Apresentação da Pesquisa
Tema: Dilemas e Dificuldades do Professor em Início de
Carreira
Autor: Ariovaldo Jacquier de Souza - Orientadora: Profª.Drª Laurizete Ferragut Passos
A pesquisa que pretendo desenvolver está inserida na área de formação de professores de matemática no ciclo II. Esta pesquisa está sendo realizada no âmbito do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC/SP e tem como foco professores de matemática no ciclo II em início de carreira.
Tratarei do ensino da matemática, enfocando os dilemas e as necessidades do professor em início de carreira e o papel das disciplinas pedagógicas. O interesse pelo estudo deste tema surgiu, em primeiro momento, a partir de minha experiência como professor de matemática e física do Ensino Fundamental e Médio, em instituições de ensino público e particular.
As questões básicas abordadas neste estudo referem-se, primeiro, à leitura e análise de textos escritos por autores nacionais e internacionais que estudam os dilemas e as dificuldades vivenciadas por professores em início de carreira e, segundo, às futuras análises de entrevistas realizadas com professores em início de carreira.
Desta forma, o objetivo principal desta pesquisa foi procurar responder às seguintes questões: (i) Quais os principais dilemas e dificuldades enfrentadas por professores em início de carreira do ciclo II (6º ao 9º ano), no cotidiano em sala de aula? (ii) Qual a relação que os professores entrevistados estabelecem entre sua formação na licenciatura e os dilemas e dificuldades enfrentadas em sala de aula?
Para minha coleta de dados, estou adotando uma abordagem metodológica qualitativa, de cunho descritivo interpretativo, e realizando entrevistas com professores em início de carreira. O método adequado para esta investigação foi escolhido de acordo com a realidade do problema.
Segundo Denzin (1978) citado por Ludke, a observação participante é “uma estratégia de campo que combina simultaneamente a análise documental, a entrevista de respondentes e informantes, a participação e a observação direta e a introspecção” (p.183).
Escolhi fazer uma observação participante porque a solução do problema depende da obtenção de informações e declarações de professores que vivem dificuldades e passam por dilemas dentro e fora da sala de aula no início de suas carreiras.
Para conseguir tais informações e declarações e também responder às questões que levantei ao iniciar minha pesquisa, elaborei perguntas que devem ser direcionadas aos professores em início de carreira e também pretendo acompanhar e observar o trabalho de um dos professores durante uma semana em sala de aula.
Bases Teóricas de Referência
O primeiro capítulo tem o objetivo de destacar a relevância do tema proposto e pretende-se expor pontos relacionados ao objeto de estudo desta pesquisa, ou seja, os dilemas e as dificuldades de professores de matemática em início de carreira. Desta forma, apresento inicialmente uma revisão das pesquisas que analisaram aspectos da vida profissional de professores em início de carreira. Serão destacados aspectos como dilemas, necessidades e desafios enfrentados por esses professores iniciantes, além de mostrar e explicar o ciclo pelo qual professores iniciantes passam quando são inseridos num processo de aprendizagem profissional.
O que os Autores que Pesquisaram Professores em Início de
Carreira Estão Dizendo
Estudos de autores nacionais e internacionais apontam que os professores em início de carreira enfrentam vários dilemas, necessidades e desafios.
Um autor internacional que tem desenvolvido estudos sobre esse tema é Huberman. Convém destacar, porém, que seu estudo é mais abrangente, o autor estuda a vida de professores. Apesar de suas investigações terem começado há algum tempo (Huberman, 1971, 1974), só mais tarde o autor orienta seus estudos para a carreira docente com a finalidade de responder algumas questões sobre a carreira de professores. Huberman (1992) explica que, inicialmente, pretendia apenas saciar uma curiosidade, e, posteriormente, apurar se os estudos “clássicos” se confirmavam ao estudar a vida de professores do ensino secundário.
Huberman (1992) explica que existem muitas maneiras de estruturar o ciclo de vida profissional de professores. No entanto, o autor decide-se por um aspecto mais clássico, que é o da “carreira”. O autor aponta que este aspecto é “mais focalizado, mais restrito que o estudo da ‘vida’ de uma série de indivíduos” (pg. 38). O autor ainda se fixa na docência em nível do ensino secundário.
Huberman (1992) aponta que o professor em início de carreira passa por um ciclo ao ser inserido em um processo de aprendizagem profissional. Para explicar isso, o autor faz uma delimitação e análise das fases da carreira docente. A primeira fase desse ciclo refere-se à entrada na carreira, que se caracteriza pelo período de sobrevivência e descoberta. Passada a fase de sobrevivência e descoberta, o professor ainda passa pela fase de estabilização, fase de diversificação, fase do pôr-se em questão, fase da serenidade e distanciamento afetivo, fase do conservantismo e lamentações e fase de desinvestimento.
Um autor nacional que estuda este tema é Mariano. Em seus estudos sobre início da docência, Mariano (2006) explica as fases pelas quais o professor passa e que são citadas nos trabalhos de Huberman (1992). O autor aponta que é possível estabelecer algumas comparações entre o teatro e a passagem do estado de estudante para o estado de professor. Para ele, “é como se saíssemos da platéia e subíssemos ao palco”. (p.17). Mesmo que um professor tenha adquirido inúmeros conhecimentos e partilhado diversas situações, certamente não poderá apoiar-se apenas nesses conhecimentos e nessas situações para realizar seu trabalho de forma efetiva. Porém, o autor destaca que muitos não sabem disso.
Mariano (2006) aponta que o problema acontece porque, muitas vezes, o professor iniciante idealiza a situação que vai viver e não percebe que, assim como acontece com um artista, talvez seja necessário fazer uso de improvisos e estar preparado para lidar com alterações em seus planos. O autor esclarece que por mais que o professor se prepare e
estude o conteúdo a ser transmitido, precisa saber que às vezes vai se deparar com situações não partilhadas ou vivenciadas em seus anos de estudo.
Baseando-se nos estudos de Huberman (1992), o Mariano (2006) explica que é nesse momento que surge uma das principais dificuldades do início da docência: o professor iniciante acaba relacionando sua experiência anterior como estudante com suas expectativas sobre a profissão. A esse respeito Mariano (2006) afirma que:
“Sonhamos com a estréia! Vivemos uma grande expectativa e somos tomados por uma grande ansiedade antes de subirmos ao palco pela primeira vez. Achamos que vamos encontrar cada parte do cenário no lugar exato dos nossos sonhos...”. (p. 19)
No entanto, Mariano (2006) aponta que o professor iniciante acaba não encontrando o que idealizou. O autor explica que, às vezes, a realidade encontrada pouco corresponde ao que se pensava enquanto estudante da graduação: nem sempre o corpo docente está disposto a ajudar, a orientar, nem sempre os alunos estão dispostos a dar a atenção que se esperava, podem estar presentes apenas de corpo, “(...) pode acontecer de encontrarmos um diretor estressado, uns funcionários da limpeza reclamando da sujeira que deixamos (...)” (p. 20). O autor ainda explica que, muitas vezes, a indiferença acaba sendo a única reação perante os esforços do professor iniciante.
Mariano (2006) afirma que é muito doloroso para um professor em início de carreira quando percebe todas as dificuldades que são colocadas em seu dia-a-dia na sala de aula e na escola. O autor aponta que, além de perceber que a realidade da escola é diferente daquela idealizada durante os anos de estudo, o professor precisa lidar com as outras dificuldades que surgem ao longo de seu percurso.
O fato é que, assim como aponta Mariano (2006), essas dificuldades, essa sensação de estar sempre sendo testado em suas tarefas pode levar muitos professores iniciantes a desistirem ou não de sua profissão. O autor explica que alguns desistem de fato, outros descobrem o prazer que a profissão lhes traz, descobrem “o reconhecimento e os aplausos advindos da platéia e de alguns colegas de profissão”. (p. 21)
Ainda em relação ao estudo acima, Nono & Mizukami (2006), em seus trabalhos sobre formação de professores e início na carreira docente, explicam que o entusiasmo pode tornar fácil o início de carreira para alguns professores, mas, para outros, as dificuldades, muitas vezes, acabam por se sobressaltar de tal forma que tornam o período
Lima (2006) afirma que, segundo Veenman, existem outros problemas vividos pelo professor em início de carreira:
“(...) manutenção da disciplina e estabelecimento de regras de conduta dos alunos; motivação e trato com as características individuais dos alunos, relacionamento com os pais, alunos e comunidade; preocupação com a própria capacidade e competência; docência vista como um trabalho cansativo, física e mental”.(p. 11)
Em seus estudos, Fontana (2000) também descreve as dificuldades acima citadas. Segundo ela, o professor em início de carreira chega cheio “de ‘boas intenções’ e ‘olhar crítico’ e quase nenhum saber fazer”. (p. 108). A autora explica que esse entusiasmo é substituído por uma grande tristeza, pois as dificuldades acabam se destacando.
Além dos autores citados acima, serão descritos e analisados trabalhos de outros autores que estudam os professores em início de carreira, tais como: Serrazina & Oliveira e Gama.
A Formação do Professor na Licenciatura
Neste capítulo pretendo apresentar o papel da disciplina pedagógica em relação a esse nível da carreira e explicar o que os autores dizem sobre a relação que os professores estabelecem entre sua formação na licenciatura e os dilemas e dificuldades enfrentadas em sala de aula. Será que o papel das disciplinas pedagógicas é importante e relevante naquilo que o professor de matemática enfrenta nos primeiros anos de carreira? Será que os professores entrevistados vão falar a mesma coisa que viram nas disciplinas apresentadas em sua formação?
Procedimentos Metodológicos
Como minha pesquisa tem como objetivos identificar quais são os principais dilemas e dificuldades enfrentadas por professores do ciclo II em início de carreira e
na licenciatura e os dilemas e dificuldades enfrentadas em sala de aula, busco informações através de entrevistas e observações de um sujeito durante algumas aulas.
A minha observação para coleta de dados tem sido realizada da seguinte forma: já foram realizadas entrevistas com três professores de matemática do ciclo II, ainda pretendo realizar entrevistas com mais dois sujeitos; futuramente, pretendo acompanhar e observar as ações de um desses professores dentro da sala de aula.
Os professores que participarão das entrevistas foram escolhidos a partir dos seguintes critérios:
Ser professor de matemática do segundo ciclo do Ensino Fundamental; Ter tempo de atuação docente inferior a cinco anos;
Aceitar espontaneamente participar como sujeito desta investigação.
Através de perguntas que faço durante as entrevistas, observo e analiso as respostas dos sujeitos a fim de verificar se eles estão expondo as dificuldades e dilemas que um professor em início de carreira vivencia e se, para eles, existe alguma relação entre as disciplinas pedagógicas e as dificuldades enfrentadas na sala de aula. Dessa forma procuro responder as questões que levantei ao iniciar minha pesquisa.
Considerações Finais
Na parte final do meu trabalho, após serem feitas as investigações através de entrevistas realizadas com professores de matemática que atuam em escola pública do segundo ciclo do Ensino Fundamental, pretendo analisar e descrever os resultados dos dados coletados.
A análise e descrição interpretativa dos dados coletados serão realizados à luz de referenciais teóricos relativos às tendências mais recentes para o ensino da aprendizagem da matemática e formação de professores, de onde decorrerão as considerações sobre o tema pesquisado e as possíveis contribuições da investigação para a melhoria da qualidade da formação dos docentes e, conseqüentemente, do ensino da matemática.
Referências Bibliográficas
FONTANA, R. C. Trabalho e subjetividade. Nos rituais da iniciação, a constituição do ser professora. In: Relações de Ensino: Análises na perspectiva histórico-cultural. Cadernos Cedes, ano XX, nº 50, Abril/00.
GAMA, R. P. Desenvolvimento profissional com apoio de grupos colaborativos: o caso de professores de matemática em início de carreira. 2007. Tese de Doutorado.Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: Nóvoa, A. (Org.). Vidas de professores. Porto – Portugal: Porto Editora, 1992.
LIMA, E. F. Sobrevivência: No início da docência. Brasília: Líber Livro Editora, 2006.
LOURENCETTI, G. C. & MIZUKAMI, M. G. N. Dilemas de professoras em práticas cotidianas. In: Aprendizagem profissional da docência. Saberes, Contextos e Práticas. Editora da Ufscar. São Carlos, 2002.
LUDKE, M. &ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1996.
MARIANO, A. L. S. O início da docência e o espetáculo da vida na escola: abrem-se as cortinas... In: Lima, E. F. (Org.). Sobrevivências no início da docência. Brasília: Líber Livro Editora, 2006.
NONO, M. A. & MIZUKAMI, M. G. N. Processos de formação de professoras iniciantes. In:Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 87, n. 217, p. 382-400, set./dez. 2006.
SERRAZINA, L. & OLIVEIRA, I. Novos professores: Primeiros anos de profissão. In: Quadrante Associação de Professores de Matemática. Revista de Investigação. Quadrante, vol. 11, nº 2, 2002.
