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O ERRO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA POSSIBILITA A APRENDIZAGEM? RESUMO

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Academic year: 2021

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O ERRO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA POSSIBILITA A APRENDIZAGEM?

Orlando Mendes Fogaça Júnior

Universidade Estadual de Londrina

RESUMO

No processo histórico da educação, o erro na aprendizagem, sempre foi colocado como algo a ser evitado.

Na educação sistematizada, quando o aluno erra, uma punição é estabelecida, pode ser uma nota baixa, ou a repetição do exercício da forma considerada correta. Em suma, deseja-se que os alunos sempre apresentem a resposta correta.

Esta concepção do erro certamente ocorre em todas as disciplinas escolares. Neste trabalho, relato uma experiência em aulas de Educação Física com crianças de seis a doze anos, apresentando o erro como constitutivo do processo de aprendizagem e não como falha apresentada pelo aluno.

Tenho observado que quando os alunos executam uma ação motora e conseguem êxito nesta execução e lhes é solicitado explicar o que fizeram para terem conseguido o êxito, geralmente os alunos apresentam dificuldade em refazer mentalmente todo o processo da ação executada por eles. Porém, quando não atingem o êxito, o relato do processo de sua ação é mais detalhado, eles conseguem relatar o processo e ainda criar hipóteses para uma nova execução. Isto acontece com maior freqüência quando não lhes é solicitada uma antecipação da ação.

Neste relato fica evidenciado a ocorrência da tomada de consciência em atos e a tomada de consciência propriamente dita.

A tomada de consciência em atos apresenta a seguinte situação: a criança sabe que é capaz de fazer a ação, porém, apresenta dificuldade em relatar como fez. Ela executa, porém, não consegue refazer mentalmente sua ação, apresentando respostas evasivas.

Piaget (1974), apresenta que a tomada de consciência é um sistema dinâmico em permanente atividade.

Em minhas aulas observei que quando este sistema é instigado e confrontado com o não-êxito, temos um momento primordial de aprendizagem.

Quando os alunos são questionados e conseguem relatar sua ação, apresenta-nos a sua conceituação, conseguem apontar os possíveis motivos que os levaram ao êxito ou o não-êxito da ação. Assim, com a conceituação a ação interiorizada, ou tomada de consciência em atos, irá caminhar em direção às operações formais, sobre as quais poderão se realizar novas operações.

O processo de tomada de consciência é um caminho para as operações formais. Isso nos mostra que a conceituação modifica a ação e oferece a possibilidade de previsão e antecipação, invertendo a situação inicial, onde os sucessos da ação precediam a conceituação. Agora a conceituação fornece os dados para a futura ação. A partir de então, os planos não são mais realizados por tentativas ao acaso, as ações passam agora a ser revistas, ajustadas e apresentam uma programação. Trata-se de reaprender no plano do

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pensamento o que já aprendera no plano da ação, portanto uma reestruturação.

Quanto mais a tomada de consciência for completa maior será a compreensão no plano da representação interna (pensamento) das coisas que acontecem no plano da ação.

Palavras-chave:

1 – Erro; 2 - Tomada de Consciência; 3 – Educação Física.

Endereço do autor:

Av. Maringá, 1990

orlando@inbrapenet.com.br

Linha de estudo: Significado, objetivos, conhecimentos e conteúdos da Educação Física na Educação Básica.

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O ERRO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA POSSIBILITA A APRENDIZAGEM?

Orlando Mendes Fogaça Júnior Universidade Estadual de Londrina

Temos visto no processo histórico da educação, que o erro na aprendizagem, sempre foi colocado como algo que deve ser evitado. A busca pelo êxito é o objetivo único da educação sistematizada. O processo de avaliação em sua grande maioria nos mostra que avaliamos o aluno pelo que ele não sabe e ao invés de avaliarmos o que ele realmente sabe.

O erro, na educação sistematizada, quando ocorre, por parte do aluno, uma punição é estabelecida, que pode ser uma nota mais baixa, ou o aluno deve repetir o exercício, da forma considerada correta, várias vezes até fazer da forma “correta”. Em suma, deseja-se que os alunos sempre apresentem o resultado esperado, ou seja, o sucesso (o acerto). Estou me referindo neste trabalho sobre o erro em uma perspectiva escolar, porém esta visão do erro também acontece fora da escola, na família, em situações profissionais e em outras circunstâncias.

Somos sabedores que o objetivo da educação sistematizada é o aprendizado. Neste processo de busca do aprendizado o acerto é o resultado da aprendizagem escolar, já o erro nos mostra o contrário. Mas quando nos referimos em aprendizagem escolar devemos sempre lembrar que aprender é um processo e nesse processo ignorar o erro é pensar que podemos acertar sempre, e isso não ocorre.

Esta maneira de se conceber o erro certamente ocorre em todas as disciplinas escolares. Neste presente trabalho estarei fazendo um relato de experiência em aulas de Educação Física com crianças de seis a doze anos, nas quais identificamos que, tendo o erro como constitutivo do processo de aprendizagem e não como uma falha apresentada pelo aluno, o aproveitamento destas situações para o aprendizado deve-se principalmente pelo fato de uma necessidade de fundamentação teórica do docente para uma compreensão maior destas situações, proporcionando assim através do conflito cognitivo um caminhar destes alunos em direção à tomada de consciência de suas ações.

Somos sabedores que o movimento humano é o objeto de estudo da Educação Física escolar, e para uma melhor compreensão do que representa esta disciplina na escola, cabe aqui um pequeno resumo histórico.

A Educação Física teve seu início como prática pedagógica no final do século XVIII início do século XIX. Sofreu forte influência da instituição militar e da medicina. Dos militares, veio a prática, exercícios militares que foram modificados para o ambiente escolar pela medicina; dos médicos tinha uma perspectiva de promover saúde e educação para a saúde (hábitos higiênicos).

Após este início, o corpo sendo alvo das ciências biológicas, passa a ser comparado a uma estrutura mecânica. A ciência possui os elementos que permite uma maior eficiência do funcionamento desta máquina. Assim nasce a

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Educação Física, para colaborar na formação de corpos saudáveis e uma adequação ao processo produtivo do país.

Outro movimento que se iniciaria mais tarde é o do rendimento atlético-esportivo, onde prevaleceria o ganho de forma física, buscando o aumento da força muscular, resistência corporal e outras capacidades físicas. Neste período o treinamento desportivo e a ginástica eram o caminho para promoverem a aptidão física. Esta preocupação com o rendimento certamente estava sendo colocada a serviço da política vigente, pois os resultados atléticos que um país apresentava em campeonatos internacionais e olimpíadas, principalmente, permitiria conferir um significado político a esta nação. Esta forma de condução política da Educação Física possui repercussão até os dias de hoje. Essa nova forma de abordar esta disciplina - busca de resultados - fez com que a pedagogia da Educação Física incorporasse o esporte em suas aulas na intenção de preparação das novas gerações para representar o país em competições internacionais. Surge então uma nova faceta da Educação Física escolar: preparar a grande massa de alunos que era entendida como a base de uma pirâmide. Os alunos que se destacassem iriam para um centro de treinamento regional, o meio da pirâmide, e os que mais se destacassem eram a elite do país, o pico da pirâmide. Como podemos ver historicamente o Brasil não se tornou uma nação com tradição olímpica, mostrando o quanto estava falho esta perspectiva forçosamente adotada pela Educação Física escolar.

A partir dos anos 70, passa-se a construir mais claramente um campo acadêmico para esta disciplina, e esta estruturação começa pelas universidades, onde a Educação Física passa a incorporar as práticas cientificas na busca da qualificação do corpo docente. Nesta busca de qualificação o campo da Educação Física passa a incorporar as discussões pedagógicas influenciadas pelas ciências humanas. Nos anos 80, ainda influenciada pelo caráter reprodutor da escola, iniciou-se um novo debate sobre a prática desta disciplina, uma destas propostas foi a desenvolvimentista, onde sua idéia central era oferecer os fundamentos da Educação Física para as primeiras séries de modo a garantir um desenvolvimento normal dos alunos atendendo suas necessidades de movimento. Outra vertente que ocorreu é a psicomotricidade, que ainda se encontra presente, a crítica a esta ação docente refere-se à ausência de uma especificidade, nesta corrente o movimento é mero instrumento e a Educação Física, enquanto disciplina, tem o seu papel subordinado às demais, passando assim a ser colaboradora destas.

Este caminhar nos mostra como o desenvolvimento da disciplina ocorreu nos últimos anos, até culminar com o que chamamos de uma pedagogia progressista, onde entende-se que o movimento humano não é mais algo eminentemente mecânico ou biológico, ou somente em sua dimensão psicológica, mas sim como fenômeno histórico cultural.

Na abordagem progressista, que entende a Educação Física escolar como área de conhecimento e não como área de atividade, é que estarei apresentado meu relato de experiência sobre o erro durante as aulas.

Durante as aulas de Educação Física, tenho observado que quando os alunos executam uma ação motora e conseguem êxito nesta execução e lhes é solicitado explicar o que eles fizeram para terem conseguido o êxito, geralmente as respostas são evasivas, os alunos apresentam uma dificuldade em refazer mentalmente todo o processo da ação executada por eles. Porém quando não atingem o êxito, o relato do processo de sua ação é mais rico em

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detalhes, eles conseguem em sua maioria relatar o processo

pormenorizadamente e ainda criar hipóteses para uma nova execução. Estes dois exemplos relatados acontecem com maior freqüência quando não lhes é pedido uma antecipação antes da ação.

Neste simples relato fica evidenciado a ocorrência da tomada de consciência em atos e a tomada de consciência propriamente dita.

A tomada de consciência em atos nos apresenta a seguinte situação: a criança sabe que é capaz de fazer a ação, porém, apresenta dificuldade em relatar como fez, ela dá conta da execução, porém, na maioria das vezes não consegue refazer mentalmente sua ação, por isso apresenta respostas evasivas. Exemplificando, quando pedimos aos alunos que acertem um determinado alvo com uma bola a uma determinada distância, eles pegam a bola lançam e acertam o alvo. Quando questionados o que precisaram fazer para acertar o alvo, não conseguem, em sua maioria, descrever a ação executada por eles ou descrevem-na parcialmente.

Quando executam a mesma ação e não obtém êxito, erram o alvo, o processo de tomada de consciência apresenta-se com mais facilidade. Não estou aqui dizendo que o sucesso não produz aprendizagem, estou mostrando um aspecto do processo de aprendizagem que geralmente é relegado e na maioria das vezes é alvo de punições, principalmente na disciplina Educação Física, onde o rendimento ainda é visto como objeto a ser conseguido durante as aulas.

Voltando à tomada de consciência, quando os alunos não obtêm o êxito em suas ações, o processo de descrição de sua ação apresenta-se mais completo, conseguem em sua maioria apresentar os possíveis motivos que os levaram ao erro, e geralmente apresentam uma hipótese para que ao repetir a sua ação consigam atingir o objetivo almejado.

Quando é pedido aos alunos que relatem o que acham necessário executar para obterem sucesso em sua ação (antecipação), e não acontece o erro, neste caso, o processo de descrição é mais rico, porém não possui na maioria das descrições, os detalhes que são relatados quando acontece o erro. Como podemos observar neste relato, o erro quando é reconhecido como um momento importante no processo de aprendizagem pode contribuir para a tomada de consciência de suas ações.

Piaget (1974), nos mostra que a tomada de consciência é um sistema dinâmico em permanente atividade.

Quando este sistema é instigado e confrontado com o não-êxito, em minhas experiências em aulas tem se mostrado um momento primordial de aprendizagem.

Piaget (1974), apresenta que a tomada de consciência é a passagem do inconsciente à consciência. Então quando se diz que a tomada de consciência não acrescenta nada, que não modifica a ação do sujeito, que é um simples esclarecimento, nos mostra que este pensamento baseia-se no senso comum ficando assim, superado.

Esta passagem do inconsciente ao consciente, deve-se ao fato de que a tomada de consciência é posterior aos sucessos da ação. A tomada de consciência surge, quase sempre, depois deste saber inicial que é a ação ou tomada de consciência em atos, como foi dito anteriormente.

Quando os alunos são questionados e conseguem relatar toda a sua ação, eles estão nos mostrando a sua conceituação. Conseguem apontar os

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possíveis motivos que os levaram ao êxito ou o não êxito de sua ação, desta forma, com a conceituação a ação interiorizada, este saber inicial ou tomada de consciência em atos, irá caminhar em direção às operações formais, sobre as quais poderão se realizar novas operações. Este trabalho de tomada de consciência procura evitar que o aluno fique limitado às reações elementares, pois ele estando neste patamar de conhecimento, mais ele deformará conceitualmente os dados de sua ação em vez de compreendê-los sem modificações.

Neste processo de tomada de consciência os alunos estarão fazendo um caminho para as operações formais, e podem a partir delas realizar novas operações. Isso nos mostra que a conceituação modifica a ação e oferece a possibilidade de previsão e antecipação de sua ação, invertendo a situação inicial, onde os sucessos da ação precediam a conceituação, agora a conceituação fornece os dados para a futura ação. A partir de então, os planos não são mais provisórios ou realizados por tentativas ao acaso, as ações passam agora a ser revistas, ajustadas e apresentam uma programação, ou seja, a tomada de consciência inverteu a ordem anterior, onde os atos eram fornecedores de uma conceituação tardia, agora a conceituação fornece os dados para a ação. Trata-se de reaprender no plano do pensamento o que já aprendera no plano da ação, portanto uma reestruturação.

Quanto mais a tomada de consciência for completa maior será a compreensão no plano da representação interna (pensamento) das coisas que acontecem no plano da ação.

Meu intuito neste trabalho, foi o de apresentar um momento no processo de aprendizagem -“o erro” -, como algo construtivo, de grande importância que não devemos negligenciar, mas sim aproveita-lo como um componente construtivo do processo de aprendizagem na educação sistematizada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECKER, F. Da Ação à Operação: O Caminho da Aprendizagem em J.

Piaget e P. Freire. DP&A editora – Porto Alegre, 1997.

CASTRO, R. S. Conflito Cognitivo e Aprendizagem Operatória. Tese de Doutorado – UNICAMP – SP, 1998.

MACEDO, L. Quatro Cores, Senha e Dominó: Oficinas de Jogos em uma

Perspectiva Construtivista e Psicopedagógica. Casa do

Psicólogo, Livraria e Editora Ltada – São Paulo , SP, 1997.

MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: As abordagens do Processo. EPU – São

Paulo, SP, 1986.

PALMA, Â. P. T. V. O desenvolvimento do conhecimento na educação

infantil: o discurso do professor de Educação Física. Dissertação de mestrado – Unimep – Piracicaba, SP, 1997.

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PIAGET, J. O Desenvolvimento do Pensamento: a Equilibração das

Estruturas Cognitivas. Publicações Dom Quixote - Lisboa,

Portugal, 1977.

__________. A tomada de consciência. Melhoramentos, 1974. __________. Fazer e compreender. Melhoramentos, 1974.

Referências

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