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Maria de Fátima da Câmara Ribeiro dc Medeiros DO FRUTOA RAIZ

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(1)

Maria

de Fátima da

Câmara Ribeiro

dc

Medeiros

DO

FRUTO

A

RAIZ

l

MA

INTRODl

CÂO

ÅS

HISTÔRIAS

MARA

VILHOSAS

DA

TRADIQÂO

POPULAR

PORTUGUESA

RECOLHIDAS E RECONTADAS

POR

A\A DE

CASTRO

OSÔRIO

Í!

Faculdade de Ciências

Sociais

e

Humanas

UNIVERSIDADE

NOVA DE

LISBOA

(2)

LL

11

'!. 7 M

ERRATA

pp. L. ONDE SE

DEVE LER-SE

10 S quanto

quando

16 25 ncnhum ncnhuns

17 17 scus scu

20 19

(. ]cstar

comclc

[...]

estarcomclc. Para V.M

Aguiar

c Silva

19 25

conquista

conquislas

44 H) le\aram-na levou-a

45 5 com como

69 14 Ataudc Ataídc

71 14

[...]comoaneve(C109)

[...1

como aneve" (C109)

S2 16 Somonsen Simonsen

107 9 Somonscn Simonsen

124 17

[

Jparccc

cstar

ligada

[...]

pareccmcstar

Iigadas

130 8 ouve houvc

141 10 alinunar alumiar

192 2 pp 125-125 pp. 125-133

210

(3)

Maria de

Fátima

da

Câmara Ribeiro

de

Medeiros

DO FRUTO

Â

RAIZ

l MA INTRODl

CÃO

AS

HISTÔRIAS

MARA VILHOSAS

DA

TRADIQÂO

POPULAR

PORTUGUESA

RECOLHIDAS E RECONTADAS

POR

ANA DE

CASTRO

OSÔRIO

Disserta^ão

de Mestrado

em

Literatnra

Comparada

Portugnesa

e

Francesa

Séculos

XIX

e

XX

(4)

Nota de

Agradecimento

_._

Introducão

7

1. O

Porquê

deuma Escolha 7

2.

Delimitacão

do

Corpus

9

Parte I

1.

Literatura

Infantil:

Clarificacão

de um

Conceito

1 ]

1.1. A

Questão

da

Terminologia

1 1

1.11.

Quem

Defende o

Qué

1 \

1.2

OConceito

de

Literatura

Infantil 13

1.3 Um

Destinatario muito Particular:

a

Crianca

17

1.4 0

Autor/Contador

22

Notas 24

2.

Seculo XIX,

um Seculo

de

Mudanca

27

2 I

Leiturae Hábitos

Burgueses

27

2 2. A

Geracão

de

70 e a

Literatura Infantil

30 2.2.1. Dos

Intelectuais

de 70 ás

Geracôes

Seguintes

2.3. O

Tempo

das

Liĩeraturas

Esquecidas

ou

Marginalizadas

2.4

Herancas

da

Etnografía

33

2 4 1

Relacôes

entre 0

Oral.

0

Escrito

eo

Infantil

34 2 4 2. O

Tradicional.

Raiz e Humus do

Infantil

37

Notas 33

Parte II

I.

OsContos

"Tradicionais,,

de Ana de

Castro

Osôrio 42 11 Ana de

Castro

Osôrio,

Escritora

para a

Infância

42 1.2.

"'Uma Obra

paraa

Eternidade

do

Sonho"

44

1.3. 0

Co/'/w.y

Trabaihado

50

14.

Entreo(s)

Fruto(s)

eaís)

Raiz(es)

53

1.4 1. A Raiz Literaria das Histôna

Marmilhosas

56

1.4 2 As Histôrias

Maravilhosas

e a Literatura Tradicional

Portuguesa

. 61 1 4.2. 1 De «0

Principe

L'rso

Doce de

Laranja»

å

«Historia

Maravilhosa do

Pnncipe

Urso Doce de

Laranja»

67 1.4.3 Do

Tradicional

ao

Literário:

Marcas

de

um

Percurso

76

Notas 80

2. Um Mundo Maravilhoso

å

Nossa

Espera

86

2 10 Falare o Saber

Popular

87

2.2 "Era uma Vez" 89

2 3.

"Seja

Deus

Louvado.

Estao

Conto

Acabado" 91

2 4. "Corria o

^€^^0"

93

2.5. "Numa Terra que não Vem para

Aqui

Dizer

o Nome"

Lugares

Habitados

95

2 5 I. Os

Espa^os

Naturais 97

2.5 2. O Jardim 99

2.5 3.

Espagos

íntimos 100

2.5 4.

Hspacos

de

Sociabilidade

104

(5)

4

2.5.6. Da

Cidade

do

Diabo

a

Torre

da Ma

Hora:

os

Espacos

Maravilhosos 105

2.5.6.1.

Os

Objectos Mágicos

106

2.6.

Personagens

1 12

2.6.1. As

Personagens Mágicas

1 14

2.6.1.1.

0 Maravilhoso

Cristão

1 19

2.6.2. As "Humanas

Criaturas,,

120

2.6 2.1.

Lagos

de Familia

124

2.6.2.2. As

Personagens

e 0 seu

Enquadramento

Social

127

2.6.3.

Vestuário

e

Adornos

129

2.6.4. Os

Animais:

Eternos

Companheiros.

Seculares

Inimigos

131

Notas 135

3.

Os Grandes

Temas da

Literatura Tradicional

e as

Histôhas

Marmilhosas

... 138

3.1.

Sabores

138

3,1.1.

Xheira-me

Aqui

a

Carne Humana":

a

Devoracão

143

3.2. 0

Animal Noivo

145

3 2.1.

Casamento, Amor,

Sexualidade

149

3.3.

Crueldade

e

Violência

155

3.4. A

Viagem

160

3.5. A

Simbologia

dos Números

164

3.5.1

Numero

Três 166

3.5.2. Numero Sete 168

3 5.3

Numero

Doze 169

3 5.4.

Numero

Quinze

170

3.5.5

Nûmero Dois

170

3.6. Presentes 171

3.7.

Super-homens

173

3 8.

Metamorfoses

175

3.8.1. Estatuas

de Pedra

177

3.9. Tarefas Iniciaticas 180

3.10.

Interdicôes

e

Transgressôes

183

3 11. O

Engano

185

3.12.

"Jogar

os

Jogos

da Vida

187

3.13. Vicios e

Virtudes.

Públicos

e

Privados

190

Notas 192

4.

Abandonando

as

Marcas da

Tradi^ao

196

4.1. A

Educacão

e os seus

Agentes

196

4 2 Ler. Escrevere

Contar Contos

197

4.3

Marcasde

outras

Narrativas

200

4.4. Marcas

da Narradora/Autora

201

4.5.

Atenuagoes

e

Simplifícac,ôes

207

Notas 210

Conclusão

213

Notas 219

• Anexos 221

1.

Apêndice

Biobibliografíco

de

Anade

Castro Osorio

222 2. Grelha

de

Contos-tipo

Utilizados

na

Análise

Comparativa

226

(6)

NOTA DE

AGRADECIMENTO

Este trabalho

não

teria

sido

possível

sem a

colaboracão

de várias

pessoas,

mestres.

família.

amigos.

que

sempre

se

disponibilizaram

para

me

ajudar,

mesmo

quando

essa

ajuda

se

revelou

um

incômodo

para

eles.

Para

todos

a

minha

eterna

gratidão

e a certeza

de que.

sem o seu

apoio,

este

trabalho

nâo tena

sido

possível.

E

justo refen-los

aqui

e

agora.

Em

primeiro lugar.

quero

agradecer

å Pr1.

Df. Ana Paula

Guimarães.

por

ter

acehado

onentar esta

disserta^ão

e

por

me ter

permitido

o

convívio

com a

literatura tradicional oral. mostrando-me

como esta e a

literatura para

a

infåncia

se encontram.

Pelo muito que

me

ensinou,

pelas

suas

palavras

de

confían^a

e

estímulo.

pelas

críticas,

pelo

interesse

com

que

sempre

acompanhou

a

redac^ão

deste

trabalho.

um

muito

obrigada

do

mais

fundo do

meu

coracão.

Quero

também

agradecer

de

fonna

muito

penhorada

å

Prof

.

Df.

Isabel

Cardigos.

Por

todas

as

ajudas

que

me

deu.

das

conversas

que

tivemos

ao

material

bibliográfico

que

me

facultou,

pela disponibilidade

com

que

sempre

me

acolheu,

pelo

muito que também

me

ensinou,

um

bem

haja

muito

grande.

Não posso também deixar de expressar

o meu

agradecimento

å Df.

Aliete Galhoz

e

å Dr1. Isabel de

Mendon^a

Soares

pela

dispombilidade. pelos

conselhos

e

sugestoes,

pelo

material

bibliográfico

-

de difícílimo

acesso

-que

puseram

nas

minhas

mãos;

ao

Dr.

Rogério

Moura,

pelo

gesto

generoso de

me

emprestar.

pelo

tempo

que

precisasse.

os

dois volumes das

Htstôrtas

Xíaravtlhosas.

que formam

o

corpus estudado

ao

longo

deste trabalho. Sem

o

seu

precioso empréstimo.

aceder

aos contos tena

constituído

uma

tarefa muito

mais difícil.

Um

agradecimento

profundo

ao

Manuel,

ao

Nuno,

ao

Damião

e

å Ana.

quendos companheiros

do

meu

dia-a-dia.

pela paciência,

pela

toleråncia.

pelo

estimulo que

me

deram,

não

permitindo

nunca

que

em

mim

houvesse

lugar

para

(7)

6

Manuel

e ao

Nuno

pelas

leituras

feitas.

que muito

ajudaram

a

retirar

impurezas

a este texto.

A

minha

gratidão

vai também para

os

functonários

da Biblioteca

Nacional,

da Biblioteca da Faculdade de Ciências Sociais

e

Humanas da

Universidade

Nova

de Lisboa

e

para

os

directores do Centro de

Tradi^ôes

Populares Portuguesas.

que

me

ajudaram

na

pesquisa

e me

pennitiram

o acesso a

todo

o

material que

pretendi

consultar. Não esqueco também todos

os

amigos

que

ao

longo

destes

meses me

dingiram palavTas

de ånimo

e me

incentivaram

a

seguir

em

frente.

(8)

INTRODUCÃO

1.

O

PORQUÊ

DE UMA

ESCOLHA

0

presente

trabalho

vai

debru^ar-se

sobre

um

tipo

de

literatura

pouco

estudado

nas

universidades,

a

literatura

para

a

infancia.

ou

melhor,

vai

abor-dar

um

conjunto

de

textos

escritos expressamente

para

a

ínfância

cuja

impor-tância

para

a nossa

literatura é

considerável,

apesar

do

esquecimento

a

que

têm

sido votados. Considero-os

importantes

para

a

histôna da literatura

portuguesa

pelas

razôes

que passo

a

expor:

em

pnmeiro

lugar

porque entendo que é

impor-tante trazer

até å

universidade

esta

literatura

específica.

tantas vezes

esquecida

ou

menonzada,

arravés

de

alguns

dos

seus textos

mais

antigos

e

decisivos paia

a sua

consolidagão

como

género

autônomo

entre

nôs.

Em

segundo

Iugar

por-que.

mesmo

quando

travava outras

batalhas.

a sua autora.

Ana

de Castro

Osô-no. nunca

abandonou

este

projecto.

ocupando-se

dele

com

empenhamento

mili-tante

desde

a

juventude

até

ao

fun da vida.

o

que

mostra como estava convicta

da necessidade de criar

um

conjunto

expressivo

de

textos

literános

cujo

desri-natáno

específico

fosse

a

crian^a.

Em

terceiro

lugar

porque

o

corpus que

vai

merecer a

minha

atencão

constitui

o

pnmeiro

conjunto

de

textos

infantis

de

autor

onde

assumidamente

se

procurou

a nossa

identidade

enquanto

povo.

re-tomando

temas e motivos

tradtcionais. Estes

contos

têm

como

substrato

a

litera-tura

tradicional.

popular

e

oral.

A

contamina^ão

entre o

tradicional

e o

infantil

teve entre

nôs

o seu

modelo

inaugural

nestes textos.

Depois

de Ana. muitos foram

os escntores.

mais

ou menos

consagrados.

que. a

partir

da

tradi^âo

oral. criaram

o seu umverso

ficcional para

a

crianca.

A

literatura

para

a

infância vive

em

grande

parte

da

permanente

contaminagão

com o

tradicional,

com os seus

motivos.

com as suas

personagens

tipificadas.

com as suas marcas e os seus

valores fundamentais.

Mesmo

quando

o seu

ima-ginano parece

partir

de

tempos

e

mundos

por

vir,

está

um

indício,

uma

refe-réncia.

um

mocius

operandi

da

tradÍQão

oral.

É

esse

substrato

que

lhes confere

o

(9)

s

contos

que

escreveu a

partir

de nanativas

da

tradi^ão oral,

que foi recolhendo

ao

longo

dos

anos

directamente da boca dos informantes. Trata-se afinal da

re-escnta

literána de

textos

que

venceram o

tempo

através

da

memôna

de

um

povo. Vou

enquadrá-los

na

perspectiva

do

maravilhoso,

tentando

relevar

a

aproximacão

entre o

tradicional

e o

infantil. tendo

como

plano

de

fundo

os textos

incluidos

na

colectânea de Leite de Vasconcellos

e

algumas

outras

co-leccôes

de literatura tradicional consideradas também

importantes.

A

exemplo

do que

acontecera noutros

países.

também nôs.

a

dado

momento.

sentimos necessidade de ir beber

a essa

fonte

de

tantos

ensinamen-tos,

forma

pnmeira

de

contar

histônas.

tâo

prôxima

das

nossas

raízes

e

do

nos-so

coracão, que

é

a

narrariva oral.

Aos

românticos

e

âs

gera^ôes

seguintes

se

deve

a

incorporagâo

no nosso

corpus

literário de

textos

ouvidos

a

contado-res,

cantadores de histônas

ou

recolhidos

em

velhos

nobiliános quase

esqueci-dos.

Como

autora

de literatura

infantil.

Ana de

Castro Osôrio

não

fugiu

a esse

chamamento,

pelo

que é

importante

estudá-la tendo

em conta este

aspecto.

Considero

as nanativas orais como

referências

matnzes

importantissimas

para

a

literatura

infantil,

pelo

que.

ao

propor-me

estudá-la.

não

posso esquecer

as

rela-côes

textuais existentes

entre

elas.

Antes

de

qualquer

outro

tipo

de

abordagem

é

fundamental

a

reflexão sobre

esta

relacâo.

Esta

dissertagão

de mestrado terá

portanto

como

propôsito

analisar

os

contos

infantis

de raiz tradicional

escntos

por

Ana

de Castro Osôrio.

cotejando-os com as

diversas raizes

que

os

alimentam,

sem

perder

de vista

que

são textos

de

literatura

para

a

infância. Procurarei encará-los

como um

todo,

um

universo

de onde

se

destacam personagens. ambientes. espa^os

e

atmosferas.

motivos.

objectos

e

tonalidades caracteristicas da

tradi^ão

oral. lado

a

lado

com

alguns

tra^os

onginais

e com

elementos herdados dos

contes

de

fées

literários do

ilu-minismo francés.

Antes

disso.

contudo. irei

clarificar

algumas

questôes

de

carácter

geral

Iigadas

á Iiteratura

para

a

mfância.

Tal

clanfica^ão

parece-me

tmportante

para

(10)

pensamen-to a

partir

deles.

Come^arei

por

aflorar

a

questão

da

terminologia. passando

de-pois

para

a

explanagão

do

meu

conceito de literatura infantil

e

reflectirei

um

pouco

sobre

o seu

destinatáno

preferencial

e o

nanador/contador. Num

segun-do

momento,

parece-me

fundamental

tentar

compreender

o

porquê

do

cresci-mento

da leitura

e

do

aparecimento

da literatura infantil

na

segunda

metade

do

Século XIX.

relacionando

esse

aparecimento

com a

atencâo

dada

â

literatura

tradicional

oral,

uma

das

raizes

deste

tipo

de literatura infantil.

Finalmente

che-garei

aos textos

de

.Ana

da

Castro

Osôno.

2.

DELIMITACAO

DO

CORPUS

O corpus que

me

proponho

trabalhar é

composto

por 70

contos.

que

in-tegram

dois volumes

íntitulados

Histôrtas Maraxilhosas

da Tradicão

Popuiar

Portuguesa.

num

total

de 956

páginas.

editados

na

decada de

cinquenta

pela

Sociedade

de

Expansão

Cultural

e

que

compilam

na sua

quase totalidade

ver-sôes

literánas

de

textos

da

tradi^ão

oral.

escntos a

partir

de

1897

e

publicados

em

pequenas brochuras

ao

longo

dos

anos.

A

análise

que

me

proponho

levar

a

cabo

nâo

pretende.

contudo.

ser um

estudo

comparativo

onde

a

cada passo

se

pesa isto

em

relacão

âquilo.

Procura-rei

entender

os setenta contos na sua

globalidade,

como um

todo.

encontrando

e

ligando

os

múltiplos

fios

que perconem

as

diversas nanativas

e

fazendo

a

aná-lise dos

seus temas e

motivos tendo

como

enfoque

vários modelos teôricos.

que

estão

presentes

nestes textos os

grandes

temas universais

abordados

pelos

contos

tradicionais.

tentarei

ver

até que

ponto

a autora os

aborda.

procurando

defini-los

no

ámbito das Histôrtas Mara\-tlhosas. Todo

o

percurso de

um

géne-ro - o conto -

será

(11)

I!)

Como

entendo

que

a voz

da nanadora/autora

se

faz

sentir como se

de

uma

contadora

de

histôrias

se tratasse.

chamar-lhe-ei

habitualmente

narrado-ra/contadora. até porque

estes. como outros textos

infanris.

tanto

podem

ser

lidos

por cnan^as

como

por

adultos

que.

em voz

alta.

como o

contador. lêem

(contam)

as

histôrias

aos

mais pequenos. Estes recebem-nas,

portanto.

em

grande

parte.

como

ouvintes. Parto

pois.

do

pnncípio

de que

estes contos

foram

escntos

para

serem

lidos

ou

ouvidos por

um

nanatário que denominarei

de

Iei-tor/ouvinte.

Por

outro

lado.

quanto

me

referir

aos textos

infantis

cujo

substrato

é

a

literatura

tradicional oral chamar-lhes-ei

contos

infantis de

raiz

tradicio-nal

Por

uma

questão

de

facilidade.

sempre que

me

refenr

a estes contos na

sua

globalidade

evitarei

reproduzir

o

titulo

na sua

totalidade,

por

ser

demasiado

extenso.

reduzindo-o

apenas

a

Historias Maravilhosas.

Sendo,

pois.

o

objecto

deste

trabalho

o

estudo

das Histôrias

Maravilho-sas

da Tradicão

Popular

Portuguesa,

recolhidas

e

contadas por Ana

de

Cas-tro

Osorio,

a

partir

das

suas

raízes. convém.

antes

de

mais,

clarificar

o

(12)

PARTE I

1.

LITERATl

RA

INFANTIL:

CLARIFICACÃO

DE

UM

CONCEITO

1.1.

A

QUESTAO

DA

TERMINOLOGIA

A

detenninacio

da

termmologia

a usar no tocante

å

literatura

para

a

in-fåncia

tem

levantado

alguma

controvérsia. Escolher

e usar um

"'rôtulo"-

atnbuí-vel

a um

tipo

de

literatura

que

tem como

destinatário

privilegiado

a

cnan^a

ou o

jovem

não

tem

sido

pacííico.

Encontrar

um termo

abrangente

que

"não

falseie

a

materia por ele

^0^63^3"'

e

permita

0 consenso entre os

investigadores,

é

uma

tarefa que

tem

vmdo

a ser

realizada,

mas sem sucesso

å

vista.

Literatura

infantil,

literatura para

a

ínfância,

literatura para

criancas.

lite-ratura

para

ajuventude.

literatura para

cnan^as

e

jovens,

tem

sido

a

terminolo-gia

mais usada. Há quem

opte

ainda por nomeacôes

com

laivos

de

paternalismo

como

"livros

para

os

mais

pequenos"

ou

'Tivros para

os nossos

filhos".

1.1.1.

QUEM

DEFENDE 0

QCÊ

A

investigadora

brasileira

Nelly

Novaes

Coelho.

numa nota a

abnr

a sua

Literatura

Infantil. explica

como

resolveu

a

questão

da

terminologia:

"Para facilitar a

exposicio

de

ideias,

usaremos o rotulo

geral

Li-teratura

Infantil

ou

Infantil Juvenil

para indicar tanto os livros

infantis

(destinados

a

crian^as

até 9/10 anos de

idade).

como os

infanto-juvenis

(para

a meninada entre os 10/11 anos até aos

13/14

anos)

e os

juvenis

(para

adolescentes a

partir

dos

14/15

anosf2

Daí

usar maiontanamente 0

rátulo "literatura

mjdnttr

nas suas

diversas obras.

Ourro

tanto

faz Jesualdo que

opta

por

este

rôtulo

sem

sentir necessidade de

jus-tificar

ou

exphcar

a sua

opC/ão.

Esta

expressão

aparece também

em textos

de

Regina

Zilberman.

Mana Lúcia

Amaral. Fúlvia

Rosemberg.

Soledade Martinho

Costa. Maria

Laura Bettencourt

Pires.

Antônio Manuel

Couto Viana

ou

(13)

12

usada por

Henrique Marques

Júnior

no

Iívto

Algumas Achegas

para

uma

Btbliograjia

InJantiL

texto

publicado

em

1928

e

obra

pioneira

dos estudos

portugueses

de

literatura

para

a

infância.

Natércia

Rocha

prefere

a

expressão

"literatura

para criancas\ tal

como

Mana Luísa Sarmento de Matos

e

Rui

Marques

Veloso. Maria Emília

Tra^a

e

Marta

Martins

usam

ambas

as

denomi-na^ôes.

Violante Florêncio

prefere

"literatura

para

chancas

e

jovcns'

e

José

Antônio Gomes "hteratura para

a

injancicf^.

Esta

questão

não

se

reporta

apenas

a

ensaios

escntos em

língua

portu-guesa.

quer

nacionais.

quer

brasileiros. Numa breve vista de olhos

pelo

panora-ma

ensaístico

francês, verifica-se

que

Denise

Escarpit prefere

"littcrature

d'enfance

et

dejeunessc"

enquanto

que

Isabelle

Jan

e

Marc

Soriano

optam

pela

expressão

"Itttérature

pour

la

jeunesse^.

De que

tipo

é

a

carga semântica

que

o

adjectivo

infantil

passa para

o

le-xema

literatura40

Consultando

alguns

dicionános da

língua

portuguesa

venfica-se que,

como

primeira

acepcão, ^tnJanttF

significa

tCde,

ou

relativo

a. ou

prôprio

da

iníãncia.

de

criancas,,:>

"proximo

da

crianga

ou a ela

respeitante^

Infantil

é

portanto

tudo

aquilo

que diz

respeito

å

crian^a,

que é

relativo

å

in-fancia.

E

a

palavra

crtanca e

tudo

o

que

ela

comporta

é

válido

em

oposicâo

a

tdade adulta

(adiante

falarei

com

mais

detalhe do destinatário

privilegiado

desta

literatura).

Portanto.

literatura infantil

é

aquela

que

se

destina â

infån-cia.

Estão

automaticamente

afastados do

conceito os

significados

de

"puenT.

~tslmples",

ou

"tolo,, que

o

adjectivo

tnfanttl

também

comporta

e

que

ao serem

usados

em

relacão å literatura

para

a

infancia,

são-no apenas para

a menonzar.

para

tentar

relegá-la

para

um

limbo

literáno de onde

sairá

se

mudar de

esta-tuto.

(14)

pré-adolescentes

ou

adolescentes

não

precisarei

de

usar outra

tenninologia.

To-davia.

não

rejeito

designacôes

como

Itteralura para

a

juventude

ou

literafura

para jovens

e

poderei

vir a

usá-las

se o

considerar necessáno. As

restantes

so-lu<?ôes

atrás

refendas

estão

fora das minhas

opgôes.

No

entanto tomo como

mi-nhas

as

palavras

de Rui M. Veloso

quando

afirma

que

este

é

um

falso

proble-ma.

pois

o

que

ínteressa

é

a

literatura

enquanto

fenômeno

literário,

através da

análise de obras que.

resistindo

ao

tempo,

mantêm

intactas

a sua

literanedade7.

1.2.

0

CONCEITO

DE

LITERATURA

INFANTIL

Cada dia que passa

a

literatura

para

a

infância

está

mais

longe

de

ser

considerada

um

género

menor.

Isso

deve-se

ao

esfor^o

de vários

estudiosos

que

nas

últimas décadas tém centrado

esfor^os

em torno

deste

tipo

explícito

de

textos

literános.

Vamos

atentar nas

reflexôes

de

alguns

dos estudiosos destas

questôes

para

depois

formularmos

o nosso

prôpno

conceito.

Contudo.

o

enfo-que

que irá

ser

dado

a esta

problematiza^ão

vai apenas procurar levantar

o

véu

para

esta

questao

e

todas

as

achegas

dadas devem

ser

encaradas

como

provisô-rias

e

limitadas

pela prôpria

problemática

em

si. Servem

apenas

para

podermos

operar

com

conceitos.

Nelly

Novaes

Coelho.

professora

de

Literatura

Infantil

na

Universidade

de

São

Paulo,

defende que

"literatura infantil e. antes

de tudo.

literatura;

ou

melhor.

e arte:

fenomeno de criatividade

que

representa

o

Mundo,

o

Homem,

a

Vida,

atraves da

palavra.

Funde os sonhos e a vida

pratica;

o

imaginario

e o

real;

os

ideais

e a sua

possivel/impossivel

realiza-cão"'x

Denise

Escarpit

e

M.

Vagné-Lebas

afirmam

que "la

litterature

d'enfance

et

de

jeunesse

use.

abuse,

s'amuse des mêmes

procédés

que

fautre"0

Isabelle Jan,

por

seu turno. c

de

opinião

que

"un

libro

se

puede

calificar

para

ninos cuando

(15)

14

não

å

crianca.

mas

que

responda

ås

exigências

que lhe

sâo

prôpnas"11.

Para

a

constru^âo

desta

no^ão

partiu

da

defini^ão

de Ezra Poud

de

que "literatura é

a

linguagem canegada

de

significado

até

ao

máximo grau

possível"12.

Ainda

através

desta

ínvestigadora

ficamos

a

saber que

o

Prof

Lourengo

Filho defende

que

a

literatura infantil é

aquela

que é capaz de

k"proporcionar

a

emocão estética

através das

letras.

nas

condi^ôes

naturais

do

seu

gradativo

desenvolYÍmento1,L\

Marc

Sonano

afinna

que

"un

livre pour la

jeunesse. aprês

tout.

c'est

d'abord

un

livre que

les enfants lisent

avec

plaisir

14.

Em

conversa

comigo.

Antônio Mota

defendeu

que

"literatura

infantil é

a

literatura

que

pode

ser

lida

pelas

criangas.

uma

forma

filtrada

de

chegar

â

cnanca.

Mas torc,o

um

pouco

o nanz a esta

expressão

quando

é

sinônimo

de que

tudo serve". Também

a

escritora

Matilde

Rosa

Araújo

me

disse que

"a

literatura

infantil

não

pode

ser uma

literatura fabncada.

tem

de

ser

feita

com as

crian^as

e

para

as

erian^as". Quase

poética

era a

opinião

de Juan Ramôn Jimenez

que

considerava que

a

literatura

para

a

ínfância

vivia

"do

conto

mágico.

do

verso

de

luz.

da

pintura

maravilhosa.

da música

deliciosa;

o

Iívto

belo,

em suma. sem

outra

utilidade que

a sua

beleza"15.

Apesar

de

todas

estas

afirmagôes

a

questão

não

é

tão

linear

como

parece.

Enquanto

muitos

investigadores

tixam

os

limites

deste

tipo

de literatura

partm-do

dos

interesses

e

gostos

do

seu

público

alvo,

outros

há que

recusam a

etiqueta

e

preferem

dizer

que

literatura é

literatura.

seja

qual

for

o seu

destinatário16.

Tal

é,

por

exemplo.

a

opinião

de Manuel Antônio

Pina

ao

atirmar:

cteu acho que não há literatura infantil. 0 que acontece é que ha literatura que

pode

merecer o

interesse

dos

Ieitores

mais

jovens,

o que não quer

dizer

que não

haja

grandes

livros

escritos

pro-positadamente

para

criancas

ou que não possa havê-los.

[...]

A chamada

literatura infantil

é-o

naquilo

que e

legivel

por

criangas.

Primeiro

tera de ser

literatura

e

depois

tera de merecer interesse

[...]

A

minha

experiência

diz-me que

ninguem

escreve para

(16)

para

criancas pertencem

a quem

goste

deles.

[...]

A

classificacão

etana é tâo

arbitraria

como outra

qualquer'17.

Carlos Drurnmond de Andrade

ao ser

colocado

perante

esta

problemáti-ca

pôs-se

uma

série de

questôes:

llO

género

iiterario infantil

tem a meu ver

existência duvidosa.

Haverá

música

infantil0 Pintura

infantil? A

partir

de

que

ponto

uma

obra literária deixa

de

constituir alimento

para o

espírito

da

crian^a

ou

do

jovem

e se

dirige

ao

espirito

do

adulto9

Qual

o

bom

Iivro

para

criangas

que não

seja

lido

com

interesse

pelo

ho-mem

feito0

Qual

o

livro

de

viagens

ou aventuras,

destinado

a

adultos.

que

nao possa ser

dado

a

criangas0"18

Natércia Rocha

cita a

opinião

do

editor

Fran<pois

Ruy

Vidal

acerca

da

existência de

uma

literatura

para

a

infância: "Não há

cores

para cnanc^as,

co-res.

Não

grafismo

para

crian^as.

grafismo.[...]

Não

há literatura para

cri-an^as.

Iiteratura"19.

Porque

contmua esta

questao

tâo

antiga

a

dividir

as

pessoas?

Polémica

acesa em

quase

todos

os

estudos de literatura para

a

infância,

esta

problemática

sô existe

devido

a

preconceitos

que

teimam em

subsistir. Existem.

contudo,

questôes

indiscutiveis:

a

recepcão

de

uma

obra literária

por

parte

de

uma

cnan-ca

faz-se

quando

a sua

mensagem

traz

qualquer

coisa de

novo a essa mesma

cnan^a.

quando

se

identifica

com a sua

expenência

de vida,

quando

a

diverte.

Parece.

pois.

que

existem

ínteresses

sociais.

afecrivos

e

culturais

a ter em conta.

em

paralelo

com os

valores

estéticos

da

obra

em

si.

garantindo-lhe

a

literarie-dade

e a

condigão

de

objecto

estético

e

social20.

Os

textos

podem

não

ter

sido

produzidos

para

um

destinatário

explícito21,

conservando. contudo. intactas

as

qualidades

estilísticas

prôprias

do

autor e

incorporando.

simultaneamente.

os

rcquisitos

necessários â

sua

apropnacão

por

parte desse leitor

específico.

Um

texto

literáno

ao ser

produzido

para um

leitor

jovem.

não

perde

as suas

carac-teristicas fundamentais.

Tendo

em conta

todos

os

pressupostos

atrás

refendos.

deve

(17)

16

portas

a

quem

lê.

através da

visão

caleidoscôpica

de

um

passado apontando

o

futuro.

Aquela

que

ajuda

a

desenvolver

o

ímagináno

e a

capacidade

cnadora da

crian^a.

Ao

tocar

tradi^ôes.

comportamentos.

valores

e

atitudes,

ao

permitir

es-colhas.

ao

levar

ao

confronto

entre o

quoridiano

e o

imaginário. permitindo

a

sua

incorporacio

em maior ou menor

grau.

a

literatura

funciona

como um

rito

de

iniciacão,

de

descoberta.

O

leitor

toca os

segredos

de

um

mundo

que

outros

descobriram

e

terá

mais tarde

que passar

esses

côdigos

a outrem.

Esta

inicia-9ão

assumir-se-á

depois

como nto

de passagem, que terá

a ver com

todos

os

percursos

literários

que

o

jovem leitor

for

realtzando.

Este é

o

grande

factor de

singulanzacão

da literatura para

a

ínfância.

Outros

passam

pelas

questoes

formais

e

de

conteúdo. Como é do conhecimento

geral.

estes textos

têm

geralmente

extensâo

mais

reduzida

e

diálogos

abundan-tes.

Os tnodos dominantes

são

o

narrativo (com

predomimo

do

conto)

e o

lírico.

As

personagens

são

geralmente jovens.

funcionando

os

adultos

como

oponentes

ou

adjuvantes

da

accio.

ainda

a

considerar

o

antropomorfísmo

de muitas

das personagens. São

valores dommantes

o

humor.

o

optimismo.

o

maravilhoso,

as

virtudes

recompensadas.

Voltando

ås tentativas de

defmicão

do conceito de literatura

infantil.

ve-riíica-se

que esbanam

com

frequéncia

no

carácter

pedagôgico

de

muitos textos

e na

reconência

a outro

tipo

de

linguagens.

funcionando

em

paralelo

com a

lin-guagem

escnta, com

destaque

para

o

suporte icônico. bastante

frequente

sobre-tudo

nas

obras

destinadas âs idades mais baixas. Marc Soriano considera

que

estas

dificuldades

precisam de

ser

tidas

em conta sem.

contudo.

serem

conside-radas

insuperáveis.

Coloca

em

paralelo

o conceito

de literatura infantil

e o

de

comunicaclo

e

afirma

que

nenhum dos elementos

que

compôem

o texto

literá-rio

infantil devem

ser

sacrificados.

mesmo

que

parecam

contraditônos.

Apoia-se nas

pesquisas

da semiônca.

em

especial

em

Romam

Jakobson22.

adiantando

uma

defíni^ão

que

considera

provisôna

e

mcompleta

mas

susceptivel

de

prestar

alguns

servi^os

e

permitir

situar

e

relacionar

problemas,

senando

os

métodos

(18)

"1a litterature de

jeunesse

est une

communication

historique

(autrement

dit

localisée dans

le

temps

et

dans

Fespace)

entre un

locuteur

ou un

scripteur

adulte

(emetteur)

et un

destinataire

en-fant

(récepteur)

qui,

par

défínition

en

quelque

sorte. au cours

de

la

période

considerée,

ne

dispose

que de

fa^on partielle

de

Fexpérience

du réel

et des structures

linguistiques,

intellectuelles.

affectives

et autres

qui

caracîerisent

Tâge

adulte"2-.

Em

suma. conceito

delimttado

pelo

literário

ele

prôpno.

mamfestacio

de

arte

que

se

afirma

enquanto

meio

de

comumcacão. rito de

aproxima^ão

entre

histôna,

cultura

e

valores

sociais.

que preserva

e

divulga,

a

literatura

para

a

in-fáncia

é-o

enquanto

literatura cuja

recepcão

é

feita pnontanamente

por

cnan^as

oujovens.

1.3.

L'.M

DESTINATÁRIO

MUTTO PARTICU L.AR:

A

CRIANQA

Já sabemos

que

o

destmatário

primeiro

e

imediato

da

literatura

infantil é

a

crian^a24.

Contudo,

isso

não

tmplica

que

qualquer

adulto

não

possa

apreciar

um

bom

texto

dito infantil. O chamado

"Tívto

para todos'" existe

e

parte

muitas

vezes

de

um

livro para

criancas

que

os

adultos

tomaram como seus

(a

mversa

também é

válida). Que

dizer da

frui^ão

de

textos como

Altce

do Outro Lado do

Espelho

ou

O

Prmcipezinhol

Entre

nôs,

a

Htstôna

da

Nuvem

que

não

Queria

Chover

tem

sido muitas

vezes

adquinda

por educadores que.

depois

de

a

lerem

âs

suas

crianpas,

desejam

oferecê-la

aos

amigos.

Para

além da

componente

es-tética também

o

maravilhoso

e a

mensagem

veiculada

pelos

textos

literários

in-fantis

sâo

passíveis

de

agradar

a

qualquer

leitor,

independentemente

da

sua

ida-de,

sexo ou

nível cultural.

Vários

são os

estudos que

têm

ajudado

å

delimita^ão

do actual

estatuto

da

infåncia. Não

vem

de

muito

longe

(sec.

XIX)

a

aceita^ão

plena

de que

a

cri-anca nâo

é

um

adulto

em

miniatura

mas um

individuo

com

caracteristicas

e

ne-cessidades

prôprias. perfeitamente

identificáveis

enquanto tal,

apesar de

transi-tonas.

Até

atingir

a

ídade adulta

a cnanga

precisa

de ir

incorporando

modelos,

(19)

18

por intermédio de

outros

modelos

com

que

contacta

através de

meios de

comu-nicac-ão

como a

televisão.

o cmema e

sobretudo

o

livro. Este.

vai

permitir

a

constru^ão

tndividualizada de cada

um

dos

modelos/herôis

que

a cnanca

precisa

de

incorporar,

através de

múltiplas

identificacôes

e

várias

imita^ôes.

Esta

aqui-sicão

é

lenta

e

continuada, devendo

comec-ar

desde

muito

cedo. 0

texto

literário

funciona assim

como um

veículo do

conhecnnento.

no

sentido

genérico

do

ter-mo e

não

apenas

como

transmissor de

conhecimentos

linguísticos

ou

informati-vos

de

determinado

nível.

Toda

a

literatura

age

sobre

o

leitor. modificando-o.

acrescentando-lhe

algo.

Este carácter

da obra

literária

foi reconhecido

por

per-sonalidades

como

Goethe

que

no

fim da vida ainda afirmava: "ainda

não

acabei

de

aprender

a

ler;

leva-se

uma

vida

a

aprender

a

ler

e

quando

se mone

ainda

não

se

acabou"25.

Daí

as

"qualidades

pedagôgicas"26

da

literatura infantil que

certos

ín-vestigadores

colocam

em

paralelo

com as

qualidades

estéticas. Esta

vocacao

pedagôgica.

esse

efeito

de "'educadora

índirecta"27

inerente â literatura infantil

tem o seu

fimdamento

na sua

prôpria especificidade,

em

fiintpão

do

seu

público

alvo,

e

não

no

facto de

pretender

apresentar

e

transmitir

doses de

informa^ão

com o

intuito de atafulhar de saberes

o

leitor. Este sentido

pedagôgico

é

algo

de

fluido

que

se

vai

espraiando

de

forma

suave, entre

aspectos

cnativos,

humorís-ticos,

maravilhosos.

etc. sem

que

nunca se

perca

o

sentido da

literanedade.

A

crian^a

é

esse ser

"imcialmente

disponivel,

multiforme.

aberto

a

todas

as

possibilidades"28,

tão

fácil de encaminhar para

a

descoberta do mundo.

Basta saber desenvolver

essa

"'disponibilidade

originaT29.

Neste sentido

a

lite-ratura

é

importantíssima.

actuando

como semente

que

poderá

criar raízes que

irão procurar

outras.

mais

antigas,

as

primordiais.

para

lhe

roubar alimento.

A

crian^a precisa

de sentir

o

Iívto

como

objecto

de prazer. "fonte

de

satisfa^Ôes

estéticas

e

de

reflexâo,

assim como

de

cnacão.

pessoais"30.

A

crian^a

leitora

tem

prazer

em

ler.

em

partir

da leitura

para

outras

descobertas,

gosta da

(20)

concre-tos

que

atormentam a

crian^a.

Rui M.

Veloso

dá-nos

um

exemplo

bem

elucida-tivo desta

problemática

ao

refenr que

«A

Prtncesa

Pele de Burro»

"explica

ã

crian^a,

em termos

muito

acessíveis,

que

e

normal

a

li-gacão

afectiva

pai/filha

e que ela

dara

lugar

a outra

ligacão

a

es-tabelecer

com a

figura

masculina,

ligacio

esta que

exige

um

amadurecimento por

parĩe

da

menina""'2.

Essa

capacidade

que

a

literatura

tem

de levar

a

crian^a

a

compreender

melhor

o

mundo que

a

rodeia

ao mesmo

tempo

que. através do

seu

imaginário,

a

leva

a

produzir

mundos

e

formas

de vida diferentes do

seu

quotidiano,

tem um

valor

especial

na

infância. porque

crescer

é também

compreender

e

descobrir.

e

fazê-lo

com

seguran^a. acrescentando â

experiência

da realidade

a

expenência

da

fantasia. filtrada

pela

literatura.

''É

na constante

inter-relacão

que

se

estabelece

entre o universo

literáno

e o

mundo

interior

da

crian^a

que

assenta a

compo-nente

catalisadora

do processo de

matura^ão

deste

ser

que

não

possui

ainda

as

estrumras

da idade

adulta"33.

Esta

inter-relacio

tem uma

componente

lúdica,

que ler

ou ouvir

ler/contar é

um

jogo

em

que

o

ouvinte/leitor

se

assume/identifica

como

herôi do

prôpno

texto. num

processo

bastante dinâmico.

passando

muitas

vezes a

com-portar-se

como se

fosse

a

prôpria

personagem.

As

fa^anhas

ou as

desventuras

do

protagonista

são

assumidas

como suas

pela

cnan^a

leitora.

mdo

ao encontro

das

suas

necessidades de

triunfo,

ou

afirma^ão

de coragem.

ou

levando-a

a

compreender

e

aceitar melhor

os seus

fracassos.

A

literatura

para

a

infância

ajuda

a

crian^a

a

fazer descobertas

tão

ímpor-tantes e

necessárias

como,

por

exemplo.

o

lúdico,

a

descoberta do bem

e

do

mal.

o encontro com os

afectos.

a

revela^ão

do

sagrado.

a

viagem

(imciática)

através do

conhecimento.

o

valor da

poesia.

a

ancestralidade da sabedona.

Dai

que

vános

mvestigadores

não se cansem

de

mostrar o seu

papel

no

desenvolvi-mento

da

cnanca.

E

o

que

acontece com

Aguiar

e

Silva

quando

afirma

que

"a literatura

infantil

[...]

tem

desempenhado

uma

funQão

(21)

20

mundo,

na

construgão

de

universos

simbolicos,

na

consolidacão

de

sistemas

de crencas e

valores"34

Estas

questôes

preocupavam

os

pedagogos

nos anos

60.

Disso

nos

conta

uma

comumcacão de Leonor Botelho

apresentada

na

Cooperativa

Ludos.

sob

a

égide

do IBBY

(Internarional

Board

on

Books

for

Young

People),

em

1968. de

que

se

destaca

a

seguinte

passagem:

"Na

busca

do prazer. da seguranga. do bem estar

fisico

e mental.

metas

inconscientes

de toda

a

crianca.

surge o

convívio

com o

li-vro.

Convívio

cuja grande

utilidade

depende

da

forma

como a

inicia^ão

for

feita.f...]

A

literatura infantil

afecta

toda

a

vida

psi-quica

da

crian^a"35.

Também

a

escritora

Sophia

de Mello

Breyner

se tem

preocupado

com

esta

problemárica,

defendendo

que

a arte.

através da

literatura.

assume um

pa-pel

formativo

na

educacâo

da

crian^a. sobrepondo-se

ao

do educador.

"0 livro

afina

a

sensibilidade,

esclarece

a

inteligência,

apura o

pensamento.

alimenta

a

imagina^ão,

acorda

a

consciência.

depois

desenvolve

o

sentido da

responsabilidade

e

da

escolha"36.

A

escritora considera também que

o autor. ao escrever um texto

de

lite-ratura

infanril.

tem

de

ter em conta esse

destmatáno

específico.

estarcom

ele.

"A

existência

do

leitor,

constitui

um dos

parâmetros

do

condici-onalismo

semiotico

global

a que o

emissor/autor

não

pode

sub-trair-se

no seu processo de

producão

literana.

[...]

A

estratégia

textual deum autor e em

geral

estabelecida e executada tomando

em

consideracão.

de

modo

idealizado,

um

peculiar

tipo

de

leitor,

caractenzado por certas marcas

culturais,

psiquicas.

morais,

ideologicas.

etarias.

(como

o caso daliteratura

infantil)"37.

Por

seu turno

Natércia Rocha defende que "tudo

o

que

toca a cnanga

deve

[...]

ser

cuidado

com

atencåo

e

perícia

para

não serem

gerados

riscos

ao

desenrolar do

futuro"38.

Refere amda

que

o

livro

infantil

constitui

um

"etemento actuante"

não

pela

presenca

como

também

pela

ausência. Esta

(22)

quando

minimizam

a

funQão

da

literatura

em

reîaQão

a outros

factores.

Acerca

da

relaQão crianQa/leitura

afirma ainda que

"não se nasce com amor ou

desamor

[pela leitura];

ambos

são

gerados

no

confronto,

precoce ou

tardio,

e

depois explode

o

conflito

entre «morren> e

«viver».

Nessa

luta

ha

ainda

para

in-vestigar

o

poder

de

intervencão

do

codigo genético

e de

pres-são

social"39.

A

relaQão crianQa/Iiteratura

que.

em momentos

de

oralidade.

era

maiori-tariamente feita

em

grupo.

com a

difusão do

texto

impresso

tornou-se

mais

in-rima,

passou

a ser uma

relaQão

solitária,

individual.

ou

melhor,

a

dois:

o

leitor

e

o texto.

Esta

cumplicidade

torna-o uma

obra

em

constniQão.

acmalizando-se

em

cada leitura

e

que passa do autor/escritor para

o

autor/leitor

sem outros

media-dores para além da

forQa

do

seu

discurso

e

da

capacidade

interpretativa

e

cria-dora

do leitor,

tão

diferente

das obras

apresentadas.

por

exemplo. pela

TV.

"mastigadas".

prontas

a

digerir.

0 audiovisual

imagina pela

cnanca.

Este percurso solitário é contudo mais trabalhoso.

A cnanQa

leitora vai

por

isso

precisar

de

mais

tempo

para adenr â mensagem veiculada através do

texto.

entra a

ilustraQão, desempenhando

um

papel

ímportante

ao

apoiar

o texto

literáno.

ajudando

â

sua

descodificaQâo.

servindo-lhe de

apoio.

Na

litera-tura

infantil,

a

imagem

é

a

paráfrase gráfica

do

texto.

Conmdo. muitas

ilustra-Qôes

podem

limitar

a

imaginaQão

e a

criatividade da

cnanQa.

A

boa

ilustraQão

deve

sugerir

e não

dizer. deve provocar

a cnanQa.

dando-lhe

pistas

para

vánas

leituras

mas

deixando-lhe

malterada

a

capacidade

cnadora, levando-a

a cnar

com o autor.

descobnndo

ou

alargando

o seu

proprio imaginário.

A

imagem é

assim

entendida

como um

suporte

do

texto

literário.

um "ír e

voltar"

de que

o

jovem

leitor

precisa

para

desenvolver

o seu

prazer

em

relaQão

ao

texto,

mas

está

de todo afastada do literário.

Em

suma. a

crianQa

é

o

leitor ídeal da literatura

mfantil,

aqueíe

"elemento

com

relevância

na

prôpna

estruturaQão

do(s)

texto(s)"40.

Por

vontade

(23)

■)■)

este

está

com a

crianQa).

a

literarura para

a

infância sê-lo-á sempre

em

funQão

dos

seus

destinatários

específicos.

1.4.

0 AUTOR/CONTADOR

A

literatura

para a

iniancia

e. como vimos, uma

fonna de

comumcaQâo

com

destmatáno

pnvilegiado.

Porém.

não

existe

destinatáno

sem

destinador.

0

autor

desta literatura

específica

é

um

mdivíduo que

atingiu

a

matundade

inte-lectual

e

afectiva.

agindo

sobre

a

sociedade

em

que está inserido

e

assumindo

os

valores que considera mais

positivos.

Por

viver

e ser com a

crianQa

sente-se

ímpelido

a escrever

para ela.

a

transmitir-lhe

a sua

mensagem

acerca

das

coisas

que defende

ou

que

o

preocupam.

Fá-lo

de

forma

mais

ou menos

consciente,

mais

ou menos

mtencional.

Na

elaboraQão

dessas mensagens

socone-se

de todo

um

arsenal de

arte-factos que possui

e

de que, âs

vezes.

não

tem

total consciência:

fôrmulas,

sím-bolos.

mitos,

humor,

ironia.

estrumras

texmais. ritmo. estilo.

etc.

Trabalha

tam-bém

com as

convenQÔes

e os

côdigos

de

época

da sociedade

em

que

se

insere,

construmdo

(ou

desconstruindo)

aquilo

que será considerado necessáno. útil

ou

simplesmente

acessível å infância

da

sua

época.

Os

meios

de

edÍQão

e

difusão

da obra literária

pertencem

também

aos

aspectos

a ter em conta.

bem

como a

convivência

com outros

côdigos.

Esses

diversos dados

vao ter eco

junto

do

jo-vem

leitor.

que

pertence

â

mesma

sociedade

e

domina.

ou

está

progressiva-mente a

aprender

a

dominar,

esses mesmos

codigos. independentemente

do

côdigo

linguístico.

Natércia Rocha considera que

a

funQão

do nanador/autor

não

pode

ser

ignorada

ou

rejeitada.

"sera ela a

componente

provocatôria

para a

relaQão

afectiva

ine-rente ao amor ou desamor â leitura. Por

isso.

tanto se

deve

espe-rar dos autores que procuram a

comunicaQão

com as

crianQas,

[por isso]

não é

digno

esquecerem-se

das

responsabilidades

para

com o

interlocutor-leitor

infantif41

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