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O Incêndio da Igreja Nossa Senhora do Rosário em Pirenópolis como Evento Hermenêutico

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Eliézer Cardoso de Oliveira**

Resumo: o objetivo deste artigo é a análise do incêndio ocorrido em 5 de setembro de

2002, na Matriz Nossa Senhora do Rosário, em Pirenópolis, Goiás. Utilizan-do a metoUtilizan-dologia hermenêutica de Gadamer, considerou a tragédia como um evento hermenêutico, pois a mesma revelou os conflitos de representações: a matriz considerada como um templo religioso e a matriz considerada como um monumento histórico.

Palavras-chave: Matriz do Rosário. Catástrofe. Pirenópolis. Patrimônio Histórico.

Evento Hermenêutico.

E

mbora o número das vítimas fatais de incêndios seja bem menor do que os de outras tragédias – como os terremotos, os tsunamis, as epidemias e as guerras–, eles estão entre as mais temidas e dolorosas tragédias que afligem os seres humanos. Um dos mais marcantes foi o Grande Incêndio de Londres, ocorrido em setembro do apocalíptico ano de 1666, que destruiu grande parte da cida-de. Outro incêndio famoso foi o dirigível Hindenburg, o Zeppelin, símbolo da eficiência nazista, que explodiu, em maio de 1937, nos céus dos Estados Unidos, como que prenunciando a vitória americana sobre a Alemanha, anos depois. Nos dois casos, o número de vítimas foi relativamente pequeno: menos de 10 em Londres e 36 nos Estados Unidos. Porém, houve incêndios bem mais letais. Em Niterói, em 1961, o incêndio do Gran Circus Norte-Americano em

O INCÊNDIO DA IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO EM PIRENÓPOLIS

COMO EVENTO HERMENÊUTICO*

–––––––––––––––––

* Recebido em: 15.06.2013. Aprovado em: 25.07.2013.

** Doutor em Sociologia pela UnB. Professor do curso de História e do Mestrado em Território e Expressões Culturais no Cerrado da Universidade Estadual de Goiás, Anápolis. E-mail: ezi@uol.com.br.

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que morreram 503 pessoas abalou o país. Infelizmente, o Brasil é pródigo em incêndios mórbidos. Em 1974, em São Paulo, o incêndio do Edifício Joelma matou 180 pessoas e, em 2013, o incêndio numa boate em Santa Maria provocou a morte de mais de 230 pessoas.

Entretanto, o tema deste artigo não é um desses poderosos incêndios. Pelo contrário, o incêndio da Igreja Nossa Senhora do Rosário, ocorrido na cidade goiana de Pirenópolis, felizmente não provocou nenhuma morte, mas chocou a cidade. O fator decisivo para a dimensão trágica desse incêndio não foi a sua dimen-são econômica, mórbida ou financeira; foram os seus danos simbólicos para a população pirenopolina.

Do ponto de vista heurístico, o mais importante é que esse incêndio permitiu uma análise privilegiada de uma cidade de estratégica importância histórica e cultural de Goiás. As tragédias possuem uma capacidade analítica que, quase sempre, é subestimada pelos cientistas sociais e historiadores. Elas mostram o errado, o caótico, o inesperado, o indesejado e o conflito. Elas mostram aquilo que as pessoas não têm consciência ou pretendem esconder.

A legitimação teórica para a análise desse incêndio foi buscada na hermenêutica de Gadamer (1998). Isso significa considerá-las como um evento hermenêu-tico. A compreensão hermenêutica pressupõe um jogo entre o singular e o geral: o estudo do geral aumenta a possibilidade de compreensão do singular e vice-versa. É o famoso círculo hermenêutico; o ponto de partida para a compreensão. Adaptando isso aos interesses desse artigo, pode-se dizer que a compreensão do incêndio requer a análise do contexto histórico da cidade de Pirenópolis e, ao mesmo tempo, a análise desses incêndios possibilita compreender melhor aquele mesmo contexto.

A compreensão para Gadamer não se resume a busca de um sentido original de um texto ou de um evento. Seria ingenuidade pensar, como os historicistas do século XIX, ser possível deslocar-se ao espírito da época, pensar segundo os conceitos e as representações dos homens e das mulheres do passado. A compreensão não significa meramente reproduzir o conhecimento do outro, mas ela deve ser produtiva: fazer a síntese entre o outro que viveu e o eu que pesquisa. Nesse caso, quanto mais diferente a tradição que se procura compreender, maior a sua possibilidade de causar estranheza, portanto, maior o estímulo para estudá--la e compreendêestudá--la. Significa, de acordo com Darton (1986, p. 106), dotar o choque cultural de um evento estranho de interesse metodológico: “quando se percebe que não se está entendendo alguma coisa – uma piada, um provérbio, uma cerimônia – particularmente significativa para os nativos, existe a possi-bilidade de se descobrir onde captar um sistema estranho de significação, a fim de decifrá-lo”. Nada é sem sentido no passado, nem um massacre de gatos, nem uma tragédia, como um incêndio.

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O fato de esse incêndio ter ocorrido no passado não dificulta a sua abordagem. Pelo contrário, um dos pressupostos hermenêuticos é que a distância temporal facilita a compreensão. Através dele é possível encontrar conexões de sen-tido que não foram percebidas pelos contemporâneos: “o sensen-tido do texto não é aquele que o autor apresenta a seu público original, mas o sentido está sempre determinado pela situação histórica do intérprete. Um sentido do texto sempre supera o seu autor” (GADAMER, 1998, p. 444). Mas em con-trapartida, a compreensão do passado significa uma melhor compreensão de si, pois o intérprete não é um ser a-histórico; pelo contrário ele é um “efeito” da história. O intérprete, assim como o evento que se procura compreender, está na história e, portanto, isso abre possibilidades inovadoras para se com-preender o outro.

O equilíbrio entre a força que a tradição exerce no presente e a transposição dos precon-ceitos do presente para se compreender a tradição é o que Gadamer denomina de “fusão de horizonte”: o deslocar-se para o passado, mas preservando-se o horizonte do presente. Isso significa a renúncia a compreender a ‘essência’ do passado e ao mesmo tempo evitar subsumir o passado no presente. Essas colocações de Gadamer são bastante pertinentes para a análise de

aconteci-mentos trágicos, como os incêndios. Em síntese, considerá-los como evento hermenêutico pressupõe a necessidade de situá-los no contexto histórico, de concebê-los como evento singular, de reconhecer os seus efeitos na história, de procurar um equilíbrio entre a leitura dos contemporâneos e a análise do intérprete. Pressupõe considerar que as tragédias precisam ser interpretadas a partir dos valores e representações dos sujeitos, pois vão ser eles que ga-rantirão o sentido trágico dos eventos.

AS TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS DE PIRENÓPOLIS

A característica sociológica mais duradoura envolvendo a cidade de Goiás e a de Pirenópolis é a rivalidade. A competição se iniciou na formação desses dois núcleos urbanos e permanece atuante até os dias de hoje. Ela era tão palpável no início do século XIX, que foi percebida até por um estrangeiro: “Ninguém em Vila Boa me falou de Santa Luzia ou de Meia Ponte, e nesses dois lugares todos reclamam contra a desonestidade dos habitantes de Vila Boa” (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 54). Essa hostilidade mútua pode ser percebida como um exemplo daquilo que Freud (1996, p. 119) denominou de “narcisismo das pequenas diferenças [...] fenômeno no qual são preci-samente comunidades com territórios adjacentes, e mutuamente relaciona-das também sob outros aspectos, que se empenham em rixas constantes, ridicularizando-se umas às outras”.

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A hostilidade constantemente alimentada é uma forma de cada um dos grupos solidi-ficar a identidade, reforçando a diferença para esconder a semelhança entre ambos. O “narcisismo das pequenas diferenças” pode ser operacionalizado, na prática, através de piadas ofensivas, brigas e generalizações preconceituosas (como a ouvida pelo viajante francês). Porém, não se deve ver o “narcisismo das pequenas diferenças” como eminentemente negativo, pois, muitas vezes, ele leva um grupo a canalizar suas forças em prol de algo, superando assim sua fraqueza congênita. Isso pode ser perfeitamente notado na história de Pirenópolis.

O lugar, inicialmente denominado de Nossa Senhora do Rosário, foi fundado em 1727 por mineradores portugueses que, depois das escaramuças da Guerra dos Emboabas, evitaram os paulistas do arraial de Santana (primeiro nome de Vila Boa). Por estar localizado estrategicamente no caminho para São Paulo e Rio de Janeiro, o pequeno arraial destacou-se, não apenas na mineração, mas também no comércio. Já em 1732, os portugueses endinheirados haviam construído a monumental Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Suas paredes, de taipa de pilão, e com poucas janelas, chegavam a medir 1,5 metros de espessura, utilíssima para servir de fortaleza em caso de ataques de indíge-nas. Possuía 50 metros de comprimento e 24 de largura, garantindo-lhe por séculos o título de maior igreja de Goiás. Por isso, ela foi a maior expressão do nativismo meiapontense, principalmente com os percalços da rival, que levou séculos para concluir a Matriz de Santana1.

Outro motivo de orgulho foram as realizações de seu habitante mais ilustre, o co-mendador Joaquim Alves de Oliveira. Nascido em Pilar de Goiás, viveu 81 anos, 70 deles em Meia-Ponte. Iniciou sua fortuna no comércio, importando mercadorias – via tropas de burros – do Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo para Goiás. Posteriormente dedicou-se a atividades agrícolas (engenho de cana e plantação de algodão) e, talvez, a produção de escravos para revenda. Nessas atividades, acumulou uma fortuna estimada em 600 contos de réis2, o

que equivalia a 20 vezes a receita de Goiás do ano de 1818 (COSTA, 1978, p. 45). Parte dessa quantia dinamizou a economia e a sociedade de Meia Ponte na primeira metade do século XIX, contrastando assim sua situação com a de outras localidades auríferas, cada vez mais ruralizadas. Nas pa-lavras de Oliveira (2004, p. 30): “as atitudes de Joaquim Alves marcaram a chegada de um tempo de resistência ou insistência. Resistência em per-manecer vivo, expressa nas tentativas de inserção do arraial e da província, no projeto nacional em curso”. O medo era que o destino do arraial fosse o mesmo de Traíras que chegou a ser maior do que Meia Ponte, mas foi reduzido a ruína – inclusive a igreja – depois do esgotamento das minas auríferas (BERTRAN, 2002).

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Essa resistência de Joaquim Alves Oliveira foi expressa numa série de atos. Ele funda e publica, em 1830, o jornal A Matutina Meiapontense, o primeiro jornal do que hoje é conhecido como o Centro-Oeste brasileiro. Nesse mesmo ano, subsidia a criação da primeira biblioteca pública de Goiás. Organizou tam-bém a Guarda Nacional de Meia Ponte, incentivou apresentações musicais, teatrais e amparou artistas e religiosos. Foi o administrador da reconstrução da Matriz cuja parte do telhado havia desabado em 1838, doando para as obras dois contos de réis, equivalente a mais de 70% das contribuições to-tais. Em reconhecimento a esse ato, um historiador de Pirenópolis afirmou: “Pirenópolis deve à generosidade do comendador Oliveira a existência de sua Matriz, duas vezes centenária. Não fora ele, e ela não mais estaria aí, ereta e firme, a desafiar o passar dos anos.” (JAYME, 1971, p. 526).

Todos esses atos eram motivos de orgulho para os habitantes de Meia Ponte. No entanto, com a morte do mecenas, termina a insistência de Meia Ponte em manter-se atualizada com a “civilização” e “pouco a pouco vai perdendo a expressão” (CARVALHO, 2000, p. 12). No final do século XIX, as rotas comerciais se afastam da cidade, agravando o declínio de seu comércio e de sua urbanização. Os habitantes, com baixa estima, já não suportam mais as chacotas relacionada ao topônimo “Meia Ponte”, por isso, mudam-no para o europeizado “Pirenópolis” em 1890. Isso demonstra a rejeição à História e o refúgio na ecologia da Serra dos Pireneus. Na primeira metade do século XX, a cidade perde ainda mais a importância regional, com o surgimento de novos polos de desenvolvimento, como Goiânia e Anápolis em seus arredores. A situação socioeconômica de Pirenópolis modifica-se substancialmente com a

construção de Brasília nas suas proximidades. A cidade foi interligada por rodovias modernas a Brasília e às principais cidades goianas próximas. Com isso, gradativamente destacou-se como um dos principais pontos turísticos de Goiás. A partir dos anos 1980, membros de comunidades alternativas esco-lheram Pirenópolis como local de moradia. Enfim, nas duas últimas décadas do século XX, a afluência de novas pessoas, trazendo novas ideias, novos comportamentos e muito dinheiro coloca Pirenópolis – ainda pequenina – entre as cidades de maior destaque cultural de Goiás.

No entanto, a reviravolta que culminou na recuperação do prestígio de Pirenópolis diante das demais cidades goianas não se explica apenas por fatores internos. Ela foi resultado, sobretudo, de uma valorização cada vez mais acentuada dos monumentos históricos e das belezas ambientais – ambos abundantes no município. A fase da modernidade que subordinava as tradições históricas ao progresso, em que “tudo que é sólido desmancha no ar” foi substituída por outra em que o passado e as tradições devem ser respeitadas, resgatadas e preservadas.

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No entanto, o respeito e o resgate das tradições e dos monumentos antigos significam uma interferência externa e a consequente mudança de suas funções. De acordo com o sociólogo inglês Anthony Giddens (1997, p. 81), as tradições são compostas por:

• Repertórios da Memória coletiva: são principalmente – mas não exclusivamente – os principais fatos do passado do grupo que são relembrados e interpretados, apa-rentando uma continuidade natural, isto é, evitam-se as clivagens ou linhas nítidas de separação entre o passado, presente e futuro.

• Guardiães da tradição: são responsáveis pela interpretação da memória coletiva e pelos principais rituais do grupo. Dentre eles destacam-se os velhos (elo de ligação entre as gerações presentes e as passadas), os sacerdotes, os feiticeiros, os patriar-cas, chefes políticos e chefes militares. Sua função sempre ultrapassa a área de sua competência: o chefe político, por exemplo, um coronel, exerce funções econômicas, morais e religiosas.

• Rituais: são ações com significado, que devem ser usadas – repetidas – em determi-nadas situações, como por exemplo, casamento, velório, atividades religiosas, lazer, etc. Os rituais não se confundem com o hábito, com vício e com a compulsão, pois estas ações não têm significado coletivo. Sua principal função nas sociedades tradi-cionais é a de conectar o passado com o presente, garantida através da interpretação feita pelos guardiães da tradição. O ritual também demarca os limites entre aqueles que não pertencem (não tomam parte no ritual) e aqueles que pertencem ao grupo (participam do ritual).

• Vinculações locais: o lugar em que se pode observar em grau máximo as característi-cas tradicionais é nas pequenas comunidades, relativamente isoladas, como a aldeia e a pequena cidade. Enquanto o saber moderno é uno (universal), as tradições são várias, pois cada local, por mais pequenino que seja, produz o seu saber específico. Ele cria (ou seleciona ou adapta) seus próprios provérbios, seus contos anedóticos, sua memória coletiva, seus rituais.

Numa “ordem social pós-tradicional” (GIDDENS, 1996, p. 13), as tradições não de-saparecem, mas são obrigadas a se explicar, tornam-se abertas à interrogação e ao discurso, enfim, precisam justificar a sua importância. Algumas são resgatadas e protegidas. Contudo, com isso, tornam-se objetos de consumo e deleite de uma sociedade pós-moderna, nostálgica por lembrar uma época em que se vivia mais próximo à natureza e à vida em comunidade. Seja como for, tradições resgatadas, justificadas, compradas, fabricadas não são mais tradições, mas apenas simulação de tradição.

A memória coletiva é substituída pela História, um conhecimento de especialista, escrito, preocupado principalmente em analisar mudanças e em conectar os acontecimentos locais aos nacionais ou até mundiais. O guardião da tradição é substituído pelo especialista moderno, o detentor do saber moderno (sistema

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abstrato), cuja autoridade é circunscrita à sua especialidade3. O ritual, com a ausência de guardiães da tradição para interpretá-los, transforma-se em algo próximo ao vício, no sentido definido por Giddens (1997, p. 90): “repetição que perdeu a sua conexão com a verdade da tradição”, sem ligação com o passado e, portanto, de origens obscuras para quem pratica esse tipo de ação. O saber local perde força na determinação dos comportamentos; as atividades cotidianas são cada vez mais influenciadas por eventos que acontecem do outro lado do mundo.

O INCÊNDIO DA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

A Matriz de Nossa Senhora do Rosário é paradigmática para analisar essa marcante mudança sociológica. Ela foi, em 1941, o primeiro monumento histórico de Goiás a ser reconhecido como patrimônio histórico nacional, bem anterior aos outros monumentos à sua volta que compõem o centro histórico que só foram reconhecidos em 1989. A partir dessa data, inicia-se a restauração de outras igrejas, a reconstrução do Cine-Pireneus, a reforma do Teatro de Pirenópolis e da Ponte do Rio das Almas. A mais importante dessas obras foi a restauração da Matriz. Ela durou mais de três anos (entre 1996 a 1999) e consumiu quase um milhão de reais, financiados em sua maior parte pelo Governo Federal e foi considerada como um dos maiores trabalhos de res-tauração do Brasil4.

Dentre os habitantes de Pirenópolis, um dos primeiros a reconhecer a importância das igrejas como monumento histórico foi o historiador Jayme (1971, p. 509), ainda na década de 1970:

O que elas, em seu mutismo, nos dizem aos ouvidos, possui algo de mistério. É o mistério que despertam as coisas antigas, os velhos monumentos, doce magia que vive como pedaços de épocas remotas. Diante das igrejas de nossa terra, iluminam-se-nos os olhos de uma ânsia estranha e incontida: a ânsia de procurar sentir o passado, as cenas antigas que já se perderam nos horizontes do tempo, deixando-as como símbolos marcantes de várias gerações.

Essa opinião é prenunciadora de novos tempos, pois despoja os templos de seu caráter sacro e os concebe como monumentos do passado. Poucos, nos anos 1970, compartilharam do ponto de vista do historiador, uma vez que a maioria es-tava ou preocupada em modernizar a cidade ou ainda valorizava os templos apenas como instrumento de culto religioso. Gradativamente, esse ponto de vista foi se consolidando na cidade. Em 1993 foi fundada a Sociedade dos Amigos de Pirenópolis (SOAP), uma organização não governamental,

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constituída para proteger o patrimônio cultural da cidade. Foi a SOAP que gerenciou o trabalho de restauração da Matriz.

A construção de uma imagem de cidade histórica e ecológica deu visibilidade na-cional e até internana-cional a Pirenópolis. Além dos milhares de turistas que a visitam, ela foi cenário de filmes nacionais5 (como o Tronco, filmado em

1998) e de novelas (como a Estrela Guia, Globo, 2001). Além disso, a sua mais importante manifestação cultural, as Cavalhadas, foi tema da escola de samba carioca Viradouro em 1996 e, em junho de 2005, o combate entre mouros e cristãos foi representado em Chantilly, França – um curioso caso de uma tradição ‘fora do lugar’.

Contudo, esse caminho de Pirenópolis em direção a uma sintonia mais perfeita com a pós-modernidade foi bruscamente interrompido na madrugada de 5 de setembro de 2002, quando um incêndio de grande proporção praticamente consumiu a centenária matriz da cidade. Nada mais eloquente para avaliar o seu baque sobre os pirenopolinos do que a descrição de um jornal local:

O dia 5 de setembro de 2002 jamais será esquecido pelos moradores de Pire-nópolis. A maior calamidade que os pirenopolinos viveram é certamente esta: o incêndio na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário. Inimaginável. Dantesco.

Pavoroso. Terrível. Infernal (FOLHA DE PIRENÓPOLIS, 5 set. 2002).

A situação de Pirenópolis é comparável à da cidade de Éfeso, cidade da Ásia Menor, quando um tal de Eróstrato, almejando fama, colocou, em 365 a.C., fogo no famoso Templo de Artemisa, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo (ROMER, 1996, p. 159). Tanto numa como noutra, o bem simbólico mais importante, fator de orgulho, foi repentinamente consumido pelo fogo. Em Pirenópolis, o incêndio iniciou-se na sacristia e aproveitando a baixa umidade do mês

de setembro e a abundante madeira nas paredes e telhados, rapidamente espalhou-se por toda a igreja. O fogo foi descoberto por volta das duas horas da madrugada, mas muito pouco pôde ser feito para salvar as imagens6 e os utensílios internos.

Os prejuízos foram incalculáveis. O Altar-Mor, de dez metros de altura e oito de largura, decorado em ouro foi completamente destruído. A prataria derreteu-se. Sobraram apenas as paredes laterais e as duas torres (que foram demolidas pelos bombeiros para evitar um desabamento).

A catástrofe deixou evidente o conflito de ‘imagens’ existente em Pirenópolis. A imagem de uma cidade cosmopolita, turística, histórica, ecológica não era unanimi-dade. Alguns anos antes do incêndio, esse conflito de valores e imagens foi expresso na atitude ‘conservadora’ do antigo pároco da cidade, o padre Joel Alves, que proibiu namoros ‘indecentes’ em volta da igreja e o uso de roupas ‘escandalosas’ no seu recinto. O padre foi criticado, por amplos setores da

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população, de estar atrapalhando o turismo da cidade. Depois do incêndio, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) acusou a Igreja de negligência na conservação do templo: velas e gambiarra elétrica foram as causas prováveis do incêndio.

Os membros da Igreja se defenderam, insistindo na preponderância da função religiosa sobre a função histórica. O desabafo do pároco local, Padre Luiz Virtuoso, é bastante expressivo dessa divergência: “Agora que virou patrimônio histórico nós perdemos o direito de culto? Fazemos o possível para obedecer todas as normas, mas essa igreja é mais antiga que o Iphan e todo culto católico tem velas” (VIRTUOSO, 7 set. 2002).

Para os religiosos, a catástrofe não advinha da destruição de um monumento histórico, mas da perda da funcionalidade católica do templo:

Nossa identidade católica e cultural sempre esteve assim associada ao velho templo localizado no coração de nossa cidade. Neste templo santo fomos batizados e crismados; nele aprendemos a catequese fundamental da fé; nele adoramos a Deus Pai, a Jesus Cristo e o Espírito Santo; nele veneramos a mãe de Cristo e nossa mãe, Maria Santíssima, sempre exaltada no lugar mais elevado do altar-mor (SIQUEIRA, s/d).

O religioso minimizou a importância de patrimônio histórico do templo e ressaltou a importância devocional. Outro padre desconsiderou a importância do próprio templo em si, tendo em vista ser uma coisa mundana:

Um pecado mortal é muito mais devastador do que este acontecimento. O fogo do inferno nem se compara e não tem bombeiro não. Devemos chorar nossos pecados e lembrar que a igreja é feita de pedras vivas. Devemos en-tender a linguagem que Deus através disso quer dirigir para nós (WALTER, 5 set. 2002).

Além dos clérigos, o discurso de muitos membros da comunidade mostrou-se afinado com a concepção tradicional da Igreja. Para um morador do lugar, Jovelino Moreira de Melo, “a maior dor dos pirenopolinos não é o fato do incêndio em si, mas a falta de um local para realizar as missas” (MELO, 11 set. 2002). Esses discursos divergem substancialmente daqueles vinculados à pós-modernidade,

como o do editorial de um jornal goiano, que ressaltou as características artísticas e históricas do templo e não as religiosas:

A igreja matriz de Pirenópolis é uma das melhores referências do patrimônio barroco-colonial do qual os goianos todos se orgulham. Os turistas que engrossam o fluxo de visitantes, principalmente nos fins de semana, apreciam esses patrimônios

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e ajudam a fortalecer a imagem do Estado. Eles querem ver a igreja reconstruída logo (JORNAL O POPULAR, 6 set. 2002).

Outro exemplo é a fala de Sérgio Amaral, na época Ministro do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior e proprietário de um imóvel em Pirenópolis: “Essa é a maior tragédia envolvendo o patrimônio histórico brasileiro. Essa igreja é a alma da cidade e abriga a origem das festas e do folclore da região.” (AMARAL, 6 set. 2002). Nesses discursos, a catástrofe é mensurada em razão de perdas de um patrimônio histórico, representativo de um período. A sua funcionalidade religiosa é omitida ou subestimada. Nesse sentido secular, até evangélicos lamentaram a tragédia, como a professora Cristiana de Araújo que afirmou: “Sinto muito porque perdemos um patrimônio histórico. Foram quase três séculos de história. O que era bonito foi consumido pelo fogo. Não teremos de volta” (ARAÚJO, 11 set. 2002). Finalmente, depois de mais de três anos e meio, com o gasto de 5 milhões de reais, o

trabalho de restauração da arquitetura da Matriz de Nossa Senhora do Rosário foi concluído. O antigo altar da demolida Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi colocado em substituição ao antigo que foi devorado pelo fogo. A igreja foi reaberta no dia 30 de março de 2006. A restauração – quase uma reconstrução – da igreja é ilustrativa do poder financeiro do Estado moderno. Enquanto a Matriz de Santana, na Cidade de Goiás, teve que esperar mais de 100 anos para ser reconstruída, a de Pirenópolis – com verbas federais, estaduais e particulares – foi restaurada com impressionante rapidez. As dificuldades foram mais de ordem técnica, do que de ordem financeira. Hoje, por mais dispendiosos que sejam, os custos de templos religiosos são insignificantes diante da capacidade do Estado. O que representa 5 milhões de reais diante do valor de uma usina hidrelétrica de grande porte como Cachoeira Dourada, privatizada, em 1997, pelo valor de 1 bilhão de reais?

CONCLUSÃO

Em 1921, um incêndio ocorrido na madrugada do dia 25 de março de 1921 consumiu parte das instalações da igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, na Cidade de Goiás. Quando se compara esse incêndio com o da Nossa Senhora do Rosário, em 2002, percebe-se a grande transformação que Goiás – e o mundo – passou nesses 80 anos transcorridos. Em 1921, o fogo consumiu uma igreja, em 2002 consumiu uma igreja-monumento. Na cidade de Goiás, o abalo maior foi de natureza religiosa; em Pirenópolis, foi principalmente de natureza artístico--cultural. A Boa Morte era “propriedade” dos vilaboenses; a Nossa Senhora do Rosário era “patrimônio” brasileiro. Mas em ambos os casos, por motivos diferentes, os incêndios foram percebidos como dolorosas catástrofes nas duas

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localidades. Outros graves incêndios aconteceram em Goiás, destruindo pré-dios públicos e privados, provocando maiores prejuízos financeiros e vítimas fatais, mas nenhum deles teve a repercussão do incêndio dessas duas igrejas. O incêndio dessas igrejas revela um aspecto cultural que não pode ser desconsiderado: a relação ambígua que os humanos sempre tiveram com o fogo. O domínio do fogo é uma apropriação simbólica que marca a origem da civilização. Por isso os antigos chamavam as suas residências de fogos. Para Freud (1996, p. 97, nota 1), a domesticação do fogo foi demonstrativa do controle dos instintos: o homem primitivo tinha uma compulsão sexual que o fazia apagar o fogo, urinando sobre ele: “a primeira pessoa a renunciar a esse desejo e a poupar o fogo pode conduzi-lo consigo e submetê-lo a seu próprio uso”.

Bachelard (1999, p. 11-2), em seu belo ensaio A psicanálise do fogo, concorda que o fogo evoca imagens sexuais inconscientes. No entanto, enxerga no fogo um imaginário muito mais complexo:

Dentre todos os fenômenos, é realmente o único capaz de receber tão nitidamente as duas valorizações contrárias: o bem e o mal. Ele brilha no Paraíso, abrasa no Inferno. É doçura e tortura. Cozinha e apocalipse. [...] O fogo é bem-estar e respeito. É um deus tutelar e terrível, bom e mau.

O fogo dominado, como as chamas que iluminam a famosa Procissão do Fogaréu da

Figura 1: Matriz de Nossa Senhora do Rosário Incêndio da Matriz de Pirenópolis Fonte: Click Foto – Pirenópolis (GO).

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Cidade de Goiás, significa o domínio da civilização sobre a natureza. Não diz a mitologia histórica goiana que o ato simbólico da submissão indígena diante do bandeirante invasor se deu pelo temor do bandeirante endiabrado – usando um prato de aguardente – colocar fogo nos seus rios? O fogo calmo da lareira estimula a reflexão. A criança, desde cedo, aprende a não brincar com o fogo: “a interdição social é o nosso primeiro conhecimento geral sobre o fogo”. (BACHELARD, 1999, p. 16). Incêndios, então, inconscientemen-te, demonstram o fracasso da civilização. O fracasso de uma sociedade em controlá-lo. Quantas imagens devem ter passado pela cabeça dos homens e mulheres que observaram, de madrugada, suas igrejas consumidas pelo fogo?

THE FIRE OF THE CHURCH OF OUR LADY OF THE ROSARY IN PIRENÓPOLIS AS HERMENEUTIC EVENT

Abstract: the purpose of this paper is to analyze the fire in September 5, 2002, at

Mother Church Nossa Senhora do Rosário in Pirenopolis, Goiás. Using the methodology Gadamer’s hermeneutics, considered the tragedy as a herme-neutical event, because it revealed the conflicts representations: the church considered as a religious temple and the church considered as a historical monument.

Keywords: Mother Church Nossa Senhora do Rosário; Catastrophe; Pirenópolis;

Historical Patrimony; Event Hermeneutic

Notas

1 Em Vila Boa, a suntuosa Matriz de Santana foi inaugurada em 1743. Porém o seu teto desabou em 1759, destruindo os ricos ornamentos do interior. O teto foi reconstruído dois anos depois, mas sem o forro. A partir daí, o templo foi deteriorando até, que em 1874, parte dele desabou em plena missa. Houve um longo esforço para a sua reconstrução, destacando-se a iniciativa dos bispos D. Prudêncio Silva (1909) e D. Emanuel Gomes de Oliveira (1929). Em 1967 o templo – ainda inacabado – é entregue novamente ao público. Em 1998, já tombada como patrimônio histórico nacional, a Igreja passa novamente por uma ampla reforma, sendo finalmente concluída no mesmo ano.

2 Os bens arrolados no inventário de Joaquim Alves de Oliveira somam cerca de 150 contos de réis. Segundo Costa (1978, p. 45) essa quantia está provavelmente subestimada, um re-curso muito usual na época para minimizar o efeito dos impostos. É possível também que na velhice, os negócios de Oliveira tivessem entrado em declínio.

3 Uma das primeiras sistematizações sobre a função social do cientista moderno foi o belo texto de Weber (1982, p. 155-183), “A ciência como vocação”, no qual ele demonstra que a ciência não tem condições de fornecer um sentido ético para a existência.

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4 A avaliação é de Wagner Matias de Souza, um dos técnicos encarregados da restauração: “é um trabalho inigualável e dificilmente vou fazer algo desse nível novamente.” (SOUZA, 7 set. 2002).

5 Os filmes que utilizaram Pirenópolis como cenário são: Simeão, o boêmio (filmado em 1969); Leão do Norte (filmado em 1972), Santa Dica do Sertão (filmado em 1989), A Enxada (filmado em 1996), Uma vida em segredo (filmado em 2000). Além disso, serviu de palco de inúmeros documentários e de reportagem de programas de TV (destacando-se Brasil Legal, Globo Rural, Globo Ecologia) e de cenas da novela Renascer. (CARVALHO, 2000, p. 72).

6 Vinte peças sacras foram resgatadas, mas quatorzes foram destruídas pelo fogo. Referências

AMARAL, Ministro Sérgio. In: O Popular, 06 de Setembro de 2002. Biblioteca Municipal de Pirenópolis.

ARAÚJO, Professora Cristiana de. In: Diário da Manhã, 11 de setembro de 2002. Biblioteca Municipal de Pirenópolis.

BACHELARD, G. A Psicanálise do Fogo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

BERTRAN, Paulo. In: O Popular, Goiânia, 7 de setembro de 2002. Biblioteca Municipal de Pirenópolis.

CARVALHO, Adelmo (Org.). Pirenópolis: coletânea 1927-2000. Pirenópolis, GO: edição do autor, 2000.

COSTA, Lena Castello Branco Ferreira. O arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1978. DARTON, Robert. O grande massacre de gatos. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

FOLHA DE PIRENÓPOLIS, Pirenópolis, 5 de setembro de 2002. Biblioteca Municipal de Pirenópolis.

FREUD, S. O mal-estar na civilização. V.. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. GADAMER, Hans-George. Verdade e método. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

GIDDENS, Anthony. A vida em uma sociedade pós-tradicional. In: BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott (Orgs). Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997. p. 73-133.

GIDDENS, Anthony. Para além da esquerda e da direita. São Paulo: Ed. da UNESP, 1996. JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis. V.1 e 2. Pirenópolis, GO: edição particular, 1971.

MELO, Jovelino Moreira de. In: Diário da Manhã, 11 de setembro de 2002. Biblioteca Mu-nicipal de Pirenópolis.

O POPULAR, Goiânia, 6 de setembro de 2002. Editorial. Biblioteca Municipal de Pirenópolis. OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de. Um lugar no século XIX: Meia Ponte. In: Cidades dos Sonhos: desenvolvimento urbano em Goiás. Goiânia: Ed. da UFG, 2004. p. 15-54.

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SAINT-HILAIRE, August. Viagem à Província de Goiás. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da USP, 1975.

SIQUEIRA, Padre Josafá Carlos de. Uma mensagem de solidariedade e esperança. Manifesto. Mimeografado. Biblioteca Municipal de Pirenópolis. S/d.

SOUZA, Wagner Matias de. In: O Popular, Goiânia, 7 de setembro de 2002. Biblioteca Mu-nicipal de Pirenópolis.

VIRTUOSO, Padre Luiz. In: O Popular, 07 de setembro de 2002. Arquivo do autor.

WALTER, Padre. In: Folha de Pirenópolis, 5 de setembro de 2002. Biblioteca Municipal de Pirenópolis.

WEBER, Max. A ciência como vocação. In: GERTH, H.H.; MILLS (Orgs.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1982. p. 155-183.

Imagem

Figura 1: Matriz de Nossa Senhora do Rosário Incêndio da Matriz de Pirenópolis Fonte: Click Foto – Pirenópolis (GO).

Referências

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