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Conhecimento Tradicional e Propriedade Privada entre Quebradeiras de Coco Babaçu

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Academic year: 2020

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CONHECIMENTO TRADICIONAL

E PROPRIEDADE PRIVADA

ENTRE QUEBRADEIRAS

DE COCO BABAÇU*

AIANNY NAIARA GOMES MONTEIRO**, NOEMI SAKIARA MIYASAKA PORRO***, JOAQUIM SHIRAISHI NETO****, CIRO DE SOUZA BRITO

F

ruto da dissertação de mestrado apresentada pela primeira autora, sob orientação da segunda e co-orientação do terceiro autor, ao Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas do NCADR/UFPA1, em março de 2015, em que se ana-lisaram as práticas sociais e jurídicas na gestão dos babaçuais nas comunidades tradicionais de quebradeiras de coco babaçu, este artigo trata de um dos aspectos abordados na referida dissertação: a relativização do instituto da propriedade privada observada no Povoado Três Poços, onde foi realizada a pesquisa.

O Povoado Três Poços abrange um grupo social categorizado sob diversas designa-ções e identificado por duas atividades principais comuns, a agricultura familiar e o extrati-vismo familiar do babaçu. O povoado está localizado na região do Médio Mearim, zona rural do município de Lago dos Rodrigues, no Estado do Maranhão. A comunidade tradicional que o compõe é atualmente composta por posseiros e pequenos proprietários rurais, além de herdeiros dos pequenos proprietários que, até que se concretize a herança, vivem como posseiros. As unidades familiares vivem do trabalho na roça com a produção de arroz, milho, feijão, mandioca e hortaliças, e também possuem criações de pequenos animais como peixes Resumo: para compreender transformações no conhecimento tradicional sobre uso comum de recursos, após a introdução do instrumento da propriedade privada, analisamos noções locais relativas a posse nas práticas atuais e na memória coletiva da comunidade tradicional Três Poços, Maranhão. Concluímos que apesar da hegemonia da posse civil, direitos de propriedade foram relativizados por noções vigentes de posse agrária e posse agroecológica

Palavras-chave: Relativização da propriedade. Memória Coletiva. Posse civil. Posse agrária. Posse agroecológica.

* Recebido em: 04.01.2015. Aprovado em: 21.02.2015.

** Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável pela UFPA. *** Professora da Universidade Federal do Pará.

**** Professor da Universidade Federal do Maranhão.

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em açudes, porcos e galinhas, além da quebra do coco babaçu, praticada especialmente por mulheres e jovens.

O trabalho foi baseado em pesquisa qualitativa, a partir da observação direta e par-ticipante para coleta de dados de práticas atuais, através das quais se expressa seu conhecimen-to tradicional. Efetivaram-se entrevistas abertas não diretivas e entrevistas semiestruturadas, tanto individuais quanto coletivas, junto às unidades familiares do Povoado Três Poços, para o resgate da memória coletiva2 local e para registro das narrativas atuais. Os registros de dados foram escritos, gravados e fotográficos.

A pesquisa compreendeu coleta de dados em 75 dias de trabalho de campo, dividido em dois períodos de 30 dias, precedidos por um período de 15 dias para levantamento preliminar. An-tes do levantamento, foram realizados numa primeira fase o levantamento de dados secundários.

Com a análise dos dados do trabalho de campo, entende-se que a relação do Povo-ado com a terra, apesar de terem acionPovo-ado o registro formal da terra conquistada enquanto propriedade privada em dado momento de sua história, difere da relação preconizada pelo instituto adotado no atual ordenamento jurídico brasileiro. Assim, sugere-se a “relativização da propriedade privada”, justificada pelos conceitos de posse agrária e posse agroecológica. MEMÓRIA COLETIVA E HISTÓRICO DA ÁREA PESQUISADA

Fundado entre os anos 1904 e 1908, o Povoado Três Poços tem a origem de seu nome num fenômeno natural que teria ocorrido durante o intervalo dos anos de fundação. Conforme as informações levantadas junto aos moradores entrevistados, o igarapé que corta o Povoado, afluente do rio Mearim, teria se fragmentado, em decorrência de uma forte seca que acometeu a região, dividindo-o em dois pontos e formando três grandes poções de água. O igarapé era o local onde os moradores desenvolviam várias atividades vitais, como pesca, fermentação da mandioca, lavagem de roupas e coleta d’água para as atividades domésticas. Com a seca, referiam-se ao igarapé como três poções e com o passar do tempo e o uso cada vez mais frequente da expressão, passaram a chamá-lo de Três Poços, como ficaram batizados tanto o Povoado quanto o igarapé.

O Povoado teria sido assituado3 pelo camponês nordestino Valério, que teria entra-do em contato com os índios, definientra-dos pelos entrevistaentra-dos como “mansos”, residentes locais que teriam se “agradado” do recém-chegado Valério e permitido que o mesmo se estabelecesse ali. Com o tempo, a quantidade de camponeses residindo no local teria aumentado de modo que, segundo os entrevistados, os índios resolveram se mudar e “entregaram” as terras a Valé-rio, informando que este poderia residir ali até o dia que quisesse.

As famílias, ao chegarem no local, buscavam as áreas sob floresta, que ainda não ti-nham o trabalho de outro morador, sob a orientação do assituante, que era quem estabelecia as regras de acesso à terra, cuja noção de direito se distinguia do de propriedade. Consolidava-se assim um conhecimento tradicional sobre o uso de recursos tidos como comuns como a terra e o babaçual, que fundava-se em noções específicas sobre os direitos a reger as relações sociais compatíveis com este uso. Como havia uma grande extensão de terra e de babaçuais, os quais eram percebidos como “livres”, ou seja, não havia cercas nem donos, cada um produzia o que necessitava para o seu sustento e de sua família. No ideário local “era um tempo de fartura”, pois havia muita terra disponível e muitas áreas sob cobertura florestal para trabalho livre em roças. O próprio igarapé possuía mais peixe, de acordo com os entrevistados.

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A partir da década de 70, como efeito da Lei Sarney de Terras (Lei nº. 2.979, de julho de 1969), houve a investida de auto-declarados proprietários, designados lo-calmente como fazendeiros, sobre as áreas tradicionalmente ocupadas, culminando em conflitos violentos, tentativas de cercamento4 e expropriação da comunidade tradicional, que estava com a posse da área e que resistiu a estas tentativas. No caso dos povoados no vale do Mearim, neste processo de resistência, as famílias foram auxiliadas pelos freis franciscanos alemães da Vice-província de Nossa Senhora da Assunção da Diocese de Bacabal, da Igreja Católica. Os religiosos, que incentivaram a organização camponesa em clubes de mães, sindicatos de trabalhadores rurais e comunidades eclesiais de base, também atuaram na compra de parte da área. Ocorre então a introdução do instituto da propriedade privada entre os camponeses que, até então, tinham o conhecimento tradi-cional da terra como recurso de uso comum que não deveria ter dono, mas seria “liberta”. No entanto, naquele período de intensos conflitos agrários, a Igreja Católica entendeu que somente a compra da terra poria fim à ameaça de expulsão dos moradores do Povo-ado por parte desses fazendeiros.

A origem do conflito se deu quando, em 1972, dizendo-se proprietário das terras onde se situava o Povoado Três Poços, apareceu na região um senhor chamado Tonico, oferecendo a venda da área para dois moradores do Povoado, que não puderam adquiri-las. A questão, entretanto, só se transformou em um conflito após um desentendi-mento entre esse senhor Tonico e seu cunhado Zezé. De acordo com o entrevistado Luizão (73 anos, trabalhador aposentado, ex-morador de Três Poços, entrevista em 2014), o motivo seria a proposta de divisão da área e findou com o homicídio de Tonico. Após sua morte, a viúva teria vendido a área para dois irmãos fazendeiros, chamados Ariovaldo e Arionívio, que iniciaram um processo de extenso desmatamento e tentativa de expulsão dos posseiros, bem como a cobrança da renda5 sobre o que fosse produzido em suas terras e sobre a quebra do coco babaçu. Esse processo deu início ao conflito pela terra, pois a comunidade passou a resistir e impedir o cercamento das áreas pelos irmãos.

O conflito de Três Poços (1972-1975) se intensificou com o assassinato da liderança camponesa Vicente Pereira Lima em agosto de 1975, em um povoado vizinho. A crescente pressão resultou na compra de terra por Frei José Schlütter e D. Pascásio Rettler, em setembro do mesmo ano. O engajamento de Frei José pelos assuntos das comunidades rurais é perce-bido pela comunidade de Três Poços como relevante para a atual situação de paz. Os freis alemães frisam que sua atuação não era a “da confrontação direta, mas através do trabalho paciente do esclarecimento, através de treinamentos e acompanhamentos (...) da população rural” (LOHER, 2007, p. 253).

Assim, visando impedir a intensificação do conflito e um possível confronto arma-do, a Igreja Católica, por intermédio do Frei José, ajudou a pagar a terra, de aproximadamen-te 517 hectares, que custou cerca de 80 mil cruzeiros na época. Apenas 10 posseiros conse-guiram juntar em torno de 30 mil e a Igreja completou os 50 mil que faltavam, segundo o entrevistado Chico Sales (62 anos, ex-presidente do STR de Lago do Junco que acompanhou o conflito, entrevista em 2014).

Aos moradores foi concedido o prazo de 6 anos para pagar à Igreja o valor corres-pondente ao montante antecipado. Todo esse processo se deu sem a intervenção dos órgãos responsáveis pela regularização fundiária do Estado do Maranhão, uma vez que o conflito se intensificou por volta de 1974, em plena ditadura militar.

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A chegada dos fazendeiros havia impactado diretamente a vida dos camponeses do Povoado, pois iniciara um processo de proibição das roças, cerceamento e expulsão dos pos-seiros de suas terras e de sujeição do trabalho livre das quebradeiras de coco babaçu que, em muitos casos, foram impedidas de juntar os cocos livremente e de se apropriar do produto do seu próprio trabalho, o que ocorreu até a reconquista da terra através de sua compra.

POSSE E PROPRIEDADE PRIVADA

Apesar dessa formalização, que garantiria direitos legais a esses 10 novos proprietá-rios, uma das características observadas em Três Poços é a permanência do instituto da posse vivido de acordo com o conhecimento tradicional referente ao uso dos recursos comuns até o presente. Os posseiros convivem com os pequenos proprietários e, dadas as condições em que foi estabelecida a divisão da área, permanecem como tal ou são herdeiros daqueles que se tornaram proprietários legalmente instituídos pela compra da terra.

Observa-se, portanto, uma situação peculiar de comunidade tradicional6, na qual parte das terras tradicionalmente ocupadas foi garantida através de instrumento de compra e venda e regularizada formalmente como pequenas propriedades privadas. No entanto, a des-peito dessa formalização, mantiveram-se determinados recursos sobre essa terra sob o regime de uso comum, segundo seu conhecimento tradicional.

É importante observar que a opção pelo instrumento da propriedade privada se deu, na década de 70, quando ainda não se consolidara dentro da Igreja Católica a consci-ência de que a compra de terras seria reconhecer o falso direito do pretenso proprietário em detrimento do direito dos posseiros. Embora a Teologia da Libertação já se expressasse em outras situações no Brasil e na América Latina (BOFF, 1986), tanto os camponeses quanto os freis ainda não tinham construído as possibilidades de reconhecimento do direito de posse, naquele contexto de violência extrema provocada pelos fazendeiros e pelo próprio Estado.

Essa forma de apropriação do acesso à terra trouxe características muito específicas ao Povoado, mas não mudou totalmente a racionalidade camponesa baseada em noções como

terra de trabalho e terra para produzir (MARTINS, 1981), tão pouco a propriedade privada

influenciou no uso comum do babaçual. Os camponeses estabeleceram novas regras que possibilitaram o uso diferenciado da propriedade privada, o que nos faz afirmar que ela vem ao longo dos anos sendo relativizada, garantindo, dessa forma, os modos tradicionais de uso dos recursos naturais, o que os aproxima dos conceitos de posse agrária e posse agroecológica.

Antes, portanto, de demonstrar como os moradores de Três Poços relativizam a propriedade privada, devemos compreender a evolução da ideia de posse e de propriedade existentes hoje no ordenamento jurídico brasileiro.

A posse pode ser conceituada como “um estado de fato que antecedeu à proprie-dade na apreensão e utilização dos bens, para a satisfação das necessiproprie-dades do homem, sendo também um tipo de relação com a terra (BENATTI, 2003, p. 37). As teorias clássicas, que se ocuparam em definir o fenômeno possessório, tiveram como base a propriedade. Elas tiveram como expoentes Rudolf von Ihering e Friedrich Carl von Savigny.

Segundo a teoria subjetiva, denominação pela qual ficaram conhecidos os postula-dos de Savigny, “a posse é um ato que tem repercussões jurídicas e que possui dois elementos básicos: o corpus e o animus” (BENATTI, 2003, p. 38). O corpus é a possibilidade de exercer o poder físico permanente e exclusivo sobre a coisa; já o animus possidendi ou rem sibi habendi

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ou animus domini é a intenção que a pessoa tem de se comportar como se proprietário fosse, com exclusividade, não reconhecendo a ninguém direito superior ao seu sobre a coisa possuí-da. Aquele que é carecedor do animus possidendi (animus domini) não é possuidor, mas mero detentor (MATTOS NETO, 2010). Se, no corpo do conhecimento tradicional, não se con-cebia o animus domini, camponeses que concretizavam o corpus passaram a meros detentores, no sentido formalista.

Na teoria possessória iheringeana, também conhecida como teoria objetiva, a estru-tura jurídica da posse também congrega os dois elementos mencionados. Entretanto, o con-teúdo dos elementos é diverso. O corpus manifesta relação de fato entre a pessoa e a coisa, de acordo com a sua destinação econômica normal. O elemento subjetivo é expresso pelo affectio

tenendi que é a vontade de ter a coisa para consigo. E a distinção entre a posse e a detenção

se dá não em virtude de um animus específico, mas por ordem de um fator objetivo – a lei (a

causa possessionis). Por isso, segundo esta teoria, a posse seria a exteriorização e visualização da

propriedade (MATTOS NETO, 2010).

A teoria subjetiva da posse visa proteger o proprietário e não o possuidor, porque cabe ao primeiro o direito de usar a coisa com exclusividade e reivindicá-la; já a teoria objetiva iheringeana protege a posse tão somente porque a atividade possessória corresponde ao modo normal do proprietário exteriorizar seus poderes de domínio (MATTOS NETO, 2010).

O direito brasileiro adotou a teoria objetiva, tendo a propriedade como seu núcleo central. Entretanto, Benatti (2003, p. 45) adverte que “em um novo contexto hermenêutico do Direito Civil, posse e propriedade devem ser analisadas com perfis próprios e claramente definidas, que não podem ser confundidos”. É importante salientar que, no atual direito pá-trio, o exercício do direito à propriedade privada não é absoluto devendo se subordinar à pre-visão constitucional da função social disposta nos arts. 5º, inciso XXIII, e 170, inciso II, além do Código Civil brasileiro, art. 1228, o qual além de reafirmar a função social da propriedade, ainda estabelece a função socioambiental, conforme previsão do art. 225 da Constituição Federal e na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81).

Por outro lado, dados desiquilíbrios de poder político em nossa sociedade, tais pre-visões não têm sido suficientes para garantir o direito à posse, assegurando a permanência do trabalhador rural à terra. Por esse motivo têm se proposto outras noções sobre este instituto jurídico, tais como a posse agrária e a posse agroecológica.

A posse agrária, para Mattos Neto (2010), se trata de um direito que deriva do exercício direto, realizado de forma contínua e racional, durante certo período de tempo ininterrupto, de atividades agrárias desempenhadas em glebas de terras rurais, que seja ca-paz de dar condições ao seu uso econômico e que, portanto, gera ao possuidor um poder jurídico de natureza real com repercussão no mundo jurídico.

Nela, os elementos estruturais da posse agrária, presentes em qualquer posse, corpus e animus, possuem significados outros. O corpus, elemento objetivo, é traduzido por atos que exteriorizam a relação de fato, sendo uma vinculação direta, material, imediata do possuidor à terra. O animus, elemento subjetivo da posse, é traduzido pela intenção representada pelo trabalho que o possuidor agrário desempenha na terra (MATTOS NETO, 2010).

Segundo Benatti, os autoidentificados “povos da floresta” ou comunidades tradi-cionais enquadram-se na modalidade da posse agroecológica, pois nela as relações entre o homem e o ambiente são mediadas pelas experiências acumuladas ao longo de gerações em processos históricos particulares. A cultura, os valores sociais, os valores políticos e as formas

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espaciais onde se desenvolvem todas essas mediações de um determinado grupo social, defi-nem a posse agroecológica. No caso dos povos e comunidades tradicionais, um componente responsável pelo fortalecimento da coesão do grupo é a área de uso comum, uma vez que é em defesa dela que surgem normas de caráter consensual para garantir a manutenção desses espaços (BENATTI, 2003).

A delimitação dos direitos dos camponeses sobre áreas que são utilizadas para o cultivo e moradia familiar, enquanto outras porções de terra são reservadas para uso co-mum7, ocorrem dentro de uma lógica espacial na qual não há a necessidade de que essas áreas (uso comum e familiar) sejam adjacentes e ou permanentes. Dentro dessa realidade, existem duas modalidades de apossamentos: da comunidade, que é de uso coletivo, no qual se mani-festa o sistema de uso comum da terra; e o de apossamento familiar, apoiados na unidade de trabalho familiar (que pode ser entendido como privado) (BENATTI, 2003).

A posse agroecológica possui como elementos necessários para a sua caracterização: o trabalho como forma de adquirir a terra e a existência da área de uso comum. O primeiro define o que é considerado pelo grupo como de uso comum e os espaços considerados de utilização familiar, enquanto o segundo garante o acesso e uso comum dos recursos naturais (BENATTI, 2003).

Os apossamentos comuns ou posse agroecológica são as áreas em que “o controle ocorre quando um grupo social de alguma forma detém algum poder sobre determinado espa-ço, que pode incluir recursos florestais ou aquáticos” (BENATTI, 2011, p. 93). Neste conceito, pode-se enquadrar as quebradeiras de coco babaçu que se utilizam do “coco liberto” para acessar independentemente do local onde estejam os recursos de que necessitam para o desenvolvimen-to de suas atividades, os quais são essenciais para sua reprodução social e cultural.

É relevante destacar que, quando se fala em apropriação comum, não se está falan-do de um único “modelo” de propriedade, mas é necessário considerar que existem diversas formas de apropriação e manejo coletivo dos recursos naturais, devendo-se respeitar as pe-culiaridades de cada apropriação pelos diferentes seguimentos de camponeses, designados de comunidades tradicionais (BENATTI, 2011, p. 95), dentre os quais estão as comunidades de quebradeiras de coco babaçu.

A posse agroecológica não é um “modelo” fechado, que pode ser enquadrado em todas as situações de apossamentos existentes na Amazônia, que caracteriza um novo siste-ma legal, em oposição ao estabelecido pelo Estado (BENATTI, 1997). Portanto, vários dos componentes do conhecimento tradicional referente ao uso comum dos recursos naturais são passíveis de explicação por essa noção.

Para que se configure a posse civil há necessidade do elemento subjetivo e que o possuidor tenha o título do bem; ao passo que a posse agrária se completa apenas com o fato objetivo da exploração da terra pelo possuidor. Na posse agroecológica, o fato objetivo é o uso sustentável da terra, pois para “ter” posse é preciso interagir com o meio (BENATTI, 1997). E nosso estudo mostra que essa interação se fundamenta em específicos conhecimentos tradicionais. RELATIVIZAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA EM TRÊS POÇOS

O povoado Três Poços, devido ao histórico da interferência da Igreja Católica, pos-sui hoje 10 pequenos proprietários legalmente instituídos pela compra da terra. À época da aquisição da área, prevaleceu a concepção civil da posse, pois a compra da terra foi única

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alternativa vislumbrada, e apenas 10 famílias tinham condições, ainda que parciais, de parti-cipação na compra. Porém, questiona-se se essa formalização passou a ser de fato considerada e vivida no cotidiano e no modo de vida do conjunto de todos os envolvidos.

A possibilidade de regularização da posse de Três Poços foi a constituição de peque-nas propriedades, através da compra. Entretanto, embora a propriedade seja privada e legal-mente registrada e fosse admissível que houvesse mudanças no comportamento dos membros da comunidade em termos de privatização dos recursos existentes nos territórios é possível notar que se manteve a lógica do conhecimento que rege a apropriação coletiva dos babaçuais, dos igarapés, dos peixes e dos frutos das árvores. Essa lógica contraria as previsões pessimistas de Hardin8 (2002) de exaustão dos recursos naturais de uso comum.

No que tange a atividade das quebradeiras de coco babaçu, é importante destacar que ela não se realiza em função da propriedade privada da terra, ou seja, embora a propriedade tenha sido um elemento importante para a manutenção coletiva do grupo, não é essencial para o desenvolvimento de suas atividades, pois as mulheres adentram as propriedades privadas de terceiros e entre as palmeiras, as mulheres procuram os cocos, que se encontram no chão, para serem amontoados e, posteriormente, quebrados. Assim, “o uso das palmeiras é comum a todas as famílias, isto é, não há proprietários das palmeiras, elas pertencem a todos, e isto não tem implicado esgotamento ou escassez, porque é utilizado em consonância com as necessidades reprodutivas e a capacidade de trabalho de cada família” (SHIRAISHI NETO, 2013, p. 150).

Em Três Poços, as formas de uso da terra são acordadas verbalmente entre os pro-prietários, moradores da comunidade, e os posseiros ou herdeiros do Povoado. Há possibili-dade de cobrança de renda no caso de boas safras, o que nem sempre se efetiva, uma vez que os núcleos familiares são pequenos e a produção é para subsistência, sendo o referido paga-mento dispensado na maioria das vezes. As relações de parentesco e compadrio influenciam nos acordos estabelecidos entre as partes.

Esse fato corrobora a afirmação de Benatti (2011) de que os grupos de comunidades tradicionais constroem historicamente uma relação social e cultural com o espaço apossado, crian-do normas de convivência e exploração crian-dos recursos naturais. Essas normas tanto emergem crian-do conhecimento tradicional quanto o renovam. Sendo, portanto, o direito não escrito um elemento importante, que pode ser percebido nas formas como as áreas delimitadas. É nesse contexto, por-tanto, que se insere as formas de uso da propriedade privada no Povoado, a qual é relativizada pelas regras comunitárias estabelecidas internamente e limitada pela tradição do grupo.

Almeida (2008) ressalta que nestes casos as interpretações mais conservadoras “con-sideram que a expansão capitalista no campo necessariamente libera aquelas terras ao mer-cado e à apropriação individual provocando uma transformação radical das estruturas que condicionam o seu uso” (ALMEIDA, 2008, p. 137). Isso se dá por que, segundo o mesmo autor, tais análises são indiferentes às particularidades que caracterizam as formas de posse e uso comum da terra e dos recursos naturais.

Estas análises podem considerar a propriedade comum apenas a terra, mas como bem salientou Benatti (2011, p. 96), o termo vai além do título da terra, uma vez que corresponde a um complexo arranjo social que abarca uma série de peculiaridades inerentes ao sistema coletivo de uso dos recursos naturais em comunidades tradicionais:

quando nos referimos à propriedade comum não se trata somente da terra, mas envolve as regras de administração dos recursos naturais desenvolvidos pelas populações [comunidades] tradicionais, ou

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seus arranjos institucionais e sociais, pois a dissolução desse arcabouço jurídico consuetudinário e de sua base institucional local pode levar à desagregação do grupo social que se apropriou daquela gleba de terra, como também à degradação dos recursos naturais (BENATTI, 2011, p. 96).

Tais regras estão presentes no dia-a-dia dos moradores do Povoado Três Poços, pois é possível observar que embora as terras tenham proprietários legalmente instituídos pelo título da terra adquirido pela compra após o conflito que envolveu os moradores, os proprietários permitem que aqueles que não compraram a terra construam suas casas em sua propriedade sem lhes impor algum ônus ou pagamento. Além disso, é possível que os moradores vendam a casa e passem o direito atribuído pelo proprietário da terra a um terceiro, sob sua autorização. Porém, esse direito de vender o que está na propriedade não é irrestrito, pois deve passar pelo juízo do dono legalmente instituído. Além disso, a comunidade tradicional, através de sua rede de relações, também interfere nesses processos.

A própria colocação das roças que, via de regra, pressupõe o pagamento das rendas não costuma ser vinculada ou definida por esse pagamento. No entanto, o trabalhador que almeja colocar uma roça em determinada propriedade deve pedir autorização ao seu dono formal, que define o local onde deve fazê-lo, ou indicar onde gostaria de colocar a roça de-pendendo apenas do aval do proprietário.

Em Três Poços também existem áreas de uso comum, como a área que foi adquirida pela “Associação de Moradores João Batista”. Nesta área funciona a cantina, a casa de farinha da Associação e uma área coletiva destinada a roças. A área com 98 ha foi loteada e dividida informalmente entre os 14 sócios, residentes e não residentes no povoado, cada lote com 7 ha. Segundo os entrevistados, o objetivo não é dividir formalmente e registrá-la em cartório. Alguns associados alegam que com a área coletiva, não é possível saber onde é a parte que lhes cabe para trabalhar. Os sócios decidiram que a área onde estão localizados o igarapé, a cantina e a casa de farinha não será entregue a nenhum sócio, busca-se com isso garantir a preservação do igarapé e a permanência das áreas coletivas, permanecendo como áreas de uso comum. CONCLUSÃO

A observação em campo demostrou que mesmo que os moradores do Povoado tenham aceito como estratégia para resolução de conflitos na década de 70, a compra da área e que, posteriormente, tenha se estabelecido um regime de propriedade privada, pode-se afir-mar que esta não corresponde exatamente à propriedade no sentido capitalista ou ao conceito formal de posse civil, pois se encontra limitada por práticas sociais e jurídicas que impedem o pleno exercício dos poderes dos proprietários previstos no Código Civil Brasileiro, art. 1228, especialmente o de dispor.

O contrato que rege o quadro social do Povoado limita, por exemplo, que as vendas realizadas pelos proprietários se deem em prol daqueles que não compactuam com os valores comunitários estabelecidos cultural e historicamente pelos moradores camponeses e quebradeiras de coco babaçu, tais como a valorização da atividade de quebra de coco e proteção do meio ambiente, os quais são essenciais para a reprodução social e cultural do grupo e que mantém, em certa medida, a coesão do grupo.

Essas imposições atribuem limites ao exercício do direito de propriedade no Povo-ado, pois o dono, embora isso não seja absoluto, não dispõe, goza e usa da forma que bem

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entende sua propriedade, pois é limitado pelas práticas sociais e jurídicas que regem a vida no Povoado Três Poços.

Não se sabe, entretanto, até quando e como os moradores conseguirão manter suas práticas associadas ao instrumento da propriedade privada sem que esta modifique substan-cialmente sua organização interna. Esse fato pode ser ilustrado com o caso da filha de uma das moradoras mais antigas do Povoado que, após anos morando na cidade, recebeu informal-mente em 2014 uma parte do terreno e informou que não deixaria que ninguém passasse por ele, ameaçando fechar as entradas, impedindo ou dificultando que os trabalhadores rurais que colocaram suas roças atrás do terreno tenham acesso a elas. No entanto, até o último trabalho de campo ocorrido no primeiro semestre de 2015, tudo permanecia como antes, pois ela não se mudara para o povoado.

A escolha da propriedade privada para resolver a questão da terra em Três Poços é avaliada pelos moradores como algo negativo, pois o conflito não se encerrou na década de 70, permanecendo até hoje, com a existência de posseiros e a migração de famílias e de jovens para cidades em função da dificuldade em adquirir um pedaço de chão no local, que lhes garantiria, em sua concepção, a segurança necessária para investir na construção de casas de alvenaria e maior conforto para continuar a reprodução do seu grupo familiar no Povoado. Apesar disso, os moradores do Povoado inovaram na maneira de se relacionar com a terra, o que nos permite relativizar a noção de posse civil e se aproximar da ideia de posse agrária e posse agroecológica para explicarmos tal situação concreta.

Por este motivo, observou-se que a relação do Povoado com a terra difere da relação de propriedade privada adotada pelo atual ordenamento jurídico brasileiro, razão pela qual se sugere o termo “relativização da propriedade”, justificado pelos conceitos de posse agrária e posse agroecológica, que, propõe-se como melhor resposta ao tipo de relação do Povoado com a terra.

TRADITIONAL KNOWLEDGE AND PRIVATE PROPERTY AMONG BABAÇU BREAKER WOMEN

Abstract: to understand transformations in the traditional knowledge regarding use of common

resources, after the introduction of private property, we analyzed local notions related to tenure rights in current practices and collective memory of Três Poços traditional community, in the State of Maranhão. We concluded that, despite the hegemonic notion of civil tenure, local notions of agrarian tenure and agroecological tenure relativized private property rights.

Keywords: Relativization of property rights. Collective memory. Civil tenure. Agrarian tenure.

Agroecological tenure.

Notas

1 Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Pará.

2 A memória coletiva constitui “uma corrente de pensamento contínuo, de uma continuidade que nada tem de artificial, pois não retém do passado senão o que ainda está vivo ou é capaz de viver na consciência do grupo que a mantém. Por definição, não ultrapassa os limites desse grupo” (HALBWACHS, 2006, p. 106; 102). Uma característica importante da memória coletiva é que ela contém as memórias individuais dos sujeitos que compõem o grupo, mas não se confundem com ela, porque cada memória individual corresponde a “um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda segundo o lugar

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que ali ocupa e que esse mesmo lugar muda segundo as relações que mantenho com outros ambientes” (HALBWACHS, 2006, p. 69). É a visão do grupo visto de dentro e durante um período, que segundo o autor, não ultrapassa a duração média da vida humana, sendo bem inferior (HALBWACHS, 2006). Por isso, foi necessário relativizar determinados dados fornecidos pelos entrevistados, de modo que a triangulação e relativização das informações se aproximassem ao máximo possível da realidade apreendida no trabalho de campo, uma vez que a história do conflito permanece viva na memória individual dos membros do grupo, mesmo daquelas que dele não participaram, podendo receber interpretações diferentes dependendo de quem e a partir de qual posição se fala.

3 O assituante é considerado o primeiro a se estabelecer e a estabelecer as regras de acesso à terra, sendo possível

conceitua-lo como “aquela família ou famílias que chegavam primeiro na localidade e, explorando a mata, ia organizando a moradia dos demais que iam chegando e solicitando um rancho – uma moradia – e uma área de roça” (FIGUEIREDO, 2005, p. 51).

4 A situação dos camponeses posseiros da porção média do vale do rio Mearim, no Maranhão, mudou com as investidas sobre as terras, até então consideradas devolutas, portanto livres, passaram a ser reivindicadas por fazendeiros que, dizendo-se proprietários legais das áreas, cercaram as terras, expulsaram os camponeses e criaram uma situação de tensão e conflito pela terra que iniciou na década de 70 e se estendeu até a década de 90, com seu ápice em 80. Os cercamentos, ou seja, a colocação de cercas nas terras livres dos camponeses, por aqueles que se autodenominavam proprietários dessas áreas causou um processo de exclusão dos trabalhadores de seu meio de sustento, as terras produtivas.

5 A renda é o valor que deve ser pago ao dono da terra pelos trabalhadores quando estes produzem nas terras consideradas como suas dependências.

6 O grupo social em questão é composto por autodesignados trabalhadores rurais e quebradeiras de coco babaçu, os quais possuem formas específicas de organização e uso dos recursos naturais, enquadrando-se na definição emprestada pelo inciso I do art. 3º, do Decreto 6040/07, sobre os povos e comunidades tradicionais: I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

7 Área de uso comum é um bem não sujeito à apropriação individual em caráter permanente. Nestes espaços combinam-se as noções de propriedade privada e de apossamento de uso comum. Logo, área de uso comum são os rios, lagos, varadouros (caminhos reais), praias, barrancos e matas administradas pelo conjunto de moradores da área, onde se desenvolve o usufruto coletivo. São áreas abertas, não são de domínio privado e nem estão disponíveis à apropriação individual (BENATTI, 2003).

8 Denominada de “tragédias dos comuns”, a teoria publicada por Hardin (2002) em 1968, embora não fosse o primeiro a defender a tragédia dos comuns, parte de pressupostos malthusianos que, utilizando-se de uma alegoria, defende que cada indivíduo tende a explorar e pressionar o recurso utilizado em comum de maneira que este satisfaça totalmente sua necessidade, sem se importar com o meio ou com outros indivíduos. Defendeu que os recursos comuns chegariam à exaustão, enquanto fossem manejados em áreas de livre acesso, apresentando como solução a privatização dos mesmos ou a sua estatização por meio da restrição do direito de entrada.

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