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Análise morfométrica das redes de polígonos em Permafrost-Adventdalen, Svalbard

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Academic year: 2021

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IGOT ‐ Instituto de Geografia e Ordenamento do Território 

A

NÁLISE MORFOMÉTRICA DAS REDES DE POLÍGONOS EM 

PERMAFROST 

 

A

DVENTDALEN

,

 

S

VALBARD

 

 

 

 

 

 

José Miguel Martins Alpendre Cardoso 

 

 

 

 

Dissertação 

 Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Modelação Territorial 

Aplicados ao Ordenamento 

  

 

2014 

 

(2)

IGOT ‐ Instituto de Geografia e Ordenamento do Território 

 

A

NÁLISE MORFOMÉTRICA DAS REDES DE POLÍGONOS EM 

PERMAFROST 

 

A

DVENTDALEN

,

 

S

VALBARD

 

 

 

 

José Miguel Martins Alpendre Cardoso 

 

 

 

Dissertação 

 Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica e Modelação Territorial 

Aplicados ao Ordenamento 

  

 

Orientadores: 

Professor Doutor Gonçalo Brito Guapo Teles Vieira 

Doutor Pedro Miguel Berardo Duarte Pina 

 

 

2014 

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i   

 

Aos meus orientadores: 

Ao  Professor  Doutor  Gonçalo  Vieira,  pelo  incentivo  e  confiança  depositada  em  mim.  E  pelo  enorme contributo na realização da tese, do princípio ao fim.     Ao Doutor Pedro Pina, pelo apoio, disponibilidade, pelos conhecimentos transmitidos e por ter  acreditado sempre em mim.     Aos meus colegas do AntECC, pela companhia e convivência, e por todo o apoio demonstrado.    À Maura, pela contribuição com dados de base ao trabalho e pela companhia na campanha de  campo em Svalbard.   

À  Professora  Doutora  Hanne  Hvidtfeldt  Christiansen  da  UNIS  ‐  The  University  Centre  in  Svalbard, pelo apoio prestado na campanha de campo em Svalbard. O apoio logístico da UNIS,  como instituição acolhedora, foi fundamental para a realização das campanhas de campo.    A todos os amigos e família, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho,  pela amizade e incentivo. Um obrigado especial à amiga Rita pela ajuda preciosa!    Aos meus pais e à minha irmã que sempre me apoiaram e se orgulham de mim.    À Sara por ter estado sempre ao meu lado. Por ter‐me dado forças para levantar a cabeça nas  horas difíceis quando pensava que já não as tinha. Por tudo o que partilhámos e deixámos de  fazer, para que este trabalho fosse realidade.         Este trabalho teve o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projecto  ANAPOLIS  ‐  Análise  de  terrenos  poligonais  em  Marte  com  base  em  análogos  terrestres  (PTDC/CTE‐SPA/099041/2008).  A  campanha  de  campo  em  Adventdalen  foi  possível  graças  à  bolsa de estudos Arctic Field Grant, financiada pelo Svalbard Science Forum (SSF). 

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Resumo

 

O permafrost dá origem a formas de relevo complexas e únicas, sendo os polígonos de  cunha de gelo o acidente geográfico mais amplo, mais visível e mais característico das planícies  com  permafrost.  Os  polígonos  são  formados  pela  abertura  de  fracturas  verticais  por  contracção térmica, permitindo a infiltração de água de fusão e a sua posterior recongelação  no  interior  das  fendas.  Este  fenómeno,  que  se  repete  em  ciclos  sazonais  de  congelamento/descongelamento ao longo dos anos, levando ao incremento de cunhas de gelo  no  interior  das  fracturas  e  ao  desenvolvimento  de  redes  de  polígonos.  A  morfologia  dos  polígonos de cunha de gelo é controlada, por vários factores ambientais, que determinam as  suas dimensões, forma e orientação, bem como pelo tempo desde o qual estes factores estão  activos. 

Este  estudo  foi  realizado  nas  redes  poligonais  do  vale  Adventdalen  em  Svalbard.  Parâmetros  morfométricos  das  redes  foram  calculados  para  mais  de  10.000  polígonos  identificados através de detecção remota em imagens de alta resolução (quatro bandas RGB +  NIR com 0,2 m / pixel). Paralelamente, várias destas áreas de polígonos foram estudadas in situ  em  2010,  2011  e  2012.  Os  parâmetros  morfométricos  e  topológicos  das  redes  foram  caracterizados  e  foram  utilizadas  análises  estatísticas  multivariadas  (análise  factorial,  classificação  hierárquica  e  análise  discriminante)  para  os  classificar  e  identificar  sua  relação  com  factores  ambientais  locais.  Com  base  na  similaridade  morfométrica  (dimensão,  forma  e  topologia) foram identificados seis grandes grupos de polígonos. A sua distribuição espacial em  Adventdalen,  no  que  respeita  à  morfometria  geral,  indica  uma  diferenciação  de  Oeste  para  Este. Os grupos localizados na parte ocidental do vale têm uma maior assimetria no tamanho  do  polígono,  enquanto  mais  a  Este  foi  encontrada  uma  distribuição  mais  uniforme  da  área  média do polígono, bem como maiores dimensões globais dos polígonos.  

A diferenciação espacial identificada sugere um controlo espacial na morfometria dos  polígonos,  provavelmente  influenciado  por  variáveis  geoecológicas,  que  podem  afectar  o  crescimento e a forma dos polígonos. Os resultados da análise discriminante mostram que os  factores geoecológicos (e.g. geologia, geomorfologia, declividade, índice de umidade, distância  ao  rio/mar)  contribuem  para  classificar  com  sucesso  mais  de  80%  dos  polígonos  dentro  dos  seis principais grupos morfométricos. 

 

Palavras‐chave: Permafrost; polígonos de cunha de gelo; redes poligonais; parâmetros  morfométricos; Adventdalen; Svalbard. 

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iii     

Abstract

  Permafrost gives rise to a number of unique and complex landforms, being ice‐wedge  polygons  the  most  widespread,  most  visible,  and  most  characteristic  landform  of  lowland  permafrost  terrain.  The  polygons  are  formed  by  the  opening  of  vertical  fractures  by  thermal  contraction, allowing the infiltration of melted water and its subsequent refreezing inside the  cracks. This phenomenon, which is repeated in seasonal cycles of freeze‐thaw over the years,  leads  to  increasing  ice‐wedges  within  the  fractures  and  the  development  of  polygons  networks. The morphology of the ice‐wedge polygons is controlled by various environmental  factors which determine dimensions, shape, and orientation of polygons, as well as by the time  those factors have been active. 

This  study  was  conducted  on  the  polygonal  networks  of  Adventdalen  in  Svalbard.  Morphometrical  parameters  of  the  polygonal  network  were  calculated  for  over  10,000  polygons  identified  using  very‐high  spatial  resolution  remote  sensing  imagery  (four‐bands  RGB+NIR with 0.2 m/pixel). Several polygon areas were studied in the field in 2010, 2011 and  2012.  Multivariate  statistics  (factor  analysis,  hierarchical  classification  and  discriminant  analysis)  were  used  to  describe  the  polygon's  morphometric  parameters,  and  to  determine  their  relationship  to  local  environmental  controlling  factors.  Based  on  the  morphometric  similarity (dimension, shape and topology) 6 major groups of polygons were identified. Their  spatial  distribution  in  Adventdalen  highlights  a  general  morphometric  zoning  from  west  to  east.  The  groups  located  in  the  western  part  of  the  valley  show  a  greater  asymmetry  in  polygon size, while in eastern areas a more uniform distribution of the mean polygon area and  larger overall polygon sizes were found.  

The  spatial  zoning  that  was  identified  suggests  a  spatial  control  on  polygon  morphometry,  probably  controlled  by  geoecological  variables,  which  may  affect  the  growth  and shape of polygons. The results from discriminant analysis show that geoecological factors  (e.g.  geology,  geomorphology,  slope,  wetness  index,  distance  to  river/sea)  contribute  to  successfully  classifying  more  than  80%  of  the  polygons  within  the  6  major  morphometric  groups. 

 

Key  words:  Permafrost;  ice‐wedge  polygons;  polygonal  networks;  morphometric  parameters; Adventdalen; Svalbard. 

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Índice

  Agradecimentos ... i  Resumo ... ii  Abstract ... iii  Índice ... iv  1.  Contexto e objectivos ... 1  2.  Introdução ... 1  2.1.  O ambiente periglaciário e as redes poligonais ... 1  2.1.1.  Permafrost e camada activa ... 3  2.1.2.  Polígonos de cunhas de gelo  e formação ... 6  2.1.3.  Morfologia dos polígonos... 7  2.1.4.  Desenvolvimento de uma rede poligonal ... 9  3.  Quadro Físico de Adventdalen ... 11  3.1.  Enquadramento geográfico ... 11  3.2.  Enquadramento climático ... 13  3.3.  Enquadramento geológico ... 13  4.  Técnicas e Métodos ... 16  4.1.  Introdução ... 16  4.2.  Constituição de uma base de dados SIG para Adventdalen (Geodatabase) ... 16  4.2.1.  Mapas temáticos de base ... 16  4.2.2.  Ortorectificação das fotografias aéreas ... 21  4.2.3.  O Modelo Digital de Terreno e modelos derivados ... 23  4.2.4.  Definição das redes de polígonos ... 31  4.2.5.  Geodatabase ... 35  5.  Resultados e discussão ... 40  5.1.  Introdução ... 40  5.1.1.  Caracterização morfométrica dos polígonos ... 40  5.1.2.  Variáveis geoecológicas ... 43  5.2.  Caracterização das redes poligonais ... 44  5.2.1.  Análise morfométrica das redes ... 44  5.2.2.  Análise geoecológica da diferenciação espacial morfométrica ... 50  5.3.  Classificação e caracterização dos grupos morfométricos de redes de polígonos ... 53 

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v    5.3.1.  Classificação morfométrica das redes de polígonos ... 53  5.3.2.  Caracterização dos grupos morfométricos de redes de polígonos ... 58  5.4.  Variáveis geoecológicas e a variabilidade morfométrica no fundo de Adventdalen .. 67  5.4.1.  Relação dos grupos morfométricos com as variáveis geoecológicas ... 67  6.  Conclusões ... 75  7.  Referências bibliográficas ... 78 

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1. Contexto e objectivos

O  presente  trabalho  está  inserido  no  âmbito  do  projecto  ANAPOLIS  ‐  Análise  de  Terrenos Poligonais em Marte com base em análogos terrestres (PTDC/CTE‐SPA/099041/2008)  que  pretende  contribuir  para  uma  melhor  caracterização  dos  terrenos  poligonais  de  Marte  através  da  análise  detalhada  de  análogos  terrestres.  Esta  analogia  é  utilizada  para  minorar  limitações tecnológicas e científicas tendo em consideração que a informação disponível sobre  as redes poligonais de Marte resulta quase exclusivamente de produtos de detecção remota.   Os polígonos de cunha de gelo são complexas formas de relevo que têm sido objecto  dos mais variados estudos por serem excelentes indicadores da presença actual e passada de  gelo no solo através da preservação da informação climática nas cunhas de gelo como formas  de relevo relíquia no registo geológico (Levy et al. 2010). A sua interpretação, tanto na Terra  como  em  Marte,  baseia‐se  na  investigação  conjunta  de  áreas  como  a  geomorfologia,  física,  monitorização ambiental, reconstrução paleoclimática e geoquímica. 

 

Este  trabalho  pretende  analisar  se  os  factores  geo‐ecológicos  de  âmbito  local  contribuem  para  as  variações  na  geometria  dos  terrenos  poligonais  no  vale  Adventdalen  em  Svalbard. 

Os principais objectivos do trabalho são: 

1)  Obter  informação  relativa  à  geometria  dos  polígonos,  bem  como  compilar  numa  geodatabase toda a informação geográfica relativa às variáveis geo‐ecológicas; 

2) Caracterizar a variabilidade morfométrica das redes poligonais; 

3)  Caracterizar  o  enquadramento  geo‐ecológico  da  distribuição  espacial  das  redes  poligonais; 

4) Determinar a influência dos factores ambientais, e quais as variáveis geo‐ecológicas  mais relevantes, na predição da variabilidade morfométrica dos polígonos de Adventdalen. 

 

Este  estudo  é  um  importante  contributo  para  a  compreensão  da  influência  que  os  factores ambientais poderão ter no desenvolvimento dos polígonos de cunha de gelo a nível  local. 

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1   

2. Introdução

O  permafrost,  comummente  entendido  como  um  solo  permanentemente  gelado,  constitui um importante elemento da criosfera global (Harris et al. 2009) (Ballantyne & Harris  1994). Uma  vez que é  cientificamente  definido  como um solo que termicamente  permanece  abaixo  de  0°C  por  pelo  menos  dois  anos  (Permafrost  Subcommission,  NRC  Canadá  1988  in  Harris et al. 2009), e por ter em amplas áreas do Ártico, um elevado teor em carbono orgânico,  é  particularmente  relevante  para  o  estudo  das  alterações  climáticas  pela  sensibilidade  que  apresenta às mesmas (Haeberli &Hohmann 2008 in Harris et al. 2009). Os polígonos de cunha  de  gelo  representam  a  forma  de  relevo  mas  característica  das  planícies  com  permaforst  (French 2007), sendo estes o foco principal desta dissertação. 

O  presente  capítulo  apresenta  uma  introdução  ao  ambiente  periglaciário,  nomeadamente no que diz respeito: (1) ao permafrost e camada activa; (2) aos polígonos de  cunha  de  gelo  e  sua  formação;  (3)  à  morfologia  dos  polígonos  e  (4)  ao  desenvolvimento  de  redes  poligonais.  Por  fim  é  apresentado  o  contexto  em  que  se  insere  esta  dissertação  e  os  objectivos correspondentes. 

 

2.1. O ambiente periglaciário e as redes poligonais

Cerca  de  77%  da  água  doce  da  Terra  encontra‐se  congelada,  estando  a  maior  parte  desse gelo  concentrado na Gronelândia e Antártida (Christopherson 2005). A esta porção  da  hidrosfera e água subterrânea que se encontra permanente congelada, dá‐se a designação de  criosfera,  que  se  encontra  actualmente  a  sofrer  significativas  alterações  (Christopherson  2005). De acordo com o mesmo autor, uma área de permafrost que não se encontre coberta  por  glaciares  é  considerada  periglaciária.  Já  segundo  French  (2007),  existem  dois  critérios  fundamentais para diagnosticar ambientes periglaciários: o congelamento e a fusão do solo; e  a  presença  de  permafrost.  As  áreas  periglaciárias  com  permafrost  ocupam  cerca  de  24%  da  superfície  terrestre  do  hemisfério  Norte  (French  2007),  sendo  que  as  mais  extensas  encontram‐se no norte da Eurásia e na América do Norte (Figura 2‐1). 

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Figura 2‐1 Distribuição da criosfera na Terra (H. Ahlenius, UNEP/GRID‐Arendal, 2007). 

 

Considerando  a  não  uniformidade  do  clima  periglaciário,  French  (2007)  propõe  cinco  grandes  categorias  de  clima  periglaciário,  tendo  por  base  os  critérios  de  insolação,  temperatura e altitude. As referidas categorias são as seguintes: Climas do alto Árctico, Climas  continentais,  Climas  alpinos,  Planalto  Qinghai‐Xizang  (Tibet)  e  Climas  de  baixa  amplitude  térmica  anual.  French  (2007)  propõe  ainda  a  adição  de  uma  sexta  categoria,  que  permita  contemplar  o  frio  intenso,  a  falta  de  vento  e  aridez  das  áreas  livres  de  gelo  do  continente  Antárctico. 

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3   

A  geomorfologia  periglaciária  tem  sido  considerada  como  uma  subdisciplina  da  geomorfologia  relacionada  com  as  formas  de  relevo  e  os  processos  das  regiões  frias  não‐ glaciárias do mundo (Thorn & French 2006). Pode‐se considerar como foco da geomorfologia  periglaciária  o  estudo  dos  processos  de  congelamento,  bem  como  do  gelo  no  solo  e  formas  relacionadas, apresentando como fim  último a criação de  modelos de evolução da paisagem  de  climas  frios  (Thorn  &  French  2006).  Estes  modelos  incorporam  pressupostos  relacionados  com os processos envolvidos, velocidade de funcionamento e as taxas de erosão associadas, o  transporte e  deposição, e a forma como a morfologia se altera ao longo do tempo (Thorn  &  French 2006). 

 

2.1.1. Permafrost e camada activa

A distribuição do permafrost é controlada por diversos factores específicos localmente  que  incluem  a  condutividade  térmica  e  difusão  dos  materiais  da  Terra,  vegetação,  cobertura  de neve e topografia, sendo o factor mais importante à escala local e regional o clima (French  2007). 

O  permaforst  é  geralmente  classificado  relativamente  à  sua  extensão,  podendo  ser:  contínuo (90‐100%); descontínuo (50‐90%), esporádico (10‐50%) ou isolado (0‐10%). Por áreas  de  permafrost  contínuo  entende‐se  a  região  de  frio  mais  severo  e  perene  que,  aproximadamente, afecta todas as superfícies com excepção de algumas zonas descongeladas,  normalmente associadas a lagos ou rios. O permafrost descontínuo caracteriza‐se por manchas  não  conectadas  de  permafrost.  O  permafrost  esporádico  ou  isolado  consiste  geralmente  na  presença muito restrita de permafrost ou ocorrendo em ilhas isoladas, muitas vezes ocorrendo  sob  sedimentos  orgânicos  turfosos  (French  2007).  A  Figura  2‐2  apresenta  a  distribuição  do  permafrost no hemisfério Norte. 

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Figura 2‐2 Distribuição do permafrost no hemisfério Norte (Brown et al. 1998).  

 

As características do permafrost encontram‐se representadas na Figura 1‐3. Uma das  principais é a existência de uma camada activa, correspondente ao sector do solo que congela  e  funde  sazonalmente  e  que  se  encontra  acima  do  solo  permanentemente  gelado  (French  2007).  Temperaturas  atmosféricas  mais  elevadas  induzem  o  aquecimento  do  permafrost,  reduzindo a sua espessura e aumentando a espessura da camada activa. Por outro lado, nas  regiões  com  temperaturas  mais  baixas,  o  permafrost  é  mais  espesso.  A  camada  activa  é  um  sistema  dinâmico  e  aberto,  influenciado  por  perdas  e  ganhos  de  energia  no  ambiente 

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5   

subsuperficial, e como tal, na generalidade o permafrost encontra‐se em desequilíbrio com as  condições  ambientais  e  ajusta‐se  activamente  em  relação  às  alterações  climáticas  (Christopherson  2005).  No  permafrost  importa  ainda  compreender  as  noções  de  topo  do  permafrost, taliks e camada activa.      Figura 2‐3 Relação entre permafrost, a camada ativa e taliks (Ferrians et al., 1969, cortesia do United States  Geological Survey in French 2007).   O limite superior do permafrost é designado por topo do permafrost, sendo o setor do  solo localizado acima deste, conhecido por camada activa (French 2007). Em certas áreas onde  o permafrost é herdado de condições climáticas passadas, pode existir uma zona descongelada  entre  a  base  da  camada  que  congela  sazonalmente  e  o  topo  do  permafrost,  designada  talik  (French 2007). Este é, aliás, o termo usado para designar também zonas descongeladas dentro  e abaixo do permafrost. 

Os polígonos são estruturas formadas devido à ocorrência de processos de contracção  térmica  do  permafrost  abrindo  fendas  verticais  que  podem  ser  preenchidas  por  sedimentos  (sand‐wedges), ou por água líquida resultante da fusão do gelo e que posteriormente congela  (ice‐wedges), ou ambos os materiais (Ulrich 2011). Os polígonos formam‐se em ambientes de  permafrost contínuo e são o tipo mais comum de polígonos de contracção térmica nas regiões  árcticas mais húmidas (French 2007), caso de Svalbard, região foco deste trabalho.     

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2.1.2. Polígonos de cunhas de gelo e formação

De  acordo  com  Härtel  (2011)  o  terreno  periglaciário  terrestre  é  muitas  vezes  caracterizado  por  redes  mais  ou  menos  regulares  de  padrões  de  fracturas  com  forma  poligonal. De acordo com a mesma autora, evidências demonstram que os referidos polígonos  são  construídos  pela  interligação  de  fracturas  causadas  por  tensões  térmicas  em  solo  perenemente  congelado,  fornecendo  evidências  da  ocorrência  de  permafrost  nos  casos  em  que estas fendas são preenchidas com gelo. 

O fenómeno associado com a fracturação é expresso no tamanho de polígonos, largura  da  abertura  da  fractura  e  profundidade  de  penetração,  na  natureza  dos  sedimentos  que  preenchem a fractura e na inter‐relação entre o tempo da formação da fractura com o tempo  de acumulação de sedimentos (Ulrich et al. 2011). 

As  fracturas  propagam‐se  lateralmente  podendo  formar  outras  células  poligonais  delimitadas  por  outras  fracturas,  células  estas  que  podem  variar  entre  alguns  decímetros  de  diâmetro e alguns metros, sendo que raramente ultrapassam os dez metros (French 2007). O  tamanho  vertical  de  cada  fractura  individual  encontra‐se  fortemente  dependente  do  regime  climático  e  da  entrada  no  seu  interior  de  água,  gelo  ou  areia,  bem  como  de  uma  série  de  outros factores que vão determinar a forma de cada polígono individual (Härtel 2011).  

     A  formação  de  fracturas  encontra‐se  relacionada  com  a  rápida  redução  da  temperatura do solo que consequentemente pode levar à sua contracção térmica provocando  a formação de fissuras e fendas. O fenómeno acontece quando a água dentro das fracturas ao  atingir a sua maior densidade a +4ºC começa a expandir‐se assim que o gelo é formado, mas  contrai  a  temperaturas  abaixo  de  0°C  (French  2007).  O  coeficiente  de  expansão  linear  das  cunhas  de  gelo,  dependente  da  temperatura,  diminui  rapidamente  até  4  ºC,  valor  no  qual  a  água  atinge  o  máximo  de  densidade.  A  continuação  da  redução  da  temperatura  causa  um  rápido  aumento  do  coeficiente  de  expansão  linear,  isto  é,  o  volume  do  material  aumenta.  Quando o gelo é formado a 0°C ,o coeficiente diminui novamente e o gelo começa a contrair à  medida que a densidade aumenta (Härtel 2011).  

É  hoje  relativamente  claro  que  a  fracturação  ocorre  geralmente  durante  o  final  do  Inverno e que não está necessariamente relacionada com a redução extrema da temperatura  mas sim a condições favoráveis definidas através da redução da temperatura a taxas de graus  por dia (Fortier & Allard 2004) e a presença de um revestimento isolante de neve para manter  grandes tensões. Contudo, pode e ocorre também sem a presença do revestimento de neve,  se as taxas de arrefecimento forem suficientemente elevadas (A.L. Washburn 1979).  Ainda de acordo com Härtel (2011), 90% das flutuações de temperatura no permafrost  ocorrem  nos  10‐20  m  mais  superficiais,  e  abaixo  disso,  as  temperaturas  são  geralmente 

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7    estáveis (Lachenbruch 1966 in Härtel 2011). Consequentemente, a formação de fendas ocorre  no topo do permafrost, ou na base da camada activa, o que explica porque se podem repetir  fendas e a sua reativação (Härtel 2011).   Após a formação das fissuras e fracturas a subsequente reactivação das fendas pode  provocar  o  crescimento  lateral  e  vertical  se  material  for  transportado  para  o  seu  interior  impossibilitando  o  seu  fecho  (Härtel  2011).  Comumente,  este  preenchimento  das  fendas  resulta da água descongelada sazonalmente a partir da parte superior da camada activa, que  preenche a fenda e congela, formando um veio de gelo, que pode em seguida ser reaberto nos  anos subsequentes e novamente preenchido. Este processo, após repetição ao longo de vários  anos de reabertura, preenchimento e congelamento produz as formas denominadas cunhas de  gelo (Figura 2‐4).      Figura 2‐4 Processo de fracturação e subsequente formação de cunhas de gelo estratificadas através da repetição  de ciclos de congelamento e fusão (adaptado de Lachenbruch 1962).      2.1.3. Morfologia dos polígonos

Mackay  (2000)  propôs  um  sistema  de  classificação  de  polígonos  em  termos  de  morfologia e sequência de desenvolvimento (Figura 2‐5). O sistema de classificação morfológica  aplica‐se  a  áreas  planas  e  mostra  em  perfil  as  fases  progressivas  de  evolução  desde  um  polígono  incipiente,  até  ao  que  se  denomina  de  intermédio.  Após  a  fase  de  crescimento  é  representada a morfologia de aluimento denominada como Fase de Thermokarst. A sequência  de  desenvolvimento  mostra  a  subdivisão  para  um  polígono  primário,  geralmente  em  áreas  planas e homogéneas, até à divisão terciária. 

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  Figura 2‐5 Sistema de classificação para polígonos que ocorrem em áreas planas; as cunhas são ilustradas em  perfil, a formação normalmente progride de um polígono incipiente para um intermédio; a fase de thermokarst  (zonas com depressões, ou aluimento de solo associado à fusão) está dividida em polígonos High‐centred e  walled, (adaptado de Mackay 2000 in Lousada 2012).      Também Mackay (2000) apresenta uma representação do desenvolvimento de cunhas  de  gelo  epigenética,  singenética  e  anti‐singenética  no  permafrost  terrestre  (Figura  2‐6).  As  cunhas epigenéticas crescem em zonas estáveis onde a sedimentação e a erosão são baixas, ou  seja, as cunhas crescem mais em largura e menos em altura. As cunhas singenéticas crescem  para  cima  em  áreas  onde  há  degradação  do  permafrost  por  sedimentação  ou  alterações  climáticas  evidentes.  As  cunhas  anti‐singenéticas  crescem  para  baixo,  em  locais  de  erosão  e  remoção de material. 

 

 

Figura 2‐6 Desenvolvimento de cunhas (a) epigenética, (b) singenética (c) anti‐singenética (Mackay 1990  adaptado de Härtel 2011). 

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9    2.1.4. Desenvolvimento de uma rede poligonal As cunhas de contracção térmica formam redes poligonais, ou tetragonais que cobrem  áreas extensivas do Árctico e sub‐Árctico (French 2007). As dimensões médias dos polígonos  formados em sedimentos não consolidados podem variar entre os 15 e 40m (French 2007). Em  rocha,  os  polígonos  ou  redes  são  menos  desenvolvidos,  mas  onde  ocorrem,  têm  geralmente  um diâmetro de 5‐15m (French 2007). 

Relativamente  ao  desenvolvimento  de  redes  poligonais  French  (2007)  apresenta  também uma classificação de tipologias de acordo com a orientação dos polígonos e o tipo de  intersecção  das  cunhas,  isto  é,  o  valor  do  seu  ângulo  interno  Figura  2‐7.  Segundo  o  mesmo  autor, as pesquisas de Lachenbruch (1962, 1966) revelam que as redes devem exibir tendência  para formar ligações ortogonais ao longo do tempo. Isto significa que uma rede inicialmente  com  mais  ligações  hexagonais  tenderá  a  transformar‐  se  numa  rede  com  mais  ligações  ortogonais.  As  redes  orientadas  com  o  declive  do  terreno  surgem  normalmente  perto  de  corpos de água (French, 2007).        Figura 2‐7 Tipologias de redes poligonais em terrenos de permafrost (adaptado de French 2007).     

 Uma  implicação  da  rede  hexagonal,  e  de  intersecções  angulares  de  120°,  é  que  as  fendas se desenvolvem numa série de pontos e que cada fenda se desenvolve mais ou menos  simultaneamente  (French  2007),  inferindo  uma  sequência  evolutiva  na  qual  as  fendas  primárias  são  seguidas  por  fissuras  secundárias  que  progressivamente  dividem  uma  área,  demonstrando  neste  caso  uma  tendência  para  um  padrão  de  intersecção  ortogonal  (French  2007).  Lachenbruch  (1966)  classificou  a  rede  poligonal  resultante  como  “sistema  ortogonal‐ aleatório” em contraste com um “sistema ortogonal‐orientado”, este comummente observado  na proximidade de grandes corpos de água (French 2007). 

Como apontado por French (2007), o tamanho do padrão poligonal está condicionado  pela  severidade  do  clima,  sugerindo  que  gradientes  de  temperatura  elevados  causam  redes 

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poligonais  menores.  Em  adição,  o  autor  reconhece  ainda  que  a  variabilidade  espacial  na  cobertura de neve e vegetação influencia a dinâmica da fracturação. 

French  (2007)  apresenta  como  hipótese  que  os  padrões  hexagonais  se  desenvolvem  provavelmente  melhor  sobre  material  homogéneo  sujeito  a  longos  períodos  de  condições  climáticas frias ininterruptas e uniformes, enquanto que os padrões ortogonais são imaturos e  desenvolvem‐se sobre materiais heterogéneos que experimentaram alterações nas condições  climáticas. 

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3. Quadro Físico de Adventdalen

3.1. Enquadramento geográfico

Adventdalen é um vale, com cerca de 2250 km2, localizado na parte central da ilha de  Spitsbergen, pertencente ao Arquipélago de Svalbard, situado no Ártico (entre 74° e 81° N, e  10°  a  35°  E)  (Figura  3‐1).  A  região  é  montanhosa,  com  uma  altitude  máxima  a  rondar  os  1700m, é moderadamente glaciada e com uma sequência rochosa exposta com cerca de 3400  m  de  espessura  (Major  &  Nagy  1972).  Na  ilha  de  Spitsbergen  a  topografia  é  dominada  por  montanhas  separadas  por  grandes  vales  que  podem  estar  interligados.  Os  maiores  vales  são  Sassendalen, Reindalen, Colesdalen e Adventdalen.           Figura 3‐1 Enquadramento geográfico da área de estudo: localização do Arquipélago de Svalbard e  localização do vale de Adventdalen (rectângulo vermelho)   

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Figura 3‐2 Área de estudo ‐ Mapa topográfico do vale de Adventdalen, sendo visível a rede de drenagem  do rio Adventelva. 

 

Adventdalen  é  um  grande  vale,  de  fundo  plano  e  largo  (Figura  3‐2).  Está  rodeado  de  vertentes  com  declives  acentuados  onde  ocorrem  diversos  processos  que  modelam  a  paisagem. O rio Adventelva apresenta típicos canais entrançados, desenvolvendo‐se ao longo  de  uma  planície  fluvioglaciária  particularmente  activa  na  primavera  e  no  início  do  verão.  No  fim desta última estação, o transporte de sedimentos é muito limitado devido à diminuição do  escoamento. No ano seguinte, com o início da fusão, os canais mudam de posição reiniciando‐ se a erosão e transporte (Piepjohn K. et al. 2012). É no vale de Adventdalen que se desenvolve  a cidade portuária de Longyearbyen, e onde se localiza a UNIS‐University Centre at Svalbard.      Figura 3‐3 Longyearbyen e ao fundo o vale de Adventdalen evidenciando o seu fundo plano e as vertentes  côncavas.             

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3.2. Enquadramento climático

O  clima  em  Svalbard  é  considerado  ártico,  em  que  a  temperatura  média  anual  do  ar  varia  entre  cerca  de  –6  °C  ao  nível  do  mar  até  –15  °C  nas  altas  montanhas  (Hauber  &  Reiss  2011). Este tipo de clima apenas ocorre em latitudes polares e é caracterizado por dias muito  curtos,  com  fortes  variações  sazonais, grandes  variações  da  temperatura  média  mensal,  mas  poucas oscilações ao longo do dia (French 2007). Na região de Adventdalen, os meses mais frio  (Fevereiro)  e  mais  quente  (Julho)  têm  temperaturas  médias  de  6,2  °  C  e  ‐15,2  °  C,  respectivamente,  sendo  a  temperatura  média  anual  do  ar  para  1975‐2000  de  ‐5,8  °C  (Christiansen  2005).  Adventdalen,  e  em  geral  a  parte  central  de  Spitsbergen,  considera‐se  como  tendo  uma  variante  de  clima  polar  (semi)  árido.  É  uma  das  regiões  mais  secas  de  Svalbard, com uma precipitação anual de apenas cerca de 180 a 190 mm, predominantemente  sob a forma de neve (Christiansen 2005). O clima é, portanto, relativamente seco e associado à  baixa  altitude,  apenas  18%  da  superfície  na  região  da  cidade  de  Longyerbyen  é  coberta  por  glaciares, o que é um valor relativamente baixo quando comparado com o resto de Svalbard,  onde  os  glaciares  cobrem  cerca  de  60%  da  superfície  (Sørbel  et  al.,2000).  Nos  Invernos  de  Adventdalen, são comuns fortes ventos de sudeste, resultando numa redução da camada de  neve por deflação (Christiansen 2005). 

O arquipélago de Svalbard está situado numa zona de permafrost contínuo (Brown et 

al.  1998),  em  que  a  sua  espessura  varia  entre  100  m  nos  vales  maiores  até  450  m  nas 

montanhas (Ulrich 2011). Em Svalbard estima‐se que o permafrost se tenha iniciado a formar  no Holocénico superior nos vales e nas zonas costeiras (Humlum et al. 2003). A temperatura  do permafrost em Svalbard varia entre ‐2,3 e ‐5,6 ° C (Christiansen et al. 2010), e a espessura  da camada activa varia de alguns decímetros e 1,5 m, dependendo da vegetação, da cobertura  de neve e das condições de superfície (Sørbel et al. 2001).   

3.3. Enquadramento geológico

O vale de Adventdalen é um vale largo que foi deglaciado há cerca de 10 Ka. A geologia  é caracterizada por arenitos do Jurássico e do Cretácico, siltitos e xistos. A maioria dos relevos  limítrofes  ao  vale  pertence  às  formações  de  Helvetiafjellet  e  Carolinefjellet  (Dallmann  et  al.  2001).  No  fundo  do  vale  existem  depósitos  de  granulometria  fina,  provavelmente  derivados  pela deflação e deposição local de sedimentos fluviais, que vieram cobrir os terraços fluviais,  tendo  sido  interpretados  como  Loess  por  Bryant  (1982)  e  Oliva  et  al.  (2014).  A  cobertura  vegetal  irregular,  típica  tundra  ártica,  é  dominada  por  musgos,  herbáceas  e  arbustos  rasos  e 

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nas áreas mais secas e expostas, que são afetados pela acção do vento, a vegetação é muito  escassa (Ulrich et al. 2011). 

A área tem registos que variam entre o Pérmico e o Eocénico, e as rochas apresentam‐ se  com  idades  gradualmente  mais  recentes  para  sul  (Dallmann  et  al.  2001).  Os  depósitos  do  Pérmico consistem sobretudo, em rochas marinhas carbonatadas, depositadas em ambientes  costeiros.  Do  Triássico  ao  Cretácico,  os  sedimentos  são  dominados  por  argilas  e  siltitos  marinhos,  reflectindo  assim  várias  sequências  do  desenvolvimento  da  bacia  sob  condições  maioritariamente estáveis em termos da plataforma (Dallmann et al. 2001). A região situa‐se  na  margem  norte  de  uma  importante  bacia  do  Terciário  (CTB  ‐  Central  Tertiary  Basin),  no  promontório de uma falha inversa que atravessa Spitsbergen e que terá surgido no Eocénico  (Dallmann et al. 2001). 

O  período  Quaternário  está  representado  em  Adventdalen  por  depósitos  não  consolidados, de origem glaciária, fluvioglaciária e crioclástica (Major & Nagy 1972).  

O  fundo  do  vale  de  Adventdalen  é  caracterizado  pela  presença  de  pingos  e  de  polígonos de cunha de gelo. Os polígonos de cunha de gelo variam de 10 a 80m de diâmetro,  com fracturas de 1 a 6m de largura (Sørbel et al. 2001). As cunhas de gelo podem atingir 30 a  500 cm de largura e penetrar 1 a 2 m no interior do permafrost (Sørbel & Tolgensbakk 2002). 

As  várias  redes  poligonais  com  fendas  de  contracção  térmica  acompanham  mais  ou  menos  a  distribuição  da  rede  de  drenagem.  As  redes  surgem  predominantemente  em  zonas  relativamente planas, mas algumas encontram‐se em vertentes e elevações até 500m (Sørbel  &  Tolgensbakk  2002).  A  sua  distribuição  surge  em  posições  mais  elevadas  à  medida  que  se  penetra  no  vale  para  montante.  Matsuoka  (1999)  e  Christiansen  (2005)  encontraram  evidências de que a contracção térmica de algumas redes poligonais continua ainda a ocorrer  presentemente.         

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15   

 

Figura 3‐4 Polígonos de cunha de gelo numa das redes poligonais da área de estudo, no vale de Adventdalen.   

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4. Técnicas e Métodos

4.1. Introdução

O  presente  capítulo  tem  como  objectivo  descrever  os  principais  métodos  e  técnicas  realizadas  na  integração  de  dados  das  variáveis  numa  geodatabase  a  utilizar  no  presente  trabalho, constituído pelos seguintes itens: (1) mapas temáticos de base (2) ortorrectificação  das  fotografias  aéreas  (3)  modelo  digital  de  terreno  e  modelos  derivados  (4)  definição  das  redes de polígonos (5) geodatabase  

 

4.2. Constituição de uma base de dados SIG para Adventdalen

(Geodatabase)

Para  o  presente  trabalho  procedeu‐se  à  integração  dos  mapas  de  base  em  ambiente  SIG,  e  foram  utilizados,  em  formato  raster,  a  fotografia  aérea  e  os  mapas  temáticos  representativos da geologia e geomorfologia de Adventdalen. 

4.2.1. Mapas temáticos de base

O  desenvolvimento  do  estudo  científico  da  Terra  na  avaliação  e  compreensão  dos  recursos naturais (geologia, geomorfologia, pedologia, ecologia, etc.) incitou a necessidade de  mapear  estes  elementos,  originando  os  mapas  temáticos.  São  mapas  com  um  objectivo  específico dado que representam um único tema de informação (Burrough 1986). 

 

Os mapas temáticos em formato raster representam uma estrutura de dados de fácil  manuseamento  em  ambiente  SIG,  de  superfície  bidimensional  sobre  a  qual  os  dados  geográficos  são  representados  não  de  forma  contínua,  mas  sim  de  forma  quantitativa,  que  pode  ter  uma  influência  relevante  na  estimativa  de  comprimentos  e  de  áreas  quando  o  tamanho  das  células  da  grelha  é  maior  em  relação  aos  elementos  a  ser  representados  (Burrough 1986).  

A integração dos mapas temáticos neste trabalho permitiu a interpretação espacial e  integração  das  unidades  qualitativas  em  ambiente  SIG.  Através  de  análises  espaciais  a  informação  relativa  aos  mapas  foi  integrada  numa  tabela  de  dados  das  variáveis  preditivas,  permitindo realizar análises estatísticas. 

No âmbito deste trabalho foram digitalizados o mapa geológico ‐ folha C9G (Major et 

al. 2001) (Figura 4‐1) e o mapa geomorfológico ‐ folha C9Q (Tolgensbakk et al. 2001) (Figura 4‐2)  de Svalbard à escala 1:100 000 produzidos pelo Instituto Polar Norueguês (IPN). A digitalização 

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17    foi efectuada em scanner para grandes formatos e com uma resolução de 600 dpi, usando‐se o  formato tiff.         Figura 4‐1 Mapa geológico de Svalbard ‐ folha C9G ‐ Adventdalen. Instituto Polar Norueguês (IPN),  elaborado à escala 1:100 000.   

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Figura 4‐2 Mapa geomorfológico de Svalbard ‐ folha C9Q ‐ Adventdalen. Instituto Polar Norueguês (IPN),  elaborado à escala 1:100 000. 

 

Para utilizar estes mapas como fonte de informação e juntamente com outros dados  espaciais  foi  necessário  proceder  a  um  processo  de  georreferenciação,  que  consistiu  em  ajustar os mapas para o  sistema de  coordenadas utilizado no  projecto WGS 1984  UTM  Zone  33N.  Para  este  processo  foi  usado  o  sofware  ArcGIS  10  através  de  uma  ferramenta  que  consiste na obtenção de valores x e y para um ponto específico, designado ponto de controlo.  Estes são locais que oferecem uma feição física perfeitamente identificável, tanto no mapa a  georreferenciar como na informação base, como intersecções de estradas, edifícios, pista de  aeroporto, entre outros, cuja identificação permitiu alinhar e ajustar no espaço bidimensional  os mapas geológico e geomorfológico.   A georreferenciação dos mapas temáticos teve como referência o mosaico construído  para obter o maior ajustamento possível entre todos os arquivos raster e criar também uma  maior relação nos formatos vectoriais a produzir.    Digitalização das unidades geológicas e geomorfológicas A obtenção das variáveis geologia e geomorfologia implicou a vectorização manual das  respectivas  unidades  no  software  ArcGIS  com  base  nos  mapas  previamente  digitalizados,  cobrindo toda a distribuição espacial dos polígonos (Figura 4‐3 e Figura 4‐5). 

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19   

Como  resultado  da  vectorização  para  Adventdalen  estão  representadas  8  unidades  geológicas  estão  representadas  as  idades  geológicas  para  cada  unidade)  e  11  unidades  geomorfológicas.  

A vectorização desta cartografia temática tem sempre algum erro cartográfico associado, uma  vez que a informação raster original está à escala de 1:100 000 e a informação é processada  para  uma  escala  muito  maior.  Isto  significa  que  a  imprecisão  associada  à  menor  escala  de  trabalho da informação original provoca erros na informação processada a maior escala. 

 

 

Figura 4‐3 Unidades geológicas de Adventdalen. Vectorização elaborada a partir do mapa geológico de  Svalbard, do Instituto Polar Norueguês (IPN), elaborado à escala 1:100 000. 

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           Figura 4‐4 Tabela litoestratigráfica de Svalbard, cortada para o Período geológico de interesse (adaptado  de (Dallmann et al. 2001)     

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21      Figura 4‐5 Unidades geomorfológicas de Adventdalen. Vectorização elaborada a partir do mapa  geomorfológico de Svalbard, do Instituto Polar Norueguês (IPN), elaborado à escala 1:100 000.   

Os  mapas  geológico  e  geomorfológico  foram  utilizados  como  variáveis  ambientais  neste trabalho com o pressuposto que o substrato e, consequentemente, o tipo de sedimentos  exercem  influência  na  dinâmica  geomorfológica  e  na  formação  dos  polígonos  de  tundra,  influenciando  também  a  retenção  de  água,  e  apresentando  diferentes  propriedades  termofísicas  que  originam  diferentes  comportamentos  no  processo  de  congelação  (A.L.  Washburn 1979).   

 

4.2.2. Ortorectificação das fotografias aéreas

A fotografia aérea constitui o objecto de base na detecção remota, e é utilizada desde  sempre para estudos de fotointerpretação geológica e geomorfológica (Vergara 1971) com a  finalidade  de  identificar  e  classificar  objectos,  contribuindo  para  a  interpretação  da  sua  génese.  O  processo  de  interpretação  implica  a  realização  de  tarefas  como  detecção,  reconhecimento  e  identificação,  análise,  classificação  e  determinação  da  exactidão  (Vergara  1971, Fonseca & Fernandes 2004). 

A  utilização  de  uma  fotografia  aérea  de  elevada  resolução  possibilita  a  realização  da  delimitação  geométrica  dos  polígonos  com  grande  pormenor  e  qualidade.  Para  o  objectivo  deste  trabalho,  a  identificação  da  geometria  dos  polígonos  ao  longo  de  Adventdalen  contou 

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como informação base com um total de 53 imagens aéreas, em formato bruto, adquiridas ao  Instituto  Polar  Norueguês  (IPN),  referentes  a  uma  campanha  fotogramétrica  realizada  em  Julho de 2009. Cobrindo cerca de 20km de extensão do vale, as imagens têm uma resolução de  0,2 metros por pixel e 4 bandas espectrais, três no visível (RGB) e a quarta no infravermelho  próximo.  

Dado  que  as  imagens  estavam  em  formato  bruto,  e  apresentam  uma  sobreposição  entre 40% e 60%, foi necessário realizar um processamento prévio de ortorrectificação para as  posicionar correctamente em termos geográficos, constituindo um mosaico contínuo ao longo  do vale (Figura 4‐6).    Ortorrectificação Muitos factores contribuem para a qualidade geométrica de uma imagem de detecção  remota. A introdução de distorções geométricas durante a captura da imagem é inevitável e  contribui para os erros de posicionamento geográfico. A geometria de aquisição de imagem, o  relevo da área da imagem, a fidelidade do sensor óptico e a estabilidade posicional do sensor  desempenham um papel na quantidade e tipo de erros que são introduzidos (EXELIS 2013).  A ortorrectificação é um processo que remove as distorções geométricas e produz uma  imagem  com  uma  geometria  planimétrica,  tal  como  um  mapa.  O  processo  consiste  também  em  atribuir  às  imagens  ortorrectificadas  um  sistema  de  coordenadas  terrestre  e  a  escala  da  imagem é constante ao longo de toda a imagem. As imagens ortorrectificadas deverão estar  também  livres  de  qualquer  tipo  de  artefactos,  tal  como,  objectos  inclinados  ou  elementos  lineares  enviesados  devido  ao  deslocamento  do  relevo.  Estas  propriedades  fazem  de  uma  ortofotografia um mapa preciso e uma ferramenta adequada para aplicações que necessitam  de  informações  sobre  a  posição  exata  de  uma  área  específica  e  uma  medição  precisa  de  elementos. 

A  ortorrectificação  foi  realizada  no  âmbito  da  dissertação  de  mestrado  “Análise  Geométrica  e  Topológica  de  Redes  Poligonais  de  Contracção  Térmica  em  Adventdalen,  Svalbard,  Noruega”  (Lousada  2012).  Foi  usado  um  conjunto  de  informação  auxiliar  de  referência, nomeadamente os parâmetros internos da câmara relacionados com a calibração:  a distância focal, as coordenadas do ponto principal e as características do sistema de lentes  da câmara; juntamente com os parâmetros de orientação exterior das imagens, que indicam a  posição e orientação da câmara no voo para cada imagem, através das coordenadas centrais  de projecção do centro da imagem (x0, y0, z0) e os ângulos de rotação fotogramétricos omega, 

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23   

correctas a cada uma das imagens juntamente com o Modelo Digital de Terreno (MDT) ASTER  GLOBAL DEM, com 30m de resolução por pixel, da área de estudo como fonte de informação  sobre o relevo, utilizado para que as deformações causadas por este sejam corrigidas. 

A  ortorrectificação  realizada  das  53  fotografias  aéreas  e  após  a  criação  do  mosaico 

(Figura 4‐6), por meio do software ENVI, produziu um erro resultante variável de imagem para 

imagem e visível especialmente nas áreas de sobreposição, correspondentes aos cantos, onde  o erro pode variar entre 1 e 2 metros. Este erro é menorizado na região central das imagens,  visto  que  foram  utilizadas  as  coordenadas  centrais  de  cada  imagem  nos  parâmetros  de  orientação exterior.         Figura 4‐6 Mosaico das fotografias aéreas de Adventdalen ortorrectificadas.    4.2.3. O Modelo Digital de Terreno e modelos derivados Grande parte da informação utilizada para estudos no âmbito das ciências naturais é  susceptível a ser georreferenciada e consequentemente objecto de análise em ambiente SIG,  facultando um melhor e exaustivo reconhecimento da superfície terrestre. Com esta premissa,  foram utilizadas variáveis extraídas através de métodos computacionais a partir do MDT, como  também dos mapas temáticos digitais. De referir que o MDT descrito neste ponto é diferente  ao  utilizado  no  processo  ortorrectificação  (ver  capítulo  4.2.2),  dado  que  foi  adquirido 

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posteriormente ao IPN um MDT com resolução espacial de 20m por pixel e precisão estimada  de  5m.  Este  novo  MDT  permitiu  derivar  variáveis  com  um  melhor  detalhe  e  resolução,  importante para obter uma análise estatística mais minuciosa.  

 

Características do Modelo Digital de Terreno

O  MDT  é  a  peça  chave  da  análise  geomorfométrica  e  cada  vez  mais  utilizado  para  análise  visual  da  topografia,  paisagem  e  formas  de  relevo,  para  a  modelação  de  processos  à  superfície,  bem  como  fonte  de  informação  para  elaboração  de  variáveis  preditivas  (Hjort  2006). 

O  MDT  do IPN foi fornecido em formato raster, ou  seja como produto final,  e sendo  este formato o mais adequado para a representação espacial da elevação do terreno e análise  espacial, não foi necessário realizar tarefas de preparação e de tratamento (Figura 4‐7). 

De acordo com Wilson & Gallant (2000) o MDT utilizado, com uma resolução espacial  de 20m, corresponde a uma topo‐escala de pormenor, de grande importância na solução de  problemas  ambientais  com  aplicabilidade  nas  áreas  de  modelação  espacial  hidrológica,  das  propriedades do solo, correcções topográficas a dados de detecção remota e na extracção de  aspectos topográficos da radiação solar. Em ambientes periglaciários a altitude permite inferir  factores  ambientais  como  a  variação  da  temperatura,  a  neve,  energia  potencial  gravítica,  intensidade  da  radiação,  intensidade  do  vento,  nebulosidade,  vegetação  ou  distribuição  de  humidade (Etzelmüller & Sulebak 2000, Hjort 2006).  

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25      Figura 4‐7 Modelo Digital de Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m, para  Adventdalen.    Modelo de Declives

O  modelo  de  declives  de  Adventdalen  foi  gerado  através  das  ferramentas  do  Spatial  Analyst do ArcGIS 10 (Figura 4‐8), e utilizada, no presente trabalho como variável ambiental.  

O  declive  é  um  dos  atributos  topográficos  mais  frequentemente  usado  nos  mais  diversos  estudos,  nomeadamente  em  estudos  geomorfológicos  e  periglaciários  (Hjort  2006).  Esta informação constitui uma forma de caracterização do terreno que permite relacionar com  a  dinâmica  do  escoamento  superficial,  por  influenciar  a  distribuição  da  neve  e  consequentemente a espessura da camada activa (Florinsky 1998).  

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    Figura 4‐8 Modelo de declives para Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo Digital de Terreno do  Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m.    Modelo de exposições O relevo e a respectiva orientação das vertentes influenciam a quantidade de radiação  solar  recebida  na  superfície  e  portanto  a  temperatura,  a  direcção  do  escoamento  da  água  superficial, bem como a forma e quantidade da acumulação da neve, o que faz com que numa  região  de  permafrost  contínuo  a  camada  activa  seja  normalmente  mais  fina  (isolamento  da  neve) nas vertentes viradas a Norte (French 2007, Florinsky 1998).  

O  modelo  de  exposições  foi,  igualmente,  gerado  através  das  ferramentas  do  Spatial  Analyst do software ArcGIS 10 (Figura 4‐9). 

   

   

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27      Figura 4‐9 Modelo de exposições das vertentes de Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo Digital de  Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m.   

A  classificação  das  exposições  é  determinada  em  unidades  de  graus,  e  para  este  trabalho, foi atribuído uma reclassificação de acordo com a direcção ordinal da inclinação da  superfície, respeitando o esquema de classificação padrão (Tabela 4‐1):    Tabela 4‐1 Correspondência da classificação das exposições (em graus) e a direcção ordinal de inclinação da  superfície.  Intervalo da exposição cardial  (°)  Direcção da  exposição cardial  ‐1 Plano [0 ‐ 22,5[ Norte [22,5 ‐ 45[ Nordeste [45 ‐ 135[ Este [135 ‐ 180[ Sudeste [180 ‐ 225[ Sul [225 ‐ 270[ Sudoeste [270 ‐ 315[ Oeste [315 ‐ 337,5[ Noroeste [337,5 ‐ 360[ Norte    

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Modelo de curvatura do terreno

O  modelo  de  curvatura  do  terreno  é  uma  ferramenta  utilizada  para  descrever  as  características  físicas  da  topografia,  para  compreender  os  processos  de  erosão  e  de  acumulação  de  água.  Este  modelo  foi  portanto  utilizado  para  determinar  as  superfícies  convexas,  côncavas  ou  planas,  tendo  em  mente  o  conceito  de  que  as  superfícies  côncavas  representam  áreas  de  acumulação,  tanto  de  sedimentos,  como  de  água  e  de  neve,  influenciado a espessura do solo e a distribuição da humidade e da própria neve (Hjort 2006,  Etzelmüller & Sulebak 2000)   

O modelo foi calculado através das ferramentas do Spatial Analyst do software ArcGIS  10  a  partir  do  MDT  (Figura  4‐10).  Seguidamente  através  da  ferramenta  Raster  Calculator  do 

mesmo  software,  o  modelo  foi  reclassificado  em  três  classes  de  acordo  com  a  classificação  descrita por Wilson & Gallant(2000):  ‐ Valores positivos: superfície convexa  ‐ Valores próximos de 0: superfície rectilínea   ‐ Valores negativos: superfície côncava      Figura 4‐10 Modelo de curvatura do terreno para Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo Digital de  Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m.   

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29   

Modelo de teor de humidade no solo ‐ Wetness Index (SWI)

Foi também calculado o mapa do teor de humidade no solo do SAGA (SWI) (Böhner et 

al.  2002)  através  do  módulo  Terrain  Analysis  do  programa  SAGA  GIS  (Figura  4‐11).  Este  índice  descreve  a  tendência  de  acumulação  de  água  através  da  identificação  do  padrão  de  escoamento a partir de cada uma das células e respectiva área de contribuição a montante da  célula. É utilizado para quantificar o controlo topográfico nos processos hidrológicos e indicar a  distribuição espacial da humidade e saturação do solo (Sørensen et al. 2006). A análise deste  índice  pode  também  dar  indicações  acerca  da  possível  profundidade  do  nível  freático,  da  distribuição  do  ar  frio  durante  episódios  com  inversão  térmica  e  da  distribuição  espacial  da  matéria  orgânica  (Wilson  &  Gallant  2000).  Quanto  maiores  os  valores  observados,  maior  é  a  presença de água no solo, bem como o teor de humidade.      Figura 4‐11 Modelo de teor de humidade no solo para Adventdalen. Elaborado a partir do Modelo  Digital de Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m.    Modelo da heterogeneidade do terreno ‐ Terrain Ruggedness Index (TRI) O  TRI  é  um  índice  que  permite  a  medição  objectiva  da  heterogeneidade  do  terreno  através  do  cálculo  da  diferença  média  da  elevação  entre  o  pixel  central  e  os  oito  pixels  circundantes.  Este  índice  reflecte  o  potencial  do  relevo  para  a  acumulação  da  neve,  a  concentração  de  matéria  orgânica  (Florinsky  1998)  e  ainda  a  variação  da  radiação  solar  recebida, que varia com a rugosidade do terreno (Etzelmüller & Sulebak 2000). Quanto menor 

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for o valor de TRI, menor é a rugosidade e mais regular é o terreno (Riley et al. 1999) (Figura  4‐12).  Por  fim  referir  que  o  TRI  foi  calculado  através  do  módulo  Terrain  Analysis  do  software  SAGA GIS.       Figura 4‐12 Modelo do índice de heterogeneidade do terreno para Adventdalen. Elaborado a partir do  Modelo Digital de Terreno do Instituto Polar Norueguês, com resolução espacial de 20m.    Distância às linhas de água e à linha de costa A maior ou menor proximidade a corpos de água com elevada disponibilidade hídrica,  como  lagos  e  rios,  condiciona  a  temperatura  e  tipo  de  substrato,  tendo  influência  no  desenvolvimento  e  espessura  do  permafrost  (Migoń  2010).  Como  tal,  torna‐se  importante  identificar  os  principais  locais  com  elevada  disponibilidade  de  água  no  estado  líquido  em  Adventdalen, nomeadamente o rio Adventelva e respectivos afluentes, e proceder à respectiva  vectorização. 

Já  a  distância  à  linha  de  costa  é  utilizada  como  indicador  de  continentalidade,  com  reflexos nas temperaturas do ar e precipitação, mesmo numa distância de poucos quilómetros,  influenciando as propriedades do permafrost (Campbell & Claridge 2009). 

Para a vectorização do rio Adventelva e afluentes foi utilizado um processo automático  através das ferramentas do Spatial Analyst do ArcGIS 10 e aprimorado por interpretação visual  do mapa topográfico à escala 1:100.000 e respectiva digitalização manual (Figura 4‐13). Para a  vectorização por interpretação visual da linha de costa, foi utilizado o mesmo mapa. Com estes 

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31   

limites  digitalizados,  procedeu‐se  à  medição  da  distância  mais  curta,  em  linha  recta,  entre  estes e centróide de cada polígono, através da ferramenta Join Data do ArcGIS 10.         Figura 4‐13 Linhas de água e linha de costa mais próxima do vale de Adventdalen e representação da  distância do centróides dos polígonos à linha de costa. Os elementos Linha de água e Linha de costa foram  vectorizados através do mapa topográfico à escala 1:100.000.    4.2.4. Definição das redes de polígonos

  Usando  como  referência  base  os  ortofotomapas,  foi  efectuada  manualmente  a  digitalização  vectorial  dos  polígonos  (Lousada  2012)  através  do  programa  ArcGIS  10,  identificando  ao  longo  de  Adventdalen  mais  de  10.000  polígonos  (Figura  4‐14).  No  mesmo  trabalho,  Lousada  (2012)  evidencia  que  a  vectorização  de  cada  polígono  só  foi  realizada  quando era evidente a expressão das cunhas de gelo à superfície e não confundido com outro  tipo de lineamentos, e só foram considerados os polígonos que estavam nitidamente fechados  (todas  as  suas  arestas  visíveis  na  íntegra).  As  4  bandas  dos  ortos  permitiram  uma  utilização  tanto em cor verdadeira como em falsa cor, facilitando uma melhor identificação das cunhas  dos polígonos. 

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Figura  4‐14  Modelo  digital  de  terreno  de  Adventdalen.  A)  Limites  dos  vários  grupos  de  polígonos  digitalizados e redes poligonais B) Pormenor dos polígonos digitalizados (ortofotomapa como fundo). 

 

O  mapeamento  dos  polígonos  demonstrou  ser  uma  tarefa  árdua  e  morosa,  devido  à  distribuição  espacial  dos  campos  poligonais  ao  longo  dos  cerca  de  20km  do  vale.  A  primeira  dificuldade foi localizar os polígonos durante o varrimento visual dos ortofotomapas, entre as  escalas 1:7 500 e 1:10 000. Estas escalas de análise foram definidas pois permitiam um bom  equilíbrio entre o tempo despendido e uma boa resolução espacial. Outra dificuldade, apesar  da  boa  qualidade  dos  ortofotos  e  das  4  bandas  espectrais,  foi  identificar  a  expressão  das  cunhas de gelo à superfície, que nem sempre era evidente, tornando difícil a interpretação da  geometria  dos  polígonos.  Dado  que  os  maiores  erros  posicionais  estão  localizados  nas  orlas  das imagens ortorrectificadas e que cada uma destas tem uma sobreposição entre 40 a 60%, a  digitalização  dos  polígonos  foi  direccionada  para  a  zona  central  de  forma  a  reduzir  o  erro  espacial. 

A  validação  da  delimitação  dos  polígonos  através  das  ferramentas  SIG  foi  efectuada  através  de  reconhecimento  de  campo.  Foi  escolhida  uma  rede  para  ser  utilizada  como  referência,  sobre  a  qual  foi  realizado  intensivo  trabalho  de  campo  em  2010  e  2011  e  depois  estendido  a  outras  redes  em  2012.  O  trabalho  de  campo  realizado  foi  importante  para  perceber  que  a  utilização  das  imagens  IPN  para  cartografar  todas  as  redes  poligonais  de 

 

A) 

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33   

Adventdalen  é  válida  e  que  embora  apresente  desvantagens,  estas  são  compensadas  pela  facilidade de uso e fidelidade do mapeamento (Lousada 2012).  

Figura 4‐15 ilustra a campanha de campo de 2012 no vale de Adventdalen, na qual tive 

oportunidade de participar.          Figura 4‐15 Fotografias da campanha de campo de 2012 no vale de Adventdalen    A análise em ambiente SIG da distribuição dos polígonos permitiu identificar áreas com  redes  poligonais  bastante  extensas  e  com  grande  número  de  polígonos,  concentradas  especialmente  no  fundo  do  vale,  bem  como  redes  menores  dispersas,  principalmente  em  sectores  de  vertente  (Figura  4‐14).  Nestes  sectores  de  vertente,  mais  erodidos  e 

consequentemente mais irregulares, a delimitação dos seus contornos é mais dificultada. Com  base nesta organização, e tendo por objectivo estudar o conjunto de polígonos que formam as  redes poligonais, aqueles foram agrupados originando 36 redes poligonais. As redes poligonais  foram  delineadas  de  acordo  com  a  distribuição  espacial  e  concentração  dos  polígonos,  podendo estas incluir vários “clusters” de polígonos. Para o estudo foram apenas consideradas 

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as redes que possuem um número de polígonos superior a 25, e nas quais todos os polígonos  apresentam  vizinhos,  facultando  redes  poligonais  mais  completas  e  estatisticamente  mais  significativas.  

 

Parâmetros morfométricos para caracterização das redes poligonais

A forma como a fracturação ocorre é controlada por diversos factores ambientais e vai  determinar a dimensão, a forma e topologia dos polígonos (Ulrich 2011). 

Para  cada  um  dos  polígonos  digitalizados  de  acordo  com  a  sua  geometria  e  relação  espacial foram calculados três tipos de parâmetros morfométricos (Tabela 4‐2): 

‐  Parâmetros  de  dimensão:  Correspondem  às  propriedades  geométricas  num  plano  planimétrico dos polígonos  

‐ Parâmetros de forma: Caracterizam o formato específico dos polígonos  

‐  Parâmetros  topológicos:  Estes  parâmetros  expressam  como  os  polígonos  estão  relacionados fisicamente uns com os outros dentro de uma rede poligonal. Para o cálculo dos  parâmetros topológicos foi utilizado um algoritmo desenvolvido por Bandeira et al. (2008) que  cria  um  processo  automatizado  para  identificar  dentro  do  campo  de  polígonos  os  vizinhos  e  classificar a valência dos vértices. Foram excluídos da análise morfométrica todos os polígonos  com um número de vizinhos igual a zero, correspondendo a polígonos isolados ou das camadas  exteriores/limítrofes das redes poligonais. 

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35        Tabela 4‐2 Parâmetros de dimensão, forma e topológicos integrados no estudo dos polígonos.  Parâmetros  Unidades ou   Escala  Fonte / Cálculo  Dimensão  

Área (A)  metro²  ArcGIS 

Eixo Maior (E>)  metro  ArcGIS 

Eixo Menor (E<)  metro  ArcGIS 

Eixo Médio (Em)  metro 

2  

Perímetro (P)  metro  ArcGIS 

Forma   Alongamento (Al)  de 0 a 1    Compacidade (C)  de 0 a 1  2√   Circularidade (Cc)  de 0 a 1    Topologia  

Vértices (Vt)  numérico  Algoritmo 

Vizinhos (Vz)  numérico  Algoritmo 

   

4.2.5. Geodatabase

A  geodatabase  é  uma  forma  comum  de  organização  de  dados  e  uma  estrutura  de  gestão  do  ArcGIS.  Tem  como  objectivo  criar  um  repositório  central  de  dados  permitindo  organizar  todo  o  tipo  de  informações  geográficas  em  temas  de  dados  estruturados  com  conteúdos  e  representações  de  camadas  temáticas  específicas.  O  armazenamento  de  dados  numa  geodatabase  fomenta  uma  melhor  organização  da  informação  espacial  e  melhora  as  capacidades  de  gestão  de  dados.  A  estrutura  da  geodatabase  reflecte  esta  organização  definindo  a  forma  como  os  elementos  geográficos  são  representados  para  cada  tema,  agrupando  os  dados  individuais  em  conjunto  de  dados,  designados  por  feature  classes,  atributos,  conjuntos  de  dados  matriciais  e  relações  espaciais  entre  conjuntos  de  dados.  O 

design  da  geodatabase  permite  visualizar  cada  conjunto  de  dados  com  os  seus  elementos 

geográficos (pontos, linhas e polígonos) e correspondentes tabelas de atributos. 

Para  este  trabalho  todos  os  elementos  descritos  nas  secções  anteriores  foram  compilados  e  armazenados  numa  base  de  dados  com  a  mesma  referência  espacial  para 

Referências

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