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AscendenciasVisienses - MAS

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Academic year: 2021

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Índice

Volume I

Introdução

Cardoso

Cardoso 2

Cardoso 3

Mello

Figueiredo

Figueiredo Barreto

Figueiredo da Ota

Figueiredo de Tonda

Figueiredo de Vila Nova

Figueiredo de Carvalhiços e Vila Chã

Figueiredo de Aveiro

Figueiredo / Almeida

Figueiredo de Vila Cova

Figueiredo de Ázere

Figueiredo / Castello-Branco

Figueiredo de Seia

Soares de Albergaria

Vaz Soares

6

22

80

95

103

124

141

145

155

166

171

183

186

194

197

213

225

228

251

(4)

Figueiredo 2

Castello-Branco

Barros

Almeida

Almeida (Abrantes)

Almeida de Moçâmedes

Almeida da Cavalaria

Loureiro

Loureiro 2

Loureiro 3

Ferreira / Varela de Campos

Figueiredo Castello-Branco

Mesquita

Amaral

Amaral do Pindo

Amaral de Santar

Rego / Moreira

Vilhegas de Castello-Branco

260

262

273

300

323

340

352

358

384

387

392

401

405

422

442

458

465

472

5

(5)

Índice

Vo lume II

Costa

Costa de Gouveia

Costa 2

Andrade Pessoa / Girão

Homem

Homem de Bordonhos

Cunha

Abreu

Abreu 2

Campos Coelho

Cazal

Moraes

Soveral

Soveral 2

Soveral 3

Soveral / Cáceres

6

21

31

37

54

68

73

106

119

127

152

157

161

175

196

203

(6)

Freire de Andrade

Freire de Andrade 2

Alvellos

Rebello

Botelho

Albuquerque

Abreu Castello-Branco

A zevedo

Borges

Tenreiro

Veiga

Bibliografia

As minhas ascendências visienses

(costados)

209

219

229

245

266

244

316

337

343

364

378

382

386

5

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Introdução

1.

Um dos principais problemas da investigação genealógica amado-ra, genericamente considerada, é o da imensidão dos objectos pos-síveis face ao tempo e meios disponíveis. Se a isto acrescentarmos a natureza do fenómeno investigado e a multiplicidade quase infinita das informações que lhe servem ou podem servir, facilmente se conclui que uma obra de Genealogia é por definição incompleta, e sê-lo-á tanto mais quanto mais vasto for o seu objecto.

Torna-se assim cada vez mais fundamental uma boa avaliação não só das metodologias mas sobretudo do objecto e do objectivo de uma investiga-ção genealógica. E a especializainvestiga-ção temporal/espacial/segmentada parece ser a única forma de minimizar essas pesadas condicionantes, mesmo com-portando o risco de um inultrapassável menor conhecimento das franjas temporais e espaciais do segmento investigado.

E é também evidente que quanto mais escasseiam as fontes primárias e até secundárias, mais difícil se torna a investigação e mais necessário é o recur-so a padrões. Se bem que o inverrecur-so, ou seja a super abundância das fontes, também tenha muito que se lhe diga e não os dispense.

Mas o que é isso dos padrões?

Sem querer entrar na Teoria do Conhecimento e na kantiana incognoscibi-lidade das coisas em si, a verdade é que nos é sempre possível detectar na realidade que nos rodeia um conjunto de padrões específicos, ou seja, par-ticularidades estruturadas de forma constante e inteligível. Podemos não conhecer a sua causa ou razão de ser, mas uma mente treinada e uma observação atenta rapidamente constroem esses padrões e com eles esta-belecemos um quadro estruturante de categorias e juízos relativos, que crescerá e melhor se estabelecerá à medida em que a observação e o racio-cínio sobre eles aumentarem. O que é duplamente difícil na realidade histó-rica, com a qual apenas nos é possível um contacto indirecto e negativa-mente influenciado pelo diverso conhecimento e mentalidade do obser-vador.

Por isso, se é certo que uma atitude de constante abertura parece exce-lente para as ciências ditas exactas, ou pelo menos para aquelas que se podem estruturar na verificação experimental, no caso das ciências sociais, e no caso particular da História e particularíssimo da Genealogia, esse recur-so estruturante não está devidamente disponível, quer pelas circunstâncias quer pela sua própria natureza. Mesmo o recurso à análise do ADN, que por enquanto ainda não é um método de investigação genealógica, tem imen-sas limitações, quer pela via do acesso e identificação do material a anali-sar, quer pela natureza da própria análise.

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Sem minimamente partilhar ideias com o positivismo e/ou o cientificismo, parece-me fundamental trazer à Genealogia uma formulação e métodos científicos que lhe permitam sair do pântano empírico e ficcionado em que estagna. Devendo ter o máximo cuidado para não cair num dogmatismo fechado, não haverá no entanto maneira de evitar, nesta fase inicial, a ten-dência para um certo iluminismo estruturante, tão absurdas são boa parte das fontes bibliográficas disponíveis.

O objecto da Genealogia pode dizer-se que é o indivíduo social e a sua in-tegração na respectiva corrente familiar (genética). O que à partida levanta um inultrapassável problema de base: a geral impossibilidade científica de determinar se um indivíduo, tido e havido no seu tempo como filho de de-terminado casal, o é efectivamente. Coisa que só a respectiva mãe poderia saber, e mesmo esta às vezes pode ter dúvidas... Por outro lado, a falta de documentação relevante, a documentação falsa e a contradição ou diver-gência documental, tornam difícil, difuso e lacunar o processo de reconsti-tuição ou verificação genealógica, mesmo que apenas verificado na evi-dência social e histórica, afinal a única possível e, portanto, a única exigível.

Os mais extremistas defendem que a Genealogia só pode assentar na veri-ficação documental irrecusável dessa evidência social. Ou seja: se uma se-quência genealógica não é documentável nestes termos, não deve ser con-siderada como tal pela Genealogia.

Compreendo o desespero dos que assim pensam, face às mistificações e absurdos (nomeadamente cronológicos) que empestam a Genealogia. Mas não posso concordar. Semelhante condicionalismo iria coarctar em muito a desejável aproximação da Genealogia científica à realidade que estuda.

À absoluta falta de documentação cabal conhecida, a Genealogia deve re-correr à recolha de indícios que, a par com o conhecimento da História e a definição de padrões, lhe permitam formular hipóteses que, apresentadas como tal, mesmo quando não são verdadeiras muitas vezes conduzem à descoberta de documentação relevante nos mais insuspeitados lugares ou à formulação de novas hipóteses mais ajustadas à realidade, eu diria numa dialéctica hermenêutica.

Este processo dedutivo, um tanto lúdico, que pessoalmente me encanta, tem que ter, no entanto, limites bem estabelecidos, para não resvalar, como tende a acontecer, para a ficção mais delirante e desinformada da realidade das mentalidades e comportamentos das sociedades em que o problema se insere.

Criar padrões que limitem e enformem esta actividade dedutiva, bem como estabelecer métodos que concorram o mais possível para a relativa segurança das hipóteses, é fundamental para a Genealogia. Sem eles, não é possível credibilizar o processo e evitar o descambar geral para a ficção, a mistificação e mesmo o absurdo.

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cínio circular, não é menos certo que sem o arrimo destes padrões as con-sequências são bem mais dramáticas.

A solução que defendo é mista, ou seja: a bem da investigação sobre de-terminado objecto, esses padrões e métodos devem ser escrupulosamente seguidos. Se, no decorrer dessa investigação, depararmos com documen-tação que nos indique que de alguma forma o padrão não está correcto ou completo, então o objecto da investigação deve mudar, passando a ser a correcção desse padrão. Ou, no mínimo, servir de base para que essa cor-recção se faça à posteriori.

Como é evidente, um documento que contraria um padrão (já de si esta-belecido em muitos outros documentos) requer uma atenção e cuidados especiais, que desde logo avaliem a sua autenticidade e, por assim dizer, as semânticas possíveis. E, como também é bom de ver, só firmado num do-cumento autêntico e de interpretação irrecusável se pode seguramente contribuir para a reformulação ou melhoria do padrão. A verdade será assim prosseguida por aproximações sucessivas e numa dialéctica disciplinada por um conjunto definido de regras, padrões e métodos.

Qualquer outra atitude mais permissiva ou difusa, por muito atraente e simpática que seja, só vem prejudicar a credibilidade da Genealogia e, em última análise, inviabilizá-la como área do saber, podendo mesmo afastar dela muitos dos que lhe poderiam dar inestimáveis contributos.

Esta é a minha firme convicção, e nela, felizmente, estou cada vez mais acompanhado. Grupo informal onde, se persiste esta ou aquela nuance ou divergência, beneficia por isso de uma dialéctica fundamental à consolida-ção do processo.

Mas se há muito já que penso estas questões, não quer dizer que tenha as soluções. Até porque, na Genealogia um pouco como na vida, não há pro-priamente soluções, mas apenas opções por males menores ou, para ser optimista, bens melhores…

É óbvio que a fonte primária explícita é a grande base da comprovação genealógica e o intento de toda a investigação.

Porque a Genealogia não lida com ideia gerais e sínteses simplistas, ao contrário do que muitas vezes acontece com a História. Fenómeno agrava-do pela prática recorrente agrava-dos historiaagrava-dores em geral, e agrava-dos portugueses em particular, de extrapolarem regras de exemplos insuficientes e até de se-leccionarem, consciente ou inconscientemente, os exemplos que melhor servem ao seu pré-conceito.

É certo que considero fundamental em Genealogia o conceito de padrão. Mas estes padrões não devem ser nem generalistas nem simplistas, caracte-rizando-se justamente pelo contrário, ou seja, pela atenção ao detalhe e a análise do pormenor.

Os padrões são fundamentais justamente porque nas questões da Gene-alogia as regras gerais são tão difusas e variáveis (no tempo, no espaço e no

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segmento) que dificilmente se podem chamar regras.

Sempre apliquei à Genealogia as técnicas e métodos da investigação jor-nalística ou policial, muito semelhantes no essencial. Como se sabe ou se imagina, os indícios e os padrões aí utilizados não se destinam a comprovar nada, sendo apenas meios eficazes para a prossecução da verdade no emaranhado de um floresta de enganos, falácias, alçapões e muita contra--informação.

Também na Genealogia a dedução hermenêutica, por si só, não prova na-da. Se bem que, quando bem feita e em certas circunstâncias, pode, pela conjugação dos efeitos documentados, determinar causas em si indocu-mentadas. Da mesma forma que na Astronomia, por exemplo, a existência de um planeta pode ser comprovado ainda não pela sua verificação directa mas apenas pelos efeitos que provoca.

No geral, contudo, a actividade dedutiva serve, como na investigação jor-nalística ou policial, para separar o trigo do joio e, em última análise, chegar à prova material. Para o que lhes é fundamental o conhecimento dos pa-drões próprios da realidade que investigam.

E um dos padrões por exemplo para os séculos XV e XVI, os que neste livro mais importam, é justamente a existência de um quadro de comporta-mentos que se poderia dizer desregrado, pelo menos segundo a ideia de regra que hoje temos. Outro, é o facto de o mesmo nome de família poder não significar parentesco ou tronco comum. Até porque era costume dar--se aos escravos o nome das famílias a que pertenciam. Só para dar um exemplo, os morgados de Alvellos Henrique de Lemos e Campos e sua mu-lher Briolanja de Alvellos do Amaral tinham uns escravos, casados um com o outro, que se chamavam Mateus de Campos e Joana de Alvellos...

Mas vamos contentar-nos com este escasso quadro de referências? Julgo que não. É portanto necessário definir, o que está a ser feito, padrões que procurem determinar a lógica endógena dessa diversidade, real ou aparen-te. Por isso esses padrões tendem a relacionar-se muito mais com as menta-lidades e as motivações do que com os comportamentos positivos.

Na minha opinião, o objectivo maior desses padrões é permitir que o inves-tigador pense o mais possível como o investigado ou, dito de outra forma, se possa transportar para a realidade que estuda. Por isso esses padrões de-vem ter cada vez uma malha mais fina, porque, só para dar um exemplo que aqui se aplica, há sempre, para a mesma época, uma diferença enorme nos padrões da nobreza de corte e da nobreza de província, para já não falar dos padrões específicos de cada segmento e região e mesmo das nuances próprias das zonas de fronteira, espacial e temporal, onde essas diferenças tendem a ser mitigadas por uma natural interactividade.

Um bom conhecimento de todos esses padrões e suas subtis nuances é um objectivo, se não impossível, muito difícil de atingir. Mas ninguém disse que a Genealogia era fácil. É até uma das coisas difíceis que há. Donde re-

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sulta que cada vez se procura mais a especialização temporal, espacial ou de segmento, como a única forma de um investigador poder realmente co-nhecer se não todos pelo menos a maioria dos padrões relativos à realidade com que lida. Para já não falar do conhecimento das fontes específicas.

Estes padrões são portanto fundamentais à investigação, não só para a dedução de pistas mas para a própria heurística documental e para a exe-gese ou hermenêutica da casuística. E, supletivamente, como esqueleto es-truturante de toda a Genealogia. Sem eles, assistimos ao espectáculo lasti-mável das hipóteses mais absurdas.

O perigo de estes padrões poderem prejudicar a descoberta da verdade em situações excêntricas, é talvez o pequeno preço a pagar pelas suas van-tagens estruturantes. Mas, afinal, não é isso mesmo que tende a passar-se em todas as Ciências?...

De resto, não hão-de ser esses padrões a evitar que prossiga o seu traba-lho um investigador que se depare com uma dessas situações excêntricas. Certamente que continuará, talvez mesmo com renovada energia, até pro-var essa excentricidade e desta forma incorporá-la no padrão. Mas já nos evita, felizmente, as opiniões de ânimo leve e escasso conhecimento, con-vencidas de que tudo, afinal, é possível, logo provável e aceitável.

Tal como acontece na investigação jornalística ou policial, também na Ge-nealogia podemos distinguir entre prova positiva e prova negativa. Esta, como o nome indica, baseia-se não na existência de provas, mas na ausên-cia delas. Ou seja: numa circunstânausên-cia em que uma determinada causa teria de determinar certos efeitos, a inexistência desses efeitos prova a inexistên-cia da causa.

A utilização dos cálculos de probabilidade, que de uma forma intuitiva afi-nal se fazem sempre na dedução de hipóteses, comporta o risco da permis-sividade, agravado pela tendência de terceiros a esquecerem o grau de pro-babilidade e passarem à certeza. Esse, aliás, é o caminho tradicional dos no-biliários. Se verificarmos o que foi dito ao longo dos tempos, podemos na maioria dos casos detectar quando foi introduzida a hipótese ou o "diz-se" e quando, sem mais, passou a certeza…

Por isso prefiro uma atitude que em contraposição podemos chamar dua-lista. Ou seja: centrar o objectivo da investigação na necessidade de apurar se uma coisa é ou não é, obviamente apenas quando a natureza da questão se põe nestes termos.

Mas ter por objectivo este intento não impede, antes pelo contrário re-quer, que seja feita uma avaliação das probabilidades. Desta forma, se uma hipótese tem, digamos, 80 ou 90% de probabilidades, é muito provável em Genealogia e portanto uma boa hipótese. Se tem 50%, é uma ideia como outra qualquer, ou seja, tem tantas chances de ser como de não ser, pelo que a Genealogia não a deve tomar em consideração como hipótese, mas apenas como pista para a competente investigação. Se tem menos de 50%,

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pura e simplesmente não existe sequer com ideia apresentável.

Justamente, o necessário é exigir à dedução genealogia hipóteses com alto grau de probabilidade, sem o que não passa de ficção.

Para exemplificar, trago aqui à colação um caso tratado neste livro. Com o conhecimento dos filhos certos do prior do Hospital D. Álvaro Gon-çalves Pereira, e entre eles obviamente D. Nuno Álvares Pereira, não pude deixar de retirar um conjunto de padrões específicos. Convém dizer que muitas vezes acontece que alguns destes padrões não são imediatamente conscientes. Mas estão lá e são eles que depois nos permitem intuições certeiras ou, como dizem os ingleses, educated guess.

Quando tratei Gil Vaz da Cunha, o alferes-mor de Dom João I, e sua mu-lher D. Isabel Pereira, que todas as genealogias dizem irmã de D. Nuno, e depois de recolher todas as fontes primárias disponíveis, tendo nomeada-mente documentado que Gil Vaz da Cunha de facto casou com uma D. Isa-bel Pereira, comecei a verificar discrepâncias de padrão que me convence-ram de que as genealogias não deviam estar certas. Não era nada de abso-lutamente definitivo, na maior parte provas negativas, mas o suficiente para me levar a uma investigação mais detalhada. Procurei deste logo, é óbvio, saber se existia alguma carta de legitimação de uma Isabel filha do prior Ál-varo Gonçalves. Nada! Depois de muito procurar e analisar a questão, ve-rifiquei que era D. Isabel que teria de ter com Martim Gonçalves Alcoforado a co-propriedade de uma série de bens dos Portocarreiro, nomeadamente a honra que deu nome a esta linhagem. E em tais circunstâncias que não podiam resultar de compra ou troca, mas apenas de uma herança comum. Pela análise da ascendência de Martim Gonçalves Alcoforado, verifiquei que era primo muito próximo de D. Álvaro Gonçalves Camelo, justamente pelo lado donde vinham os ditos bens.

Ora, este D. Álvaro Gonçalves Camelo foi o imediato sucessor de D. Álvaro Gonçalves Pereira como prior do Hospital. E, além disso, era seu primo pró-ximo, pois sua mãe era Pereira, prima-direita de D. Álvaro Gonçalves Pereira. Embora ainda não o tenha documentado preto no branco, não me restam hoje grandes dúvidas de que D. Isabel Pereira era filha do prior D. Álvaro Gonçalves Camelo, conforme refiro em CUNHA.

A informação genealógica tradicional devia basear-se em algum docu-mento ou memória onde esta D. Isabel era dita filha do prior do Hospital D. Álvaro Gonçalves. E imediatamente foi assumido, até pelo nome de famí-lia dela, que se tratava do prior D. Álvaro Gonçalves Pereira.

Interessa aqui ressalvar, desde logo, que foi justamente a questão dos pa-drões que primeiro me levou a desconfiar. E pergunto a mim mesmo se, na eventualidade de ter encontrado a legitimação de uma Isabel, filha de um prior Álvaro Gonçalves, em circunstâncias e/ou datas compatíveis, não teria assumido a mesma coisa e fechado a questão. O facto é que só mesmo a discrepância dos padrões me poderia ter levado a recusar o que aparente-

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mente seria uma fonte primária irrecusável, que vinha confirmar as fontes secundárias. E só esta recusa me teria levado a procurar mais e portanto a encontrar o que julgo ser a verdade.

Moral da história: os padrões são fundamentais até para a boa avaliação da heurística primária. Não são portanto o último mas o primeiro recurso. Se bem que, obviamente, apenas funcionam face à documentação e em correlação com ela. Os próprios padrões têm por base um conjunto de factos devidamente documentados. Mas se à partida não formos munidos do conhecimento destes padrões, não poderemos, nomeadamente, avaliar devidamente a documentação que formos encontrando.

2.

Devo confessar que o presente ensaio começou, há mais anos do que gostaria, com o objectivo de documentar o que dizia uma muito completa inquirição de genere para a Ordem de Cristo de um 5º avô meu. E daí o seu título e estrutura, que reflectem justamente esta perspectiva.

Retirando as repetições dos testemunhos, a dita inquirição diz no essencial o seguinte:

Habilitação para a Ordem de Cristo

de José Cardoso de Mesquita de Mello e Souza

Teve mercê da rainha Dona Maria I de cavaleiro da Ordem de Cristo a 31.7.1767. A portaria é assinada pelo secretário de Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

Certamente porque quando teve mercê da Ordem tinha apenas 11 anos de idade, as respectivas habilitações só a 27.8.1778 foram mandadas fazer, sendo aprovadas pela Mesa a 30 de Outubro desse ano.

«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e Sete Centos e Setenta e Oito annos aos vinte e Sete Dias do Mês de Agosto do dicto anno em esta Cidade de Vizeu e Casas da Residencia de Fr. An-tónio Joze de Albuquerque do Amaral Cardozo onde Eu João Correa de Almeida Conego na Catedral desta mesma Cidade fui chamado para darmos comprimento a hua Ordem de Sua Magestade fidelissima, expedida pello Tribunal da Mesa da Consciencia e Ordens, pellos depu-tados Manoel Ignacio de Moura e Francisco Feleciano Velho da Costa de Mesquita Castello-Branco para Justificar a Nobreza e mais quali-dades de Joze Cardozo de Mesquita de Mello e Souza e de Seus Pais e Avós e de como aceitou a dicta Ordem mandou elle Cavaleiro Fr. An-tónio Joze de Albuquerque do Amaral Cardozo fazer este termo de aceitação por mim nomeado João Correa de Almeida Conego na

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Cate-dral desta Cidade que fiz e assiney. João Correa de Almeida

Frei António Joze de Albuquerque do Amaral

Termo de Nomeação

No mesmo dia e mez e ano nominou o Cavaleiro Fr. António Jozé de Albuquerque do Amaral Cardozo Fidalgo da Caza de Sua Magestade a mim o Conego João Correa de Almeida para Sacretario desta delegen-cia que eu aseitei e fiz este termo Eu o Conego João Correa de Almeida desta Cidade de Vizeu e asiney.

Fr. António Joze de Albuquerque João Corrêa de Almeida

Termo de Juramento

Em virtude da mesma Ordem logo elle dito Cavaleiro Fr. Antonio Joze de Albuquerque do Amaral Cardozo me deu o Juramento dos Santos Evangelhos para bem e verdadadeiramente comprir como que nella se determina e ele ditto Cavaleiro o recebeu de minha mam para bem e verdadeiramente exzecutar o que na dita Ordem se determina e Eu Conego João Correa de Almeida fiz este termo em que ambos asig-namos

João Correa de Almeida

Frei António Joze de Albuquerque do Amaral

Justificação

Anno do nascimento de Nosso Senhor Jezus Cristo de mil Sete Centos e Setenta e oito nesta Cidade de Vizeu onde o Cavaleiro Fr. António Joze de Albuquerque do Amaral Cardozo Comigo o Conego João Cor-rea de Almeida Sacretario nomeado para esta Justificação fiz este ter-mo de Acentada por mim feito a asignado.

João Correa de Almeida

António Bernardo de Loureiro do Amaral Cardozo Mestre Escolla da Catedral desta Cidade de Vizeu, das pessoas mais principais desta Comarca e provincia aquem ele Cavaleiro deu o Juramento dos Santos evangelhos e prometeu de baixo do mesmo dizer a verdade e de cos-tume disse nada. Idade de sincoenta annos.

E perguntado elle testemunha disse que conhece muito bem ao Justi-ficante Joze Cardozo de Mesquita de Mello e Souza natural desta Cida-de ser filho legitimo Cida-de Manoel Cida-de Mesquita Cardozo do Amaral natu-ral da mesma Cidade, e nella Cidadam e atualmente Veriador onde o costumam ser as pessoas mais principais e ser o Pai do Justificante de conhecida Nobreza nesta Comarca e aparentado com as principais pes-

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soas della, tratando-se sempre à Lei da Nobreza como as mais pessoas da sua qualidade, por ser filho de Joze Cardoso do Amaral, que tam-bem foi Veriador nesta Cidade e hua das pessoas de qualidade, sendo natural da Villa de Alenquer aonde sabe ele testemunha pelo ver nas inquiriçoens de genere do pay do Justificante que se acham no Cartorio da Camara desta Cidade, que elle foi batizado na dita Villa de Alenquer aos vinte e tres de Janeiro de mil seiscentos e trinta e nove pello Prior da dicta Villa Pedro da Silveira. E sendo Alferes de hum terço da Cavalaria veio Casar nesta Cidade com D. Maria de Mesquita Cardozo, filha de Antonio Rabello de Campos e de sua Mulher D. Maria de Mesquita Car-dozo, ambos naturais da mesma Cidade e nela das principais pessoas e Familias, e outrosim segundo neto o Justificante de Pedro Lopes de Ra-bello, natural desta Cidade, o qual indo Casar a Villa de Alenquer com D. Isabel de Lima que foi sua segunda Mulher, aqual era filha de Anto-nio Pereira Lobato e de sua Mulher D. Maria Soares de Lima, naturais da ditta Villa de Alenquer e nella das pessoas de conhecida Nobreza. He o Justificante terceiro Neto de Lionel Cardozo Butelho e de sua se-gunda Mulher D. Catarina Paes do Amaral, ambos naturais desta Cida-de e nella das pessoas mais Cida-destintas em qualidaCida-de Cida-de trato e Nobreza. Outrosim he quarto Neto de Simam Butelho Cardozo Fidalgo da Casa Real e natural desta cidade

E quinto Neto de Pedro Lopes Cardozo Dezembargador da Casa da Su-plicação, Fidalgo da Casa Real e primeiro Corregedor das Comarcas da Beira em tempo de ElRei D. Manoel e natural desta cidade, e de sua Mulher D. Ana Rodrigues de Abreu.

Outrosim sesto Neto de Lopo Alv.es Cardozo Ayo do Infante D. Pedro, o qual teve o titolo de Vaçalo e foi natural desta Cidade, e de sua Mu-lher D. Leonor Rodrigues Cardozo, todos de esclarecida Nobreza desta Comarca e Provincia.

He setimo Netto o Justificante de Fernam Cardozo Alcaide mor de Ce-lorico, o qual teve tambem o titolo de Vaçalo, e de sua Mulher e Prima D. Maria do Amaral

He outavo Neto de Vasco Paes Cardozo Alcaide mor de Trancoso, Se-nhor das Villas de Moreira e do Erviham, q. tambem teve o titolo de Va-çalo, e de sua Mulher D. Brites Anes do Amaral a qual era Irmão do Bis-po de Vizeu D. Luiz do Amaral1, filho este de João Lourenço do Amaral

Alcaide mor de Viseu e Senhor de Ervilham, e de sua Mulher D. Maria Fernades de Berrantes, todos das principais familias desta Comarca e Provincia, e por tais tidos e avidos e reputados o que tudo ele teste-munha sabe por papeis autenticos e Genealogicos que conserva em seu poder e a elles se refere.

Outrosim é o Justificante José Cardozo de Mesquita de Mello e Souza filho de D. Francisca Thereza de Mello e Souza, natural do lugar do

Pin-1. Há aqui uma confusão: quem era irmã do bispo de Viseu e cardeal D. Luiz do Amaral não era a mulher de Vasco Paes Cardoso

mas sim a mulher de seu filho Fernão

Álvares Cardoso, aqui referido apenas como Fernão Cardoso, que se chamou Maria Anes da Costa e não Maria do Amaral como aqui se diz. João Lourenço do Amaral era de facto

o pai da mulher de Vasco Paes Cardoso, mas não o homónimo casado com Maria Fernandes Barrantes, que foram avós daquele.

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dello deste termo da freguesia de Silgueiros.

Netto de Antonio de Sam Payo Homem, natural do ditto lugar de Pin-dello, e de sua Mulher D. Francisca Thereza de Mello e Souza, natural da quinta da Corojeira do Concelho de Lafoens, filha esta de Manoel Ribeiro Giram e de sua Mulher e Prima D. Thereza de Mello e Souza, a qual era filha de Carellos Giram de Barros, Senhor da quinta do Ribeiro, e de sua Mulher D. Eufemia de Mello e Souza, filha esta de Lionel Car-dozo Butelho e de sua primeira mulher D. Joanna de Mello e Souza. Esta era filha de Roque de Mello Soares, Fidalgo da Casa Real, hua das Pessoas de mais conhecida Nobreza desta Provincia, e de sua Mulher D. Maria de Castello-Branco de Figueiredo, todos da mesma qualidade e Nobreza.

He o Justificante segundo Netto Materno de Outro Antonio da Sam Payo Homem, natural do dito lugar de Pindello, e de sua Mulher D. Joanna de Figueiredo, natural de Sam Miguel do Oiteiro, e terceiro Neto de An-tonio Gonçalves Homem, natural do ditto lugar de Pindello, Conego Penetenciario q. foi nesta Cidade, e de Maria de Araujo Ponce, Mulher solteira e natural do lugar de Santar.

He quarto Netto Materno o Justificante de Francisco Lopes Homem e de sua Mulher Maria Antonia, naturais do dito lugar de Pindello, todos pessoas nobres e de conhecida Nobreza, o que tudo sabe pelas razoens que já declarou e ter em seu poder noticias genealogicas e nobeliarios veridicos aos quais se reporta, e mais não disse.

E ao Segundo disse que nam tem parentesco com o Justificante em grau conhecido.

E ao Terceiro disse que nam he inimigo do Justificante nem o amiaçarao ou sebornaram nem elle Testemunha he capas de Jurar menos verdade. Ao Quarto sisse q. sabe o Justificante he de conhecida Nobreza por seus Pais e Avós e aparentado com m.tas familias das mais esclarecidas desta Comarca e Provincia.

Ao Quinto disse que o Justificante he marido de Legitimo Matrimonio, que mam tem cometido crime algum o feito cazo grave que tenha per-dido opiniam, antes a tem bem estabelecida entre os homens de Pro-bidade.

Ao Seisto disse q. sabe que o pertendente nam he Ereje nem aposteta da Nossa Santa Fé.

Ao Setimo disse que sabe que seis Pais e Avós nunca cometeram crime de Leza Magestade Divina ou humana.

Oitavo que sabe que o Justificante nam he professo em Relegiam algua. Ao Nono que sabe pello ver que o Justificante he sam e bem disposto e capas de Servir a Ordem.

Ao Decimo que passa de dezoito anos e nam tem sincoenta, o que tudo sabe pello ver e conhecer e trato que tem com elle Justificante e mais

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não disse e asignou e Eu o Conego João Correa de Almeida que a Es-crevi.

Albuquerque do Amaral

Anto Bern.do de Lou.ro do Am.al»

Segue o depoimento, de teor idêntico, das seguintes testemunhas: João Cardoso Pereira Castello, cónego capitular da Sé de Viseu, n. ib, «das pessoas principais dela», de 70 anos.

José da Silveira Pinto de Bulhões, fidalgo da Casa Real, deão da Sé de Viseu, de 50 anos.

Bernardo de Alvellos de Mello Lemos e Castro, «das pessoas mais des-tintas desta Cidade e Comarca», n. Viseu, de 45 anos.

Agostinho Nunes de Souza, cónego capitular da Sé de Viseu, «das pes-soas de qualidade desta Cidade», de 76 anos.

Francisco de Campos Coelho, «hua das pessoas mais destintas e princi-pais desta cidade como tamém da Comarca», de 90 anos.

António Corrêa de Oliveira, n. em Pindêlo, «hua das pessoas principais da mesma freguesia», de 78 anos.

João de Paiva, padre, n. Pindêlo, de 63 anos.

Luiz de Figueiredo Corrêa, cura da igreja de Stª Mª de Silgueiros, de 70 anos.

Theotónio Luiz de Gusmão, abade de Stª Mª de Silgueiros, «das princi-pais pessoas desta comarca», de 72 anos.

Manuel de Figueiredo, padre, notário do Stº Ofº e encomendado da igreja de Stª Mª de Silgueiros, de 71 anos.

Feliciano José de Figueiredo, n. em Pindêlo, de 60 anos.

Francisco Coelho de Carvalho, n. em Viseu, morador na sua quinta do (Cequeiro), extramuros da cidade, de 52 anos.

António Carlos de Almeida, bacharel formado e médico de partido de Sua Majestade em Viseu, de 74 anos.

Alexandre Casimiro Soares, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e es-crivão proprietário do ofício da Chancelaria de Viseu, estando em cor-reição em Ventosa, de 58 anos.

António Machado de Almeida Telles, cónego capitular da Sé de Viseu, n. em Ansiães (Lafões), «hua das pessoas mais destintas do Concelho», de 54 anos.

Francisco Homem de Almeida Albuquerque, n. em Ansiães, «das pes-soas da primeira destinçam do Concelho», de «trinta e tantos» anos. João Alexandre de Almeida, cónego capitular da Sé de Viseu, n. em

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An-siães, «das pessoas da primeira destinçam do Concelho», de 30 anos. Fernando de Antas da Cunha e Brito, n. em Alenquer e aí proprietário do ofício de escrivão dos órfãos, de 56 anos.

José de Valadares Leitão, n. em Alenquer, de 29 anos.

O processo de habilitação termina com a seguinte declaração do comis-sário:

«Pella Ordem junta, é Vª Mag.de Servida, mandar-me tirar a inquirição de Jozé Cardozo de Mello e Souza, Natural desta Cidade de Vizeu; Nela perguntei seis testemunhas; seis em Pindello fregueia de Santa Maria de Silgueiros, donde he natural sua Mai; e outras seis no lugar da Curu-geira, freguezia de Santa Maria de Ventoza, donde Era natural a Avó materna do Justificante; que são ditos debaixo de Juramento, vão escri-tas em trinta e huma meias folhas de papel, todas numeradas sem entrelinha ou couza que duvida faça. Não procurei mais testemunhas, porque todas de conhecimento próprio jurarão conformes, donde bem se prova a antiga Nobreza do Justificante, que he bem conhecido nesta comarca, e aparentado com os milhores della; pelo que paresse digno da Merce que Vª Mag.de lhe quizer fazer.

Viseu, 13 de Setembro de 1778 O Cavaleiro comissario

Frei Antonio José de Albuquerque do Amaral».

Verifiquei que, no geral, o que diz esta inquirição, que reflecte claramente a cultura nobiliárquica da sociedade visiense de então, está conforme o que se documenta. Mas também constatei que não me era possível fazer um es-tudo capaz se me limitasse a estas ascendências e a outras que tenho em Viseu e seu termo. Na verdade, as intricadas inter-relações, os casamentos consanguíneos, a constante repetição de nomes e as lacunas e confusões das genealogias tradicionais, obrigaram-me a um levantamento sistemático de todas as principais famílias de Viseu, sobretudo entre os séculos XIV e XVII, quer as que aí viviam quer aquelas que, vivendo no seu termo ou até fora dele, tiveram pelo menos ramos com importância na cidade, consti-tuindo a sua principalidade.

O trabalho ficou obviamente incompleto, como é normal em Genealogia. Utilizei assim o recurso de anteceder com um ponto de interrogação os no-mes cuja filiação ou é proposta minha, não constando das genealogias tra-dicionais, ou, constando nelas, tenho dúvidas sobre a sua autenticidade. Como já diz Manuel Botelho Ribeiro, na Genealogia «em cousas pouco cer-tas o mais certo é não lhe dar certeza»...

Por isso mesmo, tentar procurar estas agulhas no vasto palheiro da docu-mentação primária foi o que fiz nos últimos quatro anos de pesquisas.

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Como fontes bibliográficas principais, usei a genealogia manuscrita do mé-dico visiense Dr. Francisco de Abreu Castello-Branco, escrita no último quar-tel do século XVI, intitulada «Tratado dos Figueiredos», mas que na verdade trata muitas outras famílias de Viseu. Não é a obra original, desaparecida, mas sim um traslado feito pelo Dr. Manuel Botelho Ribeiro Pereira em 1619, com vários acrescentos da sua lavra (em regra posteriores à data do trasla-do, nomeadamente de 1647), que se encontra nos reservados da Biblioteca Nacional de Lisboa. Usei também a obra do próprio Manuel Botelho Ribei-ro, «Diálogos Moraes e Políticos», datado de 1630, também conhecido como códice de Girabrolhos, publicado em 1955 pela revista "Beira Alta", sob a direcção do Dr. Alexandre de Lucena e Vale. Dos outros manuscritos e no-biliários mais conhecidos, como o de Felgueiras Gaio, que igualmente usei, saliento sobretudo a «Pedatura Lusitana» de Cristóvão Alão de Moraes.

Com este "esqueleto" assim conseguido e despido de muitas fantasias que obras tardias lhes acrescentaram, passei à fase seguinte, fundamental em Genealogia, da heurística e confrontação do objecto com as fontes primá-rias. Sobretudo ao longo dos últimos quatro anos, percorri essas fontes, quer os documentos originais, nos respectivos arquivos, quer as que feliz-mente foram sendo publicadas, sobretudo no âmbito ou por iniciativa da providencial revista «Beira Alta» no que especificamente a Viseu diz res-peito. Desde os livros da Câmara e prazos do Cabido da Sé de Viseu aos as-sentos paroquiais, quando os havia para as datas em questão, passando pe-lo vário tipo de inquirições de genere, pelas matrículas na Universidade de Coimbra e pela documentação régia, na Torre do Tombo, todo esse vasto acervo foi percorrido, de forma a confirmar, emendar e acrescentar a infor-mação genealógica.

Mas muito não me foi possível resolver, para além de uma aproximação hermenêutica. O dilema, portanto, ficou em saber se devia continuar esta pesquisa, com cada vez menos probabilidades de êxito e menos vontade de o fazer, ou publicar o resultado deste levantamento e investigação, permi-tindo que outros o possam, ao menos parcialmente, prosseguir, sobretudo com um levantamento mais sistemático dos paroquiais, coisa que, dada a distância a que estou das fontes e a correlativa falta de tempo, não fiz como gostaria.

3.

Seria talvez conveniente que eu aqui fizesse ao menos uma bre-ve análise historiográfica sobre a nobreza visiense do período em estudo. Devo contudo confessar o meu medo das análises desse tipo, tão queridas aos historiadores, mas muitas vezes mais prejudiciais do que vantajosas, pela superficialidade que obrigam e pelas sínteses reduto-ras em que se consubstanciam. A própria Genealogia já é uma síntese da

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re-alidade que trata. Não precisaria de mais.

Ainda assim, não deixarei de chamar a atenção para alguns aspectos que resultam mais ou menos evidentes deste trabalho. Desde logo, o facto de a maioria da principalidade visiense da época em estudo não ter origens au-tóctones, mas chegado à cidade ao longo dos séculos XIV, XV e XVI.

Por outro lado, verifica-se uma enorme ligação à Igreja. Em boa parte dos casos, essas famílias descendem ou directamente de membros da Igreja (bis-pos, deões, chantres, cónegos, etc.) ou de seus parentes próximos (irmãos, sobrinhos) que com eles ou por causa deles vieram para Viseu, ou ainda de indivíduos que serviam o bispo e com ele vieram para a cidade, onde se es-tabeleceram.

Os bispos, a par dos duques de Viseu, eram os grandes senhores locais, se bem que estes aí não vivessem. Não é de estranhar a forte relação que a principalidade visiense estabeleceu com o bispado, quer no serviço directo (religioso ou leigo) quer no benefício de emprazamentos do Cabido. É certo que a relação de serviço com os duques de Viseu também foi grande. Mas não se verifica que este serviço tivesse sido factor importante de imigração, certamente porque os duques tenderiam a aproveitar pessoas locais para os cargos que nomeavam e outros serviços que necessitavam. O mesmo se passaria com os servidores da Casa Real, aos vários níveis, com a excepção dos juízes de fora, que, pela natureza do cargo, não podiam ser da cidade e que na verdade também deram origem a alguma imigração que aí se esta-beleceu. Já com os bispos, na sua maioria vindo de fora, é natural a imigra-ção de parentes e de pessoas que já estavam ao seu serviço.

Verifica-se também que em Viseu os grandes fidalgos escasseavam. Des-cendentes por varonia do bispo D. Gonçalo de Figueiredo, temos os Soares de Albergaria, senhores de Santar, cuja casa foi erigida sobre o demolido castelo de Viseu e que tiveram mesmo o privilégio de serem os únicos a ca-çar perdizes em Viseu e seu termo. Bem assim como os seus herdeiros, os Cunha de lá. Temos também os Cunha de Tábua, sobretudo os Abreu da Cu-nha, descendentes por varonia do bispo D. João Gomes de Abreu, da Casa de Regalados, e da abadessa D. Beatriz de Eça, neta do infante Dom João. E os Abreu descendentes de um irmão do dito bispo e de sua mulher, uma Soares de Albergaria, senhores da única torre medieval armoriada existente na cidade. E ainda os Mello, do respectivo senhorio, que se ligaram aos di-tos Abreu Soares de Albergaria e Abreu da Cunha. Neste 1º nível da fidal-guia local temos ainda de incluir alguns ramos Almeida, os Homem, sobre-tudo na sua descendência Freire de Andrade, alcaides-mores de Viseu e descendentes de uma linha autónoma dos senhores de Andrade, os Borges, senhores de Alva, os Souza, senhores de Figueiredo das Donas, descenden-tes do mestre da Ordem de Cristo, e pouco mais.

Em regra, todas as outras famílias que constituíam o grosso da nobreza visiense da época em apreço tinham um estatuto claramente inferior às aci-

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ma referidas, diferença aqui e ali mitigada pela qualidade individual (cargos e mercês) de alguns dos seus membros. Distinção que normalmente se re-flecte também no foro, quando o tinham, sendo do primeiro nível os moços fidalgos e os fidalgos, e do segundo os cavaleiros, escudeiros e moços da câmara. Se bem que em muitos casos esta nobreza de segundo nível fosse descendente da velha fidalguia medieval. Verificando-se, por outro lado, um forte relacionamento, por casamento, entre estes dois níveis.

Nas franjas deste segundo nível verificamos mesmo ocupações que em ri-gor não eram próprias da nobreza e que muitas vezes serviam momenta-neamente para restaurar um poder económico debilitado por sucessivas partilhas. Afinal, já a Câmara de Viseu se queixava ao rei Dom Duarte, nas Cortes de Évora, que «há hi almocreves que se chamam a fidalgos e ga-ançam lhe cartas e alvaraães per que seiam escusados per que as cargas vossas e de vossos Irmaãos nom vaão a tempo que devem»…

Verdadeiramente com origens visienses, talvez só os Loureiro. E os Barrei-ros. Os Amaral e os Almeida (que proponho um ramo feminino dos Melo) também têm o seu solar não em Viseu mas na região. Todas as outras famí-lias aqui tratadas têm, mais próxima ou remotamente, origens fora de Viseu e seu termo. Se bem que certamente se tenham cruzado com famílias autó-ctones, mas cujos nomes e identidade contudo não se preservaram.

Finalmente, uma palavra sobre os Cardoso e os Figueiredo, certamente as duas famílias com maior volume de descendência na nobreza de Viseu, que praticamente se cruzam com todas as outras e constituem as duas grandes matrizes comuns da principalidade local.

Por último, «but not the least», uma palavra de agradecimento a todos os que, directa e indirectamente, contribuiram para esta obra.E um aviso sobre o seu título. Eu sei que o novo dicionário da Academia das Ciências de Lis-boa prefere viseense. Mas eu prefiro a escrita tradicional e digo visiense, e assim me fico.

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