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A história da Revista do Serviço Público a partir da análise dos seus editoriais

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RSP

E N S A I O

A

HISTÓRIA DA REVISTA DO SERVIÇO

PÚBLICO A PARTIR DA ANÁLISE DOS

SEUS EDITORIAIS

T a n ia M e zzo m o K e in e rt J o s é C a rlo s V a z

Introdução

objetivo deste artigo é ap ro ­ f u n d a r o e n te n d i m e n t o d a trajetória da Revista do Serviço P ú b lic o , tra z e n d o n o v o s e le ­ m entos p ara análise do papel da publicação. Faz parte de projeto de p esqu isa mais am plo, voltado à r e c o n s t it u iç ã o d o c a m p o conhecim ento em adm inistração pública no Brasil. São p reo cu ­ pações da pesquisa a natureza, a discip lin arid ad c, os paradigm as, a evolução e as tendências d a a d m in is tra ç ã o p ú b lic a no Brasil.

A pesquisa ad o to u com o objeto em p írico a p ro d u çã o brasileira cm a d m in is tr a ç ã o p ú b lic a . Inicialm ente analisou-se aquela p u b l ic a d a n a R ev ista d e Adm inistração Pública (RAP) no p erío d o en tre 1967 e 1992.1

A

valiação da trajetória d a RSP através da análise de co nteúdo de seus editoriais no período 1937-1989.0 artigo visa com plem entar o anterior - uma análise quantitativa -

trazendo novos elem entos, desta vez qualitativos, para a análise do papel da publicação na evolução do pensam ento adm inistrativo brasileiro. Receberam d estaq u e os tem as p rio rita ria m e n te abordados pelos editoriais da Revista: DASP, Reform a A d m inistrativa, Re­ cursos Humanos e a própria publicação. As conclusões desta etapa da pesquisa a c o m p a n h a m , d e m a n e ira g e ra l, aquelas an teriorm ente apresentadas, refletindo a transformação dos estudos so b re o E stado b ra s ile iro , d e um a abordagem técnico-burocrática para u m a te n ta tiv a d e im p la n ta ç ã o d e políticas públicas.

Na fase atual está sendo realizada a análise da Revista do Serviço Público, desde sua fundação, em 1937, até o ano de 1989, quando sua publicação foi interrom pida.2

1 - Ver MEZZOMO KEINERT, T. M. & LAPORTA, C.B. “A RAP e a Evolução do Campo de Administração Pública no Brasil (1967-1992)", Revista de Administração Pública,

(28)1:5-17, janeiro-março de 199'í. RJ. FGV.

2 - A Revista foi lançada em novembro de 1937, como órgão do Conselho Federal do Serviço Público Civil (CFSPC). Em 1938, com a criação do D epartam ento Administrativo do Serviço Público (DASP), cm substituição ao CFSPC, passou à condição de órgão ofici­ al do departam ento. No período 1981-1989 foi publicada pela FUNCEP- Fundação Cen­ tro de Form ação do Servidor Público. Na fase atual, iniciada neste ano (1994), suapubli- caçào está sob responsabilidade da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP).

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Tania Mezzomo Keinert / José Carlos Vaz

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m a rtig o a n te r io r , foi a p re se n ta d a um a recons­ titu iç ã o h istó ric a da trajetória da Revista, com base na p r o d u ç ã o n e la p u b lic a d a , destacando as características por ela assum idas em cada período, a lé m d o p a p e l c u m p rid o na ev o lução d o cam po d e c o n h e ­ cim ento em administração. Esta a n á lis e to m o u co m o b a se a classificação do s artigos p u b li­ cados cm termos de fo cu s e locus - instrum ental teórico utilizado e o b je to e m p íric o a n a lis a d o , respectivam ente.5

Este artigo tem caráter com ple­ m e n ta r ao p rim eiro. Foi eleita c o m o m e to d o lo g ia p a ra su a elaboração o estudo de um a das p r in c ip a is fo n te s p rim á ria s d is p o n ív e is - os e d ito r a is da Revista - o n d e se a p re s e n ta o posicionam ento oficial daqueles q u e d irig em a p u b licação . Foi realizada, portanto, uma análise d e c o n te ú d o , c o lo c a n d o em evidência as falas dos editores. Face ao papel central desem pe­ nhado pela Revista na evolução do c a m p o d e c o n h e c im e n to em Administração Pública no Brasil, o artig o se d e té m nos principais tem as a b o rd a d o s pela Revista, c o n fo rm e a n á lise ex p re ssa no artigo anterior.

A estruturação do artigo tom ou como base esses temas na forma das opiniões emitidas pela Revista - através de seus editoriais - sobre si p ró p ria , s o b re o DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), sobre a Reforma Administrativa e sobre Recursos Humanos. Sua seleção deveu-se à relevância em relação ao objeto da pesquisa e à forte presença nos editoriais (e artigos) da Revista do Serviço P ú b lico . Ao lo n g o d o período 1937-1989, esses temas são constantem ente abordados. O DASP, p e lo seu p a p e l na estruturação do Estado brasileiro pós-1930 e po r ser o responsável pela publicação na m aior parte do tem p o , receb e da Revista um a g ra n d e a te n ç ã o . A re fo rm a a d m in is tra tiv a (o u os v á rio s p ro c e s s o s d e re fo rm a a d m i­ nistrativa parcialmente realizados) e recursos humanos são dois temas q u e a p re s e n ta m u m a lig a ç ã o m u ito s ó lid a com o DASP, principal instrum ento do Estado p a ra p ro m o v e r a re fo rm a ad m in istrativ a e m o d e rn iz a r a a d m in is tra ç ã o d e r e c u rs o s hum anos no setor público. As c o n c lu s õ e s d e s ta e ta p a d a p e s q u is a , a q u i a p r e s e n ta d a s , contribuem para o seu objetivo geral, fornecendo novos indica­ tivos para o estudo do papel da

- MEZZOMO KEINERT, T. M. & VAZ, J. C. "A Revista do Serviço Público no Pensa- m ento Administrativo Brasileiro (1937-1989)”, Revista do Serviço Público janeiro-julho de 1994, Brasília, ENAP.

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Revista d o Serviço P ú blico na e v o lu ç ã o d o c a m p o d e conhecim ento em administração pública.

A Revista do Serviço Público fa la de si m esm a

Revista do Serviço Público s u rg e c o m p ro m e tid a com o ob jetiv o d o g o verno Vargas de im plantação de um novo m odelo d e E stado, com cap acidad e de c u m p rir as novas tarefas a ele d e s tin a d a s n o p ro c e s s o d e in d u s tria liz a ç ã o d o p aís. Esse com prom isso será intensam ente a s s in a la d o p e lo s e d ito r e s da Revista, principalm ente ao longo do s p rim eiro s p erío d o s d e sua ex istê n cia (1937-1945 e 1946- 1964)/*

Em seu p rim e iro e d ito ria l, em 1 9 3 7 , a R ev ista a s s in a la “o aparecim ento d e um a técnica de serviço p ú b lico ” e se apresenta com a m issão de co n trib u ir para a fo rm a çã o d o fu n c io n a lism o público cm função do aum ento d a e f ic iê n c ia d o tr a b a lh o realizado:

“Pela leitura regular desta Revista, todos os servidores d o E stad o p o d e rã o [...]

desenvolver [...] a m enta­ lidade adequada a habilitá- los não só ao exercício mais eficiente de suas funções, c o m o m esm o a s u g e r ir

in o va çõ es ú te is ao a p e r ­

fe iç o a m e n to d o se rv iç o público” (RSP, ano I, vol. I, n ° l, novem bro de 1937, o g rifo n ã o c o n s ta d o original).

Os primeiros editoriais baseiam-se, com freqüência, nos princípios da administração científica, referindo- se a a u to re s clássicos com o Willoughby, White e PGffner.5 Assim , afirm am q u e a a d m i­ nistração pública deve ser exercida co m o té c n ic a c ie n tífic a , p r o ­ clamando sua neutralidade. Em abril de 1946, no entanto, o editorial comunica um a m udança de orientação da Revista. O corre u m a te n ta tiv a - tím id a - d e incorporar a discussão política na Revista. O a n tig o e “adm irável clim a n e u tr a l ” vem a s e r substituído pela pretensão em ser

“um espelho vivo do nosso E x ecu tivo, r e f le tin d o d ire triz e s , té c n ic a s e aspirações, o ferecendo-se lis a m e n te ao im p a c to

4 - Foi adoiada aqui a mesma periodização utilizada para a análise dos dados obti­ dos na prim eira fase da pesquisa: 1937-1945. 1946-1964, 1965-1979 e 1980-1989. Para uma justificativa desta periodização, ver MEZZOMO KEINERT & VAZ, op. cit.

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p a rla m e n ta r, fa c ilita n d o assim o an siad o con tro le b ic a m e ra l, q u e p o d e rá cercear-lhe arroubos, mas lh e d iv id irá as r e s p o n ­ s a b ilid a d e s . [...] A ntes é ra m o s o ó rg ã o d o fu n c io n a lis m o p ú b lic o , v iv e n d o e x c lu siv a m e n te dele e para ele. Daqui além, graças à recom posição de n o sso s q u a d ro s g o v ern a­ m e n ta is , p ro c u ra re m o s alargar o antigo âmbito da Revista do Serviço Público, d irig in d o - n o s c o n s c ie n ­ tem e n te para três grupos d is tin to s : u m a c lie n te la g e ra l, o p ú b lic o ; um a c lie n te la e sp ec ífic a, o fu n c io n a lis m o ; e um a c lie n te la esp ecial, o Par­ la m e n to .” (RSP, a n o IX, vol.II, n° 1, abril de 1946). Já há um g ru p o razoavelm ente e x te n s o a q u e m in te re s s a a reflexão so b re tem as da ad m i­ n is tr a ç ã o p ú b lic a . A Revista procura dirigir-se também a esse grupo, sem abandonar sua tarefa d e fo rm a ç ã o d o s se rv id o re s públicos. Adaptando-se à redemo- cratização após o Estado Novo, estabelece um discurso baseado em idéias democráticas. Com isso,

abre espaço para divergências em s u b s titu iç ã o à u n a n im id a d e anteriorm ente preponderante. P aralelam en te, verifica-se um processo de sofisticação d e seus tem a s: vai se r e d u z in d o a preocupação com atividades de organização administrativa básica (p a d ro n iz a ç ã o d e m a te ria is , recursos hum anos, datilografia) e g a n h a m e s p a ç o a rtig o s m ais aprofundados, já se iniciando um a p ro d u ç ã o teó rica n a c io n a l em administração pública.6

Nesse m esm o m o m en to o co rre um a m u d an ça d a e s tru tu ra da Revista, com o acréscimo de seções d e stin a d as a textos d e a u to re s estrangeiros, Administração Local; História Administrativa do Brasil; O rç a m e n to ; O rg a n iz a ç ã o (n a verdade, Organização & Métodos); Administração de Pessoal; Seleção e A perfeiçoam ento d e Pessoal; Direito e Jurisprudência. A Revista ac o lh e , e n tã o , u m a p r o d u ç ã o n a c io n a l e m e rg e n te em a d m i­ n istraç ã o p ú b lic a , em g ra n d e p a rte re p re s e n ta d a p o r jovens autores ligados ao serviço público, a lg u n s d o s q u a is r e c e b e n d o formação nos Estados Unidos.7

6 - A título de exemplo para essa comparação, ver BERJLINK. E. L. "A Padronização dos Papéis de Expediente", (RSP, ano I, vol. I, n° 1, novembro de 1937) e FURTADO, Celso M., "Teoria do D epartam ento de Administração Geral" (RSP, ano D(, vol. U, n° 2 ,

maio dc 1946).

7 - Por exemplo. Celso Furtado, Benedicto Silva, Beatriz Warlich, G uerreiro Ramos, en tre outros.

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ssa crcsccnte sofisticação da produção vai levar a Revista, em 1963, a rea liz a r um a tra n s fo rm a ç ã o na su a lin h a editorial. Se antes as páginas da Revista estavam

“a b e rta s a to d o s os funcionários públicos e a todos os estu d iosos, sem exigência outra que não a da serenidade dos trabalhos d e s tin a d o s à im p re ssã o ” (RSP, ano XXI, vol.79, n° 1, abril de 1958. O grifo não consta do original)

e a Revista tinha circulação mensal, ela passa a ter circulação trimestral e am plia o nível de exigência dos a rtig o s p u b lic a d o s . A Revista com unica a m udança através de u m e d ito r ia l s u g e s tiv a m e n te intitulad o “Menos Volume, Mais Q ualidade”:

“Nosso objetivo é fazer da RSP um ó rg ão (...) rec o ­ nhecido e acatado como tal p o r d ireto res, assessores, técnicos de administração, enfim, po r toda a classe dos q u e p a rtic ip a m no c o m p le x o p ro c e s s o de fo rm u la r p o lític a s , s e le ­ cionar objetivos e dirigir a administração dos negócios públicos” (RSP, ano XXIV, vol. 91, n° 1,2,3, abril a junho de 1963). As alterações na estrutura ou na a p re s e n ta ç ã o d a R evista são s e m p re e x ib id a s p e lo s se u s e d ito r e s , n o s d o is p r im e ir o s períodos, como resultado de uma constante busca de um a m oder­ n id a d e c u jo p a râ m e tr o é a experiência e a produção científica e s tra n g e ira , n o ta d a m e n te d o s Estados Unidos. Uma m udança de formato é, portanto

“u m a a d e q u a ç ã o às e x ig ê n c ia s da vida m oderna” (RSP, ano XVH, vol. 66 , n° 1, jan eiro de

1955).

Novas form as d e classificação, apresentação ou de num eração são mostradas como

“o mais m oderno m étodo” (idem).

ou como acom panhando

“a evolução dos recu rso s té c n ic o s d e q u e se têm s e rv id o as m e lh o re s publicações e stra n g e ira s” (RSP, ano XXI, vol.79, n° 1, abril de 1958).

A id é ia d e se c o n s ti tu i r n u m in stru m e n to d e ligação com o m oderno continua p resente nos editoriais do terceiro período de vida da Revista do Serviço Público, que se apresenta:

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“reafirm ando suas virtua- lid a d e s co m o fa to r d e m odernização institucional e a p rim o ra m e n to d o s recursos hum anos engaja­ dos na epopéia quotidiana d o d e se n v o lv im e n to n a ­ cional.” (RSP, vol. 108 , n° 3, setem bro a dezem bro de 1973).

Entretanto, a Revista já não dispõe do m esm o prestígio de vinte ou trin ta an o s atrás. Em 1974 sua p u b lic a ç ã o é in te rro m p id a . O editorial do últim o núm ero desse p e río d o , p a ra d o x a lm e n te in ti­ tu la d o “Novas D im en sõ e s e P ersp ectiv as para a Revista do S erv iço P ú b lic o ”, a p e s a r de m encionado no índice, não está presente na Revista. Em seu lugar, foi colocada a seguinte nota, sem nenhum outro comentário:

“O editorial foi retirado por não refletir a orientação da d ire ç ã o geral d o DASP.” (RSP, vol. 109, n° 2, abril a junho de 1974).

Q uando a Revista foi relançada, em 1981, passou a ser publicada pela FUNCEP, órgão para o qual grande

parte das funções rem anescentes d o DASP fo ra m tra n s fe r id a s , e s p e c ia lm e n te fo rm a ç ã o d e servidores.8

A Revista, em seu quarto período (1981-1989), volta-se novam ente p a ra o p ú b lic o i n te r n o - o funcionalism o. E ntretanto, cabe re s s a lta r q u e o fu n c io n a lism o público nos anos 80 é bastan te diferente d aq u ele dos anos 30, para quem a Revista inicialm ente se dirigiu. Já existe a figura do “executivo de Estado” - o adm i­ nistrador público profissional - e um num eroso corpo de técnicos atua nas adm inistrações direta e in d ir e ta . C om o a fase d e e stru tu ra ç ã o a d m in istra tiv a d o Estado em seus aspectos básicos já estava concluída há m uito tem po9, as necessidades de informação e form ação do fu n cion alism o a s­ sumem um novo caráter. A Revista percebe e reflete essa diferença:

“A exigência m eritocrática reclama, na atualidade, que o s e rv id o r p ú b lic o d e s c o r tin e h o r iz o n te s científicos e hum anísticos cada vez mais complexos e inter-relacionados, a fim de

- Para uma análise mais aprofundada da trajetória do DASP, ver MARCEUNO, G. F.

Evolução do Estado e reforma administrativa,

Brasília, ALAP/SEDAJP, 1987; ANDRADE, A.

Contribuição à história administrativa do Brasil,

Rio de Janeiro, José Olímpio Ed., 1950; BITTENCOURT, C.

DASP: como um imperativo democrático e técnico,

Brasília, Serv. de Documentação do DASP, 1966; SIEGEI., G. B.

The vicissitudes o f government

and reform in Brazil: a study o f the DASP,

Ann Arbor, Xerox Univ. Microfilms, 1975 (tese - Univ. Pittsburgh,

1964);

Brasil. D epartam ento Administrativo do Serviço Público, Rio de Janeiro, 1930, 19-Í4.

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p e rm an ecer fam iliarizado com as p rin c ip a is in o ­ vações d e n o sso te m p o .” (RSP, ano 38, vol. 109, n° 4, o utu bro a dezem bro de

1981, o grifo não consta do original).

Ao c o n tr á r io d o s p e río d o s a n te rio re s, a form ação d e se r­ v id o re s é vista de form a m ais ampla, e não som ente limitada aos aspectos técnicos em estrito senso. E ntretanto, não deixa de lado, nessa nova fase, o servidor q u e n ã o faz p a rte da e lite intelectual, pois:

“A R evista d o Serviço Público ressurge inspirada p e la c o n s c iê n c ia da crescen te n ecessidade de m anter a função pública cm c o n ta to r e g u la r com a n á lis e s o b je tiv a s, em

lin gu ag em acessível, dos

g ra n d e s tem a s p o lític o - a d m in istra tiv o s de nossa época.” (idem, o grifo não consta d o original).

Ao longo deste quarto período, a Revista continua sem pre voltada ao fu n c io n a lis m o . Ao m esm o tem p o q u e p ro c u ra a p re se n ta r c o n tr ib u iç õ e s d e a u to r e s de qualificação intelectual reconhe­ cida, preocupa-se em ser

“rica em ilu s tra ç õ e s e didática no conteúdo” (RSP,

novem bro c dezem bro de 1985).

A Revista do Serviço Público, ao fala r d e si p r ó p ria , p ro c u r a transmitir, sempre, a idéia de uma publicação voltada à divulgação d e p r o d u ç ã o d e p o n ta em administração pública. À m edida que ocorre um desenvolvim ento d o cam po de c o n h e cim e n to , a Revista p ro cu ra acom panhá-lo, sem p re se c o n s id e ra n d o p a rte im p o r ta n te d e ssa tra je tó ria . P ro c u ra fazê-lo m a n te n d o -s e voltada à missão de formação do funcionalismo público, caracte­ rística constante dos órgãos aos quais esteve ligada.

O DASP na Revista do Serviço Público

Revista do Serviço Público procura sem pre destacar o DASP com o m o d e rn iz a d o r d a a d m i­ nistração p ública cm to d o s os a s p e c to s , le g itim a n d o su a existência e suas atribuições junto ao p ú b lic o le ito r . C o m o publicação oficial do órgão (até passar a ser editada pela FUNCEP, em 1981), p rin c ip a lm e n te n o período 1937-1945 e no período 1946-1964 ela se e m p e n h a em d iv u lg a r su a s a tiv id a d e s e o p in iõ e s . Serve, tam b é m , d e instrum ento nos embates políticos po r ele travados com segm entos da sociedade e do governo.

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D efendendo a criação d o DASP, em 1938, a R evista - q u e o precedeu em um ano - o apresenta com o peça fundam en tal para a construção do “arcabouço político d u rad o u ro ” para o país proposto pelo Estado Novo. Afirmando que “governar é adm inistrar”, defende que

“o s u c e s s o d e q u a lq u e r programa governamental se a ch a la rg a m e n te c o n d i­ cionado à eficácia da ação administrativa”. (RSP, ano I, vol. III, n ° 2, ag o sto d e

1938).

A m u d an ça de m en talid ad es

Além d a s a tiv id a d e s v o lta d a s d ire ta m e n te à reorg an ização e m odernização administrativa do Estado, a Revista aponta uma outra m issã o d o ó rg ã o , v o lta d a à prom oção de mudanças de caráter c u ltu ral. Assim, podem os dizer que o Estado Novo utiliza-se da Revista e d o DASP para operar uma m udança não só de técnicas e da o rg a n iz a ç ã o d o E stad o , mas ta m b é m d e m e n ta lid a d e , ao ressaltar

“a p o d e ro s a in flu ê n c ia psicológica exercida pela obra do DASP, tanto entre os servidores do Estado (...)

com o e n tre o público em geral [...]. Aí está, também, a influência exercida pelo DASP nas ad m in istraçõ es regionais, m uitas delas já se pautando pelas norm as de a d m in istra ç ã o geral a d o ­ tadas no serviço federal, por se re m , d e fato , as re c o ­ m endadas pela doutrina e pela prática.” (RSP, ano V, vol. IV, n° 3, dezem bro de

1942).

A Revista do Serviço Público, dessa forma, contribui para as atividades d e p ro p a g a n d a d o g o v e rn o d ita to rial d e G etú lio Vargas. É im portante, inclusive, observar a constante referência às figuras dos p re s id e n te s da re p ú b lic a e do DASP. Entretanto, mesmo depois d o final d o E stad o Novo essa te n d ê n c ia p ro s s e g u e , p r in c i ­ p alm e n te n o s e g u n d o p e río d o (1946-1964).10

O DASP como centro de Poder

Com o crescim ento dos poderes d o DASP, a R evista a firm a , referindo-se a ele, que seu

“c re s c im e n to n ã o se processou pela absorção de novos e n c arg o s m as p o r uma extensa penetração de

10 - Nota: a título de exemplo vide RSP, ano VI, vol. U, n° 2, maio de 1943, para o prim eiro período, e RSP, ano XXII, vol. 84, n° 3, setem bro de 1959, para o período seguinie.

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suas atividades no campo da política a que se propôs dar c o n teú d o real.” (RSP, ano VI, vol. I, n° 1, dc 19*f3). Em janeiro dc 19-16, com a retirada das funções executivas do DASP, transformando-o em um “órgão de e s tu d o e o rie n ta ç ã o da a d m i­ n is tr a ç ã o d o serv iço c iv il”, o ed ito rial se posiciona de forma cautelosa, dizendo, inclusive, que a Revista não tem como atribuição e s ta b e le c e r ju lg a m e n to s ou c o m p a ra ç õ e s e n tr e a fase d o E stado Novo e a fase d e rede- mocratização posterior a 19-15. O te x to afirm a q u e à Revista do Serviço Público

“n ã o c a b e o e x am e d o s princípios implicados e dos fatos o c o rrid o s nas du as fases da vida nacional” (RSP, ano IX, vol. I, n° 1, janeiro d e 1946).

Essa m udança dc atribuições e de e s tr u tu r a d o DASP re s p o n d e u afirm ativam ente a críticas a n te ­ riores da im prensa e do público. Tais críticas atingiam

“atos e m odos de ação do DASP” (idem).

A Revista também não analisa essas críticas. Diz, referindo-se ao órgão, que

“agora com o antes, se lhe

re c o n h e c e m o s v irtu d e s , tam bém sa b em o s ver os s e u s e rro s c d e f e ito s ” (ibidem). O e d ito r ia l a p re s e n ta c o m o a rg u m e n to justificativo p a ra a reestruturação, a opinião de que, antes da queda de Getúlio Vargas,

“a tendência d o DASP era crescer, ab so rv e n d o fu n ­ ções, m enos p o r culpa sua que cm razão do estado dc coisas no país” (ibidem). O e d ito ria l p ro c u ra a sso c ia r o crescim ento do p o d e r d o DASP não a disputas políticas internas ao Estado, da qual o órgão houvesse to m ad o p arte, m as à din âm ica n a tu ra l d o go v ern o d o E stado Novo, diferente do novo regime, in s ta u ra d o com a q u e d a d e Getúlio Vargas.

Ao longo do texto, a linguagem impessoal vai sendo substituída p o r um a id e n tific a ç ã o e n tr e Revista e DASP. O editorial assume a primeira pessoa do plural para contrapor-se especialm ente a uma acusação: a d e ser o DASP um órgão anti-democrático:

“Sc é verdade qu e tínham os mais atribuições que as de um órgão da natureza do n o s s o cm um re g im e e s s e n c ia lm e n te d e m o ­ c rá tic o , n ã o n o s c a b e ,

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todavia, a p ccha dc a n ti­ d e m o c rá tic o s , p rim e iro p o r q u e em p a ís e s u n i ­ versalm ente reconhecidos co m o lib e ra is , há o rg a ­ nismos administrativos com p r in c íp io s e e s tr u tu r a parecidos com os nossos; segundo, porque o contacto com os servidores do DASP fará com q u e q u a lq u e r pessoa verifique, entre nós, a existência de partidários de todas as idéias, o que, ev id en tem en te, contradiz os p rin c íp io s p o sto s em a ç ão n o s p a ís e s to ta li- taristas” (ibidem).

A Revista adm ite que a retirada de a trib u iç õ e s d o DASP provocou c e le u m a . O DASP, além das funções d c pessoal, ficou como órgão consultivo para os sistemas d e o r ç a m e n to , o rg a n iz a ç ã o e construção de edifícios públicos. Havia, entretanto, interessados no d e s a p a re c im e n to d o ó rg ão . A R evista p ro c u ra ju s tific a r a m udança sem, desta vez, recorrer a argum entos teóricos. Apresenta apenas o exemplo da Civil Service C om m ision dos EUA, q u e co n ­ sidera com um escopo dc atuação similar ao do DASP.

Apesar da m udança de governo, a Revista não assum e um a crítica ostensiva ao regime ou à gestão do DASP a n te r io r e s . O c o rp o de

técnicos d o DASP se m an tin h a está v e l e ex ib ia u m a re la tiv a autonom ia. As críticas assum em u m a form a d is c re ta , s e m p re reco n h ecen d o valores e p ro c u ­ ra n d o tra n s m itir as r e s p o n ­ s a b ilid a d e s d o DASP p a ra o governo e a situação política. Isto pode ser visto, po r exem plo, no e d ito ria l d e fevereiro d e 1946 in titu la d o “O DASP na Democracia”:

“A c o m p le x id a d e e a variedade das atrib uiçõ es d o DASP, b e m c o m o a circu nstância d e te r sido criado e de ter ad q u irid o p le n o d e s e n v o lv im e n to num reg im e p o lític o d e su p e rc e n tra liz aç ã o a d m i­ nistrativa, d e te rm in a ra m , in s e n s iv e lm e n te , a p r o ­ gressiva am pliação d e sua esfera de ação.Ele chegou, po r isso, a ultrapassar sua discreta condição de órgão de consulta do Presidente, ao p o n to d c c o n s titu ir o p a ra d o x o d e u m a a u to -

lim ita ç ã o cia d i t a d u r a .

Ja m a is um ó rg ã o d o governo exerceu crítica tão severa, franca e ostensiva em tom o dos problem as e p ro jeto s g o vernam entais. Fatalm ente, essa conduta, que denunciava e prevenia erros e excessos do poder, teria de atrair sim patias e d e s c o n te n ta m e n to s q u e ,

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in v ariav elm en te, surgem q u a n d o in teresses p e rso ­ nalistas são fiscalizados ou contrariados” (RSP, ano IX, vol. I, n° 2, de 1946, o grifo não consta do original). A Revista afirma, portanto, que a atuação do DASP, no Estado Novo, criav a c o n flito s p o r q u e m a­ terializava o co n fro n to e n tre o p o d e r d o c o n h e c im e n to e da técn ica e o p o d e r p o lítico . O DASP, segundo a Revista, utilizava o p o d e r d a té c n ic a d e q u e d isp u n h a para realizar a “auto- limitação” do prim eiro governo de G e tú lio V argas. O DASP é apresentado como um órgão que d e fe n d e a s u p re m a c ia e neutralidade da técnica e que, por e s se c a rá te r, p o d e g u ia r-se unicam en te pelos interesses da nação.

Esse m esm o e d ito r ia l vo lta a defender mudanças no DASP, face às m odificações na c o n ju n tu ra político-institucional do país. A Revista posiciona-se a favor de que o ó rg ão tenha suas funções de in te rv e n ç ã o re d u z id a s e q u e, com o resultado, passe a trabalhar m ais c o m o “um la b o r a tó r io silencioso”:

“Mesmo assim, talvez não esteja isento de instituir-se em n o v o p a ra d o x o , tão honroso quanto o anterior, d e p r e te n d e r , em p le n o

regim e d e livre o p in iã o ,

opor a suprem acia técnica ao a v e n tu rism o im provi- sador e anárquico. (...) os

serviços administrativos (...) precisam ac o b erta r-se d e to d a s as in fe rê n c ia s e s ­ tra n h a s às n o rm a s d a té c n ic a m o d e rn a e da ciência da adm inistração.” (idem, o grifo não consta do original.)

Algum te m p o m ais ta rd e , em ja n e iro d e 1947, a R evista reivindica o retom o ao DASP das suas antigas funções de controle sobre o sistem a d e m aterial da U n ião , a le g a n d o q u e , com a retirad a dessa a trib u iç ã o e sua passagem para o D epartam ento Federal de Materiais, o órgão an tes controlado passou a ser também o controlador do sistema. O DASP q uer voltar a ser responsável por “am parar os órgãos de m aterial, p r o p o rc io n a n d o - lh e s u m a le ­ gislação especial, cuja finalidade precípua será man ter os controles diretos e indiretos especiais, que visem desem baraçar o sistema da legislação ordinária, sem pre tardia para todos os novos problem as que o cotidiano da adm inistração suscita”.

Para justificar sua reivindicação, a Revista se baseia nas teorias sobre controle, já vendo a administração com o um sistem a co m p o sto de s u b s is te m a s . lí in te r e s s a n te

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RSP

Tania Mezzomo Keinert / José Carlos Vaz

observar que a Revista, desta vez, deixa d c ser cuidadosa como de h á b ito e c ritic a a s itu a ç ã o in s titu íd a (p e lo G o v e rn o J u ­ diciário que antecedeu o governo Dutra).

A defesa do DASP na Revista toma sem pre ares de defesa do m odelo d e E stad o p r o m o to r d o d e ­ s e n v o lv im e n to a tra v é s da intervenção direta na economia, cm c o n tra p o s iç ã o às p o siçõ es liberais:

“Efetivam ente, as críticas (...) se explicam , cm sua q uase totalidade, com o a re a ç ã o in ev itá v e l d o s últimos abencerragens dos velhos conceitos e tipos de E stad o a d s tr ito s à não- in te rv e n ç ã o n a esfera e c o n ô m ic a e à sim p les m a n u te n ç ã o da o rd em pública. São os retardatários q u e a in d a n ã o c o m ­ p reenderam as exigências da organização técnica do E stado M o d ern o em um m u n d o cad a vez m ais d o m in a d o p e lo d e te r ­ m in ism o d a d iv isã o do trabalho, (...) e da inevitável p ro fis s io n a liz a ç ã o d o se rv iç o p ú b lic o . [...) T o d av ia, as c rític a s fo r­ m u lad as com mais in sis­ tência, contra essa entidade

visceralm ente dem ocrática

e de caráter essencialmente

té c n ic o (...) o q u e se pretende, de plano, sob os mais variados pretextos, é mutilar, ou, quiçá, suprim ir a instituição para o assalto aos c a rg o s p ú b lic o s , o re e s ta b e le - c im e n to d o ‘pistolão’e das percentagens por compras, a eliminação d o s c o n c u rs o s , p ro v as h o n e s ta s ou q u a is q u e r barreiras que porventura se lev an tem cm d efesa d o s le g ítim o s in te r e s s e s da N ação” (RSP, ju lh o d e 1948).

E fe tiv a m e n te , n o c a m p o d a m oralização do acesso à carreira pública e à profissionalização do funcionalismo, a contribuição do DASP não p o de ser m inim izada. O su c e s s o d e su a s in c u r s õ e s n e s s e c a m p o s e rv iu c o m o elem ento justificador d o p o d e r que assum iu, especialm ente no E stad o Novo e n o s p rim e iro s anos subseqüentes.

O DASP como órgão de excelência técnica

O DASP é sem pre a p re s e n ta d o como órgão de excelência, que, de certa forma, antecipa a obra a que se p ro p õ e p elo s seus p ró p rio s m é to d o s d e tra b a lh o . C o m o e x e m p lo , p o d e -s e c ita r o seu relatório anual dc 1939, publicado pela Revista na edição de maio de 1940. Referindo-se à estrutura do

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relatório, o editorial o apresenta como:

“docum ento informativo da situação administrativa do país. /.../ n ão se lim ita a

f o c a l i z a r a s a tiv id a d e s e x e r c id a s p e lo D e p a r ta ­ m e n to (...) E laborado de u m p o n t o d e v is ta in te ir a m e n te d i fe r e n te , e n c e r r a um a u tilíssim a análise da adm inistração” (RSP, ano III, vol. II, no. 2, maio/1910, p. 3, o grifo não consta do original).

É p o s s ív e l id e n tif ic a r , n o s editoriais, a prática de defender p o n to s d e vista valen do-se de argum en tos fun dam entad o s em teorizações, utilizando-se como fu n d o as idéias q u e circulavam na p ro d u çã o científica em adm i­ n istra ç ã o p ú b lic a n o e x te rio r. A ssim , p a ra d e f e n d e r a in stitu ição dos relatórios anuais p a r a to d o s os ó r g ã o s da a d m in is tr a ç ã o p ú b lic a , n o editorial da edição de setem bro d o a n o se g u in te , n ov am en te a Revista c o m e n ta u m re la tó rio anual do DASP, considerando-o m odelo. Prim eiram ente classifica o serviço público, incluindo-o no rol das g ra n d e s o rg an izaçõ es, para d ep o is teorizar a respeito:

“Nas grandes organizações, d e que o Serviço Público é

um d o s e x e m p lo s m ais fris a n te s , to rn a -s e im ­ p ra tic á v e l a v e rific a çã o d ire ta d o s re su lta d o s d o trabalho. Q uanto m aior a re d e d e se rv iç o s, m ais im portante o papel que o r e la tó r io d e s e m p e n h a , porque é através dele que se to m a c o n ta to co m as d ife r e n te s u n i d a d e s .” (RSP, ano IV, vol III, no. 3, setem bro dc 1941).

A im portância do DASP

O DASP é visto com o elem en to fu n d am en tal na tran sfo rm ação do Estado brasileiro em to dos os períodos de sua existência. Seu trabalho é considerado p ilar do cam po de c o n h ecim en to em adm inistração pública no Brasil. Nos seus m o m en to s iniciais, a R evista p r e o c u p a -s e em d ife ­ renciar a Administração Pública da C iê n c ia J u ríd ic a , p r o c u r a n d o m ostrar que se trata da criação de um n o v o c a m p o , v in c u la d o à Ciência Administrativa.11

A Revista fala da im portância do DASP s a lie n ta n d o , a in d a , a abrangência de sua obra através de d iferen tes aspectos. Assim, sua visão da obra do DASP lembra, ao longo dos anos que ele criou no serviço público civil

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Tania Mezzomo Keinort / José Carlos Vaz

“uma nova m entalidade, no sentido de se organizarem as repartições sobre bases racionais, d e acordo com p rin c íp io s já e x p e rim e n ­ tados em outros países, com s u c e s s o , e a ju s ta d o s às p e c u lia rid a d e s da nossa adm inistração.” (RSP, ano VII, vol. III, n° 2, agosto de 1944).

Hm vários anos, a importância do DASP é destacada cm editoriais comemorativos do aniversário de criação do órgão:

“Com a criação, em 30 de julho de 1938, do Depar­ tam ento Adminis- trativodo Serviço Público, a Admi­ nistração Federal superou um a e iniciou outra etapa de sua evolução, deixando para trás, resolutam ente, a fase do empirismo absoluto e ab rin d o sua estrutu ra e seu fu n c io n a m e n to aos prin- cípios da organização científica.” (RSP, ano VIII, vol. III, n ° 2, a g o sto d e 1945).

Ilá o u tra s m a n ife sta ç õ e s da im portância do DASP:

“(...) m ilhares de p u b li­ cações avulsas e a edição d esta Revista co n stituem

acerv o c v e íc u lo d e d o u trin a s e p rática s q u e im p re ss io n a m p o s itiv a ­ m ente qualquer observador h o n e s to no seu e x a m e .” (RSP, ano XVII, vol. III, n° 3, setem bro de 1945). Hm julho de 1960, um editorial da Revista do Serviço Público coloca a im p o rtân cia d o DASP p ara a administração, federal, estadual e municipal e mesmo privada:

“Na luta da racionalização a d m in istra tiv a n o Brasil, tem sido este Departamento o pequeno David, lutando c o n tra o G o lias d a c o r ­ rupção e d o n e p o tis m o ”. (...) “Ilo je é o DASP, sem n e n h u m a dúvida, o m ais c o m p le to ó rg ã o d e a d m in istração geral exis­ te n te n o m u n d o , te n d o realizado com êxito a mais vasta rev o lu ç ão rac io n a- lizadora”. (RSP, ano XXIII, vol. 88, n ° 1, ju lh o d e 1960)12

A im p o rtâ n c ia d a d a ao DASP também se liga à valorização da ex p e riên c ia e s tra n g e ira : assim com o os e d ito ria is da Revista constantem ente citam autores dos filJAe vários artigos traduzidos são p u b lic a d o s , tam b é m d e s tin a e lo g io s à p o lític a d e e n v ia r

12 - Para outros exemplos, ver tam bém RSP. ano XXII, vol. 84, n° 2, agosto de 1959; RSP. ano XXX. vol. 99. n° 3 e -f. julho a dezem bro de 1967; RSP. vol. 105, n° 2. maio a agosto de 1970; RSP. vol. 108. n° I, janeiro a abril de 1973.

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a n u a lm e n te tu rm a s d e f u n ­ cionários ao estrangeiro, para fins d e “a p e rf e iç o a m e n to ” d a n d o “m uito sensatam ente”

“preferência decidida, se não exclusiva, aos Estados Unidos da América” (RSP, ano VIII, vol. I, n° 1, janeiro de 1945).

A Revista d e fe n d e o p a p e l de c o n s titu iç ã o d c um a e lite d e técnicos de administração através desse instrum ento:

“o comércio leal de idéias e n tr e a s e lite s c o n c o rre

mais para o entendim ento harm onioso dos povos do que a simples m anutenção de relações diplomáticas e comerciais” (idem, o grifo não consta do original). A Revista entende que o DASP de fato teve papel fundam ental na fo rm a ç ã o d a e lite in te le c tu a l pretendida:

“As boas s e m e n te s p la n ­ tadas pelo DASP não serão d e s p e r d iç a d a s : e le v a r a a d m in is tra ç ã o p ú b lic a à categoria de uma ciência; g eneralizar as técnicas de investigação cientifica; [...| |o DASP é] um d os raros n ú c le o s d e e s tu d o s adm inistrativos existentes no país, onde se forma uma

p lê ia d e d c té c n ic o s c profissionais necessários ao Estado.” (RSP, ano X3, vol. n , n° 3 c 4, julho e agosto dc 1948).

Por ocasião do 21° aniversário do DASP, no e d ito ria l re fe re n te a setem bro de 1959, a Revista do Serviço Público noticia o discurso d o p re s id e n te J u s c e lin o Kubi- tsch ek d e O liveira, o n d e e s te elogia as atividades do DASP. O editorial é construído de forma a enfatizar a importância do óigão. Percebe-se o intuito dc defendê- lo dos ataques costumeiros:

“Não será extin guindo-o, ou m utilando suas atribuições básicas e multiformcs, que se atenderá aos reclamos de o rd e m e e fic iê n c ia n o serviço público.” O DASP é a p r e s e n ta d o c o m o "pa­ trim ô n io d o p a ís e d o povo”. Tem um a “m issão re f o r m a d o r a ” f r e n te ao Estado brasileiro (RSP, ano XXII, vol. 84, n° 3, setem bro de 1959).

DASP e RSP: um parentesco muito próximo

Com breves m om entos de relativa autonom ia, a Revista se com porta como órgão do DASP. No prim eiro p e río d o d e fe n d e as id é ia s d o d e p a rta m e n to ; n o s e g u n d o e terceiro, precisa defendê-lo em Sua lu ta p ela so b reviv ência e pela

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Tania Mezzomo Keinert / José Carlos Vaz

m anutenção de sua importância d en tro do Estado.

A Revista apresenta o DASP como g ra n d e d e m iu rg o d e um novo Estado e da administração pública n o Brasil. Na veiculação dessas posições, em alguns m omentos, DASP e Revista do Serviço Público se confundem e são apresentados c o m o um to d o h o m o g ê n e o . M esmo q u a n d o o DASP já está enfraquecido, esta inter-relação perm anece. Para aprofundá-la, o q u e não se encontra no escopo d e s te a rtig o , a a lte rn a tiv a m etodológica mais recomendável é p e s q u is a r a com p osição dos grupos que, ao longo da vida da p u b lic a ç ã o , tiv eram p a p e l d e c isó rio so b re seu c o n te ú d o . Mais precisamente, os diretores da publicação e do DASP e aqueles qu e d esem p en h aram papéis de o rie n taç ã o e a co n selh am en to - formal ou não - quanto a sua linha editorial.

Reform a adm inistrativa

H á uma forte correlação entre a im portância e atenção destinada pela Revista às realizações do DASP e o destaque que oferece à te m á tic a d a refo rm a administrativa.

No prim eiro período da vida da Revista, vários editoriais e artigos a b o rd a m o tem a. T ra ta -se da

grande preocupação do governo d o Estado Novo, da m issão d o DASP e tam bém da publicação. F a la n d o da “re fo rm a a d m i­ nistrativa brasileira”, a Revista a apresenta como um

“m o vim ento irrep rim ív el [...] n o s e n tid o d e reconstruir a aparelhagem do serviço p ú b lic o ” (RSP, a n o IV, vol. IV, n ° 2, novembro de 1941). A Revista ocupa-se, ainda, da defesa e divulgação das medidas tomadas pelogovemo federal, especialmente no cam po d o fu n c io n a lism o público. É o caso da lei n° 284, de 1936, c o n h e cid a co m o Lei de Reajustamento de Q uadros, que alterou a classificação e vencimentos d o fu n cio n a lism o da U nião. A Revista refere-se a ela como

“sím b o lo d a re fo rm a adm inistrativa b ra sile ira ” (idem).

Mesmo após o fim do Estado Novo, a Revista busca o b ter legitim idade p ara a refo rm a a d m in is tra tiv a rea liz a d a sob a o rie n ta ç ã o d o CFSPC e d o DASP. Traz o exem plo da e x p e riên c ia fran cesa, o n d e encon tra problem as e soluções sem elhantes ao caso brasileiro em um

“p a ra le lis m o im p r e s s io ­ n a n te e n tr e as providências tom adas, em

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1945, pelo govem o francês,

para assegurar a eficiência de sua m áquina adm inis­ tra tiv a , e a re fo rm a d o Serviço Civil b ra s ile iro .” (RSP, ano VM , vol. IV , n° 3, dezem bro de 1945).15 As posições assumidas pela Revista q u an to ã reforma administrativa e s tã o c o rre la c io n a d a s com as opiniões em itidas a respeito do DASP. Na verdade, n o p e río d o 1937-1945 a reforma adm inistra­ tiva é indissociada do óigão. A p a r t i r d o s e g u n d o p e río d o

(1946-1964), a Revista fala cm reforma administrativa quase sem se referir ao DASP, exceto com relação ao passado. No entanto, a Revista vê a reforma administrativa com o um m ovim ento inevitável, c o m o ilu s tra o e p is ó d io da C a m p a n h a d e S im p lifica ç ã o Burocrática, de 1956, promovida pelo govem o federal, que criou um a comissão que se propunha d e s b u ro c ra tiz a r o “o rg an ism o ” e s ta ta l, e da q u a l o DASP p a rtic ip a v a n a S e c re ta ria E x ecu tiv a. A p re s e n ta n d o a

campanha, a Revista afirma: “Do p o n to d e vista fenom enológico, a Cam pa­ n h a su rg e aos o lh o s d o s estudiosos comoVm evento inevitável e previsível. É a m arc h a n a tu r a l d e um organism o [o Estado] que se viu forçado a crescer, [...] e q u e [...] m ultip licou os quadros de seus servidores e am p lio u a á rea d e sua influência direta” (RSP, ano

XJX, vol. 72, n° 1, julho de

1956).H

Mas o m ovim ento vigoroso dos anos 30 perdeu sua força e logo a Revista adm itiria que não havia mais uma reforma administrativa em curso. No início da década de 60, a Revista faz u m a c rític a c o n tu n d e n te à s itu a ç ã o d o arcabouço administrativo:

“T o d a s as m o d ific a ç õ e s significativas in tro du zidas na m áquina administrativa [...] ocorreram de 1931 a 1939. [...) O sis te m a administrativo do Govem o

13 - A Revista to n a como principal referência internacional a adm inistração pública dos EUA e, cm m enor grau de importância, da Inglaterra e da França.

14 - Nos três prim eiros períodos de sua existência, a Revista tom a como referência fundam ental a Escola Clássica e a de Administração Científica. Entretanto, seus editori­ ais em nen h u m m om ento trazem a preocupação de manifestar um posicionam ento cla­ ro qu an to a filiação a escolas do pensam ento administrativo. Preocupações e term os das escolas com portam entalistas surgem em diversos editoriais. Neste editorial, p o r exem ­ plo, a Revista utiliza a linguagem das escolas com portam entalistas dc Administração (Re­ lações Hum anas e Behaviorista). O aprofundam ento dessa questão dependeria de uma classificação individualizada dos editoriais cm função do

foctis

adotado, preocupação excluída do escopo deste artigo, que parte de uma preocupação de análise temática.

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RSP

Tania Mezzomo Keinert / Josó Carlos Vaz

d a U n ião é o b s o le to historicamente, inadequado e c a n h e s tro q u a lita ti­ vam ente.” (RSP, ano XXV, vol. 95, n° 2, de 1962). Mais adiante, a Revista proclama a n e c e s s id a d e da reform a a d m i­ nistrativa, apesar de com preender q u e o tem a já p e rd e u força na agenda de políticas públicas para outras “reformas”. Não obstante, luta para mantê-lo em evidência, a in d a q u e s a b e n d o d o p o u c o interesse que despertava. Em um editorial de 1962, a Revista pede, em um tom d e c e rta form a ressentido, a inclusão da reforma adm inistrativa e n tre as “demais reformas”:

“Q u e venha a reform a administrativa, juntam ente com as demais reformas que p arecem c o n ta r com patronos mais prestigiosos e m ais din âm ico s q u e os d a q u e la . (...) Q ue seja adequada em enveigadura à nossa extensão continental; realista em instrum entos, objetivos, (...) estribada no acervo m o d e rn o de conhecimentos e experiên­ cias da administração cien­ tífica” (RSP, ano XXV, vol. 95, n° 2, abril a junho de 1962). Ou, no mesmo ano, falando sobre os “p roblem as p rem en tes com q u e o Brasil se vê a braços no

m om ento”, destaca que

“ [...] falta, p o ré m , a- crescentar um: a reform a ad m inistrativa. É p reciso fazê-la com urgência” (RSP, a n o XXV, vol. 94, n ° 4, o u tu b r o a d e z e m b ro d e

1962).

Ao final do segundo período, em 1963, o a n te p r o je to d a Lei O rgânica d o Sistem a A dm in is­ trativo Federal conferia ao DASP a atribuição de conduzir a reforma adm inistrativa. A Revista o p in a favoravelmente, mas adm ite que há resistências, co n tra as quais procura interceder:

“O que parece não ser de c o n s e n s u s o m n iu m é a e n tr e g a , ao DASP,da atribuição de dinam izar a Reforma. (...) O que resta, portanto, é esperar que (...) seja garantido ao DASP o es- tím u lo e a p o io d e to d o s para qu e a reform a adm i­ nistrativa seja m antida no caminho do sucesso" (RSP, ano XXVI, vol 95, n °4 , o u tu ­ bro a dezem bro de 1963). Com o golpe m ilitar de 1964, o tema da reform a adm inistrativa assume nova importância, em bora o mesmo não ocorra com o DASP:

“O Governo advindo com a Revolução de 31 de março

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d e 1964 c o m p re e n d e u , aliás, o grau de urgência q u e a re fo rm a a d m in is ­ trativa requer, ao organizar um a comissão de alto nível” (RSP, anoXXVDI, vol. 97, n° 4, de 1965). O DASP, q u e já p e rd ia sua im p o rtâ n c ia n o governo, se vê am eaçado de extinção: “Um d o s tra ç o s c a ra c ­ te r ís tic o s d a refo rm a program ada, talvez o mais expressivo, é o da extinção d e um ó rg ão c e n tra l de a d m in is tra ç ã o geral", (idem)

A Revista a p resen ta a m udança sem q u e stio n á -la , ad m itin d o -a p lenam en te. A antiga defesa do DASP p a r e c e e s g o ta d a . A m u d a n ç a e m p r e e n d id a p e lo golp e d e 1964 é mais radical que a ocorrida em ou tro s m om entos de troca de governo até então: a Revista alinha-se às posições do g o v e r n o sem tim id e z e sem m e n c io n a r q u a lq u e r form a de oposição externa.

Entretanto, o DASP não é extinto n e s s a o c a siã o . Em 1966, novam ente a Revista em preende u m a d e fe sa d a refo rm a a d m i­ nistrativa sob o controle do DASP: “P o r isso , n ã o p a re c e inteligível a notícia de que

a atividade de Organização, e sua superintendência na aplicação d o p lan o , seria retirada do DASP. No Brasil, n o m o m en to , só há um a instituição capaz, adequada e com a in d is p e n s á v e l experiência para o exercício d a s a tiv id a d e s d e [...] reform a da adm inistração pública: o DASP" (RSP, ano XXIX, vol. 98, n° 3, julho a setem bro de 1966).

A refo rm a a d m in is tra tiv a , entretanto, não fica sob o controle do DASP, e sim é assum ida pela Secretaria d e P la n eja m e n to da Presidência. A Revista critica de forma velada o encam inham ento:

“S e n d o o DASP o m ais e x p re ssiv o e a n tig o repositório de com petência té c n ic a em m a té ria d e adm inistração p ública no B rasil, p a re c e n ã o lh e fa le c e r a u to r id a d e p a ra o fe re c e r um c o n s e lh o

c o n stru tiv o e p o n d e r a d o

s o b re tão im p o r ta n te problem a” (RSP, ano XXDí, vol. 98, n ° 4, o u tu b r o a dezem bro de 1966, o grifo não consta d o original). A autoridade para este “conselho construtivo e p o n derado ” baseia- se na c o m p e tê n c ia té c n ic a atribuída ao DASP. No en ten d er da Revista há necessidade de um

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Tania Mezzomo Keinerl / José Carlos Vaz

“amplo debate do projeto de reforma por parte da opinião

técnica do país, e preparação

p sico ló gica, para o b te r aceitação, motivação e co­ operação,” porque “não se c o n c eb e q u e pessoa ou g ru po isolado elabore um plano de reorganização (...) sem um a ampla e extensa consulta à opinião técnico- especializada do país” (idem, o grifo n ão c o n sta do original).

Com a designação do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral para a condução da reforma administrativa, a Revista e o DASP se su b o rd in a m a um p apel de colaboração com o novo órgão:

“deverá a Revista do Serviço Público fazer convergir para aquela colaboração com o Ministério do Planejamento e C oordenação Geral seu in te resse p re p o n d e ra n te . [...] A refo rm a a d m in is ­ trativa, juntam ente com as experiências sem elhantes em andam ento nos países mais desenvolvidos, cons­ tituirão os grandes temas prioritário s da Revista do Serviço Público” (RSP, ano XXXI, vol. 100, n° 1 e 2, janeiro a junho de 1968). Apesar dessa afirmação, o tema d e ix a d e s e r d e s ta q u e n o s

editoriais da Revista no restante do terceiro período (1965-1979). Com o fim do governo militar, a temática da reforma administrativa volta à tona, como um a das ações necessárias à redemocratização. A Revista é editada pela FUNCEP - que assumira sua publicação em 1981 - subordinada ao M inistério da A dm inistração, resp o n sáv el p e la re fo rm a a d m in is tra tiv a . Transcreve palavras do ministro da A d m in istra ç ã o , A luízio Alves, afirmando que a Revista do Serviço Público

“e s p e lh a rá , em ú ltim a a n á lise, o c o rp o vivo da reforma. (...) a Revista será o órgão de divulgação mais n o b re da refo rm a a d m i­ n is tra tiv a d o G o v e rn o Federal.” (RSP, novem bro e dezem bro de 1985, p .5). De fato , vário s a rtig o s são publicados sobre o tema, mas a Revista sofre muitas interrupções e m u d a n ç a s n o p e r ío d o , q u e im pedem que desem penhe ad e­ quadam ente este papel.

Um a preocupação constante

A reforma administrativa mantém- se, ao longo dos quatro períodos e s tu d a d o s , co m o u m a p r e o ­ cupação constante da Revista do Serviço P úblico. A p u b lic a ç ã o o c u p a -s e d a d e fe s a d e su a

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op ortunidade e viabilidade, tanto n o s m o m e n to s em q u e as in ic ia tiv a s o fic iais e n c o n tra m resistência, quanto nas situações em que o govem o não manifesta m aior interesse pelo tema. Este fa to é e x p lic a d o p e la p ró p ria gênese da Revista, em meio a um profundo m ovimento de Reforma A d m in istra tiv a . O fato d e s e r editada pelo DASP garantiu, nos prim eiros três períodos estudados (1937-1945, 1946-1964, 1965- 1980), a presença, na Revista, de u m c o rp o d c p ro fis s io n a is fo rm a d o s a p a r t i r d e sse m ovim ento e de suas idéias. No q u a rto p e río d o (1981-1989), a R evista e s tá lig a d a ao ó rg ã o responsável pela reform a adm i­ nistrativa (neste caso, o Ministério da Administração), o que garante q u e o tem a co n tin u e sendo de c e n tra l im p o rtâ n c ia p a ra a publicação.

O s recursos hum anos na Revista do Serviço Público

^ ^ e v i d o à sua penetração junto ao funcionalismo público federal, o s e d ito r ia is d a Revista c u m ­ priram , m uitas vezes, tarefas de divulgação e defesa de decisões g o v e rn a m e n ta is na á re a d e adm inistração de pessoal.

Nos quatro períodos estudados, as q u e s tõ e s re fe re n te s a recursos h u m a n o s sã o c o n s ta n te m e n te

a b o rd a d a s . Há u m n ú m e r o expressivo d c editoriais sobre o tem a. Ao lo n g o d o te m p o , podem os perceber, porém , um a m u d a n ç a d o foco c e n tr a l d e in te re s s e d e n tr o d a te m á tic a , passando das questões referentes à adm inistração de pessoal para uma cada vez maior valorização da formação de pessoal.

Q uando do surgim ento da Revista d o S erviço P ú b lic o , a a d m i­ nistração de pessoal era prioridade d o g o v e rn o fe d e ra l. No a n o a n te r io r , 1936, havia s id o p ro m u lg a d a a lei n ° 2 8 4 , d e reajustam ento do funcionalismo, que a Revista sem pre apresentou como

“o início d e um a fase d e renovação na vida do serviço público federal” (RSP, ano I, n° 2, janeiro de 1938). A tarefa colocada ao DASP, qu e editava a Revista, passava neces­ sariamente pela

"profissionalização rigorosa d o funcionalism o” e n te n ­ dida como um a “condição imprescindível à existência d e um a a d m in is tra ç ã o p ú b lic a à a ltu r a d o s tre m e n d o s p r o b le m a s defrontados pelas socieda­ des contem porâneas" (RSP, an o I, n° 3, fev ereiro d e

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RSP

Tania Mezzomo Keinert / José Carlos Vaz

A

s m e d id a s d e re g u la ­ m en tação do fu n cio n a­ lismo sem pre receberam

g r a n d e d e s ta q u e da Revista, p r e o c u p a d a com a p ro fis s io ­ nalização e com a eficiência. Assim,

quando da criação do Estatuto dos F u n cio n ário s Públicos Civis da U n iã o , a Revista d e d ic a um editorial ao tema, defendendo sua a d o ç ã o e c la s s ific a n d o se u s críticos, como

“os tardígrados do rançoso lib e ra lis m o d e fa c h a d a ” (RSP, ano I, vol. IV , n° 3, dezem bro de 1938). No segundo período, a idéia de p ro fis s io n a liz a ç ã o d o fu n c io ­ n a lis m o p e rs is te , s e n d o a p r e ­ se n ta d a em diversos editoriais, norm alm ente tratando de temas c o m o cla ssifica ç ã o d e cargos, estatuto do funcionalismo e outras alterações na legislação.15

A Revista, nos seus anos iniciais, defende um pesado investimento do Estado no “aperfeiçoamento e especialização de funcionários”. Em editorial de 1939, defende a im portância dessa atribuição do recém-criado DASP, apresentando o exem plo do trabalho realizado no M inistério da Agricultura, no qual a forma de atuação do DASP recebeu críticas, rebatidas pela Revista:

“Ao contrário do qu e supõe tanta gente mal informada, não houve, p o r p a rte d o m esm o, nesse caso, nada que se assemelhasse a uma imposição” (RSP, ano II, vol. III. n°3, setem bro de 1939). Fortem ente ligada às experiências estrangeiras, a Revista, pródiga em traduções e citações, d efen d eu com veemência tanto a vinda dc té c n ic o s e s tra n g e iro s c o m o o envio de técnicos brasileiros para formação no exterior. Já aponta nessas práticas o germ e d e um corpo dc profissionais brasileiros qualificados. Em seu editorial de março dc 1940, a Revista aponta a possibilidade:

“A v in d a d c té c n ic o s e s tr a n g e iro s s e ria u m a esp lê n d id a o p o rtu n id a d e para desenvolver cursos [...] que podiam mais tarde ser co ntinuados com o nosso p ró p rio e le m e n to ” (RSP, ano III, vol. I, n° 3, março dc 1940).

A c a rre ira d e té c n ic o d e administração é saudada, q u and o do seu aparecim ento, cm 1940. Entretanto, anos mais tarde, em 1956, a Revista é o b r ig a d a a admitir, face ao desinteresse pela c a rre ira n o s ó rg ã o s p ú b lic o s , a p o n ta n d o q u e só o DASP c o

15 • Ver editoriais da RSP dc fevereiro de 1951, janeiro dc 1952, ou tu b ro de 1954, en tre outros.

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Ministério da Justiça a adotaram, que

“foi u m a id éia feliz q u e parece não ter m ed ra d o ” (RSP, ano XVIII, vol. 71, n° 1, abril de 1956).

P re v e n d o um in s a tis fa tó rio resultado do concurso que seria realizado, a Revista é pessimista:

“r e tr o g ra d a m o s s e n s i­ velm ente.” A Revista aürma q u e n ã o “a lim e n ta m e s p e r a n ç a s d e u m a b r i­ lhante seleção os que têm c o n h e c im e n to [...] d as c o n d iç õ e s d e f u n c io n a ­ m e n to da a d m in istra ç ã o geral.” (idem)

Nessa discussão, a Revista indica u m fa to r q u e c o n s id e ra responsável pelo desinteresse dos técnicos em adm inistração pela adm inistração pública:

“o Técnico de Administra­ ção [...] tem , p r e s e n te ­ m ente, na indústria ou no c o m é rc io , m a io re s e melhores oportunidades do q u e n o g ov ern o fed e ra l” (idem).

O entusiasm o anterior no campo dos recursos hum anos se esvai, face à cristalização, ao longo dos anos, das principais características da adm inistração de pessoal do

go v erno federal. No terc eiro e q uarto períodos, as abordagens prescritivas de adm inistração de pessoal desaparecem . A Revista o p ta p o r a p e n a s d iv u lg a r as in iciativ as g o v e rn a m e n ta is n o campo da legislação de pessoal e as im p lic a ç õ e s d a s a ç õ e s d e reform a a d m in istra tiv a p a ra o funcionalismo.

Os recursos hum anos como elem ento central

O tem a re c u rs o s h u m a n o s é c e n tra l à vida d a R evista, em fu n çã o m esm o d a a tu a ç ã o d o DASP nesse campo, m arcada por u m a a tu a ç ã o s is te m á tic a e c o e re n te n o s e n tid o d a p r o ­ fissionalização do funcionalism o público. A Revista sem pre apoiou e divulgou as ações em preendidas n e ssa d ire ç ã o , c o m o a im ­ plantação do sistema de mérito, do ingresso na carreira p o r concurso público, treinam ento e formação técnica de pessoal.

Entretanto, à medida que o Estado brasileiro consolida este m odelo de a d m in istração d e p essoal a a d m in is tra ç ã o d e r e c u rs o s h u m a n o s d e ix a d e s e r u m a questão tão relevante. Ao longo do tempo, especialmente no segundo e terceiro períodos (1965-1980 e 1 9 8 1 -1 9 8 9 ), o te m a re c u rs o s h u m a n o s p e rd e e s p a ç o n o s e d ito ria is da Revista, e sp e c ia l­ m en te na reflexão vin cu lad a à

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RSP

Tania Mezzomo Keinert / José Carlos Vaz

d is c u s s ã o da refo rm a a d m i­ nistrativa, para as alterações de e s tr u tu r a o rg a n iz a c io n a l da adm inistração federal.

Conclusões

c o n tin u id a d e da pesq uisa a tra v é s d a in v e stig a ç ã o do conteúdo dos editoriais da Revista reforçou as conclusões da etapa anterior do trabalho. Os editoriais da Revista d o Serviço P úblico sofrem, ao longo dos 53 anos da p u b lic a ç ã o , u m a s é rie d e tra n s fo rm a ç õ e s , q u e a c o m p a ­ nham , de forma geral, a mesma lógica de evolução do campo de conhecim ento em administração p ú b lic a . Refletem , p o rta n to , a transformação dos estudos sobre o E sta d o b ra s ile iro , “d e um a abordagem técnico-burocrática, para um a tentativa de implantação d e p o lític a s p ú b lic a s , q u e d e s e m b o c a , fin a lm e n te , na p r e o c u p a ç ã o com o c lie n te - usuário, o cidadão.”'6

A crescen te sofisticação da produção em a d m in istra ç ã o pú b lica, id e n tific a d a a n te rio rm e n te , e n c o n tra eco nos ed ito riais da Revista, que também se sofisticam, p a s sa n d o a a p re s e n ta r m aior complexidade c profundidade. Nessa evolução, DASP, Revista do S erv iço P ú b lic o e reform a

administrativa caminham sem pre juntos. A reforma adm inistrativa tem s e m p re re a lç a d a s as in ­ tervenções em recursos hum anos, notadam ente nos dois p erío do s iniciais, o n d e a Revista p o ssu i m aio r p e so n o m eio p o lític o , té c n ic o e a c a d ê m ic o . O tem a reforma administrativa m antém a im p o rtâ n c ia n o s e d ito ria is , ao p asso q u e os e d ito r ia is so b re recursos hum anos, especialm ente aq u eles d e c a rá te r p rescritiv o , perdem espaço.

Assim como a produção publicada na Revista, analisada n o artig o a n te rio r, seu s e d ito ria is a p r e ­ sentam como dom inante o fo c u s Ciência Administrativa - den tro do movimento de evolução do campo d e c o n h e c im e n to em a d m i­ nistração, originado dos primeiros estudos na área pública. O locus hegemônico nos editoriais, assim como nos artigos, é Estruturação Administrativa do Estado, o n d e estão c o n tid o s os tem as estru - turadores deste trabalho.

Os editorialistas utilizam ab u n ­ d a n te m e n te c o n c e ito s e te rm in o lo g ia d a c iê n c ia d a a d m in is tra ç ã o p a ra d is c o r re r , predom inantem ente, sobre temas relativos à estruturação do aparato a d m in is tra tiv o d o E sta d o b ra s ile iro . Os e d ito r ia is são formulados como in tervenções em situações de disputa, procurando

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oferecer argum entos científicos às p o s iç õ e s d e fe n d id a s p e lo s editores da publicação.

N o e n ta n to , é p e rc e p tív e l o enfraquecim ento dos editoriais da Revista co m o in s tr u m e n to de d is p u ta p o lític a . E ste fato se r e la c io n a com a p e rd a d e im portância relativa da Revista e d o p r ó p r io DASP - q u e foi responsável pela sua publicação na m a io r p a rte d o tem p o . Com a ampliação do núm ero de atores na ad m in istração pública, n a tu ra l­ m ente a Revista não manteve sua hegem onia inicial.

Pode-se afirmar, não obstante, que a R evista d o S erviço P ú b lico u tiliz o u -se d o s e d ito ria is para marcar sua influência na gênese do p ensam en to adm inistrativo bra­ s ile iro . F o ram um e le m e n to im p ortan te para que catalisasse em tom o de si diversas iniciativas de reflexão sobre a administração p ú b lic a n o B rasil, d e b a te n d o id é ia s fu n d a m e n ta is p a ra a consolidação do novo campo de conhecim ento.

Resum en

LA HISTÓRIA DE LA "REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO" A PARTIR DEL ANALISIS DE SUS EDITORIALES Evaluación de la trayectoria de la RSP tra v e s dei a n a lis is dei contenido de sus editoriales en el

p e rio d o 1937-1989. El articu lo busca com plem entar el an terior - un a n a lis is c a n tita tiv o incorporando nuevos elem entos - d e esta vez cu a lita tiv o s - para analizar el papel de la publicación en la evolución dei pensam iento a d m in is tra tiv o b r a s ile n o . Los temas principales tratados po r los e d ito ria le s d e la Revista y q u e recibieran mas destaque fueran: la R eform a A d m in istra tiv a , Recursos H um anos y la pró pria publicación. Las conclusiones de esta e ta p a d e la in v estig a c ió n siguen en general las que fueran a p r e s e n ta d a s a n te r io r m e n te , reflejando la transformación de los estúdios sobre el Estado Brasileno, d e un a b o rd a je té c n ic o - burocrático para una tentativa de implantación de políticas públicas.

A bstract

THE HISTORY O F THE REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO

THROUGH THE ANALYSIS O F ITS EDITORIALS

The article evaluates the points of view of RSP through the analysis ofits editoriais writhen from 1937 to 1989. A previous quantitative analysis is now com plem ented by a qualitative one. It aims to analyse the contribution of the publication for th e e v o lu tio n o f b ra z ilia n administrative thinking. The main subjects o f RSP’s e d ito ria is, as DASP, Civil S ervice R eform , Human Resources, are stressed.

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RSP

Tania Mezzomo Keinert / José Corlos Vaz

The conclusions go along with the previous analysis, which reflected the changing approach about the brazilian State.

T ania M ezzom o K ein ert e Jo s é Carlos Vaz são p e sq u isa d o re s d a E sc o la d e A d m in is tr a ç ã o d e E m presas de São P au lo - EAESP/ FGV.

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