegalizar» como inconstitucionais as taxas de comparticipação fixa dos medicamentos que permitiram moderar o consumo e poupar entre 6-7 milhões de contos no primeiro ano de aplicação e arrecadar no mesmo ano o equivalente à factura que as farmácia apresentam a pagamento em cada mês (mais de um milhão de contos).
Seria facílimo para este Governo, com o apoio que tem na Assembleia da República, «legalizar» a medida considerada inconstitucional. Não o quis fazer e optou pela modificação de fundo do regime de compartici pação.
Medida acertada que corresponde precisamente ao programa previsto e iniciado pelos VII e VIII gover nos. Bem sabíamos que a introdução da taxa fixa apenas permitiria uma contenção temporária dos con sumos e que os efeitos se perderiam em 1-2 anos. Por isso orientamos a nossa acção neste domínio no sentido de, passo a passo, alcançarmos os seguintes objectivos sucessivos:
1.0 Inventariar e listar os medicamentos existentes
no mercado português, separando os compar ticipáveis (Lista Oficial dos Medicamentos Comparticipáveis) dos medicamentos de venda livre. Trabalho difícil, melindroso e enor me, que duas comissões directamente ligadas à Secretaria de Estado da Saúde levaram a cabo, sob a direcção infatigável do Prof. An dresen Leitão.
2.0 Incrementar o tratamento informático do recei
tuário, utilizando códigos de barras na identifi cação do «produto» médico, do prescritor e ins tituição de saúde onde se processa o acto mé dico. Este trabalho devia estar testado e todo o sistema a funcionar em Janeiro de 1984. 3.° Conhecido assim o mercado e os produtos
comparticipáveis, marcados estes para trata mento informático, dispúnhamos então de to dos os dados para seguramente modificarmos o regime de comparticipações.
Como ainda não foi conseguido o segundo objec tivo, a modificação do regime de comparticipação não deveria, em nossa opinião, ter sido feita. Desconhece mos o comportamento no mercado dos produtos com participados, não podemos controlar fácil e mensal mente os perfis do consumo dos produtos e os perfis das prescrições médicas, não dispomos de mecanis mos rápidos que permitam «administrar» quatro esca lões de comparticipação.
Em suma, não temos o barco pronto a atravessar o rio.
E mais uma vez vamos a nado, sem conhecermos as correntes, sem sabermos nadar bem e sem querer mos apressar a construção do barco que nos levaria a bom porto.
E como se isto não bastasse, lançam-se comparti cipações por grupos terapêuticos, subsidiando igual mente o produto mais barato, metendo no mesmo saco comparticipativo todos os antibióticos (com variações de preço de dezenas a milhares de escudos), consi derando, não sei com que critérios. que há medica mentos que devem ser comparticipados a 100%.
Bem gostaria de me enganar, mas aposto duplo contra singelo que a factura a cobrar vai ser maior que nunca, que os desperdícios de medicamentos vão aumentar, que (e isto é o mais grave) a medicalização da sociedade com drogas mais activas (as outras são menos ou nada comparticipadas) vai subir em flecha.
E o esquálido orçamento da Saúde é que vai pa gar a conta, ficando mais incapaz e mais tolhido.
Mas havemos de ter um S.N.S. universal e gratuito!
congressos e reuniões científicas
.Medicina do Trabalho
XIX JORNADAS MÉDICAS DA FIGUEIRA DA FOZ
Figueira da Foz
de 5 a 8 de Setembro de 1984 Inscrições: Rua da Liberdade n.º 50 3080 FIGUEIRA DA FOZ
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IRLANDAlnternational Surgical Scientific Conference
De 12 a 14 de Setembro- de 1984
Organizada por: «Association of Surgeons of Great Britain and lreland» e «The Surgical Research Society».
Local: Royal College of Surgeons in lreland 123 St. Stephen's Green
DUBLIN 2/lreland
•
« Novos avanços na avaliação de lesões cerebrais precoces, seu diagnóstico e tratamento»
20 a 22 de Setembro de 1984 Bled/Jugoslávia
•
INTERASMA - MÉXICO 84
«XI CONGRESSO MUNDIAL DE ASMOLOGIA», a rea lizar no México, de 21 a 25 de Outubro de 1984. Secretariado: Universidade Autónoma de
Guadala-jara - Apartado Postal n.º 1440 - GUA DALAJARA/MÉXICO.
Inscrições: - Até 15.5.84
Membros - US$ 200 Não Membros - US$ 250 Acompanhantes - US$ 1 50
Para informações complementares contactar com o Secretariado do Congresso ou o Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos.
VII REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO ESTOMA TOLÓGICA INTERNACIONAL
De 4 a 6 de Outubro de 1984.
com a colaboração da Sociedade Portuguesa de Es tomatologia e Medicina Dentária
TEMA: Oclusão, Protodôntia Fixa, Ortodôncia, Perio dontia, Endodontia, Nutrição e Cirurgia Maxila-Facial. LOCAL: Hotel Estoril Sol - Estoril
•
1 SYMPOSIUM INTERNACIONAL DE POTENCIAIS EVOCADOS
Local e Data: Faculdade de Ciências Médicas (Campo de Santana) - Lisboa
-De 18 a 20 de Outubro de 1984.
Organizado por: Serviços Universitários de Oftalmolo gia de Otorrinolaringologia/Otoneurologia da Universi dade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Médi cas - Hospital de Egas Moniz.
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1 SIMPÓSIO ORO MAXILO-FACIAL
O Serviço de Estomatologia do Hospital Geral de Santo António vai realizar o I SIMPÓSIO ORO MAXI LO-FACIAL, subordinado ao tema: «Doenças das Glân dulas Salivares», nos dias 25, 26 e 27 de Outubro de 1984, no Salão Nobre daquele Hospital.
Para informações complementares contactar o Serviço de Estomatologia do H.G. de Santo António, Porto.
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1.ªs JORNADAS DE SAÚDE OCUPACIONAi. DE BEJA
21 - 22 e 23 de Novembro de 1984
Organizadas pela A.R.S. de Beja, em colaboração com a Escola Nacional de Saúde Pública e a A.R.S. de Portalegre.
WORLD CUP SUMMER SKI MEDICAL DOCTORS
De 8 a 14 de Setembro de 1985 Local: BORMIO/STELVIO - ITÁLIA
Com o patrocínio da Associação Médica Mundial.
Cursos de especialização
3RD POSTGRADUATE INTERNATIONAL PRACTI CAL COURSE ON PAIN THERAPY
Local: VICENZA / ITÁLIA
De 1 a 7 de Setembro de 1985
Língua Oficial: Inglês e Italiano, com tradução simul tânea.
Para informações complementares, contactar:
RUGGIERO RIZZI M.D. Ospedale Generale Regional� 36 100 VICENZA/ITÁLIA
•
CURSO sobre «BONE, JOINT AND CONNECTIVE TISSUE PATHOLOGY»
De 5 a 7 de Setembro de 1984
Local: The Stopford Building - University of Manchester
Manchester
•
ORTOPEDIA
Curso sobre «CURRENT TRENDS IN ORTHOPAE DIC MANAGEMENT THE TREATMENT OF FRAC TURES»
Local: HOLL Y ROYDE COLLEGE 56-62, Palatine Road
Manchester
De 29 a 31 de Outubro de 1984
•
Da INSEAD - Institui Européen d'Administration des Atfaires - MBA Programme - Admissions Department, Boulevard de Constance - 77305 Fontainebleau Ce dex/France, recebemos informação de alguns Cursos de Especialização, destinados especialmente a médi cos, farmacêuticos ou veterinários, e que poderão eventualmente interessar a alguns Colegas.
e
CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS
NACIONAIS E INTERNACIONAIS
e VIAGENS FABULOSAS e FÉRIAS NA EUROPAe
FÉRIAS NA PRAIAGarantia de qualidade
1000 LISBOA-Av. Duque de Loulé, 108 • Tel. 40820 • 40297 1700 LISBOA-Av. da Igreja, 6-B · Tel. 808624-802674
4000 PORTO-Rua Alferes Malheiro, 96 -Tel. 382597-361619 8100 QUARTEIRA-Av. lnf. Sagres, 73 · Tel. 32726-33972 9000 FUNCHAL-Rua da Conceição, 58 · Tel. 24618-24819
A Ordem dos Médicos foi informada pelo British Council dos seguintes Cursos que poderão interessar alguns Colegas, desde que possuam um bom conhe cimento de língua inglesa:
EDINBURGH - 9/21 SETEMBRO 1984 - The Ageing of Populations: Clinical Care of the Elderly
BIRMINGHAM - 16/28 SETEMBRO 1984 - lnflamma tory Bowel Disease
ANKARA - 16/21 SETEMBRO 1984 - Recent Advan- • ces in Urology
LONDRES - 16/28 SETEMBRO 1984 - Hearing Speech
CIRURGIA VASCULAR
Época Especial para Exames
O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos, reunido em Coimbra a 2
de Junho, em virtude do atraso havido na nomeação do Colégio de Cirurgia Vascular,
decidiu ·criar uma
época especial de exames em Novembro de 1984.
A aceitação dos Curricula para os referidos exames terá lugar até
31 de Julho de 1984.
imp�stos
IMPOSTO PROFISSIONAL
RECIBOS POR SERVIÇOS PRESTADOS A BENEFICIÁRIOS DOS S. M. S.
Face a inúmeras queixas apresentadas por Colegas e porque é um assunto que interessa a
todos, o Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos enviou, em 6 de Dezembro de 1983,
ao Director Geral da Direcção Geral de Contribuições e Impostos o ofício que a seguir se
transcreve:
•
«Surgiram agora processos postos pelas Finanças por fraude a Médicos, que não só não ac tuaram fraudulentamente como procederam em to tal boa fé.
cessas e a multas gravosas, das quais de facto não têm culpa e que se devem fundamentalmente a deficiente informação por parte dos Serviços Oficiais e tardio esclarecimento por parte dos mesmos, venho solicitar a V. Exa. que através da Circular Normativa suspenda todos os processos postos que só terão de ser a partir do momento em que o Ministério esclareceu devidamente a questão. Cumpre ainda frizar que os próprios Servi ços Médico-Sociais, organismo do Estado foram coni ventes e factor importante para que tudo se tivesse processado no que agora é considerado ilegalidade.»
(
"
Se alguma culpa existe foi pelo facto dos Servi ços Oficiais não terem esclarecido correctamente a situação, pois só em 17-3-83 foi recebida infor mação concreta e definitiva quanto à forma como deveriam ser passados os recibos corresponden t e s a o s serviços prestados através das Convenções.
Para além de continuar a discordar do entendi mento oficial a verdade é que até aí os próprios servi ços de informação da Direcção-Geral de Contribui ções e Impostos tinha um entendimento idêntico ao dos Consultores Jurídicos da Qrjem dos Médicos e que levava a que fossem apena� ..,tilizados os recibos dos Serviços Médico-Sociais e não utilizando o recibo do modelo 2.
Atendendo pois a que os médicos estão a ser neste momento nalguns casos submetidos a
pro-Na sequência deste ofício e após contacto telefó nico com o Snr. Director-Geral das Contribuições e Impostos que se mostrou sensível aos nossos argu mentos comprometendo-se a resolver as referidas si tuações de injustiça e a rectificá-las. Todos os Cole gas em tal situação deverão enviar directamente a sua reclamação, em exposição sucinta dirigida direc tamente àquele Director-Geral.
«Quem serão os autores 'reais' da LEI n.º 4/84, de 5 de Abril de 1984, SOBRE PROTECÇÃO DA MATERNIDADE E DA PATERNIDADE?
Artigo 7.º (Incumbências especiais do Estado)
1) - PROCEDER À ADEQUADA REFORMULAÇÃO DOS CURRICULOS DE OBSTETRICIA RE
LATIVOS A MÉDICOS, ENFERMEIROS E RESTANTES PROFISSIONAIS DE SAÚDE.
O QUE DIRÃO DAS NOSSAS FACULDADES DE MEDICINA?
defesa sócio-profissional
REQUISIÇÃO DE PERITO MÉDICO POR TRIBUNAL,
REQUERIDA À ORDEM DOS MÉDICOS
PARECER JURÍDICO
Pergunta-se:
1 -a) Se a nomeação do perito é ou não obrigatória?
b) Se é remunerada?
c) Em caso afirmativo, qual o montante?
Quanto à questão colocada em primeiro lugar de se a nomeação de perito é ou não obrigatória há que analisar a questão por três prismas:
1 . As relações do Tribunal face à Ordem 2. As relações da Ordem face ao Médico 3. As relações do Médico face ao Tribunal Analisemos cada uma delas:
1 . O Juíz ao requerer à Ordem a indicação de um perito médico, valorizou o papel desta como organismo representativo de todos os Médicos e interlocutor oficial da Classe Médica.
Tal papel está intimamente ligado ao facto da Or dem exercer funções de carácter marcadamente pú blico e de prosseguir o «interesse público» tal como este é entendido pela doutrina. Os fins que a Ordem prossegue, no campo da fiscalização e protecção do exercício e qua,jidade da Medicina, são um outro vértice da pirâmide onde se encontram os tribunais que exer cem outras funções públicas na prossecução do mesmo interesse.
2. O facto analisado em b) ou seja a nomeação de um Médico pela Ordem é uma forma expedita e capaz de nomear um perito.
A forma encontrada é a que se revela a mais con sentânea com os interesses da justiça e aquela que salvaguarda a idoneidade, independência e bom crité rio da escolha.
O Médico em causa poderá em princípio recu sar a nomeação feita pela Ordem, mas tão só an tes de esta ser comunicada ao Tribunal.
Revela-se, assim, aconselhável a consulta prévia ao médico a nomear.
Caso o método se revele ineficaz, por sistemá tica recusa, a Ordem deverá enviar uma lista de peritos para que seja o Tribunal e nomeá-los di rectamente.
3. A questão analisada afinal introduz essa outra da relação entre o médico e o Tribunal.
É nesta sede que cabe também analisar em ter-mos precisos.
- se o médico pode recusar
- se a peritagem é remunerada
- em caso afirmativo, qual o montante.
14
A equação e elucidação correcta das relações en tre o Médico-Perito e o Tribunal poderão resultar melhor da análise de cada um destes pontos, pelo que:
-A lei civil prevê escusas em dois casos (art.º 582.º Código de Processo Civil).
a) Os Juízes e Magistrados do Ministério Público
em efectivo serviço; /)
b) Os que tiverem mais de 70 anos de idade.
A lei não prevê expressamente mas sugere que haverá ainda lugar a uma escusa quando existir justa causa (e.g. impedimento por doença, missão oficial no estrangeiro, qualquer outra devidamente comprovada). Para que tal escusa seja eficaz há que:
- Requerê-la vinte e quatro horas após o co nhecimento oficial;
- Ter lugar o fundamento invocado.
Existem ainda os impedimentos previstos no art.º 580.º do Cód. Proc. Civil e os peritos podem ser recu sados pelos motivos previstos no Art.º 584.º do Cód. Proc. Civil.
A peritagem é remunerada pelo Tribunal nos ter mos da lei, variando o seu montante de acordo com tabela existente.
A peritagem é remunerada, estabelecendo o Código das Custas Judiciais (Art.º 195.º) as respectivas
tabe-las. Assim:
f
·
a)- Em geral 600$00
b) - Em geral, por exame
da Especialidade . . . 900$00
c) - Exames de Traumatologia
por médicos . . . 250$00
d) - Exames de Ginecologia
por médicos . . . 400$00
Mas a Lei dá poderes ao Juíz para reduzir até metade estes valores, em atenção à simplicidade do trabalho, assim como para elevá-los ao dobro ou fixá -los por dias de trabalho, em razão do tempo gasto, da dificuldade e qualidade do serviço prestado.
Tal remuneração deverá, pois, ser fixada pelo Juíz e paga pelos cofres dos tribunais.
O perito deverá dirigir-se ao Tribunal e indagar do pagamento a fim de lhe ser passado cheque com a quantia atribuída.