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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM

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Daniela Biguetti Martins Lopes1 Neide de Souza Praça2

PREVALÊNCIA DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA AUTORREFERIDA NO PÓS-PARTO: ESTUDO PILOTO.

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Enfermeira Obstétrica, Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. End.: Rua Luis Alberto Martins, 240 Apto 21A – Butantã – São Paulo – SP CEP 05530-030. E-mail: danielalopes@usp.br

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Enfermeira Obstétrica, Professor Livre Docente do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. E-mail: ndspraca@usp.br

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PREVALÊNCIA DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA AUTORREFERIDA NO

PÓS-PARTO: ESTUDO PILOTO

Resumo

Introdução: A incontinência urinária (IU) é definida como “toda perda involuntária de

urina”, sendo um problema social e de higiene. Trata-se de uma morbidade pouco explorada pelo profissional de saúde, o que dificulta a identificação da mulher que apresenta a intercorrência. Objetivo geral: Verificar a prevalência de incontinência urinária autorreferida no pós-parto e relacionar os fatores associados. Métodos: Estudo epidemiológico, transversal. A população é constituída por mulheres que vivenciam o período compreendido entre 30 dias e 6 meses de pós-parto. A amostra de 50 mulheres foi definida para este estudo piloto realizado em janeiro de 2009.

Resultados: Os dados correspondem ao estudo piloto, cuja idade das mulheres

variou de 18 a 44 anos. Dentre as entrevistadas 15 (30%) autorreferiram perda involuntária de urina, sendo 4 primíparas e 11 multíparas, das quais 7 se submeteram a parto normal, 3 a parto cesárea e 5 a parto fórceps. Quanto às características das perdas, 8 (53%) das mulheres referiram incontinência ao fazer esforço e em 9 (60%) das mulheres a severidade foi classificada como incontinência moderada. Verificou-se que duas mulheres comunicaram a intercorrência ao profissional de saúde, porém não receberam qualquer tratamento, e a totalidade das mulheres não recebeu qualquer orientação sobre o preparo do períneo, fator apontado pelas mulheres como uma das causas desencadeantes da IU.

Conclusão: Os achados deste estudo piloto apontam para a relevância de

identificação da prevalência de incontinência urinária em mulheres no pós-parto com consequente repercussão no planejamento de atenção de enfermagem obstétrica à mulher que vivencia o período reprodutivo.

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INTRODUÇÃO

A Incontinência Urinária (IU) é uma condição que afeta a população mundial, principalmente a feminina. Nos Estados Unidos da América, aproximadamente 13 milhões de adultos já vivenciaram algum episódio de IU, entre os quais, 11 milhões (85%) são mulheres. De acordo com a literatura, a experiência com episódios de perda urinária é uma condição que prevalece em idosas, mas também, em mulheres jovens e na meia-idade, porém a intercorrência urinária não é consequência natural da idade, nem é um problema exclusivo do envelhecimento (Agency for Health Care Policy and Risearch, 1996).

A incontinência pode ser causada por anormalidades da bexiga, por doenças neurológicas ou por alterações da força da musculatura pélvica. Esse sinal comum pode ser transitório ou permanente e envolve grandes volumes de urina ou gotejamento mínimo (Baikie, 2006). A Sociedade Internacional de Continência define o termo IU como sendo toda perda involuntária de urina, sendo um problema social e de higiene, classificando-a em quatro tipos: 1) IU de esforço (IUE) - a sua forma mais comum é toda perda de urina que ocorre em decorrência de algum esforço físico como: pular, correr, tossir; 2) IU de urgência – causada por uma contração involuntária súbita da bexiga; 3) IU mista – combinação de IUE e IU de urgência, mais comum em mulheres mais velhas; 4) Incontinência de transbordamento – sensação de urgência para urinar, porém sem esvaziamento completo da bexiga (Sand, Dmochowski, 2002).

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (2006), a história da incontinência urinária deve conter aspectos relativos ao início dos sintomas, freqüência, gravidade e impacto na qualidade de vida do indivíduo. Estudo realizado em Portugal, no período de novembro de 1994 a janeiro de 1995, nas freguesias de Bonfim e Paranhos, cidade do Porto, classificou os episódios de perda involuntária de urina segundo sua gravidade em: pouco grave quando acontece "algumas vezes, por gotas"; moderadamente grave quando acontece "algumas vezes, em jacto" ou "algumas vezes, pernas abaixo" e muito grave quando acontece "muitas vezes, umas gotas", "muitas vezes, em jacto" ou "muitas vezes, pernas abaixo" (Silva, Mateus, Barros, 1999).

Por sua vez, Moura (2005) utilizou o índice de Sandvik para calcular a severidade da incontinência urinária. O resultado é obtido quando se multiplica a frequência das perdas de urina (1 = menos de uma vez por mês; 2 = uma ou várias

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vezes por mês; 3 = uma ou várias vezes por semana; 4 = todos os dias e/ou noites) pela quantidade de urina perdida de cada vez (1 = gotas; 2 = pouca quantidade; 3 = muita quantidade). Conforme o valor do índice resultante (1 a 12) classifica-se em incontinência ligeira (1 a 2), moderada (3 a 6), severa (8 a 9) ou muito severa (12).

Higa, Lopes, Reis (2008), com o objetivo de identificar os principais fatores de risco de IU na mulher, analisaram 38 artigos que referiam fatores associados ou de risco para IU nesse segmento. A revisão bibliográfica mostrou que os principais fatores de risco foram: idade entre 35-81 anos, trauma do assoalho pélvico, fatores hereditários, raça (negra, hispânica e branca), menopausa, obesidade, doenças crônicas, uso de alguns simpaticomiméticos e parasimpaticolíticos, constipação, tabagismo, consumo de cafeína e exercícios direcionados à região abdominal. A literatura apontou vários fatores de risco para IU na mulher, entretanto, os resultados dos estudos foram por vezes contraditórios, indicando que de acordo com a metodologia adotada poderão ser identificados diferentes fatores associados.

Segundo Palma, Riccetto (1999) existem situações transitórias ou definitivas que podem levar à incontinência urinária, sendo que as transitórias são responsáveis por 50% dos casos. D’Ancona (2001) relata que a prevalência da IU aumenta de acordo com vários fatores como o aumento do peso, histerectomia, doença respiratória crônica e paridade. Muitas mulheres no período reprodutivo podem apresentar este sintoma, porém, boa parte delas não procura atendimento médico por achar que o sintoma vai desaparecer com o tempo ou por ser comum com o evoluir da idade.

A gravidez e a via de parto são considerados fatores de risco para a alteração da força muscular do assoalho pélvico. O incremento do peso corporal materno e o peso do útero gravídico aumentam a pressão sobre a musculatura do assoalho pélvico (AP) na gestação. O aumento do índice de massa corpórea (IMC) na gravidez, a multiparidade, o parto vaginal, o tempo prolongado do segundo período do parto e a episiotomia são fatores que diminuem a força dos músculos do assoalho pélvico favorecendo a IU (Meyer et al, 1998).

Meyer et al. (1998) acreditam que durante a gestação, no trabalho de parto e no parto ocorrem mudanças na posição anatômica da pelve, na forma da musculatura pélvica, nas vísceras e no períneo. Essas alterações e a relação com a gravidez e o parto podem ser explicadas pela deficiência do assoalho pélvico na gestação e no parto, pois a sobrecarga do períneo causa neuropatia do pudendo. Os

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processos fisiológicos sequenciais durante a gestação e o parto podem lesar o suporte pélvico, o corpo perineal e o esfíncter anal, que são fatores determinantes, a longo prazo, para o surgimento das perdas urinárias.

Embora a incontinência urinária não coloque diretamente em risco a vida das pessoas é uma condição que causa grande impacto psicossocial na mulher, afetando significativamente a qualidade de vida. A gestação é um período caracterizado por alterações hormonais que proporcionam adaptações físicas, que podem gerar algumas sensações de desconforto para a gestante, como por exemplo, a perda de urina, sendo que esta pode persistir após o parto.

Deve-se ressaltar que o período pós-parto é um período caracterizado por inúmeras mudanças, adaptações e turbulências, e quando somado à perda involuntária de urina, a situação pode se tornar uma experiência negativa em relação à maternidade. A IU, sobretudo neste período, pode gerar diversas modificações biopsicossociais para quem a refere e, esse é um aspecto importante a ser considerado quando se pensa em conhecer sua prevalência.

No Brasil são inconsistentes os estudos que possibilitem melhor situar a IU no contexto do ciclo gravídico-puerperal. Portanto, faz-se necessária uma investigação que produza evidências locais sobre a ocorrência desta morbidade. Por ser uma afecção sub-diagnosticada, uma vez que parte das mulheres não relata a perda de urina, por constrangimento ou por qualquer outro motivo, e devido à escassez de publicações nacionais de enfermagem sobre o tema, este estudo foi desenhado com a finalidade de obter subsídios sobre a IU autorreferida para traçar a assistência obstétrica e de enfermagem necessárias para intervir nesta morbidade voltada às mulheres no pós-parto. Portanto, pretende responder às seguintes questões: após o parto, a curto e médio prazo, a mulher apresenta incontinência urinária? Diante desta intercorrência, a mulher busca avaliação médica? Para responder a estas questões, traçamos os objetivos apresentados a seguir:

OBJETIVOS Geral

- Verificar a prevalência de incontinência urinária no pós-parto e relacionar os fatores associados.

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Específicos

- Verificar a prevalência de incontinência urinária, em mulheres com até seis meses de pós-parto.

- Relacionar a ocorrência de IU com características sociodemográficas, as condições clínico-obstétricas e o tipo de parto das mulheres.

- Caracterizar as manifestações da perda involuntária de urina no período pós-parto.

METODOLOGIA Tipo de estudo

Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal sobre fatores relacionados à IU. Este texto resulta do estudo piloto da pesquisa de maior amplitude.

Local do estudo

A coleta de dados foi realizada no ambulatório de pediatria, do Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (CSEB) que é uma unidade de ensino vinculada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob a responsabilidade dos Departamentos de Medicina Preventiva, Pediatria, Clínica Médica e FOFITO (Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional). Localiza-se na região oeste do Município de São Paulo. Desde 1977, o CSEB tem contribuído para o desenvolvimento das práticas de atenção primária à saúde, no Brasil, especialmente por meio de atividades de formação e de pesquisa em serviço.

A opção pelo local se deu pela possibilidade de contato com mulheres que vivenciam o período de até seis meses de pós-parto, quando comparecem à instituição para seguimento/atendimento do bebê em consultas de puericultura.

População e amostra do estudo piloto

A população foi constituída por mulheres com 30 dias a 6 meses de pós-parto, cujos bebês receberam atendimento na unidade de saúde campo do estudo. Este estudo piloto foi realizado com 50 mulheres que atenderam os critérios de inclusão.

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O tamanho da amostra do estudo de maior amplitude foi definido previamente em 288 mulheres, com base nos resultados da pesquisa realizada na Dinamarca, com multíparas e primíparas, após seis meses de pós-parto, o qual identificou prevalência de 23,4% de incontinência urinária (Hvidman et al., 2003). Considerou-se um erro de 5% para probabilidade de 95%. Cabe ressaltar que não foram identificados estudos, no país, sobre prevalência desta morbidade no período pós-parto.

Critérios de inclusão na amostra: estar no período compreendido entre 30 dias e

6 meses de pós-parto; ter idade igual ou superior a 18 anos; não apresentar dificuldades cognitivas que possam afetar sua compreensão e aceitar participar do estudo.

COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada no mês de janeiro de 2009, pela pesquisadora. Os dados foram obtidos por meio de uma entrevista que utilizou um formulário estruturado com questões fechadas e questões complementares, com dados de identificação, ginecológicos e obstétricos da mulher e dados sobre a ocorrência e caracterização da perda de urina. As entrevistas foram realizadas no ambulatório da instituição, em sala privativa. Precedendo o preenchimento do formulário, o peso e a altura atual da mulher foram verificados em balança disponível na unidade de saúde, com a finalidade de calcular o índice de massa corporal (IMC), fator de risco para a IU, que foi calculado como a razão entre o peso (Kg) e o quadrado da altura (m). Conforme a sequência do atendimento das crianças na pediatria, as mães foram contatadas durante ou após o período de espera para consulta do filho(a). Na abordagem da mulher, a pesquisadora se apresentava e expunha os objetivos e a finalidade do estudo. Diante da concordância em participar, precedendo a pesagem e a entrevista, era apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A coleta de dados foi realizada com todas as mulheres que atenderam os critérios de inclusão, até se esgotar a amostra definida previamente para o estudo piloto. As respostas às questões classificaram os sujeitos em dois grupos: mulheres autorreferidas com IU e mulheres autorreferidas sem IU. Para esta divisão considerou-se a pergunta de corte (nº 25 do instrumento da coleta): “Depois do

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parto, a senhora teve perda de urina?”, se a resposta fosse negativa caracterizava-se a mulher como do grupo continente, diante de resposta positiva, a entrevistada passou a integrar o grupo das mulheres autorreferidas com IU.

TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados coletados foram armazenados, em dupla entrada, em banco de dados elaborado no software Epi-Info versão 2000. Os achados foram analisados estatisticamente, por testes definidos por um estatístico.

ASPECTOS ÉTICOS

Para participar do estudo, a mulher era informada quanto à voluntariedade, ao direito de receber respostas às suas dúvidas em relação à pesquisa, e à liberdade de deixar de participar do estudo em qualquer momento, sem que isso prejudicasse seu atendimento na unidade de saúde. Após a concordância, a mulher assinava o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias.

Em observância às determinações da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo - CEP-EEUSP, tendo recebido parecer favorável sob o processo no. 761/2008. A direção do Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (CSE) autorizou a realização da pesquisa, e solicitou o encaminhamento da mulher com incontinência urinária autorreferida para segmento em unidade de saúde, pois o CSE não dispõe de referência estabelecida para uroginecologia.

RESULTADOS

Caracterização da amostra

Os dados correspondem ao estudo piloto, realizado com 50 mulheres com até seis meses de pós-parto, cuja idade variou de 18 a 44 anos; 29 (58%) eram primíparas e 21 (42%) não-primíparas. Dentre as entrevistadas 15 (30%) autorreferiram perda involuntária de urina no pós-parto sendo 4 (27%) primíparas e 11 (73%) não-primíparas. A maioria das mulheres (58%) se considera de cor parda ou negra e 42% considera-se de cor branca. Segundo o estado marital, 72% declararam viver com o companheiro, e em relação à escolaridade, 10% completaram o ensino fundamental, 26% concluíram o ensino médio e 6% o ensino

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superior. Quanto à ocupação, 56% relataram atividades relativas do lar, 44% tinham vínculo empregatício, porém notamos que estas exerciam atividades pertinentes ao âmbito doméstico e do cuidado, como por exemplo: doméstica, auxiliar de limpeza, artesã, babá, havia também pedagoga. A maioria das mulheres (74%) não praticava nenhuma atividade física regular, no entanto, 26% referiram praticar alguma atividade no mínimo três vezes por semana, dentre elas a caminhada e/ou ginástica localizada (academia).

Dados Ginecológicos e Obstétricos

Neste estudo, encontrou-se prevalência de 68% de infecção urinária em 50 mulheres, destas 18 (53%) apresentaram infecção urinária durante a gestação, 15 (44%) antes da última gestação e 1 (3%) apresentou infecção urinária após o parto. Dentre as 15 mulheres que autorreferiram IU no pós-parto, 73% tiveram infecção urinária antes ou durante a gestação, 67% realizaram tratamento por meio medicamentoso e apenas uma mulher não fez nenhum tratamento. Quanto ao local do último parto, 100% das mulheres referiram ter ocorrido em ambiente hospitalar. A seguir, apresentamos a Tabela 1 com as variáveis maternas e do recém-nascido (RN), segundo presença ou não de incontinência urinária autorreferida pela amostra.

Tabela 1 – Valores da média e desvio padrão da idade, IMC, ganho de peso durante a gestação, número de gestações e peso do recém-nascido ao nascer, segundo presença ou não de

incontinência urinária. São Paulo, 2009 IU (+) n=15 IU (-) n=35

Variáveis média desvio padrão média desvio padrão

p-valor Idade 26,33 6,99 25,94 5,57 0,834 IMC 22,92 3,29 26,29 5,53 *0,012 Ganho de peso 12.13 5.73 12.80 5.27 0,691 Nº de Gestações 2.27 2.19 1.89 1.02 0,527 Peso do RN 3398 531 3213 532 0,265 * Teste t (p-valor > 0,05)

Na Tabela 1, verificamos que houve diferença estatisticamente significante apenas para variável IMC, diante da comparação entre o grupo que autorreferiu perda de urina (IU+) e o que não referiu (IU-). Na mesma tabela, podemos observar que o ganho de peso médio das mulheres na gestação foi de 12,13Kg dentre aquelas que referiram IU e de 12,80 Kg para as que não citaram tal intercorrência. O

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número médio de gestações dentre as mulheres com IU positiva foi de 2,27 e dentre as demais foi de 1,89; enquanto que a média de idade foi de 26,33 e 25,94 anos, respectivamente. O peso médio do RN para o grupo de mães que referiu IU foi de 3.398 g e para o grupo sem a intercorrência foi de 3.213g.

A tabela 2, a seguir traz os achados referentes ao tipo do último parto e da anestesia recebida pela mulher, bem como a situação imediata de seu períneo como conseqüência do parto realizado.

Tabela 2 – Dados referentes aos tipos do parto e da anestesia e situação do períneo, segundo presença ou não de incontinência urinária. São Paulo, 2009

IU (+) n=15 IU (-) n=35 Variáveis n % n % p-valor TIPO DE PARTO* Normal 7 47 13 37 Fórceps 5 33 9 26 Cesárea 3 20 13 37 0,492 PERÍNEO* Íntegro 4 27 16 46 Episiotomia ou laceração 11 73 19 54 0,207 TIPO DE ANESTESIA* Raqui 7 47 23 66 Locorregional 7 47 7 20 Não recebeu 1 6 5 14 0,077

*Teste qui-quadrado (p-valor > 0,05)

Para verificar se a Incontinência Urinária está associada ao fato de a parturiente ter recebido ou não anestesia, utilizamos o Teste Exato de Fisher que resultou em um p-valor igual a 0,408, portanto, não houve diferença estatisticamente significante para este fator. O mesmo ocorreu quando se avaliou o tipo de parto, a situação do períneo e o local da anestesia, conforme Tabela 2 acima. Podemos observar que o parto normal ocorreu para 47% das mulheres que autorreferiram incontinência urinária e 37% para as que não referiram esta intercorrência, enquanto que a cesárea foi realizada em 20% e 37% mulheres, respectivamente. O uso da episiotomia ocorreu em mais de 50% das mulheres nos dois grupos e a anestesia raqui foi empregada em 47% das mulheres que autorreferiram incontinência urinária e em 66% para o grupo que não a referiu.

A Tabela 3, a seguir, apresenta a distribuição da amostra, segundo uso ou não de ocitócico no trabalho de parto.

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Tabela 3 – Dados referentes ao uso de ocitocina no trabalho de parto, segundo presença ou não de incontinência urinária São Paulo, 2009

Ocitocina IU (+) n=15 IU (-) n=35 n % n % p-valor Recebeu 11 73 25 71 Não recebeu 4 27 10 29 0,890 Teste t (p-valor > 0,05)

Os dados da tabela acima mostram que não houve diferença estatisticamente significante e que a ocitocina foi empregada em mais de 70% das mulheres que referiram ou não incontinência urinária.

A Tabela 4 traz os dados referentes à presença ou não de incontinência urinária na amostra, segundo o tempo de trabalho de parto.

Tabela 4 – Valores de média e desvio padrão do tempo de trabalho de parto referido (horas) pela mulher, segundo presença ou não de incontinência urinária. São Paulo, 2009

Tempo referido de TP

média desvio padrão p-valor IU (+) n=15 9,00 7,86

IU (-) n=35 5,95 6,52

0,5632 Teste t

Os resultados da Tabela 4 mostram que não houve diferença estatisticamente significante, e que a média do tempo referido em horas de trabalho de parto foi de 9,00 para o grupo que referiu incontinência urinária e de 5,95 para o grupo de mulheres que não referiram tal intercorrência.

Dados Pertinentes à Incontinência Urinária

Dentre as 15 mulheres com referência de perda involuntária de urina, verificou-se que 6 (40%) apontaram que o fato ocorreu ao final da gestação e no pós-parto, enquanto 9 (60%) citaram sua ocorrência no período pós-parto; 12 (80%) mulheres referiram incontinência urinária até o segundo mês de pós-parto e 3 (20%) citaram a ocorrência entre o terceiro e o quarto mês. Estas perdas foram assim caracterizadas: 8 (53%) mulheres referiram incontinência ao tossir e quando faziam esforço físico; 3 (20%) citaram perda de urina no trajeto até o banheiro e 3 (20%) apontaram as duas situações; apenas uma mulher referiu perda ao realizar atividade física. Para calcular a severidade da incontinência urinária, usou-se o índice de

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Sandvik (2000), e identificou-se que 4 (27%) apresentaram incontinência ligeira, 9 (60%) incontinência moderada e 2 (13%) incontinência severa.

Durante a gestação, nenhuma mulher recebeu qualquer orientação para o preparo do períneo, e dentre as 15 com IU autorreferida, 6 (40%) mulheres apresentaram perda de urina ao final da gestação e no pós-parto e 9 (60%) apenas no pós-parto. Vale notar que 2 (13%) mulheres comunicaram a intercorrência ao médico, porém disseram que não receberam qualquer tratamento; quanto às demais (13 – 87%) nada fizeram por acreditarem tratar-se de algo fisiológico.

Identificamos, também, que 5 (33%) entrevistadas relataram que a perda de urina interfere na sua vida diária e 10 (67%) a relacionaram ao parto, apontando como causas desencadeantes a falta de preparo do períneo durante a gestação, o uso do fórceps, a episiotomia e/ou o peso elevado do recém-nascido. As mulheres relataram que conseguiram identificar a perda de urina por sentir a urina sair (87%) e/ou por sentir a calcinha/roupa molhada (13%).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo piloto são concordes com a pesquisa realizada na Austrália em 1993 por Brown e Lumley (1998) que descreveu a prevalência de problemas de saúde física e emocional materna entre seis e sete meses de pós-parto, e verificou que a incontinência urinária foi um dos problemas de saúde encontrados no pós-parto. Neste estudo piloto encontramos uma prevalência de incontinência urinária de 30% nos primeiros seis meses após o parto, resultado que se mostrou maior quando comparado com os estudos realizados na Dinamarca por Hvidman et al.(2003) com (23,4%), e na Itália, por Pregazzi et al.(2002) com (20,3%).

Os resultados deste estudo confirmam os obtidos na pesquisa realizada na Itália entre 1999-2000 por Pregazzi et al.(2002a) que também constataram que a prevalência de IU em multíparas (26,58%) foi maior do que em primíparas (17,58%). Por outro lado, em contradição com outros estudos, este mostrou que o surgimento da IU no pós-parto relaciona-se com o índice de massa corporal (IMC), e que o surgimento da morbidade independe do tipo de parto, do uso de ocitocina, do uso ou local da anestesia, do tempo referido de trabalho de parto e do peso do recém-nascido (Farrel, Allen, Baskett (2001); Pregazzi et al (2002a); Pregazzi et al (2002b); Hvidman et al (2003).

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Ainda que sem significância estatística, a episiotomia realizada em 30 mulheres (73%) nos permite inferir que este procedimento parece não a ter protegido contra o surgimento de IU no pós-parto, resultado também encontrado no estudo realizado na França, em 2000, por Fritel et al.(2007). Verificamos que a falta de orientação para o preparo do períneo durante a gestação, foi apontada pela mulher como uma das causas desencadeantes de IU no pós-parto.

Em relação ao tipo de incontinência urinária, verificamos que a mais frequente é a de esforço, encontrada em 53% das mulheres, de acordo com estes resultados estão também o de Albrescht (2006), realizado em 2005, na cidade de Ribeirão Preto, com 55% de representatividade, e de Pregazzi et al.(2002b), realizado em 2000, na Itália com 13%. A maioria das mulheres (87%) conseguiu identificar a perda de urina por sentí-la escoar.

Quanto à severidade, verificamos que a incontinência moderada foi identificada na maioria das mulheres (60%) que autorreferiu ser incontinente, resultado encontrado, também, no estudo de Moura (2005), realizado em Portugal com 44% de mulheres com incontinência moderada. Verificamos ainda, que embora as mulheres tenham passado por consultas de seguimento ginecológico nos primeiros seis meses de pós-parto, apenas 3 (13%) comunicaram o surgimento desta intercorrência, porém relataram que não receberam nenhum tipo de tratamento.

CONCLUSÃO

Neste estudo encontramos prevalência de 30% (15 casos) de incontinência urinária autorreferida pela mulher no pós-parto. Verificamos que o surgimento desta intercorrência independe do tipo de parto, e que o único fator que apresentou diferença estatisticamente significante foi o IMC. Quanto às características dos sintomas e da severidade da perda urinária no pós-parto, houve predominância de incontinência de esforço e de incontinência moderada. Os achados deste estudo piloto apontam para a relevância de identificação da prevalência de incontinência urinária em mulheres no pós-parto, dado à carência de estudos sobre o tema, no país. Tais achados contribuem para o planejamento de atenção de enfermagem obstétrica à mulher que vivencia o período reprodutivo, e com a elaboração de estratégias para incentivar a mulher a abordar esta morbidade com o profissional de saúde.

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REFERÊNCIAS

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AGRADECIMENTOS

A CAPES e à FAPESP, por concederem bolsa de estudos para a realização da pesquisa.

Referências

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