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INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA DE ICMS NA TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA - TUST/TUSD

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INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA DE ICMS NA TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA - TUST/TUSD1

Weverton Augusto da Silva Quintairos; Allan Yukio Nakano; Ramon da Silva Ribeiro; Lucas de Moraes; Alexsandro Braz2; Adilsen Claudia Martinez3; Ana Maria de Sant’ana4 RESUMO

O presente artigo pretende trazer a luz o debate a respeito da incidência de ICMS nas tarifas de Energia Elétrica. De um lado o consumidor pede a restituição dos valores pagos nos últimos cinco anos de contribuição, juntamente com a imediata suspenção da cobrança do ICMS em ambas as taxas, alegando que a tust e a tusd não devem fazer parte da base de cálculo do ICMS. Do outro lado temos os Estados como pólo passivo da ação, alegando, por sua vez que a restituição não é devida, pois a transmissão e a distribuição fazem parte do processo de fornecimento não podendo o mesmo ser dividido em etapas.

Palavras-chave: cobrança do ICMS; legalidade; energia elétrica ABSTRACT

The present article intends to bring to light the debate regarding the incidence of ICMS in Electric Energy tariffs On the one hand, the consumer asks for the restitution of the amounts paid in the last five years of contribution, together with the immediate suspension of the ICMS collection in both rates, arguing that TUST and TUSD should not be part of the ICMS calculation base. On the other side we have the states as the passive pole of the action; in turn claims that the refund is not due, since the transmission and distribution are part of the supply process and cannot be divided into stages.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO. 2. DA INCIDÊNCIA NAS TARIFAS DE ENERGIA. 3. TESE FAVORÁVEL AO ICMS – ENERGIA ELÉTRICA “POSICIONAMENTO DA 1ª TURMA STJ”. 4. ASPECTO PROCESSUAL. 5. POSICIONAMENTO DO STF. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 7. REFERÊNCIAS.

1 Projeto de pesquisa exigido pela Faculdade de Direito do Centro Universitário Braz Cubas, como requisito para aprovação do 10º semestre na disciplina Projeto Integrador X. Professores orientadores: Adilsen Claudia Martinez e Ana Maria de Sant’ana.

2 Graduandos pelo Curso de Direito do Centro Universitário Brazcubas

3 Mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil(2002). Professor Associado I, Centro Universitário Brazcubas, Mogi das Cruzes, Brasil.

4Procuradora do Estado de São Paulo, atuano na área tributária e administrativa. Juíza do Tribunal de Impostos e Taxas do Estado de São Paulo. Possui graduação em Direito pela Universidade Braz Cubas (1985). Especialista em Processo Civil pela PUC/SP e Mestrado em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Professora junto ao Curso de Direito do Centro Universitário Braz Cubas, e integrante do NDE (Núcleo Docente Estruturante) e Coordenado do Núcleo de Iniciação.

Revista do Curso de Direito Brazcubas V2 N1: Dezembro de 2018

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1 INTRODUÇÃO

Ganha cada vez mais destaque no restrito mundo do direito tributário uma possível restituição de ICMS pago indevidamente na tust e na tusd, ambas relacionadas ao fornecimento de energia elétrica nos Estados brasileiros, visando o aprofundamento do tema proposto, será utilizado o método de coleta de jurisprudências, análises bibliográficas, comparativo de artigos científicos, pesquisas de sítios acadêmicos, no caminhar da pesquisa entenderemos a relevancias do tema, visto que a exclusão da tust e da tusd da base de cálculo do ICMS pode significar uma redução de até 15% na conta de energia elétrica do brasileiro, razão pela qual é interessante explorar o reservado mundo do direito tributário, além de ser uma problemática, se bem trabalhada pode ser também muito rentável.

2 DA INCIDÊNCIA NAS TARIFAS DE ENERGIA

A principal regra ao se falar de ICMS está prevista no artigo 155, inciso II, paragráfo 3º, da constituição federal, que deixa claro a legalidade na cobrança do ICMS, sendo necessário somente a ocorrêcia do fato gerador.

Isto posto, temos como aspecto material do icms- energia elétrica o ato de praticar operações relativas a circulação de energia, como aspecto temporal o momento em que se deve reputar consumada a operação de circulação.

Ao se falar de ICMS devemos primeiramente entender a acepção do termo “circulação”, que em um aspecto jurídico, se trata do ato de transferência da propriedade de uma determinada mercadoria, sem a qual não haveria incidência de ICMS, portato o fato que gera o ICMS é a circulação propriamente dita. Trazendo esse entendimento para a esfera do tema proposto, entende-se que a ocorrência do fato gerador, ou seja, a efetivação da circulação somente vai ocorrer quando hover a saída da energia contratada da distribuidora para o estabelecimento do consumidor.

Em mesmo sentido temos o artigo 2º, parágrafo 1°, inciso III e artigo 12, incisos I e XII, da lei complementar 87/ 1996, mais conhecida como lei Kandir.

Orientação esta seguida pela doutrina, como ensina Luciana Goulart F.Saliba e João Dácio Rolim, em seus comentários aos dispositivos correspodentes da então revodada REN aneel 456/200 pela REN Anel 414/2010, a circulção de energia, para efeitos de ICMS, ocorre

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quando a energia passa pelo ponto de entrega, que nesse caso é o relógio de medidor de energia. 5

O art 34, parágrafo 9°, do ato das disposicões constitucionais transitórias, deixa claro que as empresas distribuidoras de energia elétrica, na condição de contribuintes ou de substitutos tributários, serão as responsáveis, por ocasião da saída do produto de seus estabelecimentos, ainda que destinado à outra unidade da Federação, pelo pagamento do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias incidente sobre energia elétrica, desde a produção ou importação, até a última operação, calculada o imposto sobre o preço então praticado na operação final e assegurado seu recolhimento ao Estado ou ao Distrito Federal, conforme o local onde deva ocorrer essa operação.

EM outras palavras, a Constituição Federal e a Lei Kandir determinam que apenas o preço da operação de fornecimento de energia elétrica poderá integrar a base de cálculo do ICMS. Com o feito, os ditames constitucionais e infraconstitucionais são taxativos: somente a operação da qual decorrer a saída de energia elétrica poderá servir de base de cálculo do ICMS-energia.

É importante frisar que a inclusão de atividades autônomas à operação tributada na base de cálculo do ICMS, tal como a inclusão das parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica ao “valor de fornecimento” de energia deverá ocorrer mediante expressa previsão legal.

É o caso, por exemplo, dos valores relativos aos seguros, juros e frete, parcelas estas autônomas, por excelência, da atividade principal, mas componentes da base de cálculo do ICMS, nos termos do artigo 13, § 1º, inciso II, alíneas “a” e “b”, da Lei Kandir.

Em observância ao dispositivo citado anteriormente, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) enviou ao Congresso Nacional, o Projeto de Lei Complementar 352/02, para incluir a letra ‘c’ no § 1º do artigo 13 da Lei Complementar 87/96, pretendendo incluir na base de cálculo do ICMS “todos os encargos cobrados do adquirente, no fornecimento da energia elétrica”.

Ou seja, o Projeto de Lei Complementar apresentado pelo Confaz demonstra de forma nítida uma forma de reparar a clara e categórica impossibilidade de incidência da exação estadual

5SALIBA, Luciana Goulart F. Saliba; ROLIM, João Dácio. Não-incidência do ICMS sobre as Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD) e de Transmissão (TUST) de Energia Elétrica. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n.122, p. 50-66, nov./2005). “Destaquei”.

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sobre operações diversas daquelas que se identificam com o respectivo fato gerador (os montantes relativos à energia elétrica efetivamente consumida – tão somente), resultando no reconhecimento indubitável sobre a improcedência da cobrança discutida.

E, exatamente pelos argumentos ora apresentados, que o Congresso Nacional excluiu tal iniciativa do texto finalmente aprovado (Lei Complementar 38/2010), o que, demonstra à ilegalidade de se entender a incidência do ICMS em parcelas estranhas à remuneração da energia elétrica (TUSD demanda encargos, contribuições e tributos e demais parcelas da TE -perdas, transporte e encargos).

O principal precedente da tese favorável a não incidência do ICMS na TUST E TUSD, segundo esclarece o professor Cleber Barros, é o Recurso Especial: 1.359.399 de MG, que teve comorelator o Ministro HUMBERTO MARTINS como passaremos a observar:6 processo Edcl no Agrg no Resp:1359399, MG 2012/0269472-0, tendo como órgão julgador a segunda turma e sendo publicado no Dje 06/09/2013, com o julgamento tendo ocorrido em 27 de Agosto de 2013 na relatoria do Ministro HUMBERTO MARTINS, e sendo a ementa assim construída

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ICMS. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA. ILEGITIMIDADE. PRECEDENTES. CONSUMIDOR FINAL. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. ESPECIAL EFICÁCIA VINCULATIVA DO ACÓRDÃO PROFERIDO NO RESP 1.299.303/SC.

TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (TUST E TUSD). INCIDÊNCIA DA SÚMULA 166/STJ. PRECEDENTES.

1. Discute-se nos autos a possibilidade de o contribuinte pagar ICMS sobre os valores cobrados pela transmissão e distribuição de energia elétrica,

denominados no Estado de Minas Gerais de TUST (Taxa de Uso do Sistema de Transmissão de Energia Elétrica) e TUSD (Taxa de Uso do Sistema de Distribuição de Energia Elétrica).

2. Esta Corte firmou orientação, sob o rito dos recursos repetitivos (REsp 1.299.303-SC, DJe 14/8/2012) que o consumidor final de energia elétrica tem legitimidade ativa para propor ação declaratória cumulada com repetição de indébito que tenha por escopo afastar a incidência de ICMS sobre a demanda contratada e não utilizada de energia elétrica.

3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que, nos casos de discussão sobre a cobrança de ICMS, a legitimidade passiva é do Estado, e não da concessionária de energia elétrica. Precedentes. 4. A Súmula 166/STJ reconhece que "não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte". Assim, por evidente, não fazem parte da base de 6 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo:

https://www.youtube.com/user/FTCARIBE/feed

https://www.youtube.com/channel/UCQqLcn7m-NYUd8qWw8DNaMQ https://www.youtube.com/watch?v=AyHyjoVEdm4&t=735s

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cálculo do ICMS a TUST (Taxa de Uso do Sistema de Transmissão de Energia Elétrica) e a TUSD (Taxa de Uso do Sistema de Distribuição de Energia Elétrica). Precedentes. Embargos de declaração acolhidos em parte, sem efeitos infringentes, tão somente para reconhecer a legitimidade ativa ad causam do consumidor final. Acordão Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, acolheu em parte os embargos de declaração sem efeitos modificativos, nos termos do voto do (a) Sr (a). Ministro (a) -Relator (a), sem destaque e em bloco." Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.7

3 TESE FAVORÁVEL AO ICMS – ENERGIA ELÉTRICA “POSICIONAMENTO DA 1ª TURMA STJ”

Em um momento em que se fala com veemência na interferencia do judiciário em outros poderes da república, ocorreu exatamente o oposto quando a 1º turma do superior tribunal de justiça, desgraçadamente decidiu pela legalidade da incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços nas parcelas estranhas à remuneração da energia elétrica. “Vale lembrar que essa decisão reflete somente os grandes consumidores”

Resp: Nº 1.163.020 - RS (2009⁄0205525-4) RELATOR: MINISTRO GURGEL DE FARIA TRIBUTÁRIO. ICMS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. BASE DE CÁLCULO. TARIFA DE USO DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (TUSD). INCLUSÃO.

1. O ICMS incide sobre todo o processo de fornecimento de energia elétrica, tendo em vista a indissociabilidade das suas fases de geração, transmissão e distribuição, sendo que o custo inerente a cada uma dessas etapas – entre elas a referente à Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) – compõe o preço final da operação e, consequentemente, a base de cálculo do imposto, nos termos do art. 13, I, da Lei Complementar n. 87⁄1996.

2. A peculiar realidade física do fornecimento de energia elétrica revela que a geração, a transmissão e a distribuição formam o conjunto dos elementos essenciais que compõem o aspecto material do fato gerador, integrando o preço total da operação mercantil, não podendo qualquer um deles ser decotado da sua base de cálculo, sendo certo que a etapa de

transmissão⁄distribuição não cuida de atividade meio, mas sim de atividade inerente ao próprio fornecimento de energia elétrica, sendo dele

indissociável.

3. A abertura do mercado de energia elétrica, disciplinada pela Lei n. 9.074⁄1995 (que veio a segmentar o setor), não infirma a regra matriz de incidência do tributo, nem tampouco repercute na sua base de cálculo, pois o referido diploma legal, de cunho eminentemente administrativo e

concorrencial, apenas permite a atuação de mais de um agente econômico numa determinada fase do processo de circulação da energia elétrica (geração). A partir dessa norma, o que se tem, na realidade, é uma mera divisão de tarefas – de geração, transmissão e distribuição – entre os agentes econômicos responsáveis por cada uma dessas etapas, para a concretização 7 Disponível em http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ

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do negócio jurídico tributável pelo ICMS, qual seja o fornecimento de energia elétrica ao consumidor final.

4. Por outro lado, o mercado livre de energia elétrica está disponibilizado apenas para os grandes consumidores, o que evidencia que a exclusão do custo referente à transmissão⁄distribuição da base de cálculo do ICMS representa uma vantagem econômica desarrazoada em relação às empresas menores (consumidores cativos), que arcam com o tributo sobre o "preço cheio" constante de sua conta de energia, subvertendo-se, assim, os postulados da livre concorrência e da capacidade contributiva.

5. Recurso especial desprovido. 8 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Benedito Gonçalves, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho e Regina Helena Costa (voto-vista), negar provimento ao recurso especial nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves (voto-vista), e Sérgio Kukina (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 21 de março de 2017 (Data do julgamento). MINISTRO GURGEL DE FARIA

Vale frizar que a decisão não reflete as disposições constitucionais e legais sobre o tema, além de não observar os precedentes estabelecidos pelas Súmulas 166 e 391 do STJ.

Além da repentina mudança de entendimento, a 1ª Turma do STJ determinou a suspensão de todos os processos no território nacional, para que o tema seja julgado sob o regime dos recursos repetitivos.

Em resumo a 1ª Turma do STJ, fundamenta a legalidade da incidência do ICMS sob os seguintes argumentos:

a) indivisibilidade: não é possível fazer a divisão de etapas do fornecimento (geração, transmissão e distribuição) de energia para fins de incidência do ICMS;

b) modelo tradicional: a incidência do ICMS sobre todo o processo de fornecimento de energia é a regra para o consumidor simples. Ou seja, somente os consumidores livres são beneficiários da discussão judicial, ocorre que, o referido entendimento não é correto, pois ambos os consumidores podem ser beneficiários da discussão; e

c) impacto financeiro: a exclusão da TUSD da base de cálculo do ICMS causará impacto financeiro aos cofres dos Estados.

Conforme será demonstrado a seguir, o entendimento aplicado pela 1ª Tuma do STJ não reflete as disposições do direito processual e tributário brasileiro.

4 ASPECTO PROCESSUAL

O primeiro ponto que merece destaque é a instauração de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) disciplinado no artigo 976 do novo Código de Processo Civil,

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O incidente é claro ao exigir efetiva repetição de processos envolvendo a mesma questão de direito de modo que o potencial para multiplicação de processos envolvendo a mesma questão de direito não é suficiente para a instauração do incidente (AMARAL Guilherme Rizzo. C omentários às alterações do novo CPC São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015), “Destaquei”.9

Em que pese o IRDR tenha sido admitido pelo STJ e alguns tribunais estaduais (por exemplo, TJ-SP e TJ-MG), carece de requisitos legais.Segundo a disposição prevista no § 4º do artigo 976 do CPC, será incabível a instauração de IRDR, nos casos em que já houver recurso afetado sobre a matéria.Portanto, além de não observar os requisitos essenciais para instauração do IRDR, a decisão que reconhece a incidência do ICMS em parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica não observa o sistema de precedentes implementado pelo NCPC.

O novo CPC é um marco processual para os precedentes dos Tribunais Superiores. Com a recente reforma, o sistema processual brasileiro tem se aproximado cada vez mais ao modelo Common Law, valorizando a utilização de precedentes, com objetivo de uniformizar a jurisprudência em todo país.

Portanto, a incidência de ICMS em parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica contraria nuclearmente as disposições contidas tanto na Súmula 166 quanto na Súmula 391, todas editadas pelo STJ, a saber: “Súmula 166 – Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.” E a “Súmula 391 – O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada.”

Destaca-se que a justificativa da 1ª Turma do STJ de que está aplicando uma nova interpretação às súmulas não merece prosperar, pois essas súmulas foram editadas com base em decisões judiciais que afastam a incidência da TUSD/TUST na base de cálculo do ICMS.

5 POSICIONAMENTO DO STF

O supremo tribunal federal declara não ter compêtencia para julgar a demanda prosposta, visto que incluir os valores tarifários da TUST e da TUSD na base de cálculo do ICMS incidente sobre a circulação da energia elétrica não possui estatura constitucional, ressalta ainda que o entendimento dos tribunais de origem tem embasamento na legislação

9 AMARAL Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, “Destaquei”.

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infraconstitucional, de modo que não se depreende da decisão recorrida ofensa direta ao Texto Constitucional e por fim nega provimento AO RE 1041816 RG / SP , como podemos observar no julgado abaixo exposto:

RE: 1041816 REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. EDSON FACHIN - Julgamento: 04/08/2017 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno - meio eletrônico - DJe-180 DIVULG 16-08-2017 PUBLIC 17-08-2017 Parte(s): RECTE.: ESTADO DE SÃO PAULO - PROC.(A/S)(ES):

PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO - RECDO.(A/S): OSCAR DA SILVA ADV.(A/S): ELTON GUILHERME DA SILVA - ADV.(A/S): EDUARDO GALANTE LOPES DA CUNHA10 Ementa: RECURSO

EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS - ICMS. ENERGIA ELÉTRICA. BASE DE CÁLCULO. TARIFA DE USO DO SISTEMA DE TRANSMISSÃO - TUST. TARIFA DE USO DO SISTEMA DE

DISTRIBUIÇÃO - TUSD. VALOR FINAL DA OPERAÇÃO. QUESTÃO

INFRACONSTITUCIONAL. LEGISLAÇÃO FEDERAL. 1. A correção jurídica da conduta de incluir os valores tarifários da TUST e da TUSD na base de cálculo do ICMS incidente sobre a circulação da energia elétrica é controvérsia que não possui estatura constitucional. 2. Os juízos de origem formaram convicção com esteio na legislação infraconstitucional, notadamente o Código Tributário Nacional, Lei Complementar 87/1996, Leis federais 9.074/1995 e 10.848/2004, bem como Convênios CONFAZ 117/2004 e 95/2005, com posteriores alterações, e Resoluções da ANEEL, de modo que não se depreende da decisão recorrida ofensa direta ao Texto Constitucional. 3. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Decisão: O Tribunal, por maioria, reconheceu a inexistência de repercussão geral da questão, por não se tratar de matéria constitucional, vencido o Ministro Marco Aurélio. Ministro Relator: EDSON FACHIN - Tema: 956 - Inclusão da Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (TUST) e da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) na base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) incidente sobre energia elétrica.

Vale lembrar, tal posição não é unanime, em seu voto no plenário virtual, o Ministro Marco Aurélio afirmou que se prevalecer o entendimento do Ministro Fachin, ele irá submeter outro caso sobre a mesma matéria ao plenário virtual, como uma segunda chance para que a repercussão do tema seja reconhecida.

“Desde logo assento que, ultrapassado esse incidente, vindo a prevalecer à óptica do Relator, promoverei a inserção de outro caso no Plenário Virtual, tendo em conta a importância maior da questão, considerado não interesse secundário do Estado, mas o primário, de toda a sociedade, no que envolve o próprio sistema tributário”, afirmou o ministro no voto.

Segundo o Ministro Marco Aurélio, ao negar que existe discussão constitucional no litígio sobre a inclusão de certas parcelas na base de cálculo do ICMS, a Corte corre o risco da “generalização”. O ministro ressaltou também que a matéria “tem assento primeiro” na Constituição Federal que define o ICMS.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em face do exposto, conclui-se pela ilegalidade da incidência do ICMS das parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica (ex. TUSD e TUST).

A expectativa é que a questão seja julgada de acordo com as disposições legais, pois nesse cenário será confirmada a aplicação das Súmulas 166 e 391 do

STJ, visto que a decisão da primeira turma do STJ foi totalmente política e não merece prosperar pelos fatos já expostos, devendo assim ser afastada a ilegalidade do ICMS das parcelas estranhas à remuneração de energia elétrica.

Por fim, vale salientar que todos os consumidores podem pleitear judicialmente a incidência do ICMS somente na parcela relativa à remuneração de energia elétrica, sendo necessário somente a comprovação de que o titular da ação é o consumidor final, no caso das empresas, segundo o art.166 do código tributário nacional, deve ser comprovado que não foi feito o repasse do valor cobrado a título de ICMS nas taxas de transmissão e distribuição de energia elétrica, se caso o repasse for feito, o consumidor passa a ser o titular do direito, por se tratar quem suportou o peso do imposto, fato confirmado pelo resp1.993.303/SC. Tendo comprovado ser o consumidor final, o contribuinte tem direito a restituição dos valores cobrados indevidamente nos últimos cinco anos.

7 REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 8. ed. rev., atual. e ampl. RJ: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.

AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015

MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas

SALIBA, Luciana Goulart F. Saliba; ROLIM, João Dácio. Não-incidência do ICMS sobre as Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição (TUSD) e de Transmissão (TUST) de Energia Elétrica. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, nov./2005).

SHIMENTI, Ricardo Cunha & Cia.Teoria e prática do direito tribuário /Chimenti Andréa de Toledo Pierri, - 3. ed. rev. e atual. De acordo com as Leis Complementares n. 139/2011 e 141/2012 - São Paulo: Saraiva, 2012.

Sites

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https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/899/Erga-omnes - Dicionário Jurídico.

Legislação

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 24 de setembro de 2018;

BRASIL, Lei 5.172, de 25 de Outubro de 1966, Código de Tributário Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm. Acesso em: 24 de setembro de 2018;

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº166, Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2010_12_capSumula166.pdf. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Súmula nº O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada. Disponível em:

https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2013_36_capSumula391.pdf. Acesso em 24 de Setembro de 2018;

BRASIL, Lei 13.105, de 16 de Março de 2015, Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;

BRASIL, Senado Federal, Projeto de Lei Complementar 352/02, Altera a Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, que dispõe sobre o imposto dos Estados e do Distrito Federal sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, e dá outras providências. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?

idProposicao=101666. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;

BRASIL, Lei complementar nº 87, de 13 de Setembro de 1996, Lei Kandir. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp87.htm. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;

BRASIL, Conselho Nacional de Política Fazendária, Convênio ICMS nº 38, de 26 de Março

de 2010. Dispõe sobre o compartilhamento de informações controladas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil sobre produção de bebidas e as Secretarias de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação das Unidades da Federação e altera o Convênio ICMS nº 69/2006, que isenta do ICMS a saída de equipamentos que compõem o Sistema de Medição de Vazão.

Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=16722. Acesso em: 24 de Setembro de 2018;

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BRASIL, Agência Nacional de Energia Elétrica, Resolução Normativa nº 414, de 09 de

Setembro de 2010, Estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de

forma atualizada e consolidada. Disponível em:

Referências

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