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ENSINO DE PORTUGUÊS E FACEBOOK: POSSIBILIDADES PARA CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO INTEGRADO

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Academic year: 2020

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Ensino de português e facebook:

possibilidades para curso técnico de

nível médio integrado

Carla Monara de Paiva Silva1;

Samuel de Carvalho Lima2;

1 Aluna do Mestrado em Ensino (POSENSINO) e especialista em Educação e Contemporaneidade pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte, campus Mossoró (IFRN); E-mail: monarapaiva14@gmail.com.

2 Pós-Doutor em Educação e professor do Mestrado em Ensino (POSENSINO) e do Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica (PROFEPT) do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, campus Mossoró (IFRN); E-mail: samuel.lima@ifrn.com.

RESUMO

Temos cotidianamente ao nosso dispor vários recursos digitais que possibilitam formas de comunicação, entretenimento e até mesmo práticas de ensino. Pensando nisso, escolhe-mos para nossa pesquisa a rede social Facebook e objetivaescolhe-mos destacar como postagens que versam sobre a política brasileira podem ser trabalhadas nas aulas de língua portuguesa em turmas de curso técnico de nível médio integrado em informática do Instituto Federal do Rio Grande Norte (IFRN). Nossa análise guia-se pela perspectiva dos usos das tecnolo-gias digitais no ensino e dos multiletramentos (COSCARELLI, 2007; LEMEK, 2010; ROJO, 2012) através da qual analisamos as postagens e as vinculamos ao que consta no Projeto Pedagógico de Curso (PPC) em questão. Nossos resultados mostram que podemos promo-ver uma formação crítica e uma aprendizagem significativa a partir dos textos propostos.

Palavras-chave: Ensino de português. Curso técnico de nível médio integrado. Facebook.

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Portuguese teaching and facebook:

possibilities for high school integrated

technical course

ABSTRACT

We everyday have at our disposal several digital resources that enable ways for communication, entertainment and even teaching practices. With this in mind, we chose for our research the social network Facebook and aim to highlight how posts on Brazilian politics can enhance Portuguese classes in high school integrated technical course at Federal Institute of Rio Grande do Norte (IFRN). Our analysis is guided by the perspective of digital technology uses for teaching and multiliteracies (COSCARELLI, 2007; LEMEK, 2010; ROJO, 2012) through which we analyzed the posts and liked the result to what is predicted in the Course Pedagogical Project (PPC). Our results show that we can promote critical teaching and meaningful learning from the proposed texts.

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1 INTRODUÇÃO

Dentro do contexto da educação, o professor de língua portuguesa tem o importante pa-pel de trabalhar com a leitura e a escrita a fim de promover ao aluno um letramento críti-co. Segundo os PCNs (1997), o uso da língua materna possibilita ao sujeito plena partici-pação social, já que é a partir da língua que nos tornamos sujeitos ativos socialmente. Por esse motivo, a leitura e a escrita devem ser consideradas como o ponto de partida para que todos os professores de língua portugue-sa posportugue-sam alcançar seus objetivos no ensino e promover a formação crítica dos alunos. De acordo com Soares (2003), é recente a neces-sidade de observarmos que não basta apenas o aluno ter domínio da leitura e escrita em si, é preciso saber fazer uso social dessas prá-ticas. Ou seja, é preciso saber responder aos processos comunicativos nos quais estamos submetidos diariamente no convívio social, e isso, a autora chama de letramento.

Atualmente, as mídias digitais, disponibili-zadas originalmente como dispositivos de comunicação e entretenimento, têm um papel importante no que diz respeito ao en-sino. Desses meios de comunicação nascem formas de se relacionar socialmente, são as chamadas redes sociais. Destas, destacamos o Facebook, que oportuniza a informação e comunicação através de leitura, escrita, vídeos, sons e imagens, muito populares principalmente entre os alunos do Ensino Médio da Educação Básica.

O interesse pelo uso do Facebook como ferra-menta de ensino surge do fato de que alunos e professores vivem conectados a aparelhos

de celular, às redes sociais (Facebook,

What-sapp, Instagram, Twitter) e a aplicativos.

Sendo assim, por serem conhecedores do mundo tecnológico, os alunos podem apre-sentar mais facilidade e motivação durante o processo de ensino-aprendizagem nas aulas de língua portuguesa, sendo este o caminho para o professor aliar os conteúdos.

Nessa perspectiva, nosso trabalho tem como objetivo analisar postagens feitas em páginas da rede social Facebook que ver-sam sobre política elucidando como essas postagens podem atuar na promoção do ensino de língua portuguesa nas aulas do curso técnico de nível médio integrado em Informática. Assim, pretendemos conceber essas postagens dentro de uma perspecti-va dos multiletramentos no espaço escolar bem como no processo interacional aluno--professor e aluno-aluno. Nesse contexto, fizemos os seguintes questionamentos: De que modo essas postagens podem fomen-tar o ensino de língua portuguesa do curso técnico de nível médio integrado em Infor-mática? Como elas podem promover, em potencial, o ensino de leitura e escrita? A escolha pelo tema política surgiu devido ao atual cenário político que o Brasil está vi-vendo. É do conhecimento de todos que o país passa por uma verdadeira crise política na história. Com a presença de grandes es-cândalos de corrupção, denúncias e divisões partidárias, que acabam questionando a imagem política do país. Diante disso, nosso trabalho não tem como finalidade assumir lados, pois fugiria a seu escopo. Nosso obje-tivo se limita a analisar os textos e como eles podem ser trabalhados em sala de aula.

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2 FUNDAMENTAÇÃO

TEÓRICA

Quando falamos em tecnologia, logo nos lembramos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e não tão diferente, lembramos também das práticas de leitura e escrita que passaram a ser cada vez mais co-muns no dia a dia das pessoas. Por esse mo-tivo, a utilização dos meios tecnológicos em sala de aula deve ser uma estratégia comum nos dias de hoje. Os PCNs (1998) já previam essa revolução tecnológica em sala de aula.

Não há como negar que as novas tecnologias da informação cumprem cada vez mais o papel de mediar o que acontece no mundo, ‘editando’ a rea-lidade. A presença crescente dos meios de comunicação na vida cotidiana co-loca, para sociedade em geral e para a escola em particular, a tarefa de educar crianças e jovens para a recepção dos meios (BRASIL, 1998, p. 89).

Porém, o que percebemos é que discutir tecnologia digital aliada à prática docente ainda é assunto que gera preconceito por parte de alguns educadores, embora sabe-mos que ao longo do tempo o processo de ensino-aprendizagem requer novas possibi-lidades e propostas a fim de obter melhorias ou, pelo menos, estar mais vinculado com a realidade dos nossos alunos, tornando-se mais significativo. Assim,

a escola precisa encarrar seu papel, não mais apenas como transmissora de saber, mas de ambiente de cons-trução do conhecimento. Os alunos precisam saber aprender, saber onde encontrar as informações de que

precisam e ter autonomia para lidar com essas informações, avaliando, questionando e aplicando aquelas que julgarem úteis e pertinentes (COSCARELLI 2007, p.32).

A tecnologia deve ser utilizada como uma fermenta a mais no processo de ensino. Por exemplo, se voltarmos no tempo, veremos que o uso do livro didático foi uma revolução no contexto de ensino, servindo de recurso metodológico ao professor e como um ele-mento a mais para a aprendizagem do aluno. Sabemos que a escola é um espaço social no qual há uma integração de vivências e compartilhamentos de conhecimentos en-tre a comunidade que se faz presente. As-sim, com a inserção das TICs nas práticas de ensino, é preciso que o professor pense sobre novas metodologias para utilizá-las a seu favor na busca de promover a aprendi-zagem do aluno. Por meio da tecnologia é possível fazer com que todos sejam conhe-cedores de infinitos mundos, sendo pos-sível a construção de leituras diversas, de acordo com a visão de cada um. Para Cos-carelli (2007, p. 28),

com a internet os alunos podem ter acesso a muitos jornais, revis-tas, museus, galerias, parques, zoo-lógicos, muitas cidades do mundo inteiro, podem entrar em contato com autores, visitar fábricas, ouvir músicas, ter acesso a livros, pesqui-sas, e mais um monte de coipesqui-sas, com infinitas possibilidades.

Dentro do universo digital, evidenciamos os gêneros digitais. Segundo Marcuschi (2005), esses gêneros derivados dessas

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nologias são variados, mas a maioria deles tem em comum o uso da oralidade (leitura) e escrita. As redes sociais oferecem os mais variados gêneros textuais, com os vários ti-pos de textos existentes. Marcuschi (2008) ) nos diz que o texto é a materialização da língua, seja ele oral ou escrito. É no texto que podemos ver a concretização das uni-dades básicas da língua, para que assim pos-samos chegar ao uso discursivo da língua. A partir do momento que é oferecido ao alu-no uma diversidade textual, com espaços para uma interação de textos e discussões sobre temáticas, é possível possibilitar tam-bém uma maior autoconfiança durante as atividades de leitura e escrita.

Uma das características centrais dos gêneros em ambientes virtuais é a alta interatividade, em muitos ca-sos sincrônicos, embora escritos.

Isso lhes dá um caráter inovador no contexto das relações de fala-escri-ta. Tendo em vista a possibilidade cada vez mais comum de inserção de elementos visuais no texto (ima-gens, fotos) e sons (músicas, vozes) pode-se chegar a uma interação de imagem, voz, músicas, e linguagem escrita numa interação de recursos

semiológicos. (MARCUSCHI, 2005,

p. 33, grifos do autor).

Trabalhar com a diversidade textual pro-porciona diversas práticas de linguagem capazes de circular no ambiente escolar e gerar um maior rendimento da leitura e da escrita por parte dos alunos. Isso possibilita a eles uma boa interação com os gêneros trabalhados, no que competem às caracte-rísticas que chegam a ser particular de cada

gênero, intenção comunicativa dos textos, bem como as condições de produção dos textos. No atual contexto da internet, há uma infinidade de suportes para trabalhar-mos com a prática de leitura e escrita de textos multimodais.

Com a diversidade de meios de comunica-ção que existem atualmente, é impossível fi-carmos desinformados com relação a assun-tos do cotidiano. Diante das novas mídias tecnológicas e das novas formas de comuni-cação, encontramos a congruência das mo-dalidades textuais: vídeos, imagens, links, sons. Para Rojo (2012, p. 13), a diversidade textual e cultural fez surgir um novo mode-lo de letramento: os multiletramentos.

O conceito de multiletramentos aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade pre-sentes em nossas sociedades, princi-palmente as urbanas, na contempo-raneidade: a multiplicidade cultural das populações e a multiplicidade semiótica de constituições dos tex-tos por meio dos quais ela se infor-ma e se comunica.

Nesse contexto, no ensino de língua mater-na não basta somente saber e repassar re-gras. O professor tem que ir além, deve fazer com que o aluno enxergue o mundo com um olhar crítico, sempre sabendo dar seu posicionamento e promovendo uma refle-xão clara dos fatos que ocorrem no mundo. Com isso, é necessário abrir espaços na sala de aula para os assuntos discutidos na in-ternet. É interessante levar para sala de aula aquela postagem com o tema do momento

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que circula e é amplamente debatido nas redes sociais

É preciso perceber que as imagens (estáticas ou dinâmicas) e os sons são constituintes de uma obra e que, ao considera-los, a elaboração de sentidos tomará outros caminhos além daquele formado estreitamen-te pelas palavras. Com isso, estreitamen-textos passam a ser mais críticos: podem também apresentar elementos visu-ais e sonoros ou acontecer de forma estática ou em movimento. (VIERA;

SILVA; ALENCAR, 2012, p. 182)

Saímos daquele estado em que o professor detinha todo o conhecimento, sem levar em consideração as necessidades e conhecimen-tos dos alunos. E passamos a entender que toda prática escolar é situada e o contexto social do aluno passa a ser um fator relevan-te no processo do ensino-aprendizagem. Muitas vezes os alunos têm dificuldades ou até mesmo desmotivação durante uma pro-dução oral/escrita e leitura de textos. Inserir por exemplo, o uso das novas tecnologias du-rante essas atividades proporciona ao aluno um contato com um maior número de textos, variedades de gêneros, além da empolgação em trabalhar com o que ele está familiarizado.

precisamos pensar um pouco em como as novas tecnologias da infor-mação podem transformar nossos hábitos institucionais de ensinar e aprender. Em vez de impedir/disci-plinar o uso do “internetês” na

in-ternet (e fora dela), posso investigar

por que e como esse modo de se ex-pressar por escrito funciona. Em vez de proibir o celular em sala de aula, posso usá-lo para comunicação, a navegação, a pesquisa, a filmagem e a fotografia. (ROJO 2012, p 27).

A inserção de textos multimodais pode re-sultar em uma boa produção dos próprios textos durante a aula, bem como uma leitu-ra crítica, voltada paleitu-ra as informações conti-das nos textos, pois ao utilizarem os recursos da tecnologia digital eles buscam mais in-formações, opiniões em relação ao assunto, trazendo essas informações para seus textos. Desse modo, o trabalho com a multimoda-lidade passa a abranger não só a linguagem verbal, como também a visual. Segundo Rojo (2012, p. 19), a multiplicidade de linguagens que está presente nos textos atualmente “tem sido chamado de multimodalidade ou multissemiose dos textos contemporâneos, que exigem multiletramentos”. A multimo-dalidade textual leva o aluno a conhecer a diversidade de gêneros textuais. Isso os aju-da no reconhecimento de intenção comuni-cativa que o texto possui, a tipologia, entre outros recursos presentes no texto, facilitan-do, assim, sua compreensão.

3 METODOLOGIA

Essa é uma pesquisa de cunho qualitativo, de caráter exploratório e interpretativo. Segundo Minayo (2001, p. 21), a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” que permeiam os fenômenos sociais.

Tendo em vista nosso objetivo de pesquisa, vamos aos procedimentos metodológicos adotados e as etapas da nossa pesquisa. Ini-cialmente foi realizada uma pesquisa no íco-ne busca simples da rede social Facebook. Pesquisamos a palavra política, e utilizamos o recurso “filtrar busca”, pois queríamos pági-nas que não tivessem nenhuma ligação com empresas, marcas, ou figuras públicas. Assim,

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optamos pela categoria causa ou comunida-de, disponível nesse recurso de filtro, selecio-nando assim as duas primeiras páginas resul-tantes dessas escolhas.

Para a seleção das postagens, estabelece-mos o seguinte critério: navegaestabelece-mos em um universo das dez primeiras postagens feitas no mês de abril de 2018, em cada uma das duas páginas selecionadas. Destas, escolhe-mos as quatro postagens que apresentavam maior número de comentários, indepen-dentemente da página.

Esses números de comentários nos permitiu pensar que nos textos selecionados houve in-teração entre os seguidores das páginas, isso motivado pela premissa de que nesses textos há elementos argumentativos. Feita a escolha das postagens, fizemos a captura de imagem registrando a data disponível nas próprias pá-ginas. Os textos selecionados foram editados

excluindo os nomes e fotos das pessoas que fizerem comentários nas postagens. Optamos por esse recurso muito embora seja de livre acesso a esses elementos, pois as páginas são abertas ao público.

Nossa última parte da pesquisa são as análi-ses dos textos em diálogo com o programa de ensino de língua portuguesa em turmas de primeiro ano do curso técnico de nível médio integrado de informática, direciona-do as análises de acordireciona-do com o que é posto no documento que rege o ensino de língua dentro deste curso. Assim, na próxima se-ção, apresentamos e discutimos as posta-gens das páginas Vamos Falar de Política e Política no Face II, em função de duas dimensões: a) possibilidade metodológica nas aulas de língua portuguesa em curso de nível técnico integrado; b) aspectos multi-modais dos textos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nosso primeiro texto foi postado dia 03 de abril, tendo 108 comentários. Funciona como uma crítica àquelas pessoas que defendem a privatização de alguns serviços públicos, sem muitas vezes não terem conhecimento do que se trata, bem como não terem recursos para poderem custear os serviços privados quando necessário. Vejamos a seguir.

Figura 1: crítica a privatização de alguns serviços públicos:

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Em relação à privatização de alguns serviços públicos no Brasil, vamos encontrar como um dos argumentos o fato de que tudo no país só funciona bem se for privado, já que alguns serviços como saúde, educação e até mesmo segurança, sofrem com a falta de in-vestimentos e/ou a falta de seriedade e ca-pacidade de gerenciamento dos investimen-tos. No entanto, sabemos que a oferta desses serviços por meio do poder público nada mais é que a devolução dos impostos pagos. O trabalho com esse tipo de texto nas tur-mas de primeira série no curso técnico de nível médio favorece ao aluno o desenvol-vimento do seguinte objetivo previsto no programa de disciplina de língua portugue-sa “[...] recuperar o tema e a intenção co-municativa dominante; e o gênero textual configurado” (PPC, 2011, p. 29).

Por exemplo, incialmente o professor pode trabalhar com a temática contida no texto e lançar aos alunos os seguintes questiona-mento: Qual o propósito do texto em ques-tão? Qual o principal objetivo? A situação será levada para uma discussão mais apro-fundada, na qual o professor pode conside-rar as opiniões de cada um. Feito isso, em seguida ele pode trabalhar com a configu-ração do gênero proposto. As características desse gênero. Onde podemos encontrá-lo. O professor também pode trabalhar com outros exemplos do gênero quadrinho. Após isso, os alunos podem produzir o gê-nero em questão com a mesma temática e por último uma amostra dessas produções. Para Rojo (2012) textos como esse, cheio de múltiplas linguagens, que possibilita

mui-tas produções de sentidos e exige capacida-des de produção e interpretação é o que po-demos chamar de multimodais. Em sala de aula, o trabalho com os textos multimodais consiste em considerar para além de apenas um tipo de leitura, interpretação e opinião. Para (Lemek 2010, p.16),

“queremos pessoas que sabem coisas que querem saber e pessoas que sa-bem coisas que são úteis em práticas fora das escolas. Queremos pessoas que sejam pelo menos um pouco crí-ticas e cécrí-ticas quanto à informação e aos pontos de vista e tenham alguma ideia de como julgar suas convicções”.

Assim, é importante inserir práticas de lei-tura e escrita voltadas à formação crítica dos estudantes, com significados amplos, além das estruturas gramaticais. Precisa-mos pensar em uma pedagogia de leitura e escrita que possa direcionar os alunos às questões discutidas na sociedade.

Nosso segundo texto, datado do dia 05 abril de 2018, teve 126 comentários. Isso nos permite pensar que houve uma inte-ração expressiva entre os usuários do Fa-cebook e seguidores da página. Para Rojo (2012, p.24),

Nessa mídia, nossas ações puderam, cada vez mais, permitir a interação também com outros humanos (em trocas eletrônicas de mensagens, sin-crônicas e assíncronas, na postagem de nossas ideias e textos, com ou sem comentários de outros; no diá-logo entre os textos em rede e os [hi-pertextos]; nas redes sociais; em pro-gramas colaborativos nas nuvens.)

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O texto traz uma citação em destaque dita pelo Senador, Aécio Neves (PSDB), declarando que a justiça não pode ser seletiva, fazendo referência ao ditado de que a justiça é para todos. Bem como no mesmo texto há uma informação que se contrapõem ao que é dito por Aécio Neves. Sabemos que em outubro de 2017, a presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Cármen Lúcia, deu voto decisivo em um julga-mento que permitiu a Aécio Neves continuar suas atividades no senado, após denúncias de corrupção. Vejamos a postagem a seguir.

Figura 2: Frase de Aécio Neves:

Fonte: Política no Face II.

Com o texto em questão, o professor de língua portuguesa pode trabalhar com “o modo de citar o discurso alheio (PPC, 2011, p. 30)”, salientando os elementos linguís-ticos. Por exemplo, pode trabalhar com a transcrição da fala do senador, Aécio Neves, e ver quais as possíveis formas de dizer a mesma coisa, porém de maneiras diferen-tes. Não mudando o sentido do texto, e sim a escolha de palavras e expressões, e a in-tenção diante o texto. Ou seja, uma reescri-ta utilizando os recursos do discurso indire-to. Para isso o professor terá que trabalhar os elementos linguísticos que caracterizam esse tipo de discurso.

Outro ponto importante do texto é que para sua compreensão é necessário que o leitor conheça o contexto no qual o texto foi produzido. É preciso que o professor tra-balhe o contexto no qual foi feito o discur-so de Aécio Neves. De acordo com Lemke (2010, p. 03), “Um letramento é sempre um letramento em algum gênero e deve ser definido com respeito aos sistemas síg-nicos empregados, às tecnologias materiais usadas e aos contextos sociais de produção, circulação e uso de um gênero particular”. Por estarmos sempre conectados às redes so-ciais e termos facilmente acesso as informa-ções que circulam nas mídias, precisamos

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saber diferenciar em qual contexto de pro-dução foi construído um texto. Em ano de eleições estaduais e federal, e uma época de grandes escândalos de corrupção no cenário político do país, precisamos estar atentos como as informações nos são repassadas. Isso possibilita ao professor fazer o seguinte questionamento aos alunos: No Brasil, a jus-tiça atua politicamente? Na condição de cida-dãos brasileiros o que cada um de vocês pode fazer que contribua positivamente na constru-ção de uma nova imagem política do Brasil?

O exercício do diálogo na explicita-ção, contraposição e argumentação de ideias é fundamental na aprendi-zagem da cooperação e no desenvol-vimento de atitudes de confiança, de capacidade para interagir e de respei-to ao outro. A aprendizagem desses aspectos precisa, necessariamente, es-tar inserida em situações reais de in-tervenção, começando no âmbito da própria escola. (BRASIL 1998, p.41)

Permitir que o aluno leia, discuta e escre-va sobre política, nada mais é do que trazer algo da realidade e compartilhar. Assim, na pedagogia dos multiletramentos,

o trabalho da escola sobre esses al-fabetismos estaria voltado para as possibilidades práticas de que os alu-nos se transformem em criadores de sentido. Para que isso seja possível, é necessário que eles sejam analis-tas críticos, capazes de transformar, como vimos os discursos e significa-ções, seja na recepção ou a produ-ção. (ROJO 2012, p. 29).

Precisamos levar para a sala de aula assun-tos contemporâneos que influenciam (in) diretamente na vida de nossos alunos, pois muitas vezes não encontramos condições e espaços para o debate no contexto familiar ou de lazer, social e até mesmo o espaço es-colar. Assim, podemos promover um ensi-no crítico e consciente.

Figura 3: Economia de esquerda:

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Nossa terceira postagem, datada de 01 de abril, conta com o número de 119 comentá-rios. A mesma traz recortes de um jornal in-ternacional que tem como manchetes o cres-cimento econômico em dois países que são presididos por partidos de esquerda. Na ima-gem também aparece entre aspas a seguinte frase: “Esquerda não entende de economia.” Provavelmente a frase é uma ironia a atual situação política e econômica do Brasil. É do conhecimento de todos que até o ano de 2016 quando o país era presidido por partido de esquerda havia rumores por parte de alguns brasileiros de que o cresci-mento econômico no nosso país não era motivado devido a má gestão presidencial. Sabemos que atualmente após todas as mu-danças no cenário da política brasileira, nos últimos dois anos a economia do Brasil ain-da sofre com aumentos de preços, queain-da no número de empregos e investimentos. Em oposição ao crescimento econômico dos países citados no texto.

Em sala de aula o texto possibilita ao profes-sor de língua portuguesa o trabalho com o gênero textual. O que é previsto no Projeto Pedagógico de Curso de informática (PPC 2011, p.30). No caso em questão, o gêne-ro é a manchete. Inicialmente o pgêne-rofessor pode pedir para que os alunos leiam e in-terprete as duas manchetes e os subtítulos, bem como a frase apresentada entre aspas. Em seguida ele pode trabalhar com outras manchetes de jornais tanto online como impressos que tratem da mesma temática, e

solicitar aos alunos que observem se há di-ferenças na construção das manchetes. Por fim, o professor pode apresentar imagens que já compõem algumas manchetes e pe-dir para que eles recriem novas manchetes a partir dessas imagens.

É notório que as práticas de letramentos a partir de novas modelagem textuais propor-ciona bem mais saberes aos nossos alunos, a fim de inseri-los em diversos seguimentos da sociedade e principalmente proporcio-nar ainda mais uma formação crítica.

Vivemos em um mundo em que se espera (empregadores, professores, cidadãos, dirigentes) que as pessoas saibam guiar suas próprias aprendi-zagens na direção do possível, do ne-cessário e do desejável, que as pessoas tentam autonomia e saibam buscar como e o que aprender, que tenham flexibilidade e consigam colaborar com a urbanidade. (ROJO 2012, p.27)

Cada vez mais a sociedade exige uma for-mação crítica dos nossos alunos, que eles construam conhecimentos e autonomia, e possa ver o conteúdo além daquilo que é proposto em sala de aula, aliando esses co-nhecimentos as suas escolhas e vivências do dia a dia.

Nosso último texto tem como data 04 de abril e 29 comentários. O texto é um print de uma reportagem fake postada pela pá-gina Sensacionalista. A pápá-gina “repostada” tem a finalidade de criar notícias falsas, em cima de notícias verdadeiras do nosso coti-diano. Vejamos a imagem a seguir.

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Figura 4: Notícia sensacionalista:

Fonte: Política no Face II.

É do conhecimento de todos que durante todo o processo de julgamento e condena-ção do ex-presidente petista, houve gran-des escândalos de corrupção praticados por outros políticos, incluindo até o atual presi-dente da república, Michel Temer.

Sendo assim, o texto em questão faz uma irônia ao caso do julgamento do ex-presi-dente Lula (Luís Inácio Lula da Silva). Se-gundo a falsa notícia, para que Lula consiga sua absolvição, ele teria que se filiar a um partido contrário ao seu, no caso ao PSDB. Em sala de aula o professor pode trabalhar com o conceito e análise do fator textual paródia, como é proposto pelo PPC (2011, p. 30) bem como elementos linguísticos e visuais. Para que isso seja possível torna-se de grande relevância a valorização do co-nhecimento prévio que o aluno possui. Inicialmente ele pode instigar os alunos a fazerem inferência nas informações

conti-das no texto em questão. Bem como apre-sentar outros textos também com o tema política, e que tenha circulação na mesma página do Facebook, isso fará com que os alunos comecem a ativar seus conhecimen-tos prévios com relação a cada notícia fake. Segundo os PCNs 1998, levar em conside-ração o conhecimento prévio dos alunos é um procedimento didático que possibilita ao professor qualidade na promoção de uma formação crítica. Ao acionar o conhe-cimento prévio, o aluno mobiliza elemen-tos que facilitam a compreensão do que está sendo lido, muito embora possa não ter familiaridade especificamente com a abordagem que está sendo dada ao assunto naquele momento.

Após o primeiro momento o professor pode trabalhar com o conceito e exemplificações do fator textual paródia. Que por vez já sa-bemos ser a apropriação de um discurso já dito, criando uma imitação na maioria das

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vezes cômica e irônica. Para essa atividade, o professor pode dar continuidade ao uso de textos publicados na página

Sensaciona-lista, isso permitirá que os alunos

aumen-tem seus repertórios de conhecimentos. Por fim, o professor pode propor à turma a atividade de produção de novas notícias

fakes, a fim de estimular a produção de

tex-tos e a criatividade dos discentes. Segundo Lemke (2010, p.20) “na RV (Realidade Vir-tual) podemos aprender fazendo, sem con-sumir recursos materiais proporcionais ao que precisaríamos no mundo normal, sem os riscos característicos da vida e do limbo, ou as consequências para nosso ecossiste-ma de vida sustentável”.

Na postagem analisada, percebemos a im-portância da utilização dos textos multi-modais em sala de aula, pois uma vez tendo conhecimentos dos aspectos presentes nes-ses tipos de textos, motiva a produção da escrita dos participantes, e proporciona aos alunos uma efetivação quanto ao uso da língua. De acordo com Rojo (2012, p.30), “essa proposta didática é de grande inte-resse imediato e condiz com os princípios de pluralidade cultural e de diversidade de linguagens envolvidos no conceito de multiletramentos”. Sendo assim, pensar na prática dos multiletramentos é pensar em novas possibilidades de ensino, utilizando de esferas digitas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal objetivo deste trabalho foi evi-denciar as possibilidades de promover o ensino de língua portuguesa em um curso

técnico de nível médio integrado em infor-mática a partir de textos multimodais que versam sobre política brasileira na rede so-cial Facebook. Assim, mostramos como é possível utilizar esses textos como material em sala de aula.

Com esse trabalho podemos afirmar que os alunos podem ser estimulados duran-te as aulas, pois os duran-textos se apresentam sempre atuais e disponíveis em uma rede social praticada com muita frequência por eles, tornando o ensino uma prática mais significativa para os mesmos. Além disso, a temática contemporânea presente nos tex-tos analisados pode permitir que os alunos se sintam capazes de se expressar pela lin-guagem escrita ou oral, tendo a chance de discutir e apresentar suas opiniões e argu-mentos.

Nosso trabalho abre possibilidades para no-vas reflexões e pesquisas. Uma investigação do tipo intervenção pedagógica cujo plano de ensino previsse a utilização desses tex-tos poderia resultar em dados que corrobo-rassem as potencialidades destacadas pelo nosso estudo. Esse tipo de possibilidade nos instiga a continuar pesquisando sobre as re-lações entre ensino e tecnologias digitais.

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Imagem

Figura 1: crítica a privatização de alguns serviços públicos:
Figura 2: Frase de Aécio Neves:
Figura 3: Economia de esquerda:
Figura 4: Notícia sensacionalista:

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