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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS FATORES PREDOMINANTES DENTRO DA ESTRUTURA

FAMILIAR QUE LEVAM CRIANÇAS E ADOLESCENTES AO

ABRIGAMENTO NO CIACA I DE NOVA IGUAÇU.

Por: Helen de Matos Faustino Camara

Orientador Prof. Dr. Maria Poppe

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS FATORES PREDOMINANTES DENTRO DA ESTRUTURA

FAMILIAR QUE LEVAM CRIANÇAS E ADOLESCENTES AO

ABRIGAMENTO NO CIACA I DE NOVA IGUAÇU

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Terapia de Família.

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AGRADECIME TOS

A Deus acima de tudo! Pois, “os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quanto nenhum deles havia ainda”.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia ao meu querido esposo Fabiano que me apoiou e me suportou em todos os momentos de nervosismo, dificuldades e momentos felizes que passei. A minha mãe e meu padrasto que estiveram ao meu lado me dando força para prosseguir a caminhada. A minha amiga Elaine que me encorajou em todos os momentos em que me sentia desanimada. Enfim dedico esta vitória, a todos os meus familiares e amigos!! Obrigada por tudo.

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo estudar quais os fatores predominantes dentro da estrutura familiar que levam crianças e adolescentes ao abrigamento no Ciaca I de Nova Iguaçu. Para elaborar o referencial teórico o trabalho utilizou estudos bibliográficos somados á analise de dados encontrados nas fichas sociais de cada criança e adolescente abrigado na instituição. O trabalho tem como ponto de reflexão o papel do Estado em garantir à eficácia das políticas públicas, a fim de que seja realizada uma melhoria no atendimento das crianças e adolescentes que estão inseridos em um processo de institucionalização.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração desta monografia foi a partir de textos, livros, artigos que contribuíram para ajudar a compreender melhor o tema. Após a análise de todo esse material e coleta de dados, o objetivo foi conhecer os fatores predominantes dentro da estrutura familiar que levaram os seis abrigados a institucionalização no Ciaca I de Nova Iguaçu.

O desenvolvimento da pesquisa se deu de forma simples, e aconteceu através da observação, durante as atividades desenvolvidas pelo abrigo; a entrada aconteceu de forma recíproca, com a colaboração da assistente social, que fez uma apresentação da pesquisadora as crianças e adolescentes e a equipe multidisciplinar. A realização da coleta de dados ocorreu no período: de 2009 a 2010 em visita ao abrigo e de várias bibliotecas. Foi desenvolvido com 6 crianças e adolescentes abrigados na instituição. Trabalhando com uma pesquisa quantitativa a fim de serem analisados os dados coletados.

A pesquisa apresentada, quanto aos seus objetivos a que se propôs, foi do tipo descritivo, que “tem como objetivo primordial á descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relação entre variáveis” E exploratória, pois visa “proporcionar maior familiaridade com o problema, vista a torná-lo mais explicito ou construir hipótese. Aprimorando as idéias ou descobertas de instituições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado” Gil (1996:42).

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que segundo o autor é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos (....) também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. E documental, pois apresenta os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenas cabe considerar que,

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enquanto na pesquisa bibliográfica as fontes são constituídas, sobretudo por material impresso localizado nas bibliotecas, na pesquisa documental, as fontes são muito mais diversificadas e dispersas.

O delineamento da pesquisa realizou-se a partir do estudo de caso de cada abrigado que, segundo: Gil (1996:42) “é caracterizado pelo estudo

profundo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhamento conhecimento”.

E a corrente filosófica utilizada se fundamentou no Marxismo, pois ela tem segundo Minayo (1994), caráter de abrangência, que tenta, a partir de uma perspectiva histórica, cercar o objeto de conhecimento através da compreensão de todas as suas mediações e correlações. E dentro da teoria sistêmica, pois ver a família como um todo (...), sendo a origem das suas próprias modificações (...) o comportamento de uma pessoa dentro de uma família é, portanto, dependente do comportamento dos outros membros. Sendo assim, o que causa uma modificação em um membro modificará a família como um todo. “Semelhantemente a qualquer outro sistema, a família é a origem das suas próprias modificações”. Boechat (2007:55).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 10

CAPITULO I

FAMÍLIA UM AGENTE SOCIALIZADOR... 15

1.1-As mudanças na estrutura familiar... 15

1.2-A conquista histórica dos direitos da criança e do adolescente... 26

1.3-O papel da família na socialização da criança e adolescente... 39

CAPÍTULO I I

A CRIANÇA E/OU ADOLESCENTE NO PROCESSO DE

INSTITUCIONALIZAÇÃO... 43

2.1- O que é instucionalização... 44

2.2- Os impactos do abrigamento prolongado para crianças e adolescentes.. 56

2.3- O direito da criança e/ou adolescente á convivência familiar e

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CAPÍTULO I I I

CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS... 78

3.1- O Ciaca I de Nova Iguaçu enquanto espaço de reintegração da família junto à criança e ao adolescente... 79

3.2- A atuação do Serviço Social frente aos programas do Ciaca I de Nova Iguaçu... 86 3.3- Análise de dados... 90 CONCLUSÃO... 100 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... 103 ÍNDICE... 110 FOLHA DE AVALIAÇÃO... 112

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INTRODUÇÃO

A instituição pela qual a pesquisa foi desenvolvida foi o abrigo CIACA I de Nova Iguaçu, situado na Rua Monte Libanon° 24 bairro Jardim Tropical, na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.

O interesse pela realização desta pesquisa se deu em função do trabalho realizado no espaço, somado ao fato de observar uma parcela significativa de crianças e adolescentes abrigados decorrentes a vários fatores relacionados dentro da estrutura familiar. Visto que esta problemática tem sido freqüentemente observada e analisada por muitos profissionais, o que me despertou a atenção.

A instituição foi fundada em 1997. Hoje com 12 anos de existência, sua característica institucional é de uma “casa-lar” sua missão é executar a medida de proteção, definida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA: 1990) como “medida provisória e excepcional, considerada como forma de transição para a colocação em família substituta não implicando privação de liberdade” 1. Voltado para a proteção especial da criança e adolescente em condição de risco pessoal e social, cujos direitos tenham sido negligenciados ou violados. Para falar de crianças e adolescentes abrigados por fatores relacionados dentro da estrutura familiar é necessário fazer uma reflexão histórica, pois desde a “Criação dos internatos para crianças e adolescentes delinqüentes e desviados”, até a criação do (ECA: 1990), existiram várias transformações onde hoje o adolescente é visto como um sujeito de direito dentro das relações sociais em que estão inseridos.

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Ao pesquisar os fatores predominantes dentro da estrutura familiar que levam crianças e adolescentes ao abrigamento no CIACA I de Nova Iguaçu pode-se ponderar a existência de dois pontos importantes: por um lado observamos que grande parte desses usuários tem sido vitimas desses resultados que estão se expandido de forma assustadora em nossa sociedade, entre eles: a pobreza, a desigualdade social, o desemprego, o abandono, e as mazelas da educação, e por outro lado o Estado que não cumpre o seu dever de assegurar de forma digna a garantia dos direitos sociais, uma vez que não executam a legislação que assegura seus direitos de cidadania conjecturado no art.227 da Constituição Federal, como lazer, moradia, saúde, convivência familiar e comunitária, alimentação, educação, entre outras.

Perante a ineficiência das ofertas no atendimento as crianças e adolescentes abrigados que não tem levado em conta tal complexidade; da visão estigmatizada da sociedade sobre eles é que se justifica este estudo, com objetivo de identificar os fatores predominantes dentro da estrutura familiar que levam crianças e adolescentes ao abrigamento no CIACA I de Nova Iguaçu, analisando o processo de institucionalização, e investigando as propostas de mudanças na reintegração destas crianças e adolescentes à sociedade e a família.

O presente trabalho tem como objetivo geral, identificar os fatores predominantes dentro da estrutura familiar que levam crianças e adolescentes ao abrigamento no Ciaca I de Nova Iguaçu. Os objetivos específicos buscam conhecer como são estabelecidas as relações familiares das crianças e adolescentes; identificar o perfil dos abrigados a partir das fichas sociais e

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conhecer a intervenção do Serviço Social frente aos programas do CIACA I de Nova Iguaçu.

O tema aponta relevância ao considerar que uma das parcelas significativas de crianças e adolescentes que passam pelo CIACA I de Nova Iguaçu são usuários de drogas, são abandonados pelos pais e responsáveis, passam por maus tratos físicos e /ou psicológicos praticados pelos pais e responsáveis, são submetidos à exploração no trabalho do tráfico, são órfãos (morte dos pais ou responsáveis), vítimas de violência doméstica e morador de rua. Sendo assim é necessário atentar para o descaso com que o Estado tem conduzido as políticas públicas sociais, as quais são consideradas escassas.

A historia sobre a infância em risco no Brasil mostra que as políticas públicas voltadas para esta área sempre priorizaram a institucionalização em detrenimento de políticas de reconstrução e de fortalecimento dos vínculos familiares. A visão predominante sempre foi a da incapacidade das famílias empobrecidas de cuidar de sua prole. (PHILIPPE, (1981: 25).

É necessário para profissionais da área, Estado e Sociedade, o debate a cerca dos fatores que levam os adolescentes ao abrigamento, pois na visão destes há precariedade, não só econômica, mas também de vínculos, que são calcados na violência e na instabilidade, perpassados por aspectos psicossociais como estigmatização e culpalização. A vivência dessa realidade parece gerar sofrimento, freqüentemente, expresso pela revolta, como forma de demonstrar a inconformidade diante das condições de existência e dos tratamentos oferecidos. Para eles, a concretização de propostas como a profissionalização, a inserção, a retomada dos estudos, dentre outras, pode significar o rompimento de um fatalismo cruel e contribuir para uma inserção mais digna e justa.

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A ausência do Estado com políticas públicas eficazes para atender a demanda da sociedade, a violência intrafamiliar, as privações materiais de que são vitimas, acabam por levar esses adolescentes a uma privação de direitos. Com esta situação as famílias se desesperam sem saber o que fazer para ajudar seus filhos e por muitas das vezes acabam abandonando seus filhos, já que os órgãos em defesa da criança e do adolescente são por vezes inábeis de atendê-los.

No primeiro capítulo deste trabalho foi apresentado uma compreensão acerca da família como um agente socializador; bem como as mudanças na estrutura familiar, a conquista histórica dos direitos da criança e do adolescente e o papel da família na socialização da criança e adolescente.

O segundo capítulo versa sobre crianças e adolescente no processo de institucionalização, o que é institucionalização e o direito a convivência familiar e comunitária.

O terceiro capítulo trata sobre a contextualização da instituição e análise dos dados, o CIACA I de Nova Iguaçu enquanto espaço de reintegração da família junto à criança e adolescente, atuação do Serviço Social frente aos programas parceiros da instituição e a analise de dados.

A pesquisa se desenvolveu em duas fases: a primeira foi embasada de cunho bibliográficos onde foram levantados os conceitos teóricos de institucionalização mudanças na estrutura familiar e os direitos das crianças e adolescentes. Já na segunda fase o estudo se apresenta como pesquisa de campo, com objetivo de traçar o perfil das crianças e adolescentes através das fichas sociais, o papel da instituição na reintegração da família junto ao adolescente e a atuação do Serviço Social frente aos programas do CIACA I de Nova Iguaçu.

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De acordo com Lakatos (2002, p.43), “a pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita (...)”.

Para a realização do trabalho é importante esclarecer que a pesquisa bibliográfica envolve todos os demonstrativos escritos publicados em livros, revista, jornais ou em redes eletrônicas ditas como fontes secundárias ou primárias e que estão expostos ao público em geral. Por fonte primária compreendendo se a leitura de pensamento escrito pelo próprio autor desse conceito. Portanto a leitura secundária é aquela que se desenvolve em outros autores que investigam esses conceitos relatados pelo autor da fonte primária citada acima.

No que se refere à pesquisa de campo descende á observação da prática e a coleta de dados referente aos mesmos e, por fim, a análise e interpretação desses resultados, fundamentado em uma base teórica, que expressa às contradições e desigualdade do modelo capitalista vigente, cuja violência e abandono são resultados do estado de pobreza social. E a análise de dados foi embasada por um formulário com perguntas fechadas, objetivas, envolvendo seis adolescentes, dirigindo o objeto de estudo.

A corrente utilizada foi o materialismo histórico dialético, por considerar que as desigualdades sociais conseqüentes do capitalismo é que levam as famílias fragilizadas abrigarem seus filhos nas instituições de abrigos.

E dentro da teoria sistêmica, pois ver a família como um todo (...), sendo a origem das suas próprias modificações (...) o comportamento de uma pessoa dentro de uma família é, portanto, dependente do comportamento dos outros membros. Sendo assim, o que causa uma modificação em um membro modificará a família como um todo. “Semelhantemente a qualquer outro sistema, a família é a origem das suas próprias modificações”. Boechat (2007:55).

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CAPÍTULO I

FAMÍLIA UM AGENTE SOCIALIZADOR

Como bem diz Vitalle Faller, Maria Amália (2003:66), o mundo social integra o processo de construção da subjetividade. Esse processo é entendido no contexto desta apresentação como socialização.

Para Vitalle Faller, Maria Amália (2003:36), a família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa socializadora. A família constitui uma das mediações entre o homem e a sociedade. Sob este prisma, a família não só interioriza aspectos ideológicos dominantes na sociedade, como projeta, ainda, em outros grupos os modelos de relação criados e recriados dentro do próprio grupo.

Conforme a autora se a família pode ser vista como unidade básica no processo socializador, as relações intergeracionais permitem apreender o movimento da socialização, ou seja, sua dimensão temporal. Por essas razões, o conjunto de papeis sociais que são apresentados aos indivíduos através da socialização tem por base uma trama complexa de relacionamentos familiares e geracionais. Reações estas, que são também sociais.

1.1 As mudanças na estrutura familiar

Segundo Áries (1981:55), com relação ao conceito de família, há que se ressaltar que a família considerada como:

“Padrão” ou “regular” raramente corresponde á diversidade vivenciada na realidade social. “Entretanto é o modelo tradicional de família que orienta não apenas as políticas e as leis, mas também a maior parte dos registros históricos e estudos científicos”.

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O autor mostra o nascimento, na sociedade européia, do padrão familiar que tanto influenciou o ocidente e a sua relação com o avanço da percepção sobre a infância e com a importância conferida ás crianças no âmbito familiar. Na época medieval, predominava, entre a classe dominante, a chamada família patriarcal extensiva, na qual as relações de linhagem se sobrepunham em importância á família nuclear, pela indivisibilidade do patrimônio, reuniam-se na mesma propriedade, em redor do patriarca - que tinha posses -, os filhos solteiros, os casados e suas famílias, assim como irmãos, primos e cunhados.

As crianças, após conservá-las em casa até a idade de sete ou nove anos, sendo que aos sete anos era a idade em que os meninos deixavam as mulheres para ingressar na escola ou no mundo (...), tanto os meninos como as meninas, eram afastados da família e encaminhadas a outras casas, onde realizavam toda sorte de serviços domésticos e/ou aprendiam um oficio. A família de origem, por sua vez, recebia os filhos de outrem, para mesmo fim. Essas crianças permaneciam afastadas da família até atingirem idade entre 14 e 18 anos.

Assim o serviço doméstico se confundia com a aprendizagem, como forma muito comum de educação. A criança aprendia pela prática, e esse costume não parava nos limites de uma profissão, ainda porque na época não havia. Era através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança, e não ao seu filho, mas ao filho de outro homem, todo o conhecimento, a experiência, prática e o valor humano que pudesse possuir.

Toda a educação se fazia através da aprendizagem, e dava-se a essa noção um sentido muito amplo do que ela adquiriu mais tarde. Sendo assim as famílias enviavam as crianças a outras famílias, com ou sem contrato, para que elas vivessem e iniciassem suas vidas, ou, nesse novo ambiente, aprendessem as maneiras de um cavaleiro ou ofício, ou mesmo para que freqüentassem uma escola e aprendessem as letras latinas.

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Para o autor, mesmo quando a partir dos séculos XV – XVI começou-se a diferenciar melhor dentro do serviço doméstico os serviços subalternos dos ofícios mais nobres, o serviço da mesa continuou a ser tarefa dos filhos de família e não dos empregados pagos. Para parecer bem educado, não bastava apenas se comporta na mesa: era preciso também saber servir á mesa. O serviço da mesa até o século XVIII ocupou um lugar considerável nos manuais de civilidade cristã. Tratava-se de uma sobrevivência do tempo em que todos os serviços domésticos eram realizados indiferentemente pelas crianças a quem eram chamadas de aprendizes, e por empregados pagos, muitos jovens. A distinção entre essas duas categorias fez-se muito progressivamente.

Neste período não havia lugar para a escola a transmissão era através da aprendizagem direta de uma geração a outra.Sendo que as escolas latinas se destinavam apenas aos Clérigos, aos Latinófones, aparecendo como caso isolado, reservado a uma categoria muito particular. Portanto a escola era apenas uma exceção, e que mais tarde se estendeu a toda sociedade, sendo a regra comum a todos a aprendizagem. Mesmo os Clérigos que eram enviados á escola muitas vezes eram confinados – como os outros aprendizes - a um Clérigo, um padre, ás vezes a um prelado a quem passava a servir. O serviço fazia tão parte da educação de um Clérigo quanto à escola. Sendo que no caso dos estudantes muito pobres, ele foi substituído pelas bolsas dos colégios.

O autor relata que, nessas condições, a criança desde muito cedo escapava á sua própria família, mesmo que voltasse a ela mais tarde, depois de adulta, o que nem sempre acontecia. A família não podia, portanto, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso não significava que os pais não amassem seus filhos: eles ocupavam de suas crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhe tinham, do que pela contribuição que essas crianças podiam trazer á obra comum, ao estabelecimento da família. Entretanto a família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental. Sendo que no caso de famílias muito pobres, elas não correspondiam a nada além da instalação material do casal no seio de um meio amplo, a aldeia, a fazenda, o pátio ou a “casa” dos amos e dos senhores, onde os pobres passavam mais tempo do que em sua própria casa

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(ás vezes nem ao menos tinham uma casa, eram vagabundos sem era nem beira, verdadeiros mendigos).

Nos meios mais ricos, a família se confundia com a prosperidade do patrimônio, a honra do nome. A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem.

No período da era medieval o sentimento familiar era nulo. A ambição e o poder predominavam na organização das relações familiar, e para aqueles que não possuíam patrimônio restava muito pouco sobre a questão da família.

Áries (1981:55), afirma que foi partir do século XV, a realidade da família se transformaria: uma revolução profunda e lenta, mal percebida tanto pelos contemporâneos como pelos historiadores. As mudanças importantes começaram a correr: o aprendizado doméstico foi aos poucos sendo substituído pela educação escolar; os filhos passaram a ser mantidos mais próximos de casa; foram crescendo deveres atribuídos aos pais; e a família começou a se concentrar em torno de suas crianças. Entretanto, esse foi um processo lento.

Dessa época em diante, ao contrário, a educação passou a ser fornecida cada vez mais pela escola. A escola deixou de ser reservada aos Clérigos para se tornar o instrumento normal da iniciação social, da passagem do estado da infância ao adulto. Essa evolução correspondeu a uma necessidade nova de rigor moral da parte dos educadores, a uma preocupação de isolar a juventude do “mundo sujo dos adultos” para mantê-la na inocência primitiva, a um desejo de treiná-la para melhor resistir ás tentações dos adultos. Mas ela correspondeu também a uma preocupação dos pais de vigiar seus filhos mais de perto, de ficar mais perto deles e de não abandoná-los mais mesmo temporariamente, aos cuidados de uma outra família e das crianças, do sentimento da família e do sentimento da infância, outrora separada.

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No século XIV, começam a se operar mudanças na família medieval, que vão se processar até o século XVII. Neste período, a situação da mulher é também alvo de mudanças, caracterizadas pela perda gradativa de seus poderes, o que eleva, no século XVI, com a formalização da incapacidade jurídica da mulher casada e a soberania do marido na família. Assim a mulher perde o direito de substituir o marido em situações nas quais ele se ausenta ou é considerado louco e qualquer ato seu terá efeito legal apenas se autorizado pelo marido.

O autor cita que a legislação reforça o poder do marido e dos homens em geral, estabelecendo a desigualdade entre homem e mulher. Expressão disso foi o fato da escolaridade fazer parte primeiro da vida dos meninos desde o século XV, portanto sendo extensiva as meninas somente no final do século XVIII e início do século XIX. Neste período, os laços de linhagem - característica da Idade Média – enfraqueceram, e paralelamente ao fortalecimento do poder do marido, passa-se a valorizar os laços de família e, a partir de então, se iniciou o desenvolvimento da família moderna.

Analisamos que aos poucos a família vai se modificando e o relacionamento de pais e filhos obtém importância social, chegando se até a formação da chamada família moderna.

De acordo com Áries (1981:45), no século XVIII, processa-se a separação entre família e sociedade (entre público e privado), dando ênfase à intimidade familiar, que tinha suas marcas na arquitetura da casa, e passa a ter cômodos com separações para assegurar a privacidade dos indivíduos na própria família. Sendo essa apontada como uma das maiores transformações na vida cotidiana da família.

Neste mesmo período, a saúde e a educação passam a ser as maiores preocupações dos pais. Também a igualdade entre os filhos, até então desconsiderados, pois se privilegiava apenas um deles – geralmente o primogênito merecendo, a partir daí, maior atenção e é assumida com uma questão de civilidade.

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As transformações da família medieval para a família do século XVII e para a família moderna2 se limitavam ás classes abastarda, entretanto a partir do século XVIII, essas mudanças passam a envolver todas as camadas sociais (Áries, 1981).

A partir da segunda metade do século XIX, o segmento de modernização e o movimento feminista incitaram outras mudanças na família e no modelo patriarcal3, vigente até então, passa a ser questionado. Inicia-se então, a se desenvolver a família conjugal moderna, na qual o casamento se dá por escolha dos parceiros, com base no amor romântico, tendo como perspectiva a superação da dicotomia entre amor e sexo e novas formulações para os papéis do homem e da mulher no casamento.

O aparecimento de traços da família patriarcal na família conjugal moderna persistente até o século XX, fundamentada na legislação, sendo que no Brasil, somente na Constituição de 1988 a mulher e o homem são assumidos com igualdade na questão dos direitos e deveres na sociedade conjugal.

Para o autor, o processo de modernização se realiza de maneira não-linear, não existindo propriamente a superação de um “modelo” pelo outro. Portanto a que ressaltar que até os dias de hoje vemos famílias patriarcais onde apenas um dos cônjuges exerce autoridade dentro do seio da família, não importando a classe social em que vivem.

2- A família moderna, genericamente, pressupunha a separação entre público e privado; ênfase na intimidade familiar; e privacidade dos indivíduos na própria família, separando-se, inclusive, os cômodos na casa visando assegurar tal privacidade.

3 - Família patriarcal, genericamente, a família na qual os papéis do homem e da mulher e as fronteiras entre público e privado são rigidamente definidos; o amor e o sexo são vividos em instâncias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do homem e a atribuição de chefe da família é tida como exclusividade do homem.

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Segundo Hobsbawm (2001:35), Do ponto de vista da educação formal, é constado que no período de 1980 a escolarização básica – preconizada como universal – havia crescido em quase todos os países, salvo naqueles mais empobrecidos; as ocupações que exigia educação secundária e superior tinham igualmente avançado quantitativamente; a educação universitária4 teve um crescimento acentuado entre as décadas de 1960 e 80, mesmo nos países de Terceiro Mundo.

A entrada e o desempenho das mulheres (especialmente das mulheres casadas) no mercado de trabalho, nas universidades e nos diversos segmentos sociais vista como um fenômeno novo e revolucionário.

Segundo o autor, na década de 1980 o ensino superior passou a ser comum entre as mulheres quanto entre os homens. Sendo que as mulheres de camadas mais baixas e com pouca instrução formal permaneceram á margem da esfera pública, ou, se dela participam o fazem, majoritariamente, na condição de trabalhadoras sem qualificação profissional e sem vínculo empregatício.

De acordo com Hobsbawm (2001:55), A participação da mulher na área pública foi associada ás próprias dificuldade econômicas que exigiu a participação de um número maior de membros da família na composição do orçamento doméstico, Porém, o movimento feminista favoreceu significativamente para esta vivência da mulher também nos espaços públicos, que anteriormente eram ocupados pelos homens.Conforme o autor em relação ao casamento e a família, é somente na segunda metade do século XX, o momento em que a mulher readquira sua plena capacidade jurídica, constituindo-se como cidadã e como sujeito.

4 - Apesar do crescimento ocorrido a partir da década de 1960, em artigo recente, a folha de São Paulo traz a informação de que no Brasil, hoje, apenas14% (quatorze por cento) dos jovens entre 18 e 24 anos tem acesso á formação superior; no Chile este índice seria de 30% (trinta por cento) e de 505 (cinqüenta por cento) nos Estados unidos. (Dados extraídos do artigo “A universidade brasileira no século 21” de Carlos Henrique de Brito Cruz, in: Folha de São Paulo, 19 de abril de 2002, PA.3)

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O casamento e a família sofreram influências das mudanças sociais mais gerais e principalmente, do movimento feminista. Entende-se que as questões cruciais do casamento contemporâneo dizem a respeito á dimensão da intimidade e ás próprias questões advindas da perspectiva da valorização da individualidade e da necessidade de, ao mesmo tempo criar-se laços de reciprocidade entre o casal, aspectos estes observados nas famílias de camadas médias.

Após as grandes mudanças ocorridas no século XVIII, que configura a família moderna, no Brasil, outras transformações importantes ocorreram a partir da metade do século XIX levando a um questionamento do modelo patriarcal e desencadeando-se, então, a família conjugal moderna. Nas últimas décadas do século XX, novas mudanças aconteceram e foram incorporadas pela Carta Constitucional de 1988, inclusive aquelas referentes aos arranjos como: famílias organizadas em torno de um só dos pais e a condição do homem e da mulher como chefe de família. Essas mudanças se deram entre conflitos e tensões e que certas características dos deferentes “modelos” de família convivem numa mesma família, acentuando, assim, seu grau de complexidade.O aumento dos divórcios, a diminuição dos índices de casamento formal, a redução do número de filhos e do desejo das mulheres de tê-los, aparecem como outros aspectos significativos da família contemporânea e, por sua vez, favorecem novas configurações e a tornam mais complexa.As relações intergeracionais surgem hoje, como algo a ser decodificado e administrado pela família contemporânea, uma vez que a “cultura dos jovens” expressa-se com conteúdo bem diferentes daqueles vividos pelos pais, provocando, assim, um embate entre eles.

As famílias de camadas médias e as camadas baixas tendem a se organizar preconizando diferentes “modelos” de família. O “modelo” patriarcal continua como principal referência para as famílias das camadas sociais baixas, e o “modelo” conjugal seria a forma idealizada pelas famílias de

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camadas médias e altas5.Entretanto, a convivência de traços de ambos os “modelos” nas famílias, há apenas a predominância de certos aspectos de um ou de outro “modelo”6. Assim as rupturas e continuidades da família patriarcal e da conjugal moderna são apreendidas diferentemente pelas famílias de um e de outra camada social (Sarti, 2002). Portanto observa-se nas famílias pobres uma tendência para que o lugar autoridade seja ocupado pelo homem, lugar este que ele não ocuparia no mundo da rua, ante suas condições de vida e trabalho. Portanto outra característica dessas famílias seria a configuração como rede (diferentemente das famílias de camadas médias que se organizam em núcleo), envolvendo um sistema de obrigações morais que, um lado, dificulta a particularização; por outro, viabiliza condições básicas para sua existência.

A família, para os pobres, associa-se aqueles em quem se pode confiar (...), como não há status ou poder a ser transmitido, o que define a extensão da família entre os pobres é a rede de obrigações que estabelece: são da família aqueles com quem se pode contar, isto quer dizer, aqueles que retribuem ao que se dá ,aqueles, portanto,para com que se tem obrigações são essas redes de obrigações que delimitam os vínculos, fazendo com que as relações

de afeto desenvolva dentro da dinâmica das relações ( SARTI,2002:63).

Para a autora neste sentido, as relações com os parentes de sangue ocorrem somente se estes estiverem inseridos no sistema de obrigações morais e assim, a noção de obrigações se sobrepõe á idéia de parentesco (idéia bastante valorizada na família conjugal).

5 - Sobre o “modelo” conjugal, Sarti (1996:44) apresenta a seguinte nota: “Acredito que, na sociedade brasileira, mesmo nas camadas médias e altas, em função de uma dinâmica distinta, a família existe como família conjugal”.

6 - Sobre esta questão Figueira, cita: “O” moderno” e o “arcaico” na nova família brasileira: notas sobre a dimensão invisível da mudança social” (Figueira,1987).

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Conforme Philippe (1981), o Brasil herdou o modelo europeu de família nuclear, desprezando o sem-número de outras experiências familiares encontradas entre os diferentes povos indígenas ou trazidas pelos negros procedentes de várias nações africanas.

E a partir da década de 50, novos valores em torno do conceito família foram introduzidos com a aceleração da urbanização e o crescente processo de industrialização. Por sua vez, fatores como as mudanças no ideário feminino relativo ao casamento e a queda da fecundidade observada desde a década de 1960 interferiam profundamente nas relações culturais de gênero.A crescente –se ainda o fato de que a crise econômica, iniciada nos anos 80, provocou o desemprego em massa do homem adulto e a conseqüente intensificação da participação feminina no mundo do trabalho, causando forte impacto a dinâmica intrafamiliar brasileira.

Novos arranjos familiares foram sendo formados a família tradicional começou a se diferenciar, a mulher foi assumindo um novo papel dentro da família a partir da crise econômica iniciada no país. Tudo isso resultou porque as famílias foram diminuindo e se diversificando dando origem a novos padrões como: famílias compostas por casais e filhos de relacionamentos anteriores, de famílias formadas por pessoas de várias gerações, dos lares composto por várias famílias ou individual.

De acordo com Pahl (2006:66), desde a crise econômica mundial dos anos 1970; a família vem sendo redescoberta como um importante agente privado de proteção social. Em vista disso, quase todas as agendas governamentais prevêem, de uma forma ou de outra, medidas de apoio familiar, particularmente as dirigidas ás crianças, como: aconselhamento e auxílios, incluindo novas modalidades de ajuda material aos pais e ampliação de visitas domiciliares por agentes oficiais; programas de redução da pobreza infantil; políticas de valorização da vida doméstica, tentando conciliar o trabalho remunerado dos pais com as atividades do lar; tentativas de redução dos riscos de desagregação familiar, por meio de campanhas de publicidade e de conscientização, que abarcam desde orientações pré-nupciais até o combate á

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violência doméstica, á vadiagem, á drogadização e aos abusos sexuais. Alguns países dão especial suporte materiais ás famílias monoparentais como crianças e dependentes adultos. Outros incentivam a reinserção da mãe trabalhadora no tradicional papel de “dona de casa” com o chamativo apelo da importância do cuidado direto materno na criação saudável dos filhos.

Segundo Sarti (2002:22), comenta que tratar das temáticas contemporâneas é incursionar por complexas questões e por realidades reconhecidamente em transformação. Dentre as mudanças que afetam os laços familiares, a autora destaca as configurações das famílias chamadas moparentais, alvo de atenção de profissionais da área da saúde, de serviço social, da psicologia, entre outros.

Os lares monoparentais são aqueles em vivem um único progenitor com os filhos que não são ainda adultos. Essa expressão foi utilizada, segundo Nadine Lefaucher, na França, desde a metade dos anos setenta, para designar as unidades domésticas em que pessoas vivem sem cônjuge, com um ou vários filhos com menos de 25 anos e solteiros.

De acordo com Fonseca (1987), ressalta que vem crescendo as famílias chefiadas por mulheres, nesta direção, pode observar que as famílias chefiadas por mulheres têm crescido nas últimas décadas. No Brasil em 1992, eram estimadas em 21,9% segundo o Censo 2000. Nesse universo, a maioria das mulheres responsáveis pelo domicilio está em situação monoparental. Os dados revelam que enquanto cresce a proporção das famílias monoparentais feminina – de 15,1 em1992 para17, 1% em 1999 diminui a proporção daquelas compostas apenas pelo casal com filhos.

O que vemos hoje em dia são famílias em que filhos, enteados, primos e bisnetos estão reunidos e vivem sob os cuidados e responsabilidade da mulher. E que as famílias monoparentais masculinas estão a cada dia diminuindo frente às femininas.

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Registra Medeiros (1977:28), que a “própria legislação brasileira reflete esta tendência, preservando uma definição de família fortemente vinculada aos laços de sangue, á relação conjugal e ao padrão central”. Para efeitos da proteção do Estado, a Constituição Federal de 1988 reconhece como unidade familiar a que é constituída pela “união estável entre o homem e a mulher”, assim como a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente referente à definição constitucional, entendendo por família natural “a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes”. O autor afirma que a família brasileira, no entanto, está em pleno processo de mudança, movida por novos valores sociais que, muitas vezes, passam ao largo da legislação e das políticas que para ela foram desenhadas. Levando-se em contra os diferentes arranjos possíveis entre as relações de consangüinidade, de afinidade e de descendência - como características de família – e extrapolando o limite da coabitação, pode-se ter um efetivo avanço em relação ao estabelecido nas leis.

Assim o olhar flexível sobre a disposição de cada arranjo familiar, disposto a captar sua singularidade e, principalmente, o que isso representa como potencial a ser fortalecido pode contribuir para a construção de novas soluções para os problemas vivenciados pela infância e pela adolescência brasileira em situação de risco.

1.2 - A conquista histórica dos direitos das crianças e dos

adolescentes.

Segundo Rizzini (1993:66), Até o fim do século XIX, a assistência á infância e á adolescência desamparada no Brasil se caracterizavam pelo atendimento em asilos, realizados por iniciativa de ordens religiosas e de sociedades beneficentes. A formação religiosa era a intenção central do atendimento nessas entidades, sem maiores preocupações pedagógicas ou educacionais, o que certamente determinava o quadro de recursos humanos ali envolvidos: basicamente religiosas e padres.

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Conforme Moncorvo (1926:23), por um longo período, “o Estado deixou a assistência a “carentes” e “abandonados” por conta das instituições de caridade e filantrópicas. A entrada tardia do Estado na atenção á infância e á adolescência em situação de risco tiveram reflexos no quadro de recursos humanos que tradicionalmente se ocuparam dessas entidades de abrigo. Essa atenção foi, durante muito tempo, desenvolvida predominantemente por agentes voluntários – religiosos ou leigos-, contando com pouquíssimos trabalhadores remunerados. As populações economicamente carentes eram entregues aos cuidados da igreja católica através de algumas instituições, entre elas as santas Casas de Misericórdia”.

No Brasil, a primeira Santa casa foi fundada no ano de 1953, na capitania de São Vicente (Vila de Santos). Estas instituições atuavam tanto para os doentes quanto com os órfãos e desprovidos. Existia um sistema de Roda das Santas Casas que veio da Europa no século XIX, tinha o objetivo de amparar as crianças abandonadas e de recolher donativos.

A Roda7 se constituía de um cilindro oco de madeira que girava em torno do próprio eixo com uma abertura em uma das faces, alocada em um tipo de janela onde eram colocados os bebês. Sua estrutura física privilegiava o anonimato das mães, que não podiam, pelos padrões da época, assumir publicamente a condição de mães solteiras.

Segundo o autor, os primeiros bebês entreguem a este sistema de Roda foram criados fora da instituição por famílias da sociedade local, que o fizeram em sinal de benevolência. As crianças abandonadas na “Roda” eram enviadas a mulheres “criadeiras”, que recebiam um pagamento para suprir as despesas com os acolhidos.

7 – Roda era denominada pela qual eram conhecidas às instituições de abrigo para crianças abandonadas. Esse nome advinha do mecanismo giratório utilizado para recepção dos bebês abandonados: uma roda de madeira na qual a criança era depositada pelo lado de fora e, girando-se a roda, era passada para dentro, mantendo-se o anonimato da pessoa que a entregava.

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No entanto ainda que houvesse denuncias de exploração e maus tratos praticados por muitas dessas mulheres, acreditava-se que a entrega de crianças a elas ajudava a reduzir o índice de mortalidade infantil verificado quando as crianças permaneciam por muito tempo juntos nas Santas Casas de Misericórdia.

Assim, vale reforçar que nos dias atuais várias crianças e adolescentes são acolhidos por avós, madrinhas tias ou por outras pessoas que se oferecem para criarem, registrando-se que esta prática de acolhimento dentro das famílias acontece sem qualquer intervenção Jurídica.

A “Roda” mantinha livros de registros de cada criança assistida relatando os momentos importantes de sua vida, e morte. Sendo o registro da criança uma obrigatoriedade deste novo procedimento.

Segundo Rizzini (1993), no inicio do século XX, a chamada nova filantropia surge num momento de crítica á assistência caritativa, apontando inúmeros problemas no atendimento oferecido. Entretanto, essa postura, em vez de depor contra os estabelecimentos asilares, apenas justificava a sua transformação em instituições mais “disciplinadas” e “disciplinadoras”. A colocação de crianças e adolescentes em instituições era utilizada como medida de “proteção” contra os desvios causados pelas condições sociais, econômicas e morais das famílias pobres (no caso preventórios) ou como medida corretiva dos desvios já verificados (no caso dos reformatórios). E assim se cristalizaram as experiências das chamadas instituições totais, onde crianças e adolescentes viviam sob rígida disciplina e afastados da convivência familiar e comunitária, visto que quase todas as atividades pertinentes a suas vidas eram realizadas intramuros.

O acolhimento de grande número de meninos e meninas em situação de risco nas instituições era justificado pela economia de “escala”, pela possibilidade de controle da aplicação dos recursos - o que não poderia ser feito ser repassados diretamente ás famílias, uma vez que já haviam se

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mostrado “incapazes” no cuidado dos filhos -, e pelo fato de proporcionar a educação moral que tais crianças e adolescentes não teriam junto a seus familiares.

Neste período segundo a autora, a situação das instituições passa a se preocupar com uma outra parcela da sociedade, especialmente os juristas e os médicos, que apontavam nos asilos de caridade problemas com falta de disciplina e de organização, a ineficiência da atuação na superação dos “males” da pobreza, bem como o descuido com as condições higiênicas, o que propiciava o aparecimento de doenças e as altas taxas de mortalidade infantil verificadas nesses ambientes. A chamada “nova filantropia” era baseada nos princípios higienistas da medicina social, que justificavam tecnicamente a ingerência de especialistas sobre a família e a infância. Para tanto foi criado em 1923, o Juizado de Menores, tendo Mello de Mattos como o primeiro Juiz de menores da América Latina.

Sendo que em 1924 houve a aprovação do primeiro documento internacional (aprovação da Declaração de Genebra) sobre os direitos da criança, elaborado e regido por membros da ONG; considerado o documento que deu origem à “Convenção dos Direitos Da Criança” de 1989.

No ano de 1927, foi publicado o primeiro documento legal para a população menor de 18 anos: O Código de Menores, conhecido como código de Mello Mattos. O Código de Menores não era enviado a todas as crianças, mas apenas a aquelas em “situação irregular”. O Código defendia, em seu artigo 1º, a quem a lei se aplicava:

“O menor de um ou outro sexo, abandonado ou delinqüente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente medidas de assistência e proteção contidas neste código”. (grafia original) Código de Menores - Decreto N. 17.943 A – de 12 de Outubro de 192

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Visava estabelecer diretrizes claras para a questão da infância e juventude excluídas, regulamentando assuntos como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade vigiada. O Código de Menores dava a figura do juiz grande poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava na dependência do julgamento e da ética do juiz.(Site promenino).

De acordo com Rizzini (2004), no âmbito da atuação do Poder Público, em plena consolidação do regime republicano, surgia a demanda pelo controle sobre a ação não-governamental a se exercido pelo Estado, consolidado com a aprovação do Código de Menores. Para tanto, foram introduzidos na ação estatal de assistência critérios técnico-científicos a ser oferecido, quanto para a fiscalização das entidades e definição do formato do atendimento a ser oferecido, quanto par avaliação e triagem das crianças e dos adolescentes.

Novas exigências foram trazidas á instituições de abrigo, tanto para a especialização do atendimento – visto que os indivíduos atendidos eram agora classificados em categorias, segundo suas características pessoais, familiares, jurídicas e sociais-, quanto para a constituição de um quadro de recursos humanos mais complexos. Os médicos os psicólogos e os professores, bem como outros profissionais especializados, além do pessoal responsável pela administração institucional e pela manutenção da “ordem”, adquirem importância singular nesse trabalho.

As entidades se caracterizaram pelas condições de isolamento impostas ás crianças e adolescentes sob guarda, pois se organizavam segundo o modelo de instituições ditas “totais”, nas quais a maior parte das atividades era realizada dentro do próprio abrigo, tais como atenção á saúde, educação, profissionalização e atividades de cultura e lazer. As crianças e os adolescentes afastados de seus familiares viviam em espaços com regulamentos difusos, hierarquia rígida e funcionários que, de maneira geral, se classificavam apenas como “agressores” ou “protetores” - o que nem de longe se parecia com uma vivencia residencial e familiar.

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Com relação á posturas a ser adotada pelos trabalhadores das entidades, todos os níveis funcionais deveriam ocupar-se da função de vigilância, desde o funcionário mais subalterno até o diretor, sendo que este último centralizava as informações decorrentes dessa prática de controle. Essas informações circulavam de forma hierárquica e formalizada e contemplavam registros individuais sobre aspectos pedagógicos, escolares, de saúde, de disciplina e até sobre o comportamento das crianças e dos adolescentes nas suas horas “livres”. Essa rigidez institucional, implementada sem maiores questionamentos por mais de meio século no Brasil, cristalizou uma cultura organizacional e uma lógica de funcionamento nas instituições de abrigo difíceis de serem mexidas.

A revolução de 30 significou a derrubada das oligarquias rurais do poder político. Conhecido como Estado Novo vigorou entre 1937 e 1947, sendo marcado no campo social pela implementação do aparato executor das políticas sociais no país. Destacando dentre elas a legislação trabalhista, a obrigatoriedade de ensino e a cobertura previdenciária associada á inserção profissional, alvo de criticas por seu caráter não universal.

Segundo o Site (promenino), a Criação do Serviço ao Menor foi instituído em 1942 no governo de Getulio Vargas, época vista como autoritária do Estado Novo, o SAM era um órgão do Ministério da Justiça e que trabalhava com um equivalente do Sistema Penitenciário para a população menor de idade. Sua direção era correcional-repressiva. O sistema visava atendimentos diferenciados para o adolescente autor de ato infracional e para o menor carente e abandonado. Portanto além do SAM, outras entidades federais ligadas à figura da primeira dama foram criadas á criança e adolescente. Alguns destes programas buscavam o campo do trabalho, sendo eles direcionados pela prática assistencialista:

Ø LBA - Legião Brasileira de Assistência - agência nacional de assistência social criado por dona Darcy Vargas. A instituição era voltada ao

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atendimento de crianças órfãs da guerra. Mas tarde cresceu se atendimento.

Ø Casa do Pequeno Jornaleiro: programa de apoio a jovens de baixa renda voltada no trabalho informal e no apoio assistencial e sócio-educativo

Ø Casa do Pequeno Lavrador: programa de assistência e aprendizagem rurais para crianças e adolescentes filhos de camponeses.

Ø Casa do Pequeno Trabalhador: programa de capacitação e encaminhamento ao trabalhador de crianças e adolescentes urbanos de baixa renda.

Ø Casa das Meninas: programa de apoio assistencial e sócio-educativo a adolescência do sexo feminino com problemas de conduta.

O governo de Vargas é deposto em 1945 e uma nova constituição é promulgada, a quarta Constituição do país. De caráter liberal, esta constituição representou a volta das instituições democráticas. Restabeleceu a independência entre os três poder (Executivo, Legislativo, e Judiciário) trouxe de volta o pluripartidarismo, a eleição direta para presidente (com mandato de cinco anos), a liberdade sindical e o direito de greve. Acabando também com a censura e a pena de morte.

A criação da UNICEF foi fundada no dia 11 de Dezembro de 1946, o Fundo das Nações Unidas para infância. Seus primeiros programas promoveram assistência emergencial a milhões de crianças no período do pós-guerra na Europa, no Oriente médio e na China. Sendo que em1950 foi instalado o primeiro escritório do UNICEF no Brasil, em João pessoa, na Paraíba. O primeiro projeto inaugurado no Brasil foi voltado á iniciativas de proteção á saúde da criança e da gestante em alguns estados do nordeste do país. Portanto o período entre 45e 64 foi marcado pela co-existência de duas tendências:

Ø O aprofundamento das conquistas sociais em relação á população de baixa renda

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Ø Controle da mobilização e organização, que inicia com o surgimento paulatinamente nas comunidades.

O SAM passa a ser visto, diante da opinião pública, repressivo, desumanizante e conhecido como “universidade do crime”. Entretanto o início da década de 60 foi lembrado, portanto, por uma sociedade civil mais bem organizada.

O golpe militar de 64 foi o período dos governos militares pautado, para a área da infância, por dois documentos significativos e indicadores: (site promenino)

Ø A lei que criou a Fundação Nacional do Bem - Estar do Menor em 1964 (lei 4.513 de 1/12/64)

Ø O Código de Menores de 79 (lei 6697 de 10/10/79)

A Fundação nacional do Bem Estar do Menor tinha como objetivo articular e introduzir a Política Nacional do Bem Estar do Menor, herdado do SAM prédio e pessoal e, com isso, toda a sua cultura organizacional. Ao longo de sua historia, a Funabem e as correlatas Febens estaduais tiveram diferentes transformações. Algumas mostraram inovações pedagógicas, enquanto outras mantiveram uma postura autoritária e repressiva, formando um espaço de tortura e de desumanização autorizado pelo Estado.

O Código de Menores de 1979 formou-se na revisão do Código de Menores de 1927, não violando, no entanto, com sua linha principal de arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto á população infanto juvenil. As críticas feitas ao Código de Menores de 1979 eram agrupadas em duas vertentes:

Ø Crianças e adolescentes eram chamados, de forma preconceituosa, de “menores” eram punidos por estar em “situação irregular”, na qual não tinham responsabilidade, pois era ocasionada pela pobreza de suas famílias e ausência de suporte e políticas públicas.

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Ø As crianças e adolescentes apreendidos por suspeita de ato infracional, os quais eram tirado o direito de conviver em liberdade sem que a materialidade dessa prática fosse comprovada e eles tivessem direitos para sua devida defesa, isto é, inexistia o devido processo legal. Dessa maneira, era “regulamentada” a criminalização da pobreza.

Segundo Costa (1991), Internacionalmente, a conjuntura que antecedeu a aprovação do ECA – nas décadas de 1970 e 80- passava por mudanças substanciais na conformação de uma fase mais evoluída do capitalismo conhecida como globalização.

As metaforses na relação capital/trabalho alteram o padrão fordismo de produção e o gerenciamento da força de trabalho, passando a vigorar o toyotismo que introduziu a gestão da acumulação flexível e seus desdobramentos. Na economia política, o neoliberalismo propunha um Estado mínimo para enfrentar a crise do capitalismo. Essas transformações, juntamente com a revolução informacional, provocaram um processo de “reestruturação produtiva”, de desemprego estrutural, de precarização das relações de trabalho e outras mudanças que tiveram como conseqüências, dentre tantas, o xenofobismo, a tolerância zero, a insegurança social, a intensificação das migrações e o aumento da pobreza, e o aparecimento de novas expressões da questão social.

Para o autor esse contexto era o enfraquecimento do Welfare State que até os anos 1970 tinha sido referência de Estado social forte na seguridade social, produzindo pleno emprego, previdência social, saúde. Assistência social, políticas públicas, direitos sociais e maior equidade social.

Os adolescentes e os jovens foram extremante atingido no mundo da globalização, por sofrerem violências ou por violentarem outrem. Mesmo vivendo uma historia na quais eram violentados, portanto as violências praticadas por eles ganhavam destaque na sociedade, na medida em que a mídia mostrava com prioridade situações de violência e de “insubordinação”, por gangues de Nova York, rebeliões, as bandas de rock e os massacres

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cometidos por adolescentes nas escolas dos Estados Unidos. As repercussões da mídia sobre esses acontecimentos mobilizaram a opinião pública e reacenderam as críticas ao modelo de justiça/direito menorista, enquanto paternalista e promotor de impunidade.

Na década de 80 permitiu que a abertura democrática se tornasse uma realidade. Isto se concretizou com a promulgação, em 1988, da Constituição Federal que após 18 meses de trabalho da Assembléia Constituinte foi promulgada, considerada a “Constituição Cidadã”. Marcada por progressos na área social entra com um novo modelo de gestão das políticas sociais que conta com a participação ativa das comunidades através de conselhos deliberativos e consecutivos. Entretanto os anos 80 significaram importantes e decisivas conquistas. As organizações dos grupos em volta do tema da infância eram formadas em dois tipos: (Site promenino)

Ø Os menoristas: defendia a conservação do Código de Menores, que se propunha a regulamentar a situação das crianças e adolescentes que estivessem em condições irregulares (Doutrina da Situação Irregular). Ø Os estatutistas: defendiam uma grande transformação no Código,

instituindo novos e amplo direito ás crianças e aos adolescentes, que se tornariam a ser pessoas de direitos e a somar com uma política de Proteção Integral. O grupo era articuloso, capacitados e de atuação importante.

Segundo Costa (1993:32), relata que “para conseguir colocar os direitos da criança e do adolescente na Carta Constitucional, tornava-se necessário começar a trabalhar, antes mesmos das eleições parlamentares constituintes, no sentido de levar os candidatos a assumirem compromissos públicos com a causa dos direitos da infância e adolescência”.

A assembléia Nacional Constituinte foi organizada em 1 de Fevereiro de 1987, sendo presidido pelo deputado Ulysses Guimarães, membro do PMDB, era ordenada por 559 congressistas e durou 18 meses. Em 5 de Outubro de 1988, foi então ordenada oficialmente a Constituição Brasileira que, marcada

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por progressos a área social, entrou com um novo modelo de gestão das políticas sociais – que contava com a participação ativa das comunidades através dos conselhos deliberativos e consecutivos. A assembléia Constituinte formou um grupo de trabalho comprometido com o tema da criança e do adolescente, cujo resultado realizou-se no artigo 227, que entrou com conteúdo e enfoque próprios da Doutrina de Proteção Integral da Organização das Nações Unidas, trazendo os progressos da normativa internacional para a população infanto - juvenil brasileira. Este artigo dava segurança ás crianças e adolescentes aos direitos fundamentais de sobrevivência, desenvolvimento pessoal, social, integridade física, psicológica e moral, além de protegê-los de forma especial, ou seja, através de regras legais diferenciadas, contra negligencia, maus tratos, violência, exploração, crueldade, e opressão. Estavam lançadas, portanto, as bases do Estatuto da Criança e do Adolescente. Contudo a Comissão de Redação do ECA obteve representação de três grupos significativos:

Ø Movimentos da sociedade civil

Ø Os juristas (ligados ao Ministério Publico)

Ø Técnicos de órgãos governamentais (funcionários da Funabem)

O autor cita que nos movimentos endógeno e exógeno os chamados países de Primeiro Mundo consideram a década de 1980 como a “década perdida”, entretanto no Brasil, contraditoriamente, é considerada como a “década ganha”, sendo que neste período as lutas sociais obtiveram grandes conquistas, das quais o ECA fez parte.

Mendes (2002:5), afirma que Estatuto da Criança e do Adolescente foi aprovado pelo Senado em 25 de Abril de 1990, em 28 de Junho do mesmo ano, pela Câmara, e em 13 de Julho foi sancionado pelo presidente da República, Fernando Collor de Mello. Sendo que só entrou em vigor no dia da criança, 12de Outubro. O qual afirmou em seu texto um conjunto de inovações na perspectiva da cidadania da população infanto – juvenil. Nesse sentido, o ECA não só rompeu com a estigmatização formal da infância e adolescência pobres anteriormente categorizada como menoridade como ainda buscou

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desjudicializar o atendimento a esses segmentos da população. Ou seja, o Estatuto atentou para igualdade de direitos entre todas as crianças e adolescentes, independentemente de suas diferenças de classe social, gênero, etnia ou quaisquer outras; e tornou-os sujeitos de direitos a serem garantidos, com absoluta prioridade, através de políticas sociais.

A autora aponta que no ECA, registra que o direito á vida, á saúde, á liberdade, ao respeito, á dignidade, á convivência familiar e comunitária ( seja em família natural ou substituta), á educação, á cultura, ao esporte, ao lazer, á profissionalização e a proteção ao trabalho são direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes. Assim, está visível que a implementação do Estatuto está diretamente ligada a uma ação efetiva em torno das políticas sociais públicas, sendo a Seguridade Social estratégica.

Além de garantir os direitos, o ECA, por meio de seu livro II, apresenta as diretrizes da política de atendimento para a infância e a juventude, no qual também é explicitado o papel dos órgãos que compõem essa rede de atendimento. As diretrizes dessa política apontam para a descentralização político-administrativa, tendo como base à municipalização articulada á atuação das esferas federais e estaduais; e também para o exercício do controle social por meio do incentivo da participação da sociedade, através da criação dos conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes, e do controle sobre os fundos da infância e adolescência a eles atrelados.

De acordo com a autora a política para a infância e a adolescência proposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, como as outras políticas sociais após 1988, trabalha a perspectivada descentralização, transferindo para os municípios grande parte da responsabilidade pelas políticas sociais. Nesse sentido, a municipalização deve ser atendida como estratégia para facilitar a participação da sociedade no controle das políticas sociais, e não como simples processo de desconcentração ou de retirada das responsabilidades dos governos federais e estaduais em relação á políticas públicas Mendes (2002:56).

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Assim, o ECA nasce em resposta ao esgotamento histórico-jurídico e social do Código de Menores de 1979. O Estatuto foi o processo e resultado por uma historia de lutas sociais dos movimentos “falência mundial” do direito e da justiça menorista, mas por expressão das relações globais internacionais que se reconfiguravam frente ao novo padrão de gestão de acumulação flexível do capital. É nos marcos do neoliberalismo que o direito infanto-juvenil deixa de ser considerado um direito “menor”, “pequeno”, de criança para tornar um direito “maior”, equiparado ao adulto. Portanto o Estatuto não foi uma dádiva do Estado, mas uma vitória da sociedade civil, das lutas sociais e reflete ganho fundamental que os movimentos sociais tem sabido construir.(Site promenino)

Essa conquista foi obtida tardiamente nos marcos do neoliberalismo, nos quais os direitos estavam ameaçados, precarizados e reduzidos, criando obstáculo na “cidadania de crianças”, no sentido de tê-las conquistada formalmente, sem, no entanto, existir condições reais de ser efetivada e usufruída.

O ECA foi a primeira lei brasileira e latino-americana que estabeleceu mudanças jurídicas descontínuas e significativas em relação ao Código de menores, de modo a “eliminar” a perversidade do sistema antigarantista contido no paradigma da situação “irregular”.Portanto Rizzinni (2000:7), “no campo da gestão, a partir do principio da democratização, o estatuto se diferençou profundamente, introduzindo a participação popular nas questões referentes á infância e á juventude. Essa participação foi instucionalizada por meio dos”:

Ø Conselhos de Direitos das Crianças e dos Adolescentes - sua composição é paritária entre governo e sociedade, suas funções são “deliberativas” em todos os níveis – municipal, estadual e nacional desempenhando um papel importante no processo de democratização.Cabe ao Conselho de Direitos participar ativar e criticar na formulação das políticas públicas; acompanhar, fiscalizar e controlar sua execução; denunciar as omissões e as transgressões decorrentes da não aplicação do Estatuto.

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Ø Conselhos Tutelares - símbolos da democracia foram criados para exercitar a ação popular no âmbito governamental público. Sendo uma instituição com a partição de pessoas da sociedade, para zelarem pelos direitos das crianças e dos adolescentes. Dessa forma, os movimentos pela infância sedimentam umas “novas” doutrina de participação da sociedade, na formulação, controle e atendimento do direito infanto-juvenil. Os conselhos atuam nos casos em que os direitos da criança e do adolescente são violados ou ameaçados por omissão ou abuso dos pais, do Estado, ou em razão de seu próprio comportamento. Além das atividades que se referem ao trato direto com a população, o conselho tutelar tem, juntamente com o Poder Judiciário e o ministério Público, importante papel na fiscalização de instituição, e também sua atribuição assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. (Brasil, 1990:22).

1.3– O papel da família na socialização da criança e do

adolescente.

Segundo os autores Berger e Luckmann (1987), os mesmos definem a relação homem-sociedade como dialética. Esta relação supõe três momentos, ou seja, interiorização, objetivação, e exteriorização. Através da exteorização, o mundo do objetivo é reintroduzido na consciência pelo processo de socialização. Nesse sentido, a socialização é “a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela”.

Para os autores socialização primária é entendida como interiorização da realidade a partir da relação entre a criança e os outros significados. A criança vai se identificando com os outros significativos através de inúmeros mecanismos emocionais absorvendo os papéis e as atitudes destes “outros”, isto é por meio desta identificação vai se desenvolvendo o processo de construção da identidade.

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