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Cristãos Apocalípticos nos Inícios do Cristianismo

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Academic year: 2020

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Apocalíptica tem uma longa história. Ela tem influência “profética” e “sapiencial” (FERREIRA, 1991, p. 37-41). Falaremos, rapidamente, do auge da Apocalíptica. Voltemos aos anos 167-164 a.C. Neste tempo, houve um rei sírio (= selêucida), chamado Antíoco IV Epífanes, que in-vadiu Jerusalém e o seu grande e representativo Templo. Ora, o Templo, para a tradição hebraica, era sacratíssimo. Por causa desse ato político e mi-litar, houve uma reação religiosa, política e, também, militar por parte dos moradores israelitas. Tornou-se uma revolta armada, em nome da fé em Yahweh. Diante da perseguição selêucida, era necessário, com urgência, interpretar, religiosamente, estes fatos novos e desconcertantes.

Os apocalípticos, lendo a sua história de libertação, falaram e es-creveram. Interpretarão os fatos e atualizarão os planos de Deus para

aque-Joel Antônio Ferreira**

CRISTÃOS APOCALÍPTICOS NOS INÍCIOS

DO CRISTIANISMO*

Resumo: quem era o senhor da história? Era o imperador Domiciano de Roma ou o Ressuscitado? A escola joanina, em tempo de perseguição, escreveu o Apocalipse para responder a estas questões pastorais e existenciais de várias comunidades perseguidas. Não se podia falar claro. Era preciso discernimento e prudência. Porém, não se podia ter medo. Era preciso profetizar e anunciar que o Senhor da história era Jesus Cristo, o Ressuscitado.

Palavras-chave: Apocalipse. Perseguição. Ressuscitado. Perse-verança. Profetizar.

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la situação de tribulações. Entraram aqui, no meio de tanta conturbação, o olho, o coração e a cabeça dos “sábios”. Os sábios precisavam ajudar os militantes da resistência a interpretar a história. A figura de Daniel foi marcante nesse momento.

Houve, neste tempo, uma literatura intertestamental (= entre o An-tigo e Novo Testamento), chamada de “apocalíptica judaica”. Os seguintes livros surgiram aí, porém, não estão na Bíblia: Henoc, Livro dos Jubileus, Oráculos Sibilinos, Testamentos dos Doze Patriarcas, Salmos de Salomão, Assunção de Moisés, Ascensão de Isaías, Vida de Adão e Eva, Apocalipse de Abraão, Livro de Baruc, 4 Esdras etc.

Também, ao lado da apocalíptica judaica, surgiu a “apocalíptica cristã”. Parecem-se muito, tanto na teologia como na forma literária. Fo-ram estes textos: em Paulo (1 Ts 4,15-17; 1 Ts 5,1-3.9; 2 Ts 2,1-12); Em Sinóticos (Mc 13; Mt 24; Lc 21); Na carta de Pedro (2 Pd 3,1-13).

Para entender o jeito literário da apocalíptica, é necessário compre-ender que eram literaturas escritas em tempo de perseguição. Se a situação estava tão tensa e a repressão tão violenta, era preciso que a comunicação fosse diferente. Não se podia falar claro e nem em público. Se isso aconte-cesse, os interlocutores podiam ser presos. Então, os apocalípticos criaram linguagens camufladas que eram entendidas por eles e não compreendi-das por quem estava de fora, principalmente, os repressores (FERREIRA, 1991, p. 40-41).

Criaram um estilo chamado “pseudonímio”. Falavam na primeira pessoa e não diziam o verdadeiro nome (Henoc, Moisés, João, Pedro, Pau-lo etc).

Manipularam, literária e teologicamente, o “simbolismo”. Os sím-bolos eram vitais em tempo de perseguição (VANNI, 1982, p. 21-8). O símbolo, sempre, é mais popular. É mais intuitivo. Com o símbolo, os apocalípticos recuperavam a memória do povo (passado) a serviço do momento em que viviam, para animar a luta. Foi assim em Daniel e, tam-bém, no Apocalipse. A linguagem simbólica surgia espontaneamente. Não se podia falar claro. Era perigoso. Podia levar à prisão, tortura e morte. Os perseguidos combinavam as senhas, ou baseadas em textos do Antigo Tes-tamento ou da vida concreta das comunidades perseguidas. Aqueles sím-bolos e imagens abordavam elementos da natureza e do universo (cores, números, coisas da natureza e do mundo animal), elementos da vida e das instituições (coisas da vida, do corpo humano, da cidade de Jerusalém, do templo, do culto, da política) e elementos da Bíblia e da história do povo de Israel. Com isso, a resistência era firme. O que eles falavam,

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simbolica-mente (MESTERS; OROFINO, 2003, p. 370-7)? Apresentamos sosimbolica-mente alguns símbolos:

“Sonhos”: um modo de contacto com Deus e os seres humanos (revelação: Dn 7,1; Dn 4,5).

“Visão”: quem interpretava era a pessoa sábia, algumas vezes, aju-dada por um anjo.

“Abalos sísmicos”: sol, lua, estrelas mudavam de natureza. A terra tremia = era uma expressão da presença de Deus. Estes abalos, quase sem-pre, queriam falar da situação social tensa e perigosa.

“Teriomorfia” (= forma de animal): cordeiro, duas bestas, cavalos etc.

“Aritmético”: sete = totalidade; três e meio = parcialidade; mil = número de Deus; doze = doze tribos de Israel ou doze apóstolos.

“Cromático”: branco = transcendente; vermelho = sanguinário “Dependência do Antigo Testamento”: céu = habitação de Deus; terra = dos homens; abismo: zona do mal.

Existiam centenas de símbolos na apocalíptica. Os leitores precisa-riam discernir as coisas que estavam por trás dos fatos: a batalha entre a justiça e a injustiça, entre a liberdade e a escravidão etc.

Como os apocalipses surgiram nas perseguições, os resistentes procura-vam encarnar a fé, quando a visão da história se tornava confusa. Eram leituras da história a partir dos oprimidos. Os textos apocalípticos, em geral, eram mensagem da esperança para uma época, profundamente, conflitual. Queriam suscitar nos perseguidos a “mística da fé” e a resistência contra os perseguido-res (FERREIRA, 1991, p. 41). Procuraram fazer uma releitura dos fatos para animar os que podiam perder o sentido da história e da vida. Não podiam ter medo. Tinham que manter a esperança comunitária.

O LIVRO DO APOCALIPSE

Entremos, agora, no nosso livro do Apocalipse! Houve um impe-rador romano, chamado Domiciano. Ele imperou o mundo da época de 81-96 depois de Cristo. Domiciano foi terrível. Durante a expansão do império romano, nos níveis econômicos, militares e geográficos, houve perseguições duríssimas contra os cristãos. Muita tortura, muita morte. Diante dessa situação tão tensa, os cristãos perguntavam aos líderes da épo-ca: “quem é o senhor da história, é o imperador romano ou é Jesus Cristo”?

As lideranças (João) precisavam dar respostas que tirassem os cris-tãos do desespero e do medo. De fato, neste tempo, o imperador e o

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im-pério assustavam e intimidavam. No início, os líderes cristãos elaboraram várias apostilas e enviaram aos coordenadores das comunidades. Só depois, estes textos foram ajuntados para formarem o atual livro do Apocalipse. Atenção! Se os cristãos estavam sendo procurados e perseguidos, era neces-sário animar a estes e às suas famílias, usando uma “linguagem diferente”. Por quê? Se os “informantes” ou policiais secretos de Roma encontrassem os textos escritos, não iriam entender o que estava escrito. Achariam tudo muito estranho. Porém, os cristãos criaram “senhas” para se entenderem.

O Apocalipse, então, foi escrito, em linguagem camuflada, cheia de símbolos e metáforas que os cristãos entendiam e os perseguidores não. O que o livro queria anunciar? Que os cristãos não precisavam ter medo, porque o Senhor da História era Jesus Cristo Ressuscitado que estava vivo e presente no meio das comunidades (GORGULHO e ANDERSON, 1977, p. 29-33).

O livro foi elaborado para ser lido por toda a Igreja perseguida. Ele fala de sete igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia (VANNI, 1982, p. 75-9). Elas simbolizavam todos os grupos cristãos espalhados pelo extenso império romano1.

Roma perseguidora: de um lado, o livro do Apocalipse analisou a conjuntura da época para os cristãos entenderem a força dos perseguidores. Nesta análise, era preciso entender a importância da palavra “ideologia”. Era a defesa dos interesses do império. Usando linguagens metafóricas, o Apocalipse foi refletindo e denunciando a ideologia que mantinha o po-der e que sustentava ser o imperador de Roma o senhor da história. Este se definira como “deus” (Ap 13,4). Todo o sistema mundial, que era um modo de produção escravagista, deveria se inclinar para ele (FERREIRA, 2011, p. 208-9).

O imperador exercia um poder coercitivo sobre os povos domina-dos. Lembremos que os povos dominados moravam onde hoje é toda a Europa e a atual Ásia Menor. Estes se sentiam impotentes diante da força imperial. O império que escravizava, era, também, um sistema assassino. Os povos dominados deveriam manter os indefiníveis gastos do império. Se os submissos não se rebelassem, viveriam na “paz romana”, sem pressão. Porém, se questionassem qualquer postura do governo, seriam reprimidos. É nesse contexto, que o Apocalipse relata que os súditos deveriam se pros-trar diante do imperador (Ap 13,4.8). Era o endeusamento de Domiciano. Este era o papel da ideologia: endeusar o imperador e criar uma ideologia simpática sobre sua pessoa. É isto que significam as duas “bestas” do

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apo-calipse. Uma besta era o homem (imperador) e a outra era a propaganda que o sustentava.

No momento em que se divinizava a figura de Domiciano, a terrível situação de violência era escondida. As consciências humanas eram amor-tecidas. Criava-se uma “psicose de medo”, onde os súditos perdiam suas consciências críticas e, portanto, a ideologia se tornava mortífera. O siste-ma de controle era competente (Ap 13,16-17). Rosiste-ma se acercara dentro de uma extraordinária força militar, de grupos eficientes nos níveis econômi-cos e financeiros. Eram os magnatas que o Apocalipse (Ap 18) denunciara como sustentáculos do império.

Qual era a prática do império (FERREIRA, 2011, p. 208-9), con-forme a análise do Apocalipse?

• O livro falou de uma trilogia terrível: o Dragão (mal que corrói) e duas bestas, isto é, o imperador e a ideologia que o sustentava (Ap 12,3-17; 13,1.11.18): era o reino do mal.

• Era habitual a prática da idolatria, inclusive do imperador. Ele se auto-divinizou (Ap 13,8; 14,9.11).

• Os habitantes do império bajulavam o imperador (Ap 13,3.7-8). • Quem servia o império, seguia a besta (Ap 13,3) e o adorava como ao

dragão (Ap 13,4).

• O dragão guerreava contra a mulher (Ap 12,3-9).

• A história do dragão era perseguir constantemente (Ap 12,3ss). • A besta também persegue porque está no projeto do dragão (Ap 11,7). • Os seguidores da besta faziam festa com a perseguição (Ap 11,10). • O império julgava, ditatorialmente, praticando a injustiça. • Os adoradores da besta estavam se autocondenando (Ap 14,9-11). • O número da Besta é 666. Decodificando, significava o “imperador

Domiciano” que ampliou as perseguições de Nero.

• O 1º sinal do apocalipse era o dragão destruidor (Ap 12,3ss).

• A grande e definitiva derrota da Babilônia (Roma) que blasfemava e servia aos ídolos (Ap 16,17-22,5).

• As forças do mal (dragão) seriam derrotadas: reis, mercadores, pilotos, navegadores, marinheiros (Ap 19,11-21).

• Os opressores seriam condenados na morte definitiva.

Igreja perseguida: do outro lado, porém, estavam aqueles que per-guntavam às lideranças: quem é o senhor da história? A pergunta tinha um fundo de insegurança, de medo, de desesperança. Afinal, se numa família, alguém tinha sido torturado ou morto, era de se esperar esta tensão

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exis-tencial. E agora? A situação vai continuar? Iriam todos seguir os passos dos presos, torturados e mortos? Valia a pena correr o risco? Eram questões inquietantes e conflituais. A Igreja perseguida “chorava” porque não con-seguia ler a conjuntura (Ap 5,3-4). As lideranças (João) das igrejas do sofri-mento precisavam agir. Precisavam reverter a mentalidade e a consciência grupal dos fiéis. A fé destes estava claudicando.

Eram os cristãos quem interrogavam a respeito da força do impe-rador e da aparente ausência do Ressuscitado (FERREIRA, 2011, p. 208-10). Eles tinham um histórico interessante. Ao proclamarem a fé em Jesus Cristo, ao mesmo tempo, defendiam a igualdade contra o sistema escrava-gista (Gl 3,28). Buscavam, de fato, a liberdade num império autoritário. Agora, como conseqüência disto, tornaram-se vítimas da violência do po-der imperial.

As lideranças (João) vieram responder aos fiéis, em crise, que o Se-nhor da história era Jesus, o Ressuscitado (Ap 4-5). O texto diz que um dos anciãos consolou a Igreja para dar sentido ao momento tenso (Ap 5,5-8). Vieram gritar que a história não era propriedade do imperador de Roma. O Cordeiro, que havia sido assassinado, estava vivo. Era preciso anunciá-lo. Agiam pelo testemunho e pela Palavra (1,9; 11,1-13; 14,12-13; 15,12). As lideranças não podiam deixar apagar o fogo da lenha. Faziam um apelo para a autenticidade no testemunho. Era preciso viver intensamente a fé, apesar de tudo (7,13-14; 19,9).

O que os coordenadores das comunidades sugeriam? Que era pre-ciso nivelar por cima. O Apocalipse usa o verbo “subir”. Os perseguidos precisavam sair do nível de baixo. Como? Subindo até o céu para poder ler as tragédias que o sistema romano estava fazendo contra os cristãos. As comunidades perseguidas necessitavam “subir” para o nível de Deus para superarem o desespero. Continuariam nas cidades (Éfeso, Esmirna, Pér-gamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia) e, ao mesmo tempo, no nível de Deus. Isto é, todos os cristãos se ajudando, na tática da boa prudência e paciência, num grande esforço para manterem a fé, deviam superar os momentos trágicos e lerem a vida com os olhos do Espírito de Deus (Ap 2,7. 11. 17. 29; 3,6. 13. 22).

Quando os perseguidos “sobem”, têm uma “visão” (Ap 4,1). É o nivelar “por cima”. “Ver” significa “crer”, decididamente. Nesta visão do trono de Deus e do Cordeiro, eles vêem e compreendem que Deus está presente. Está Vivo. Deus participa com os seus preferidos e os defende. Entendem que Ele venceu a morte e vencerá o império assassino. Vendo, por cima, os cristãos leram os momentos difíceis, no nível de Deus. Agora

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sim. A igreja perseguida perseverará porque “vê” (visão) Deus se manifes-tando na história e revelando o seu projeto. Com esta nova mentalidade, a resistência se tornou significativa porque, desde então, os resistentes viam o plano de Deus como serviço, justiça, amor e paz.

Era preciso proclamar o Reino do Cordeiro e denunciar as arbitra-riedades da polícia do império (Ap 12-13 e 17). Os cristãos, dentro do pro-jeto, precisavam exercer a missão de anunciadores de Jesus e denunciadores das injustiças (Ap 10,11). Deviam ser, sempre, profetas (MAZZAROLO, 2000).

Qual foi o projeto do Apocalipse à Igreja perseguida (FERREIRA, 2011, p. 211-12)?

• Só se devia adorar ao Deus da Vida (Ap 19,10). É um Deus Trindade, do amor e da justiça. A pessoa do Cordeiro (Filho) Ressuscitado foi acentuada.

• Os cristãos deviam celebrar e adorar (Ap 4,8.10.11; 5,8;19,10). O Apo-calipse foi escrito para ser rezado. Tem vinte e cinco orações. Vivendo a mística, precisavam servir (Ap 7,15) e testemunhar (Ap 1,2.9; 6,9). • Os cristãos, como irmãos e companheiros, deviam perseverar (Ap

15,12) no testemunho e na Palavra (Ap 1,2.9).

• Se anunciassem o Cordeiro, seriam, possivelmente, assassinados (Ap 11,7; 13,10) e perseguidos (Ap 12,13-18). Porém, pela perseverança, seriam purificados pelo sangue do Cordeiro (Ap 7,14).

• Quem servisse a Deus seguiria o Cordeiro (Ap 14,4) e o adoraria (Ap 4-5).

• Deviam viver no companheirismo na perseguição, na realeza e na per-severança (Ap 1,9).

• A Igreja perseguida e perseverante era assinalada (Ap 7,4-8; 14,1). Eram todos os que davam testemunho (144 000= 12 x 12 x 1000): um número ilimitado.

• Os resistentes, pelo sangue do Cordeiro, iriam vencer o dragão (Ap 12,11).

• Quem perseverasse, vivendo os mandamentos, a fé e as obras seriam felizes porque morreriam no Senhor (Ap 14,12-13). Não podiam ter medo (Ap 2,10).

• Deus julgava, a partir da justiça (Ap 6,10; 19,11). O julgador tinha um nome: Verbo de Deus (Ap 19,13), Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap19,16).

• O 2º sinal, isto é, a Mulher simbolizava a resistência (Ap 12) e o 3º sinal o julgamento definitivo (Ap 15-16) por parte de Deus.

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• O “grande dia” da consumação final (Ap 16,17-22,5) deveria ser com-preendido como a vitória e a salvação, ou seja, as núpcias do Cordeiro com a igreja perseverante (Ap 19).

• A vitória do Cristo: os convidados (perseverantes na perseguição) parti-cipariam do banquete e, por isso, eram felizes (Ap 19, 11-21).

• A libertação dos perseguidos se realizaria na Jerusalém celeste, isto é, na Vida definitiva (Ap 20).

• O Apocalipse foi escrito para animar os perseguidos a fim de testemu-nharem o Senhor da História, o Ressuscitado Vivo e presente no meio da Igreja.

Finalizando, é importante que você, leitor(a) compreenda algumas coisas importantes sobre este livro. O Apocalipse não estava falando de “fim de mundo”. Eventualmente, ele tinha que abordar questões sobre a morte, os assassinatos da polícia romana, as tribulações, os julgamentos dos cristãos e do sistema que escravizava e matava etc. Porém, o obje-to principal do livro era ajudar a comunidade perseguida a continuar, na perseverança, a testemunhar o Ressuscitado. Os perseguidos não podiam desesperar-se e amedrontar-se. O livro do Apocalipse foi fruto de uma longa elaboração de comunidades profundamente conscientes seja nos ní-veis teológicos e bíblicos, como nas esferas políticas, ideológicos, sociais, culturais, econômicas, militares etc.

Os escritores e leitores do Apocalipse não eram ingênuos ou “bo-bos”. Participavam, intensamente, em uma sociedade alternativa, chama-da Igreja. Esta se colocava em atitude antagônica ao sistema escravagista romano que criou desigualdades em todos os níveis e assimetrias injustas. O livro conclamou à fé no Cordeiro (Ressuscitado), à perseverança nas tribulações (RICHARD, 1996), ao testemunho à Palavra (Jesus) e à pro-fecia (anunciar o Evangelho e denunciar as desigualdades). Por isso, para dar força aos soferentes, o Apocalipse intercalou dezenas de orações, quase todas tiradas do Antigo Testamento, para oxigenar a fé comunitária e resis-tente dos perseguidos. As comunidades rezavam em tempo de perseguição. A Igreja precisava testemunhar apesar de “as vidas dos mártires estarem sob o altar, por causa da Palavra de Deus e do testemunho” (Ap 6,9). O teste-munho era o motor das comunidades. O combustível eram as orações que não deixavam o carro parar ou quebrar. As orações, que estão dentro do livro do Apocalipse, mostram como aqueles fiéis a Jesus Cristo celebravam a “liturgia da vida”. Na mística pessoal e comunitária, os cristãos foram fortes na resistência ao império romano que perseguia, prendia, torturava e matava (VANNI, 1982, p. 98-103). Os cristãos, apesar das adversidades,

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conclamaram que “digno é o Cordeiro imolado (Jesus) de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor” (Ap 5,12). APOCALYPTIC CHRISTIANS IN EARLY

Abstract: who was the lord of history? It was the emperor Domitian of Rome or the Risen? The Johannine school, in time of persecution, wrote the Apoca-lypse to answer these questions pastoral and existential of several communi-ties persecuted. One could not speak clearly. It was necessary discernment and prudence. However, it could not be afraid. It was necessary to prophesy and proclaim that the Lord of history was Jesus Christ, the Risen One.

Keywords: Apocalypse. Persecution. Raised. Perseverance. Prophesy.

Nota

1 O grande nome da exegese mundial que apresentou à Academia um esquema lógico da estrutura literária do Apocalipse, baseada em vários setenários, foi Ugo Vanni (1971), professor do Pontificio Istituto Biblico di Roma.

Referências

FERREIRA, Joel Antônio. Paulo, Jesus e os Marginalizados: leitura conflitual do Novo Testamento. 2. ed. Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2011.

FERREIRA, Joel Antônio. Primeira Epístola aos Tessalonicenses. Petrópolis: Vozes, 1991. (Comentário Bíblico).

FERREIRA, Joel Antônio. Sociologia da Comunidade de Tessalônica. Estudos

Bí-blicos, n. 25, 1990.

MAZZAROLO, I. O Apocalipse de São João – Exoterismo, profecia ou resistência? Rio de Janeiro: Mazzarola, 2000.

MESTERS, C.; OROFINO, F. Apocalipse de São João: a teimosia da fé dos peque-nos. Petrópolis: Vozes, 2003.

RICHARD, Pablo. Apocalipse – Reconstrução da Esperança. Petrópolis: Vozes, 1996.

VANNI, Ugo. Apocalisse. 3. ed. Brescia: Ed Queriniana, 1982.

VANNI, Ugo. La Struttura Letteraria dell’Apocalisse. Roma: Herder, 1971.

* Recebido em: 10.11.2010. Aprovado em: 28.11.2010.

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** Professor titular da PUC Goiás, lecionando no Doutorado e Mestrado em Ciências da Religião e na Graduação da mesma Universidade.

Referências

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