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NOTAS SOBRE O CONCEITO DE PROPRIEDADE E O LOTE URBANO: BRASÍLIA

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Academic year: 2019

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Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetur a e Urbanismo

Erika Winge

NOTAS SOBRE O CONCEITO DE PROPRIEDADE E O LOTE

URBANO: BRASÍLIA

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Erika Winge

NOTAS SOBRE O CONCEI TO DE PROPRI EDADE E O LOTE URBANO: BRASÍLIA

Dissertação de Mestrad o em Arquitetu ra e Urbanismo

Orientador Professor Dr. Antônio Carlos Cabral Carpintero

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Erika Winge

NOTAS SOBRE O CONCEI TO DE PROPRI EDADE E O LOTE URBANO: BRASÍLIA

Dissertação de Mestrad o em Arquitetu ra e Urbanismo apresentada à banca examinadora na Faculdade de

Arquitetu ra e Urbanismo da

Universidade de Brasília

Data da apr ovação:

______________________________

Banca examinadora:

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Agradeço ao Professor D ou to r Antonio Carlos Cabral Carpintero , pela inestimável orientação no levantamento e depuração d os dados , pela liberdade que po de me pro p o rcionar no pro cesso de pesquisa e pela didática e debates essenciais; ao Professor Gus tavo Lima Braga, pelas úteis contribuições; à Professora Maria S tella Winge, pelos

debates enriqueced ores sobre

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SU MÁRIO

RESUMO vii

ABSTRACT viii

INTRODUÇÃO 09

N o tas sobre metod ologia 16

Capítu lo I – NOTAS SOBRE HIS TÓRIA E URBANIZAÇÃO NO

BRASIL: ALGUNS CONCEITOS 21

1 .1 No tas sobre a urbanização brasileira: 28 1. 1.1. Os tr ês primeiros séculos da Colônia 31 1. 1.2. Indus trialização , urbanização e o século XIX 44 1. 1.3. Breve histórico da mudança da nova capital 62 Capítu lo II – CORRELAÇÃO ENTR E DIREI TO E URBANISMO:

SUPERQUADRA DE BRASÍLIA 73

2.1 . A cidade nos séculos XIX e XX 83 2.2 . No tas teó ricas e conceituais 89 Capítu lo I II – BRASÍLIA: PROJETO E PLANO PILOTO 101 3.1 . O Plano Piloto de Lucio Cos ta 102 3.2 . Elementos teó ricos d o Plano Piloto 105

CONCLUSÕES E POSSIBILIDIDADES 115

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RESUMO

WINGE, Erika. No tas sobre o conceito de pro priedade e o lo te urbano: Brasília. 2007. 125 folhas. Dissertação de mestrado - Faculdade de Arquitetu ra e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

A reflexão histó rica sobre a cidade na modernidade expõe o plano como manifestação reco rr ente da história do p oder. A partir d o reconhecimento de que as cidades devem ser compreendidas historicamente como partes integrantes de sociedades mais abrangentes, é p ossível discutir a importância da vida urbana para os diferentes fenômenos sociais. A

arquitetur a do tecido urbano sugere a multiplicação de um reper tó rio onde diferenciados pr ojetos subordinam-se a lógica do plano da cidade.

O es tud o pr op o s to nesta dissertação analisa o Plano Piloto apresentado para a nova capital d o Brasil (Brasília) sob o ponto de vista da relação social de pro priedade em sua dupla dimensão, social e espacial. São analisadas as relações estabelecidas entre o lote urbano e o conceito de pro priedade nas superquadras d o Plano Piloto de Brasília, sendo especificamente inquirida a natureza das Pr ojeções.

A análise teó rica do Plano Piloto não se resume às palavras ditas no memorial descritivo do arquiteto e urbanista o u nas normas e regulamentações pertinentes, mas inclui a análise dos desenhos apresentad os pelo auto r , o u melhor, planos. São tomados os planos não como mera ilustração, p ois desempenham papel pr o tag onista num pr ojeto de arquitetur a ou de urbanismo.

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ABSTRACT

WINGE, Erika. No tes about the concepts of pr op er ty and urban lot: Brasília. 125 pages. University of Brasília, Brasília, 2007.

Histo rical reflections abou t cities in modern ages expose planning as a recur ring manifestation of p ower . Once cities are recognized as par t of broader societies the discussion on the importance of city life to o ther different social phenomenon is raised up. Arquitectu re of the urban tissue suggests the multiplication of a reper toir in which different plans are subordinated to the logic of the citie´s plan.

This study pr op p osal is to analyse the Pilot Plan of the New Capital of Brazil (Brasília) under the d ouble dimension of pr op er ty´s social relations, social and spacial. The exhisting connections between urban lot and the concep t of pr op er ty are analysed in the Superquadras of the Pilot Plan of Brasilia, specially the natu re of the Projections.

The theor etical analysis of the Pilot Plan goes beyond the wor ds from it´s descriptive memmorial and the applicable regulations and laws. It includes the analysis of the auth or´s presented designs, taken no t as mere illustrations. They are unders to o d as essencial par ts of an architectur al or urban plann.

Key-wor ds: Brasília, Pilot Plan, Urban Pro per ty, So cial Function, Urban Lo t, Projection, Urbanism, To wn Planning, Theory.

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lINTRODUÇÃO

A reflexão histó rica sobre a cidade na modernidade expõe o plano como manifestação reco rr ente da história d o p oder, considerando, entre ou tr os exemplos, as reformas urbanas do século XIX ou o urbanismo socialista entre guerras.

Nestes casos, a arquitetu ra do tecido urbano sugere a multiplicação de um reper tó rio onde diferenciados pr ojetos subordinam-se a lógica d o plano da cidade. Po r tanto , a u to pia da cidade moderna planejada difunde no territó rio mais do que um plano um po der instituído a par tir de uma complexa trama de açõ es de transformação territo rial.

As relações entre arquitetur a e urbanismo enfatizam uma vocação para a valorização da integração e da priorização d o coletivo. Nos séculos XIX e XX são muitos os planos chamados u tó picos que germinam sob es te período conflituoso recheado de transformações dinâmicas.

Este períod o marcou pr ofundamente as transformações econ ômicas, sociais e políticas de to d o o mundo o cidental, bem como os seus referenciais sociais e institucionais. As revoluções industrial, tecnológica e de tr ansmissão de riquezas dos reinos ibéricos, principalmente, para a Inglater ra e Franca referenciaram tr ansformações sociais que embalaram severas mudanças no Brasil: colônia, império, e, logo dep ois, república.

As u topias d o final d o século XIX, loucuras na épo ca, influenciaram planos e p olíticas o cupacionistas po r to d o o mundo, também no século seguinte. Muitas se mantém atuais em suas intenções, sendo aplicadas com sucesso em diversas cidades do mundo.

A Uto pia de Tomas Morus realiza, no seu famoso livro, uma for te reação às mudanças sociais que eram desencadeadas, nomeadamente a grande con tr o vérsia da épo ca: a delimitação física das pro priedades privadas.

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mercantilista e absolutista, temos, desde o século XIX, se for taleceu o entendimento no sentido da publicizacao da pr op riedade e sua função imbricada social.

Perco rr endo a pr oblematização d o conceito de pr op riedade, no intuito de compreender a sua relação com o pro cesso de urbanização, foram analisadas algumas das concepçõ es urbanísticas e arquitetônicas que melhor refletem o Plano Piloto de Brasília, na pro p os ta do Plano Piloto para a Nova Capital, especificamente inquirindo a natureza das Pr ojeções.

É importan te observar que o institu to da pro priedade tem sido pivô de discussões jurídicas, sociais, econ ômicas, culturais, assim como de qualquer instância que envolva a natureza humana. Entre elas, a relação existente entre os p ólos privado e o coletivo sobressai como um d os dínamos da Histó ria. Esta complexidade pode ser reconhecida no Plano Piloto para a Nova Capital, de Lucio Cos ta para Brasília, publicado no concurso nacional em 1957.

A intervenção d o Es tado no domínio econômico e a imposição de limites à vontade do homem são fenômenos presentes desde a segunda metade d o Século XIX. Tod avia, uma vez que o Código de 1916 inspirou- se no modelo napoleônico de 1804, em que predominavam a auton omia da vontade e o absolutismo do direito de pr op riedade, há não muito temp o vivíamos sob esse paradigma.

A evolução do sistema de pr op riedade marcou a definição física e conceitual da ocupação e uso d o solo. N o desenvolvimento des te estud o fez-se mister des tacar a íntima relação entre o lote e a arquitetu ra nele implantada. No Brasil, descendente das primeiras sesmarias, a abrangência do assunto tr atad o pesa significantemente sobre a pr od ução da arquitetur a e do urbanismo, uma vez que a priori a pro priedade definia o lote. E, temos que dessa origem desenvolveu-se a noção de lote urbano.

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conforme influência do contex to urbano em que se insere, p or tan to ‘a evolução da arquitetur a é associada à evolução urbana”:

“Ao m e s m o t e m po os es q ue m a s u r b a n í s t i c os co m e ç a m a p r e s s u p o r u m co nj u n t o de r e l a çõ es a r q u i t e t ô n i c a s e , n o d i z e r d e C a n d i l l i s e W ood s , o u r b a n i s m o s o m e n t e d e i x a d e s e r u m a ab s t r a ç ã o q u a n d o s e t o r n a ge r a d o s d e a r q u i t e t u r a ” 1.

E, neste diapasão, o jurista Toshio Mukai, ao tratar da relevância do conceito de urbanismo, entende que o fenômeno urbano “aqui e alhures, é cons tatad o como um daqueles em que é preciso disciplinar e conformar para que o homem não se veja engolfado pela civilização do caos que se avizinha”2.

Como define Gravagnuollo3, a cidade é, em suma, a mais

extrao rdinária idealização humana, cuja o rigem e desenvolvimento coincidem com a história da civilização.

Léfèbvre, citado pela antr op ólo ga Rita Amaral4, definiu a cidade como

a projeção da sociedade sobre um dad o territó rio. Assim, se é necessário ultrapassar o empirismo da descrição geo gráfica, o espaço existe devido à ação dos pers onagens sociais e das instituições, sem encontrar obs táculos, a não ser limitações trazidas pelas geraçõ es anteriores. Neste diapasão, a natureza seria moldada pela cultura e, assim, to d a problemática social teria origem na união des tes dois termos, po r meio d o pro cesso dialético. O homem se transforma e transforma o seu desenvolvimento na luta pela vida e pela apr op riação diferencial d o pro du t o de seu trabalho.

Ou tr o s entendem que a cidade não se au to - explica. Ela não é uma to talidade, mas apenas a objetivação de uma to talidade maior na qual se insere. Os fato res históricos são afastados e a cidade estudada como pro du t o de diversas causas econ ômicas, políticas e sociais.

De aco rd o com diferentes circunstâncias e forças históricas, existiriam cidades de tipos diferentes (p or to s , santuários, industriais etc.)

1 REIS FILHO. Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana no Brasil, 1500/ 1720. São Paulo: Ed. Pini, 2ª edição,

2000, p . 9 .

2 M U K A I , T o s h i o . D i r e i t o e L e g i s l a ç ã o U r b a n í s t i c a n o B r a s i l . S ã o P a u l o : S a r a i v a , 1 9 8 8 , p . 3 3 GRAVAGNUOLO, Benedetto. La progetazione urbana em Europa. 1750-1960. Roma e Barri: Laterza, 1994.

4 AMARAL, Rita. Povo-de-santo, povo de festa. O estilo de vida dos adeptos do candomblé paulista; Dissertação de Mestrado,

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desempenhando funções ligadas às áreas nas quais estão inseridas. Entre es tes os es tão Karl Marx e Max Weber. Apesar de suas divergências teó ricas serem profundas, ambos caracterizam a cidade o cidental como um lugar de mercado .

Consoan te o es tud o realizado p or Rita Amaral, Weber, no texto Conceito e Categorias da Cidade (Weber, 1987) , formula um conceito que é cons truído p or uma série de circunstâncias ou pré- requisitos necessários para o desenvolvimento das cidades. Assim, a existência da cidade implica a existência de uma comunidade com alto grau de auton omia, tanto no nível objetivo (mercad o, for tificação, exército, tribunal e direito ao menos parcialmente pró prio) , quanto no nível subjetivo.

Para Weber, a cidade é pré- condição da existência do capitalismo e pressupos to de seu desenvolvimento . À medida, entretanto , em que as cidades são incorpo radas a Estad os nacionais não po dem mais ser captadas como uma to talidade, po rq ue são absorvidas numa unidade mais ampla.

Po r isso, afirma Rita Amaral, Weber descarto u a relevância de uma sociologia das comunidades urbanas, de mod o que a cidade moderna se originou da comunidade relativamente au tôn oma de burgueses livres que existiu no período de transição d o feudalismo para o capitalismo, mas es tas comunidades perderam rapidamente sua independência para se to r narem os alicerces do Estad o - nação.

Marx, ainda consoan te entendimento de Rita Amaral, entendia que a econ omia urbana requer um pro cesso prévio de divisão social do trabalho. No caso das cidades euro péias da Idade Moderna, isto significou o desenvolvimento de um novo padrão de exploração , que substituiu o sistema es tamental pelo de classes sociais.

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e interagem.

Desse modo , como mercad o de bens e de dinheiro (dos capitais), a cidade também se to rna o mercad o de trabalho (da mão de obra). Assim, se a cidade industrial capitalista representa o encontr o de indivíduos que compartilham uma situação de libertação do sistema feudal, para Marx ela expressa as condições mais fundamentais de alienação do homem.

Consoan te Fernando Cardos o , indicado p or Rita Amaral, apesar das divergências entre Marx e Weber serem pr ofundas, os dois analisaram a cidade histo ricamente e mostram que:

"c i d a d e e p o l í t i c a n a s c e r a m , n a t r a d i ç ã o oci de n t a l , com o co n ce i t os e r e a l i d a d e s i n t e r - r e l a c i o n a d a s . De r e s t o , e t i m o l o gi c a m e n t e a s l i g a çõ es s ão c l a r a s : c i v i t a s e p o l i s s ã o a s r a í z e s e m d i s t i n t o s i d i o m a s p a r a ex p r e s s a r , a o m e s m o t e m p o , u m m o d o de h a b i t a r e u m a fo r m a d e p a r t i c i p a r : c i v i s m o e po l í t i c a"5 .

A par tir d o reconhecimento de que as cidades deviam ser compreendidas histo ricamente como par tes integrantes de sociedades mais abrangentes, é possível discutir a impor tância da vida urbana para os diferentes fenômenos sociais.

Havia, entretan to , quem pensasse diferentemente. A Escola de Chicago , nos anos trinta, ad o tava, consoante Rita Amaral, teo rias sobre a cidade que a consideravam como uma variável independente. A cidade é entendida como uma força social capaz de gerar , p or sua influência, diferentes efeitos na vida social.

Seus representantes entendiam que o modo de vida originado pela cidade é sua principal conseqüência. Entre eles se destaca Louis Wirth, Simmel e Redfort. Afirma Rita Amaral que Wirth e Simmel acreditavam que o estabelecimento de cidades implicava o surgimento de uma nova forma de cultura, caracterizada p or papéis altamente fragmentados, predominância de contato s secundários sobre os primários, isolamento , superficialidade, anonimato , relações sociais tr ansitórias e com fins instrumentais,

5 CARDOSO, Fernando Henrique. "A Cidade e a Política:do Compromisso ao Inconformismo".In: Autoritarismo e Democratização. Paz

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inexistência de um contr ole social direto , diversidade e fugacidade dos envolvimentos sociais, afrouxamento nos laços de família e competição individualista. Assim, po r tr ás desses modelos está a op osição culturalista entre o tr adicional e o moderno .

Essa abordagem, entretanto , se limita ao não reconhecer que se a cidade é o contex to onde tais fenômenos o co rr em, eles são gerad os pelo desenvolvimento da industrialização capitalista que são abrigados pelas pró prias cidades. Analisa Rita Amaral que confundem-se, nesta abordagem, cidade e sistema pro du tivo.

En tr e as diversas u to pias e teo rias urbanísticas da época, algumas são des tacadas. As d os CIAM, de S oria Y Mata, de Howard , e de Le Co rbusier são analisadas mais de perto , devido à clara influência sobre Lucio Cos ta, ao elaborar o projeto urbano do Plano Piloto de Brasília.

Como dito anteriormente, o período de intensas mudanças atingia a recém estru tur ad a república brasileira, que externalizava suas pr óp rias rees tr u tur açõ es e reflexões. Um fator muito importan te que permeia as transformações políticas e sociais d o Brasil, nos séculos XIX e XX, foi exatamente a clara intenção de interiorização e mudança da capital. Em verdade, se tr ato u de dar continuidade a uma p olítica es tratégica de ocupação e de defesa d o ter ritó rio nacional, cujas origens remontam ainda o início d o período colonial. E, a respeito , expõe Carpinter o:

“B r a s í l i a é o e x e m p l o m a i s a c a b a d o d a p r o d u ç ã o b r a s i l e i r a e m u r b a n i s m o e m a r q u i t e t u r a . C i d a d e n ov a , l oc a l i z a d a e m u m a r e gi ã o ce n t r a l d o p a í s , p r o p os t a de s de o i n i c i o do s é cu l o X IX , e m u m s i t i o es col h i d o cu i d a d o s a m e n t e , p o r c r i t é r i o s n a t u r a i s e e s t r a t é g i c os , e co n s t r u í d a n u m m o m e n t o p ol í t i co de de s e n vo l v i m e n t o e u f a n i s m o p a t r i ó t i co . C o n t u d o , a t r a d i ç ã o b r a s i l e i r a d e c i d a d e s n o v a s ve m d e l o n ge ”6

.

Fruto dessa intenção p olítica insistente, a tr ansferência da capital do Brasil do Rio de Janeiro para o Planalto Central d o Brasil7 po de ser

6 A n t o n i o C a r l o s C a b r a l e R E I S F I L H O , N e s t o r G o u l a r t . B r a s í l i a : p r á t i c a e t e o r i a u r b a n í s t i c a n o

B r a s i l , 1 9 5 6 - 1 9 9 8. T e s e d e D o u t o r a d o , F A U – U S P . S ã o P a u l o , 1 9 9 8 , p . 2 5 .

7 Vale observar que, no que se refere ao período histórico que gerou a mudança da capital do Rio de Janeiro para o planalto central do

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planejada e realizada. E, com sessenta e sete anos de antecedência, o Brasil foi um d os po uco s países que planejou e analisou minuciosamente como se daria esta tr ansformação, e onde e como deveria ser recebido este empreendimento nacional.

Cer tamente erros p odem ser apontad os, mas a empreitada obteve sucesso em meados d o século XX, quando ganhou, em concurs o público nacional, o pr ojeto de Lucio C osta para o Plano Piloto da Nova Capital, cuja execução tomo u meros três anos.

Como mencionado, em meio a um mundo que sofria intensas transformações, L. Costa, um urbanista no to riamente reconhecido p or seu conhecimento e cultura, não po deria senão estar conectado com as tendências locais e mundiais. Pro p ôs um projeto que integrava o passad o brasileiro com as expectativas futuristas d o então g overno, além de responder às normas e políticas es tipuladas para a transmissão da capital.

A análise teó rica do Plano Piloto não se resume às palavras ditas no memorial descritivo do arquiteto e urbanista o u nas normas e regulamentações pertinentes, mas inclui a análise dos desenhos apresentad os pelo auto r , o u melhor, planos. São tomados os planos não como mera ilustração, p ois desempenham papel pr o tag onista num pr ojeto de arquitetur a ou de urbanismo.

O estud o pr op o s to neste trabalho de dissertação analisa este plano piloto apresentad o para a nova capital, sob o ponto de vista “da relação social de pr op riedade em sua dupla dimensão, social e espacial”. Uma vez que a urbanização traduz inclusive a “espacialização d os pr oblemas da sociedade” 8, são analisadas neste trabalho as relações estabelecidas entre o

lote urbano e o conceito de pro priedade nas superquadras d o Plano Piloto de Brasília.

Hoje em dia há muita confusão na definição do que seria o Plano Piloto e o que seria Brasília. Isso depende do ponto de vista histórico, administrativo, político, popular etc. Administrativamente, correntemente, a Região Administrativa I, a RA-I, de Brasília é composta pela região do “plano piloto”.. Anteriormente, chamava-se a região administrativa toda de "Plano Piloto" (Lei orgânica do DF 49/1989), passando a se chamar "Brasília" pela Lei nº 110/1990.

O plano apresentado por L. Costa no concurso para a nova capital propunha um plano que fosse piloto, ou seja, originário. Por isso, neste trabalho é tratado por Plano Piloto ou plano de L. Costa. O termo “plano piloto” acabou sendo divulgado, ao longo dos anos, como se fosse um bairro da cidade capital federal, e sendo banidos os termos “cidade satélite”.

A respeito, sugere-se a leitura do capítulo três da tese de Carpintero.

8 CARPINTERO, Antonio C. Cabral e R E I S F I L H O , N s e t o r . B r a s í l i a : p r á t i c a e t e o r i a u r b a n í s t i c a n o B r a s i l ,

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Notas sobre m etodologia

Reis Filho é firme ao dispor sobre as limitações d o profissional do espaço quanto à compreensão da verdade. Os pr oblemas da urbanização vão além das variáveis dominadas pelos arquitetos e urbanistas. E, “ao não entender cor retamente to d o o pro cesso social no seu conjunto , fracassam” 9.

O objeto de estud os d o arquiteto e urbanista es tá claro: o espaço . Con tud o , não se po de esquecer que esta o rg anização espacial, esta forma concreta é só uma par te de to d o um pro cesso social mais amplo. Assim sendo , buscou- se observar tanto os aspecto s físicos, como também as relações sociais que existem p or trás da pr od ução deste espaço e sua representação formal, bem como sua concepção teó rica. Ou tr o aspecto essencial que reitera o que já foi dito, “é que esse pr ocesso é social, ou seja, é a sociedade no seu conjunto quem pro duz o espaço” 1 0.

Uma abordagem histó rica do pro cesso social pro ducente da urbanização já traz em si uma cer ta multidisciplinaridade. Dessa forma é possível a contex tualização da relação existente entre a arquitetur a e a forma de apro priação d o lo te, visando entender o papel que o conceito de pro priedade desempenha na política o cupacional, na conformação urbana e arquitetônica do país, e na valorização da pr op riedade imóvel urbana.

No intuito de pavimentar o caminho até a pr op o situra d o Plano Piloto de Brasília, é necessário conhecer tanto os pr ocessos da ép oca (d o plano) como aqueles “mais longos e gerais”, conforme orienta Reis Filho, em suas notas de aulas preparadas nos cadernos de pesquisa do Laborató rio de Estud os sobre Urbanização , Arquitetu ra e Preservação - LAP, pelo arquiteto Ricard o Medrano 1 1.

Na afirmação de Mukai, jurista especializado em questõ es

9 MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de

Pesquisa do LAP nº 19, 2003. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre urbanização, arquitetura e preservação/ Universidade de São

Paulo, 2ª tiragem, 1997, p. 20 e 21

10 MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de

Pesquisa do LAP nº 19, 2ª tiragem, 2003. São Paulo: LAP/USP, 1997, p. 13.

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urbanísticas, “o sentido social d o urbanismo moderno coloca- o como disciplina interdisciplinar”1 2. O arquiteto não p ode se p osicionar como único

agente, a resolver as questõ es urbanas, “de mod o que na solução delas convergem conhecimentos sociólogos , econ ômicos, geo gráficos, es tatísticos, jurídicos, de engenharia sanitária, biologia, medicina, e, sobretud o políticos, no sentido de tomada de decisões prioritárias”1 3.

Este não é um entendimento inabitado . O entendimento de Mukai es tá em harmonia com o entendimento de Edésio Fernandes e ou tr os pesquisadores da área. Na metade do século XX, a necessidade indispensável de laços entre as diferentes disciplinas - cada vez mais especializadas e envolvidas somente em si mesmas - tr ad uziu-se na pluridisciplinaridade e na interdisciplinaridade.

A esse respeito , ensina o au to r do “Manifesto da Transdisciplinaridade”, Nicolescu, que:

“ a p l u r i d i s c i p l i n a r i d a d e d i z r e s p e i t o a o e s t u d o d e u m o b j e t o d e u m a m e s m a e ú n i c a d i s c i p l i n a p o r v á r i a s d i s c i p l i n a s a o m e s m o t e m p o. [ . . . ] C o m i s s o , o obj et o s a i r á a s s i m e n r i q u e c i d o pe l o c r u z a m e n t o de v á r i a s d i s c i p l i n a s . O co n h e c i m e n t o d o obj e t o e m s u a p r ó p r i a d i s c i p l i n a é a p r o f u n d a d o p o r u m a fecu n d a co n t r i b u i ç ã o p l u r i d i s c i p l i n a r . A pe s q u i s a p l u r i d i s c i p l i n a r t r a z u m a l g o m a i s à d i s c i p l i n a e m q u es t ã o [ . . . ] , p o r é m es t e ´a l go m a i s ` es t á a s e r v i ço a p e n a s de s t a m e s m a d i s c i p l i n a . E m o u t r a s p a l a v r a s , a ab o r d a ge m p l u r i d i s c i p l i n a r u l t r a p a s s a a s d i s c i p l i n a s , m a s s u a f i n a l i d a d e c o n t i n u a i n s c r i t a n a e s t r u t u r a d a p e s q u i s a d i s c i p l i n a r” 1 4

.

Enquanto a pluridisciplinaridade trata de diversas perspectivas sobre um mesmo objeto , de uma disciplina, a interdisciplinaridade “diz respeito à trans ferência de métodos de uma disciplina para outra”1 5. Conforme

Nicolescu, são tr ês graus: a) um grau de aplicação; b) um grau epistemológico; e, c) um grau de geração de novas disciplinas. Contud o , assim como na pluri, a interdisciplinaridade “ultrapassa as disciplinas, mas sua fin alid ade também permanece inscrita na pesquisa disciplinar”1 6.

12 MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil (História-Teoria-Prática). São Paulo: Saraiva, 1988, p.5.

13 Idem.

14 N I C O L E S C U , B a s a r a b . M a n i s t e s t o d a T r a n s d i s c i p l i n a r i d a d e. [ T r a d u ç ã o L u c i a P e r e i r a d e S o u z a ] . S ã o

P a u l o : E d . T r i o m , 1 9 9 9 , p . 5 2

15

NICOLESCU. Op. cit., p. 53.

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Enfim, Nicolescu ap on ta a transdisciplinaridade. ´Trans` po rq ue “diz respeito àquilo que está ao mesmo temp o entre as disciplinas, através das diferentes e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento”1 7. Pressupõe- se, para tan to , a renúncia d o pensamento

clássico de visão piramidal do conhecimento , o u seja, d o entendimento de que entre as disciplinas há o vazio, o vazio da física clássica. Neste entendimento , a transdisciplinaridade seria uma absurdo , pois lhe faltaria objeto. Explica Nicolescu:

“D i a n t e d e vá r i o s n í v e i s d e r e a l i d a d e , o e s p a ç o e n t r e a s d i s c i p l i n a s e a l é m d e l a s es t á c h e i o , com o o v a z i o q u â n t i c o d e t o d a s a s p o t e n c i a l i d a d e s : d a p a r t í c u l a q u â n t i c a à s g a l á x i a s , do q u a r k ao s e l e m e n t o s p es a d os q u e co n d i c i o n a m o a p a r e c i m e n t o d a vi d a n o U n i ve r s o .

A e s t r u t u r a d es co n t í n u a do s n í v e i s de R ea l i d a d e de t e r m i n a a e s t r u t u r a d e s c o n t í n u a d o e s p a ç o t r a n s d i s c i p l i n a r [ . . . ] . A p e s q u i s a d i s c i p l i n a r d i z r e s p e i t o , n o m á x i m o , a u m ú n i c o e m e s m o n í v e l d e R e a l i d a d e[ . . . ] . P o r o ut r o l a d o , a t r a n s d i s c i p l i n a r i d a d e s e i n t e r e s s a p e l a d i n â m i c a g e r a d a p e l a a ç ã o d e v á r i o s n í v e i s d e R e a l i d a d e a o m e s m o t e m p o .[ . . . ] n ã o s ão a n t a g ô n i c a s , m a s com p l e m e n t a r e s .

Os t r ê s p i l a r e s d a t r a s n d i s c i p l i n a r i d a d e – os n í v e i s e R ea l i d a d e , a l ó gi c a do t e r c e i r o i n c l u í d o e a co m p l e x i d a d e – d e t e r m i n a m a m e t o d o l o g i a d a p e s q u i s a t r a n s d i s c i p l i n a r”1 8.

O tr atamento dessas metod ologias não p ode ser dissociado , de modo que “a disciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são as quatro flechas de um único e mesmo arco: o do conhecimento”1 9.

Apesar da multidimensionalidade da realidade sobrepujante d o tema or a pesquisado, uma análise tr ansdisciplinar inviabilizaria a sua consecução. Seria necessária uma to tal renovação da pr op o s ta de pesquisa, inviável a es ta altura. Assim, a meto d ologia histórica foi ado tada, po r meio de fontes secundárias de áreas diversas, contud o com enfoque na análise teó rica do

(19)

projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília. A abordagem histórica d o Plano em si já implica em cer ta multidisciplinaridade, em especial se extensiva.

Em auxílio a esta ampla varredura, pr ocur o u- se referenciar cron ologicamente a pesquisa. Os ponto s de referência históricos se limitam aos enlaces d o conceito de pro priedade com a pr op o s ta d o projeto de urbanismo de Brasília. E, ao invés de balizar os estud os somente pelos elementos visíveis d o urbanismo e d o pr ocesso de urbanização, foram analisados também seus significados sociais.

Assim, tem relevância o ciclo de fatos que permitem uma visão de conjunto do pr ocesso que culminou na pro p os ta das projeções das superquadras. Essa perspectiva, como ensina Professor Reis Filho2 0, visa a

compreensão do pr ocesso , e fato res envolvidos, sem perder de vista o objetivo maior, que é o de relacionar este conjunto de fatos com a teo ria de modo a fornecer instrumentos para o desenvolvimento do estud o sobre es te tema - o qual, es tranhamente, é encon tr ad o com raridade nas academias.

Impo r tan te observar que a escolha da bibliografia pr ocur o u ser es tratégica, de modo que o embasamento e desenvolvimento da disser tação abarcassem auto r es renomados na comunidade científica tanto nos campos da disciplina Arquitetu ra e Urbanismo quanto da História, Economia, Direito e Política. Essa escolha se deu, principalmente, p or meio de sugestõ es do o rientado r , d os colegas, a par tir de leituras realizadas sobre o tema. Enfim, faz-se mister ressaltar que não se pretende exaurir o tema, mas preparar o campo para fecundas reflexões futuras.

Assim, ao arranhar a superfície da complexa realidade que se busca conhecer, temos satisfação ao abrir caminho para futuras expedições a respeito do tema es tudado , de mod o que a histó ria da urbanização brasileira possa ser compreendida face a fatos sociais analisados de forma integrada e crítica. Uma pesquisa mais abrangente realmente se mostra necessária, em especial dentr o d o campo jurídico.

20

(20)

Mesmo delimitando o enfoque da pesquisa, foram enfrentadas imensas dificuldades quanto às diferenças de linguagem reveladas atr avés de interpretaçõ es diversas de linguagens comuns a diversas áreas de conhecimento, ou mesmo de interpretaçõ es diversas de linguagens comuns. Po r tan to , este es tud o se pr op õ e a ser um estud o preliminar, no qual sabe-se ter apenas arranhado as diversas ques tões relevantes ao tema, p or pura falta de temp o dentr o das limitações de uma disser tação de mestrado em urbanismo.

O uso de conceitos e termos utilizados com os mais variados significados, inclusive diferindo de disciplina para disciplina, alimentou a idéia de uniformiza-se a compreensão de noções essenciais ao entendimento do sistema de pro priedade e da concepção de lo te urbano pro p os t os nas superquadras de Brasília. En tr e os conceitos mais fundamentais, se sobressaem a noção de pro priedade - como complexo instituto jurídico e direito fundamental - e o lote - no caso , o pedaço de chão que dá supo r te às edificações residenciais das superquadras e carrega to da uma importância econ ômica, contex tual e histórica. S obre es tes conceitos se lançam a projeções das superquadras de Brasília.

(21)

Capítulo 1

NOTAS SOBRE HISTÓRIA E URBANIZAÇÃO NO BRASIL:

ALGUNS CONCEITOS

Perseguindo uma compreensão mais ampla da natu reza d o lote urbano no caso das projeções das superquadras de Brasília é desenvolvida, a par tir de ag or a, dentr o de uma perspectiva histórica, uma inquirição d o pr ocesso de urbanização que culminou nele e da natureza da pro priedade que o comp õe.

Par te- se da hipótese em que a projeção nas superquadras é um lote urbano, parte cons tituinte d o tecido urbano, unidade de cons tr ução da pro priedade imóvel urbana, na região residencial de Brasília. Ademais, as características que lhe são peculiares são fruto de um projeto urbanístico eivado de ideais, respaldado em um momento histórico de euforia revolucionária, que marcou o governo que efetivamente executo u a mudança da capital. Indo mais além, a pro p os ta urbana para Brasília é fruto de um pro cesso de urbanização de escala nacional.

Neste sentido, são apresentadas notas sobre es te pr ocesso de urbanização, bem como da evolução d o sistema de pr op riedade que marcou a definição física e conceitual da ocupação e uso d o solo brasileiro.

Impo r tan te fazer ressalva quanto à natureza complexa do instituto da pro priedade, que encerra em si tanto a noção de público quanto de privado, tan to de coletivo, quanto de individual. Debatida em diversos âmbitos, essa relação complexa entre os pólos privado e público p ode ser reconhecida no Plano Piloto para a Nova Capital, de au to ria de Lucio Cos ta, publicado em concurso nacional de 1957.

(22)

brasileira. S ob esta ó tica, assume-se que “o urbanista precisa ter essas duas competências: saber analisar as relações sociais e entender como se pr ojeta o espaço , identificando a conexão entre as par tes” 2 1, e apr ofundou - se o

conhecimento d o espaço em meio a redes de interesses p olíticos, econ ômicos, sociais, mas, principalmente em vista do conceito de pro priedade imóvel urbana.

Retomando os ensinamentos de Reis Filho, “a urbanização inclui tan to aquilo que é planejado pelos ditos urbanistas, como também o que é pro duzido pelos ou tr os membros de uma sociedade, com ou sem objetivos urbanísticos” 2 2.

Assim, o urbanismo deixa de ser mera disciplina da cidade, e passa “de uma série de técnicas e conhecimentos relacionados com a construção , reforma e extensão das cidades, para projetos de estru tu ração regional e, pos terio rmente, a planos mais ambiciosos que abarcam a or denação d o territó rio de um país”.

No caso de Brasília, poder- se-ia aplicar tal entendimento à o rd enação de um territó rio que viria a abrigar a nova capital, cuja transp osição para o Planalto Central se deu eivada de ideais, direcionamentos e batalhas políticas, influências econômicas e sociais, internas e externas, bem como ou tr os determinantes espaciais.

O âmbito do urbanismo costumava se limitar ao ter ritó rio urbano e seus elementos. “A par tir da obra de Ebenezer Howard (Garden cities of tomorrow, 1902), o urbanismo começa a desvencilhar-se da cidade, pro cu rando abranger também o campo , e, além disso, preocupand o- se não mais com os aspectos meramente físicos d o territó rio” 2 3.

Citado po r Mukai, o prefácio da edição de Howard po r Osborne, enfatiza a relevância da obra, pois “a par tir de Howard o urbanismo se to rn ou uma função g overnamental mais impor tante e a planificação

21 MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de

Pesquisa do LAP nº 19, 2ª tiragem, 2003. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre urbanização, arquitetura e preservação/ Universidade de São Paulo, 1997, p . 4 0

22 I d e m

.

(23)

es tendeu- se às cidades, às regiões e ao país inteiro” 2 4. Observamos que as

garden cities são uma influência marcante no Plano Piloto de Brasília, cuja es tru tu ra será aprofundada mais a frente.

Bidagor2 5, citad o na obra de Mukai, distingue o conceito de

urbanismo antigo e moderno, de modo que se cos tumava entender p or urbanismo alinhamentos, arruamentos, pavimentações, equipamentos urbanos, como bancos e fontes em praças, etc. Contud o , apesar de sua importância, não são esses elementos que definem o objeto de atuação do urbanismo. Trata- se de “arte de projetar e construir as unidades de concentração humana de forma que sejam satisfeitas to d as as premissas que garantem a vida digna d os homens e a eficácia da grande empresa que cons titui uma cidade” 2 6.

Este entendimento se complementa com o de Campos Venu ti2 7 - citado

po r Veiga de Faria na obra de Mukai. P ondera Venuti que “a consideração científica dos pr oblemas da cidade leva a reconhecer que es ta última não se apresenta como entidade autôn oma, des tacada e a considerar separadamente do ter ritó rio que surge[ .. . ]”2 8, sendo o urbanismo difundido de mod o que

ultrapassa “os limites da cidade para abrigar um ter ritó rio inteiro, quer na sua par te urbana, quer na sua par te rural”.

Este entendimento quanto à abrangência d o plano urbanístico se coaduna com o do projeto do ganhador d o concurso para o Plano Piloto de

24 Apud MUKAI, Op.Cit., p.5

25 Pedro Bidagor Lasarte foi o responsável pelo “Plano Nacional de Ordenação” na Espanha. Propunha como alternativa à cidade liberal o

que chamou de “cidade orgânica”. Em ordem de importância, os fins concretos a que se prestam, segundo o urbanista, são: o caráter político, econômico e social. A prioridade dada aos aspectos políticos revelam os conteúdos ideológicos da proposta.

A “cidade orgânica” de Bidagor constitui-se como um núcleo de representação central, um órgão fechado, rodeado de outros órgãos ou bairros também fechados, dotados de determinadas funções, e que se relacionam entre si por critérios hierárquicos.

O novo modo de hierarquizar o espaço urbano não seria fruto da estratificação social em classes, comum à cidade liberal. Mas este responderia à ideologia dum novo regime em que a distribuição social da população se realiza por grupos de atividades econômicas, entre os quais não haveriam mais os conflitos sociais existentes antes da guerra.

Quanto à política econômica do novo regime, os núcleos que rodeiam o núcleo central são concebidos por Bidagor como pequenos centros de abastecimento de produtos agrícolas.

Fonte: Carrillo, Bibiana Treviño. La utopía ruralista del primer franquismo en los planes de reconstrucción de la posguerra. Disponível em http://hispanismo.cervantes.es/documentos/trevino.pdf. tradução livre da autora. Para aprofundamento, sugere-se: BIDAGOR LASARTE, PEDRO. CIRCUNSTANCIAS HISTORICAS EN LA GESTACION DE LA LEY SOBRE REGIMEN DEL SUELO Y ORDENACION URBANA DE 12 DE MAYO DE 1956. P. 91-100. URBANISMO ; DERECHO URBANISTICO ; LEGISLACION URBANISTICA ; ORDENACION URBANA. ESPAÑA

26

Apud MUKAI, p. 4

27

Urbanista italiano, que propôs nova tendência do urbanismo italiano nos anos oitenta, definida por "planos da terceira geração”, que definia a pretensão de muitas cidades italianas de estudar e redigir pela terceira vez depois do conflito mundial o plano urbanístico. Dessa forma, se o centro temático do primeiro plano (isto é do plano da primeira geração) era a reconstrução e o do segundo a grande expansão da cidade devido aos movimentos migratórios que tinham invadido o país, o centro temático do terceiro plano e, portanto, da terceira geração era o da qualidade do espaço habitável e do espaço urbano. Há quem diga que construía-se de uma "narrativa" de progressiva conquista do welfare individual e coletivo no qual, mais uma vez, o urbanista se revestia do papel do herói.

(24)

Brasília. Nos relató rios que o precedem e no pró prio Plano são previstas diversas planificações e expansões sobre o territó rio to d o d o DF.

No entanto , é importan te ressaltar que, ainda assim, o pr ojeto não foi seguido como o riginalmente pro p os t o . Em palestra proferida no auditó rio Dois Candangos da Universidade de Brasília, em vinte de setembro de 2006, Dou to r Ernesto Silva2 9, esclareceu e realçou que a nova capital foi feita

para ser um pólo irradiador de desenvolvimento no interior do país, “como um co rp o que caísse na água, formando círculos concêntricos para desenvolver a região”.

As cidades satélites deveriam ser desenvolvidas dep ois que o cupada plenamente a região do Plano Piloto3 0. Fato que não aconteceu . De mod o

que não po demos esquecer que “não é a presença de um profissional que caracteriza o urbanismo, mas sim a presença de agentes que planejam realizar um investimento, implicando na apr op riação , pro dução , uso e/o u transformação do espaço” 3 1.

Nos ensinam Medrano e Reis Filho, que o projeto (inclusive o urbanístico) precisa es tar aten to a pelo menos d ois aspectos básicos: um de extrema necessidade, i.e. utilitária, a exemplo das es tru tu ras de sup or te d o edifício, das áreas de cultivo para prover determinada região, vias de deslocamento de pedestres e veículos, tubulações de escoamento de águas, etc.

Mas há uma ou tr a dimensão d o pr ojeto que é também muito importan te. A sociedade não é homogênea, forma-se de grup os com diferentes interesses. Uns grup os disputam o poder de submeter os ou tr os , em diversos graus e po r diversas formas. Uma das formas de expressas essa

29 Dr. Ernesto Silva foi secretário da "Comissão de Localização da Nova Capital do Brasil" (1953/1955); presidente da "Comissão de

Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal" (1956); diretor da NOVACAP (1956/1961); e conselheiro da Fundação Educacional e da Fundação Hospitalar do DF (1960/1961).

Mora até hoje em Brasília. Atualmente é presidente e/ou membro de diversos órgãos ligados às áreas de Saúde e de Cultura no DF.

Além disso, vale lembrar que foi Ernesto Silva quem assinou o Edital do Concurso do Plano Piloto, em 1956; foi o autor do livro História de Brasília, publicado em 1970 e posteriormente reeditado em 1997.

30 O edital exigia população máxima, dentro do Plano Piloto, de 500 mil habitantes. Entretanto, observa-se que não são raras as referências

de expansão, em especial de “cidades satélites”, tanto no projeto ganhador do concurso quanto nos documentos que o antecedem e o configuram . A respeito, verificar os relatórios do General Poli Coelho, estudos realizados pela Cmissão de Localização da Nova Capital do Brasil, e Relatório Belcher .

31

(25)

dominação é a arquitetu ra e o urbanismo.

No caso da arquitetur a e do urbanismo, essa hierarquia se expressa “através de um investimento no supérfluo, no simbólico, nos valores. Ou seja, há a necessidade, mas há também o desejo”3 2. Po r tanto , a leitura d o

espaço se dá através da identificação das relações entre as pessoas e o universo físico, sem se esquecer que estas relações se dão p or meio de pro cessos.

A desigualdade citada não é fato novo , existe desde a origem da urbanização, a par tir da apro priação do excedente pro duzido diretamente da terr a de um determinado grup o po r ou tr o . Trata- se de uma relação de domínio ou “complementaridade assimétrica” 3 3, em que o grup o que se

apro pria passa a viver de mod o diferente do pr od u to r . O valor permite aos agentes d ominantes caracterizarem a desigualdade e p oder necessários para a continuidade daquela or dem que se estabeleceu.

Além d o aspecto valorativo do urbanismo, é preciso estar aten to às categ orias do espaço e a sua abrangência. Reis Filho afirma que há um espaço intra- urbano, diferente daquele definido em maior escala. Nessa primeira categ o ria, tratamos, entre ou tr os , do lote urbano, “que é quando se articulam o espaço público e o privado , arquitetu ra e urbanismo”3 4.

Tratamos também da implantação, que é a relação entre lote urbano e a edificação. Ou ainda, a quadra, que ar ticula um conjunto de edificações com o sistema viário.

No dicionário Aurélio, define-se lote po r:

“. [ . . . ] 8. U r b. P o r ç ã o d e t e r r a , a u t ô n o m a , q u e r e s u l t a de l o t e a m e n t o ( q . v . ) o u d es m e m b r a m e n t o ( q . v . ) , e c uj a t es t a d a é vol t a d a p a r a o l o gr a d o u r o p úb l i c o r e c o n h e c i do ou p r o j e t a do . 9. b r as . Á r e a p e q u e n a de t e r r e n o , u r b a n o ou r u r a l , d es t i n a d a a co n s t r u ç õe s ou a p e q u e n a a g r i c u l t u r a . [ . . . ] ”3 5

.

Um lote é a p or ção do ter ren o parcelado , com frente para via pública

32 MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de

Pesquisa do LAP nº 19, 2ª tiragem, 2003. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre urbanização, arquitetura e preservação/ Universidade de São Paulo, 1997, pg. 14

33 Idem.

34 MEDRANO, Op. Cit., p. 15.

35 FERREIRA, Aurélio Buarqeu de Holanda. Novo Dicionário da língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Nova fronteira, 2ª edição,

(26)

e des tinado a receber edificação. Este é pro du t o de um pro cesso parcelamento3 6 de uma determinada gleba3 7.

O parcelamento po de ser dividido em quatr o tip os distintos: Lo teamento - quando para se aprovar um o u mais lo tes em uma gleba é necessário criar o u prolongar vias públicas; Desmembramento - quando para se aprovar um o u mais lotes em uma gleba não é necessário se criar nem prolongar via pública existente; Parcelamento vinculado - des tinado a abrigar atividades em um ou mais lotes e que causam grande impacto sobre o meio urbano e/ou que exigem grandes áreas para se implantarem (distritos industriais, conjuntos habitacionais, etc.); Parcelamento para Condomínios - Constitui uma variante do parcelamento vinculado des tinado a abrigar conjunto de edificações em um ou mais lotes, dispondo de espaços de uso comum caracterizados como bens de cond omínio.

Consoan te o especialista em geop r ocessamento Antonio G omes, como definição genérica, “o parcelamento d o solo define o Lo te como unidade territo rial e imobiliária elementar do espaço urbano onde está alicerçada a econ omia e a administração municipal” 3 8.

Consoan te o mesmo auto r , o lote po r ser, conceitualmente: legal ou oficial, tributário, jurídico e cadas tr al. Tem uma representação geog ráfica de p on to , linha ou polígono , p ode ser edificado o u não . Assim, o lote é parte de um quar teirão, e difere da quadra.

Gomes cita a definição de quadra d o dicionário de arquitetu ra brasileira de Cor ona & Lemos, no qual a quadra é representada po r um núcleo de residências con tíguas, delimitado p or ruas, vielas o u praças. A superquadra existiria em ter reno continuo com perímetro superior a dez mil metr os3 9.

Além do espaço intra- urbano, numa escala mais ampla, o núcleo

36 Um lote também pode ter sua origem definida pela modificação do parcelamento. As possibilidades dessa forma de conformação do l o t e u r b a n o n ã o f o i a b o r d a d a s , u m a v e z q u e o P l a n o P i l o t o f o i a b r i g a d o p o r t e r r a s r u r a i s , c o m t a x a d e o c u p a ç ã o b a i x í s s i m a e d e s a p r o p r i a d a s p a r a e s t e f i m .

37

S e g u n d o a l e i d e p a r c e l a m e n t o , u s o e o c u p a ç ã o d o s o l o d e B e l o h o r i z o n t e , n º 7 . 1 6 6 d e 2 7 d e a g o s t o d e 1 9 9 6 , u m a g l e b a é a á r e a d e t e r r a q u e n ã o f o i o b j e t o d e l o t e a m e n t o o u d e s m e m b r a m e n t o .

38 G O M E S , A . C . d o s R . A R e p r e s e n t a ç ã o d o L o t e C T M n o G e o p r o c e s s a m e n t o d e B e l o H o r i z o n t e . B e l o

H o r i z o n t e , 2 0 0 0 . M o n o g r a f i a - D e p a r t a m e n t o d e C a r t o g r a f i a , U n i v e r s i d a d e Fe d e r a l d e M i n a s G e r a i s ( U F M G ) , p . 1 4 .

(27)

urbano se transforma em um pólo, dentr o de um sistema em que vários p ólos se interligam, sobre um determinado ter ritó rio . As conexões po dem se dar po r meio de formas de comunicação , fluxos de pessoas e mercado rias, es tradas, etc.

Uma vez que o urbanismo vai além d os limites d os elementos materiais e fronteiras da cidade, trata- se de uma ques tão regional de planejamento o cupacional, que po de ser situado , conforme entendimento de Medrano e Reis Filho, em tr ês diferentes níveis: o regional, o nacional e o internacional.

Os projetos de urbanismo envolvem, p or tan to , mais fato res que um projeto de arquitetu ra. Tratam- se de pr ojetos com variáveis mais complexas e mais pessoas envolvidas. Assim, um projeto que não leva em con ta a complexidade social, está fadado ao fracasso. P ode ser observado, neste ponto , que o planejamento regional do ter ritó rio a receber a nova capital inadver tidamente foi realizado somente quinze anos dep ois da construção da cidade4 0.

A compreensão do Plano Piloto passa – de forma muito clara – pelas escalas regional, nacional, e, ao se considerar a representação da capital quanto à soberania da nação , internacional. No plano es tá representad o to d o o pro cesso de interiorização da capital do país, o momento político, social e econ ômico em que efetivamente tomo u vigor a concretização des ta mudança, as condicionantes técnicas levantadas nos diversos relató rios e es tud os realizados sobre o pr ocesso de mudança da capital, bem como sobre o terr eno do planalto central e do sítio que a abrigaria, além de se imbuir de influências sofridas pelo urbanista que o planejou.

Dessa forma, no estud o do conceito de lo te e pr op riedade nas superquadras, não se p oderia evitar to d a a base histó rica d o urbanismo brasileiro, que remonta ao período colonial, além de compreender quais espíritos congregava o auto r d o projeto . Quanto a es te último aspecto , é bom relembrar que o projeto foi elaborado unicamente p or L. Cos ta.

40 CARPINTERO, Antonio Carlos Cabral e REIS FILHO, Nestor Goulart. Brasília: prática e teoria urbanística no Brasil, 1956-1998. Tese

(28)

Po r tan to , na investigação sobre a projeção nas superquadras, fez-se necessária a compreensão das teo rias e conceitos que permitem uma aproximação adequada à realidade. O conceito de urbanização é um desses conceitos de grande relevância para a compreensão da forma de ocupação em um determinado ter ritório , um “processo que se dá no conjunto da sociedade” 4 1. Ao se tr abalhar com urbanização, estar- se-á tr atando de

“relações entre passado , presente e futuro , só que em sua forma física”4 2.

1.1 Notas sobre o processo de urbanização brasileiro

Conforme mencionado, o plano de Brasília, apesar de conformar uma cidade modernista e con temp orânea, não r ompeu inexoravelmente com o passado urbanístico brasileiro. O pró prio auto r d o Plano Piloto era no tó rio po r seu profundo conhecimento e respeito pela histó ria do Brasil, em especial de suas expressões arquitetônicas e urbanísticas. Ademais, não se po de olvidar que Brasília, como capital d o país, é resultado do pr ocesso de interiorização que remonta os tempos coloniais.

Em seu es tud o histórico sobre a urbanização no Brasil até 1720, Reis Filho4 3 referencia socialmente as relações e a dinâmica da ação planejadora,

tan to dos conteúd os quanto da sua prática. Ressalta a impor tância da identificação d os diferentes agentes, das diversas escalas d os sistemas urbanos e do diálogo entre suas racionalidades. Assim, a configuração material da urbanização só p ode ser entendida quando referida às relações entre os agentes sociais resp onsáveis po r sua pro dução , apro priação, uso e transformação; to d o s os agentes, de to d os os grup os, nacionais e internacionais.

A relevância histórica dessa obra de Reis Filho vai além da mera

41 MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de

Pesquisa do LAP nº 19, 2003. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre urbanização, arquitetura e preservação/ Universidade de São Paulo, 2ª tiragem, 1997,p. 20

42 Idem.

43 REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana no Brasil, 1500/ 1720, 2ª edição. São Paulo: Ed. Pini,

(29)

descrição do pr ocesso concreto da urbanização no Brasil durante o períod o de 1500 a 1720. Entre os argumentos apresentad os defende a existência de uma política urbanizadora po r tug uesa, na qual planejamento e intervenção foram delineados e determinados normativa e politicamente, através d os interesses e d os vínculos para com a vida urbana de cada uma das instituições e de cada um d os grupos sociais. O urbanismo no Brasil respondeu a políticas bem definidas, i.e. a conjuntos de critérios claramente es tabelecidos pelos agentes centrais do pr ocesso de colonização . Buarque de H olanda não compar tilha dessa visão, e enfatiza as diferenças entre as naturezas sociais da ocupação espanhola e po r tug uesa como fato r determinante dos diferentes pr ocessos de urbanização que essas duas colônias passaram. Estes argumentos serão desenvolvidos mais a frente.

Defendem Medrano e Reis Filho que houve, sim, planejamento no Brasil entre 1532 e 1822:

“ n i n g u é m f a z i n v e s t i m e n t o s de p o r t e s e m p e l o m e n o s p e n s a r n a m e l h o r fo r m a de obt e r m a i o r e s l u c r o s . [ . . . ] com o ve r e m o s , a s p ol í t i c a s de P o r t u g a l va r i a r a m e m fu n ç ã o do s s e us i n t e r e s s es e d a s r e l a ç õ es ex t e r n a s , c uj a s co n s e q ü ê n c i a s s e fi z e r a m s e n t i r t a m b é m n a r e d e u r b a n a ”4 4.

O au to r4 5 demonstra a fragilidade d os conceitos de cidade e de

urbano, nos estud os da urbanização brasileira. A análise de qualquer parcela do espaço material só po de ser explicativa se referida às demais parcelas, nos âmbitos locais, regionais, nacionais e internacionais. Especialmente no período colonial, os ditos centr o s urbanos funcionavam como componentes nucleares do sistema social e espacial da Colônia. Seu desenvolvimento (centr os urbanos) e a colonização d o Brasil foram criados como uma ampla retag uarda rural para os mercados urbanos euro peus. Assim, demonstra que o pro cesso de urbanização se deu conforme uma agenda p olítica e econ ômica da metr óp ole.

No entendimento de Furquim, baseada nos ensinamentos d o

44 MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de

Pesquisa do LAP nº 19, 2003. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre urbanização, arquitetura e preservação/ Universidade de São Paulo, 2ª tiragem, 1997,, p. 18.

45 REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana no Brasil, 1500/ 1720, 2ª edição. São Paulo: Ed. Pini,

(30)

planejador urbano Celso Ferrari4 6 ao dissertar sobre O direito de construir

na perspectiva urbanistico- constituciona l, a urbanização no Brasil “iniciou-se nos aldeamentos indígenas, a par tir do incentivo das or dens religiosas que aqui se instalaram (jesuítas, franciscanos, salesianos)”4 7. E conco rda

com Reis Filho ao afirmar que a o cupação colonizadora “desenvolveu-se num sentido indelevelmente defensivo, extrativista e orientad o para o comércio”4 8. Infere a au to ra que o desenvolvimento de concentrações

citadinas esteve ads trito aos ciclos econômicos experimentad os pela colônia: açúcar, mineração, café, borracha, industrialização. Es te entendimento vai ao encon tr o do de Reis Filho e o de Fur tad o , como será evidenciado mais a frente.

Po r questõ es de “sistematização” dos estud os , foram utilizadas as referencias cron ológicas pro p os tas po r Medrano e Reis Filho, que dividiram em diferentes trech os a épo ca colonial. Quanto ao período que vai até a unificação das cor o as, são tr ês subdivisões: de 1500 a 1532; 1532 a 1549; e de 1549 a 1580. Então , a unificação das co r oas de Po r tug al e Espanha, no período entre 1580 e 1640; e depois o períod o da Restauração , entre os anos 1640 e 1690.

Ainda sobre a sistematização temp or al dos estud os urbanísticos, a partir do século XVII I, o estud o sobre o pro cesso da urbanização brasileira é subdividido entre o períod o que precede o Império, durante o Império, e a Primeira República. Enfim, a urbanização e o urbanismo ap ós a crise de 1929, a metr op olização e as regiões metr op olitanas, nos anos 60, e anos pos terio res. Es tes últimos não foram objeto de maiores aprofundamentos nesta disser tação . O período de maior relevância, cujos desdobramentos são mais explorados, tr ata das referências sociais, econ ômicas e políticas que dão base para o momento histórico de criação d o Plano Piloto da nova capital, em meados do século XX.

Reis Filho4 9 aponta que, à primeira vista, a evolução da arquitetur a no

46 Apud FURQUIM, Claudia do Amaral. O direito de construir na perpectiva urbanístico-constitucional. Dissertação de Mestrado,

Faculdade de Direito, Universidade de Brasília. Brasília, 2005, p. 53..

47 FURQUIM, Claudia do Amaral. O Direito de Construir na Perspectiva Urbanístico-Constitucional. Dissertação de mestrado,

Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, 2005, p. 53.

48 Idem.

(31)

Brasil, durante o século XIX, aparece como um conjunto de fenômenos simples. Um exame mais cuidadoso e menos formal, estabelecido a par tir de um quadr o de referências mais amplo, revela, po rém, que essa evolução é muito mais complexa d o que parece e que a histó ria da arquitetu ra no Brasil neste períod o, e’, sobretud o , a histó ria de um país no qual arquiteto s e engenheiros pro cu ram alcançar um cer to nível de independência cultural e tecn ológica, enquanto as condições econ ômico-sociais continuam a ser basicamente as mesmas do período colonial.

A respeito , acrescentam Medrano e Reis Filho5 0, que a relação externa

com a rede urbana eur op éia foi a escala que mais marcou a urbanização no Brasil. Um dos elementos mais importan tes do período colonial foram os caminhos, p or terr a, rios e mar. Os caminhos são as “relações materializadas no espaço” 5 1 que se formam entre d ois ou mais p ólos. É a intensidade

dessas relações que vai determinar o meio u tilizado e o padrão de investimentos da sua concretização.

1.1. 1 Urbanização nos três prim eiros séculos da Colônia

A respeito d o período colonial, esclarece Reis Filho5 2 que a

exploração econômica da indústria açucareira, juntamente com a forma de apro priação d o solo, determinaram uma distribuição demográfica diluída, de forma heter og ênea, pelas vastas áreas do territó rio . Havia uma maior concentração nas regiões próximas às cidades onde se fazia representar diretamente o po der da Co r oa, em especial Salvador.

Até 1532, resume-se que a atividade econômica principal era extrativista, principalmente d o tão - famoso Pau- Brasil5 3. A baixa do mercad o

50

MEDRANO, Ricardo Hernán e REIS FILHO, Nestor Goulart. AUH 237 – Urbanização e Urbanismo no Brasil – I. Cadernos de Pesquisa do LAP nº 19, 2003. São Paulo: Laboratório de Estudos sobre urbanização, arquitetura e preservação/ Universidade de São Paulo, 2ª tiragem, 1997,p. 21.

51 Idem.

52

REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana no Brasil, 1500/ 1720, 2ª edição. São Paulo: Ed. Pini, 2000.

53

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