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O CRUZEIRO E A CORRENTE

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O CRUZEIRO E A CORRENTE: A ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA COMO MÁQUINA DE HEGEMONIA (1949-1961)

Gilberto de Souza Vianna*

Essa escola é antes de tudo um instituto de fraternidade civil e militar, onde pontifica a razão sob a influência do coração.

(General César Obino) RESUMO

A Escola Superior de Guerra (ESG), fundada no ano de 1949, fruto da aproximação dos Estados Unidos (EUA) com o Brasil durante a Primeira Guerra Mundial, filha do War College, tornou-se diferente da congênere americana, porque, além de uma escola de altos estudos, converteu-se em protagonista de uma rede de sociabilidade e confiança nacional, visando multiplicar, de forma objetiva, os conhecimentos produzidos na Instituição, chegando mesmo a ser uma máquina de hegemonia, pois, por meio da rede ESG-ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – divulgou os ensinamentos da Escola por todo território nacional.

Palavras Chave: Escola Superior de Guerra (ESG). Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG). Rede de Confiança. Sociabilidade. Hegemonia.

THE CRUISE AND THE CHAIN: THE BRAZILIAN WAR COLLEGE AS A HEGEMONY MACHINE (1949-1961)

ABSTRACT

The Brazilian War College (ESG), founded in 1949, as a result of the United States’ (US) approach to Brazil during World War I, the War College daughter. It became different of American akin, because, in addition to high studies, it converted in protagonist of the network sociability and national trust, aiming to multiply in an objective way, the knowledge produced in the Institution, even becoming a hegemonic machine, because, through the network ESG –ADESG - Diplomatic Association of the Brazilian War College Graduates, disclosed the teaching of the College by the national territory.

Keywords: Brazilian War College (ESG). Diplomatic Association of the Brazilian War College Graduates (ADESG). Trust Network. Sociability. Hegemony.

____________________

* Doutorando em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ (2019), possui graduação em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) e Mestrado em História da Educação pela Universidade Federal do Paraná (2001).

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73 EL CRUCERO Y LA CORRIENTE: LA ESCUELA SUPERIOR DE GUERRA COMO

MÁQUINA DE HEGEMONIA

RESUMEN

La Escuela Superior de Guerra (ESG), fundada en el año 1949, fruto de la aproximación de Estados Unidos con Brasil durante la Primera Guerra Mundial, hija del War College, se volvió diferente a la congénere americana, porque, además de una escuela de altos estudios, se convirtió en protagonista de una red de sociabilidad y confianza nacional, buscando multiplicar, de forma objetiva, los conocimientos producidos en la Institución, llegando a ser una máquina de hegemonía, pues, a través de la red ESG- ADESG - Asociación de los Diplomados de la Escuela Superior de Guerra-, divulgó las enseñanzas de la Escuela por todo el territorio nacional. Palabras Clave: Escuela Superior de Guerra (ESG). Asociación de los Diplomados de la Escuela Superior de Guerra (ADESG). Red de Confianza. Sociabilidad. Hegemonía.

1 INTRODUÇÃO

No bairro da Urca, na cidade do Rio de Janeiro, encontra-se uma fortaleza histórica denominada Fortaleza de São João, encravada na várzea existente entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Essa edificação, erguida por Estácio de Sá no ano de 1564, é um marco da fundação da cidade. Com o passar dos séculos, estabeleceu-se como parte do complexo fortificado de defesa da região juntamente com diversas outras construções. No ano de 1948, o General Cordeiro de Farias1,

escolheu um dessas para tornar-se o sítio das instalações da Escola Superior de Guerra (ESG).

Portanto, o objeto de estudo deste artigo é, em específico, o referido estabelecimento de ensino, como também as pessoas influentes que contribuíram para a formação da Instituição em seus dez primeiros anos de existência. Pretende-se ainda elucidar a maneira pela qual uma entidade que carrega o nome de “escola” foi sendo organizada ao longo do tempo, constituindo-se não só como um espaço de formação, mas também de sociabilidade e convergência entre civis e militares.

No ofício de historiador, é crível que deva existir um necessário distanciamento do objeto a ser pesquisado, porém, neste caso, a proximidade permite também que se torne sujeito histórico, na medida em que vivencia os acontecimentos cotidianos relacionados ao tema de estudo ou em razão deste.

1 O General Cordeiro de Farias havia participado do Movimento Tenentista de 22, da Coluna Prestes, foi integrante da Força Expedicionária Brasileira e primeiro Comandante da Escola Superior de Guerra.

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2 DA IDEIA À PRÁTICA: A FUNDAÇÃO DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG) A Escola Superior de Guerra (ESG) foi idealizada pelo General César Obino em sua visita à América do Norte como Chefe da Comissão de Cooperação Brasil – Estados Unidos da América. Em 1946, lá realizou um estudo de campo para, em seguida, iniciar a criação do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Ainda nos Estados Unidos (EUA), teve a oportunidade de visitar diversas escolas militares americanas, quando lhe surgiu a ideia de criar uma nos mesmos moldes no Brasil. “Teve então a oportunidade de discutir a ideia da Escola com os oficiais-generais americanos e com o presidente Henry Truman, conforme a agenda do presidente Henry Truman”2. Segunda-feira, dia 10 de dezembro de 1946,

o General César Obino estava presente na reunião, segundo documentação americana:

General Salvador César Obino, Chefe do Estado-Maior Conjunto Staff, Forças Armadas Brasileiras (Army, Navy&Air Forças); Coronel Paul L. Freeman, EUA, Membro do Comissão Militar Conjunta Brasil-Estados Unidos; Primeiro-Tenente Arthur S. Moura, EUA, Intérprete do Gabinete de Ligação do Departamento de Guerra (esta nomeação foi solicitada pelo General Eisenhower. Originalmente Obino pediu cinco minutos, mas, desde então, disse que gostaria de uma audiência um pouco mais longa pois ele gostaria de apresentar visões das Forças Armadas brasileiras em relação a Medidas de defesa americanas, etc.). (HARRY S. TRUMAN PRESIDENTIAL LIBRARY & MUSEUM, 2016, não paginado, tradução nossa)3.

O General César Obino ficou positivamente impressionado com a visita que realizou ao War College e ao Industrial College; admirou-se pela dinâmica das escolas e pela maneira com que ali eram ministrados os cursos. Após as reuniões com chefes militares americanos e com o próprio Presidente Harry S. Truman, o General Obino voltou para o Brasil decidido a organizar uma escola militar de guerra, seguindo os moldes das americanas (War College, Industrial College), sendo

esta subordinada ao recém-criado Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Essa 2 Disponível em: https://www.trumanlibrary.org/calendar/main.php?currYear=1946&currMonth=

12&currDay=10. Acesso em: 4 jun. 2018

3 General Salvador Cesar Obino, Chief of Joint General Staff, Brazilian Armed Forces (Army, Navy & Air Forces) Colonel Paul L. Freeman, USA, Member of the Joint Brazilian-United States Military Commission First Lt. Arthur S. Moura, USA, Interpreter, from Liaison Office of the War Department (This appointment was requested by General Eisenhower. Originally General Obino asked for five minutes, but since then has said he would like a little longer appointment as he would like to present views of Brazilian Armed Forces regarding joint American defense measures, etc.).

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viagem influenciou o General de forma decisiva, tanto que ele mesmo relata em uma entrevista ao jornal O Globo, em 13 de janeiro de 1947, e transcrita na sua biografia escrita por Eduardo Muller:

Como é de conhecimento público, fui aos Estados Unidos a convite do departamento da Guerra Norte-Americano. Durante a minha estada em terras de Tio Sam tive a oportunidade de observar a modelar organização das forças armadas estadunidenses. Sua organização é maravilhosa e serve de padrão a ser seguido pelas nações militarmente bem constituídas. Um espírito de organização metódica e objetiva é o que se pode verificar imediatamente ao se observar as forças militares de terra, mar e ar dos Estados Unidos. Esta perfeita organização não se observa apenas nas forças armadas norte-americanas, mas em todos os setores da atividade humana, o que demonstra que o povo deste grande país atingiu a um elevado Nível de Civilização. (MULLER, 2002, p. 35).

Foram enviados ao Brasil, pelo governo americano três oficiais, o Coronel William J. Werbeck, o Coronel Aviador Alvord Van Patten Anderson Junior e o Coronel Lowe H. Bibby, com objetivo de cooperar na construção da Escola de Guerra do Brasil. Os americanos elaboraram um relatório final para sua implantação. Segundo o General Cordeiro de Farias, eles pretendiam reproduzir e adotar o regulamento da War College sem restrições, alegando que havia dado certo nos Estados Unidos e daria certo no Brasil, porém não encontraram correspondência no pensamento de Cordeiro de Farias e nem do próprio General César Obino.

Paralelamente à incumbência da missão americana de assessoria para a criação da Instituição, também trabalhava nesse sentido uma equipe do Estado-Maior4 do EMFA, composta pelos irmãos Geisel, Golbery do Couto

e Silva, Jurandir Mamede e Idálio Sardenberg, que, posteriormente, contou com a colaboração do Almirante Benjamin de Almeida Sodré. A atividade desta comissão nacional teve maior ressonância no pensamento do General Cordeiro de Farias. A ESG era filha da War College – não se podia negar –, porém, a influência americana em sua estruturação era muito menor do que aparentava. Para comprovar tal afirmação, é suficiente um olhar sobre o discurso do General Cordeiro de Farias:

É preciso assimilar nesse ponto que a ESG se inspirou no War College e no Industrial College, mas se tornou completamente diferente de ambos por forças das circunstâncias [...]. Eu sempre digo: nós somos filhos do War College, admitimos com 4 Grupo de oficiais encarregados de assistir o chefe militar no exercício do comando.

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orgulho esta paternidade, mas não existe nada mais diferente do War College do que a Escola Superior de Guerra. (FARIAS, 1981, p. 85).

Dentre as escolas militares5, a ESG distingue-se por receber entre seus

estagiários indivíduos de origem civil e militar. A forma como são denominados (estagiários) os seus discentes, cuja dinâmica acadêmica é inédita no Brasil dentro do universo das Escolas Militares de Altos Estudos, chegou a chamar a atenção até dos oficiais norte-americanos, como observou o próprio Comandante da War

College, em 1951, quando em visita ao Brasil:

Não conheço nada mais diferente do War College do que a Escola Superior de Guerra do Brasil. Mas se vocês me perguntarem qual das duas é a melhor, não tenho condições de responder. Deixo o Brasil impressionado, principalmente com essa junção civil-militar que vocês estão fazendo e com a maneira descontraída de construir essa ligação. (FARIAS, 1981, p. 86).

Outra característica importante e ímpar da Escola é que, com o tempo, tornou-se uma rede associativa, uma esfera pública de debates. Como pano de fundo, a ESG possui uma rede associada que ministra cursos e aplica a mesma metodologia de ensino: a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), fundada em 1950, por ex-alunos e incentivada por Cordeiro de Farias e o Almirante Benjamin Sodré, o primeiro Presidente das ADESGs. Essa associação, que comunga a mesma dinâmica educacional, faz-se presente em todas as capitais e grandes cidades, oferecendo cursos e, assim, contribuindo, em muito, com o número de estagiários.

Desde o período da sua fundação, foi elaborada com a intenção de sociabilizar uma elite civil e militar e criar um sistema de rede social associativa, com o objetivo de promover a troca material e imaterial entre seus atores, concebendo, dessa forma, uma nova esfera pública de debate político.

No desencadeamento lógico da pesquisa, inicialmente trabalharemos o termo Sociabilidade e, consequentemente, o conceito de Esfera Pública. Essas duas categorias possibilitaram novos olhares sobre a ESG e sua rede formada pela ADESG.

O termo sociabilidade, cunhado por Georg SIMMEL6, é usado para tentar

mensurar e compreender a capacidade de uma pessoa ou de um grupo de evoluir em formas adaptadas na sociedade ou no meio de um conjunto de indivíduos. Como o esclarece o próprio Simmel:

5 Entre elas: ECEME – Escola de Comando e Estado-Maior (Exército), EGN – Escola de Guerra Naval (Marinha), ECEMAR – Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (Força Aérea).

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77 Esse processo funciona também na separação do que chamei de conteúdo e forma de vida societária. Aqui, “sociedade” propriamente dita é o estar com um outro, para um outro, contra um outro que, através do veículo dos impulsos ou dos propósitos, forma e se desenvolve os conteúdos e os interesses materiais ou individuais. As formas nas quais resulta esse processo ganham vida própria. São lideradas de todos os laços com os conteúdos; existem por si mesmas e pelo fascínio que difundem pela própria liberação destes laços. É isto precisamente o fenômeno a que chamamos sociabilidade. (SIMMEL, 1983, p. 47).

A noção de sociabilidade faz-se também presente nas grandes obras de síntese produzidas pela historiografia francesa. Georges Duby utiliza o conceito na obra de sua direção, a História da vida urbana, publicada no início dos anos 80. Maurice Agulhon tentou esclarecer o uso histórico do termo, chamando atenção à questão da validade e ao âmbito do que é devido, para tornar-se plenamente uma ferramenta metodológica disponível para historiadores e como uma categoria histórica:

Sociabilidade, e se pusermos o nome à forma como os homens vivem suas relações interpessoais e se encaixam em suas diversas comitivas, não só caracteriza psicologias individuais. Ela varia de acordo com as configurações sociais, talvez com o país, certamente, com os tempos. Ao todo, a curto [prazo] não foi tão isolado: ao mesmo tempo, outros demonstram a historicidade do domínio da vida, o sentido da morte ou os anexos família simples […]. (AGULHON, 1984, p. 35).

3 A APROXIMAÇÃO BRASIL-EUA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi uma construção política, formatada pelo Ministro das Relações Exteriores do Estado Novo, Osvaldo Aranha, um político pró-americano, o embaixador americano no Brasil Jefferson Caffery, e o próprio Getúlio Vargas, e surge de um acordo entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil (NETO; MAXIMIANO, 2011, p. 6). Obviamente que a ideia não era tão contrária no meio militar da época, como fala o General Cordeiro de Farias: “Foi um presente verdadeiramente maravilhoso, o maior prêmio que tive: para um soldado não há maior prêmio que a guerra. E desde o início eu tinha solicitado ao Presidente da República minha participação direta na guerra” (FARIAS, 1981, p. 293).

Portanto, esta parceria consistia em uma “troca”, na qual os norte-americanos deveriam equipar e atualizar conhecimentos de uma certa quantidade de militares, treiná-los e ainda garantir-lhes uma experiência em confronto, além de equipar as

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forças armadas com artilharia de defesa de costa e veículos de combate. Em suma, profissionalizar as Forças Armadas Brasileiras, refinando o que a missão francesa havia feito nas décadas de 20 e 30.

Em contrapartida, o Brasil deveria unir-se politicamente ao grupo dos Aliados para o combate ao nazismo na Europa. Convém lembrar que esta não foi uma via desobstruída, sem maiores empecilhos, nem se deve entender que o governo do país já estivesse facilmente inclinado aos ideais liberais americanos. Lembrando a presença de militares germanófilos, nas fileiras do Exército, Cordeiro de Farias informa que Getúlio Vargas substituiu o General Aécio Souto, por ser um deste grupo, do Comando da Artilharia da 1ª DE, que comporia a Força Aérea Brasileira (FAB) (FARIAS 1981, p. 296).

As aproximações políticas e militares entre o Brasil e os EUA vêm de uma bem-sucedida investida americana na política de boa vizinhança7, capitaneada pelo

presidente americano Franklin D. Roosevelt, recém-eleito em 1933, que já em seu discurso de posse em 4 de março de 1933, clama neste sentido, como reproduz Locherey (2015):

[...] eu dedicaria esta nação à política de boa vizinhança (...) o vizinho que respeita firmemente a si próprio e, por fazê-lo, respeita os direitos dos outros (...) o vizinho que respeita as suas obrigações e a inviabilidade de seus compromissos internos e com o conjunto de seus vizinhos. (LOCHEREY, 2015, p. 17)

Porém o trabalho de política de boa vizinhança, iniciado com a posse de Roosevelt na presidência dos EUA em 1933, não seria tão fácil de realizar, como também ospercalços ocorridos com as tentativas de aproximação entre as nações latino-americanas e Washington. Com o decorrer do tempo, o Presidente vai perceber que, para alcançar esse objetivo e alianças bem sucedidas com uma considerável duração temporal, esta política não deveria se calcar unicamente em uma aproximação com o grupo governista no poder8, mas os esforços deveriam

estar direcionados a uma classe de funcionários que permaneceriam em suas funções, independente de alterações de governo. Os preparativos para guerra vão demandar inicialmente uma aproximação mais intensa com os militares, 7 “A política de boa vizinhança foi a principal inovação da política externa norte-americana na

década de 1930. A retórica do pan-americanismo passou a ser acompanhada de iniciativas concretas promovidas por diferentes agências governamentais. Através das conferências multilaterais, em diferentes pontos da América Latina, os Estados Unidos expandiam, pouco a pouco, sua política de envolver os países do continente numa estratégia internacionalista. Destacaram-se aqui as reuniões de Montevidéu em 1933, Buenos Aires em 1935, Lima, em 1938, Havana, em 1940, e Rio de Janeiro, em 1942. ” Monica Hirst. Disponível em: www.fgv.br/cpdoc/ acervo/dicionarios/verbete-tematico/politica-de-boa-vizinhanca . Acesso em: 21 maio2018. 8 Estratégia acertada, pois, logo após o fim da Segunda Guerra, o governo Vargas e o Estado Novo

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posteriormente, com políticos e empresários, e o estreitamento destes laços poderia ocorrer com oferecimento de vagas em escolas de formação e em universidades nos EUA, buscando uma sociabilização entre americanos e brasileiros, no médio e alto escalão do funcionalismo público.

Essa estratégia provavelmente se deve ao fato dos americanos, no processo de política de boa vizinhança e aproximação com as nações latino-americanas, enfrentarem um profundo receio desses governos, e uma considerável desconfiança de intromissão dos norte-americanos em políticas nacionais dos países da América do Sul. Somando-se a esses obstáculos, a já histórica divisão entre as nações da região, em decorrência de conflitos locais ocorridos ao longo da história e mesmo durante o século XX9.

Esta sugestão seria considerada um anátema para os militares brasileiros, e os americanos neste momento compreenderam que, além dos líderes políticos, seria necessária a aproximação com os militares brasileiros como Osvaldo Aranha havia solicitado, e promover uma visita do General Góes Monteiro aos EUA, sendo esta mais uma direção em sua política de defesa, boa vizinhança e aproximação. Como cita Lochery (2015):

No final de outubro de 1940, Góes Monteiro visitou Washington para participar de uma reunião dos chefes de Estado-Maior dos exércitos das repúblicas do continente americano. Enquanto estava lá, concordou em conversar com americanos sobre a defesa do Brasil, bem como sobre os pedidos de armas para o país. Em 29 de outubro de 1940, essas discussões produziram o que ficou conhecido como Minuta Góes Monteiro, que se tornou a base para um acordo entre os exércitos dos Estados Unidos e do Brasil assinado em 24 de julho do ano seguinte no Rio de Janeiro pelo ministro da guerra brasileiro, Eurico Dutra, e pelo General de Brigada americano, Lehman W. Miller. (LOCHERY, 2015, p. 89).

O acordo articulado por Góes Monteiro com os americanos foi um marco no Exército, desencadeando de imediato uma formação dos oficiais pelas escolas americanas, e também uma aproximação não só entre os exércitos, mas também entre os oficiais, de maneira inédita, não obstante desconfianças de ambos os lados permanecessem. No entanto, a forma encontrada pelo General Marschall e o governo americano para atender ao pedido de Osvaldo Aranha a Marschall10,

no sentido de “influenciar os generais brasileiros” (Marshall Relatório em viagem

ao Brasil), resultou em uma série de acontecimentos, entre estes a ida de oficiais 9 A Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), a Guerra do Chaco (1928 e 1938), entre a Bolívia e o

Paraguai, e a guerra entre o Peru e o Equador (1941-1942) 10 General Marschall pode ter sido um facilitador da aproximação.

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brasileiros de todas as forças armadas para fazerem o Curso de Estado Maior no Fort Levenworth; a criação da Comissão Conjunta Brasil-Estados Unidos (JBUSDC), aproximação que motivou a formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB); e, por fim, o núcleo dos militares diplomados no curso de Fort Levenworth, e que serão os fundadores e o grupo catalisador da formação da Escola Superior de Guerra (ESG) em 1949, responsável pela atividade político-pedagógica da ESG nos seus dez e essenciais primeiros anos.

Com a entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1941, Góes Monteiro concordou que, se um país das Américas fosse atacado por uma nação não americana, o Brasil permitiria a utilização de suas instalações e bases pelas forças dos EUA para repelir o ataque. Após uma conferência entre países ocidentais, sediada no Rio de Janeiro, os Estados Unidos iniciaram o estabelecimento de bases navais e aéreas na costa do Brasil, em Recife e em Natal. Foi, nesta ocasião, que se iniciaram as negociações entre Vargas e os americanos para a construção do Complexo Siderúrgico de Volta Redonda, a CSN, (voltado à produção de aço), no momento em que as forças armadas se encontravam em completo estado obsoleto, necessitando de modernização.

Mas a adesão do Brasil aos países aliados só foi oficialmente decidida e determinada após o submarino alemão U-507 ter afundado cinco navios, causando a morte de centenas de marinheiros brasileiros. A repercussão negativa provocada por este ataque, e também por outros realizados por submarinos posteriormente, quando dezenove navios foram torpedeados, levou a uma grande indignação popular, o que fortaleceu a aproximação com os Estados Unidos da América. Surge, então, uma campanha nacional favorável à entrada do Brasil na Segunda Guerra, com a participação de diversas entidades nacionais, capitaneadas pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Em resposta a esses acontecimentos, o Governo Vargas decreta estado de beligerância em 22 de agosto de 1941, e estado de guerra em 31 de agosto de 1942. Nesta ocasião, Oswaldo Aranha, conhecido como pró-americano, pressionou o governo brasileiro a declarar guerra ao Eixo.

Como já dito anteriormente, um tratado de cooperação militar foi assinado em 1942, por meio da criação da Comissão Conjunta de Defesa Brasil - Estados Unidos (JBUSDC), um órgão com vários oficiais brasileiros no seu quadro, o qual favoreceu a cooperação com os Estados Unidos na causa aliada. Inicialmente o Governo Vargas e o seu Ministério da Guerra, tendo à frente o General Eurico Gaspar Dutra, sugeriram formar um grande Corpo de Exército Expedicionário, formado de uma divisão blindada e três divisões de infantaria; no entanto, a Força Expedicionária Brasileira (FEB11), que seria enviada para a Europa, envolveu a organização de uma

única divisão de infantaria e algumas unidades complementares. Ao todo, cerca de 25 mil brasileiros embarcaram para a Europa em 1944-45; a grande maioria 11 Inicialmente o governo Vargas, ao formar este corpo expedicionário, imaginava ser enviado para

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do Exército, mas aproximadamente 500 deles eram pilotos e pessoal terrestre da Força Aérea (Esquadrilha de Ligação e Observação e 1º Grupo de Caça), que serviram como uma unidade componente do 350º Grupo de Caça da United States of America Air Force (USAAF).

1.1 Os Militares Brasileiros do Forte Leavenworth

Um grupo político militar vai surgir entre uma parcela que estudou na Escola de Estado-Maior do Fort Leavnworth, no Estado do Kansas, o qual vai conviver e sociabilizar com os militares americanos, identificando-se com eles e comungando das mesmas ideias. Como exemplo dessa participação, o Tenente-Coronel Idálio Sardenberg, instrutor em Fort Leavnworth, (1943-1945), muito considerado pelos americanos, e o provável autor de um documento intitulado As razões e motivos

para a criação da Escola Superior de Guerra. Outra turma era composta por

militares da Comissão Brasil-EUA, da qual fazia parte o Almirante Benjamin Sodré (1943-1945), e, finalmente, a formada por Febianos, evento que amalgamou estes grupos, os quais,a partir de 1949, criariam a Escola Superior de Guerra (ESG).

O conflito armado na Itália deu sentido de pertencimento aos militares brasileiros e, como foi dito anteriormente, amalgamou aqueles integrantes da FEB que cursaram Estado Maior no Fort Leavnworth e participaram da Comissão Brasil-EUA. Mais tarde, eles se encontrariam na Escola Superior de Guerra (ESG). Este núcleo político FEB – ESG é essencial para o estudo da formação e organização da Escola como espaço de sociabilidade.

O terceiro grande legado que a Segunda Guerra Mundial deixou para esses oficiais foi a percepção de que um novo tipo de conflito estava bem delimitado no mundo, principalmente aquele não restrito ao campo de batalha, o novo “way

of war”. Além deste, com o impactante acontecimento de 6 de agosto de 1945, o

lançamento pelos americanos da bomba atômica sobre Hiroshima, meses após o fim da guerra, surge um novo cenário que levaria à Guerra Fria, identificada por Cordeiro de Farias, e torna-se a mola propulsora da Lei de Segurança Nacional, como ela foi inicialmente pensada:

A expressão “segurança nacional” apareceu depois da Segunda Guerra Mundial. Antes falávamos em “defesa nacional” com uma significação derivada da própria natureza da guerra, pois o confronto armado entre nações se fazia no campo de batalha e era circunscrito a áreas específicas. [...] A Segunda Guerra veio transformar esse estado de coisas, sobretudo em virtude do desenvolvimento da aviação militar. Hoje, as forças armadas são privilegiadas em relação à população civil, porque a guerra passou a atingir o país como um todo (FARIAS, 1981, p. 401).

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O período decorrente entre o término da Segunda Guerra e a volta da FEB para o Brasil foi marcado novamente por uma instabilidade na vida política brasileira, pois a base do Estado Novo tinha sido ameaçada pelo próprio esforço de enviar tropas para a Europa e pela profissionalização oriunda deste esforço. Cordeiro de Farias, após sua passagem pelos EUA e pelos campos da Itália, já apresentava uma postura política contra Getúlio Vargas. Ainda na Itália, com seu grupo de oficiais de Estado Maior, manifestou esta opinião.

1.2 Benjamin Sodré: o assistente da Marinha

A construção da Escola Superior de Guerra (ESG), a partir do estabelecimento de um espaço de convergência para a sociabilidade, constitui o objeto defendido por este artigo. Para tanto, é importante conhecer a atividade do Almirante Benjamin Sodré, cujo nome é muito pouco ou nada citado dentre as obras e os trabalhos acadêmicos sobre a ESG. O que se sabe sobre sua biografia é que Sodré nasceu na

cidade cearense de Mecejana, em 10 de abril de 1892, e seu falecimento data de 1º

de fevereiro de 1982. Em suas origens, era membro de uma família republicana e abolicionista de primeira hora, filho do General e Senador da República Lauro Nina Sodré. Na adolescência, Benjamin Sodré prestou concurso para a Escola Naval, na qual foi aprovado em 1º lugar.

Sua juventude caracterizou-se por grande intensidade nas relações sociais. Ainda na Escola Naval, Sodré recriara a associação de alunos da escola, então denominada a “Fênix Naval”. Ademais, Benjamin Sodré foi o principal responsável pela implantação do escotismo no Brasil, estando sob seu encargo, durante o período de 1915 a 1960, a publicação de uma coluna semanal na revista O

Tico-Tico, onde assinava com o pseudônimo de “Velho Lobo”. Entre outras atividades,

escrevia e orientava os diversos grupos de escotismo, respondia às dúvidas e aos questionamentos, assim como passava valores educacionais para os pais e chefes escoteiros. Empenhado nesta atividade desde aspirante12 na Escola Naval, foi o autor

do primeiro “Manual de Escotismo” no Brasil. Nos esportes, convém destacar que, somando-se ao fato de ter sido excelente atleta pela Marinha, jogou futebol pelo Botafogo do Rio de Janeiro, onde recebeu o conhecido apelido de “Mimi Sodré”. Na sua passagem pelo Clube esteve presente nas respectivas conquistas dos títulos de 1907, 1910 e 1912, sendo, mais tarde, em 1940, seu presidente. No entanto, foi no âmbito do escotismo, e também na prática da maçonaria (chegando ao posto de grão-mestre), que teve seu caráter moldado.

Durante o período da Segunda Guerra Mundial, conflito global em que o Brasil esteve diretamente envolvido (1942-1945), Benjamin Sodré tornou-se chefe da comissão de compras nos EUA, ocasião em que adquiriu armamento diretamente 12 Aspirante é o posto na Marinha que tem equivalência a Cadete no Exército e na Força Aérea, ou

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para a Força Expedicionária Brasileira (FEB), assim como para a Marinha e as demais Forças Armadas. Nesta posição, o Almirante aproximou-se do grupo da FEB que, posteriormente, fundaria a Escola Superior de Guerra (ESG), idealizada notadamente a partir de uma amizade intensa existente entre o Almirante Sodré e o General Cordeiro de Farias.

Benjamin de Almeida Sodré foi o primeiro Assistente da Marinha na ESG. Na Escola, este cargo está associado diretamente ao Comando de militares pertencentes à determinada Força Armada, neste caso, da Marinha. Era também responsável por estabelecer contatos diretamente com a Arma à qual pertencia13. O Almirante

exerceu esta função durante o período de 1950 a 1954, concomitantemente assumindo, de forma provisória, o Comando da Instituição, em substituição ao General Cordeiro de Farias por diversos momentos. O Almirante Benjamin Sodré teve uma ação bastante efetiva na ESG, cuja experiência pedagógica em formação era amplamente reconhecida, dispondo também da confiança de Cordeiro de Farias, como citado pelo General Edmundo de Macedo Soares e Silva:

Além do Cordeiro de Farias, que fundou a Escola, ainda encontrei lá muita gente interessante. O Almirante Benjamim Sodré era um dos assessores imediatos; era homem do escotismo, como tinha sido o José Carlos, que foi chefe do escotismo no Brasil. O Benjamim era inteiramente dedicado ao Brasil; tinha sido meia-esquerda do Botafogo e jogava bem. Tinha uma saúde de ferro, inteligência boa e um caráter excelente; foi um grande representante da Marinha na Escola. (HIPPOLITO; FARIAS, 1998, p. 131).

O Almirante apresentava uma preocupação com a questão da democracia, o que se torna evidente em seus escritos, onde reforça esta afirmação. No entanto, frisava que o pleno estabelecimento desse sistema político exigiria virtudes, e somente seria possível chegar-se a um patamar de desenvolvimento democrático avançado a partir de uma educação de qualidade:

Benjamim Sodré pode ser considerado o homem das redes sociais. O associativismo, como mecanismo de criação e de manutenção de redes de confiança e espaços de sociabilidade, foi uma característica constante na sua vida. Em sua biografia, registram-se a presidência da Frente de Renovação Nacional e do Centro da Comunidade Luso-Brasileira, além de ocupar o cargo de vice-presidente da Campanha Nacional de Educandários da Comunidade (CNEC).

O pensamento pedagógico do Almirante Sodré estava diretamente influen-ciado pelos princípios básicos da maçonaria e do Escotismo, considerando a educa-13 Existem ainda em 2018, assistências do Exército, da Marinha e Força Aérea e as Relações

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ção como uma jornada: “[...] é isso educar, libertar o homem desde a infância da in-ferioridade da vida, levando-o a amar impressões superiores” (SODRÉ, 1952, p.18). De sua passagem pelos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, Sodré apro-ximou-se do cientista, educador e maçom14, Vannevar Bush15. Nas conversas

reali-zadas, Benjamin Sodré compreendeu que a educação americana era tida como um dos pilares dos Estados Unidos para a formação da grande potência a qual o país havia se tornado:

Isso é fruto de prolongado labor. Vannevar Bush, eminente pedagogo americano, aludindo à educação na sua pátria diz que “a estrutura educacional dos Estados Unidos atualmente é uma aproximação, apenas uma aproximação, do sistema que Thomas Jefferson concedeu nos primeiros dias da república”. Compreendeu que para a segurança definitiva do novo Estado duas coisas se deveriam exigir: primeiro, a educação elementar em massa: segundo, a educação mais elevada, para os que lograssem a qualificação necessária, em prévia competição; ambas às expensas públicas. (VEST, 2004, p. 2)

A educação, para ele, que já se encontrava diretamente relacionada a prin-cípios cívicos e morais, graças a sua atuação à frente do movimento escoteiro, am-pliava a compreensão para uma esfera integral, que interligava valores, entendi-mento do respeito mútuo e da cidadania e o conhecientendi-mento técnico após o contato com Vannevar Bush, incluiu no seu escopo a importância da educação para uma Doutrina de Segurança Nacional.

Obviamente, o plano básico de educação nacional brasileira, à época, depa-rava-se com problemas relacionados tipicamente com aquela de massa. Vislumbra, então, Benjamin Sodré a necessidade de se produzir um livro nacional, um tanto óbvio para ele que já tinha criado um Manual dos Escoteiros, e idealizou o “Manual Básico” da Escola Superior de Guerra.

[...] adotar um “livro nacional”, (como se fora uma Bíblia) em 4 volumes destinados respectivamente a infância, adolescência, juventude e maturidade, que, constituindo uma leitura 14 Disponível em: http://freemasonry.bcy.ca/biography/bush_v/bush_v.html Acesso em: 23 mar.

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15 O engenheiro eletricista Vannevar Bush é mais lembrado por seu ensaio de referência de 1945, “As we may think”, no Atlantic Monthly, no qual ele imaginou o hipertexto tal como usado pela internet na atualidade. Bush foi nomeado presidente do Comitê Nacional de Pesquisa de Defesa no ano de 1940. Ele foi Diretor do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico em 1941. O primeiro computador analógico eletrônico, o analisador diferencial, foi desenvolvido por ele. Bush lecionou na Universidade e depois no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge. Ele também serviu como presidente de 1939 a 1955 da instituição Carnegie e presidente de 1946 a 1947 do Conselho Conjunto de Pesquisa e Desenvolvimento.

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85 uniforme, de sentido nacional, adéqua a cada fase da vida, com valores e a importância do precioso fator de unidade de sentimento moral e cívico dos brasileiros. (SODRÉ, 1952, p. 34).

Ao acreditar que a educação poderia ser um instrumento de defesa orgânica contra “ideologias estrangeiras”, sendo estas fascistas, totalitárias e antiliberais (na sua concepção, externada, mais claramente, como um instrumento marxista), nos moldes por ele engendrados, daria sustentáculo para o combate ao comunismo: “Precisamos realizar uma reação organizada; é um complemento da educação democrática necessá-ria ao nosso povo. Devemos levar a todos os rincões a perfeita compreensão do perigo que ameaça as nossas instituições e homens” (SODRÉ, 1952, p. 30).

1.3 Escola Superior de Guerra (ESG): construção pedagógica e o lugar de sociabi-lidade civil e militar

A dinâmica educacional da Escola Superior de Guerra (ESG) estava diretamente relacionada à construção de uma rede de sociabilidade e de confiança entre civis e militares, e quanto mais esta rede crescia, mais forte e ramificada ela ficava.

Para os militares da ESG não pode haver separação de desenvolvimento e defesa, sendo este o binômio básico da Instituição. Nem esses dois elementos devem ser separados das influências estrangeiras. Por esse motivo, a Escola foi também pensada para articular as três forças armadas com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), eram os diplomatas o grupo civil mais significativo que frequentou a ESG nos 10 primeiros anos, e no seu organograma está previsto quatro assistências das três forças armadas e do MRE. No entanto, o binômio desenvolvimento e defesas demandava uma interação maior com a sociedade, sendo assim, a ESG e a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) tornam-se agentes desta realização.

A Escola, ao promover uma aproximação de forma sistemática e didática, principalmente valorizando mais o trabalho coletivo do que o individual, veio sistematizar as relações civis-militares advindas das instituições citadas no parágrafo anterior. Como ficou explícito no Relatório de implantação da missão americana no Brasil: “Na Escola é usado um sistema de instrução em grupos em lugar do individual... Não há perguntas individuais, nem trabalhos pessoais. Os problemas são debatidos em grupos e os trabalhos são apreciados como solução de um grupo” (MISSÃO MILITAR AMERICANA NO BRASIL, 1948, p. 4).

O objetivo de todo processo educacional da ESG visava à promoção da integração civil-militar, e o estabelecimento de uma rede de confiança entre os mesmos. Cordeiro de Farias enxergava esta rede de amizade como algo que não se extinguia com o fim do Curso e o período de estagiário, e que a colaboração deveria permanecer após a sua conclusão. Essa ideia está na base da formação da ADESG.

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E como a palavra de ordem em todos os nossos trabalhos foi sempre a da ‘cooperação’, os vossos compromissos para com a Escola, que é um ‘centro permanente de estudo’, não devem cessar com o fim do atual estágio. Tendes de estar com ela em continuado contato, e prestando-lhe toda a assistência de sua experiência e saber (FARIAS, 1950, p. 13).

3.4 A dinâmica das conferências: quem eram os conferencistas?

A lógica didática da Escola Superior de Guerra era estruturada em conferências, que, depois de proferidas por personagens expoentes em diversas áreas de conhecimentos, ficavam gravadas, transcritas e impressas em pequenos livros, formando um grande acervo documental (prática adotada até os dias de hoje). Porém, seria interessante ressaltar que, assim como a Maçonaria em suas

instruções, todas as conferências eram classificadas como secretas, mesmo que o

tema não fosse de relevância sigilosa, e apenas estagiários ou membros do Corpo Permanente teriam acesso a elas. Essa classificação e recomendação ainda são impressas na contracapa dos livros.

Após a conferência ou uma série delas, existiam diversas temáticas, os estagiários reuniam-se em grupo e produziam documentos sobre os temas. Estes documentos produzidos pelos “T-Grups” eram classificados também como secretos16, muito desses trabalhos foram utilizados em programas de governo

durante o período de 1964 a 1985.

No entanto, dentro do que a Escola se propunha - ser um fórum de debates permanentes -, os palestrantes tinham as mais diversas ideologias e a liberdade de falar livremente, o que imprimiu um charme especial à Instituição nos seus dez primeiros anos.

Entre os conferencistas da Escola Superior de Guerra, podemos encontrar o economista Eugênio Gudin Filho, o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos, o general e também sociólogo Nelson Werneck Sodré, e o geógrafo Josué Apolônio de Castro, além do filósofo e acadêmico Belarmino Maria Austragésilo de Athyde. Uma quantidade grande de embaixadores e generais estrangeiros, políticos de diversos partidos e literatos, sendo bem diverso o escopo.

1.5 Quem eram os estagiários?

Os estagiários eram em grande maioria agentes públicos, influenciadores dos governos; a ideia de promover a interação civil-militar é demonstrada pelo levantamento de dados a partir de uma lista nominativa nas antigas fichas cadastrais, arquivadas na biblioteca da Escola Superior de Guerra, e oferecem informações 16 Os documentos começam a ser desclassificados a partir de 1974, durante o governo Geisel.

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importantes para traçar o perfil dos integrantes do Curso, no período de 1950 e 1960, portanto desde a primeira turma até a eleição de Jânio Quadros, período abrangido por este trabalho.

Pode-se observar que os estagiários desfrutavam uma boa condição econômica, a julgar pelos bairros em que residiam (gráfico 1), concentrados em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, ou bairros vizinhos a este. A grande maioria declarou residência na zona sul da cidade, tendo em vista que muitos contratavam aluguéis das residências. Outro elemento que se pode constatar neste gráfico é que os militares e os civis gozavam de uma mesma situação financeira, isto é importante, pois a sociabilidade, além de ser edificada na Escola, seria ratificada pela proximidade de moradia e de possibilidade de renda, dando oportunidade para encontros de família ou reuniões.

Gráfico 1 - Bairros residenciais dos estagiários da ESG entre 1950-1960

Fonte: ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, Banco de Dados Secretaria do Departamento de Estudos e da Memória Institucional 196[?].

Observa-se no gráfico 2 a concentração de estagiários da ESG naturais do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Explica-se em parte essa centralização ao fato dos militares do Exército e da Marinha terem nascidos nessas regiões, mas, no entanto, os estagiários da Escola têm origens diversas, de todos os cantos do Brasil; essa seleção é natural por ser uma Escola do Estado. A multiplicidade de naturalidade seria um fator facilitador para a posterior construção de uma rede associativa de

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confiança e de sociabilidade espalhada por todo o território brasileiro, que se consolidaria na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG). Essa capilaridade nacional foi muito útil na campanha de Jânio Quadros, quando Cordeiro de Farias utilizou a rede para apoiar a campanha.

Gráfico 2 - Naturalidade dos estagiários da ESG entre 1950-1960

Fonte: ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, Banco de Dados Secretaria do Departamento de Estudos e da Memória Institucional 196[?].

Embora a pretensão dos fundadores da Escola Superior de Guerra fosse pôr em prática as relações civis-militares, se for julgar pelos dados pesquisados (gráfico 3), de fato ocorreu uma concentração maior de militares, notadamente do Exército, entretanto de forma proporcional entre os efetivos das forças armadas, pois a ESG não contava ainda em seus quadros com efetivo das Polícias Militares, o que só vai ocorrer em 1970, assim como o ingresso de mulheres, a partir de 1965.

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Igualmente pode-se verificar que o grupo civil com maior presença no período estudado (1950-1960) era formado por membros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), devendo-se a isso um intenso debate sobre questões internacionais na Escola de Guerra durante o intervalo de tempo estudado. Os membros do MRE, somando com civis de outras atividades, representaram 22% do total de estagiários, algo considerável, ultrapassando o efetivo da Marinha do Brasil (MB) e da Força Aérea Brasileira (FAB) na mesma época.

A condição de formar um espaço de sociabilidade e uma rede de confiança entre civis-militares estavam estabelecidas nos primeiros anos de funcionamento da ESG, a igualdade socioeconômica e residir em localidade próxima facilitariam encontros casuais e fortalecimento de laços de amizade. A importância de se criar esses laços de confiança entre os estagiários da Escola relaciona-se com a capacidade de superar entraves burocráticos, como esclarece Cordeiro de Farias:

Ao deixarem a Escola e voltarem para suas funções nas empresas de origem, continuavam a manter contato com antigos colegas, o que facilitava o trato de muitos assuntos. Assim, por exemplo, se tinham um problema ligado a um determinado ministério, antes de irem ao ministro, podiam apelar para antigos companheiros, que o ajudariam nos trâmites burocráticos e no encaminhamento formal do pleito. (FREITAS, 1981, p. 422).

Essa rede de confiança e sociabilidade, construída pelos estagiários da Escola Superior de Guerra, encaixa-se diretamente na conceituação de Charles Tilly:

Rede de confiança são conexões interpessoais ramificadas, constituídas principalmente por laços fortes, no âmbito dos quais as pessoas dispõem de recursos e empreendimentos valiosos, importantes e de longo prazo, que, de outro modo, escapariam sujeitos a malfazeres, erros e falhas. (TILLY, 2016, p. 53).

Na verdade, o estagiário, ao sair da ESG, constituía uma comunidade praticamente independente, que atuava em um espaço social especial, no trâmite da coisa pública em uma esfera não oficial.

1.6 Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG): a rede de sociabilidade e máquina de hegemonia da ESG

Como já mencionado nos capítulos anteriores, o Almirante Benjamin Sodré era um exímio elemento aglutinador e formador de redes de sociabilidade na Escola Superior de Guerra. Inspirado primordialmente pela sua experiência militar, maçônica e, principalmente, escotista, ele acreditava na necessidade da formação

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de alicerces sociais que fossem pautados na transmissão de valores morais, cívicos e de deveres com a pátria, a sociedade, a família e religião, independente de qual fosse o credo.

Dessa construção de valores de pátria, honra, dever e disciplina, Sodré reunia elementos que eram comuns às três agremiações, pois a maçonaria, o escotismo e o militarismo possuíam muitos aspectos de similitude, especialmente na busca pelo aprimoramento da virtude humana, algo que o Almirante depositava sua crença. De fato, para ele, era primaz a busca pela congregação de indivíduos que compartilhassem de um mesmo ideário de nação, de ideologia e de sociedade. Como fala Cordeiro de Farias no seu discurso de encerramento da primeira Turma de estagiários da ESG:

E como a palavra de ordem em todos os nossos trabalhos foi sempre a da “cooperação”, os vossos compromissos para com a Escola, que é um “centro permanente de estudo”, não devem cessar com o fim do atual estágio. Tendes de estar com ela em continuado contato, e prestando-lhe toda a assistência de sua experiência e saber. (FARIAS 1951, p.51).

Assim, seriam formados aqueles indivíduos egressos da ESG, os então integrantes da Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

O diplomado pela Escola Superior de Guerra, como já comentado anteriormente, era instruído na Instituição para tornar-se um pensador sobre a realidade brasileira, plenamente consciente das questões de maior urgência e relevância que mereciam ser discutidas e difundidas.

Ele teria como atribuição também contribuir para a construção do ideal de nação na concepção elaborada pela Escola, sendo seu dever propagar esses ensinamentos no seu ambiente diário, na família, nos clubes e demais círculos sociais. A importância do estabelecimento de redes de sociabilidade tornava esse esforço em difundir os ideais e os projetos nacionais muito mais efetivos e eficazes.

A ADESG, neste sentido, serviria como um trabalho complementar da ESG, e os estagiários deveriam, como princípio fundamental, conceber interpretações homogêneas sobre os períodos políticos que estavam vivendo (à época da fundação da ADESG, seriam os anos 1950). Ultrapassada essa etapa, os diplomados constituíram um grupo que seria consolidado como órgão auxiliar da Escola Superior de Guerra, com a função fundamental de manter coesos os setores da elite egressos da Instituição. Tal procedimento viria ao encontro da concepção da ESG, que pretendia tecer essa rede de influência e sociabilidade, como se estivesse unida umbilicalmente ao objetivo de efetivar um plano de ação conjunta e hegemônica entre as elites militares e, especialmente, civis para a elaboração e implementação de um Projeto Nacional.

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A presença das elites civis era um fator que legitimaria o propósito da institucionalização da ESG.

1.7 Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG): modelo de rede social

As regionais da ADESG, por meio de suas representações e delegacias, começaram a realizar encontros semanais, como ocorre em lojas maçônicas, e promover reuniões com as sociedades locais, os quais acabaram tornando-se cursos chamados Ciclo de Estudos entre Política e Estratégia (CEPE). Estes cursos desencadearam uma divulgação efetiva do pensamento e da forma de planejamento da Escola Superior de Guerra em todo território nacional, formando e sociabilizando empresários e militares de todos os segmentos; onde houvesse uma representação, surgia uma nova figura, o Adesguiano, o diplomado da ADESG. Nos registros da ADESG Nacional 150 mil pessoas fizeram cursos na Associação durante o período 51-61, algo a ser considerado.

A dinâmica simbólica da ADESG cria em seus membros um sentimento de pertencimento, advindo da noção de grupo causada pela sociabilidade fomentada em suas reuniões e cursos, todas as representações organizam excursões denominadas “viagem de estudo” para a ESG17 e outros locais de interesse

nacional.

Mesmo sendo uma entidade civil, nenhuma representação da Associação quer perder a referência com a Escola Superior de Guerra, portanto,membros do “Corpo Permanente” da Instituição ministram diversas conferências nas regionais da ADESG por todo o território brasileiro.

A ADESG Nacional resolveu criar delegacias e representação em outros países, principalmente nos de língua portuguesa, como um “soft power”, e expansão da influência da Escola fora das fronteiras nacionais, porém, a única criada foi a ADESG Portugal.

1.8 Com a Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), a Escola Superior de Guerra (ESG) torna-se nacional

A ideia da formação de um grupo de diplomados esguianos, que teriam como papel social a incumbência de serem multiplicadores da doutrina da Escola Superior de Guerra (ESG), viria a ser um auxílio na concretização dos objetivos da Segurança Nacional: instruir pessoas-chave no processo de difusão dos conhecimentos estratégicos apreendidos e debatidos na Escola. Essa necessidade de se estabelecer um vínculo entre a Instituição e seus egressos seria uma das formas de contornar o problema da questão geográfica do Brasil, pois as dimensões quase continentais do país e a imensa 17 Visitam as instalações, assistem à palestra sobre a Escola, almoçam em suas dependências e

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extensão territorial tornavam-se um impasse, um obstáculo à propagação da ideologia vigente do Estado brasileiro às regiões mais distantes da nação.

Aos oriundos da ESG, principalmente os militares – cuja mobilidade pelo território nacional é considerável, pois muitos são transferidos para regiões longínquas de suas cidades de origem, e já faz parte da rotina da carreira a constante mudança de cidade – era de interesse que estivessem permanentemente vinculados à Escola Superior de Guerra por meio da ADESG. Dessa forma estabeleceriam um vínculo com a Instituição que perduraria mesmo com a distância, constituindo outra rede de sociabilidade, a qual se multiplicaria em número de indivíduos à medida que os recentes egressos fossem formados pela ESG e se associassem ao grupo dos diplomados dando continuidade aos princípios apreendidos e estabelecendo uma troca de experiência e conhecimento, além do apoio que os demais colegas esguianos pudessem oferecer uns aos outros, fazendo desta rede de sociabilidade também uma multiplicadora de informações e conhecimento.

À proporção em que outras necessidades ou questões relevantes fossem levantadas, a rede de sociabilidade serviria para atualizar os associados sobre as diretrizes e manter a rede de egressos sempre coesa ideologicamente em relação aos propósitos fundamentais da ADESG. Mais uma vez relembra-se o nome do General Golbery, que endossa o discurso de nação e nacionalismo verdadeiro, aquele que se sobrepõe a todo e qualquer interesse ou ideologia considerados nocivos à coletividade e ao estabelecimento da plena coesão nacional.

A ESG foi idealizada com a função de ser um instrumento de projeto estratégico, por isso a necessidade de redes de sociabilidade bem coesas e convergentes, de forma a engajar toda a sociedade, as instituições e os recursos da nação e, para tornar essa ideia viável, contava-se com o apoio dos diplomados da Escola em todo o território nacional. Assim, representando a sua respectiva região dentro do escopo da metodologia apreendida na ESG, os associados forneciam elementos à Escola que contribuíam para o mapeamento social e econômico de cada uma delas, bem como os potenciais de exploração de recursos, de desenvolvimento industrial e, principalmente, do desenvolvimento intelectual.

Dessa maneira, o associado diplomado da Instituição estaria, em âmbito nacional, sendo um veículo para a propagação da doutrina da ESG, além de ser um observador das realidades regionais de seu local de residência, colaborando para a elaboração de um grande arquivo de informações relevantes e estratégicas sobre as potencialidades do Brasil.

1.9 Escola Superior de Guerra (ESG) como modelo

A ESG foi, para os seus associados diplomados, uma referência de metodologia para a construção do conhecimento sobre a nação. Pelo próprio slogan

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da Instituição “Nesta casa estuda-se o destino do Brasil”, nota-se essa característica marcante da Escola: ser um centro de estudos dirigidos à elaboração de estratégias para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Portanto, as pessoas públicas, ligadas à política, buscavam na ESG aprimorar seus conceitos sobre a região em que atuavam, apreender o método utilizado pela Escola para a elaboração de teses, artigos e documentos e compreender a importância do trabalho estruturado em redes. Todo este conjunto de itens fez com que a atividade metodológica da Instituição tivesse êxito quanto à abrangência territorial, uma vez que era desafiador difundir as doutrinas por um território tão vasto como o Brasil.

É interessante notar que a estrutura de relacionamento em redes teve um papel preponderante no estabelecimento deste modelo seguido pela ADESG, mostrando que as ações integradas e articuladas são eficazes não apenas sob o ponto de vista metodológico, mas também estratégico, tornando-se um diferencial positivo na elaboração dos planos de segurança nacional. Os diplomados esguianos, por manterem-se vinculados à ESG, continuariam a estabelecer contato com a fonte de conhecimento e de informações que, para eles, já era referência, e, assim, a cadeia de circulação de dados relevantes em rede seria sempre alimentada pela continuidade do trabalho pelas regionais da ADESG, além do aumento de associados a cada ano, que se somariam gradativamente a essa estrutura de sociabilidade.

Ao se falar da existência dessa relação visivelmente estrita e articulada entre a sociedade civil (em maior proporção elitizada e burguesa) com os altos escalões das Forças Armadas, a princípio não parece ser coerente a união estratégica e cooperativa entre as duas partes. A elite burguesa, que estaria buscando o pleno desenvolvimento econômico e democrático, não se assemelhava com a mesma que apoiaria a instauração de ditaduras militares, não só no Brasil, mas em todo o Cone Sul, entre as décadas de 1960-70. À primeira vista as ideias tinham um viés antagônico com os princípios que a burguesia teria procurado em fontes diversas, até mesmo na própria maçonaria, a qual não se mostrava cerceadora de direitos individuais, civis ou mesmo a liberdade de expressão.

2 A MÁQUINA DE HEGEMONIA

O objetivo de promover uma relação de aproximação entre militares e civis em todos os estados da Federação, assim como criar uma rede de confiança nacional funcionando como um partido sem legenda, ou uma organização suprapartidária, com grande poder de mobilização nacional, levaria a Escola a uma situação hegemônica na formação de quadros nos níveis municipais, estaduais e federais, e, o mais importante, à criação de uma rede de confiança entre membros destas esferas, favorecida pela sociabilidade e sentimento de pertencimento gerado na ADESG.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ESG e a ADESG comportavam-se de maneira autônoma em relação aos partidos políticos. A ADESG difundia o pensamento da ESG, arregimentava novos membros em seus cursos de capacitação (Cursos de Estudos Política e Estratégia), e divulgava uma doutrina de segurança nacional, um pensamento liberal de desenvolvimento e de crescimento nacional. No entanto, não existia uma vinculação

com nenhuma agremiação. Mesmo próxima de membros da União Democrática

Nacional (UDN), e do forte engajamento da ADESG na campanha de Jânio Quadros para presidente da República, essa Associação nunca se constituiu em um partido, o que lhe garantia certa liberdade política. Embora nunca tenha se afastado de um pensamento liberal, como consta nos manuais e, apesar de não ser partidária ou se configurar como uma legenda política, as regionais da ADESG não poderiam ser consideradas menos políticas do que se efetivamente fossem partidos políticos, tendo em vista que em seus quadros tinham muitos políticos e funcionários públicos dos três poderes com forte influência na condução do Estado.

A ideia de pertencimento e a compreensão da ESG, divulgada em suas publicações, de uma doutrina social, muitas vezes quase dogmática, fizeram com que as regionais ADESG a replicassem em diversas esferas.

A Escola Superior de Guerra (ESG) é uma instituição ímpar na história do Brasil, objeto de diversos artigos e teses, em um campo amplo do conhecimento, em todos os seus quase 70 anos de atividade. Desde que, em 1949, iniciaram-se os projetos para a sua fundação, escreve-se sobre ela. Na realidade, a ESG é tema de estudo complexo, um lugar de interseção de diversas questões controversas, não podendo ser interpretada ou analisada apenas por uma perspectiva, por ser uma entidade plural deve ser estudada por uma ótica multirreferencial.

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Imagem

Gráfico 1 - Bairros residenciais dos estagiários da ESG entre 1950-1960
Gráfico 2 - Naturalidade dos estagiários da ESG entre 1950-1960

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