UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica
2008 – UFU 30 anos
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O QUE INDICAM AS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS DE MEIO AMBIENTE E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE
EDUCANDOS DO ENSINO FUNDAMENTAL – 6° ANO.
Sandro Prado Santos1
Escola Estadual Maria da Conceição Barbosa de Souza (EEMCBS). Praça Vasco Gifoni, 0. Bairro: Saraiva – Uberlândia-MG
sandrobio@yahoo.com.br
Suzan Macedo2
EEMCBS
suzanbiologia@hotmail.com
RESUMO: O presente trabalho apresenta as percepções ambientais e as representações sociais de
Meio Ambiente (MA), delineadas por 45 alunos do 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede estadual de Uberlândia-MG. Os dados foram obtidos mediante aplicação de um questionário junto aos alunos que participam de um projeto de Educação Ambiental (EA) desenvolvido na instituição. Foi realizado este estudo porque acreditamos que o acesso à representação social de MA é tido como um campo valioso quando se refere à temática ambiental na escola. É fundamental conhecer como os educandos percebem e interpretam as questões ambientais como subsídio a implantação de intervenções pedagógicas. Sabemos que a EA para ser um instrumento formativo, necessita de uma relação inter e multidisciplinar, objetivando a formação de uma consciência crítica das relações, causas e efeitos e que promove uma mudança de atitudes, dirigidas para a cidadania e para uma sociedade sustentável. A análise e interpretação dos dados indicam que os respondentes apresentam uma representação “naturalista”, “ecológica” e preservacionista de MA, o que caracteriza carência de elementos históricos, políticos, éticos no processo de formação desses atores sociais. Entretanto estão conscientes da problemática ambiental e reconhecem como co-responsáveis pela preservação do MA. A escola, a internet e os jornais são os meios pelos quais os alunos obtêm com maior freqüência informações acerca da temática ambiental. Outro aspecto relevante é o fato de que, a maioria dos educandos, não agride o MA, convive com pessoas que mostram ter cuidado em sua preservação e já recebeu e/ou já participou de algum tipo de atividade de EA. Com relação aos principais problemas do entorno da escola, foram apontados: problemas relacionados com o lixo; a poluição atmosférica e da água; gasto excessivo de energia e problemas de ordem sanitária. Entretanto, alguns educandos não emitiram nenhum problema no entorno escolar.
Palavras-Chave: Educação Ambiental; Representação Social; Ensino Fundamental.
1 Licenciado e Bacharael em Ciências Biológicas, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia e
professor de Ciências da Educação Básica Escola Estadual Maria da Conceição B. de Souza (EEMCBS).
2 Licenciada em Ciências Biológicas, pela Universidade do Triângulo (UNITRI), Especialista em Gestão Ambiental e
1. INTRODUÇÃO
A degradação ambiental tem alcançado níveis jamais vistos, vivemos hoje uma crise ambiental sem precedentes. Faz-se necessária, portanto, uma (re) orientação da atuação humana em sua relação com o meio ambiente. Em tal contexto, a Educação Ambiental (EA) surge não só como necessidade, mas também como esperança (GRÜN, 1996). A escolha da temática justifica-se em virtude da crescente situação de dejustifica-sequilíbrio ambiental.
A Educação Ambiental3 é um processo participativo, onde o educando assume o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais e busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, através do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, através de uma conduta ética, condizentes ao exercício da cidadania.
Tal processo objetiva a compreensão crítica e global do meio ambiente que favorece a construção de novos valores e o desenvolvimento de ações conscientes na conservação e uso dos recursos naturais.
A EA representa um instrumento formativo de natureza multidisciplinar constituída de fatores, sociais, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, éticos, espirituais etc, que se inter-relacionam. Para isso a Educação Ambiental deve ser abordada de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino, assegurando a presença da dimensão ambiental de forma interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares.
Para a comunidade internacional a EA deve estar presente em todos os espaços que educam o cidadão e a cidadão. Assim, a escola representa um dos locais privilegiados para a sua realização.
Para que possamos realizar a EA é necessário, antes de qualquer coisa, conhecermos as concepções de meio ambiente das pessoas envolvidas na atividade (REIGOTA, 2006).
Sendo assim, a definição de meio ambiente, que compartilhamos, diz:
Um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação natural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade (REIGOTA, 2006, p. 21).
A concepção de meio ambiente que se tenha torna-se o ponto de partida de toda prática envolvida no processo pedagógico. O conhecimento das concepções/representações de meio ambiente dos alunos, garante ao professor prever situações de aprendizagem, garantindo ao processo de ensino de EA uma melhor qualidade (SANTOS, 2007).
Portanto, o estudo de representações de meio ambiente é tido como um campo valioso quando se refere à temática ambiental na escola. É muito importante conhecer como a comunidade escolar percebe e interpreta as questões ambientais como subsídio a implantação de intervenções pedagógicas.
Partimos do pressuposto de que as questões ambientais são extremamente importantes, por isso, devem fazer parte do cotidiano e do processo de formação dos educandos, não apenas para preservar a natureza, mas sim para que todos se conscientizem da importância do meio ambiente saudável, considerando que todo cidadão tem o direito de viver e trabalhar em condições ambientalmente dignas.
3 Conscientização, conhecimento, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de
À luz desse raciocínio, a escola deve educar seus alunos, procurando sensibilizá-los para as questões ambientais, e mobilizá-los para a modificação de atitudes nocivas e a apropriação de atitudes benéficas ao equilíbrio ambiental.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) a principal função de trabalho com o tema Meio Ambiente (MA) é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global (BRASIL, 1997).
A EA, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais (REIGOTA, 2006).
A EA é uma das mais importantes exigências educacionais contemporâneas. Nela deve estar inserida a busca constante da consolidação da democracia, a solução de problemas ambientais e uma melhor qualidade de vida para todos (REIGOTA, 2006).
Objetivando investigar as percepções ambientais e as representações sociais de MA adotamos um suporte teórico-metodológico, que abordará as questões ambientais de forma ampla, buscando uma reflexão da temática sob o ponto de vista ecológico, político, econômico, social e cultural. A amostra foi constituída por 45 estudantes4 das turmas de 6º ano/ensino fundamental de uma escola estadual de Uberlândia-MG.
A coleta e análise dos dados seguiram uma orientação metodológica de natureza quantitativo-qualitativa de pesquisa, tendo como base a aplicação de questionário semi-estruturado constituído de 12 questões, abertas e fechadas. Esse instrumento de pesquisa abordou questões envolvendo a problemática ambiental; concepções de MA; envolvimento com atividades de EA; meios pelos quais o aluno obtém conhecimento e informação sobre a temática ambiental; percepção dos estudantes em relação ao ambiente no entorno da escola, em que destacamos os resultados a seguir.
Para a apresentação dos dados, optamos por fazer uma mesclagem dos mesmos, ou seja, dos dados quantitativos e qualitativos, recurso comumente utilizado para triangulação dos dados5. Essa técnica fornece uma visão mais completa do fenômeno estudado.
Parte dos dados construídos, a partir da aplicação do questionário, foi apresentada na forma de gráficos, alguns seguidos de discursos assinalados pelos educandos.
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudantes questionados apresentaram uma representação social de MA eminentemente naturalista e ecológica, caracterizada pela ausência de elementos históricos, políticos, econômicos e éticos, conforme ilustrado nos depoimentos abaixo:
O meio ambiente é um conjunto de animais e florestas (S1)
O meio ambiente é onde nós moramos, a natureza, a vegetação, solo etc
(S2)
O meio ambiente é a mata amazônica (S3)
O meio ambiente é as plantas, o ar, o mar, os rios e etc (S4).
4 Esses estudantes constituem uma parte dos participantes do projeto de EA que está sendo desenvolvido na escola. O
objetivo geral do projeto é promover a incorporação de ações de EA no cotidiano escolar enquanto proposta que visa o desenvolvimento sustentável da comunidade, sendo assim, queremos promover a conscientização, o conhecimento, o comportamento, a capacidade de avaliação e a participação dos alunos para as questões ambientais.
5 A triangulação tem sido entendida como um processo, em que múltiplos métodos ou perspectiva são utilizados para
Com base nessas descrições percebemos que o conhecimento dos alunos sobre MA está diretamente ligado à natureza, como intocável e externa ao homem, ou seja, uma concepção naturalista, para o qual MA, é sinônimo de natureza. “Os elementos citados com maior incidência são os abióticos (água, ar, solo) e os bióticos, denominados genericamente como seres vivos” (REIGOTA, 1998, p.74).
Essa representação mostra que os educandos possuem um conceito reducionista de MA. Portanto, Guimarães (2005), enfatiza que os educadores devem conscientizar os alunos na construção de uma concepção de MA holística, que consubstancie a integração entre o ser humano e ambiente, mostrando que o ser humano é natureza e não apenas parte dela.
Quando perguntados sobre a degradação ambiental, todos educandos revelaram-se conscientes, assinalando que as agressões ao MA são graves, porém 20% deles agridem o ambiente no seu cotidiano, 67% disseram não terem essa prática e 13% não assinalaram não saber se agridem o MA (Figura 1).
13%
67% 20%
Sim Não Não Sei
Figura 1: Os educandos no cotidiano agridem o MA
Através desses dados, podemos observar que os educandos possuem uma grande preocupação com a proteção ambiental, dentre as formas cuidadosas de se lidar com o MA, os alunos mencionaram medidas preventivas6, referindo contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação de um ecossistema, uma área geográfica ou espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção. Como apontado abaixo:
Não poluir as ruas e não cortar árvores (S3)
Não desmatar e nem queimar as árvores (S14)
Não destruir as matas e cuidar do MA (S11)
Não cortar árvores e nem matar os animais (S12)
Na Figura 2, podemos observar que 69% dos respondentes convivem com pessoas que preocupam com a questão ambiental, esses dados refletem que as pessoas estão mais conscientes da problemática ambiental.
6 Para a legislação brasileira “preservar” é um termo restritivo: implica não usar ou não permitir qualquer intervenção
69% 7%
24%
Sim Não Não Sei
Figura 2: As pessoas que convivem com o educando se preocupam com o MA
A maioria dos alunos, 69%, considerou a preocupação ambiental como uma questão da sociedade (Figura 3).
20% 0%
69% 11%
Sua Da Escola Da Sociedade Do Poder Público
Figura 3: A preocupação com o Meio Ambiente é uma questão:
O conceito de sociedade apresentado pelos alunos não é ingênuo, pois em seus depoimentos mencionaram pertencer a esta sociedade, ou seja, consideram fazer parte dela, sendo assim, percebemos que os educandos reconhecem como co-responsáveis pela preservação do MA Selecionamos alguns discursos que expõem essa representação:
De todos na verdade, mas principalmente a minha (S6)
Todos devem fazer a sua parte (S7)
Porque se agente não preocupar quem vai ser preocupar (S9)
A co-responsabilidade apresentada por alguns educandos representa um aspecto favorável para o desenvolvimento das atividades em EA.
Embora 62% dos alunos afirmarem terem participado em atividades de EA este percentual, é considerado preocupante, pois representam um nível baixo de participação (Figura 4).
62% 31%
7%
Sim Não Sem Resposta
Figura 4: Os educandos já se envolveram com algum tipo de atividade de EA
Com relação aos multimeios pelos quais os estudantes obtêm informações e conhecimentos sobre MA, a análise dos dados evidenciou que a escola, a internet e os jornais são os mais freqüentes veiculadores de questões ambientais (Figura 5).
12% 6% 15% 15% 10% 12% 14% 7% 9% 0%
TV Rádio Internet Escola Livros Revistas Jornais Amigos Família Outros
Figura 5: Os principais multimeios pelos quais os educandos obtêm informações/conhecimentos sobre o MA
Com relação aos principais problemas do entorno da escola, os educandos apontaram: o problema com o lixo; desperdício de água e energia; a poluição do ar; problemas com esgoto. Um dado interessante é que, 46% dos respondentes não manifestaram nenhum tipo de problema do entorno da escola, mostrando falta de vínculo e/ou desinteresse pelas questões ambientais do bairro.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As representações encontradas entre os estudantes são impregnadas de um conteúdo ecológico e preservacionista, entretanto destituído de pressupostos sócio-cultural, que são fundamentais para uma ação ambiental holística.
Entendemos que uma EA de ênfase biologizante reduz a complexidade do real e mascara os conteúdos e conflitos políticos que permeiam à questão ambiental, legitimando uma compreensão alienada e limitada do problema por parte dos educandos. Sendo assim, defendemos e acreditamos na construção de um processo educativo que promova uma atitude crítica, participativa, responsável, reflexiva e comprometida com a ampliação da cidadania.
O estudo das representações de MA nos possibilitou conhecer o universo de subjetividade com a qual lidamos diariamente, os dados aqui apresentados reforçam que a EA deve ser trabalha nas escolas de forma a instigar questionamentos sobre as nossas relações com a natureza, com a sociedade em que vivemos com o nosso presente e com o nosso eventual porvir. E esse conhecimento será o nosso ponto de partida para o entendimento, a proposição e a eficiência do trabalho pedagógico em EA.
Como resultado de nosso trabalho, localizamos as suas principais representações listadas a seguir:
Meio Ambiente é a floresta, os mares. As amazonas e muito mais. A natureza, o ambiente tipo a Amazônia.
Meio Ambiente é onde tem árvores, ar e animais. Meio Ambientes são florestas bem preservadas. O Meio Ambiente é onde vivem animais, plantas, etc.
Meio Ambiente é a natureza bem cuidada, é respeitar a natureza. São árvores e o verde das cidades.
São as pessoas que cuidam, as árvores e animais.
Um espaço especialmente da natureza, o conjunto de fauna e flora.
Os problemas ambientais da comunidade, do entorno da escola, foi pouco assinalado pelos alunos, o que mostra pouco vínculo afetivo com o espaço ao redor da escola. Os dados revelaram que a escola, a internet e os jornais são os meios pelos quais os alunos obtêm com maior freqüência, informações acerca da temática ambiental.
4. REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental, 1997, “Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde”. Brasília, 128p.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental., 1998, “Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclo: apresentação dos temas transversais”. Brasília: MEC/SEF, 436p.
GRÜN, M., 1996, “Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária”. 10.ed. Campinas, SP: Papirus.
GUIMARÃES, Mauro, 2005, “A dimensão ambiental na educação”. 7 ed. Campinas: Papirus. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais., 2005, “Ciências: Proposta Curricular. Conteúdo Básico Comum (CBC) de Ciências do Ensino Fundamental (5° a 8° Série)”. Carmen Maria de Caro; Ruth Schmitz de Castro; Selma Ambrosina de Moura Braga et al. Belo Horizonte.
PENTEADO, H. D., 1994, “Meio Ambiente e formação de professores”. São Paulo: Cortez, 120p.
REIGOTA, M., 1998, “ Meio Ambiente e Representação Social”. 3.ed. São Paulo: Cortez. ____________., 2002, “A floresta e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna”. 2.ed. São Paulo: Cortez.
____________., 2006, “O que é Educação Ambiental”. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense.
SANTOS, S. P., 2007, “A Teoria das Representações Sociais como Referencial
Teórico-Metodológico nas pesquisas em Educação Ambiental”. In.: ANAIS... III CONGRESSO
CIENTÍFICO MEIO AMBIENTE REFLEXÃO- AÇÃO MUDANÇA. Uberlândia: Faculdade Católica. CD-ROM.
SORRENTINO, M., 1995, “Universidade, formação ambiental e educação popular”. In.: Temas em
