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Qual Deve Ser o Papel do Farmacêutico Clínico no Serviço de Urgência? A Perspetiva do Médico

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Qual Deve Ser o Papel do Farmacêutico Clínico

no Serviço de Urgência? A Perspetiva

do Médico

What Should the Role of a Clinical Pharmacist in the Emergency

Department be? The Physicians’ Perception

Cláudia Gama Elias1

1. Serviços Farmacêuticos, Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, Amadora, Portugal

Corresponding Author:

Cláudia Gama Elias, claudia.g.elias@hff.min-saude.pt

Serviços Farmacêuticos Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, EPE, IC19 2720-276 - Amadora Recebido: 13/12/2017 ; Aceite: 31/01/2018

Resumo

Introdução: O objetivo deste estudo foi encontrar um consenso relativamente às funções do Farmacêutico

Clínico mais valorizadas pelos médicos de uma unidade de internamento de curta duração de um Serviço de Urgência.

Métodos: O estudo foi realizado no Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, EPE que serve 700 000 habitantes

do concelho Amadora e Sintra. A uma equipa fixa de 13 clínicos aplicou-se, usando a técnica de Delphi, um questionário que avaliava as intervenções do Farmacêutico em dois momentos: intervenções detalhadas du-rante a admissão, internamento e alta do doente e apreciação geral do seu trabalho no Serviço de Urgência. O questionário foi aplicado três vezes e cada perito valorizou a intervenção do Farmacêutico de acordo com uma escala qualitativa de Likert. O consenso foi atingido em abril/maio de 2017.

Resultados: Da aplicação do questionário obtiveram-se 21 indicadores com consenso, 12 relacionados com

o momento da admissão e internamento e os restantes com a apreciação geral do trabalho do Farmacêutico. Os peritos valorizaram indicadores relativos à identificação de reações adversas, de problemas com medi-camentos de alto risco, de padrões incorretos de prescrição, de problemas na distribuição do medicamento correto e à necessidade de discussão de todos os problemas encontrados com o clínico. Algumas interven-ções consideradas muito importantes do ponto de vista farmacêutico não foram valorizadas pelos clínicos como a reconciliação da terapêutica, a monitorização de parâmetros clínicos, a validação farmacêutica de antibióticos e a promoção da adesão à terapêutica. Os clínicos consensualmente referem que o Farmacêutico tem um impacto positivo nos resultados clínicos do doente e aumenta a eficiência, segurança e efetividade do medicamento, antecipando problemas.

Conclusão: O Farmacêutico Clínico do Serviço de Urgência tem um papel importante e é reconhecido

den-tro da sua equipa como um elemento que acrescenta valor à prática clínica.

Palavras-chave: Farmacêuticos; Médicos; Papel Profissional; Serviço de Farmácia Hospitalar; Serviço de

Urgência Hospitalar

Abstract

Introduction: The purpose of this study was to find a physician consensus about the most important roles for a clinical pharmacist in the Short Stay Unit of an Emergency Department.

Methods: This study was conducted in the Prof. Dr. Fernando Fonseca Hospital EPE, in Lisbon, Portugal, that

serves 700 000 inhabitants. It used the Delphi method in a dedicated team of thirteen physicians. A survey was

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developed assigning to two categories: detailed roles of a Clinical Pharmacist and general appreciation of a Clinical Pharmacist’s work. Three rounds were performed and each panelist ranked the indicators according to a five-point Likert scale. Consensus was achieved in a two month period, April/May 2017.

Results: The survey achieved 21 consensual indicators, 12 related with admission and hospital stay and the

others 9 with general appreciation of the clinical pharmacist. All the panelists were concerned in hospital stay with adverse drug reactions, problems with high risk drugs, inadequate prescription patterns, correct drug delivery to the patient and ensuring that all problems are discussed with them. The pharmacist’s role in therapeutic reconciliation was not recognized and also monitoring laboratory parameters, validating antibiotic and promoting medication adherence. Physicians stated that Clinical Pharmacists had a positive impact on clinical outcomes, increased efficiency, safety and drug effectiveness and anticipated drug problems.

Conclusions: Emergency Medicine Pharmacist has an important place in the Emergency Department team

and adds value to clinical practice.

Keywords: Emergency Service, Hospital; Pharmacists; Pharmacy Service, Hospital; Physicians; Professional

Role

Introdução

Farmácia Clínica define-se como “uma ciência da saúde na qual o farmacêutico disponibiliza cuidados de saúde que otimizam a terapêutica medicamento-sa promovendo a medicamento-saúde e o bem-estar e prevenindo a doença”.1 A integração do Farmacêutico Clínico (FC) nas equipas multidisciplinares é reconhecida e apre-ciada.

Nas últimas duas décadas, as intervenções dos farma-cêuticos estão bem documentadas junto de algumas especialidades médicas como os cuidados intensivos, a medicina interna, a cirurgia, a psiquiatria, a nutrição, a oncologia e, só recentemente, a medicina de urgên-cia (MU), embora seja uma área ainda com poucos dados.2-5 Rothschild et al conduziram um estudo ob-servacional que envolveu quatro Serviços de Urgência (SU) no qual foram analisadas 17 320 prescrições mé-dicas em que se identificaram 504 erros de medicação (2,9/100 prescrições). A maioria dos erros de medica-ção era resultante da omissão de medicamentos, de erros de dose e de frequência e desses erros cerca de 90,3% poderiam ter causado efeitos adversos.6

O SU tem várias características que promovem os erros de medicação: ratio doente/médico e

doente/en-fermeiro desequilibrado e médicos e endoente/en-fermeiros que prestam simultaneamente cuidados a vários doentes e que são, frequentemente, interrompidos por outros profissionais, doentes ou familiares.7 É do conhe-cimento geral que os erros de medicação diminuem significativamente quando os FC revêm e discutem a terapêutica com os clínicos.8 Mas, existem muitas intervenções, igualmente importantes e necessárias, que podem ser desenvolvidas no SU como o apoio à

sala de Reanimação, a revisão do perfil farmacotera-pêutico e a ajuda direta aos doentes que têm proble-mas com medicamentos.5 Tendo em mente o melhor para o doente, procurando disponibilizar o trata-mento mais efetivo e seguro com o menor custo,6 o FC pode facilmente tornar-se um elemento crucial da equipa clínica.9,10 Já existem outros profissionais de saúde, como os enfermeiros, que frequentemente pedem conselhos técnicos aos FC e que os vêm como uma mais-valia.6 No entanto, não podemos deixar de questionar o que é que os médicos esperam do FC. Um estudo neozelandês, em que foram questionados alguns opinion leaders de um hospital, como o diretor

clínico e a enfermeira chefe, identificou como a fun-ção mais importante do FC o ensino sobre a correta utilização dos medicamentos pelo doente.11,12

Os farmacêuticos valorizam mais o seu trabalho no que respeita a reconciliação da terapêutica na admis-são e durante a alta, a participação nas visitas médi-cas, a estruturação de planos/estratégias terapêuti-cas, a resolução de problemas medicamentosos e o desenvolvimento de ações de educação com os doen-tes, planificando com eles algumas atividades de saú-de.11 A literatura revela, que a interação com a equipa de saúde durante as visitas clínicas, a interação dire-ta com os doentes, a reconciliação da terapêutica, o aconselhamento ao doente na alta e a monitorização dos resultados melhora os resultados em saúde.4,10 Se o FC souber identificar quais as intervenções que conduzem a melhores resultados em saúde, bem como aquelas que são mais valorizadas pelos outros profissionais, pode priorizar a sua atuação e investir mais nesse sentido.13

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O objetivo deste estudo foi definir um consenso re-lativamente às funções do FC mais valorizadas pelos médicos de uma Unidade de Internamento de Curta Duração (UICD) de um Serviço de Urgência.

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no Hospital Prof. Dr. Fernan-do Fonseca, EPE (HFF), que serve uma população multiétnica de aproximadamente 700 000 habitantes do concelho Amadora e Sintra. O HFF tem cerca de 800 camas e um serviço de urgência constituído por Urgência Pediátrica, Urgência de Obstetrícia/Gine-cologia e uma Urgência de Adultos, tendo sido nesta última que se realizou o estudo. A Urgência de Adul-tos tem uma área de observação de doentes ambulató-rios e uma Unidade de Internamento de Curta Dura-ção (UICD) com uma equipa dedicada de 13 médicos (53,8% do sexo feminino e idades compreendidas entre os 32 e os 62 anos) que constituíram a população alvo do estudo. A UICD tem uma capacidade de 28 camas e uma taxa de ocupação superior a 100% todo o ano. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica na literatura sobre as competências atribuídas ao FC hospitalar e especificamente ao Serviço de Urgência. As palavras-chave usadas foram Farmacêutico Clínico, competên-cias do farmacêutico e orientações para a Farmácia Hospitalar. Identificaram-se os indicadores, alguns deles já ajustados à realidade do HFF e ao trabalho de rotina do FC.11,12,14,15 Esses indicadores foram pos-teriormente organizados em duas categorias: uma de-las sobre o tipo de intervenções do FC na admissão, internamento e alta e outra sobre a apreciação global do trabalho do FC. O questionário construído foi re-visto e validado por duas colegas farmacêuticas com a especialidade em Farmácia Hospitalar, concedida pela Ordem dos Farmacêuticos, obtendo-se no fim um ins-trumento de recolha de dados com 42 indicadores. O questionário era anónimo permitindo que todos os peritos pudessem dar a sua opinião sem existir qual-quer tipo de influência por colegas com personalida-des dominantes ou pelas relações interpessoais com o FC.16 A aplicação do questionário seguiu a técnica de Delphi por esta permitir chegar a um consenso usan-do um grupo de peritos num determinausan-do assunto e num curto intervalo de tempo.16 Esta técnica pode ser usada quando não existe conhecimento suficiente so-bre um determinado assunto ou fenómeno ou quando a informação disponível é contraditória, tendo sido neste caso a escassez de informação que motivou a sua utilização.16,17

O questionário foi, entregue pessoalmente ou por email e aplicado três vezes. Cada perito classificou os

indicadores de acordo com uma escala de Likert de cinco pontos (Tabela 1).

Os questionários eram recolhidos passados cinco dias úteis.

Na primeira aplicação do questionário era possível sugerir novos indicadores, que seriam adicionados ao segundo questionário. O segundo questionário in-cluía as sugestões do primeiro e a média das respostas do primeiro e o terceiro questionário apenas a média das respostas do segundo. Os cut-offs estabelecidos

como consenso na segunda e terceira aplicação do questionário foram os iguais ou superiores a quatro e os inferiores a dois (Tabela 1). O consenso foi alcan-çado em abril/maio de 2017.

Resultados

Da equipa de 13 médicos dedicados à UICD apenas 10 (76,9%) iniciaram o estudo e todos responderam às três fases de aplicação dos questionários. As idades dos participantes variaram entre os 32 e os 62 anos e 60% eram homens. No final da primeira aplicação foi obtido consenso em 13 dos indicadores e feita uma sugestão de inclusão de um novo na Intervenção Clínica/Internamento (Tabela 2). O indicador sugeri-do tinha sisugeri-do retirasugeri-do sugeri-do questionário durante o pro-cesso de revisão/validação do mesmo e nesta fase, por ter sido sugerido por um perito, voltou a ser incluído. O segundo questionário, com 43 indicadores, obteve consenso em 17 indicadores que já não foram incluí-dos no terceiro questionário para análise (Tabela 2). O terceiro questionário obteve consenso em mais 4 indicadores (Tabela 2).

Dos 21 indicadores que atingiram consenso, 12 eram relativos à admissão e internamento do doente (5 classificados com relevância máxima e 7 com muito relevante) e 9 à apreciação geral do FC (7 classifica-dos com concordo completamente e 2 com discordo completamente) (Tabelas 2 e 3).

Discussão

Neste estudo, a medida de tendência central conside-rada para análise das respostas obtidas foi a moda, a opção mais escolhida para cada indicador, tendo sido também identificados os intervalos de resposta. Na técnica de Delphi o consenso e a coesão da resposta são dados por uma medida de tendência central com a menor dispersão possível.18 Observou-se que, em-bora se tenha chegado a consenso em alguns indica-dores, as respostas não deixam de ser em alguns casos muito dispersas com intervalos entre 1 e 4 ou 2 e 5, o que representa a existência de opiniões muito distin-tas dentro do grupo de peritos (Tabela 3).

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Tabela 1 - Escala de Likert usada no Questionário

Escala de Likert Cut-offs (consenso) < 2 Cut-offs (consenso) ≥ 4

Intervenção Clínica (admissão, internamento e alta)

Questionário Apreciação Geral 1=nada relevante 2=pouco relevante 3=relevante 4=muito relevante 5=relevância máxima

1=nada relevante 4=muito relevante 5=relevância máxima

1= discordo completamente 2=não discordo completamente 3=não discordo nem concordo 4=não concordo completamente 5=concordo completamente

1= discordo completamente 4=não concordo completamente 5=concordo

completamente

No momento da admissão observa-se, pelas respostas dadas, que embora existam inúmeros estudos sobre a importância do FC na reconciliação da terapêuti-ca na admissão,19-21 a maioria desses indicadores não foram considerados relevantes pelos clínicos. Na rea-lidade, o FC não está presente na admissão do doen-te na UICD, momento crucial devido à prescrição

da terapêutica inicial do doente no internamento. É o médico que o interna que faz a reconciliação. No entanto, foi obtido consenso com muito relevante no item adequação da terapêutica de ambulatório ao for-mulário hospitalar e à identificação e sinalização de problemas com a terapêutica de ambulatório de for-ma a preveni-los.

Tabela 2 - Aplicação do Questionário

Intervenção Clínica Questionário Apreciação Geral 8 0 1 (12,5%) 8 0 0 Admissão Internamento Alta Total 1ª Aplicação 2ª Aplicação Cut- -offs < 2 Cut- -offs ≥ 4 Cut- -offs < 2 Cut-offs ≥ 4 21 0 5 (23,8%) 22 0 8 (36,4%) 3 0 0 3 0 0 9 1 (11%) 6 (66,7%) 9 2 (22,2%) 7 (77,8%) 42 1 (2,4%) 12 (28,6%) 43 2 (4,7%) 15 (34,9%) Intervenção Clínica Questionário Apreciação Geral 8 0 2 (25%) 8 0 2 (25%) 2 (25%) Admissão Internamento Alta Total

3ª Aplicação Resultados Finais

Cut- -offs < 2 Cut- -offs ≥ 4 Indicadores Avaliados Cut- -offs < 2 Cut --Offs ≥ 4 14 0 2 (14,3%) 22 0 10 (45,5%) 10 (45,5%) 3 0 0 3 0 0 0 0 NA NA 9 2 (22,2%) 7 (77,8%) 9 (100%) 25 4 (16,0%) 43 2 (4,7%) 19 (44,2%) 21 (48,8%) Consenso

Nº=Número; %=Percentagem; NA=Não Aplicável

Indicadores Avaliados Indicadores Avaliados Indicadores Avaliados 41

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Tabela 3 - Valorização do FC pelos Clínicos

Intervenção Clínica do FC (Escala:1= nada relevante; 2=pouco relevante,3=relevante;4=muito relevante; 5=relevância máxima)

Momento da Intervenção

Intervalo de resposta

Moda Validar medicamentos ambulatórios prioritários a reconciliar nas primeiras 4h

após a admissão (exemplo metotrexato oral, antiarrítmicos…) Validar toda a terapêutica de ambulatório

Validar se a terapêutica de ambulatório pode ser responsável pela condição clínica do doente

Comparar a terapêutica de ambulatório com a terapêutica prescrita na admis-são e adequá-la à situação clínica do doente

Apoiar o Clínico na adequação da terapêutica de ambulatório ao formulário hospitalar

Identificar os erros na terapêutica de ambulatório e sinalizá-los, de forma a não se repetirem

Identificar reações adversas à terapêutica de ambulatório

Validar toda a terapêutica prescrita nas primeiras 24 horas após a admissão Identificar reações adversas à terapêutica prescrita durante o internamento Identificar interações com outros medicamentos e alimentos

Comparar a terapêutica prescrita com as alergias documentadas no processo clínico do doente

Identificar problemas com medicamentos de alto risco (doses máximas, dilui-ções, frequência de administração, duração de tratamento inadequada) Identificar problemas com medicamentos sinalizados no serviço por estarem associados a erros de prescrição/administração

Identificar, comunicar e discutir com o Clínico todos os problemas relacionados com os medicamentos

Pedir a monitorização sérica de alguns antibióticos e adequar o esquema posológico

Monitorizar parâmetros analíticos (creatinina, função hepática, proteína C reati-va, hemograma, leucograma, ionograma, razão normalizada internacional…) Validar a prescrição de todos os antibióticos de acordo com o tipo de infeção Internamento

Validar a prescrição de medicamentos sujeitos a Protocolos/ Orientações internas do HFF

Verificar se foi instituída profilaxia a todos os doentes em risco de tromboembolismo venoso

Validar a terapêutica a cada 24 horas

Validar a terapêutica sempre que considerado necessário Antecipar problemas relacionados com medicamentos Esclarecer sobre a administração de medicamentos

2 a 5 Relevante 2 a 4 Relevante 2 a 4 Relevante 2 a 4 Relevante 3 e 4 Muito Relevante 2 a 4 Muito Relevante 3 e 4 Relevante 3 e 4 Relevante Admissão 3 a 5 Relevância Máxima 3 a 5 Muito Relevante 3 e 4 Relevante 3 a 5 Relevância Máxima 3 a 5 Muito Relevante 3 a 5 Relevância Máxima 2 a 5 Relevante 2 a 5 Pouco Relevante 2 a 5 Pouco Relevante 3 a 5 Relevante 2 a 5 Relevante 3 e 4 Relevante 3 a 5 Muito Relevante 3 a 5 Muito Relevante 3 a 5 Muito Relevante

Esclarecer sobre posologias, efeitos secundários, interações, precauções

espe-ciais e contraindicações 2 a 5 Relevante

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Intervenção Clínica do FC (Escala:1= nada relevante; 2=pouco relevante,3=relevante;4=muito relevante; 5=relevância máxima)

Momento da Intervenção

Intervalo de resposta

Moda

Assegurar que a terapêutica prescrita ao doente é corretamente distribuída Sugerir a forma farmacêutica do medicamento mais adequada ao doente Estar presente na passagem de turno, acompanhando tudo o que diz respeito à situação clínica do doente

Promover comportamentos de adesão à terapêutica durante o internamento Promover a adesão à terapêutica junto do doente e cuidadores no momento da alta

(Sugestão) Identificar padrões de prescrição inadequada e promover formação em equipa para melhoria dos mesmos

Capacitar o doente e cuidadores para a correta administração dos medicamen-tos no momento da alta

Internamento

Garantir que o doente compreende a importância da terapêutica que lhe foi prescrita e a sua adequação à patologia, no momento da alta

Esclarecer o doente sobre reações adversas, potenciais interações e precau-ções especiais de utilização do medicamento, no momento da alta Alta

Visão Geral do FC (Escala:1= discordo completamente, 2= não discor-do completamente,3= não discordiscor-do nem concordiscor-do,4= não concordiscor-do completamente; 5= concordo completamente)

Intervalo

de resposta Moda A intervenção do Farmacêutico tem impacto positivo nos resultados clínicos

do doente

A intervenção do Farmacêutico aumenta a segurança do doente e a efetividade da terapêutica

A intervenção do Farmacêutico antecipa problemas relacionados com o medi-camento

A intervenção do Farmacêutico aumenta a eficiência, evitando o desperdício A intervenção atual do Farmacêutico satisfaz/dá resposta às necessidades do serviço

A intervenção atual do Farmacêutico satisfaz/dá resposta às necessidades do serviço mas é necessária durante um período de tempo mais alargado A intervenção atual do Farmacêutico não satisfaz/não dá resposta às necessi-dades do serviço e por isso é necessário ter um Farmacêutico num período de tempo mais alargado

A intervenção atual do Farmacêutico não satisfaz/não dá resposta às necessi-dades do serviço e por isso é necessário ter um Farmacêutico a tempo inteiro

3 a 5 Relevância Máxima 2 a 5 Relevante 1 a 5 Pouco Relevante 1 a 5 Pouco Relevante 1 a 5 Pouco Relevante 3 a 5 Relevância Máxima 1 a 5 Relevante 1 a 5 Relevante 1 a 5 Relevante 3 a 5 Concordo completamente 4 a 5 Concordo completamente 3 a 5 Concordo completamente 4 a 5 Concordo completamente

A intervenção farmacêutica é uma mais-valia à ação médica

3 a 5 Concordo completamente 2 a 5 Concordo completamente

1 a 4 Discordo completamente

1 a 3 Discordo completamente 5 Concordo completamente Continuação da Tabela 3 - Valorização do FC pelos Clínicos

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Os peritos parecem dar importância a um estudo mais profundado do perfil farmacoterapêutico do doente em ambulatório mas por outro profissional, até porque o âmbito do serviço não lhes permite fa-zer isso. O FC tem feito alguns esforços nessa área focando a sua atenção na reconciliação da terapêutica que não é frequentemente utilizada nesse ambiente e da qual poderá existir algum desconhecimento, como antivíricos ou quimioterapia oral, assim como na que tem indicação para ser reconciliada nas primeiras quatro horas após a admissão, como antiarrítmicos, metotrexato, antivíricos, entres outros.22 Se a infor-mação relativa à terapêutica de ambulatório do doen-te não for suficiendoen-te é muitas vezes necessário recor-rer aos próprios doentes e aos familiares, estando esta tarefa a cargo dos clínicos no momento da admissão. Esta atividade poderia ser desenvolvida pelo FC se estivesse mais tempo presente no serviço. A literatu-ra diz que a reconciliação da teliteratu-rapêutica é uma ferliteratu-ra- ferra-menta muito importante na diminuição dos erros de medicação durante a admissão21 e os FC têm de fazer um esforço no sentido de ajudar os clínicos a perceber a importância do farmacêutico nesse momento. No entanto, tal não será possível se não forem efetuados alguns investimentos nesta área como sejam o aumento de recursos humanos e o investimento em tecnologias de informação que suportem esta atividade.

Relativamente ao período de internamento do doente na UICD, a ação do FC deve centrar-se na identifica-ção de reações adversas, de problemas com medica-mentos de alto risco e de padrões médicos de pres-crição menos corretos, na correta distribuição dos medicamentos e na discussão com o clínico de todos os problemas relacionados com medicamentos. O FC deverá também desenvolver alguma atividade no âmbito da identificação das interações medicamen-to-medicamento e medicamento-alimento, identifi-cação de problemas com as prescrições e problemas na administração de medicamentos já sinalizados no serviço, validação da terapêutica e antecipação de problemas relacionados com a terapêutica. Mes-mo valorizando muitas das intervenções do FC no internamento, os peritos não deram importância à promoção da adesão à terapêutica, à participação na passagem de turno médica, à monitorização sérica de alguns parâmetros laboratoriais e à validação da prescrição de antibióticos de acordo com o tipo de infeção, tarefas estas que integram a prática diária de qualquer farmacêutico hospitalar e cujo valor é de-monstrado pelas múltiplas intervenções registadas na UICD.

No momento da alta, a intervenção do FC parece não ser valorizada. Tradicionalmente, são os enfermeiros que costumam ter um papel mais importante de revi-são e explicação da terapêutica ao doente, no entanto na UICD do HFF isso não se verifica, sendo o próprio médico a explicar essa informação ao doente. Alguns estudos recentes demonstram que a educação dos doentes pelo farmacêutico no momento da alta melho-ra a adesão à temelho-rapêutica, com ganhos clínicos e econó-micos 23,24. Deverá por isso ser uma área de intervenção a desenvolver no futuro.

O interesse na inclusão de um FC nos serviços de ur-gência tem aumentado nos últimos anos. Algumas as-sociações internacionais, como a American Association of Hospital Pharmacy, já consideram a existência de um programa específico para os seus farmacêuticos de emergência médica.5,25 Em Portugal, esta cultura ainda não existe e por isso é importante perceber como é que somos vistos pelos outros profissionais e onde é que a nossa ação pode ser de facto valorizada. No HFF, o FC dedica duas a três horas da sua atividade diária à UICD, o que corresponde a um pequeno investimen-to num serviço sobrelotado e associado a um elevado risco de erro. As nossas tarefas diárias focam-se maio-ritariamente na validação da terapêutica prescrita, na monitorização sérica de alguns parâmetros, na revisão de alguma terapêutica de ambulatório, na discussão di-reta com o clínico de todos os problemas encontrados e na resolução de problemas específicos de stock

(medica-mentos de importação ou com indicações muito espe-cíficas e esgotados). Na generalidade, a distribuição de medicamentos é assegurada pelos técnicos de farmácia. Na apreciação geral os peritos concluem que o FC tem um impacto positivo nos resultados clínicos dos doen-tes, aumentando a eficiência, segurança e eficácia da terapêutica e antecipando alguns problemas relaciona-dos com o uso do medicamento. Mesmo assim, pare-ce não existir nepare-cessidade de uma maior presença do FC na UICD, pois as necessidades do serviço parecem estar satisfeitas. É importante salientar que estes indi-cadores, embora tendo atingido consenso, apresentam intervalos de reposta muito alargados, o que denota va-riabilidade nas opiniões dos inquiridos.

Parece existir algum desconhecimento do papel que o FC pode ter num serviço de urgência e das mais-valias associadas à sua intervenção. Tendo em conta que a perceção do valor de um profissional é mostrada na sua prática, talvez possamos assumir que este desconheci-mento poderá ter que ver apenas com a falta de presen-ça do FC, durante mais tempo, no serviço.

O estudo teve algumas limitações que podem de

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alguma forma condicionar as respostas obtidas. O fac-to de o questionário ser anónimo não permitiu que o segundo e o terceiro inquérito tivessem os resultados individuais de cada perito, ou seja, que eles se pudes-sem comparar pessoalmente aos resultados do grupo. Também, devido às limitações de tempo, foi impossível ter uma sessão intermédia de discussão conjunta sobre o questionário e os resultados obtidos. Esta sessão teria sido muito importante para ter perceção real do porquê dos intervalos alargados de resposta a determinados indicadores e do porquê dos consensos atingidos com moda inferior a dois (nada relevante; discordo comple-tamente). Outro fator importante está relacionado com a heterogeneidade do grupo de peritos, tanto no que diz respeito à idade (entre os 32 e os 62 anos) como à experiência profissional.

Conclusão

Este estudo obteve vários consensos importantes so-bre a atividade diária do FC numa UICD. No entanto, parece existir um caminho a percorrer na valorização do seu trabalho, quer pelo facto de algumas interven-ções não serem valorizadas, quer porque os clínicos não reconhecem que o FC pode efetivamente ter um papel crucial noutras áreas. Os Serviços Farmacêuti-cos devem preparar-se para este desafio, promovendo o trabalho do FC in loco, com o apoio das tecnologias

de informação. É um compromisso para o futuro!

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declaram a

ine-xistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Fontes de Financiamento: Não existiram fontes

ex-ternas de financiamento para a realização deste artigo.

Confidencialidade dos dados: Os autores declaram

ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes.

Proteção de pessoas e animais: Os autores

decla-ram que os procedimentos seguidos estavam de acor-do com os regulamentos estabeleciacor-dos pelos respon-sáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da Asso-ciação Médica Mundial.

Ethical Disclosures

Conflicts of Interest: The authors report no conflict

of interest.

Funding Sources: No subsidies or grants

contribu-ted to this work.

Confidentiality of data: The authors declare that

they have followed the protocols of their work center on the publication of data from patients.

Protection of human and animal subjects: The

au-thors declare that the procedures followed were in accordance with the regulations of the relevant cli-nical research ethics committee and with those of the Code of Ethics of the World Medical Association (Declaration of Helsinki).

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Tabela 1 - Escala de Likert usada no Questionário
Tabela 3 - Valorização do FC pelos Clínicos

Referências

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