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O Futuro da Arquitetura desde 1889

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O futuro

da arquitetura

desde 1889

Uma história

mundial

Jean-Louis

Cohen

2013

capa dura com sobrecapa

20,5 x 27 cm

528 pp, 594 ils.

tradução Donaldson M. Garschagen

revisão técnica Sylvia Ficher

texto de orelha João Masao Kamita

R$ 199,00

Eventos de lançamento

no Brasil [2013]

O autor virá ao país em outubro para

lançar o livro no Rio de Janeiro e

em São Paulo (datas a cofirmar), e

também dará uma palestra como

convidado da x Bienal de Arquitetura.

(3)

A obra do aclamado crítico francês Jean-Louis

Cohen é um marco para a historiografia da

arquite-tura. Trata-se de uma novíssima e alentada história

mundial, compreendendo desde o final do século xix

até os dias de hoje, fartamente ilustrada. Com a

pre-cisão e versatilidade do historiador da cultura, Cohen

aborda tanto projetos e edifícios construídos quanto

a produção teórica, num texto fluente e nada

tenden-cioso em relação à arquitetura moderna – elogiado

por autores de outros livros de referência, como

Ken-neth Frampton, Adrian Forty e Hans Ibelings. O autor

trata com igual rigor as arquiteturas predominantes e

as muitas proposições alternativas – seja explorando

os meandros pouco comentados da arquitetura no

período das guerras mundiais, esmiuçando a

influên-cia de Le Corbusier ao redor do globo,

debruçando--se com atenção sobre regiões pouco abordadas

(África, Ásia, América Latina) ou expondo o

movi-mento da arquitetura em direção a suas fronteiras na

obra recente de Gehry, Koolhaas, Nouvel e Herzog &

de Meuron.

jean-louis cohen é um dos mais renomados

his-toriadores da arquitetura e do urbanismo do século

xx. Nascido em Paris, em 1949, lecionou na

Universi-dade Paris viii e ocupa a cátedra Sheldon H. Solow

na Universidade de Nova York. Escritor articulado e

cura dor de diversas exposições – responsável pela

criação do museu e centro de pesquisas Cité de

l’Architecture –, Cohen recebeu, entre outras

distin-ções, a Chevalier de l’Ordre des Arts & Lettres, pelo

Ministério da Cultura da França. Os numerosos

ar-tigos e livros que publicou – como os importantes

The Lost Vanguard: Russian Modernist Architecture

1922-1932 (2007), Architecture en Uniforme: Projeter et

construire pour la Seconde Guerre Mondiale (2011) e

Le Corbusier: An Atlas of Modern Landscapes (2013)

– abordam quase todos os aspectos das

transforma-ções causadas pela modernização na paisagem

ur-bana. Seus estudos têm especial foco na vanguarda

russa, na obra de Le Corbusier e nos diferentes

mo-delos de internacionalização – desde a situação

co-lonial no Marrocos e na Argélia até a circulação

mun-dial de for mas e conceitos arquitetônicos.

(4)

Escrever a história da arquitetura do século xx no

sé-culo xxi tem vantagens que Jean-Louis Cohen soube

aproveitar. A mais óbvia é a mais importante: a distância

histórica. O que se lê nestas páginas não é um discurso

apaixonado e partidário, nem tampouco contes tador e

recalcado. Cohen adota o ponto de vista rigoroso do

his toriador da cultura, buscando flagrar o modo como

a arquitetura se transforma em meio às mudanças

radi-cais da modernidade. Por isso, não se pretendeu

escre-ver a história do modernismo arquite tônico – isso seria

dar um caráter de hegemonia a seus princípios

ideoló-gicos e temporais no século, consubstanciados na ideia

do novo como fator de progressão histórica.

A narrativa historiográfica se estrutura aqui a partir

de eixos de simultaneidade, no qual as formas

predo-minantes (estão aí o justo destaque aos mestres Mies,

Gropius, Aalto, Wright e Kahn) não são homogêneas

nem muito menos inevitáveis. Em paralelo, cor rem

inú-meras proposições alternativas, que Cohen trata com

igual cuidado. Para citar um caso exemplar: Le

Corbu-sier é, sem dúvida, um grande centro de força, mas seu

protagonismo se mede tanto pela maneira que pensou

a arquitetura perante os desafios da modernidade e as

várias respostas poéticas que formulou, quanto pela

in-fluência que provocou em arquitetos de diferentes

na-ções – isto é, como tal presença foi assimilada,

proces-sada, deglutida e eventualmente transformada. É assim

que, particularmente, o caso da moderna arquitetura

brasileira é exposto: um exemplo de recepção produtiva.

Para Cohen, a arquitetura é igualmente a história

dos fatos e a histó ria dos debates intelectuais. Por isso,

analisa não só as obras construí das, mas também os

projetos não realizados, as formas de divulgação para

o grande público e os documentos teóricos produzidos.

Em O futuro da arquitetura desde 1889, os “fatos de

transição” – em geral tidos meramente como

ocorrên-cias preparatórias aos grandes eventos e tratados de

forma rápida na historiografia da arquitetura moderna

– recebem especial atenção. Momentos de revelação

surgem: a importância de Auguste Perret é

fundamen-tada, o perfil de Robert Mallet-Stevens adquire clareza e

até mesmo a exposição art déco de 1925 é descrita com

isenção, dando a ver o trânsito entre alguns designers

e os arquitetos radicais. Outro tradicional ponto cego, a

arquitetura no período das guerras mun diais –

normal-mente sinônimo de “paralisia cultural” – é visto pelo autor

como um momento de aceleração da modernização, em

que a produção da arquitetura não se interrompe, mas se

desloca para o aparato da guerra (hangares, indústrias,

alojamentos, fortalezas etc.). Cohen não deixa de apontar,

inclusive, o processo pelo qual os avanços tecnológicos

da guerra são aplicados, logo após o término do conflito,

em outras esferas da produção industrial, sobretudo a

habitação e as obras de infraestrutura.

Ao longo do século xx, o “futuro da arquitetura” foi

pensado de modo variado por correntes distintas,

in-dependentemente de sua coloração ideológica.

Toda-via, o século que alimentou esperanças no progresso,

no socialismo, na tecnologia e na nova cidade, tam bém

produziu catástrofes inéditas – veja-se a incomparável

morta lidade nas grandes guerras. O texto de Cohen

as-sinala claramente as diferentes expectativas de futuro:

uma é projetiva, esperançosa nas novas formas

estéti-cas e sociais do mundo, exemplarmente demonstrada

por Corbusier e pela Bauhaus; a outra, de descon fiada

confiança e ceticismo, é explicitada nas extravagantes

e corrosivas imagens do Archigram e de Constant,

fun-dadas na ima ginação técnica e lúdica.

Depois de expor a crise do moderno, acossado pelo

pós-moder nismo, o livro se detém nos novos centros

que promovem uma autêntica renovação intelectual da

arquitetura no período de 1960 a 1980, quando a

he-gemonia se torna americana. Para o autor, os limites da

definição de uma arquitetura dominante no século xx se

veem na obra de Frank Gehry, Peter Eisenman e Rem

Koo-lhaas, que retomam as bases da arquitetura moderna para

criticá-la e assim formular novos paradigmas de projeto.

Ao final de sua narrativa, Cohen aponta os desafios do

novo milênio nesse mundo de alta tecnologia, sim, mas

onde o futuro não passa de uma pálida imagem passada.

O fim do colonialismo, do socialismo, do domínio do

es-tado-nação e a fatal crise do urba nismo impuseram uma

nova cartografia na qual os arquitetos agora atuam em

escala multinacional e em parceria com grandes

corpo-rações globais nessa realidade aberta e pluralista da

contempora neidade. Não sem uma leve melancolia, a

nar-rativa do século xx na arquitetura termina com o

reconhe-cimento do abandono exacer bado do compromisso dela

com a sociedade, compromisso esse que teria gerado os

projetos da modernidade. Afinal, pode um pre sente existir

sem um horizonte de futuro?

joão masao kamita

Leia a apresentação à edição brasileira,

texto de orelha escrito pelo professor da

puc-RioJoão Masao Kamita:

(5)

O que disseram

sobre o livro

“Nesta releitura de uma trajetória messiânica, Cohen

as-sume o papel do historiador materialista que, como já

havia mostrado em outros trabalhos, consegue passar ao

largo dos relatos tendenciosos da arquitetura moderna

aos quais temos sido submetidos. […] Trata-se de um

texto excepcional, erudito, no qual o conhecimento

apa-rece de maneira leve porém muito detalhada, evocando

para o leitor toda a pungência e vitalidade dos vários

mo-vimentos criativos, por mais bre ves que tenham sido.”

kenneth frampton, autor de História crítica da

arqui-tetura moderna

“O futuro da arquitetura desde 1889 é a melhor e mais

completa histó ria da arquitetura moderna que surgiu

nesta geração. Apesar de não divergir

fundamental-mente da narrativa que nos é familiar, o olhar de Cohen

vai muito além dos parâmetros comuns do cânone

mo-derno.”

the new york review of books

“Escrever a história é, em boa parte, um processo de

pe-trificação do passado, seguido de uma erosão contínua.

[…] O valor do livro de Cohen reside na tentativa

bem--sucedida de cessar tal erosão, ofe recendo pistas para

possíveis leituras, tanto pelos caminhos mais

percorri-dos quanto pelos menos trilhapercorri-dos. […] Para estudantes

de arquitetura e história, oferece uma introdução rica

e densa aos des taques da arquitetura moderna; para

arquitetos e especialistas, essa parte mais conhecida

serve de base para a maior contribuição do livro à

histo-riografia da arquitetura do século xx: uma expansão do

ponto de vista da história da arquitetura.”

hans ibelings

“Em suma, merece ser considerada a grande

referên-cia no assunto a partir de agora.”

the guardian

“Este é um livro fantástico. […] Os historiadores

anterio-res sempre tiveram uma motivação maior: de um jeito

ou de outro, queriam fazer propaganda para a

arquite-tura moderna, ou criticá-la, ou mesmo encaixá-la numa

genealogia; acho que Jean-Louis está fazendo algo um

pouco diferente aqui. Ele tentou se afastar dessa

ten-dência, ado tando uma postura mais plural. Este livro é

uma história da arquite tura do século XX, não apenas

uma história da aquitetura moderna.”

adrian forty, organizador de Arquitetura moderna

brasileira

“Outras histórias da arquitetura poderão

complemen-tar esta, mas difi cilmente a substituirão.”

form mag

“Será que realmente precisávamos de mais uma

histó-ria da arquitetura moderna? Evidentemente, Jean-Louis

Cohen responde afirmativamente a essa questão. [...]

Em meio à tensão que vivemos no mundo hoje, torna-se

cada vez mais necessário compreender de onde viemos

e para onde estamos indo, esquadrinhando as infinitas

variáveis de um passado cuja interpretação monolítica

carecia de credibilidade e, mais ainda, de utilidade.”

roberto segre

“Uma excelente gramática do modernismo, com os

insights e digressões que tornam o livro interessante

tanto para conhecedores quanto para iniciantes.”

financial times

(6)

Leia um dos capítulos de

O futuro da

arquitetura

desde 1889:

Uma história

mundial.

(7)

Ao escrever ao editor Karl Krämer em 1961, agradecendo o envio das atas da reunião final dos CIAM realizada em Otterlo dois anos antes, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe seu lugar no devido tempo”. Porém, ao enviar uma cópia da carta a Walter Gropius, Jakob Bakema e outros colegas, rabisca nela uma caricatura de um jovem brandindo a bandeira da “verdade” e piso-teando as “bobagens” que teriam resultado dos “trinta anos de tra-balho” da velha geração de “chatos”. 414 E comenta: “Montam sobre

os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado”. ≥ 1 No entanto, a

gra-tidão da geração do Team X para com ele ficou evidente nos seus projetos, bem menos críticos à obra de Le Corbusier do que ele pró-prio seria no pós-guerra. De fato, ninguém iria se mostrar menos “corbusiano” do que Le Corbusier, sobretudo quando surpreendeu seus mais firmes admiradores com as soluções totalmente inespe-radas da capela de Ronchamp ou das Maisons Jaoul.

A Unité d’Habitation

A Unité d’Habitation de Marselha (1946-52) 411 foi a culminação das

pesquisas iniciadas em 1922 com os immeubles-villas. Já em 1942, no livro La Maison des hommes [A casa dos homens], Le Corbusier havia formulado claramente o princípio da “unidade de habitação de tamanho padrão” – ou “cidade-jardim vertical”, conforme um de seus paradoxos prediletos. O ministro da Reconstrução e Urba-nismo, Raoul Dautry, aceitou a sua adoção em um edifício cujos apartamentos seriam alugados para acomodar temporariamente desabrigados da guerra. Apoiada em robustos pilotis no interior dos quais passam as tubulações de água e esgotos, a Unité foi pensada como um “garrafeiro” de concreto armado, no qual são encaixados os seus 337 apartamentos. Estes vão, transversalmente, de fachada a fachada e têm sala de pé-direito duplo; o acesso a eles é feito a cada três andares por “ruas no ar”, das quais a principal, no sétimo

andar, originalmente abrigava lojas e serviços. O terraço na cober-tura, do qual se descortina a paisagem da Provença, tem uma pista de corrida e um jardim de infância e reproduz o convés dos transa-tlânticos celebrados em seu livro Por uma arquitetura. ≥ 2

Le Corbusier dimensionou os elementos da Unité utilizando o Modulor, sistema de proporções que havia elaborado em 1945 tendo por base uma combinação da seção áurea com a altura de uma pessoa “média”: inicialmente 1,75 metro, e depois 1,83 metro. Para tanto, apoiava-se nas pesquisas do esteta Matila Ghyka e da matemática Elisa Maillard, que o apresentara à série de Fibonacci, em que cada número é a soma dos dois anteriores. Em contraste com esse procedimento essencialmente intelectual, as superfícies rugosas e as marcas deixadas no concreto pelas fôrmas de madeira e pelas camadas superpostas dos sucessivos lançamentos – devido a uma construção demorada e sujeita a restrições orçamentárias – levaram Le Corbusier a proclamar a beleza do concreto “bruto”. Apesar do malogro de seus planos para bairros inteiros de unités no sul de Marselha, em Estrasburgo e em Meaux, o que o impediu de padronizar os seus princípios gerais, ele conseguiu construir outras quatro – em Nantes (1948-55), Berlim Ocidental (1955-58), Briey--en-Forêt (1955-60) e Firminy (1964-67).

Palácios e casas

A solução adotada no Museu Nacional de Arte Ocidental, no Parque Ueno, em Tóquio (1957-59), é outro resultado de suas pesquisas, estas empreendidas para o Mundaneum e que prosseguiram no começo da década de 1930 com o Museu do Crescimento Ilimitado. O edifício no Japão, cujas vedações são de blocos de concreto nos quais os agregados foram deixados aparentes, tem planta quadrada elevada sobre pilotis. No interior, a espiral de galerias desenvolve uma promenade architecturale contínua que permite a descoberta

Le Corbusier

reinventado

e interpretado

411 Unité d’Habitation, corte,

Le Corbusier, Marselha, França, 1946-52

(8)

413 Capela de Notre-Dame-du-Haut, Le Corbusier, Ronchamp, França, 1951-55 412 Maisons Jaoul, Le Corbusier, Neuilly-sur-Seine, França, 1951-55

progressiva do espaço. Nos museus de Le Corbusier em Ahmeda-bad (1951-57) e Chandigarh (1964-68), na Índia, são exploradas versões diferentes do mesmo tema, presente também no Museu do Século XX (1965), em Nanterre, projeto encomendado pelo ministro da Cultura, André Malraux, que não chegou a ser construído.

Le Corbusier já havia utilizado abóbadas de concreto e pare-des de brita em sua Petite Maison de Week-end [Pequena Casa de Fim de Semana, 1934-35], em La Celle-Saint Cloud. Nas casas de André e Michel Jaoul (1951-55), 412 em Neuilly-sur-Seine, retomou

o mesmo motivo, mas com abóbadas de tijolos aparentes. Nessas residências, feitas de tijolos, concreto e madeira compensada sem revestimento, ele abandonou os interiores espartanos de suas bran-cas e gélidas bran-casas da década de 1920, para oferecer ambientes confortáveis, de cores vivas e providos de lareiras. Os nichos com prateleiras embutidos nas paredes e as janelas que se abrem para a paisagem e proporcionam abundante iluminação fazem delas “volumes habitáveis cheios de recursos”, nada tendo a ver com uma “máquina de morar”, na famosa expressão que ele próprio cunhara. Em 1955, o jovem arquiteto britânico James Stirling declara que as Maisons Jaoul tinham feito de Le Corbusier “o mais regionalista dos arquitetos”. ≥ 3 Mas foi longe de Paris, na Índia, que ele deu

continui-dade a essa linha de pesquisa, na residência de Manorama Sarabhai (1951-55), matriarca de uma das mais poderosas dinastias jainistas de Ahmedabad. Concebida como uma série de paredes portantes dispostas em paralelo, a casa também tem cobertura de abóbadas, desta feita apoiadas em vigas de concreto e dispostas perpendicu-larmente às paredes. O não executado projeto Roq et Rob (1950), em Roquebrune-Cap-Martin, no sul da França – destinado a ser implantado em uma encosta sobre a cidade –, é mais uma aplicação do princípio das Maisons Jaoul. Recordando estudos feitos ante-riormente na Argélia, tinha por fundamento a repetição em série de células abobadadas.

A surpresa de Ronchamp

Em contraste com essas obras, todas resultantes de um longo processo de maturação, a Capela de Notre-Dame-du-Haut em Ronchamp, 413 nos Vosges, construída no local da igreja

des-truída em 1944, foi um choque tanto para seus admiradores quanto para seus detratores. A surpreendente forma escultórica associa a lógica estrutural das asas de avião com uma metáfora orgânica – a cobertura evoca uma carapaça de caranguejo, um daqueles “objetos de reação poética” tão caros a Le Corbusier. E reúne também uma profusão de lembranças: as gárgulas do Palá-cio de Topkapi, em Constantinopla [hoje Istambul], que ele vira em 1911; o Serapeum da Villa Adriana; e a parede com alvéolos da pequena mesquita de Sidi Brahim, em El Atteuf, que descobrira no M’zab em 1931. Os peregrinos que sobem a colina de Bour-lémont em direção a Notre-Dame-du-Haut, como fez o jovem Jeanneret ao subir até a Acrópole em 1911, dão primeiro com a fachada leste da capela, onde se encontra o altar ao ar livre, e logo com a nave agradável e simples, banhada pelas luzes coloridas que penetram pelas aberturas que perfuram a espessa parede sul. Essa “capela de leal concreto, moldado talvez com temeri-dade, mas certamente com coragem”, ≥ 4 conforme a descrição

que fez em 1955 para o arcebispo de Besançon, integra quatro decênios de experiências, ao mesmo tempo que as transcende com um gesto inesperado.

O Pavilhão Philips 415 na Feira Mundial de Bruxelas de 1958 –

cuja estrutura foi projetada por Iannis Xenakis, engenheiro e compo-sitor grego então trabalhando no escritório de Le Corbusier – tomou uma direção inteiramente diferente. A geometria dos paraboloides hiperbólicos das superfícies do pavilhão foi determinada pelas pro-gressões harmônicas de uma peça de Xenakis, Metastasis (1954). Sobre uma planta em forma de estômago, um sistema de cabos

415 Pavilhão Philips, Le Corbusier com Iannis Xenakis, Bruxelas, Bélgica, 1957-58 414 Caricatura na cópia de uma carta a Karl Krämer, Le Corbusier, 1961

protendidos, ancorados em nervuras de concreto em V invertido, suporta os painéis de concreto pré-fabricados que formam as veda-ções de dupla curvatura. O pavilhão abrigava o Poème electronique, um inovador espetáculo multimídia, com música de Edgard Varèse e constituído por projeções que alternavam motivos coloridos e abstratos com imagens de fenômenos naturais, criações populares e assustadoras visões tecnológicas. ≥ 5

Aventuras indianas

Nos últimos quinze anos de sua vida, Le Corbusier viajou duas vezes por ano à Índia para acompanhar a execução do maior empreen-dimento de sua carreira. O governo de Jawaharlal Nehru – que lançara um programa de criação de novas cidades, como Bhuba-neswar, projetada pelo imigrante alemão Otto Königsberger – havia confiado a Corbusier seu único plano diretor que seria realizado. Para Chandigarh, a capital do novo Estado do Punjab descrita por Nehru como “uma cidade nova, símbolo da independência da Índia, liberta das tradições do passado”, Le Corbusier refez um plano anterior, elaborado pelo americano Albert Mayer em colaboração com o polonês Matthew (Maciej) Nowicki e tendo Clarence Stein como consultor. Le Corbusier transformou os bairros residenciais concebidos pela equipe de Mayer – que rejeitou por considerá-los “falsos modernos” – em “setores” de 400 metros por 1 200 metros. De grande importância, ele aplicou o princípio das “sete vias”, que havia concebido por ocasião de um plano para Bogotá, para dife-renciar o traçado de caminhos de pedestres, ruas e avenidas, ajus-tando cada um desses tipos a usos e velocidades específicos. A encomenda que recebera limitava-se ao desenho urbano de con-junto e ao projeto das edificações do Capitólio, o centro político--administrativo da cidade. As áreas comerciais, a universidade e os bairros residenciais foram entregues aos britânicos Jane Drew

e Maxwell Fry, bem como a Pierre Jeanneret, primo e ex-associado de Le Corbusier, por ele recrutado para representá-lo e administrar os canteiros de obras. Nos bairros residenciais, as casas de tijolos foram dispostas em fileiras e ordenadas segundo uma hierarquia implacável, desde as luxuosas residências dos ministros até as modestas, mas funcionais, moradias térreas dos funcionários de baixo escalão. ≥ 6

O Capitólio agrupa as principais edificações da capital segundo uma composição refinada que evita toda e qualquer simetria, mas joga com eixos a fim de criar relações sutis entre os prédios, apesar das grandes distâncias que os separam. Tal composição decorre da aplicação de traçados de proporção harmônica e de elementos retirados dos jardins mogóis que Le Corbusier visitara no norte da Índia. Muitos detalhes construtivos vieram de suas observações da arquitetura tradicional e do dia a dia da Índia. A Suprema Corte acolhe sob um grandioso pórtico as principais instituições jurídi-cas, suas circulações sombreadas criando uma impressiva

prome-nade architecturale. Em frente, uma ampla esplanada a separa da

Assembleia Legislativa (1955-64), 416 cujo salão principal é

ilumi-nado por um hiperboloide de revolução. Essa forma foi inspirada nas torres de resfriamento de uma central elétrica em Ahmeda-bad e, talvez, na forma piramidal das chambres du tué, um tipo de enorme chaminé para defumação característico da região do seu nativo Jura, que causara forte impressão no jovem Jeanneret. Entre o salão e as fachadas, rampas de circulação ascendem por um espaço sombrio, através de uma floresta de colunas. À dis-tância, estende-se a barra horizontal do Secretariado, onde ficam os gabinetes dos ministros. Previsto para dominar o conjunto, o Palácio do Governador nunca foi construído, mesmo depois de destinado a um Museu do Conhecimento. O Monumento da Mão Aberta, carregado de sentidos simbólicos, só foi erigido bem depois da morte de Le Corbusier. ≥ 7

(9)

Invenção e introspecção

Tendo visitado mosteiros no Val d’Ema, na Itália, e no Monte Athos, na Grécia, em sua juventude, Le Corbusier havia declarado que a vida monástica era “heroica”. Quarenta anos depois, o sucesso em Ronchamp lhe valeu uma encomenda dos dominicanos para con-ceber “um lugar de meditação, de estudo e de oração para os frades predicantes”, que viria a ser o Convento de Sainte-Marie-de-la-Tou-rette (1953-60), 419 em Eveux-sur-l’Arbresle, perto de Lyon.

Inver-tendo a figura do claustro do mosteiro cisterciense de Le Thoronet, ele dispôs os deambulatórios em cruz no pátio central, configurado pelos quatro corpos principais do edifício: a grande caixa da igreja e, nos outros três lados, os blocos de celas dos frades. Entre eles, as áreas coletivas incluem o refeitório e a biblioteca abertos para o declive do terreno. A luz é matéria-prima do convento, tanto quanto o concreto. Canalizada por poços de iluminação, ela é vertida sobre o altar da igreja como feixes de raios coloridos. Recortada pelas vidra-rias dos deambulatórios – que Le Corbusier descreveu como “ondu-latórios”, porque o espacejamento das barras verticais dos caixilhos varia ritmicamente seguindo o dimensionamento do Modulor –, ela modela hora a hora a percepção dos volumes do claustro. ≥ 8

Tendo redescoberto as virtudes da “planta livre” que conce-bera na década de 1920 ao desenhar a Villa Shodhan (1951-56) e a sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis (1951-54),

418 em Ahmedabad, Le Corbusier aproveitou a encomenda do

Carpenter Center, da Universidade de Harvard (1958-64), para retomar o tema da promenade architecturale. Confrontado por críticos que se referiam a ele como “o bruto do concreto armado”, fez questão de que sua única obra nos Estados Unidos tivesse um acabamento “de extrema elegância e apuro”, tal como a sede da Unesco em Paris (1953-58), de Marcel Breuer, Pier Luigi Nervi e Bernard Zehrfuss. Convidado a projetar um hospital no bairro

de Cannaregio (1962-65), 417 em Veneza, retomou a análise que

havia feito da cidade em 1935, segundo a qual “Veneza tem uma mecânica impecável, um conjunto de ferramentas sábio e correto, um produto preciso das verdadeiras dimensões humanas”. ≥ 9

Res-peitando a “fisiologia” da cidade, concebeu uma trama ramificada e com múltiplos níveis especializados, acessíveis por embarcações, que reinterpreta a sua rede de calli (vielas), fondamente (cais) e

campielli (pracinhas). Falecido em 1965, os esforços para executar

a obra findaram por ser abandonados. ≥ 10

Maneirismos corbusianos

Conforme a situação, Le Corbusier sabia como se renovar por completo ou reelaborar soluções de trabalhos anteriores e, quais-quer que fossem, os tipos, temas e texturas que inventava inevi-tavelmente recebiam grande atenção, findando por frutificar e se disseminar. Como a Unité d’Habitation de Marselha, que, embora enfaticamente criticada por Lewis Mumford e Frank Lloyd Wright, serviu de modelo para um sem número de edificações, nas quais sua escala foi em geral modificada, porém sem nunca alcançar sua complexidade. Os arquitetos do Great London Council estudaram a Unité em profundidade e os blocos de apartamentos que realiza-ram em Roehampton (1959) pretendiam ser reduções de sua tipo-logia. ≥ 11 A enorme barra erigida pela equipe de Andrei Meerson

à rua Begovaia, em Moscou (1965-78), é uma das muitas varian-tes, neste caso com dimensões muito dilatadas; diversos edifícios de Hansaviertel, em Berlim, também derivam dela. Seu princípio básico foi adotado até no edifício do departamento de arquitetura da Universidade Técnica de Berlim, na Ernst-Reuter-Platz (1965-67), projetado por Bernhard Hermkes. A realização da sede da Unesco em Paris coube a Breuer, Nervi e Zehrfuss, para consternação de Le Corbusier, que pensava que a encomenda seria sua. No entanto,

417 Hospital no bairro de Cannaregio, projeto, Le Corbusier, Veneza, Itália, 1962-65

418 Sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis, Le Corbusier, Ahmedabad, Índia, 1951-54 419 ► Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette, Le Corbusier, Eveux-sur-l’Arbresle, França, 1953-60

416 Assembleia Legislativa, Le Corbusier,

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muitas de suas fórmulas foram adotadas – como o pilotis, a planta livre e o concreto aparente –, às quais Breuer deu uma interpretação bem mais leve no edifício principal com planta em Y, contrastando com a marquise em balanço, as cascas e as paredes pregueadas de folhas de concreto de Nervi.

Em alguns exemplos, uma espécie de combinação da Unité com os redentes da Cidade de Três Milhões de Habitantes iria gerar ruas elevadas estendendo-se de edifício a edifício. Este é o caso do con-junto habitacional Park Hill (1953-61), 420 em Sheffield, de Lewis

Womersley, e do primeiro núcleo do bairro de Le Mirail (1962-72), em Toulouse, de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. Tais variações, por mais distanciadas que fossem do modelo origi-nal, reforçavam o fato de que Le Corbusier era o principal inspirador dos densos complexos habitacionais em altura. Incontestavelmente, seu projeto Roq et Rob serviu de inspiração para a Siedlung Halen (1955-61), 421 em Berna, do Atelier 5. O conjunto, constituído por

fileiras de habitações dispostas de forma escalonada em uma colina, ao redor de uma pequena praça, teve considerável repercus-são por toda a Europa. ≥ 12 Na Riviera, as aldeias turísticas erigidas

em Cap Camarat (1963-65), pelo Atelier de Montrouge, e em Gas-sin (1967-70), pelo Atelier d’Urbanisme et d’Architecture, seguiram a mesma linha de pesquisa, replicando as mediterrâneas abóbadas de berço corbusianas.

Uma segunda modalidade de disseminação de sua arquitetura se deu com a adoção de suas soluções características por inume-ráveis arquitetos que as deslocaram, combinaram e deformaram, tal como os arquitetos maneiristas haviam feito com as composi-ções de Filippo Brunelleschi e Leon Battista Alberti no começo do século XVI. Inflados ou afinados, os pilotis receberam um sem-fim de variações, enquanto o brise-soleil – que Le Corbusier desenvol-vera dialogando com os arquitetos brasileiros – se tornou uma espé-cie de clichê nos prédios do hemisfério sul. Os típicos elementos

da cobertura do Secretariado de Chandigarh foram retomados por Josep Lluís Sert na Fondation Maeght (1958-71), 424 em Saint-Paul

de Vence, e as formas esculturais de La Tourette e de Ronchamp inspiraram uma infinidade de projetos em todo o mundo.

O brutalismo anglo-americano

A terceira modalidade do “corbusianismo” tardio se manifestou independente de qualquer referência à espacialidade dos mode-los originais, sendo um fenômeno literalmente superficial, ou seja, concernente sobretudo às superfícies. As texturas rugosas da Unité d’Habitation e de La Tourette, a primeira marcada pelas veias da madeira das fôrmas e pelas juntas do concreto, e a segunda reve-lando de propósito o granulado grosseiro dos acabamentos, se tor-naram um dos emblemas da modernidade após a Segunda Guerra Mundial. O novo brutalismo britânico, cuja origem semântica é um tanto confusa – não se sabe se vem de concreto “bruto” ou de Bru-tus, o apelido de Peter Smithson em princípios da década de 1950 –, explorou o uso de materiais industriais e a ausência de acabamentos, deixando à vista os sinais das fôrmas e do lançamento do concreto e, por vezes, recorrendo também à combinação de componentes discrepantes. ≥ 13 A primeira obra que pode ser classificada como

neobrutalista é a Hunstanton Secondary School (1949-54), 425

perto de Norfolk, de Alison e Peter Smithson, que teve como ponto de partida o Minerals and Metals Research Building [Centro de Pes-quisas de Minerais e Metais], de Mies van der Rohe, em Chicago. A anatomia das edificações da escola – os perfis de aço da estrutura, as vedações de tijolos e de vidro e as treliças do teto – está exposta e serve de pano de fundo para um diálogo entre elementos como lavatórios e radiadores, cujas tubulações também foram deixadas aparentes. Amigo dos Smithson, o crítico Reyner Banham viu no enfoque deles as premissas de uma “outra arquitetura”, um eco do

420 Conjunto habitacional Park Hill, Lewis Womersley, Sheffield, Reino Unido,

1953-61

421 Siedlung Halen, Atelier 5, Berna, Suíça, 1955-61

424 Fondation Maeght, Josep Lluís Sert, Saint-Paul de Vence, França, 1958-71

423 Universidade Simon Fraser, Arthur Erickson, Burnaby, Canadá, 1963-65 425 ► Hunstanton Secondary School, Alison e Peter Smithson, Norfolk, Reino Unido, 1949-54

422 Laboratórios da faculdade de engenharia

da Universidade de Leicester, James Stirling e James Gowan, Leicester, Reino Unido, 1959-63

(12)
(13)

possibilitadas pela tecnologia moderna. ≥ 19 Ao centro do plano

piloto, seu eixo principal leva à dupla vertical do Congresso Nacio-nal, que domina o diálogo entre as cúpulas de curvaturas inversas da Câmara dos Deputados e do Senado, 428 ambas pousadas sobre

uma longa plataforma que parece surgir do nada ao termo de uma leve declividade do terreno, um planalto que domina uma vasta pai-sagem tendo um lago artificial como linha do horizonte. Conecta-dos ao Congresso visualmente, o Palácio do Planalto e, à sua direita, o Supremo Tribunal Federal se correspondem com seus pórticos de delgados membros de concreto, nos quais Niemeyer colaborou com o engenheiro Joaquim Cardozo.

Dos dois lados do Eixo Monumental se sucedem as barras dos ministérios. Deles, o Palácio do Itamaraty, abrigando o Ministério das Relações Exteriores, recebeu tratamento especial. Implantado perpendicularmente em relação aos demais, sua edificação maior – notável por seus brises dourados e pivotantes – serve de pano de fundo para um bloco de escritórios e salas de recepção rodeado por um imponente pórtico de concreto. Niemeyer também dese-nhou a Catedral (1959-70), um feixe de dezesseis arcos de concreto sustentando uma caixilharia de vidro, cuja força se faz sentir assim que se acessa o edifício por uma rampa subterrânea que se abre em um salão de planta circular. Prosseguindo em sua pesquisa de formas específicas para cada programa, Niemeyer projetou a dupla linha sinuosa da Universidade de Brasília (1962-71), cujas salas serpenteiam ao longo de uma sequência de pátios. De 1964 a 1985, quando o Brasil estava sob uma ditadura militar, o arqui-teto deu continuidade a obras previamente aprovadas e perdeu a encomenda do aeroporto da cidade. Passado aquele período, foi confiado a ele um grande número de projetos, que adentrou pelo século XXI.

Fora da área governamental, cada “setor” – termo usado em Brasília em vez de “zona” – residencial de 12 mil habitantes

compreende quatro “superquadras”, separadas por curtas ruas comerciais. 427 As superquadras são conjuntos residenciais

cebidos por Lucio Costa no espírito da unidade de vizinhança, con-ceito difundido no país por Josep Lluís Sert e Paul Lester no projeto que realizaram para a Cidade dos Motores (1942-47). Os prédios de apartamentos têm seis andares sobre pilotis, altura que corres-ponde, segundo Costa, aos imóveis da Paris de Haussmann, porém sem as ruas no ar de seu arquétipo corbusiano. Flutuando sobre o terreno arborizado reservado aos pedestres e agrupados aos pares, suas fachadas posteriores estão voltadas uma para a outra, repe-tindo com seus elementos vazados a temática do Parque Guinle, no Rio de Janeiro. Na periferia dos setores, as fileiras de casas gemi-nadas parecem ter transportado as Siedlungen de Frankfurt para a paisagem tropical. Um sistema hierarquizado de vias reservadas aos automóveis irriga e interliga os setores dessa cidade fundada sobre o transporte individual.

A nova capital brasileira é inaugurada em 21 de abril de 1960, graças a um canteiro de obras que funcionava 24 horas por dia e onde trabalhavam 60 mil operários. Muitos deles iriam permanecer na cidade, razão pela qual se desenvolveu ao redor do plano piloto um cordão de “cidades-satélites”, como Taguatinga, Núcleo Ban-deirante, Sobradinho, Planaltina e Paranoá. Com o tempo, o que deveria ser uma cidade completa e autônoma se tornou o centro administrativo e bairro privilegiado de uma grande e espraiada aglo-meração urbana. A população de Brasília continua profundamente arraigada à cidade, refutando as previsões pessimistas de seus mais aguerridos detratores. ≥ 20

426 Plano piloto, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1956 427 Superquadras, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1960

art autre proposto em 1952 pelo crítico francês Michel Tapié. ≥ 14 Na

mesma perspectiva de combinar fontes vernaculares e uma esté-tica da técnica, as residências de James Stirling e James Gowan, em Ham Common (1955-59), e a ampliação da Cambridge School of Architecture (1957-59), feita por Colin St. John Wilson, retomam a dialética corbusiana do tijolo e do concreto, alterando o equilíbrio de materiais alcançado nas Maisons Jaoul.

Os projetos de Stirling para os campi universitários ingleses no começo da década de 1960 continuam a refletir o conhecimento da obra de Le Corbusier, mas revelam igualmente uma redescoberta do construtivismo russo. O edifício de laboratórios da faculdade de engenharia da Universidade de Leicester (1959-63) 422 pode ser

interpretado como uma paródia da Bauhaus de Dessau, com cada um de seus volumes ajustado à sua destinação específica. Con-tudo, o uso que é feito do vidro indica um nível de complexidade inteiramente diferente. As janelas comuns da torre de escritórios servem de contraponto para as faixas de janelas que iluminam os laboratórios e para o extraordinário teto de vidro das oficinas, o qual evoca os ritmos das casas operárias geminadas nas proximidades. Os guarda-corpos e dutos de ventilação atualizam o fetichismo de transatlânticos naquele que Banham considerou o primeiro edifício inglês de “classe internacional” depois de muito tempo. ≥ 15

Proje-tada pouco depois, a Cambridge History Faculty (1964-67) é está-tica apenas em sua aparência. As salas de aula foram distribuídas em duas alas perpendiculares revestidas de tijolos, no cruzamento das quais está localizada a biblioteca, o verdadeiro centro da insti-tuição, coberta por painéis duplos de vidro que deixam aparente as tubulações hidráulicas. As áreas de reuniões e de estudo individual estão associadas em uma dialética visual que reforça a oposição entre transparência e opacidade. ≥ 16

Nos Estados Unidos, Paul Rudolph explorou as texturas rugosas do concreto, obtidas pelo jogo dos diversos métodos desenvolvidos

por Auguste Perret e seus contemporâneos desde princípios do século. ≥ 17 Mais ao norte, o arquiteto canadense Arthur Erickson

empregou o concreto em obras em escala urbana, como o campus da Universidade Simon Fraser (1963-65), 423 em Burnaby, ou

con-tando com elementos simbólicos, como o Museum of Anthropology de Vancouver (1971-74), que dialoga com os totens dos indígenas da região. ≥ 18

A epopeia de Brasília

Na década de 1950, o maior empreendimento a incorporar muitas das ideias de Le Corbusier foi, incontestavelmente, a nova capital do Brasil, Brasília, cuja construção teve início em 1956. Nela, seus conceitos foram aplicados em todas as escalas. Eleito em 1955, o presidente Juscelino Kubitschek reviveu a intenção desenvolvida no século XIX de criação de uma “nova Lisboa”, uma capital no coração do país. Selecionado ao cabo de um expedito concurso público, o “plano piloto” 426 de Lucio Costa é uma versão distorcida da Ville Radieuse, de Le Corbusier, cujos elementos, condensados ou esti-rados conforme o caso, foram rearranjados em uma figura de base que lembra um pássaro. As suas asas consistem em um Eixo Resi-dencial de 13 quilômetros de extensão, cortado por um Eixo Monu-mental de 6 quilômetros que conduz à “cabeça” da ave em forma de triângulo equilátero, onde se concentram os poderes legislativo, executivo e judiciário do país.

Esses edifícios foram concebidos por Oscar Niemeyer e, ape-sar do efeito retórico do alongamento de alguns deles, marcam uma inflexão em direção a uma produção mais racionalista na sua carreira, em um momento em que ele faz uma relativa autocrítica. Lamentando a excessiva “originalidade” de suas obras anteriores, o arquiteto declara que estava pesquisando uma maior simplici-dade, na busca das formas “belas, inesperadas e harmoniosas”

428 ► Congresso Nacional, Oscar Niemeyer, Brasília, Brasil, 1960

(14)
(15)

07

À procura de uma

linguagem: do

classicismo ao cubismo

90 - Classicismos anglo-americanos 92 - Nostalgia alemã

93 - Loos e a tentação da “cultura ocidental” 99 - Berlage e a questão das proporções 100 - Cubismos e cubistas

13

Arquitetura e revolução

na Rússia

162 - O choque da revolução 165 - Uma profissão renovada 166 - Condensadores sociais 171 - Polêmicas e rivalidades

171 - O concurso do Palácio dos Sovietes

10

O retorno à ordem e o

maquinismo em Paris

124 - Formas puristas e composições urbanas 127 - Le Corbusier e a casa moderna

128 - Grandes receptáculos em Paris e Genebra 128 - Perret e o “abrigo soberano”

129 - Art déco em Paris

132 - Mallet-Stevens ou o modernismo elegante 132 - Modernismos franceses

16

Futurismo e racionalismo

na Itália fascista

200 - Um segundo futurismo 200 - Muzio e o Novecento 204 - O fascismo e o racionalismo 207 - As geometrias de Terragni 208 - Uma “mediterraneidade” ambígua 209 - Novos territórios

08

A Primeira Guerra e

seus efeitos colaterais

102 - Uma tríplice mobilização 103 - A difusão do taylorismo 103 - Comemorar e reconstruir 108 - A recomposição no pós-guerra 108 - Os novos arquitetos, entre a ciência

e a propaganda

14

A arquitetura da

reforma social

176 - Modernizando a cidade 180 - A Viena vermelha 181 - A nova Frankfurt

185 - Os conjuntos habitacionais de Taut em Berlim

186 - Subúrbios franceses 186 - Ecos além-mar 189 - Equipando as periferias

05

O desafio das metrópoles

70 - Uma explosão urbana

71 - A caixa de ferramentas dos planejadores 71 - Cidade, praça e monumento

76 - O idílio da cidade-jardim

77 - O zoneamento: das colônias às metrópoles europeias

11

Dadá, De Stijl e

Mies van der Rohe:

da subversão ao

elementarismo

138 - A explosão dadá

138 - As formas novas do De Stijl 142 - Os projetos de Van Doesburg 143 - Oud e Rietveld, do mobiliário à casa 148 - Os projetos teóricos de Mies van der Rohe

17

Uma variedade

de academicismos

e tradicionalismos

212 - Classicismo literal 214 - Classicismo moderno 216 - Persistência do tradicionalismo e autocrítica do modernismo 217 - Oportunismo sem fronteiras 217 - Uma coexistência por vezes pacífica

09

O expressionismo na

Alemanha de Weimar

e nos Países Baixos

110 - O Arbeitsrat für Kunst 111 - Dinamismo na arquitetura 117 - O expressionismo hanseático

118 - Michel de Klerk e a Escola de Amsterdã

15

Relacionamentos

e espetáculos da

internacionalização

190 - O cenário das revistas

191 - Cidades-modelo e exposições em escala real

194 - A arquitetura moderna ganha os museus 195 - Os Congressos Internacionais de

Arquitetura Moderna (CIAM)

198 - Redes de influência e narrativas históricas

06

Nova produção,

nova estética

82 - O modelo da AEG em Berlim 83 - A fábrica como inspiração 85 - A Deutscher Werkbund 88 - A mecanização futurista

12

Novidades no ensino

de arquitetura

152 - A Beaux-Arts e as alternativas 153 - A Bauhaus de Weimar 156 - A Bauhaus em Dessau e Berlim 156 - O Vkhutemas em Moscou 161 - Escolas inovadoras pelo mundo

18

Modernidades

norte-americanas

224 - Frank Lloyd Wright, o retorno 231 - Los Angeles, terreno fértil 232 - A retomada do arranha-céu 236 - Produtos industriais: entre a fábrica

e o mercado

238 - A reforma habitacional do New Deal e a imigração europeia

Sumário

01

O domínio do aço

18 - Estilo, uma questão de verdade 19 - A proeminência da École des Beaux-Arts 23 - Os programas da modernização 23 - Os vetores da internacionalização

02

Em busca da forma moderna

28 - Por uma “arte nova”, de Paris a Viena e Berlim

31 - A Grã-Bretanha após o Arts and Crafts 34 - O art nouveau e o eixo Paris-Nancy 36 - Do floreale italiano ao modern russo 36 - Renascença e exuberância catalã

03

Inovação residencial

e expressão tectônica

42 - A centralidade da Grã-Bretanha 43 - A reforma da habitação

43 - Pela uniformidade da paisagem urbana 46 - O advento do concreto armado 53 - Concreto e nacionalismo

04

Descobertas americanas

56 - Chicago em preto e branco 57 - As invenções de Sullivan

60 - Wright e a arquitetura das pradarias 63 - Wright e a Europa

67 - O arranha-céu migra para Nova York

Introdução

O campo ampliado

da arquitetura

10 - Dois limiares no tempo 13 - Um carrossel de hegemonias 14 - A continuidade dos tipos 15 - Historiadores versus arquitetos:

(16)

19

Funcionalismos e

estéticas mecanicistas

240 - O taylorismo e a arquitetura 241 - Da ergonomia para as dimensões

padronizadas

242 - O funcionalismo poético de Chareau e Nelson

243 - O funcionalismo dinâmico na França e nos Estados Unidos

25

Le Corbusier reinventado

e interpretado

322 - A Unité d’Habitation 322 - Palácios e casas 324 - A surpresa de Ronchamp 325 - Aventuras indianas 326 - Invenção e introspecção 326 - Maneirismos corbusianos 330 - O brutalismo anglo-americano 334 - A epopeia de Brasília

31

A temporada pós-moderna

412 - Entre a nostalgia e o lúdico 413 - O “fim das proibições” 414 - Metáforas de uma urbanidade

reencontrada

417 - O pós-modernismo chega aos Estados Unidos

418 - O front incerto do pós-modernismo 422 - A cidade, composição ou colagem?

22

Arquiteturas de uma

guerra total

286 - O front e a retaguarda 287 - Escalas extremas

288 - A defesa contra ataques aéreos 291 - Técnicas construtivas e destrutivas 291 - Mobilidade e flexibilidade 292 - A arquitetura da ocupação militar 292 - Imaginando o mundo do pós-guerra 294 - Convertendo para a paz

294 - Memória e monumentos

28

Rumo a novas utopias

378 - Itália: a continuidade crítica 381 - Independentes, porém juntos 385 - A tecnologia entre a ética e os ícones 386 - Cidades flutuantes da indeterminação 388 - O metabolismo no Japão

388 - As megaestruturas e a agitação global 389 - A tecnologia e seu duplo

34

As fronteiras da arquitetura

450 - Gehry, ou a sedução da arte 454 - Koolhaas, ou o realismo fantástico 455 - Nouvel, ou o mistério redescoberto 457 - Herzog & de Meuron, ou o princípio

da coleção

459 - Desconstrutivistas e racionalistas 463 - Fragmentação e poesia no Japão

20

As linguagens modernas

conquistam o mundo

250 - A derrubada da relutância britânica 255 - Modernismos na Europa Setentrional 258 - O moderno como marca nacional tcheca 260 - Os modernos na Hungria e na Polônia 261 - Personagens dos Balcãs

262 - A modernização ibérica 264 - As pesquisas japonesas 265 - As curvas brasileiras

26

As formas da hegemonia

norte-americana

338 - A segunda era do arranha-céu 342 - Mies, o americano

345 - O último retorno de Wright 346 - Pesquisas na Costa Oeste 349 - Gropius e Breuer: a assimilação

da Bauhaus

351 - O lirismo de Saarinen e a ansiedade de Johnson

352 - A solidão de Louis Kahn 353 - Da experimentação ao comércio

32

Do regionalismo ao

internacionalismo crítico

424 - Scarpa ou a redescoberta do ofício 426 - O rigor poético de Siza

427 - Esforço coletivo no Ticino 431 - Moneo e as terras ibéricas

432 - A Europa como campo de experimentação 433 - Pesquisas no sul da Ásia

433 - Personalidades latino-americanas 434 - Um internacionalismo crítico

23

Tabula rasa ou horror

vacui: reconstrução

e renascimento

298 - Um pós-guerra americano

299 - Reconstituição literal ou modernização radical?

301 - A “unidade de vizinhança” como modelo 302 - Os tradicionalistas em ação

302 - Em busca de um modelo britânico 303 - Debates alemães 309 - Um triunfo moderno?

29

Entre o elitismo e o

populismo: a arquitetura

alternativa

394 - Pesquisa e tecnocracia 395 - A crítica de Venturi 396 - Cinzentos e Brancos

401 - Do funcionalismo ao advocacy planning

35

Pontos de fuga

469 - Geografias estratégicas 469 - Materiais reinventados 471 - Edifícios sustentáveis

472 - A cidade renascida, porém ameaçada 472 - A paisagem como horizonte 473 - Mídias hipermodernas

474 - Expectativas sociais persistentes

21

Experiências coloniais

e novos nacionalismos

272 - Da arabização para a modernização no norte da África

275 - Iniciativas no Oriente e na África 275 - Cidades italianas no entorno do

Mediterrâneo

277 - A modernização da Turquia e do Irã 279 - O pluralismo chinês

283 - Hegemonia do modernismo na Palestina

27

Repressão e difusão

do discurso moderno

358 - Sete Irmãs em Moscou

360 - Exportação do realismo socialista 360 - A crítica de Khruchtchóv 361 - O prestígio de Aalto 366 - Novas energias japonesas 367 - Latino-americanismos 373 - Arquipélagos de invenção

33

O otimismo neofuturista

do high-tech

438 - O Pompidou estabelece um cânone 439 - A composição segundo Richard Rogers 439 - A experimentação segundo Renzo Piano 441 - A estrutura segundo Norman Foster 445 - Arquitetos e engenheiros

446 - Novas geometrias

24

A crise fatal do movimento

moderno e as alternativas

310 - O Festival da Grã-Bretanha 312 - Neorrealismo italiano 314 - O planeta Brasil

318 - Habitação e inovação no norte da África 319 - Os CIAM em tumulto

320 - O fim dos CIAM

30

Após 1968: uma arquitetura

para a cidade

404 - 1968, annus mirabilis 404 - A periferia em primeiro plano 405 - A forma da cidade 408 - Os usuários no comando 476 - Notas 492 - Bibliografia 505 - Índice 526 - Agradecimentos e créditos das imagens

(17)

cosac naify assessoria de imprensa joão perassolo joao.perassolo@cosacnaify.com.br 11 3218 1468 divulgação universitária rafael falasco rafael.falasco@cosacnaify.com.br 11 3823 6562

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