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RESTRIÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA ZONA DE CONSERVAÇÃO HÍDRICA DO MUNICÍPIO DE CABREÚVASP

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Academic year: 2019

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RESTRIÇÕES AO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA ZONA DE

CONSERVAÇÃO HÍDRICA DO MUNICÍPIO DE CABREÚVA/SP

Daniela Cristina da Silva1

As Unidades de Conservação (UCs) foram criadas apoiadas no desenvolvimento sustentável, que tem como premissa ser capaz não só de garantir a perenidade dos recursos naturais às próximas gerações, mas assegurar que as gerações presentes vivam com qualidade de vida.

No município de Cabreúva, interior do estado de São Paulo, temos uma Área de Proteção Ambiental (APA), Unidade de Conservação de uso sustentável, criada em 1982, abrangendo o município em sua totalidade,visando aconter o avanço industrial e especulação imobiliária. Os aspectos naturais observados para que Cabreúva se tornasse uma APA foram: as áreas de mananciais, o Ribeirão Piraí, Jundiaí e as Serras do Japi, Guaxatuba, Guaxinduva, Jaguacoara e Cristais, que correspondem a um maciço montanhoso, abrigando a maior área de Mata Atlântica do interior do estado.

Sabemos que existe um interesse dos empresários no setor industrial, de lazer e imobiliário, conflitantes a manutenção dos atributos naturais do município, porém, atendem ao desejo de crescimento da cidade, investimentos que podem resultar em perdas do ponto de vista ambiental, mas ganhos econômicos. O que pretendemos é avaliar as transformações que ocorreram no espaço após o decreto. Quais atores sociais têm interferido e qual o papel desempenhado por eles nessa nova configuração espacial.

Políticas públicas foram adotadas para disciplinar o uso e ocupação do solo em Cabreúva. Em 1998, temos a regulamentação da APA com o zoneamento que estabelece três áreas: Zona de Conservação Hídrica, Zona de Restrição Moderada e Zona de Conservação de Vida Silvestre.

1 Aluna do programa de pós-graduação em Geografia Física da FFLCH/USP, sob orientação das

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, O Plano Diretor municipal e a lei de uso e ocupação foram redigidos em consonância com a lei regulamentação, da qual destacaremos a Zona de Conservação Hídrica (ZCH), destinada à proteção e conservação da qualidade e quantidade dos recursos hídricos utilizados para abastecimento público.

O lançamento de efluentes industriais e esgoto doméstico não tratado diretamente no Ribeirão Piraí compromete a qualidade da água que abastece outros três municípios: Salto, Itu e Indaiatuba.

Nos últimos dez anos, percebemos o avanço das indústrias e dos promotores imobiliários, sobretudo, após a duplicação da rodovia Dom Gabriel Paulino Couto (SP 300), no entorno do Piraí. O parcelamento de lotes no bairro Villarejo também tem contribuído para a contaminação da água na Zona de Conservação Hídrica. O Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) para a construção de um autódromo no município foi encaminhado à CETESB (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental) e aguarda avaliação.

Sabendo que há interesses conflitantes aos objetivos da conservação e da dificuldade do manejo de uma UC, pretendemos verificar se o município de Cabreúva conseguiu atingir os objetivos da sustentabilidade. Analisaremos a ZCH por ser a zona que sofre maior pressão e conflitos relacionados ao disciplinar do uso do solo e conservação dos recursos naturais.

Utilizaremos a legislação ambiental em vigor relacionada à APA, o plano diretor municipal, bem como o zoneamento estabelecido para a APA para detectar as conflitos existentes na gestão da APA. Analisaremos o EIA/RIMA elaborado para a construção do autódromo. Estudaremos a intervenção dos atores sociais por meio de entrevistas com as secretarias envolvidas, informações do Conselho Gestor, elaboração de mapas com levantamento das indústrias e condomínios, informações da CETESB. Ainda trabalharemos com mapas e estudos previamente elaborados sobre a Serra do Japi e Ribeirão Piraí, para detectar se os objetivos da proteção foram atingidos.

OS ATRIBUTOS NATURAIS DE CABREÚVA

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, A Área de Proteção Ambiental (APA) Cabreúva foi criada pela Lei Estadual nº 4.023, de 22 de maio de 1984, no governo Franco Montoro, com cerca de 26.100 ha toda a extensão do município é Área de Proteção Ambiental. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2003)

A Serra do Japi possui formação geológica no quartenário e atributos de fauna e flora, cachoeiras e matacões, cobre cerca de 30% do território de Cabreúva e ocupa áreas dos municípios de Jundiaí e Pirapora do Bom Jesus. Tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico (CONDEPHAAT) em 1983, com base nos estudos de Ab’Saber realizados em 1979, foi uma das principais razões para a criação da APA.

Devido a proximidade e a Serra também é conhecida como APA/Cabreúva-Jundiaí porém, são duas unidades de conservação distintas, apenas possuem o mesmo conselho para fins de gestão junto a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. A Japi é uma área de mananciais onde estão localizadas cabeceiras de sub-bacias formadoras do Rio Jundiaí e de outros tributários importantes do Médio Tietê Superior, inclusive o Ribeirão Piraí.

Recentemente a bacia hidrográfica do Ribeirão Piraí, da qual fazem parte os municípios de Indaiatuba, Itu e Salto, foi incorporada a APA Cabreúva, alterando seus limites.

Um dos principais objetivos da implantação desta APA era conter o avanço industrial que poderia ocasionar na perda da vegetação e poluir os recursos hídricos. Hoje Cabreúva tem um distrito industrial em crescimento, empreendimentos de impacto ambiental encontram brechas na política de compensação ambiental para se instalar no município. Veremos como o papel dos atores sociais tem intensificado os conflitos na configuração da APA Cabreúva.

CABREÚVA COMO UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, de proteção ambiental. Com base no conceito de desenvolvimento sustentável são criadas mais unidades de conservação no Brasil.

O desenvolvimento sustentável visa promover a sustentabilidade dos recursos naturais às gerações futuras, de acordo com o informe Nosso Futuro Comum, desenvolvimento sustentado é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas (ONU, 1987 apud DIEGUES, 2001).

O verdadeiro desenvolvimento sustentável deve ser capaz não só de garantir a perenidade dos recursos naturais as próximas gerações, mas assegurar que as gerações presentes viviam com qualidade de vida, algo que supera o desenvolvimento econômico, com manutenção de aspectos culturais, maior distribuição de renda. É apoiado neste conceito que a legislação do nosso país institui as unidades de conservação, inclusive as APAs.

O fato de nomear, determinar mediante a lei um município como Unidade de Conservação, não legitima uma área como UC, não garante a permanência dos recursos naturais, nem o uso sustentável. As UCs são mais do que nomenclaturas, para terem resultados, dependem da ação social que produz o espaço .

A APA é uma área instituída legalmente como área protegida, no entanto, pode atender a interesses e conveniências conflitantes com o discurso ambientalista. Empresários, moradores e o próprio Estado são os atores sociais responsáveis pelo ordenamento territorial dado ao município de Cabreúva após a criação da APA .

É importante vermos a sociedade como um todo que participa e atua de diferentes formas para alteração do espaço. A sociedade transforma o seu entorno com suas ações, com seus valores, um valor é dado a esta ou aquela porção do território de acordo com a visão que o homem tem do espaço, daquilo que acredita, de seus interesses e suas necessidades vitais. É a sociedade que produz o espaço. (SANTOS, 2002)

De acordo com a Lei no 9.985, de 18 de julho de 20002,que instituiu o SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, Art. 2º, pode-se entender por unidade de conservação:

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“I-unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, são legalmente instituídas pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob um regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; “ (BRASIL:2003)

Essas unidades assumem categorias diferenciadas, com proteção integral, nas quais raramente temos a permissão de ocupação humana e as visitas são controladas, as Unidades de Proteção Integral. E unidades nas quais existem menos restrições quanto ao uso e ocupação do solo, podendo até ser declaradas em áreas em pleno crescimento urbano e industrial, as Unidades de Uso Sustentável.

De acordo com o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), o objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Sabemos, porém que essas áreas são marcadas pelas relações de poder já existentes e constituirão numa transformação espacial promovida pela valorização atribuída pela sociedade, através das ações, é o que acontece com as Áreas de Proteção Ambiental, definidas pelo SNUC como:

“A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”. (BRASIL, 2003)

Ao destinar determinadas áreas para proteção, definindo o marco legal, o local e as razões para tal proteção temos a reprodução do pensamento da sociedade sobre estas áreas refletindo na produção do espaço. A sociedade dá um novo valor ao meio ambiente quando diz que é necessário preservá-lo. No caso de Cabreúva os atributos naturais, sobretudo a Serra do Japi, têm papel fundamental na elaboração da lei de proteção. A relevância dada à conservação da Mata Atlântica e os recursos hídricos fortaleceu o enfoque para a criação da APA.

A delimitação de uma área como Unidade de Conservação, constitui-se em uma nova ordenação territorial através da imposição pelo Estado, já que é ao Estado que compete instituir novas áreas para proteção. O Art. 22, da lei que instituiu o SNUC, diz

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, que: “as unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.” (BRASIL:2003)

O Estado está presente marcando, delimitando o território a ser protegido, para o controle da natureza, atuando como produtor de uma nova espacialidade. É também o próprio agente no sistema de ações, ele cria as leis, as aprova e as revoga. Atua como disciplinador do processo de ocupação.

A participação da população é garantida nos Conselhos Gestores e CONSEMA (Conselho Municipal do Meio Ambiente) mas, ainda há pouco envolvimento dos munícipes, o que resulta numa maior intervenção do Estado nas ações impostas .

Território um conceito pertinente à APA

A criação de uma Área de Proteção Ambiental, destinando 100% do município à conservação do meio ambiente, como ocorreu em Cabreúva, resulta em uma nova configuração espacial, promovendo a disputa entre os diversos atores sociais. A questão do território passa a ser fundamental, uma vez que a ação trouxe mudanças no uso e ocupação do solo de um local em que já havia moradores, nos quais a propriedade de terra já estava instituída.

A utilização da categoria/conceito de território cabe na análise de uma Unidade de Conservação, pela ação do estado de delimitar juridicamente uma área pelo poder que exerce. A própria legislação ambiental brasileira faz uso da categoria unidade territorial.

A criação da APA Cabreúva foi uma intervenção do governo do estado de São Paulo visando garantir a perenidade de recursos naturais porém, o que temos é a alimentação do meio de produção se sobrepondo a qualquer interesse de preservação do meio ambiente.

As contradições que serão apresentadas neste trabalho demonstram a utilização do meio ambiente como mercadoria, como condição de produção e como objeto de intervenção do Estado. A ação do estado tem haver com o poder que ele representa, veremos também os poderes envolvidos nas contradições presentes na APA Cabreúva.

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, contradição baseada no valor simbólico dado aos objetos, podemos exemplificar com o um contato maior com a natureza, uma vida mais tranqüila e harmoniosa através da compra de uma casa em uma unidade de conservação. Refletindo a contradição da preservação do verde num local que passará a ser densamente ocupado e terá mais impactos ambientais significativos.

O PLANO DIRETOR E O ZONEAMENTO

O Plano Diretor é um instrumento de política pública que define regras básicas de uso e ocupação do solo, orientando e regulando a ação dos atores sociais na produção do espaço urbano.

Conhecida como Estatuto da Cidade a Lei Federa3l n.10.257, de 10 de Julho de 2001(BRASIL:2001), estabelece diretrizes gerais da política urbana, dentre as quais destacamos: planejamento do desenvolvimento das cidades, de modo a evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído.

É uma lei que trata sobre ordenamento e uso do solo, visando à gestão democrática, com participação da comunidade, para evitar que a ação dos atores hegemônicos prevaleça em detrimento dos interesses públicos e sociais. Dispõe de vários instrumentos para atingir seus fins, entre eles, temos o plano diretor, de âmbito municipal.

O plano diretor prevê a participação da comunidade na tomada de decisões mediante: a formação de uma comissão do plano diretor; debates, audiências e consultas públicas; iniciativa popular de projetos de lei, de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; conselhos reconhecidos pelo poder executivo municipal. É obrigatório para municípios com mais de vinte mil habitantes.

3 A Lei n.º 10.257, de Julho de 2001, regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal que tratam

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, Com um pouco mais de 38.898 habitantes (IBGE:2007), o município de Cabreúva teve seu Plano Diretor instituído pela Lei Complementar n. 273, de 13 de

dezembro de 2004(CABREÚVA,2004)4.

Importante recurso na gestão pública e planejamento participativo, tem também problemas intrínsecos a qualquer planejamento, conflitos políticos, falta de verbas públicas, ausência de vontade política em transformar a realidade social, às vezes torna-se mais um papel em atendimento a burocracia nacional.

Exemplifica a própria ação, no sistema de ações (SANTOS, 2002), aquela que regulamenta e disciplina o uso e ocupação do solo num município, fundamental na questão do território marcado pelo uso do poder do Estado. Portanto é um instrumento que pode ser analisado do ponto vista da conservação do meio ambiente e da APA, já que esta estabelece algumas restrições quanto ao uso do solo e determina a política de gestão ambiental do município.

A urbanização como instrumento de justiça social tem que estar atenta às políticas adotadas, uma vez que estas podem promover a valorização fundiária:

“As diretrizes gerais e instrumentos específicos de recuperação social da valorização da terra previstos no Estatuto da Cidade devem ser planejados no território do município como um todo através do Plano Diretor, que organiza o crescimento e o funcionamento da cidade e, principalmente, é um instrumento que regula o preço da terra. Pode promover a valorização fundiária, na medida em que propõe alterações na norma urbanística ou mesmo mudanças na classificação do solo, fatores geradores de valorização, que deve ser recuperada e distribuída de forma justa.” (BUENO:2007,67)

Por normatizar o uso do solo o Plano Diretor representa um papel relevante no sistema de ações contribuindo com produção espacial nos municípios. Deve considerar a função social da cidade e impulsionar melhorias, não só econômicas, mas também sociais, evitando a especulação imobiliária e outras ações que garantam apenas a satisfação de interesses dos atores hegemônicos.

Essas alterações na norma urbanística podem ser exemplificadas no nosso estudo através do zoneamento estabelecido no plano e também na Lei n.º 288 de 08 de

Setembro de 2005 (CABREUVA, 2005). No capítulo II o plano diretor dá disposições

sobre o Zoneamento Urbano, de acordo com as 03 (três) macro-zonas definidas para a APA Cabreúva (ver Figura 5, Anexo IV):

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Macrozona I (Zona de Conservação Hídrica) - ZCH : é destinada a proteção e

conservação da qualidade e quantidade dos recursos hídricos utilizados para abastecimento público;

Macrozona II ( Zona de Restrição Moderada) – ZRM: é destinada a proteção dos

remanescentes de mata nativa e das várzeas não impermealilizadas;

Macrozona III ( Zona de Conservação de Vida Silvestre) – ZCVS: é destinada a

conservação da mata atlântica, da vegetação rupestre e da biota nativa, para garantir a manutenção e a reprodução das espécies e a proteção do habitat de espécies raras;

Iremos ressaltar os pontos mais relevantes do Plano Diretor municipal de Cabreúva que estão ligados à habitação e empreendimentos, considerando a gestão da APA..Na Seção III, da função social da cidade, artigo 8º, temos:

“ A política de Desenvolvimento Urbano do município de Cabreúva tem por objetivo o pleno desenvolvimento da função social da cidade e da propriedade urbana, através do adequado ordenamento territorial, de forma a garantir o bem estar de seus habitantes, a justiça social, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento de atividades econômicas, em consonância com as políticas municipais. “ ( CABREÙVA:2004)

O plano diretor restringe a, no máximo, trezentas unidades no caso de empreendimentos habitacionais de interesse social (EHIS), nas ZRM e ZCH, citando um exemplo de norma que interfere na produção espacial . Os novos loteamentos com terrenos acima de 500m² deverão ser contemplados com isenção de impostos municipais por 4 (quatro) anos, a partir do registro do empreendimento, isto se traduz também em mudança na dinâmica espacial em Cabreúva.

Para analisar o zoneamento, utilizamos um aparelho de GPS para levantarmos pontos nas diferentes zonas e podermos concluir se há, ou não, a observância deste item do Plano Diretor, na prática.

O plano diretor no zoneamento diverge da realidade, a própria realidade local é que impõe os usos do solo, produzindo o espaço. Os diferentes usos do solo não podem ser delimitados por uma lei específica, interferem na cultura local, nos interesses do capital e políticos, nas necessidades da população.

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, respeitando a legislação APA, mas não é que verificamos na cidade, aprofundaremos o assunto no próximo capítulo, quando falarmos dos atores sociais e o papel do estado.

ZCH, RIBEIRÃO PIRAÍ E CONFLITOS

As águas do Rio Piraí são utilizadas para abastecimento dos municípios de Salto, Itu, Indaiatuba e do distrito do Jacaré, em Cabreúva. É o último manancial de abastecimento representando potencial quantitativo e qualitativo para o suprimento das demandas das quatro cidades que se insere.

O adensamento de loteamentos urbanos e a presença de indústrias na Zona de Conservação Hídrica da APA constituem os maiores problemas da gestão da bacia. Ao longo de seu curso o Rio apresenta um aumento nos índices de DBO, devido a contaminação com efluentes industriais e ausência de tratamento de esgoto da SABESP.

Faremos agora um estudo de caso da APA Cabreúva que evidenciará as contradições presentes no discurso da sustentabilidade mediante as ações dos atores sociais. A produção espacial por meio destes atores nos revela as contradições da sociedade materializada. Para Corrêa (2002) quem produz o espaço urbano são atores sociais, os promotores imobiliários aqui exemplificados na construção de um condomínio; a ação do estado, claramente definida pela legislação ambiental, plano diretor e ações das secretarias; os grupos sociais excluídos, representado no empreendimento habitacional de interesse social; e os proprietários dos meios de produção e fundiários, representados pelos empresários que investem com a instalação de indústrias e empreendimento de lazer no município (analisaremos um empreendimento em particular, o provável construção do complexo de lazer SP Races).

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, verde como slogan para campanhas publicitárias de venda de loteamentos em condomínios.

Algumas indústrias já estavam instaladas quando Cabreúva se tornou APA, outras foram se instalando após o decreto, devido às brechas legais do licenciamento e compensação ambiental, uma vez que um dos objetivos da criação da APA era conter o avanço das indústrias.

Há uma política de incentivo industrial, comercial e de serviços para a Rodovia Dom Gabriel Paulino de Bueno Couto, no distrito do Jacaré. Conforme zoneamento a rodovia está na Zona de Conservação Hídrica.

Como a maioria das indústrias está localizada na Zona de Conservação Hídrica, está prevista uma alteração nos limites do zoneamento para regularizar a situação. Já apresentaram com solução, adequar o zoneamento transformando parte da ZCH em Zona de Restrição Moderada. Percebemos um zoneamento se adaptando a realidade e interesses locais, sem primar pela proteção ambiental, num município que deveria praticar o desenvolvimento sustentável, pensando no meio ambiente e gerações futuras.

A construção de um autódromo na APA Cabreúva

A construção de um autódromo em Cabreúva está prevista. Esse empreendimento, sem dúvida, pode trazer impactos ambientais negativos mitigados pela nossa atual política de compensação ambiental.

O complexo automotivo de testes e lazer SP Races aguarda aprovação de seu EIA/RIMA pela CETESB, a construção está prevista para o bairro Pinhal em Cabreúva, próximo a estação CESP, numa gleba de 196,35 hectares.

De acordo com o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do SP Races (CETESB:2006) o empreendimento não irá obter receitas de competições automobilísticas, mas será voltado à realização de algumas modalidades de testes, tais como: dirigibilidade, resistência, testes instrumentados de velocidade, frenagem e resistência de materiais e componentes e oferecerá aos visitantes uma série de demonstrações automotivas.

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, para a elaboração do EIA/RIMA, detectando cerca de 7 nascentes, o que a caracteriza como uma APP5 (Área de Preservação Permanente).

O RIMA do SP Races é um documento extenso que detalha características físicas, econômicas e sociais, apresenta eufemismos em relação ao diagnóstico ambiental.

Lembremos dos objetivos básicos de uma APA: proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais. É extremamente contraditório termos um autódromo numa área: de proteção ambiental, definida no plano diretor como Zona de Conservação Hídrica e que ainda é uma APP. O mais intrigante é que isto pode acontecer legalmente. As ações produzem estas irracionalidades e se reproduzem no espaço.

RESULTADOS PRELIMINARES

A Área de Proteção Ambiental Cabreúva apresenta contradições relacionadas ao modo de produção. Os embates existentes revelam um espaço com contradições sociais modelado pela ação dos atores sociais. A poder do estado, representado pela lei, pela imposição, não prevalece à prática dos promotores imobiliários, da comunidade e dos empresários, que determina a produção espacial.

É este valor que prevalece à própria legislação, o valor dado pela sociedade. Portanto, é de fundamental importância questionar a legislação para que esta não esteja além do que pode ser realizado e nem favoreça os atores hegemônicos como acontece na compensação ambiental, a valoração do meio ambiente, o valor criando uma psicosfera que contribui para a ação dos promotores imobiliários.

A importância do meio ambiente para a sociedade é sem dúvida questão fundamental a ser tratada com mais rigor e atenção pelo Estado através de políticas públicas adequadas.

Em todas as esferas de poder que estado atua, deve legislar pensando não só no econômico. O território também deve ser considerado pela dimensão social que ele caracteriza em aspectos culturais, comportamentais, que estão relacionados ao valor que

5 A MP 2.166/ 2001 modificou a Lei n. 4.771/65 , tratando a APP como área protegida, coberta ou não,

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,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, a sociedade dá a natureza e seus recursos, e não apenas como uma demarcação ou limite.

Na preservação do meio ambiente ainda temos muito a refletir, discutir e elaborar para prosseguirmos como uma sociedade que valoriza o essencial: as nossas próprias relações promovendo justiça e sobrevivência.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

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Referências

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