, +6-V. ktit5 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho
ACÓRDÃO
APELAÇÃO CÍVEL
N°033.1999.000897-2/001 — Comarca de Santa Rita
RELATOR:
Dr. Eduardo José de Carvalho Soares — Juiz convocado em
substituição do Des. Genésio Gomes Pereira Filho
APELANTE:
Álvaro Rodrigues Lopes
ADVOGADO:
Augusto Sérgio S. de Brito Pereira
APELADA:
Rodoviária Santa Rita Ltda
ADVOGADO:
David Farias Diniz Sousa
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PROCESSUAL CIVIL —
Apelação Cível —
Ação de Revisão de Contrato e Monitória —
Julgamento simultâneo — Aplicação do Código
de Defesa do Consumidor -- Súmula n° 297 do
STJ - Utilização do dólar americano como fator
de atualização monetária — Ausência de Prova
quanto à captação de recursos no exterior —
Limitação dos Juros em 12% ao ano —
Inexistência de pactuação no contrato —
Possibilidade da limitação — Manutenção da
sentença — Desprovimento do recurso.
- "O Código de Defesa do Consumidor é
aplicável às instituições financeiras" (Súmula
•
297do STJ).
- "Não provando a instituição financeira que efetivamente captou recursos no exterior, a cláusula de reajuste vinculado à variação cambial é nula de pleno direito. Agravo improvido." (AGA 4480731RS, DJU 16.02.04, r2) pg. 259, rel. Min. Barros Monteiro).
- "Este Tribunal já proclamou o entendimento ,..cc no sentido de que, quanto aos juros remuneratórios, ausente nos autos o contrato firmado pelas partes, não é possível verificar a pactuação de juros, devendo ser imposta a limitação aos juros remuneratórios no patamar de 12% ao ano." (STJ, Quarta Turma, AgRg no REsp n° 677.897/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 21.11.2005).
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VISTOS,
relatados e discutidos os autos da .. Apelação Cível.ACORDAM
os integrantes da Terceira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de f1.427.RELATÓRIO
Adoto como relatório o do Parecer da D. Procuradoria de Justiça de fls. 415/416, por considerar que este contém todas as informações necessárias:
"01. Cuida-se de APELAÇÃO CíVEL interposta por ÁLVARO RODRIGUES LOPES contra sentença (fls. 370/380) proferida pela MM. Juíza de Direito da 4 a Vara da Comarca de Santa Rita , que, nos autos da AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO E APURAÇÃO DE DEBITO REAL, COM COMPENSAÇÃO DE VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE E REPETIÇÃO DE INDÉBITO, C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA e da AÇÃO MONITORIA, esta judicializada pelo BANCO GUANABARA S/A em face da • RODOVIÁRIA SANTA RITA S/A e aquela ajuizada pela RODOVIÁRIA SANTA RITA S/A em face do BANCO GUANABARA S/A, julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados nas ações conexas para "a) limitar os juros remuneratórios em 12% ao ano; determinar que o valor do financiamento não seja indexado com a aplicação da variação cambial do dólar americano, devendo ser utilizada a correção monetária pela variação do INPC; vedar a capitalização de juros mensais; d) declarar que a multa somente incidirá sobre o valor da parcela em atraso; e)elidir os efeitos da mora; f) determinar a compensação/repetição simples do indébito, com o recálculo da dívida em sede de liquidação de sentença e g) constituir o contrato em questão e demais aditivos prova hábil a amparar o pedido monitório, devendo o título judicial ora constituído de pleno direito, obedecer aos limites delineados acima."
02. Em suas razões (fls. 383/399), o apelante alegou que, na condição de fiador da empresa recorrida, realizou um acordo com o Banco Guanabara S/A, em favor do qual efetuou o pagamento, com sub-• rogação, de uma dívida de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), relativa ao
contrato de arrendamento mercantil pactuado entre este e a apelada, tendo, na oportunidade, requerido a sua habilitação nos autos, como substituto processual da entidade bancária, pedido que fora prontamente atendido, por meio do despacho de fls. 235 (fls. 235, certidão indicando a correção no pólo pasivo da ação).
Concluindo o seu arrazoado, pugnou pela reforma da sentença, no sentido de que a ação fosse julgada improcedente e aç
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apelada condenada a reembolsá-lo do aludido valor de R$ 500.000,00 (quinhentos , .9.. mil reais), uma vez que "nenhum abuso restou cometido no curso do contrato de -,a arrendamento mercantil, já que todas as cláusulas foram ultimadas de comuml 2 acordo entre as partes contratantes, no que tange ao montante dos juros e das.--, prestações, que sofreram apenas as correções monetárias pactuadas".
03. Devidamente intimada, a parte adversaL ofertou contra-razões (fls. 404/407), postulando a manutenção "in totun" da sentença objurgada."
O D. Representante do Ministério Público
ofertou parecer às fls. 415/420, pugnando pelo provimento parcial do recurso para 1, que seja afastada a abusividade da cláusula que prevê a correção das parcelas do
ser efetuada pela metade da variação cambial.".
É o relatório.
VOTO
Conheço do recurso, eis que presentes os
pressupostos de admissibilidade.
Cuida-se de apelação em face da sentença que,
na ação de revisão de contrato e apuração de débito real, com compensação de
valores pagos indevidamente e repetição de indébito, c/c pedido de antecipação
de tutela e da ação monitórias, julgou parcialmente procedentes os pedidos
formulados nas ações conexas, determinando: 1) a modificação da cláusula que
estabelecia o dólar como fator de correção, substituindo-o pelo INPC; 2) a
limitação dos juros remuneratórios em 12% ao ano; 3) a vedação da capitalização
de juros mensais; 4) que a multa só incidirá sobre o valor da parcela em atraso; 5)
a exclusão dos efeitos da mora; 6) a compensação/repetição simples do indébito,
• com o recálculo da divida em sede de liquidação de sentença e 7) que seja
constituído o contrato em questão e demais aditivos prova hábil a amparar o
pedido monitório, devendo o título judicial ora constituído de pleno direito,
obedecer aos limites delineados acima.
Examinando tudo o qUe dos autos consta, e os
princípios de direito, tenho que não assiste razão ao apelante. Vejamos.
O recorrente aduz, inicialmente, que não incide o
Código de Defesa do Consumidor ao caso em análise.
Sem razão.
Trata-se de assunto já bastante debatido e
praticamente superado perante os Tribunais, porém em sentido contrário àquele
defendido pelo apelante. Não há mais dúvida de que se aplica o CDC às atividades
de natureza bancária, inclusive nas de arrendamento mercantil. Até porque decorre
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do próprio texto da lei (art. 3°, § 2°).
O Superior Tribunal de Justiça já sumulou:
"O Código de Defesa do Consumidor é
aplicável às instituições financeiras" (Súmula
297).
Por tais razões, neste ponto o recurso não L_,
merece provimento.
7.
No que se refere à possibilidade de utilização do
dólar americano como fator de atualização monetária, também não tem razão o
apelante.
O apelante sustenta a validade do contrato com
reajustes vinculados à variação da cotação do dólar americano, tendo em vista que
os recursos destinados a estas operações financeiras foram captados no exterior,
utilizando como fundamento a declaração do perito judicial (fls. 273/289) que
faz referência ao contrato.
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A cláusula de variação cambial, desde que , compreendida na abrangência da exceção contemplada pelo artigo 6° da Lei
8.880/94, é válida. Diz o referido dispositivo:
"É nula de pleno direito a contratação de reajuste vinculado à variação cambial, exceto quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no Pais, com base em captação de recursos provenientes do exterior".
Já o artigo 9°. da Resolução 2.309/96 do CMN estabelece que os contratos de arrendamento mercantil, de bens cuja aquisição tenha sido efetuada com recursos provenientes de empréstimos contraídos, direta ou indiretamente no exterior, devem ser firmados com cláusula de variação cambial.
A esse respeito, Arnaldo Rizardo em sua obra afirma: "... não socorrem às empresas a simples inclusão no contrato de • cláusula afirmando ter a arrendatária conhecimento de que os recursos
foram captados no exterior, eis que de adesão e estandartizado o contrato. Igualmente não serve a apresentação de certificado de registro de empréstimo expedido pelo Banco Central do Brasil com a entrada de capital estrangeiro, se não demonstrado que o valor se destinou ao arrendamento mercantil contratado. A simples alegação da proveniência exterior do capital nada representa, porquanto possível a sua utilização em outros financiamentos. A rigor, a cláusula de correção, com base na variação da moeda do exterior, somente se admite quando se cuida de bem importado, pago pela arrendadora com dinheiro de padrão externo proveniente de
empréstimo feito no estrangeiro" ("Leasing", 3 a ed., p. 77, RT.).
O Superior Tribunal de Justiça ao analisar esta questão, já firmou entendimento de que nos contratos cujo reajuste espelhe a variação do câmbio da moeda nacional, em relação à moeda americana, a
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instituição financeira deve comprovar a captação no exterior dos recursos investidos no contrato:"Arrendamento mercantil. Prova da captação de recursos no exterior. Necessidade. O Acórdão recorrido afirmou que o banco não provou a captação de recursos no mercado
externo. Não basta a presunção de que: se „...t>, houve variação cambial, necessariamente;d
\\
houve captação de recursos provenientes do çr,-,..1 exterior para autorizá-lo. Recurso não
provido." (AGA 513657/GO, DJ 10.02.04, pg. .-259, rel. Min. Nancy Andrighi).
"Agravo regimental. Leasing. Reajuste pela variação cambial. Necessidade de comprovar a captação de recursos no exterior. Não provando a instituição financeira que efetivamente captou recursos no exterior, a cláusula de reajuste vinculado à variação cambial é nula de pleno direito. Agravo
pg. 259, rel. Min. Barros Monteiro).
"É ônus da arrendadora a prova de captação de recursos provenientes de empréstimo em moeda estrangeira, sob pena de violar o art. 6o. da Lei n. 8.880/94. Agravo não provido." (AGA 520604-RS, DJU 01.03.04, pg. 182, rel. Min. Nancy Andrighi).
"Direito do consumidor. Contrato bancário. Ausência de demonstração de captação de recursos no exterior para financiamento em contrato de leasing. I - Para demonstrar a validade da cláusula de correção monetária vinculada à variação do dólar norte-americano, a instituição financeira deve comprovar a captação de recursos no exterior e a efetiva utilização destes no contrato em particular. II - Agravo regimental • desprovido." (AGA 503008-RS, DJU 12.04.04,
pg. 206, rel. Min. Antonio de Pádua Ribeiro).
No caso, como bem decidido na sentença, o
apelante não se desincumbiu, de modo satisfatório, em demonstrar que os
recursos utilizados são provenientes de captação no exterior.
Assim, o apelante deixou de demonstrar a
captação dos recursos no exterior, sendo que tal ônus era de sua incumbência, de
acordo com o que dispõe o arr. 333, inc. II do Código de Processo Civil.
Desta forma, entendendo que não houve a
comprovação de captação de recursos no exterior, não procede a irresignação
neste aspecto.
Afirma, ainda, o apelante que não se pode falar
•
em limitação dos juros ao patamar de 12% ao ano, conforme determinou a r.
sentença, posto que tal limitação não é imposta às instituições financeiras,
devendo prevalecer a taxa pactuada entre as partes.
Contudo, apesar de todo o arrazoado
apresentado pelo apelante neste sentido, citando legislações que supostamente
autorizariam a cobrança da taxa de juros nos percentuais pretendidos, certo é que
o instrumento contratual anexado aos autos e respectivos aditivos que, por sua r2
vez, nada informam efetivamente acerca da pactuação de qualquer taxa de juros
o
entre as partes.
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Assim, deixando o apelante de comprovar
prévia pactuação da taxa de juros, deve prevalecer a taxa de juros legal,
utilizando--se por analogia aquela fixada pelo Código Civil vigente à época, de 12% ao ano,-:
(art. 406 do CC c.c. art. 161, §1° do CTN).
Prudente esclarecer que não se trata de aplicar
o art. 192, § 30, da Consituição Federal, cuja aplicabilidade aguardava
regulamentação que não chegou a ocorrer devido a sua modificação pela EC 40,
nem tampouco da Lei de Usura às instituições financeiras, conforme Súmula 596, do STF.
Entretanto, diante da inexistência de qualquer pactuação entre as partes acerca da taxa de juros a ser aplicada ao contrato, imperiosa a fixação da taxa legal pelo Judiciário, mesmo que por analogia à taxa de juros de mora, não sendo possível deixar ao alvitre exclusivo da instituição financeira a taxa que melhor lhe aprouver para o período.
Veja que aos contratos bancários aplica-se, indubitavelmente, o CDC, conforme corretamente estabelecido pela sentença. Assim, não se pode admitir a aplicação de encargos de forma unilateral, pelo fornecedor, em detrimento do consumidor.
Neste sentido o entendimento egrégio Superior Tribunal de Justiça:
"PROCESSO CIVIL RECURSO ESPECIAL -AGRAVO REGIMENTAL - CONTRATO BANCÁRIO - CONTA CORRENTE - JUROS • REMUNERATÓRIOS - CONTRATO NÃO JUNTADO AOS AUTOS - LIMITAÇÃO EM 12% AO ANO - DESVINCULAÇÃO AO ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL A QUO -DESPROVIMENTO.
1 - Este Tribunal já proclamou o entendimento no sentido de que, quanto aos juros remuneratórios, ausente nos autos o
contrato firmado pelas partes, não é possível verificar a pactuação de juros, devendo ser imposta a limitação aos juros remuneratórios no patamar de 12% ao ano. Precedentes.
2 - Este Superior Tribunal de Justiça, como Corte de Uniformização Infraconstitucional, não está vinculada ao posicionamento adotado pelo Tribunal a quo.
3 - Agravo Regimental desprovido." (STJ, Quarta Turma, AgRg no REsp n° 677.897/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 21.11.2005).
Desta feita, deve ser mantida a sentença de primeiro grau, que fixou os juros remuneratórios em 12% ao ano, diante da ausência de contratação de qualquer taxa no contrato.
Diante do exposto e considerando ?(...41ç improcedentes as razões trazidas neste recurso conheço e nego provimento ao
recurso de apelação, mantendo a sentença recorrida em todo seu teor.
É COMO voto.
Presidiu os trabalhos o Exmo. Sr. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. Participaram do julgamento, além do relator, o Eminente Dr. Eduardo José de Carvalho Soares, Juiz Convocado em substituição ao Des. Genésio Gomes Pereira Filho, o Exmo. Dr. Tércio Chaves de Moura, Juiz convocado para substituir o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos e o Exmo. Dr. Romero
Benevides.
Presente ao julgamento o Exmo. Dr. Doriel Veloso Gouveia, Procurador de Justiça.
Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, João Pessoa, 27 de janeiro de 2009.
E nardo José de Ca -lalho/ Soares
Juiz Convocado
f. R A '_ ,; Li si IÇA CoordeiLldaria Jti diciária
Registrado ern1:25_1_2R/1,22,