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Substâncias Psicotrópicas

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Academic year: 2021

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Silas Varella Fraiz Junior

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Substâncias Psicotrópicas

Generalidades

Substâncias psicotrópicas, ou agentes psicotrópicos, também conhecidos como psicofármacos, são substâncias que atuam no sistema nervoso central (SNC) e que são usadas no tratamento de distúrbios psíquicos. Tendo largo emprego na medicina clínica, a farmacoterapia dos transtornos mentais é uma das áreas de mais rápida evolução.

A farmacoterapia, enquanto tratamento medicamentoso destes transtornos, pode ser definida como a tentativa de modificar ou corrigir comportamentos, pensamentos ou humores patológicos por meios químicos. Como ainda não se determinou de modo inequívoco a etiologia, ou seja, a origem ou a causa dos diversos distúrbios mentais, os agentes psicotrópicos não são curativos, apenas aliviam os sintomas através de mecanismos ainda não completamente elucidados. O comportamento normal ou anormal do ser humano, que está regulado por parâmetros, tais como o afeto, a percepção e a cognição, é profundamente afetado por mudanças físicas que ocorrem no SNC, que podem ser provocadas pela utilização destas substâncias, seja de forma lícita, durante o tratamento de distúrbios mentais, ou de forma ilícita, quando estas substâncias são usadas como o que popularmente se chama de “droga” (termo também empregado para definir substância biologicamente ativa, capaz de alterar determinada função física ou fisiológica no corpo humano).

Com exceção dos sais de lítio e estrôncio, como os respectivos carbonatos, por exemplo, que são substâncias inorgânicas, a grande maioria das substâncias psicotrópicas são compostos orgânicos, que apresentam uma grande diversidade em sua estrutura molecular, tanto em relação às suas cadeias carbônicas, como também em seus grupamentos funcionais, e, por conseguinte, em suas funções orgânicas. Por isso mesmo, dentre outras razões, uma classificação adequada destas substâncias baseia-se em sua ação farmacológica (ação sobre o organismo vivo de um modo geral) e em sua ação terapêutica (ação específica indicada para o tratamento de determinada enfermidade). Neste sentido, as substâncias psicotrópicas podem ser convenientemente classificadas em:

A) ANSIOLÍTICOS B) ANTIDEPRESSIVOS C) ANTIPSICÓTICOS D) ALUCINÓGENOS    

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Ansiolíticos

Os agentes ansiolíticos, que antigamente eram conhecidos como tranqüilizantes menores, são substâncias empregadas, principalmente, no tratamento da ansiedade, como também em determinadas neuroses e tensões. As principais formas de ansiedade são: fobias (por exemplo: agorafobia, que se caracteriza pelo medo de sair de casa para espaços amplos e abertos; fobia social, de desempenho e de falar em público), ataques de pânico, pensamentos obsessivos, ímpetos compulsivos para executar atos específicos ou ansiedade generalizada (intensa e persistente).

Muitas são as substâncias empregadas como ansiolíticos, mas aquelas consideradas mais eficazes no tratamento da ansiedade são os compostos benzodiazepínicos. As benzodiazepinas, como são comumente chamadas, foram introduzidas na clínica médica a partir de 1964 e o clordiazepóxido foi o primeiro membro desta classe. De lá para cá, foram desenvolvidas várias substâncias deste mesmo grupo (Figura 1). N N+ NH O -Cl CH3 N N Cl C H3 O N N Br H N O N H N O O2N Cl N H N Cl O Cl OH N N Cl N N C H3 clordiazepóxido (Librium R ) diazepam ( Valium

R ) lorazepam (Lorax R)

bromazepam ( Lexotan R )

clonazepam (Rivotril R ) alprazolam ( Frontal R )

 

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Relacionando a estrutura química à atividade biológica, observa-se que todos apresentam uma estrutura molecular básica, que apresenta um anel benzênico fundido a um anel heterocíclico (diazepínico), podendo ter as seguintes características estruturais, para apresentar uma maior atividade ansiolítica: 9 6 8 7 N H 1 2 5 N4 3  

Figura 2: Anel benzodiazepínico

(a) grupo metila ligado ao átomo de nitrogênio na posição 1;

(b) grupo “retirador de elétrons” (efeito eletrônico causado por átomo ou grupo de átomos ligado à cadeia carbônica, que provoca diminuição da densidade eletrônica em determinada região da estrutura molecular) na posição 7 (ex.: -Cl, -Br, -NO2 )

(c) grupo fenila (ou grupo fenila com um substituinte eletronegativo, como o –Cl na posição orto) na posição 5 .

 

Antidepressivos

A depressão - tida como uma das manifestações clínicas mais comuns nos transtornos mentais – caracteriza-se por alteração severa do humor, com lentificação mental e motora, desânimo, desinteresse, inquietação emocional, sentimentos de culpa, apreensão, que são, em geral, recorrentes e que podem conduzir a idéias suicidas.

Encontra-se um grande número de compostos estruturalmente diversos, que já foram ou ainda são utilizados para conduzir à melhora dos transtornos depressivos, conduzindo pacientes mentalmente deprimidos a um estado mental melhorado. Destacam-se, entre estes, empregando-se uma classificação que considera tanto a estrutura química (primeiro, segundo e terceiro grupo), como o seu

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mecanismo de ação (quarto e quinto grupo) – assunto que será abordado mais adiante –, os seguintes grupos de substâncias:

(a) sais de lítio;

(b) anfetamina e derivados, agindo principalmente como estimulantes do SNC; (c) compostos tricíclicos;

(d) inibidores da enzima monoamino-oxidase (MAO), comumente identificados como IMAOs;

(e) inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT), identificados como ISRSs.

 

Atualmente, entretanto, este último grupo reúne os antidepressivos mais comumente empregados. Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina tornaram-se a classe dominante de antidepressivos por sua facilidade de uso, versatilidade e segurança, utilizados tanto na clínica psiquiátrica como na prática clínica em geral. Abaixo, são apresentados alguns exemplos de antidepressivos destes diversos grupos (Figura 3).

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Li2CO3 Carbonato de Lítio (grupo a) N N CH3 CH3 N CH3 CH3 imipramina (Tofranil R) Amitriptilina (Tryptanol R) (grupo c) NH NH2 NH2 fenelzina (Nardil R ) tranilcipromina (Parnate R ) O NH CH3 Cl Cl N H CH3 sertralina (Zoloft R ) fluoxetina (Prozac R ) (grupo d) (grupo e) CH3 NH2 CH3 NH CH3

anfetamina (grupo b) metanfetamina

 

Figura 3: Antidepressivos diversos 

 

Antipsicóticos

As substâncias psicotrópicas enquadradas nesta classe, anteriormente conhecidas como tranqüilizantes

maiores, são empregadas como principal tratamento para alguns dos pacientes mais perturbados,

estando em condições mais graves do que as observadas anteriormente, e que são acompanhados em psiquiatria: tratamento de episódios esquizofrênicos agudos, prevenção da recorrência de sintomas psicóticos em pacientes esquizofrênicos (psicoses agudas), bem como outras condições psiquiátricas como mania e transtornos psicóticos. São sintomas característicos nestes casos: alucinações, delírios, falta de cooperação, embotamento afetivo, apatia e retraimento social, dentre outros. Entretanto, os agentes antipsicóticos não curam a esquizofrenia, apenas controlam as manifestações psicóticas, acelerando a remissão dos sintomas. Não são curativos, sendo sua ação primariamente paliativa.

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Semelhantemente ao observado em relação aos antidepressivos, os antipsicóticos comumente empregados não apresentam um padrão estrutural determinado, mostrando significativas diferenças em suas estruturas químicas. O primeiro antipsicótico empregado com relativo sucesso foi a clorpromazina, na década de 50, do século XX. Desde então, muitos outros agentes com ação antipsicótica foram empregados na clínica psiquiátrica –com destaque para alguns –, que podem ser classificados de acordo com sua estrutura química, como se segue:

a) derivados fenotiazínicos, onde se inclui a clorpromazina; b) derivados tioxantênicos; c) butirofenonas ; d) derivados dibenzodiazepínicos; e) derivados benzioxazólicos. Algumas substâncias de cada uma destas classes são apresentadas abaixo (Figura 4).                     

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S N Cl N CH3 CH3 S N CF3 N N CH3 clorpromazina (Amplictil R ) trifluoperazina (Stelazine R )

a)derivados fenotiazínicos S Cl N CH3 CH3 clorprotixeno (Taractan R ) b)derivado tioxantênico F O N Cl OH haloperidol (Haldol R ) c) uma butirofenona N N H N N CH3 Cl clozapina (Leponex R ) d) um dibenzodiazepínico N N N N O F O CH3 risperidona (Risperdal R ) e)derivado benzisoxazólico  

Figura 4: Alguns antipsicóticos mais comumente empregados

As substâncias antipsicóticas produzem uma larga faixa de efeitos colaterais, que geram reações adversas muito incômodas, desconfortáveis ou mesmo perigosas. Por essa razão, o conhecimento detalhado destes efeitos deve ser considerado quando se seleciona determinada substância com fins terapêuticos.

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Alucinógenos

Alucinógenos são substâncias psicotrópicas que causam sensibilidade perceptiva aumentada, ilusões nítidas, fantasias e alucinações visuais. Estas alterações perceptivas associam-se ocasionalmente a uma franca reação de pânico, designada popularmente como “bad trip” (viagem ruim, em inglês). Os alucinógenos mais comuns, obtidos de fontes naturais, são: a mescalina, que é obtido do Peiote, uma planta cactácea (cactus) nativa no México (América Central); o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), que é preparado a partir de uma das substâncias (o ácido lisérgico) encontrado no Ergot, fungo que se desenvolve no esporão do centeio; a psilocibina e a psilocina, encontrados em cogumelos (fungos superiores) do gênero Psylocibe, dentre outros, largamente distribuídos na América do Sul e Central e o DMT (N,N-dimetil-triptamina), que se encontra em espécies de plantas de vários gêneros e é componente importante da mistura denominada ayahuasca, o chá sagrado de religiões como o Santo Daime e de rituais indígenas brasileiros. Estão enquadradas nesta classe, também, substâncias sintéticas, que são derivadas da anfetamina (vide Figura 3), como a 2,5-dimetoxi-4-metil-anfetamina (DOM / STP) e a 3,4-metilenodioxi-metanfetamina (MDMA), popularmente conhecida como “Ecstasy” (Figura 5).

Os agentes alucinogênicos são de escassa aplicação terapêutica e apenas alguns apresentam interesse prático, pois produzem psicoses, normalmente intensas. É o caso do LSD, da mescalina e da psilocibina, que podem ser usados, até certo ponto, na medicina, para produzir psicoses-modelo na investigação da relação entre a mente, o cérebro e os mecanismos bioquímicos, com o objetivo de elucidar a origem e a causa de doenças mentais, auxiliando na psicoterapia.

Entretanto, a autoadministração dessas drogas é altamente perigosa, pois reações graves são observadas: pânico agudo, alucinações recorrentes (“flashbacks”, em inglês), estados depressivos e ansiedade crônica, podendo, até, conduzir à morte acidental ou ao suicídio. Tendo amplo consumo ilegal, constitui grave problema em vários países, porque o uso ilícito está aumentando. Organismos governamentais e não-governamentais, nacionais e supranacionais, que atuam na área da saúde e da segurança pública, estão envidando esforços no sentido de promover campanhas em massa para restringir esta tendência.

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N H N CH3 H O N CH3 CH3 N H OH N C H3 CH3 NH2 O O O CH3 CH3 CH3 NH2 O CH3 C H3 O CH3 dietilamida do ácido lisérgico (LSD) psilocina mescalina N O O CH3 CH3 H N H O N+ C H3 CH3 P O O H O- H psilocibina 3,4-metilenodioxi-metanfetamina (MDMA / Ecstasy) 2,5-dimetoxi-4-metil-anfetamina (DOM / STP) N H N C H3 CH3 N,N-dimetil-triptamina (DMT)  

Figura 5: Alucinógenos de origem natural e sintética mais conhecidos

Observa-se, quanto à estrutura química, que estão presentes substâncias contendo dois núcleos básicos, a saber :

a) o anel indólico, presente no LSD, na psilocibina, na psilocina e no DMT;

b) o anel benzênico (fenilalquilamínico ), presente na mescalina e nas anfetaminas sintéticas ( DOM / STP e MDMA / “Ecstasy”).

    4 7 5 6 3 2 N H 1 R 1 6 2 5 3 4 R

anel indólico anel benzênico

R= -CH2-CH2-N(CH3)2 ou cicloalquila (LSD) R= -CH2-CH2-NH2 ou -CH2-CH2(CH3)-NH(CH3) (MDMA)   Figura 6

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Modos de Ação

Tudo o que fazemos é controlado por sinais nervosos que percorrem rapidamente o nosso cérebro e as várias partes de nosso sistema nervoso. O cérebro e a medula espinhal compõem o sistema nervoso central (SNC). Outras partes do sistema nervoso correspondem ao sistema nervoso periférico (SNP) e estão distribuídas pelo organismo. O cérebro recebe, processa e age por informação originada no SNC ou trazida até ele pelo SNP. Ele controla ambas as nossas ações voluntárias (como andar, comer, falar) e involuntárias, executadas por vários órgãos e sistemas do nosso corpo (como, por exemplo, o controle do batimento cardíaco, a ação muscular automática dos vasos sanguíneos do sistema circulatório e as secreções endócrinas das diversas glândulas).

São conhecidas como neurônios as principais células nervosas que compõem os tecidos do sistema nervoso, exercendo funções de transmissão e processamento dos sinais que levam mensagens para todo o conjunto do sistema. Estas células nervosas variam muito, tanto na forma como no tamanho, e apresentam-se com três partes essenciais: o axônio, o corpo celular e os dendritos. O cérebro funciona através de seus bilhões de neurônios envolvidos em milhões de redes neuronais. Os neurônios se assemelham a pequenos circuitos que passam impulsos elétricos, como mensagens, ao longo de uma rede com muitos outros neurônios, resultando em uma ação específica. Este estímulo elétrico está fundamentado em mudanças nas concentrações de íons positivos, os cátions sódio (Na+) e potássio (K+),

tanto dentro como fora do neurônio.

É importante observar que nestas redes os neurônios não estão fisicamente conectados, não havendo um caminho contínuo que vai do SNC a determinado órgão e vice-versa. O impulso elétrico é transmitido em menos de um milionésimo de segundo pelo axônio de um neurônio, através de uma pequena fenda, denominada sinapse, para um dendrito de um neurônio adjacente. A sinapse consiste em uma zona de contato entre dois neurônios, sendo capaz não só de transmitir mensagens entre duas células, mas também de bloqueá-las ou modificá-las. Quando um impulso elétrico que vem do cérebro alcança a terminação de um axônio, substâncias químicas específicas, conhecidas como neurotransmissores, são liberadas e, atravessando a sinapse, ligam-se aos dendritos do neurônio adjacente, desencadeando o fluxo de íons Na+ e K+, o que permite que o impulso elétrico atinja o

próximo neurônio.

Alguns dos neurotransmissores mais conhecidos são apresentados abaixo (Figura 7).

 

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  NH2 OH O H O H NH OH O H O H CH3 NH2 O H O H N H N NH2 C H3 O N + O CH3 CH3 CH3 N H2 OH O N H2 COOH

Norepinefrina(Noradrenalina)

Epinefrina (Adrenalina)

Dopamina

Serotonina

Histamina

Acetilcolina

Ácido g-aminobutírico(GABA)

Glicina

N H NH2 O H  

Figura 7: Alguns neurotransmissores mais importantes

 

Diferentes neurônios empregam neurotransmissores distintos. Cada um tem uma função específica e liga-se a um sítio receptor definido existente na célula nervosa receptora. Este sítio receptor (ou apenas receptor) é um componente celular, podendo ser, provavelmente, uma porção limitada de uma macromolécula, em geral de natureza protéica, que interage com as substâncias químicas endógenas, ou seja, produzidas no próprio organismo, como são os neurotransmissores. Alguns estimulam o neurônio receptor a enviar o impulso elétrico enquanto outros interrompem este estímulo.

As substâncias psicotrópicas (psicofármacos), bem como outras drogas que atuam no SNC, o fazem por interação com os neurotransmissores ou com os locais em que eles atuam diretamente, os seus

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receptores. Estas substâncias são de dois tipos principais: agonistas e antagonistas. As agonistas agem “mimetizando” ou aumentando a ação de determinado neurotransmissor. As antagonistas agem bloqueando o receptor, por exemplo, prevenindo ou impedindo a ação do neurotransmissor sobre ele. Dessa forma, podem afetar a biossíntese, o armazenamento e a recaptação destas aminas biógenas, os neurotransmissores.

Estas interações ocorrem, principalmente, porque os psicofármacos, de uma maneira geral, apresentam uma semelhança estrutural significativa com os neurotransmissores, podendo provocar um estímulo ou inibição da ação destes, por competição pelo mesmo receptor. São substâncias químicas que contém, em geral, cadeias carbônicas acíclicas e/ou cíclicas, apresentando anel aromático e/ou heterocíclico (não raro, fundidos ou condensados), contendo grupamentos funcionais como a hidroxila alcoólica e/ou fenólica, de funções orgânicas como éter, amida, por exemplo, mas, principalmente, sustentando átomo de nitrogênio de natureza básica, que caracteriza a função amina, comumente encontrada nos neurotransmissores. Cabe ressaltar que diversas substâncias psicotrópicas também se apresentam com um arranjo espacial de seus átomos dispostos na estrutura molecular de maneira análoga àquela encontrada nas substâncias químicas endógenas, os neurotransmissores.

Os antidepressivos, por exemplo, aumentam a concentração de neurotransmissores, como a norepinefrina e a serotonina, no cérebro. Os mais bem conhecidos são as anfetaminas e seus derivados. Observa-se uma semelhança estrutural entre a anfetamina e a metanfetamina com a norepinefrina (noradrenalina), que quando formada em excesso, provoca entusiasmo e excitação, e, provavelmente até hiperatividade. Em grandes excessos ela pode conduzir a estados maníacos e sua deficiência pode causar depressão. Esta semelhança ajuda na compreensão da atividade estimulante (antidepressiva) das anfetaminas.

Diferentes neurônios empregam neurotransmissores distintos. Cada um tem uma função específica e liga-se a um sítio receptor definido existente na célula nervosa receptora. Este sítio receptor (ou apenas receptor) é um componente celular, podendo ser, provavelmente, uma porção limitada de uma macromolécula, em geral de natureza protéica, que interage com as substâncias químicas endógenas, ou seja, produzidas no próprio organismo, como são os neurotransmissores. Alguns estimulam o neurônio receptor a enviar o impulso elétrico enquanto outros interrompem este estímulo.

As substâncias psicotrópicas (psicofármacos), bem como outras drogas que atuam no SNC, o fazem por interação com os neurotransmissores ou com os locais em que eles atuam diretamente, os seus receptores. Estas substâncias são de dois tipos principais: agonistas e antagonistas. As agonistas agem “mimetizando” ou aumentando a ação de determinado neurotransmissor. As antagonistas agem bloqueando o receptor, por exemplo, prevenindo ou impedindo a ação do neurotransmissor sobre ele. Dessa forma, podem afetar a biossíntese, o armazenamento e a recaptação destas aminas biógenas, os

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Estas interações ocorrem, principalmente, porque os psicofármacos, de uma maneira geral, apresentam uma semelhança estrutural significativa com os neurotransmissores, podendo provocar um estímulo ou inibição da ação destes, por competição pelo mesmo receptor. São substâncias químicas que contém, em geral, cadeias carbônicas acíclicas e/ou cíclicas, apresentando anel aromático e/ou heterocíclico (não raro, fundidos ou condensados), contendo grupamentos funcionais como a hidroxila alcoólica e/ou fenólica, de funções orgânicas como éter, amida, por exemplo, mas, principalmente, sustentando átomo de nitrogênio de natureza básica, que caracteriza a função amina, comumente encontrada nos neurotransmissores. Cabe ressaltar que diversas substâncias psicotrópicas também se apresentam com um arranjo espacial de seus átomos dispostos na estrutura molecular de maneira análoga àquela encontrada nas substâncias químicas endógenas, os neurotransmissores.

Os antidepressivos, por exemplo, aumentam a concentração de neurotransmissores, como a norepinefrina e a serotonina, no cérebro. Os mais bem conhecidos são as anfetaminas e seus derivados. Observa-se uma semelhança estrutural entre a anfetamina e a metanfetamina com a norepinefrina (noradrenalina), que quando formada em excesso, provoca entusiasmo e excitação, e, provavelmente até hiperatividade. Em grandes excessos ela pode conduzir a estados maníacos e sua deficiência pode causar depressão. Esta semelhança ajuda na compreensão da atividade estimulante (antidepressiva) das anfetaminas. NH2 OH O H O H

Norepinefrina(Noradrenalina)

NH2 CH3

Anfetamina

  Figura 8  

Já os antipsicóticos, acredita-se, atuam bloqueando especificamente receptores da dopamina, que é um neurotransmissor com efeito estimulante no cérebro e está envolvida com a ação e a integração do movimento muscular, bem como no controle da memória e da emoção. É o caso das fenotiazinas, que atuam como antagonistas da dopamina. A esquizofrenia tem sido relacionada com excesso de dopamina e os psicofármacos que bloqueiam seu sítio receptor são empregados para o tratamento desta condição.

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Os agentes alucinogênicos (alucinógenos) atuam por competição com a serotonina pelos mesmos receptores. Há semelhanças estruturais entre os alucinógenos mais potentes e a serotonina (análogos estruturais totais ou parciais).

  N H NH2 O H Serotonina N H N CH3 H N CH3 CH3 N H OH N C H3 CH3 LSD Psilocina   Figura 9

A serotonina é um neurotransmissor que parece desempenhar um papel importante nos transtornos mentais. Está envolvida no sono, na percepção sensorial, na regulação da temperatura corporal, podendo afetar também o humor. O seu exato papel, entretanto, não está totalmente esclarecido. Para finalizar, é necessário alertar para uma questão importante em relação ao uso de substâncias psicotrópicas: o fenômeno da dependência. Entende-se por dependência a necessidade psicológica ou física de continuar consumindo determinada substância química. Ela pode ser psicológica, física ou ambas. A dependência psicológica, também conhecida como habituação, é caracterizada por uma avidez contínua ou intermitente pela substância. A dependência física (fisiológica) é caracterizada pela tolerância, ou seja, a necessidade de consumir a substância para evitar a ocorrência de uma crise de abstinência. A abstinência é um transtorno composto por vários sintomas que se manifestam quando o indivíduo deixa ou está impedido de usar a substância a qual está habituado. A abstinência de anfetaminas, por exemplo, causa instabilidade emocional e de humor, fadiga, distúrbios do sono, grande agitação e avidez pela droga.

 

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Conclusão

Pelo exposto acima, pode-se observar a extrema importância das substâncias psicotrópicas, por conta do papel que desempenham no tratamento auxiliar da doença mental. A esta enfermidade muito grave, soma-se, ainda, a marginalização das pessoas que a possuem. A discriminação torna-se maior quando acomete pessoas de baixo poder aquisitivo que, sem possibilidade de receber tratamento adequado, são conduzidas ao total abandono.

As substâncias psicotrópicas só devem ser administradas sob prescrição e acompanhamento médico, prevenindo-se, assim, o uso inadequado e o abuso que podem trazer graves danos para a saúde.

 

 

Referências

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