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Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso do Sul Comarca de Campo Grande 7ª Vara Cível

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Academic year: 2021

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Vistos e examinados os presentes autos de Ação de Indenização por danos morais, sob o 0836818-80.2015.8.12.0001, etc.

Henrique Ribeiro Giacon, portador do documento de

identificação RG nº 1066185 SSP/MS e inscrito no CPF/MF sob o nº 024.332.741-25, residente nesta Capital na Rua Sebastião Taveira nº 742, ajuizou a presente Ação de Indenização por danos morais contra Spal Ind. Bras. de

Bebidas S.A, pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ/MF sob o nº

61.186.888/0065-58, com sede nesta Capital na BR 163, Km -1, bairro Vila Olinda, relatando, em síntese, que em 21/09/2015 adquiriu um fardo de Coca-Cola de 1,5 litros no supermercado Assaí Atacadista nesta Capital e no dia dia 29/09/2015 encontrou um corpo não identificado dentro da garrafa pet do refrigerante que estava servindo. Afirma que ficou enojado e muito abalado e, ainda, que no final do dia começou a sentir náuseas e dores de estômago, buscando atendimento hospitalar onde fez exames e tomou soro e medicamento endovenoso. Em vista desses fatos, pede a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais. No mais, requereu a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, a inversão do ônus da prova, os benefícios da justiça gratuita, a citação da parte requerida, protestou pela produção de provas, deu valor à causa e juntou documentos.

Deferidos os benefícios da justiça gratuita (fl. 30).

Devidamente citada (fl. 36), a ré apresentou a contestação de fls. 37-51 alegando que a garrafa já estava aberta, não sendo possível imputar ao fabricante qualquer responsabilidade sobre corpo estranho no liquido. Defendeu que a simples aquisição de produto com defeito não gera dano moral indenizável. Na hipótese de condenação, pugna pela fixação da indenização em valor razoável.

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Impugnação à contestação juntada às fls. 73-78.

Oportunizada a especificação de provas (fl. 79), as partes requereram a produção de prova pericial.

Frustrada a tentativa de conciliação conforme termo de fl. 100.

Pela decisão de fls. 101-103 o feito foi saneado; fixados os pontos controvertidos; reconhecida a relação de consumo; deferida a produção de prova pericial às expensas da ré e nomeado perito.

Resolvidas as questões acerca dos honorários do perito, sobreveio o laudo de fls. 147-183, seguido da manifestação das partes.

Por fim, as partes manifestaram expressamente desinteresse na produção de prova testemunhal.

É o relatório. Decido.

Tratam os presentes autos de Ação de Indenização por danos morais ajuizada por Henrique Ribeiro Giacon contra Spal Ind. Bras. de Bebidas S.A.

Pretende o autor indenização por danos morais decorrentes do abalo sofrido após ter encontrado um corpo estranho no refrigerante que estava consumindo, fabricado pela ré.

A ré alega que não pode ser responsabilizada uma vez que a garrafa já estava aberta. Defende também que os fatos narrados não configuram dano moral indenizável.

A relação existente entre as partes é de consumo, consoante já definido por ocasião do saneamento do feito, restando invertido o ônus da prova relativamente ao defeito do produto.

Para a solução do conflito foi deferida a produção da prova pericial, formalizada no laudo de fls. 147-183.

Constatou o perito que o produto estava dentro do prazo de validade; a presença de fungo no interior da garrafa; uma deformação no bocal da garrafa e concluiu:

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"Diante de todo o exposto no decorrer deste relatório técnico, constatou-se a presença de corpo estranho no interior da garrafa PET de Coca-Cola 1,5L, com evolução após a cultura nos testes, tratando-se de fungo (mofo/bolor);

02- A presença do corpo estranho possivelmente teve origem devido a deformação do bocal da garrafa (imagem 18), com consequente fuga do gás carbônico (descarbonatação), propiciando a entrada de ar que induziu uma oxidação dos componentes da bebida, facilitando a cultura do fungo;

03- Não foi possível identificar em que momento aconteceu a deformação do bocal e consequente início de formação do fungo, tendo em vista que a garrafa fora aberta e parte do líquido consumido, conforme informado na inicial. Ainda assim, ressalta-se que a deformação pode ter ocorrido por diversos fatores, tais como armazenamento incorreto (exposição ao sol, por exemplo), transporte inadequado, batida, queda, comercialização, etc., posterior à fabricação e à última verificação na linha de produção;" – fl. 175

Como visto, restou demonstrada a existência do corpo estranho encontrado pelo autor no interior da garrafa, identificado pelo perito como fungo, possivelmente provocado pela deformação no bocal da garrafa.

Em que pese a ponderação do perito acerca da impossibilidade de identificar o momento da deformação do bocal da garrava e do inicio da formação do fungo, uma vez que a garrafa foi aberta pelo consumidor, ressaltando que diversos fatores podem ter provocado a deformidade, é certo que a responsabilidade objetiva imputada à ré, decorrente da relação de consumo, especificamente pelo artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, impõe à fabricante o ônus da prova de que o defeito da mercadoria se deu por culpa exclusiva de terceiro ou do próprio consumidor.

Infere-se nos autos que não há qualquer alegação ou prova apresentada pela ré que indique ou demonstre que a deformidade constatada no bocal da garrafa não ocorreu sob a responsabilidade da fabrica ou qualquer um dos agentes envolvidos na cadeia de consumo.

Acerca da culpa do consumidor, vale destacar que o produto estava dentro do prazo de validade e que permaneceu apenas uma semana na casa do consumidor antes de ser ingerido.

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No caso dos autos, a empresa ré, fabricante da mercadoria que apresentou defeito, não se desincumbiu do ônus da prova de qualquer uma das excludentes de responsabilidade, respondendo objetivamente pela falha do produto efetivamente comprovada nos autos.

No que tange ao dano, afirmou o autor que após ingerir parte do refrigerante sentiu náuseas e dor de estômago, seguida de vômito e que procurou atendimento médico no Hospital Proncor, onde tomou soro e medicamento endovenoso e lhe foram prescritos outros medicamentos orais para consumo domiciliar.

O autor trouxe aos autos a receita médica mencionada. Por outro lado, a ré não se insurgiu contra essas alegações.

O fato de a ingestão de produto com defeito ter provocado dores, náuseas e vômitos relevantes o suficiente para o autor buscar ajuda médico-hospitalar evidenciam que o consumidor foi exposto a risco concreto de lesão à sua saúde demonstram que os fatos vivenciados por ele ultrapassaram o mero aborrecimento e causaram abalo ao seu bem estar físico e sua saúde, configurando o dano e dão direito à compensação por dano moral, dada a ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana.

Assim, constatado o dano, deve-se estabelecer a correspondente compensação.

Em que pese a falta de critérios objetivos para a fixação da compensação por danos morais, há que se observar que deve ser pautada pela proporcionalidade e razoabilidade, de sorte que o valor definido, além de servir como forma de compensação do dano sofrido, deve ter caráter sancionatório e inibidor da conduta praticada.

Nessa linha, destaca-se a lição de Sérgio Cavalieri Filho, segundo a qual "(...) o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de

acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes." (CAVALIERI FILHO, S. Programa de

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partes, levando em conta os elementos acima mencionados, o fato de que a reparação por dano moral não pode gerar um enriquecimento ilícito, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade fixo o valor dos danos morais em R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Diante do exposto e de tudo mais que consta nos autos, com fundamento no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, resolvo o mérito da lide e julgo procedente o pedido formulado pelo autor Henrique Ribeiro Giacon para condenar a ré Spal Ind. Bras. de Bebidas S.A ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigidos pelo IGPM a partir desta data e acrescido de juros de mora simples de 1% ao mês a partir da citação.

Em consequência, com fundamento no artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, condeno a ré ao pagamento das custas processuais e honorários de advogado no valor correspondente a 10% sobre o valor da condenação.

Retifique-se o registro do nome da ré.

Certificado o trânsito em julgado, arquivem-se os autos, com observância das formalidades legais.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Campo Grande, 19 de março de 2020.

Gabriela Müller Junqueira Juíza de Direito

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