• Nenhum resultado encontrado

Proletariado: conceito e polêmicas — Outubro Revista

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Proletariado: conceito e polêmicas — Outubro Revista"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)

polêmicas

Marcel van der Linden Diretor do International Institute for Social History

(Amsterdam, Holanda)

(2)

marxianos de proletariado e lumpenproletariado. Buscando estabelecer ne-xos com a propriedade, a propriedade da força de trabalho, a escravidão, a taxa de lucro, o capital fixo e variável, as relações de trabalho, a criação do valor e da mais-valia, além da reflexão marxiana sobre outras classes sociais, o texto aponta possibilidades analíticas e lacunas conceituais que foram legadas pela teoria de Marx sobre tais temas.

Palavras-chave: Proletariado; Lumpenproletariado; Karl Marx

Proletariat

Abstract: The article discusses critically in the light of history the Marxian

concepts of proletariat and lumpenproletariat. Seeking to establish linkages with property, ownership of labor power, slavery, rate of profit, fixed and vari-able capital, labour relations, the creation of value and surplus value as well as well as the Marxist reflection on other social classes, the text points out to analytical possibilities and conceptual gaps that form the legacy of Marx’s theory on these issues.

(3)

Por volta de seus vinte anos, Karl Marx chegou à conclusão de que o proletariado era a única força social capaz de transcender o ca-pitalismo. Em sua Crítica da Filosofia do Direito de Hegel: Introdução (escrita entre dezembro de 1843 e janeiro de 1844), caracterizou o proletariado como uma classe na sociedade civil que não é uma classe da sociedade civil,

“um estamento que seja a dissolução de todos os estamentos, de uma esfera que possua caráter universal porque os seus sofrimentos são universais e que não exige uma reparação particular porque o mal que lhe é feito não é um mal parti-cular, mas sim o mal em geral” (Marx, 2005, p. 155. Grifos no original).

Definindo o proletariado Em seus trabalhos iniciais, assim como nos últimos, Marx não usou com frequência a expressão “classe trabalhadora”. Ele preferiu

(4)

a noção de proletariado, uma concepção romana provavelmente da-tada do século quinto antes da era cristã. Essa se refere a um grupo relativamente amplo, mas não bem definido, formado por homens li-vres, cidadãos pobres, cujos descendentes (proles) poderiam servir ao Império como soldados (Zaniewiski, 1957, p. 15-53).

No final do século XVIII e início do século XIX, a expressão “pro-letariado” retornou. Inicialmente, foi utilizada em um sentido geral para descrever a situação de pessoas que não tinham nenhuma pro-priedade além da honra. Os trabalhadores eram somente uma parte dessa massa amorfa. De acordo com o nobre francês Adolphe Granier de Cassagnac, escrevendo na década de 1830, o proletariado formava “o nível mais baixo, o estrato mais profundo da sociedade”, que con-sistia em quatro grupos: “os trabalhadores, os mendigos, os ladrões e as mulheres públicas”.

“O trabalhador é um proletário, porque ele trabalha para vi-ver e ganhar um salário; o mendigo é um proletário que não quer ou não pode trabalhar e pede esmolas para viver; o la-drão é um proletário que não quer trabalhar ou mendigar e, para ganhar a vida, rouba; a prostituta é uma proletária, que não quer trabalhar, nem mendigar, nem roubar e, para viver, vende seu corpo” (Granier de Cassagnac, 1838, p. 30). Aos poucos, uma diferenciação entre o proletariado em geral e os trabalhadores foi sendo elaborada. Ela poderia levar a dois cami-nhos: ou os trabalhadores declaravam que não eram proletários, mas uma classe ou situação separada; ou eles afirmavam ser o proletariado e começavam a ver os outros grupos como “inferiores” ou “diferen-tes”. Os trabalhadores comunistas alemães de Londres, com os quais Marx e Engels eram associados, optaram pela segunda perspectiva. No Manifesto, que foi escrito com base nas discussões comuns feitas com esses trabalhadores, “a moderna classe trabalhadora – os proletá-rios” (Mecw, v. 6, p. 490) foram vistos como uma unidade. Os ladrões,

(5)

Marcel ven der Linden mendigos e prostitutas foram então desvalorizados como um estrato

inferior, o lumpemproletariado, uma

“‘classe perigosa’, a escória social, essa massa passiva putre-fata jogada fora pelas camadas mais baixas da velha socieda-de, [que] posocieda-de, aqui e ali, ser arrastada ao movimento por uma revolução proletária; no entanto, suas condições de vida preparam-na mais para ser uma ferramenta subordinada de intriga reacionária” (MECW, v. 6, p. 494).

Essa exclusão da parte “imoral” das classes mais baixas foi combi-nada com outras delimitações. Para Marx era evidente que os escra-vos1 não pertenciam ao proletariado. Igualmente, separou o proleta-riado da pequena burguesia. Assim, os limites para definir o que era o proletariado foram demarcados de todos os lados. A luta de classes seria travada principalmente entre capitalistas, proprietários de terras e assalariados. As classes intermediárias eram historicamente menos importantes e não teriam um papel político independente; elas “en-fraquecerão e, finalmente, desaparecerão com o desenvolvimento da Indústria Moderna” (idem, ibidem).

Em seus últimos escritos Marx buscou fundamentar esta tese. Sua crítica da economia política foi, em parte, uma tentativa de circuns-crever com a maior precisão possível a natureza histórica e os limites sociais do proletariado. No primeiro volume do Capital, ele finalmen-te definiu o puro proletariado como o trabalhador que “como um ho-mem livre pode dispor de sua força de trabalho como sua própria mercadoria” e, “por outro lado, não tem outra mercadoria para ven-der” (Mecw, v. 35, p. 179).

O contínuo processo de acumulação do capital iria, de acordo com Marx, fazer com que crescesse o número desses homens dupla-mente “livres”,2 tanto em termo absoluto como relativo. Isso porque

1 No original, chattel slaves (N. da T.)

2 Isto é, “livres” dos meios de produção, não tendo outra mercadoria a não ser a própria força de trabalho; e “livres” para vender sua força de trabalho como

(6)

quanto maior o capital, maior o contingente de operários necessá-rio: “Acumulação de capital é, portanto, incremento do proletariado” (Mecw, v. 35, p. 609). E a produção capitalista “reproduz em uma extensão cada vez maior a classe trabalhadora, no que é transfor-mada a vasta maioria dos produtores diretos” (Mecw, v. 36, p. 40). Consequentemente, com a aproximação da mudança revolucionária, a sociedade capitalista será cada vez mais dividida em dois grandes campos hostis.

Eu argumentaria que as delimitações feitas por Marx sobre o pro-letariado não seguiram sempre o desenvolvimento lógico de sua críti-ca da economia políticríti-ca, que seus impulsos morais, cogitações e von-tades políticas provavelmente tiveram um importante papel em suas considerações. Por conseguinte, não foi possível evitar significativas contradições, e mesmo fatos históricos foram negados. Os exemplos do lumpemproletariado e da escravidão podem, sem dúvida, corro-borar esta afirmação.

Excluindo o lumpemproletariado O lumpemproletariado teve uma aparição inicial nos primei-ros escritos de Marx e Engels, quando trataram do antigo Império Romano. A noção surgiu pela primeira vez na Ideologia Alemã (1845-1846), em uma passagem em que discutiram os plebeus que, “no meio do caminho entre homens livres e escravos, nunca conseguiram ser mais do que uma ralé proletária [lumpenproletariat no original em alemão]” (Mecw, v. 5, p. 84). Contudo, o lumpemproletariado foi uti-lizado como um conceito que se referia ao contexto contemporâneo pela primeira vez nos anos de 1848-1851, quando Marx analisou os revolucionários franceses e as tendências contrarrevolucionárias. As ações e reações dos trabalhadores, divididos nos dois lados das barri-cadas, era um aparente absurdo que ele não poderia somente explicar

mercadoria, sem restrições como a servidão, as corporações de ofício, etc (Cf. Capital, l.1, v. 1). (N. da T.)

(7)

Marcel ven der Linden identificando aqueles que estavam do lado certo como os

verdadei-ros proletarios, e desvalorizando aqueles que lutavam no lado errado como pseudoproletários.3

Quando, em 1851, os trabalhadores estavam ainda divididos e alguns deles apoiando Luís Bonaparte, Marx encontrou justificativa para sua análise. No O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte (1851-1852) ele incluiu no lumpemproletariado não somente os “decadentes roués” da aristocracia e “arruinados e aventureiros rebentos da bur-guesia”, mas, também,

“vagabundos, soldados desligados do exército, presidiários libertos, escravos de galés foragidos, chantagistas, saltimban-cos, lazzaroni, punguistas, trapaceiros, jogadores, maquere-aus, donos de bordeis, carregadores, literati, tocadores de rea-lejo, trapaceiros, amoladores de facas, soldadores, mendigos, em suma, toda essa massa indefinida e desintegrada, atirada de um lado ao outro, que os franceses chamam de la bohême” (Mecw, v. 11, p. 149).

Isso indicaria que Marx tentou agrupar como lumpemproletaria-do: i) os camponeses expulsos do campo; ii) os proletários desempre-gados; e iii) os que exerciam profissões duvidosas como trapaceiros, apostadores, donos de bordeis e prostitutas. A complexa análise de Marx coloca alguns desafios empíricos. Mark Traugott, estudioso do campo da sociologia histórica, produziu um cuidadoso e detalhado estudo de seis batalhões (que totalizavam 3.845 indivíduos) da guarda móvel “lumpemproletária” de 1848. Ele concluiu que a composição

3 Isto conduziu a certa ambivalência: os trabalhadores “errados” eram e não eram proletários. Hal Draper observou “certa ambivalência sobre a questão se o lum-pemproletariado deve ser considerado como uma parte do proletariado ou não” (Draper, 1972, p. 2294). Em As lutas de classe na França (1850), pode-se ler que os membros das guardas móveis contrarrevolucionárias “pertenciam em sua maior parte ao lumpemproletariado, que em todas as grandes cidades constitui uma massa rigorosamente distinta do proletariado industrial”. Poucas linhas depois, Marx escreveu, no entanto, que “o proletariado de Paris foi confrontado com um exército recrutado em seu próprio seio” (Mecw, v. 10, p. 62).

(8)

social dos trabalhadores que estavam no lado errado das barricadas não confirma a hipótese de Marx:

“Primeiro, se a autoidentificação da ocupação nos indica al-guma coisa, a guarda móvel consistia fundamentalmente em trabalhadores de ofícios artesanais, que requeriam relativa-mente altos níveis de habilidade e treinamento. Dizer isto não é negar a presença de ocupações dispersas que se encaixam na descrição do lumpemproletariado. Se, obviamente, os solda-dos da guarda móvel não identificaram sua ocupação anterior como mendigo, cafetão ou ladrão, ainda assim se poderia en-contrar um punhado de vendedores ambulantes, a existência de um trapaceiro, vários músicos de rua, um mágico, um sal-timbanco e alguns ‘sem profissão definida’. No entanto, mes-mo utilizando uma delimitação mais ampla de lumpempro-letariado – que incluísse funileiros, comerciantes de sucatas, porteiros, literatos de todos os tipos – esse grupo chegaria a apenas oitenta e três indivíduos, três por cento do total da amostra” (Traugott, 1985, p. 76-77; ver Caspard, 1974). A análise concreta de Marx sobre a situação francesa era, então, enganosa. Além disso, os grupos sociais considerados por Marx como parte do lumpemproletariado não foram, certamente, sempre reacionários. Victor Kiernan, por exemplo, tem argumentado que o lumpemproletariado de Londres, depois de períodos de aparente re-signação, irrompia como um ciclone; uma vez em movimento, suas ações se caracterizavam, “sobretudo, pela audácia, espontaneidade, desrespeito às demarcações arbitrárias com as quais a sociedade os aprisiona, uma vibrante convicção de que a lei é estúpida” (Kiernan, 1972, p. 82). Geralmente, estas ondas militantes seguiam os protes-tos feiprotes-tos por trabalhadores “comuns”: “Isto acontecia quando aqueles que normalmente tinham emprego sofriam crises agudas de desem-prego e, com a eminência de motins, os errantes e retardatários se juntaram e, assim, se podia ir mais longe”. Os “lumpemproletários” poderiam, então, ser considerados, em muitos casos, a força motriz

(9)

Marcel ven der Linden nas lutas sociais (Bovenkerk, 1984). Naturalmente, isso não faz deles

uma nova vanguarda, como tem sido algumas vezes sugerido (por exemplo, Fanon, 1967; comparar a crítica em Worsley, 1972). Isso sublinha, apenas, que “lumpemproletariado” não correspondia a uma categoria analítica, mas sim a uma categoria moral.4

A insustentabilidade deste conceito torna-se particularmente cla-ra se for observado o Sul Global. Vic Allen (1972, p. 188) corretamen-te afirmou que nas sociedades em que a subsistência é a norma para grande proporção de toda classe trabalhadora, e onde homens, mu-lheres e crianças são compelidos a buscar alternativas de subsistência distintas daquelas usuais, o lumpemproletariado se distingue muito mal do restante da classe trabalhadora. Conceitos imprecisos como “setor informal” são expressões de tais condições sob as quais as fa-mílias (semi)proletárias combinam diversas atividades para garantir a sua sobrevivência (ver, por exemplo, Breman, 1994, p. 3-130).

Excluindo escravos O contraste entre trabalho “livre” assalariado e escravo é um tema recorrente na obra de Marx. Como um conhecedor da antiguidade europeia e contemporâneo à Guerra Civil Americana, Marx estava muito ciente da questão da escravidão. O primeiro volume do Capital foi publicado dois anos depois da abolição da escravidão nos Estados Unidos, em 1865, e 23anos antes dela ter sido oficialmente proclama-da no Brasil. Para Marx, a escravidão era uma forma de exploração historicamente atrasada, que em pouco tempo seria uma coisa do pas-sado, do mesmo modo que o trabalho assalariado “livre” encarnava o futuro capitalista.

Marx comparou as duas formas de trabalho – assalariado “livre” e o escravo – em uma série de escritos. Ele apontou similaridades entre as duas formas: ambas produzem excedentes e “o trabalhador

4 No final do século XIX e início do XX, o conceito de “lumpem” foi transfor-mado em um alicerce para os socialistas eugênicos (Schwartz, 1994).

(10)

assalariado, assim como o escravo, deve ter um senhor que o coloca para trabalhar e o controla” (Mecw, v. 37, p. 384). Mas ele evidenciou as diferenças, que acabaram por ofuscar todas as experiências comuns que eles certamente compartilhavam.

Proprietário da força de trabalho A força de trabalho pode, de acordo com Marx,

“aparecer no mercado como mercadoria somente se, e na me-dida em que, ela é oferecida à venda ou é venme-dida como mer-cadoria por seu próprio possuidor, pelo indivíduo que possui a força de trabalho. Para que seu possuidor venda esta como mercadoria, ele deve poder dispor dela, ser, portanto, livre proprietário de sua capacidade de trabalho, de sua pessoa” (Mecw, v. 35, p. 178).

O futuro trabalhador assalariado e o proprietário de dinheiro “encontram-se no mercado e entram em relação um com o outro na base da igualdade de direitos com a única diferença de que um é comprador e o outro vendedor; sendo, portanto, iguais aos olhos da lei” (Mecw, v. 35, p. 178) Em outras palavras: os trabalhadores devem “possuir” sua força de trabalho e oferecê-la no mercado como mer-cadoria. Mas por que deveria ser assim? A história tem dado muitos exemplos em que a força de trabalho é oferecida no mercado não pelo trabalhador que a possui. O trabalho infantil, em que os pais ou os tutores recebem os salários das crianças, é um exemplo claro disso. Os escravos de ganho, que existiram em várias partes da América e África nos séculos XVIII e XIX, são outro exemplo. Um estudo brasi-leiro descreve a situação desses escravos - os ganhadores – que eram enviados pelos proprietários para as cidades para obter rendimento:

“Os ganhadores moviam-se livremente nas ruas em busca de trabalho. Uma prática comum, embora não generalizada, era

(11)

Marcel ven der Linden a permissão dada pelos proprietários para que seus escravos

vivessem fora da casa do senhor em quartos alugados, em al-gumas ocasiões tendo antigos escravos como senhorios. Eles somente retornavam à casa do senhor para ‘pagar a semana’, isto é, para pagar a quantia semanal (e algumas vezes diária) acordada com seus senhores. Eles podiam ficar com a quantia que excedia aquele valor acordado” (Reis, 1997, p. 359).5

Duração da relação de trabalho A crucial distinção entre os assalariados “livres” e escravos é, de acordo com Marx, a duração de sua relação de trabalho. O trabalha-dor assalariado

“deve vender [sua força de trabalho] apenas por um período definido, pois se ele vender completamente, e de uma vez por todas, ele estaria vendendo a si mesmo, convertendo-se de homem livre em escravo, de proprietário de uma mercadoria a uma mercadoria” (Mecw, v. 35, p. 178).

De forma geral, pode-se chamar esse tipo de transação (isto é, a “venda” fragmentada de uma mercadoria sem a mudança de proprie-tário) de aluguel e não venda – uma reflexão óbvia e que foi expressa há bastante tempo (Oppenheimer, 1912, p. 120).6 A diferença entre vender e alugar pode parecer insignificante, mas não é. Se A vende

5 Marx era ciente da existência de escravos de ganho, mas não extraiu conclusões teóricas disso. Por exemplo: “Em um sistema escravista, o trabalhador tem um valor-capital, quer dizer, seu preço de compra. E quando ele é alugado, o locatário deve pagar, em primeiro lugar, o juro do preço da compra e, além disso, repor o desgaste anual do capital” (Mecw, v. 37, p. 464).

6 Marx viu a analogia entre o trabalho assalariado e o processo de locação. Por exemplo, comparar sua observação de que: “O preço da força de trabalho é fi-xada por contrato, embora não seja percebido senão depois, como no aluguel de uma casa.” (Mecw, v. 35, p. 185).

(12)

uma mercadoria para B, então B se transforma em proprietário no lugar de A. Mas se A aluga uma mercadoria para B, então A continua a ser proprietário e B somente ganha o direito de usar a mercadoria por um determinado período de tempo. A “substância” da mercado-ria continua pertencendo a A, enquanto B recebe o usufruto.

Caso reconheçamos que o trabalho assalariado é baseado no alu-guel e não na compra da força de trabalho, então a diferença crucial entre o trabalho assalariado e o escravo não é o “período determina-do” no qual a força de trabalho é alienada, mas o fato de que o aluguel da força de trabalho é uma coisa e sua venda é outra (Mecw, v. 35, p. 178). Por que Marx não reconhece isto? Presumidamente, porque isso teria implicações na definição da criação do valor. Afinal, a substância (o valor) da força de trabalho não poderia ser apropriada pelo capi-talista e ainda sim permanecer propriedade do trabalhador. Engels apontou que o aluguel de uma casa é uma transferência daquilo que já existe, de valor que já foi produzido anteriormente, e, portanto, “a soma total de valores possuída pelo locatário e o inquilino juntos per-manece o mesmo que se tinha antes”. (Mecw, v. 23, p. 320) Seguindo este argumento, um trabalhador assalariado não poderia produzir mais-valia se a relação assalariada fosse caracterizada como aluguel.

Capital fixo versus Capital variável. Sendo que a duração da relação de trabalho é considerada a prin-cipal diferença entre o trabalho assalariado e o escravo, a primeira forma representa o capital variável e a segunda o capital fixo (constan-te). O trabalhador assalariado incorpora “aquela parte do capital” que “tanto reproduz o equivalente de seu próprio valor como também produz um excedente, a mais-valia, que em dadas circunstâncias pode variar para mais ou menos. Esta parte do capital é continuamente transformada de constante em gran-deza variável. Eu chamo, portanto, esta parte do capital de variável, em suma, de capital variável” (Mecw, v. 35, p. 219).

(13)

Marcel ven der Linden Escravos são, para Marx, economicamente indistinguíveis de gado

ou máquinas: “O proprietário de escravos compra seu trabalhador como compra seu cavalo” (Mecw, v. 35, p. 272). O preço de compra do escravo é o seu valor de capital, e ele é depreciado ao longo de vá-rios anos (Mecw, v. 37, p. 464). Mas, como se justifica definir apenas o trabalho assalariado como capital variável, isto é, como “a parte do ca-pital” que pode produzir “mais ou menos”, de acordo com as circuns-tâncias? Não é possível dizer o mesmo do trabalho escravo produtor de mercadoria? O preço do escravo poderia flutuar enormemente e os escravos poderiam ser vendidos a qualquer momento.

Criação de valor e mais-valia. O trabalhador assalariado produz mercadorias e essas mercado-rias têm “ao mesmo tempo valor de uso e valor” e, portanto, “o proces-so de produção deve ser um procesproces-so de trabalho, e ao mesmo tempo, um processo de criação de valor” (Mecw, v. 35, p. 196). Mas o mesmo é obviamente verdadeiro também para os escravos que cultivavam cana-de-açúcar, tabaco ou anil. Eles também produziam mercadorias, assim como os assalariados. Portanto, os escravos também criavam valor. Marx não poderia considerar isso em sua teoria do valor por-que os escravos eram capital fixo e somente capital variável é capaz de criar valor. Dessa forma, a força de trabalho do assalariado é consti-tuída de “mais valor do que ela própria” (Mecw, v. 35, p. 204) porque: “o trabalho pré-existente na forma de trabalho assalariado, e os meios de produção na forma de capital – ou seja, apenas por-que nesta forma social específica esses são dois fatores essen-ciais da produção – fazem com que uma parte do valor (produ-to) apareça como mais-valia e a mais-valia apareça como lucro (renda), como o ganho do capitalista” (Mecw, v. 37, p. 868). Novamente, Marx afirma que isso não pode ser aplicado para o trabalho escravo. O proprietário de escravos pagou em dinheiro por

(14)

seu escravo e, portanto, “o retorno do trabalho do escravo (...) sim-plesmente representa os juros sobre o capital investido nesta compra” (Mecw, v. 37, p. 618). Historicamente, no entanto, as plantações de açúcar caribenhas baseadas no trabalho escravo eram, em geral, ex-tremamente rentáveis porque o açúcar produzido tinha muito mais valor do que o capital investido pelos proprietários (renda da terra, depreciação dos escravos, depreciação da prensa da cana de açúcar, etc.). Pode-se realmente afirmar que somente o trabalho assalariado reproduz o equivalente de seu próprio valor e produz um excedente de valor (mais-valia)? Ou o escravo também é “fonte de valor”?

Taxa de lucro De acordo com Marx, a taxa de lucro é tendencialmente declinan-te dado o aumento contínuo da produtividade do trabalho.

“Uma vez que a massa de trabalho vivo utilizada está continu-amente em queda em comparação com a massa de trabalho materializado colocado em movimento, isto é, os meios de produção consumidos produtivamente, segue que a propor-ção de trabalho vivo não pago e que forma a mais-valia deve igualmente estar em contínua diminuição se comparada com o montante de valor que representa o investimento total do capital” (Mecw, v. 37, p. 211).

Naturalmente, o final deste desenvolvimento – o colapso do ca-pitalismo – será alcançado com a redução do capital variável a zero, quando o capital total consistir então em apenas capital constante. Por mais paradoxal que pareça, se nós acreditarmos em Marx, esta situação futura haveria já se realizado no século XVIII nas plantações caribenhas, com a quase completa inexistência de capital variável e formidável acumulação capitalista.

Inconsistências como essas revelam que o enfoque no trabalho assa-lariado, presente na teoria de valor de Marx, não foi bem fundamentado.

(15)

Marcel ven der Linden Escravos e trabalhadores assalariados “livres” são mais similares do que

se acostuma admitir. No capitalismo, muitas formas intermediárias e transitórias entre os dois modos de exploração existiram – os ganhado-res são apenas um exemplo. Além disso, escravos e assalariados “livganhado-res”, em muitas situações, fizeram o mesmo trabalho para o mesmo capi-talista (por exemplo, nas plantações brasileiras de café e em fábricas no Sul dos Estados Unidos (ver, por exemplo, Hall; Stolcke, 1983; Whitman, 1993). Evidentemente, a força de trabalho escrava é, para sempre, propriedade do detentor do escravo, enquanto a força de traba-lho do trabalhador assalariado é disponibilizada ao capitalista por cur-tos períodos de tempo. Porém, não é claro porque o trabalho escravo não criaria valor e nem mais-valia. É preciso, portanto, ampliar a teoria de valor de tal modo que ela seja também adequada para tratar do es-cravo e outras formas de força de trabalho não-livre.

É preciso apontar que Marx não parecia completamente convenci-do de sua análise. Contrarianconvenci-do seu próprio argumento, ele por vezes indicou que considerava a escravidão como um modo de produção capitalista. Sua oscilação era aparente, ainda mais se confrontada com as afirmações de que a escravidão é “uma anomalia do sistema bur-guês”, que é “possível em pontos individuais do sistema burguês de produção”, mas “somente porque ele não existe em outros pontos”. (Marx, 1973, p. 464). No primeiro volume do Capital, quando citou a escravidão no Sul dos EUA, Marx apontou:

“Na medida em que a exportação de algodão tornou-se in-teresse vital daqueles Estados, o sobretrabalho dos negros e, em algumas situações, o consumo de suas vidas em sete anos de trabalho, tornou-se fator de um sistema calculado e calculista. Já não se tratava de obter deles certa quantidade de produtos úteis. Tratava-se, agora, da produção da própria mais-valia” (Mecw, v. 35, p. 244; grifos adicionados). No Capital, volume III, Marx escreveu sobre a economia escravocrata:

(16)

“Todo o mais-trabalho dos trabalhadores, que se manifesta aqui no produto excedente, é extraído deles diretamente pe-los proprietários de todos os meios de produção, a quem per-tence a terra e, sob a forma original de escravidão, os próprios produtores imediatos. Onde o capitalismo predomina, como nas plantações americanas, toda a mais-valia é vista como lu-cro” (Mecw, v. 37, p. 790; grifos adicionados).

E nos Grundrisse ele argumentou: “Que os donos de plantações na América não apenas sejam chamados agora capitalistas, mas que eles o sejam, se baseia no fato de que eles existem como uma anomalia dentro de um mercado mundial baseado no trabalho livre” (Mecw, v. 28, p. 436). Os escravos foram, assim, uma parte integral do capi-talismo e produziram mais-valia, embora isso seria impossível se os escravos fossem capital fixo e não variável.

Consequências problemáticas A exclusão do lumpemproletariado e dos escravos não foi bem ponderada. Tem-se a impressão de que primeiro Marx proclamou os “duplamente livres” trabalhadores assalariados como os sujeitos revo-lucionários no campo filosófico, e depois reuniu alguns argumentos que eram, em parte, de natureza ad-hoc. O resultado foi uma teoria sobre a classe operária com inconsistências empíricas e lógicas – não apenas com respeito à exclusão de grupos como os lumpemproletá-rios e escravos, mas também quando se trata do proletariado “real”.

Primeiramente, a maior parte dos movimentos “proletários” no tempo de Marx não ocorreu entre os “duplamente livres” assalaria-dos como ele pensou. Os tecelões da Silésia, que em 1844 revelaram a Marx o potencial revolucionário do proletariado, não eram “traba-lhadores” no sentido marxiano. Eles eram aldeões que trabalhavam por conta própria e representavam uma “forma embrionária” do tra-balho assalariado capitalista (Marx, 1972, p. 422-423): “eles possu-íam os meios de produção e somente obtinham a matéria prima de

(17)

Marcel ven der Linden comerciantes atacadistas”. Isto não significa negar, claro, que estes

te-celões – que eram majoritariamente mulheres (Notz, 2009),

“viviam em constante dependência dos comerciantes ataca-distas. Quando o preço do tecido caía, as perdas eram re-passadas para os tecelões na forma de cortes salariais. Uma superabundância de trabalho e a escassez de capital por parte dos trabalhadores possibilitaram que o comerciante capitalis-ta estivesse em posição de dicapitalis-tar, quase à voncapitalis-tade, o nível e as condições de trabalho dos tecelões” (von Hodenberg, 2002, p. 41; 1997, cap. 2).

Os operários da Liga dos Comunistas em Londres, que solicitaram à Marx e Engels a redação do Manifesto, eram semiproletários que trabalhavam por jornada em oficinas de trabalhos manuais e em sis-temas de produção domésticos, ou por meio de subcontratações nas “oficinas de costura” (Bradenburg, 1977, cap. VII).7 A base social da Social Democracia Alemã no tempo de Marx seria talvez melhor caracterizada como um “movimento popular de pequenos produto-res” (Welskopp, 2000, p. 60-228). A base da Comuna de Paris foi um pouco semelhante (Gould, 1995, cap. 6; tais indicações já estavam em Rougerie, 1964). Além disso, Marx muitas vezes superestimava a concentração dos operários britânicos em grandes oficinas (Samuel, 1977). Estudos históricos mostram que, durante o século XIX, os tra-balhadores das grandes indústrias tiveram um papel menos significa-tivo nos movimentos dos trabalhadores do que os que trabalhavam por conta própria e os artesãos.8

7 No original, sweating systems. (N. da T.)

8 Por um lado, Marx considerava como “verdadeiros” proletários aqueles que não eram qualificados; por outro ele lado, ele por vezes excluía do proleta-riado aqueles que deveriam ser incluídos de acordo com sua própria análise. Quando, por exemplo, discute a superpopulação relativa no Capital, v. I, ele considerou as prostitutas como uma importante parte do lumpemproletaria-do real (Mecw, v. 35, p. 637). Em outros textos, especialmente Teorias da

(18)

E ainda: Marx superestimou a velocidade e a dimensão do pro-cesso de proletarização. Era uma ilusão a afirmação do Manifesto Comunista de que, na “sociedade existente, a propriedade privada está suprimida para nove décimos da população; e ela existe precisamente devido a sua não existência para este nove décimos” (Mecw, v. 6, p. 500) Essa afirmação era claramente um exagero: “Esta situação não existia por volta de 1848 na avançada Inglaterra, e muito menos na França e Alemanha” (Mauke, 1970, p. 118). Entretanto, a proletari-zação teve muito progresso nos países capitalistas avançados – em-bora tenham existido contratendências, como o ressurgimento da meação e do autoemprego (Wells, 1984; Steinmetz; Wright, 1989; Bögenhold; staber, 1991). Ainda, a expansão capitalista mundial na África, Ásia e América Latina apenas em uma dimensão bastante limitada resultou no crescimento de um proletariado “puro”: “em ter-mos de classe, o padrão de desenvolvimento capitalista na periferia foi incapaz de seguir plenamente a lógica de ‘proletarização’ do centro” (Post, 1997, p. 5; também Amin; Van der Linden, 1996).

E, finalmente, Marx subestimou a capacidade do capitalismo em incorporar o proletariado. Marx, como vimos, considerava o prole-tariado como “uma classe na sociedade civil que não era uma classe da sociedade civil”. Gradualmente, no entanto, o proletariado foi se tornando uma parte da sociedade civil. Ao menos três elementos, não previstos por Marx, tiveram provavelmente um papel neste proces-so. (i) A incorporação política do proletariado, parcialmente também resultado dos esforços dos movimentos de trabalhadores. No caso britânico, Bert Moorhouse (1973, p. 346) tem argumentado que “a maior parte da classe dominante acredita que esta incorporação foi necessária para ligar as massas ao sistema prevalecente, mas também que essa integração deveria ser condicionada e canalizada, de modo que embora a forma institucional pudesse mudar - e poderia ser pro-movida como uma mudança -- a distribuição desigual de poder na

trabalhassem para um proprietário de bordel, realizando trabalho assalariado (improdutivo), assim como atores ou músicos, então elas são parte do prole-tariado no sentido estrito da palavra.

(19)

Marcel ven der Linden sociedade poderia manter-se inalterada”. (ii) A incorporação do

prole-tariado como consumidor. É verdade que Marx, nos Grundrisse, aten-tou a respeito dos esforços capitalistas em estimular os trabalhado-res ao consumo dotando as mercadorias de novos atrativos para que os trabalhadores sentissem novas necessidades, etc. (Mecw, v. 28, p. 217); mas, em nenhum lugar, ele evidenciou ter entendido as enormes implicações das algemas douradas do proletariado (Lebowitz, 2009, p. 308). (iii) Mudanças tecnológicas do processo de trabalho tiveram uma dupla consequência: (a) uma drástica (e contínua) redução do componente do trabalhador na produção, e (b) uma vasta prolifera-ção de categorias de emprego nos setores econômicos de distribuiprolifera-ção e de serviços. (Sweezy, 1967, p. 37; Edwards, 1985).

Conclusão A teoria do proletariado formulada por Marx precisa de uma séria reconsideração. Sua demarcação teórica do proletariado em relação aos outros grupos subalternos (os autônomos e escravos) é inconsis-tente; a análise concreta de classe baseada em sua teoria tem, em gran-de medida, sido refutada pela pesquisa histórica empírica; e a previ-são feita a respeito do crescimento do proletariado tem sido apenas parcialmente confirmada pelo desenvolvimento histórico posterior.

Indiscutivelmente, temos necessidade de uma nova conceituação do proletariado que seja baseada mais na inclusão do que na exclu-são. Este trabalho conceitual pode ser obtido por dois caminhos. Uma opção é excluir a ideia de “anomalias” e considerar todas as formas orientadas para o mercado do trabalho (incluindo o trabalho não--livre) como variações do capital trabalho. Esta é a posição defendida por Jairus Banaji e Rakesh Bhandari. Isto implica compreender que as diferenças entre escravos, meeiros e assalariados são apenas de na-tureza de grau, uma vez que todos esses trabalham para o capital por imposições de tipo econômico e não econômico:

(20)

“Encontrar a essência do trabalho assalariado em sua repro-dução pela atividade do capital [capital-positing activity] não somente permite uma mudança na extensão do conceito e enfrenta a visão apologética e eurocêntrica em relação à es-cravidão e colonialismo na escrita da história do capitalismo, como também permite colocar em relevo as formas pelas quais o trabalho assalariado é, também ele, trabalho escravizado” (Bhandari, 2008, p. 96; Bhandari, 2007; Banaji, 2010). Outra opção é ampliar o conceito de proletariado para incluir to-das as formas de trabalho mercantilizado. Desta perspectiva, o prole-tariado seria constituído por todos os portadores de força de trabalho que a vendem ou alugam aos empregadores (incluindo indivíduos, corporações e instituições) em razão de imposições econômicas ou não econômicas, independentemente se são esses portadores mesmos que vendem ou alugam sua própria força de trabalho; e independen-temente se este portador possui seus meios de produção (Van der Linden, 2008, cap. 2). Obviamente, todos os aspectos desta provisória definição requerem maior reflexão. No entanto, esta demarcação con-ceitual indica uma base comum a todos os trabalhadores subalternos: a coerção à mercantilização de sua força de trabalho.

Em ambas as abordagens, todos os grupos definidos como par-te do proletariado compartilham a exploração pelos empregadores e a mercantilização de sua força de trabalho. Portanto, compartilham, também, um interesse de classe comum pela transcendência do ca-pitalismo. Pesquisa histórica recente revelou casos concretos de lu-tas conduzidas conjuntamente por escravos e trabalhadores “livres” assalariados (por exemplo, Linebaugh; Rediker, 2000). Ao mesmo tempo, os interesses a curto e médio prazo desses segmentos do novo quadro amplo do proletariado podem divergir fortemente. No entan-to, esta redefinição do proletariado traz um preço. Se nós aceitarmos que não somente trabalhadores assalariados “livres” são partes in-tegrantes do capitalismo, mas também escravos e outros grupos de trabalhadores, então tanto o capital variável (trabalhadores “livres”)

(21)

Marcel ven der Linden como o capital fixo (escravos) são capazes de produzir valor e

mais--valia. Uma nova teoria do valor se tornaria então necessária. Referências Bibliográficas Allen, V. L. The Meaning of the Working Class in Africa, Journal of

Modern African Studies, n. 10, v. 2, p. 169-189, 1972.

Amin, Shahid e Van der Linden, Marcel (eds.). “Peripheral” Labour? Studies in the History of Partial Proletarianization. Cambridge: Cambridge University, 1996.

Banaji, Jairus. Theory as History: Essays on Modes of Production and Exploitation. Leiden and Boston: Brill, 2010.

Bensen, Heinrich W. Die Proletarier. Eine historische Denkschrift. Stuttgart: s/ed, 1847.

Bhandari, Rakesh. The Disguises of Wage-Labour: Juridical Illusions, Unfree Conditions and Novel Extensions. Historical Materialism, v. 16, n. 1, p. 71-99, 2008.

_________. Slavery and Wage Labor in History. Rethinking Marxism, v. 19, n. 3, p. 396-408, jul. 2007.

Blackburn, Robin. Marxism: Theory of Proletarian Revolution. New Left Review, n. 97, p. 3-35, mai. - jun., 1976.

Bögenhold, Dieter; Staber, Udo. The Decline and Rise of Self-Employment. Work, Employment and Society, n. 5, p. 223-239, 1991. Bovenkerk, Frank. The Rehabilitation of the Rabble: How and Why Marx and Engels Wrongly Depicted the Lumpenproletariat as a Reactionary Force. The Netherlands Journal of Sociology, v. 20, n. 1, p. 13-41, 1984.

Brandenburg, Alexander. Theoriebildungsprozesse in der deutschen Arbeiterbewegung: 1835-1850. Hannover: SOAK-Verlag, 1977.

(22)

Breman, Jan. Wage Hunters and Gatherers. Search for Work in the Urban and Rural Economy of South Gujarat. Delhi: Oxford University Press, 1994.

Caspard, Pierre. Aspects de la lutte des classes en 1848: le recruite-ment de la garde nationale mobile. Revue historique, n. 511, p. 81-106, jul.-set., 1974.

Cohen, G. A., The Labour Theory of Value and the Concept of Exploitation. In: Cohen, G. History, Labour and Freedom. Themes from Marx. Oxford: Clarendon Press, 1988.

Cowling, Mark. Marx’s Lumpenproletariat and Murray’s Underclass: Concepts Best Abandoned? In: Cowling, M. e Martin, J. (eds.). Marx’s Eighteenth Brumaire: (Post)Modern Interpretations. London: Pluto, 2002.

Draper, Hal. The Concept of the “Lumpenproletariat” in Marx and Engels. Economies et Sociétés, v. 12, n. 1, p. 2285-2312, dec. 1972. Edwards, Richard. Sweezy and the Proletariat. In: Resnick, S. e

Wolff, R. (eds.). Rethinking Marxism. Struggles in Marxist Theory. Essays for Harry Magdoff and Paul Sweezy. Brooklyn: Autonomedia, 1985.

Fanon, Frantz. The Wretched of the Earth. Preface Jean-Paul Sartre. Harmondsworth: Penguin, 1967.

Gould, Roger V. Insurgent Identities: Class Community, and Protest in Paris from 1848 to the Commune. Chicago: University of Chicago Press, 1995.

Granier de Cassagnac, Adolphe. Histoire des classes ouvrières et des classes bourgeoises. Paris: Desrez, 1838.

Hall, Michael; Stolcke, Verena. The Introduction of Free Labour on São Paulo Coffee Plantations. Journal of Peasant Studies,v. 10, n. 2-3, p. 170-200, jan. 1983.

(23)

Marcel ven der Linden Herrnstadt, Rudolf. Die Entdeckung der Klassen. Die Geschichte

des Begriffs Klasse von den Anfängen bis zum Vorabend der Pariser Julirevolution 1830. Berlin: VEB Deutscher Verlag der Wissenschaften, 1965.

Hodenberg, Christina von. Aufstand der Weber. Die Revolte von 1844 und ihr Aufstieg zum Mythos. Bonn: Dietz, 1997.

___________. Weaving Survival in the Tapestry of Village Life. Strategies and Status in the Silesian Weaver Revolt of 1844. In: Kok, J. (ed.). Rebellious Families. Household Strategies and Collective Action in the Nineteenth and Twentieth Centuries. New York and Oxford: Berghahn, 2002.

Jones, Gareth Stedman. Outcast London. A Study in the Relationship be-tween Classes in Victorian Society. Oxford: Clarendon Press, 1971. Kiernan, Victor. Victorian London - Unending Purgatory. New Left

Review, n. 76, p. 73-90, 1972.

Lebowitz, Michael A. Following Marx: Method, Critique and Crisis. Leiden and Boston: Brill, 2009.

Linebaugh, Peter; Rediker, Marcus. The Many-Headed Hydra. Sailors, Slaves, Commoners, and the Hidden History of the Revolutionary Atlantic. Boston: Beacon Press, 2000.

MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005.

Marx, Karl; Engels, Friedrich. Collected Works [MECW]. Soviet Union, London, New York: Progress Publishers, Lawrence & Wishart, International Publishers: 1975-2005. 50 v.

Mauke, Michael. Die Klassentheorie von Marx und Engels. Frankfurt/ Main: Europäische Verlagsanstalt, 1970.

Moorhouse, H.F. The Political Incorporation of the British Working Class: An Interpretation. Sociology, n. 7, p. 341-359, 1973.

(24)

Notz, Gisela. Warum der Weberaufstand kein Weberinnenaufstand war. In: Bitzegeio, U; Kruke, A; Woyke, M. (eds.). Solidargemeinschaft und Erinnerungskultur im 20. Jahrhundert. Beiträge zu Gewerkschaften, Nationalsozialismus und Geschichtspolitik. Bonn: Verlag J.H.W. Dietz Nachf., 2009. Oppenheimer, Franz. Die soziale Frage und der Sozialismus. Eine

kri-tische Auseinandersetzung mit der marxiskri-tischen Theorie. Jena: 1912. Post, Ken. Revolution’s Other World. Communism and the Periphery,

1917-1939. Houndmills: Macmillan, 1997.

Reis, João José. The Revolution of the Ganhadores: Urban Labour, Ethnicity and the African Strike of 1857 in Bahia, Brazil. Journal of Latin American Studies, n. 29, p. 355-393, 1997.

Rougerie, Jacques. Composition d’une population insurgée: l’example de la Commune. Le Mouvement Social, n. 48, p. 31-47, jul.-set. 1964.

Samuel, Raphael. The Workshop of the World: Steam Power and Hand Technology in Mid-Victorian Britain. History Workshop Journal, n. 3, v. 1, p. 6-72, primavera 1977.

Schwartz, Michael. “Proletarier” und “Lumpen”: Sozialistische Ursprünge eugenischen Denkens. Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte, n. 42, p. 537-570. 1994.

Singelmann, Joachim ; Singelmann, Peter. Lorenz von Stein and the Paradigmatic Bifurcation of Social Theory in the Nineteenth Century. British Journal of Sociology, v. 37, n. 3, p. 431-452, set. 1986.

Stein, Lorenz von. Der Socialismus und Communismus des heutigen Frankreichs. Ein Beitrag zur Zeitgeschichte. Leipzig: Wigand, 1842. Steinmetz, George; Olin Wright, Eric. The Fall and Rise of the

Petty Bourgeoisie: Changing Patterns of Self-Employment in the Postwar United States. American Journal of Sociology, v. 94, n. 5, p. 973-1018, mar. 1989.

(25)

Marcel ven der Linden Sweezy, Paul. Marx and the Proletariat. Monthly Review, n. 19, v. 7, p.

25-42, dez. 1967.

Thompson, E.P. The Making of the English Working Class. London: Victor Gollancz, 1963.

Traugott, Mark. Armies of the Poor. Determinants of Working-Class Participation in the Parisian Insurrection of June 1848. Princeton: Princeton University Press, 1985.

Van der Linden, Marcel. Workers of the World. Essays toward a Global Labor History. Leiden and Boston: Brill, 2008.

Wells, Miriam J. The Resurgence of Sharecropping: Historical Anomaly or Political Strategy? American Journal of Sociology, v. 90, n. 1, p. 1-29, jul. 1984.

Welskopp, Thomas. Das Banner der Brüderlichkeit. Die deutsche Sozialdemokratie vom Vormärz bis zum Sozialistengesetz. Bonn: Dietz, 2000.

Whitman, T. Stephen. Industrial Slavery at the Margin: The Maryland Chemical Works. Journal of Southern History, v. 59, n. 1, p. 31-62, fev. 1993.

Worsley, Peter. Frantz Fanon and the “Lumpenproletariat”. The Socialist Register, 1972, p. 193-230.

Zaniewski, Romuald. L’Origine du prolétariat romain et contempo-rain. Faits et theories. Louvain and Paris: Editions Nauwelaerts and Béatrice Nauwelaerts, 1957.

Referências

Documentos relacionados

Realizar a análise RAM do sistema de automação de uma linha de laminação a frio, avaliando seus níveis de confiabilidade, mantenabilidade e disponibilidade, e propor ações

Para o controle da sarna, os fungicidas podem ser aplicados sistematicamente, com base na fenologia da macieira (calendário), ou seguindo além da fenologia,

[r]

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Foram feitas, ainda, aproximadamente 200 prospecções com trado para descrição dos solos em diferentes pontos da folha, além da consulta de seis perfis de solos descritos no

pronunciado como em filho/G pronunciado como em gude/GB não existe similar em português/H pronunciado como em ilha/J pronunciado como em Djalma/K pronunciado como em

Diante do exposto, esta pesquisa visa investigar de que forma competências requeridas dos aprendizes na atualidade podem ser exploradas no ensino médio no processo de

Na busca de uma resposta ao problema, que teve como questão norteadora desta pesquisa, levantamento dos gastos e despesas nos atendimentos realizados e identificar qual o custo que