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AGRICULTURA FAMILIAR NO RIO GRANDE DO SUL - BRASIL: UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS MUNICÍPIOS

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AGRICULTURA FAMILIAR NO RIO GRANDE DO SUL - BRASIL: UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS MUNICÍPIOS

Resumo

O crescimento da agricultura familiar no Rio Grande do Sul (RS), estado da Região Sul do Brasil, vem acompanhado da sua importância no cenário nacional, tanto em termos de desenvolvimento econômico como social. Assim, o objetivo deste artigo é verificar a distribuição espacial dos estabelecimentos de agricultura familiar, nos 496 municípios gaúchos, em comparação à agricultura não familiar, bem como a respectiva participação no valor bruto de produção total de cada município, identificando quais as regiões economicamente mais eficientes no que diz respeito ao modo de produção familiar. A discussão busca associar a maior participação da agricultura familiar com a maior participação do valor da produção agropecuária nos municípios. Os estabelecimentos agropecuários familiares estudados estão de acordo com os critérios da Lei da Agricultura Familiar e os dados utilizados foram obtidos do Censo Agropecuário 2006. Inicialmente, foi realizada uma análise dos dados para apresentar um panorama geral da agricultura familiar a níveis de Brasil, Estado e municípios. Em seguida, foram feitos dois mapas temáticos, abordando a quantidade de estabelecimentos e o valor de produção da agricultura familiar em relação ao total municipal. Foi elaborado também um mapa para representar um indicador de eficácia, criado a partir do valor da produção familiar em relação aos estabelecimentos de agricultura familiar. Além disso, foi realizada a Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE) tendo como variável o indicador de eficácia, utilizando técnicas de geoprocessamento. Com isso, verificou-se o nível de correlação entre as duas variáveis e a existência de clusters. Os resultados indicaram que há autocorrelação espacial positiva e negativa entre os municípios, com formação de agrupamentos significativos. Concluiu-se que a participação da agricultura familiar no valor da produção no Rio Grande do Sul se destaca em relação ao Brasil, porém perceberam-se configurações bem distintas nas regiões do Estado, sendo verificadas sensíveis diferenças de concentração espacial nos municípios gaúchos, considerando o comportamento produtivo dos estabelecimentos familiares.

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1. Introdução

A agricultura familiar brasileira vem passando por transformações sociais, políticas e culturais, sendo considerada uma importante categoria, tanto para a economia como para a sociedade. Devido a sua relevância, essa população assim identificada tem sido bastante discutida em diversos meios, por estudiosos e formuladores de políticas, segundo Perondi e Schneider (2012).

Durante séculos, a base da economia brasileira foi a agricultura, sendo historicamente priorizada a monocultura para exportação com concentração de terras. Desta forma, a agricultura dos pequenos produtores, definida atualmente como agricultura familiar, sempre esteve à margem dos benefícios e incentivos ofertados pelo governo, dificultando assim o seu desenvolvimento.

Entretanto, frente a sua crescente participação na agricultura e na economia brasileira, foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf em meados da década de 90, que significou um importante avanço para a inclusão dessa população no acesso ao crédito rural, até então destinado primordialmente aos latifundiários.

Devido a crescente utilização desse programa percebeu-se a necessidade de se enquadrar os agricultores que poderiam ser beneficiados, assim, dez anos depois da sua implantação, foi criada a Lei da Agricultura Familiar (Lei n. 11.326, de 24 de julho de 2006) que a define oficialmente como uma categoria profissional e estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais (PICOLOTTO, 2014).

Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, foram contabilizados 5.175.636 estabelecimentos agropecuários no Brasil, sendo que 4.366.267 são caracterizados como de agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos, concentrados em apenas 24,3% da área total.

Já os estabelecimentos não familiares representavam 15,6% e ocupavam 75,7% da área agropecuária, indicando que ainda há uma alta concentração fundiária no país. Apesar de cultivar uma área menor, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do país, sendo a principal fornecedora de alimentos para o mercado interno, conforme Portal Brasil (2015).

A produtividade dos fatores de produção na agropecuária, segundo Moreira e Migon (2000), depende de diversas variáveis que são desigualmente distribuídas

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entre as regiões, implicando em uma heterogeneidade na produção agropecuária. Desta forma, o valor bruto da produção (VBP) em um determinado município ou estabelecimento agropecuário é influenciado pela tecnologia empregada; capacidade de uso da terra; tipo de produto produzido; organização dos agricultores; clima; acesso a financiamentos, dentre outros.

A existência de desigualdades regionais no Estado do Rio Grande do Sul se deve a formação econômica e social de cada região. A metade Sul do estado apresenta desempenho econômico inferior à média estadual, no que se refere ao PIB, renda per capita e outros indicadores (RATHMANN et al., 2008).

Diversos estudos corroboram com a desigualdade no Estado, entre eles Mattei (2005), que ao avaliar os resultados do Pronaf, observou uma distribuição concentradora dos recursos em certas regiões e municípios, indicando que o Pronaf privilegia os estabelecimentos familiares mais produtivos e integrados ao mercado em detrimento daqueles menos eficientes. No caso do Rio Grande do Sul, os municípios localizados na metade norte são os mais desenvolvidos economicamente.

Desta forma, o presente artigo pretende analisar a distribuição espacial dos estabelecimentos agropecuários de agricultura familiar e dos seus valores de produção, nos 496 municípios gaúchos para o ano de 2006. Além disso, também se busca analisar a relação do valor produzido pelos estabelecimentos familiares com a quantidade proporcional dessas propriedades em cada município. Para isso, foram produzidos mapas que representam esses fenômenos no espaço e realizadas análises exploratórias espaciais para os municípios, utilizando-se técnicas de geoprocessamento.

A discussão foi baseada na associação da ocorrência do fenômeno de maior participação da Agricultura Familiar à maior participação do valor da produção agropecuária nos respectivos municípios. Na agricultura, as culturas agropecuárias são naturalmente concentradas de acordo com o espaço geográfico, segundo Almeida e Haddad (2004), já que dependem dos recursos naturais, o que provoca um fenômeno de agrupamento produtivo, além do que a proximidade permite que os produtores observem os seus vizinhos.

Sendo assim, após esta introdução o presente artigo descreve os procedimentos metodológicos empregados nesse estudo; em seguida é realizado um panorama dos dados selecionados; na quarta seção são apresentados os

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resultados e a discussão dos dados trabalhados e, por fim, constam as considerações finais com as conclusões do estudo realizado.

2. Metodologia

Este artigo analisa alguns dados sobre a agricultura familiar no estado do Rio Grande do Sul, localizado no Sul do Brasil, provenientes do Censo Agropecuário 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Para ser classificado como Agricultura Familiar, o estabelecimento precisava atender simultaneamente às condições da Lei nº 11.326, detalhadas na publicação Agricultura familiar – Primeiros Resultados (2009) e os estabelecimentos não enquadrados nesses parâmetros foram designados como “não familiares”, os quais incluem também pequenos e médios agricultores que não se enquadraram na agricultura familiar, seja pelo limite de área ou limite de renda.

A população desse estudo é composta por 496 unidades de análise, referentes aos municípios gaúchos, onde foram selecionados somente os estabelecimentos agropecuários de agricultura familiar que registraram algum valor de produção em 2006.

Os dados utilizados para este estudo foram obtidos do banco de tabelas estatísticas SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática1, onde foram originadas as tabelas com as variáveis de interesse: quantidade de estabelecimentos agropecuários por tipo de agricultura (familiar e não familiar) e o respectivo valor bruto da produção agropecuária, por município gaúcho.

Os dados foram tratados no Microsoft Excel 2010 e importados para o software ARCGIS 10.5.1, juntamente com o shapefile do estado do Rio Grande do Sul obtido no site do IBGE, para a elaboração dos mapas. Inicialmente, foi realizada uma análise dos dados para apresentar um panorama geral da agricultura familiar a nível Brasil, Estado e municípios, com o auxílio de estatísticas de medidas resumo.

Uma análise espacial das variáveis selecionadas buscou identificar visualmente a existência de regiões com maior concentração e verificar as diferenças na participação da agricultura familiar em cada município do RS, bem como o percentual do valor bruto da produção desses estabelecimentos, dentre o

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total da produção agropecuária. Para isso, foram produzidos mapas que representam esses fenômenos espaciais.

Os primeiros dois cartogramas foram elaborados com as informações dos percentuais da quantidade de estabelecimentos agropecuários de agricultura familiar e do valor bruto da produção em cada município gaúcho, respectivamente. Em seguida, analisou-se um indicador elaborado, no qual se obteve a razão entre o valor da produção da agricultura familiar municipal e a sua respectiva participação no total de estabelecimentos, ou seja, o resultado da razão do segundo cartograma pelo primeiro, originando assim o terceiro cartograma a ser analisado, para identificar se existe alguma concentração de municípios com valores parecidos.

Ainda, foi utilizado o método de Análise Exploratória de Dados Espaciais – AEDE, a fim de se verificar a autocorrelação espacial das variáveis de interesse. Esse método consegue visualizar e descrever distribuições espaciais e padrões de associação espacial (clusters), verificar a existência de diferentes comportamentos espaciais e identificar outliers (PEROBELLI et al., 2007). Assim, será averiguado o nível de autocorrelação espacial do indicador de eficácia criado, se há existência de clusters e onde estão localizados.

3. Agricultura familiar no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul apresenta uma agricultura dinâmica e situa-se entre os principais estados do Brasil em termos de produtividade agropecuária. O valor da sua produção em 2006 foi de R$ 16,6 bilhões, segundo dados do último Censo Agropecuário, representando 11,5% do total nacional (R$ 143,8 bi). O Estado sozinho é responsável por 8,7% da agricultura familiar nacional, contabilizando 378.353 estabelecimentos, o que corresponde a 85,7% do total estadual (441.472 propriedades agropecuárias).

Entretanto, segundo os dados, nem todos os estabelecimentos cadastrados produziram no ano, enquanto no Brasil 3,9 milhões (89,4%) das propriedades de agricultura familiar registraram algum valor de produção, somando R$ 54,5 bilhões no total, o Rio Grande do Sul registrou 95,6% correspondendo a 361.617 estabelecimentos agropecuários familiares produtivos em 2006, totalizando R$ 8,8 bilhões em produção.

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da produção dos estabelecimentos agropecuários e o valor médio da produção anual era de R$ 13,9 mil, já no Rio Grande do Sul a sua representatividade era de quase metade do total (48,6%) e as propriedades de agricultores familiares tiveram um valor médio de R$ 24,4 mil no ano, quase duas vezes maior que a média nacional.

4.Resultados e discussão

Nesta seção serão apresentados os resultados das análises exploratórias realizadas. Por meio das descrições das estatísticas dos dados, dos cartogramas elaborados para melhor compreensão visual e do mapa de autocorrelação espacial para identificação de zonas ou locais de destaque significativos.

4.1Quantidade de estabelecimentos de agricultura familiar

Inicialmente, foi analisada a participação da agricultura familiar, que teve alguma produção no ano, por município em comparação à quantidade de estabelecimentos não familiares, de modo geral no Estado o modo familiar é predominante, conforme supracitado, atingindo o percentual de 85,7%. Sobre essa variável, calcularam-se algumas medidas resumo, e obteve-se como média o valor de 729,1 propriedades por município, a mediana ficou em 572,5 propriedades, a quantidade máxima foi de 8.503 estabelecimentos encontrados em Canguçu e a mínima foi zero, no município de Esteio, o único a não ter nenhum estabelecimento familiar e somente dois não familiares.

A partir do Cartograma apresentado na Figura 1, podemos observar que a participação da agricultura familiar que apresentou produção no ano de 2006 é bastante alta, com 92,7% dos municípios apresentando mais de 60% de participação e apenas 18 municípios com predominância de agricultura não familiar. Além disso, percebe-se que o maior percentual (acima de 80%) está concentrado nas mesorregiões Centro-oriental, Nordeste e Norte.

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Figura 1 – Mapa do percentual de estabelecimentos de Agricultura Familiar em relação ao total de estabelecimentos agropecuários, por município do Rio Grande do Sul - 2006

Fonte: Censo agropecuário 2006 - IBGE

4.2 Valor bruto da produção dos estabelecimentos de agricultura familiar

O Cartograma apresentado na Figura 2 mostra a participação da agricultura familiar no valor bruto da produção municipal no ano de 2006, indicando que 65,7% dos municípios possuem maior participação desta categoria em relação aos estabelecimentos não familiares.

Os municípios com mais de 80% de valor da produção oriundo de agricultura familiar compõem 36% do total estadual. Pelo mapa da Figura 2, percebe-se que estão localizados primordialmente nas mesmas áreas onde a maior participação de estabelecimentos foi observada, quais sejam: Centro-oriental e Norte.

O valor de produção médio de todos os municípios foi de R$17.826,91 e a mediana foi de R$13.177,00. O valor máximo destaca-se no município de Venâncio Aires, com R$151.066,00, além deste mais outros três municípios apresentaram produção maior que R$100 mil. Esteio foi o município de valor mínimo zero, e

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Xangri-lá não teve resultado disponível por ter apenas duas propriedades registradas como familiares e, segundo o Censo Agropecuário 2006, os dados das Unidades Territoriais com menos de três informantes são desidentificados.

Figura 2 – Mapa do percentual do valor bruto da produção de Agricultura Familiar em relação ao total, por município do Rio Grande do Sul - 2006

Fonte: Censo agropecuário 2006 – IBGE

A maior média do valor por propriedades foi de R$ 166,29 mil no município de São Francisco de Paula, pois conta com apenas 681 estabelecimentos e seu valor de produção foi de R$113,2 milhões. Dos 496 municípios, 184 municípios possuem valor médio de produção maior que a média estadual, cerca de 38%.

4.3 Indicador de Eficácia da Agricultura Familiar

O cálculo desse indicador consiste na divisão do percentual do valor de produção da agricultura familiar de cada município pelo seu respectivo percentual de

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agricultura familiar. A ideia aqui é identificar se há muitas diferenças espaciais, onde baixa participação de agricultura familiar corresponde à baixa participação de valor produzido e vice e versa, ou se não é relevante.

O indicador resultando em um (1) significa igualdade de participação nas duas variáveis, quando for maior que um (1) significa que o valor produzido pela agricultura familiar contribui mais do que a quantidade de estabelecimentos, e quanto mais próximo de zero, indica que o percentual de estabelecimentos é muito maior que a sua participação no valor total municipal, ou seja, a contribuição da agricultura familiar é muito pouca, considerando a sua quantidade.

Assim, de acordo com o mapa da Figura 3, podemos identificar as mesmas regiões das observações anteriores em destaque, com os valores do indicador de eficácia mais próximos de 1. Demonstrando que naquelas áreas os estabelecimentos familiares possuem alta produção, em relação aos não familiares.

Figura 3 – Mapa do indicador de eficácia da agricultura familiar, por município do Rio Grande do Sul em 2006

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Entre o total de municípios, 10,5% possuem igual ou maior participação no valor da produção em relação à participação da agricultura familiar, ou seja, estes municípios são os mais eficazes, pois com menos quantidade percentual de estabelecimentos familiares, conseguem gerar mais valor do que aqueles não familiares. Eles estão dentro da última categoria do indicador, representados no mapa pela cor azul escura.

Também, verifica-se que 72% dos municípios apresentam razão maior que 0,5, o que indica que esses possuem maior valor da produção advindo da agricultura familiar, apresentando um bom desempenho. As duas últimas categorias, com indicador a partir de 0,75 são formadas por 291 municípios, isto é, mais da metade do estado, estando localizados nas mesmas mesorregiões destacadas nos mapas anteriores, Centro-oriental e Nordeste.

O município de Itaqui é o que apresenta o menor índice: 0,02, ou seja, ele possui uma participação da agricultura familiar no valor de produção municipal de apenas 0,76% enquanto os estabelecimentos familiares representam 43% do total.

4.4 Análise Exploratória dos Dados Espaciais

A visualização dos cartogramas é importante para a verificação da distribuição espacial das variáveis estudadas, entretanto, apenas a conferência visual das figuras pode não ser confiável para identificar associações espaciais, segundo Perobelli et al. (2007). Desta forma, se faz necessária uma verificação por outros métodos mais robustos, que indiquem a significância dos agrupamentos dos dados, para se confirmar os resultados encontrados nos mapas produzidos.

4.4.1 Autocorrelação espacial global

Para se averiguar a presença de autocorrelação espacial foi calculado o I de Moran, que mostra a associação espacial global, onde o valor positivo para essa estatística aponta autocorrelação espacial positiva, ou seja, os municípios que apresentam elevado valor do indicador de eficácia são vizinhos de outros municípios que também apresentam a mesma característica e, de outro modo, o mesmo ocorre para os valores baixos do indicador.

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Moran Global foi de 0,398951, com a estatística de p-valor 0,000000, indicando que há dependência espacial entre os municípios.

Entretanto, a estatística I de Moran é uma medida global que informa como está a autocorrelação no espaço analisado, não mostrando onde estão localizados os municípios correlacionados espacialmente. Para resolver essa questão, deve ser realizado o cálculo de autocorrelação local.

4.4.2 Autocorrelação espacial local

O cálculo dessa estatística, conhecida como I de Moran Local, permite categorizar os municípios em quatro tipos de associação linear espacial, que são representados por: Alto-Alto (AA), Baixo-Baixo (BB), Alto-Baixo (AB) e Baixo-Alto (BA). Os municípios que apresentaram associações do tipo AA e BB possuem autocorrelação espacial positiva, ou seja, formam agrupamentos de valores similares ou clusters. Por outro lado, as associações BA e AB apresentam autocorrelação espacial negativa, por possuírem valores diferentes dos demais próximos e podem ser definidos como outliers, ou seja, quando um município apresenta baixo (ou alto) valor da variável analisada, enquanto seus vizinhos obtiveram altos (ou baixos) valores (ALMEIDA, PEROBELLI e FERREIRA, 2008).

Como forma de verificar a existência de clusters, conforme apontou o mapa da Figura 3, que considera o indicador de eficácia como variável, foi realizada a análise espacial local. Confirmou-se que muitos municípios estavam correlacionados com os seus vizinhos, formando agrupamentos ou clusters, conforme Figura 4.

Neste caso, os municípios que possuem grandes quantidades de estabelecimentos familiares com alto valor de produção, isto é, aqueles que possuem valores altos do indicador de eficácia, estavam rodeados por municípios que também possuem o mesmo resultado, formando dois clusters do tipo Alto-Alto (AA), representados pela cor rosa: um na região Norte e o outro abrangendo partes das mesorregiões: Nordeste, Centro Oriental e Metropolitana.

Constatou-se também a presença de quatro clusters do tipo baixo-baixo (BB), identificados pela cor azul claro, bem dispersos entre as mesorregiões do Estado, sendo o maior deles localizado na metade Oeste, e os outros três no Nordeste Rio-Grandense, na região Metropolitana e um bem ao Sul.

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observações incomuns, identificam-se alguns municípios do tipo Alto-baixo (cor laranja), os quais possuem altos valores para o indicador de eficácia enquanto os seus vizinhos não, e de outra forma, os municípios do tipo Baixo-alto (cor azul escuro) possuem baixos valores para o indicador, mas estão rodeados de municípios com altos valores.

Ainda, cabe destacar que os municípios representados pela cor branca não apresentaram significância nos testes de autocorrelação espacial aplicados.

Figura 4 – Mapa de autocorrelação espacial local para o indicador de eficácia

Fonte: Censo agropecuário 2006 – IBGE

5. Considerações finais

A utilização dos dados do Censo Agropecuário 2006 para a discussão sobre a agricultura familiar gaúcha pode proporcionar maior conhecimento sobre esta categoria, no que se refere a sua distribuição espacial e produtiva no Estado. As análises dos dados, por meio de estatísticas e dos cartogramas gerados permitiram

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aferir que essa categoria compõe a grande maioria dos estabelecimentos agropecuários no Brasil, no Rio Grande do Sul e em praticamente todos os municípios gaúchos.

Além disso, a análise mostrou configurações bem distintas nas regiões do Estado, com destaque para parte do Nordeste, do Norte e do Centro-oriental, mesorregiões que apresentaram as maiores participações em todas as variáveis analisadas, enquanto a metade sul esteve sempre abaixo da média estadual nos resultados obtidos.

No que diz respeito ao indicador criado, o mapa apresentou duas áreas do estado com relação equivalente, uma aglomeração no Norte e outra composta por porções do Centro-oriental, do Nordeste e da Metropolitana, ou seja, nessas regiões quanto maior o valor de produção percentual, maior era a participação percentual da Agricultura Familiar.

A associação de municípios com os mesmos resultados poderia ser estudada considerando os tipos de produtos produzidos pela agricultura familiar, pois podem ser uma explicação para as desigualdades encontradas, fazendo com que alguns municípios e regiões se tornem mais economicamente desenvolvidas, no caso da produção de commodities, como a criação de bovinos ou a plantação de soja e milho, por exemplo.

Para o indicador de eficácia, a estimativa do I de Moran global evidenciou a existência de autocorrelação espacial positiva entre os municípios gaúchos, ou seja, os municípios com elevado (ou baixo) valor bruto da produção e elevado (ou baixo) número de estabelecimentos familiares são cercados por municípios com a mesma característica.

Para verificar os padrões locais de autocorrelação, estimou-se o I de Moran local e como resultado puderam-se observar diferentes níveis de associação entre os municípios. Dois clusters se caracterizaram pela presença de municípios com alto valor da produção associada à alta quantidade de estabelecimentos familiares. Destacando-se os municípios das regiões Norte, Nordeste, Metropolitana e Centro-oriental.

Diante dos resultados, podemos considerar que a investigação da agricultura familiar nos municípios do Rio Grande do Sul, no que diz respeito às variáveis selecionadas, mostrou um panorama bem diverso entre as regiões do Estado, o que implica um desafio para o poder público na tentativa de reduzir as desigualdades

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existentes e promover o desenvolvimento da agricultura familiar nas regiões mais necessitadas, as quais possuem bastantes estabelecimentos agropecuários familiares, porém com baixa participação na economia municipal.

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