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Direito Civil 2 Bimestre Chris Bacon

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Academic year: 2019

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DIREITO CIVIL

1. SUCESSÃO DOS COMPANHEIROS

Está disciplinado no artigo 1.790 do Código Civil. Em linhas gerais, o dispositivo restringe o direito do companheiro aos bens que tenham sido adquiridos onerosamente na vigência da união estável.

A primeira crítica que se faz a este é artigo é topográfica, ou seja, trata-se de uma regra de sucessão legítima, mas que está situada na parte de sucessão geral. Esta regra está disposta num local equivocado, vez que deveria estar inserida na parte de sucessão legítima.

A segunda crítica é que este artigo seria inconstitucional, pois cria diferentes níveis de família. Alguns doutrinadores entendem que quando a Constituição Federal diz que “o Estado facilitará a conversão da união estável em casamento”, estaria colocando o casamento em um nível superior.

Exemplo: duas pessoas vivem em união estável. Se tiverem um filho na constância da união estável não haverá presunção de paternidade. Já se tiverem um filho na constância do casamento, está presunção existirá.

Contudo, União Estável e Casamento estão no mesmo nível, sendo assegurados os mesmos direitos e deveres.

Este artigo seria inconstitucional, pois ele confere tratamento diferente entre companheiro e cônjuge. O artigo 1.790 do Código Civil dispõe que o companheiro participará da sucessão do outro se os bens forem adquiridos onerosamente e na constância da união estável.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Questão:

Antônio viveu em união estável com laura desde 2008. Desta união nasceram felipe e luiza. Antônio tem outro filho de nome miguel, fruto de relacionamento anterior. Antes da união, Antônio tinha 100 mil reais e durante amealhou mais 200 mil. Laura antes da união tinha 80 mil e durante 40 mil.

Divida a herança a partir do falecimento de antônio. Antes Durante

Antônio 100 200

Laura 80 40

Laura tem direito apenas a meação. O que Antônio possuía antes da união só será dividido pelos filhos. Soma-se 200 +40= 240,00.

Laura tem direito a R$ 120,00 Antônio tem direito a R$ 120,00.

Pelo 1.790, com a morte de Antônio os 120,00 dele serão divididos pelos filhos e pela companheira. E os 100,00 (antes) serão divididos somente pelos filhos.

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Pelo inciso I Pelo inciso II I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma

quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;

120,00:4= 30 cada um (mulher e filhos receberiam a mesma coisa).

Cada filho receberia 2X e a companheira X. Somando tudo daria 7 X (pois são 3 filhos + a companheira). 7X=120

X = 17,15

Neste caso, a mulher receberia R$ 17,15 e cada filho receberia 34,30

2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

É fundada na existência de um testamento. Previsto no artigo 1.857 do Código Civil.

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.

A sucessão testamentária decorre de expressa manifestação de última vontade, em testamento ou codicilo. A vontade do falecido, a quem a lei assegura a liberdade de testar, limitada apenas pelos direitos dos herdeiros necessários, constitui a causa necessária e suficiente da sucessão.

Testamento é o ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém, de conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte, no todo ou em parte do seu patrimônio, mas também faz estipulações:

a) extrapatrimoniais tais como: reconhecimento de filhos não matrimoniais; nomeação de tutor para filho menor, ou testamenteiro; disposição do próprio corpo para fins altruísticos ou científicos; reabilitação do indigno; deserdação do herdeiro; determinação sobre o funeral.

b) Patrimoniais tais como: recomendação sobre o cumprimento de obrigações do testador; constituição de renda, etc.

A capacidade testamentária está sujeita a uma regra específica. Esta regra está disposta no artigo 1.860, parágrafo único, que diz que “podem testar os maiores de dezesseis anos”. A segunda parte do artigo diz que toda pessoa capaz poderá dispor da totalidade dos seus bens se não houver herdeiro necessário ou de parte deles se houver.

O testamento pode incluir todos os bens ou parte deles. Deverá haver respeito à legítima. Cinquenta por cento do testamento e chamado de parte disponível e os outros cinquenta por cento é a parte legítima.

A parte disponível pode ser entregue a quem o testador desejar. O testador não está vinculado a ordem vocacional. Pode ser todas as pessoas, salvo as do 1.801.

A regra é a plena liberdade. A legítima é obrigatoriamente entregue aos herdeiros necessários, cônjuge, ascendente e descendente.

Deve-se observar a ordem de vocação hereditária. Se tiver filhos, estes serão os primeiros. Desta forma, nem todos os herdeiros receberão a herança.

A terceira parte do artigo 1.857 diz que poderá dispor “para depois de sua morte”, significa que o testamento é o negócio cuja eficácia e pos mortem, ou seja, só produz efeitos após o evento morte.

Importante mencionar o plano da existência, validade e eficácia. O testamento feito existe, é válido, mas só produzirá efeitos após a morte do testador.

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§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento.

Exemplo: O pai quer fazer um testamento especificando os bens que deixará a seus filhos. O testamento é válido? Sim, pois a interpretação deste artigo deve ser finalística, ou seja, visa proteger os herdeiros necessários. Deve haver respeito à legitima. Neste caso, o pai apenas quis preservar o direito dos filhos.

§ 2oSão válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.

No Brasil, dentro do testamento, pode ter disposição não patrimonial. Trata-se das chamadas disposições extrapratrimoniais.

Exemplos: Solenidades do funeral (se quer ser cremado, enterrado, etc), nomeação de tutor para filhos menores. Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.

Diferentemente do casamento que pode se dar por procuração, o testamento é ato personalíssimo e não pode testar por procuração.

O menor com 16 anos pode testar sem assistência, já que o artigo 1.858 diz que é ato personalíssimo, bem como pode ser mudado a qualquer tempo. Trata-se da chamada revogabilidade. A revogação ocorre quando o novo testamento colidir com o anterior, ou quando houver revogação expressa.

Existe apenas uma cláusula que não é possível ser revogada. É a cláusula de reconhecimento de filho. Significa dizer que não pode revogar o testamento, mas anular sim, mas neste caso será necessário provar o erro, vício, etc.

Art. 1.859. Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro.

Somente após a morte do testador se poderá questionar sobre a validade do ato de última vontade. Enquanto estiver vivo permanecerá afastada a possibilidade de sofrer impugnações, pois se trata de negócio jurídico mortis causa. Do contrário estar-se-ia permitindo a instauração de litígio acerca de herança de pessoa viva.

O prazo de 5 anos não enseja discussão. Trata-se de prazo decadencial. Mas o que causa polêmica é o início do prazo.

Exemplo: pessoa vai ao cartório, procura o tabelião e elabora o testamento. Depois de 50 anos esta pessoa morte. Pergunta-se, de acordo com o artigo 1.859 qual é o início do prazo?

Resposta: Se os 5 anos forem contados da data do registro do testamento, o prazo já teria decaído.

O artigo 1.126 do CPC diz que quando existir testamento será necessário se proceder ao inventário e partilha. Significa dizer que o registro a que alude o artigo 1.859 é aquele que é feito dentro do inventário e partilha. A partir desse registro inicia-se o prazo de 5 anos.

Aberta a sucessão, o testamento deverá ser apresentado em juízo e registrado, para ser mandado cumprir, A contagem do quinquênio decadencial dá-se com a apresentação do testamento ao juiz, que, se lhe não achar vício externo, que o torne suspeito de nulidade ou falsidade, mandará que seja registrado, arquivado e cumprido (art. 1.126). É a partir do registro, e não da abertura da sucessão, que se conta o aludido prazo decadencial. Uma vez esgotado, o testamento não pode mais ser impugnado.

3. DA CAPACIDADE DE TESTAR

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Terá capacidade testamentária passiva todo aquele que for capaz de adquirir bens por meio de testamento. Há hipóteses em que um indivíduo pode ter capacidade para testar e não a ter para receber, como as testemunhas do testamento e ainda há quem pode adquirir mas não é capaz para transmitir, como, por exemplo, os menores de 16 anos.

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.

Alguns doutrinadores sustentam que somente os absolutamente incapazes estariam inseridos no artigo 1.860. No entanto, nem os relativamente incapazes nem os absolutamente incapazes podem testar, com exceção dos maiores de 16 anos.

Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.

O artigo 1.861 consagra o princípio tempus regit actum (o tempo rege o ato).

Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

A capacidade testamentária ativa é exigida no momento em que se redige ou se elabora o testamento. É nesse instante que deve ser aferida. Se o testador, no ato de testar, tinha pleno discernimento, o testamento será válido mesmo que ele venha a perder, posteriormente, a lucidez.

Exemplo: Se uma pessoa com 50 anos fizer um testamento e morrer aos 80 anos com mal de Alzheimer, por exemplo, esse testamento será válido, pois a incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento.

Assim como nulo será o testamento elaborado por quem, se encontrava privado do necessário discernimento, mesmo que, posteriormente, tivesse recuperado o juízo. Não basta ratificar as disposições testamentárias, pois “o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação” (art. 169 do CC).

Exemplo: menor com 14 anos faz um testamento. Aos 50 anos ele morre. O testamento é nulo, pois foi feito por um menor de 16 anos.

4. DAS FORMAS DE TESTAMENTO

O Código Civil de 2002 admite três formas de testamentos ordinários: público, cerrado e particular; e também, três de testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar.

Art. 1.862. São testamentos ordinários: Art. 1.886. São testamentos especiais:

I - Público I - Marítimo

II – Cerrado II - Aeronáutico

III - Particular III - Militar (nuncupativo)

Há liberdade de escolha nos testamentos ordinários, ou seja, pode escolher se que fazer um testamento público, particular ou cerrado. Já os especiais não há possibilidade de escolha. Só serão feitos dentro de uma situação específica.

O artigo 1.863 dispõe que:

Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo.

O testamento conjuntivo é aquele em que duas ou mais pessoas, mediante um só instrumento (portanto, num mesmo ato), fazem disposições de última vontade acerca de seus bens.

SIMULTÂNEO RECÍPROCO CORRESPECTIVO

Quando os testadores dispõem em benefício de terceiros, num só ato.

Quando instituem benefícios mútuos, de modo que o sobrevivente recolha a herança do outro;

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recíproco. É recíproco com identidade de proporção).

Exemplo: “A” e “B” dispõem que seus bens passariam a ser de “C”.

“A” deixa bens para “B” e “B” estabelece que, se falecer primeiro, seus bens ficarão para “A”.

Exemplo: “A” deixa uma casa para “B” , e este um terreno para “A”.

Nada impede que o casal, desejando testar simultaneamente, compareça ao Cartório de Notas e ali cada qual faça o seu testamento, em cédulas testamentárias distintas. É vedada somente a confecção conjunta por marido e mulher, no mesmo instrumento. Elaborando-os separadamente, ainda que na mesma ocasião e perante o mesmo tabelião, podem deixar os bens uns para o outro. Nesse caso, os testamentos não são considerados conjuntivos, pois cada qual conserva a sua autonomia.

5. TESTAMENTOS ORDINÁRIOS: a) DO TESTAMENTO PÚBLICO

O testamento público é o lavrado pelo tabelião ou por seu substituto legal em livro de notas, de acordo com a declaração de vontade do testador, exarada verbalmente, em língua nacional, perante o mesmo oficial e na presença de duas testemunhas idôneas ou desimpedidas.

Confere maior segurança naquilo que se refere à vontade do testador, pois é elaborado pelo tabelião. O ponto negativo do testamento público é que gera a possibilidade de um terceiro ter acesso ao testamento antes da morte do testador.

O artigo 1.864 enumera os requisitos e formalidades essenciais do testamento público.

Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:

I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;

II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial;

III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião. A vontade do testador deve ser externada ao oficial público, denominado tabelião, sob a forma de declaração, admitindo a entrega de minuta previamente elaborada, seguida da declaração verbal de que contém a sua última vontade, ou de consulta a anotações.

Não só o tabelião, mas também o seu substituto legal podem lavrar testamento.

Depois de escrito, o instrumento do testamento será lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial.

A finalidade da leitura é possibilitar, tanto ao testador como às testemunhas, que verifiquem a coincidência entre a vontade por ele manifestada e o que foi lançado no livro pelo tabelião.

Ausência de testemunha é causa de nulidade. No que tange a presença da testemunha, ficou configurado que é obrigatória a presença dela na leitura do testamento. Neste momento ela não poderá estar ausente. Já houve decisão de que “a ausência temporária das testemunhas durante a escrita do testamento não interrompe o ato, porque a sua presença só é exigida pela lei para que vejam, ouçam e compreendam ao testador, certificando-se de que a escritura encerra a vontade manifestada”.

Após a leitura, estando em ordem, o testamento será assinado pelo tabelião que o escrever, pelo testador e pelas testemunhas, seguidamente e em ato contínuo (art. 1.964, III do CC).

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substituto legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias.

Art. 1.864. Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma.

Pode testar publicamente o inteiramente surdo, que emitirá sua vontade ao tabelião na presença de duas testemunhas, e, sabendo ler lerá seu testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

O cego, poderá testar, desde que por testamento público, o qual lhe será lido em voz alta, duas vezes, para que possa verificar se o conteúdo da cédula testamentária corresponde, com precisão, à vontade por ele exarada.

Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.

b) TESTAMENTO CERRADO

Testamento cerrado, secreto ou místico é o escrito pelo próprio testador, ou por alguém a seu rogo e por aquele assinado, com caráter sigiloso, completado pelo instrumento de aprovação ou autenticação lavrado pelo tabelião ou por seu substituto legal, em presença do disponente e de duas testemunhas idôneas..

O segredo não está ligado a sua existência, mas sim ao seu conteúdo. Ele é apresentado ao tabelião de notas. Este testamento é apresentado em cartório e após o tabelião aprovar o testamento ele é cerrado, lacrado.

PONTOS POSITIVOS PONTOS NEGATIVOS

Publicidade quanto a sua existência Maior facilidade de extravio, dissipação e ocultação. Segredo quanto ao seu conteúdo

O testamento público é elaborado pelo tabelião. E o cerrado é elaborado pelo próprio testador ou a pessoa a seu rogo, podendo ser inclusive o tabelião.

Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes formalidades:

I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas;

II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado;

III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas;

IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador.

O próprio tabelião pode escrever o testamento, a rogo do testador, quando este não souber, ou não o puder fazer pessoalmente, não ficando, por esse motivo, impedido de, posteriormente, lavrar o auto de aprovação. (artigo 1.870, CC).

Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não obstante, aprová-lo. A função precípua do tabelião é aprovar. Ele pode até escrever, mas não é da essência do testamento cerrado. Já no testamento público, é da essência ser escrito por tabelião.

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Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as paginas.

Apresentado o testamento ao tabelião, este, em seguida, na presença das testemunhas, lavrará o auto de aprovação (na verdade, mera autenticação), após a última palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na presença das testemunhas. Se não houver espaço na última folha escrita, colocará o seu sinal público e declarará, colando outra folha, a razão de seu procedimento.

Prescreve o artigo 1.869 do Código Civil:

Art. 1.869. O tabelião deve começar o auto de aprovação imediatamente depois da última palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na presença das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento aprovado.

Parágrafo único. Se não houver espaço na última folha do testamento, para início da aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público, mencionando a circunstância no auto.

Dispõe o artigo 1.871 que o testamento cerrado pode ser escrito em língua estrangeira. O testamento público não pode, pois é necessário escrever o conteúdo no livro de registros. Já no caso do cerrado, este conteúdo não é transcrito.

Art. 1.871. O testamento pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por outrem, a seu rogo.

Os analfabetos e os cegos não podem testar na forma cerrada. Isto se dá para sua própria proteção. Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba ou não possa ler.

O surdo-mudo pode estar desde que escreva e assine.

Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo, e o assine de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede.

A última fase é a do cerramento, em que, segundo a tradição, o tabelião, estado a cédula dobrada, costura-a com cinco ponto de retrós e lança pingos de lacres sobre cada u. A lacração, embora seja uma antiga praxe, que muito dificulta as tentativas de adulteração, não constitui formalidade de que dependa a eficácia do testamento.

Dispõe o artigo 1.874 do Código Civil:

Art. 1.874. Depois de aprovado e cerrado, será o testamento entregue ao testador, e o tabelião lançará, no seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue.

Efetuada a entrega pelo tabelião, deve o testamento, fechado e cosido, ser guardado, pelo testador ou pela pessoa que este designar, para ser apresentado em juízo por ocasião da abertura da sucessão. Até então, o documento deve permanecer inviolável; se, porventura, for aberto pelo testador, ou houver violação do lacre, ter-se-á como revogado, consoante o disposto no artigo 1.872 do Código Civil: “O testamento cerrado que o testador abrir ou dilacerar, ou for aberto ou dilacerado com seu consentimento, haver-se-á como revogado”.

Dispõe, por fim, o artigo 1.875 do Código Civil:

Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará registrar, ordenando seja cumprido, se não achar vício externo que o torne eivado de nulidade ou suspeito de falsidade.

A abertura, o registro e o cumprimento do testamento cerrado são regulados pelos artigos 1.125 a 1.127 do CPC.

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Art. 1.125. Ao receber testamento cerrado, o juiz, após verificar se está intacto, o abrirá e mandará que o escrivão o leia em presença de quem o entregou.

Parágrafo único. Lavrar-se-á em seguida o ato de abertura que, rubricado pelo juiz e assinado pelo apresentante, mencionará:

I - a data e o lugar em que o testamento foi aberto;

II - o nome do apresentante e como houve ele o testamento; III - a data e o lugar do falecimento do testador;

V - qualquer circunstância digna de nota, encontrada no invólucro ou no interior do testamento.

c) TESTAMENTO PARTICULAR

Denomina-se testamento particular ou hológrafo o ato de disposição de última vontade escrito de próprio punho, ou mediante processo mecânico, assinado pelo testador, e lido por este a três testemunhas, que o subscreverão, com a obrigação de, depois da morte do disponente, confirmar a sua autenticidade.

A vantagem desse meio de testar consiste na desnecessidade da presença do tabelião, tonando-se, assim, simples, cômodo e econômico para o testador. Esse testamento, ainda mais facilmente que o cerrado, é suscetível de se extraviar, porque, contrariamente ao que ocorre com aquele, de sua existência não há qualquer registro em ofício público, e ela só será atestada pela memória das testemunhas. Mas, se o testamento não for encontrado, obviamente não pode ser cumprido, ainda que todas as testemunhas confirmem o fato de sua elaboração e atestem qual o seu conteúdo.

PONTOS POSITIVOS PONTOS NEGATIVOS

Facilidade Facilidade no extravio

Simplicidade Ocultação

Custo

São necessárias 3 testemunhas. E quando for abrir o testamento, as testemunhas serão chamadas para confirmar. É bom senso que as testemunhas tenham idade menor que o testador.

Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico.

§ 1o Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever.

§ 2o Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o subscreverão.

Art. 1.877. Morto o testador, publicar-se-á em juízo o testamento, com citação dos herdeiros legítimos.

Art. 1.878. Se as testemunhas forem contestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o testamento será confirmado.

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Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz.

O artigo 1.880 traz a possibilidade do testamento particular ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas a compreendam. Enquanto no testamento público é inadmissível o emprego de língua estrangeira, pois lavrado por tabelião em livro oficial, em se tratando de documento privado, como é o testamento particular, a regra é a mais absoluta liberdade de se expressar em língua que retrate fidedignamente a vontade do testador.

Art. 1.880. O testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas a compreendam.

6. CODICILOS

Codicilo é ato de última vontade, destinado, porém, a disposições de pequeno valor ou recomendações para serem atendidas e cumpridas após a morte.

Não se trata de testamento, mas documento onde se encontram disposições de menos relevância, de maior simplicidade. São disposições de pouca importância.

Art. 1.881. Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou jóias, de pouco valor, de seu uso pessoal.

Pode o codicilo ser utilizado pelo autor da herança para as seguintes finalidades: a) fazer disposições sobre o seu enterro;

b) deixar esmolas de pouca monta;

c) legar móveis, roupas e joias, de pouco valor, de seu uso pessoal;

A lei não estabelece um critério para aferição do pequeno valor, isso ficou a cargo da doutrina. No que se refere a esmola de pouca monta existem duas correntes:

a) até 5% do patrimônio do de cujus; b) Até 5 salários mínimos.

Art. 1.882. Os atos a que se refere o artigo antecedente, salvo direito de terceiro, valerão como codicilos, deixe ou não testamento o autor.

Testamenteiro é aquela pessoa nomeada pelo testador para cumprir o testamento.

Art. 1.883. Pelo modo estabelecido no art. 1.881, poder-se-ão nomear ou substituir testamenteiros.

A revogação do codicilo pode ser expressa ou tácita. É expressa quando o codicilo é revogado por outro codicilo, ou por outro testamento, com menção à intenção de revogá-lo. É tácita quando se dá pela elaboração de testamento posterior, de qualquer natureza, sem confirmá-lo, ou modificá-lo. O codicilo pode, assim, ser revogado por outro codicilo, ou por um testamento posterior. Ou seja, a revogação do codicilo tanto se faz por outro ato da mesma natureza como por qualquer espécie de testamento.

Nem sempre, porém, o codicilo posterior revoga o anterior. Podem completar-se e trazer disposições diversas: num deles, por exemplo, consta esmola de pouca monta a determinada pessoa; noutro, disposições sobre o seu enterro. Após a morte do disponente, ambos serão cumpridos, se não tiverem sido revogados por outro modo, pois não incompatibilidades entre as disposições de um e de outro.

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Testamento revoga codicilo, mas codicilo não revoga testamento.

Art. 1.884. Os atos previstos nos artigos antecedentes revogam-se por atos iguais, e consideram-se revogados, se, havendo testamento posterior, de qualquer natureza, este os não confirmar ou modificar.

Falecendo o disponente, a abertura do codicilo far-se-á como a do testamento cerrado: será aberto pelo juiz, que o fará registrar, ordenando que seja cumprido, se não achar vício externo que o torne eivado de nulidade ou suspeito de falsidade.

Art. 1.885. Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do mesmo modo que o testamento cerrado.

7. DOS TESTAMENTOS ESPECIAIS

O Código Civil regula três formas de testamentos especiais.

Art. 1.886. São testamentos especiais: I - o marítimo;

II - o aeronáutico; III - o militar.

Art. 1.887. Não se admitem outros testamentos especiais além dos contemplados neste Código.

a) TESTAMENTO MARÍTIMO

Testamento marítimo é a declaração de última vontade, feita a bordo de navios de guerra ou mercantes.

Art. 1.888. Quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado.

Parágrafo único. O registro do testamento será feito no diário de bordo. Essa modalidade testamentária apresenta duas peculiaridades:

a) não prevalece o testamento marítimo, se a embarcação estiver em pequeno cruzeiro, ou mesmo no curso de uma viagem, se ao tempo de sua confecção “o navio estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária”

Art. 1.892. Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária. b) caducará, se o testador não morrer em viagem nem nos noventa dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento.

Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento.

b) TESTAMENTO AERONÁUTICO

Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo antecedente.

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Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento.

c) TESTAMENTO MILITAR

Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas.

§ 1o Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo destacado, o testamento será escrito pelo respectivo comandante, ainda que de graduação ou posto inferior.

§ 2o Se o testador estiver em tratamento em hospital, o testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde, ou pelo diretor do estabelecimento.

§ 3o Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir.

Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu punho, contanto que o date e assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste mister.

Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se apresente notará, em qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano, em que lhe for apresentado, nota esta que será assinada por ele e pelas testemunhas.

Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois dele, o testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do artigo antecedente.

O artigo 1.896 se refere ao testamento nuncupativo. Pressupõe que a pessoa esteja exposta, em qualquer caso, a risco de vida, e impossibilitada de se utilizar da escrita.

Art. 1.896. As pessoas designadas no art. 1.893, estando empenhadas em combate, ou feridas, podem testar oralmente, confiando a sua última vontade a duas testemunhas.

Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador não morrer na guerra ou convalescer do ferimento.

8. DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

A disposição testamentária está para o testamento assim como as disposições contratuais estão para o contrato.

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a) NOMEAÇÃO PURA E SIMPLES

É a forma mais comum. Ocorre quando o testador não impõe nenhuma condição, ônus ou qualquer limitação ao direito do beneficiário, e a estipulação produz seus efeitos logo que se abre a sucessão.

É aquela que não contém nenhum elemento acidental. Os elementos acidentais do negócio jurídico são termo, condição e encargo. Assim, a nomeação pura e simples é aquela que não precede de nenhuma exigência. Exemplo: deixo os meus bens para Pedro e Luiza.

b) NOMEAÇÃO SOB CONDIÇÃO OU CONDICIONAL

Condição é o acontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico. Da sua ocorrência depende o nascimento ou a extinção de um direito.

Exemplo: João receberá uma bolsa de estudos para fazer mestrado na Alemanha, se vier a concluir a faculdade em Medicina.

Se o testador impuser ao herdeiro ou legatário uma condição que seja juridicamente ou fisicamente impossível, a qualidade de herdeiro ou legatário é mantida, mas não se exigirá a condição.

c) NOMEAÇÃO PARA CERTO FIM OU MODO

É a disposição submetida a encargo. Encargo ou modo é uma determinação que, imposta pelo autor de liberalidade, a esta adere, restringindo-a. Impõe-se uma obrigação ao beneficiário.

Na nomeação mediante encargo o testador impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário, como a de cuidar de certa pessoa ou animal ou de assumir o pagamento dos estudos de alguém, por exemplo.

A imposição é feita para ser cumprida após a abertura da sucessão, uma vez que só a partir desse instante o testamento produz efeitos.

Exemplo: deixo minha casa para Madalena, a qual deverá transformá-la numa escola. Se houver um único herdeiro ou legatário e este renunciar a herança, o testamento estará caduco.

d) NOMEAÇÃO POR CERTO MOTIVO

Acompanha o motivo que a causou. Permite o artigo 1.897 do Código Civil que a nomeação do herdeiro ou legatário se faça por certo motivo.

O testador não é obrigado a dar as razões pelas quais favorece certa pessoas. Não obstante, muitas pessoas preferem consignar a causa pela qual gratificam determinado beneficiário. Algumas chegam a lançar pormenorizadas explicações a esse respeito. Mesmo que sejam inexatas, não invalidam a disposição, nem o herdeiro adstrito se acha a provar que elas são verdadeiras.

Exemplo: deixo um iate para Benedito, que me salvou de afogamento na praia.

A disposição, neste caso, é motivada. Se depois da morte se perceber que houve erro quanto a indicação da pessoa, para se cumprir a vontade do testador, deve-se entregar os bens àquele que realmente se desejaria ver beneficiado. Se não se souber quem é a pessoa correta, a herança voltará, pois o testamento estará caduco.

O artigo 1.898 dispõe que:

Art. 1.898. A designação do tempo em que deva começar ou cessar o direito do herdeiro, salvo nas disposições fideicomissárias, ter-se-á por não escrita.

O referido artigo proíbe a nomeação de herdeiro a termo. Cláusula desta natureza ter-se-á por não escrita, de modo que o herdeiro nada tem a aguardar. Aberta a sucessão, é havido como sucessos, independentemente de qualquer ato.

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Esta disposição é tida como não escrita, porque seria incoerente com o ordenamento, visto que com a morte a herança transmite-se automaticamente.

Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.

O artigo 1.899 consagra o princípio da supremacia ou da primazia da vontade do testador. O objetivo é de alcançar a real vontade do testador.

Em suma, se a palavra escrita não for clara e ensejar várias interpretações, prevalerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador. Para poder aferi-la, torna-se necessário apreciar o conjunto das disposições testamentárias, e não determinada cláusula que, isoladamente, ofereça dúvida.

O artigo 1.899 deve ser analisado juntamente com o artigo 1.903.

Art. 1.903. O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa legada anula a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros documentos, ou por fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador queria referir-se.

A primeira parte do artigo 1.903 do Código civil reafirma o preceito do artigo 171, II, que considera anulável o negócio jurídico viciado por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Desse modo, se o testador, por exemplo, deseja beneficiar o legatário com o prédio “A”, mas por engano lhe atribui o imóvel “B”, ocorre erro sobre o objeto principal da declaração.

Todavia, se o erro vem a ser meramente acidental, relativo a circunstância de menos importância e que não acarreta efetivo prejuízo, não ocorrerá a anulação.

Exemplo: O testador deixa para o jardineiro alguns objetos de jardinagem, mas se equivoca ao declinar o nome exato dele, pois está acostumado a chamá-lo por outro nome, a disposição não é invalidada, porque tais enganos têm natureza secundária e não afetam a eficácia da nomeação.

A segunda parte do dispositivo ressalva que mesmo o erro substancial poderá deixar de ser causa de anulação do ato, se for possível “identificar a pessoa ou a coisa a que o testador queria referir-se”.

Se, por exemplo, o testador deixa bens a pessoa que chamava de filha e se prova que tal pessoa não era sua filha, a disposição pode ser anulada por seus herdeiros legítimos. Porém, se do próprio contexto do testamento se evidencia que o testador desejava instituir referida pessoa, que considerava como filha, embora soubesse não o ser, fica desfeito o equívoco e afastada a causa de anulabilidade.

O artigo 1.900 do Código Civil estabalece várias proibições. Art. 1.900. É nula a disposição:

Considera nula, em primeiro lugar a disposição:

I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha, também por testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;

A captação de vontade representa um induzimento, mediante nomeação e favorecimento de outrem, como herdeiro, para que este também inclua o captador, ou terceiro em suas disposições testamentárias, como beneficiário.

O que o Código veda é a proposta de uma troca de favores, um pacto negocial. Não vale a cláusula pela qual o testador institui herdeiro determinado indivíduo se ele, em seu testamento, igualmente nomeá-lo seu sucessor.

Por exemplo: “Lego tal quantia a João, se ele me contemplar em ato causa mortis, ou deixo a Pedro, que instituo meu herdeiro, o quanto ele me transmitir no seu testamento.

Tal espécie de cláusula restringe a liberdade de testar, que deve ser ampla.

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É nula também a cláusula que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar.

Sem a identificação do beneficiário, não há como cumprir a vontade do testador, salvo se a pessoa for determinável. O beneficiado pelo ato de última vontade deve ser pessoa certa, cuja designação se encontre no próprio testamento e em termos que tornem possível identificá-lo. Não é, entretanto, indispensável que se diga o nome da pessoa a quem se quer deixar a herança ou o legado. Basta que se consignem caracteres pelos quais possa, objetivamente, ser distinguida das outras.

III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro;

Considera-se ainda viciada a cláusula que favoreça a “pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro”.

O testamento é ato privativo do autor da herança. Não se admite a sua feitura nem mesmo por procurador com poderes especiais. Valerá a disposição em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro. A intervenção legal de um terceiro se dá apenas para completar a disposição.

IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;

Se fosse lícito deferir a outrem a fixação do legado, seria este e não o testador quem estaria dispondo, pois o terceiro poderia fixar o benefício em cifra de tal modo elevada que absorveria a quase totalidade da herança.

V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802. Dispõe o artigo 1.901 do Código Civil:

Art. 1.901. Valerá a disposição:

I - em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado;

II - em remuneração de serviços prestados ao testador, por ocasião da moléstia de que faleceu, ainda que fique ao arbítrio do herdeiro ou de outrem determinar o valor do legado.

Exemplo: testador deixa um legado como agradecimento pelos serviços prestados pela enfermeira ao testador. O artigo 1.902 procura suprir a omissão do testador na indicação precisa dos beneficiários, estabelecendo que a disposição geral em favor dos pobres ou entidades particulares de caridade entender-se-á relativa aos do lugar do seu domicílio ao tempo de sua morte, salvo se manifestamente constar que tinha em mente benefeciar os de outra localidade.

No caso de dúvida, as instituições particulares, por serem mais necessitadas, preferem às públicas.

Art. 1.902. A disposição geral em favor dos pobres, dos estabelecimentos particulares de caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á relativa aos pobres do lugar do domicílio do testador ao tempo de sua morte, ou dos estabelecimentos aí sitos, salvo se manifestamente constar que tinha em mente beneficiar os de outra localidade.

Parágrafo único. Nos casos deste artigo, as instituições particulares preferirão sempre às públicas.

O artigo 1.904 demonstra como será interpretada a herança quando não for estabelecido o respectivo quinhão.

Art. 1.904. Se o testamento nomear dois ou mais herdeiros, sem discriminar a parte de cada um, partilhar-se-á por igual, entre todos, a porção disponível do testador.

Se o autor da herança tem herdeiros necessários, só pode testar a porção disponível. Atribuindo-se a dois ou mais herdeiros, sem especificar as quotas respectivas, efetuar-se-á a partilha por igual, entre todos.

(15)

Art. 1.905. Se o testador nomear certos herdeiros individualmente e outros coletivamente, a herança será dividida em tantas quotas quantos forem os indivíduos e os grupos designados.

Aplica-se o dispositivo, por conseguinte, à hipótese de o testador nomear alguns herdeiros individualmente (Renata e Luciana, por exemplo) e outros coletivamente (os filhos de Wanda).

Nesse caso, a herança será dividida em três partes: Renata e Luciana, indicadas individualmente, receberão uma quota parte cada uma, enquanto a dos filhos de Wanda será dividia entre todos eles, salvo, se comprovadamente, outra era a intenção do testador.

Exemplo: Nomeio como meus herdeiros José, os filhos de Pedro e os netos de Maria. Sabendo-se que Pedro tem 3 filhos e Maria 2 netos, como se dividiria a herança?

Resposta: 1/3 para José; 1/3 para Pedro e 1/3 dividido entre os netos de Maria. Segundo o artigo 1.906 do Código Civil:

Art. 1.906. Se forem determinadas as quotas de cada herdeiro, e não absorverem toda a herança, o remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem da vocação hereditária.

Se o testamento não abarca a totalidade dos bens, o remanescente irá para a sucessão legítima. Ocorrerá, nesse caso, a coexistência da sucessão testamentária com a legítima.

Nos termos do artigo 1.907:

Art. 1.907. Se forem determinados os quinhões de uns e não os de outros herdeiros, distribuir-se-á por igual a estes últimos o que restar, depois de completas as porções hereditárias dos primeiros.

As quotas determinadas serão, assim, atendidas primeiro, não podendo ser desfalcadas sob pretexto de haver outros herdeiros instituídos, sem quota determinada. A presunção legal é a de que as instituições destes últimos é para o que sobrar, sem prejuízo dos legados de coisa certa ou quantia certa. Se nada sobra, os herdeiros instituídos sem quota determinada, nada podem reclamar, porque a sua expectativa jurídica era residual.

Exemplo: Nomeio Maria (10%), Paulo (8%), Joaquim (12%), Cristina, Luís e Luiza. Preceitua o artigo 1.908 do Código Civil:

Art. 1.908. Dispondo o testador que não caiba ao herdeiro instituído certo e determinado objeto, dentre os da herança, tocará ele aos herdeiros legítimos.

Cuida o artigo de bem remanescente que o testador não quer que seja atribuído ao herdeiro instituído. A solução é a já prevista no artigo 1.906: o bem pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem de vocação hereditária. Ao invés de dizer que ele vai receber determinado bem, diz que ele vai receber tudo, menos aquele bem.

Art. 1.909. São anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou coação.

Parágrafo único. Extingue-se em quatro anos o direito de anular a disposição, contados de quando o interessado tiver conhecimento do vício.

O artigo 1.910 do Código civil prescreve, ainda, que:

Art. 1.910. A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem aquela, não teriam sido determinadas pelo testador.

Em princípio, a ineficácia de uma disposição testamentária não se irradia às outras; pressupõe-se que haja independência entre elas. Mas, segundo o dispositivo supratranscrito, a infeficácia lato sensu (que inclui a invalidade e outras causas) de uma disposição vai contaminar as demais, se restar comprovado que, sem ela, não teriam estas sido determinadas pelo testador.

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inalienabilidade, vitalícia ou temporária, que inclui automaticamente a impenhorabilidade e a incomunicabilidade dos bens.

Dispõe, com efeito, o aludido artigo 1.911 do Código Civil:

Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.

Cláusula de inalienabilidade é a disposição imposta pelo autor de uma liberalidade determinando que o beneficiário não pode dispor da coisa recebida, transferindo-lhe, destarte, o domínio limitado, pois só terá a prerrogativa de usar, gozar e reivindicar a coisa, faltando-lhe, porém, o direito de dela dispor. Em outras palavras, é aquela que restringe o poder de alienar; quem recebe o bem não pode vender, doar, permutar, etc.

Verifica-se que a própria lei abre exceção à sanção da inalienabilidade. O parágrafo único se refere à desapropriação e à sub-rogação (“produto da venda”) autorizada pelo juiz. A primeira exceção é determinada pelo interesse público, e a segunda atende à conveniência daquele que possui o bem clausulado.

Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros.

9. DO DIREITO DE ACRESCER ENTRE HERDEIROS E LEGATÁRIOS

Dá-se o direito de acrescer quando o testador contempla vários beneficiários (coerdeiros ou colegatários), deixando-lhe a mesma herança, ou a mesma coisa determinada e certa, em porções não determinadas, e um dos concorrentes vem a faltar).

Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e qualquer deles não puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos co-herdeiros, salvo o direito do substituto.

São necessários os seguintes requisitos: a) Pluralidade de herdeiros;

b) Nomeação conjunta na mesma disposição; c) Quinhões não determinados;

d) Pelo menos um dos herdeiros não possa ou não queira receber.

Exemplo: Nomeio como meus herdeiros Marhareth, Diego e Paula. Se a Margareth não puder ou não quiser receber, a parte dela será divida entre Diego e Paul.

Exemplo 2: 12 cabeças de gados serão divididas entre Margareth, Diego e Paula. Herdeiro Cabeças de gado

Margareth 4 Não pode ou não quer receber.

Diego 4 Diego receberá 4 + 2

Paula 4 Paula receberá 4 +2

O artigo 1.942 trata da mesma coisa, só que agora diz respeito ao legado. +

+ Margareth

Diego

Paula

1/3

1/3

1/3

1/6

1/6

= 1/2

= 1/2

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Art. 1.942. O direito de acrescer competirá aos co-legatários, quando nomeados conjuntamente a respeito de uma só coisa, determinada e certa, ou quando o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de desvalorização.

O artigo 1.943 dispõe que:

Art. 1.943. Se um dos co-herdeiros ou co-legatários, nas condições do artigo antecedente, morrer antes do testador; se renunciar a herança ou legado, ou destes for excluído, e, se a condição sob a qual foi instituído não se verificar, acrescerá o seu quinhão, salvo o direito do substituto, à parte dos co-herdeiros ou co-legatários conjuntos.

Referido artigo menciona as hipóteses em que o nomeado não pode ou não quer receber a herança. A parte do que faltar será recolhida pelo substituto designado pelo testador se este, prevendo o acontecimento, tiver feito a nomeação. Caso contrário, acrescerá ao quinhão dos coerdeiros ou legatários, acréscimo que não ocorrerá, entretanto, se o testador, ao fazer a nomeação conjunta, especificou o quinhão de cada um (por exemplo, a metade, um terço, etc.) Entende-se que, nesse caso, a intenção do testador foi beneficiar cada qual somente com a porção especificada.

Proclama o parágrafo único do artigo 1.943:

Parágrafo único. Os co-herdeiros ou co-legatários, aos quais acresceu o quinhão daquele que não quis ou não pôde suceder, ficam sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam.

Excluem-se somente os encargos personalíssimos, como na hipótese de legado deixado para que o beneficiário se case. Em tal hipótese, se o legado acresce ao de outro colegatário, desaparece o encargo, não se podendo cogitar de sua transmissão ao favorecido com o acréscimo.

Art. 1.944. Quando não se efetua o direito de acrescer, transmite-se aos herdeiros legítimos a quota vaga do nomeado.

Parágrafo único. Não existindo o direito de acrescer entre os co-legatários, a quota do que faltar acresce ao herdeiro ou ao legatário incumbido de satisfazer esse legado, ou a todos os herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se o legado se deduziu da herança.

O artigo 1.945 dispõe que não pode repudiar a herança separadamente. Ou aceita tudo ou repudia tudo. Exemplo: nomeio João e Maria (esta última deverá cuidar de Artur). Se Maria não puder ou não quiser o João tem o direito de acrescer. Só que quando ele recebe a quota parte ele recebe também o dever de cuidar do Artur. Ele pode repudiar? Sim, se ele recusar o Artur será o beneficiário do encargo, logo, ele irá receber a parte de Maria. A cota é direcionada à pessoa que seria a beneficiária.

Art. 1.945. Não pode o beneficiário do acréscimo repudiá-lo separadamente da herança ou legado que lhe caiba, salvo se o acréscimo comportar encargos especiais impostos pelo testador; nesse caso, uma vez repudiado, reverte o acréscimo para a pessoa a favor de quem os encargos foram instituídos.

O artigo 1.946 trata de do direito de acrescer de legado e usufruto. Pode deixar como legado, dinheiro, animais, pensão alimentícia, legado de usufruto, etc.

Exemplo: deixa uma casa ao filho, mas o usufruto é dos pais, Se o pai morrer antes, o usufruto é concentrado para a mãe.

Art. 1.946. Legado um só usufruto conjuntamente a duas ou mais pessoas, a parte da que faltar acresce aos co-legatários.

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10. DAS SUBSTITUIÇÕES

DA SUBSTITUIÇÃO VULGAR E DA RECÍPROCA

Existem duas espécies de substituição: a vulgar e a fideicomissória.

Dá-se a substituição vulgar quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do herdeiro, que não quiser ou não puder aceitar o benefício.

A substituição vulgar é a modalidade prevista no artigo 1.947. Constitui instituição condicional, estabelecida para o caso de o beneficiário não querer ou não poder recolher a herança ou o legado. É subsidiária porque só terá aplicação se a disposição principal não produzir efeito.

Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado, para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a herança ou o legado, presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se refira.

Exemplo: nomeio como herdeiro meu filho João. Mas, se ele não puder ou não quiser nomeio meu sobrinho. Se ele não puder ou não quiser nomeio Pedro meu amigo.

Dispõe o artigo 1.948 do Código civil:

Art. 1.948. Também é lícito ao testador substituir muitas pessoas por uma só, ou vice-versa, e ainda substituir com reciprocidade ou sem ela.

Pelo artigo 1.949 o substituto assume, assim, o lugar do substituído com os mesmo direitos e deveres. Sujeita-se à condição ou encargo imposto ao substituído, mas somente se o testador não manifestar intenção diversa, ou não resultar outra coisa da natureza da condição ou do encargo, como ocorre nos gravames de natureza estritamente pessoal.

Art. 1.949. O substituto fica sujeito à condição ou encargo imposto ao substituído, quando não for diversa a intenção manifestada pelo testador, ou não resultar outra coisa da natureza da condição ou do encargo.

Se for incluído mais alguém como substituto, além dos que já haviam sido primitivamente instituídos, não haverá mais a possibilidade de manter a proporção fixada na primeira disposição. A solução encontrada pelo legislador, no artigo 1.950, segunda parte, foi dividir o quinhão vago em partes iguais.

Art. 1.950. Se, entre muitos co-herdeiros ou legatários de partes desiguais, for estabelecida substituição recíproca, a proporção dos quinhões fixada na primeira disposição entender-se-á mantida na segunda; se, com as outras anteriormente nomeadas, for incluída mais alguma pessoa na substituição, o quinhão vago pertencerá em partes iguais aos substitutos.

Exemplo: nomeio Mariana (1,00), Bárbara (2,00), Layla (9,00), substitutas entre si. Uma substitui a outra. Layla morreu, divida a herança?

A lei mantém a mesma proporção que foi estipulada pelo testador.. Bárbara receberá o dobro de Mariana. Se Mariana receberá X , Bárbara receberá 2X. Logo 3X=9. X=3

Mariana receberá 1,00 + 3,00 Bárbará receberá 2,00 + 6,00.

A segunda parte do artigo trata da substituição quando foi incluída outra pessoa que não estava na disposição inicial.

Exemplo; nomeio Mariana (1,00), Bárbara (2,00), Layla (9,00), substitutas entre si + João. O João não estava na disposição primeira, ele é tão somente substituto. Se Layla morrer divide-se igualmente a herança entre Mariana, Bárbara e João. Pois João não tinha cota definida, por isso não tem parâmetro anterior, dessa forma divide-se igualmente a herança da Layla.

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João 3,00

DA SUBSTITUIÇÃO FIDEICOMISSÁRIA

Verifica-se a substituição fideicomissária quando o testador nomeia um favorecido e, desde logo, designa um substituto, que recolherá a herança, ou legado, depois daquele. Estabelece-se uma vocação dupla: direta, para o herdeiro ou legatário instituído, que desfrutará do benefício por certo tempo estipulado pelo de cujus; e indireta ou oblíqua, para o substituto. Os contemplados são, assim, nomeados em ordem sucessiva.

Tal modalidade de substituição é prevista no artigo 1.951.

Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários, estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança ou o legado se transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo tempo ou sob certa condição, em favor de outrem, que se qualifica de fideicomissário.

Verifica-se que há, no fideicomisso, 3 personagens: a) o fideicomitente, que é o testador;

b) o fiduciário ou gravado, em geral pessoa de confiança do testador, chamado a suceder em primeiro lugar para cuidar do patrimônio deixado;

c) o fideicomissário, último destinatário da herança, ou legado, e que os receberá por morte do fiduciário, ou realizada certa condição, ou se decorreu o tempo estabelecido pelo disponente.

Art. 1.952. A substituição fideicomissária somente se permite em favor dos não concebidos ao tempo da morte do testador.

Parágrafo único. Se, ao tempo da morte do testador, já houver nascido o fideicomissário, adquirirá este a propriedade dos bens fideicometidos, convertendo-se em usufruto o direito do fiduciário.

Nomeio, meu herdeiro, o filho de Layla, (mas layla não tem filho). Trata-se da figura da prole eventual. É o filho de alguém ainda não concebido. A herança passará das mãos do Rodrigo para o filho que a layla tiver.

A lei exige que ao tempo da morte layla esteja viva e ainda não tenha havido o filho.

Se quando testar ela já tiver o filho o testamento é nulo. E se layla for pré-morta o testamento é caduco.

Conforme o artigo 1.953 a propriedade é restrita e resolúvel. Desse modo, até que se opere a substituição, o fiduciário assume a condição de proprietário sob condição resolutiva, enquanto o fideicomissário o é sob condição suspensiva. Enquanto não ocorram os fatos que determinam a substituição, tem o fideicomissário um direito meramente eventual sobre os bens fideicomitidos.

Art. 1.953. O fiduciário tem a propriedade da herança ou legado, mas restrita e resolúvel.

Parágrafo único. O fiduciário é obrigado a proceder ao inventário dos bens gravados, e a prestar caução de restituí-los se o exigir o fideicomissário.

Art. 1.954. Salvo disposição em contrário do testador, se o fiduciário renunciar a herança ou o legado, defere-se ao fideicomissário o poder de aceitar.

Art. 1.955. O fideicomissário pode renunciar a herança ou o legado, e, neste caso, o fideicomisso caduca, deixando de ser resolúvel a propriedade do fiduciário, se não houver disposição contrária do testador.

(20)

Art. 1.957. Ao sobrevir a sucessão, o fideicomissário responde pelos encargos da herança que ainda restarem.

Art. 1.958. Caduca o fideicomisso se o fideicomissário morrer antes do fiduciário, ou antes de realizar-se a condição resolutória do direito deste último; nesse caso, a propriedade consolida-se no fiduciário, nos termos do art. 1.955.

Art. 1.959. São nulos os fideicomissos além do segundo grau.

Art. 1.960. A nulidade da substituição ilegal não prejudica a instituição, que valerá sem o encargo resolutório.

11. DA DESERDAÇÃO

Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro necessário, mediante disposição testamentária motivada em uma das causas previstas em lei. Para excluir da sucessão os parentes colaterais não é preciso deserdá-los; “basta que o testador disponha do seu patrimônio sem os contemplar” (art. 1.850).

Herdeiro necessário é o que tem direito à legítima correspondente à metade da herança. Ostentam tal condição “os descendentes, os ascendentes e o cônjuge” (art. 1.845).

Deserdação não se confunde com indignidade, embora ambas tenham a mesma finalidade, qual seja, excluir da sucessão quem praticou atos condenáveis contra o de cujus.

EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE DESERDAÇÃO

A indignidade decorre da lei É um ato de vontade. A deserdação é o autor da herança que pune o responsável, em testamento. É instituto da sucessão legítima. É instituto da sucessão testamentária, pois depende de

testamento, com expressa declaração de causa. A exclusão por indignidade é postulada por terceiros

interessados em ação própria e obtida mediante sentença judicial.

A deserdação se dá por testamento, com expressa declaração da causa.

O artigo 1.961 do CC proclama que os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão por indignidade.

Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão.

Corresponde a dizer que os herdeiros necessários sujeitam-se à deserdação em todos os casos enumerados no artigo 1.814 que se resumem a atentado contra a vida, a honra e a liberdade de testar do de cujus.

(21)

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física; I - ofensa física;

II - injúria grave; II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;

IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.

Art. 1.964. Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento.

Art. 1.965. Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador.

Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento.

12. DA REDUÇÃO DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

A liberdade de testar é relativa, pois os herdeiros necessários não podem, ser privados de seu direito sucessório. São eles sucessores obrigatórios, que sucedem ainda contra a vontade do de cujus.

Havendo herdeiros necessários, isto é, descendentes, ascendentes e cônjuge, o testador só poderá dispor da metade da herança, pois a outra constitui a legítima, àqueles assegurada no artigo 1.846; não havendo, plena será a sua liberdade de testar, podendo afastar da sucessão os herdeiros colaterais simplesmente dispondo de seu patrimônio sem os contemplas (art. 1.850).

Se o testador for casado no regime de comunhão universal de bens, o patrimônio do casal será dividido em duas meações, e só poderá dispor, em testamento, integralmente, da sua, se não tiver herdeiros necessários, e da metade, ou seja, de um quarto do patrimônio do casal, se os tiver.

Para assegurar a intangibilidade da legítima, impedindo que a cota disponível deixada a terceiros ultrapasse o limite de 50%, a lei confere aos interessados o direito de redução das disposições testamentárias (artigo 1.966 a 1.968), pelo qual se cerceiam as liberdades excessivas, efetuadas pelo testador em detrimento da legítima, restringindo-as aos limites legais, às suas justas proporções.

Dá-se a redução das disposições testamentárias, por conseguinte, quando excederem a quota disponível do testador. Não se anula o testamento, ou a cláusula testamentária, procede-se apenas a uma transferência de bens da quota disponível para a legítima.

Opera-se a redução testamentária consoante a ordem estabelecida no aritogo 1.967 e parágrafos do Código Civil, que determinam:

(22)

§ 1o Em se verificando excederem as disposições testamentárias a porção disponível, serão proporcionalmente reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até onde baste, e, não bastando, também os legados, na proporção do seu valor.

§ 2o Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, certos herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões ou legados, observando-se a seu respeito a ordem estabelecida no parágrafo antecedente.

Não haverá, portanto, redução, se as liberalidades couberem inteiras na metade disponível. Quando o testador só em parte dispuser de sua metade disponível, o remanescente permanecerá aso herdeiros legítimos (artigo 1.966 do CC).

Se as disposições testamentárias ultrapassarem a metade disponível, serão as liberalidades reduzidas proporcionalmente, até onde baste, ou seja, até o necessário para obter perfeito equilíbrio entre a porção disponível e a quota legitimária, seguindo-se a ordem de precedência instituída no artigo 1.967 e parágrafos

Se essa redução não bastar, passar-se-á aos legados, na proporção do seu valor, até que se complete a legítima dos herdeiros necessários. Os legados não serão reduzidos enquanto não desaparecer toda herança deixada pelo testador ao herdeiro instituído sem que a legítima ainda esteja integrada.

Estabelece o artigo 1.968 do Código Civil:

Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução, far-se-á esta dividindo-o proporcionalmente.

§ 1o Se não for possível a divisão, e o excesso do legado montar a mais de um quarto do valor do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel legado, ficando com o direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na parte disponível; se o excesso não for de mais de um quarto, aos herdeiros fará tornar em dinheiro o legatário, que ficará com o prédio.

§ 2o Se o legatário for ao mesmo tempo herdeiro necessário, poderá inteirar sua legítima no mesmo imóvel, de preferencia aos outros, sempre que ela e a parte subsistente do legado lhe absorverem o valor.

A ação de redução é a conferrda ao herdeiro necessário para reclamar a integração de sua legítima hereditária, quando esta se houver desfalcado, por liberalidades efetuadas pelo de cujus, que por meio de atos entre vivos, quer por disposição de última vontade,

Quando, no entanto, o excesso resulta de disposição testamentária, a referida ação só pode ser ajuizada após a abertura da sucessão, porque só nesse instante o testamento pode ser cumprido e produzir efeitos.

13. DA REVOGAÇÃO DO TESTAMENTO

Revogação é o ato pelo qual se manifesta a vontade consciente do testador, com o propósito de torná-lo ineficaz. Pode o testador revogar o ato que contém a sua última manifestação de vontade quando lhe aprouver, até a hora de sua morte, sem necessidade de declinar o motivo. Mesmo que por mero capricho, assiste-lhe o direito de alterar ou revogar o ato de última vontade, a todo tempo. A revogação não depende de qualquer vício, é uma relação de conveniência e oportunidade.

Segundo o artigo 1.969 do Código civil:

Art. 1.969. O testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e forma como pode ser feito.

Referências

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