• Nenhum resultado encontrado

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

OCORRÊNCIA DE GEADAS NA PAMPA HÚMEDA (ARGENTINA) E SUA RELAÇÃO

COM A TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR DO PACÍFICO E ATLÂNTICO E

AS ANOMALIAS NA CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA DO HEMISFÉRIO SUL

Alexandre Bernardes Pezza, Gabriela Müller* e Tércio Ambrizzi

Departamento de Ciências Atmosféricas.

Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas - Universidade de São Paulo

e-mail:alepezza@model.iag.usp.br

Fone: (+55) (11) (3091-2832)

Fax: (+55) (11) (6169-9240)

Centro de Investigaciones del Mar y la Atmósfera – CIMA*

CONICET – Universidad de Buenos Aires*

muller@at.fcen.uba.ar

ABSTRACT

This work shows an association between SST (Sea Surface Temperature) anomalies in the Pacific and Atlantic oceans and frost occurrence at Pampa Húmeda region, in Argentina. We produced composites of SST anomalies for anomalous years, and each year was classified into El Niño, La Niña or normal, according to the El Niño / Southern Oscillation (ENSO) phase. Analyses have been carried out for the entire year, emphasizing the Southern Hemisphere wintertime period (June, July and August).

We found out that above normal frost occurrence is associated with La Niña or normal years, but not with El Niño years. On the other hand, below normal frosts presented a higher variability, showing weak or no relationship with the ENSO phase. The Atlantic ocean presented an anomalous cold pool on the southeastern coast of South America in association with above normal frosts in Pampa Húmeda. Finally, a brief analysis of the atmospheric circulation showed that the above normal and below normal frost patterns are associated with large scale circulation anomalies.

RESUMO

Este trabalho estuda a ocorrência de geadas na região da Pampa Húmeda, na Argentina, buscando uma associação com as anomalias da Temperatura da Superfície do Mar dos oceanos Pacífico e Atlântico, com ênfase no período de inverno. Foram feitas composições de anomalias de TSM para os invernos com características anômalas no período de 1961 à 1990. A influência do fenômeno El Niño / Oscilação Sul (ENOS) também foi analisada através da distribuição da ocorrência de anos anômalos com relação à classificação El Niño, La Niña ou ano normal.

Em termos de associação com o fenômeno ENOS, verificou-se o seguinte: para distribuição dos casos de geadas acima e abaixo do normal em relação à classificação ano normal, El Niño ou La Niña, verificou-se que geadas acima do normal durante o inverno podem ocorrer durante anos normais ou de La Niña, mas dificilmente em anos de El Niño, ainda que isoladamente julho de 1983 tenha apresentado geadas acima do normal. Por outro lado, geadas abaixo do normal podem ocorrer em qualquer ano, com uma freqüência ligeiramente superior em anos de El Niño. Em termos do oceano Atlântico, observou-se um sinal na costa sudeste da América do sul (sul do Brasil, Uruguai e leste da Argentina), sendo que o mesmo aparece frio ou normal (mas nunca quente) para geadas acima do normal.

Finalmente, a análise da composição de alguns campos atmosféricos indicou que as anomalias de freqüência de geadas na Pampa Húmeda estão associadas com padrões de grande escala bem definidos, caracterizados nos campos de vento e pressão em superfície. Uma alta anômala de cerca de + 4hPa ficou caracterizada no oceano Pacífico ao redor de 110o W, 50o S, em associação à ocorrência de geadas acima do normal na Pampa Húmeda.

(2)

1. INTRODUÇÃO

Dentre os inúmeros parâmetros meteorológicos cujas variabilidades influem de forma significativa nas atividades humanas, a formação e propagação das massas de ar polar pode ser apontada como sendo de grande importância em muitos continentes. Especialmente para a América do Sul, que é um continente para o qual ainda há um predomínio agrícola na economia, o impacto da ocorrência de geadas ou de temperaturas muito baixas é muito grande. Como exemplos pode-se citar o impacto das geadas nas plantações de café no sudeste do Brasil (Marengo et al, 1997), o impacto da variabilidade da acumulação de neve na Cordilheira dos Andes ao sul de 35oS para o turismo de inverno e o impacto de grandes precipitações em forma de neve para o transporte aéreo e terrestre, e para o fornecimento de energia na Argentina e Chile (Nuñez et al, 1995).

Atualmente, tem-se um número relativamente grande de trabalhos que estudaram casos de intensa penetração de ar polar na região tropical e equatorial. Hamilton e Tarifa (1978), por exemplo, analisaram os aspectos sinóticos de uma onda de frio associada à geadas no Sul, Sudeste e Centro - Oeste do Brasil em julho de 1972, que ocasionou severos danos em plantações de café. Girardi (1983) analisou a forte geada ocorrida nos Trópicos em 1975, considerada uma das mais intensas do século. Fortune e Kousky (1983) estudaram as geadas mais fortes de 1979 e 1981. Mais recentemente, Marengo et al (1997) estudaram o evento extremo de penetração de ar polar em latitudes tropicais e equatoriais ocorrido em junho de 1994. Entretanto, para ondas de frio que atingiram com maior intensidade as regiões centrais da Argentina, e não necessariamente chegaram a região tropical, poucas referências são encontradas, podendo-se citar, por exemplo, Rusticucci e Vargas (1995). Além disso, Pezza e Ambrizzi (1999) mostraram que em alguns casos ocorrem anomalias de temperatura de sinal inverso entre o sul do Brasil e a região da Patagônia, como nos invernos de 1995 e 1996.

Finalmente, em termos das relações das ondas de frio na Argentina com o fenômeno ENOS (El Niño / Oscilação Sul), Muller et al (2000) mostraram que em anos de El Niño a ocorrência de geadas é estatisticamente inferior à média climatológica. Rusticucci (2000) mostrou algumas análises semelhantes para temperaturas extremas na Argentina associadas ao fenômeno ENOS, indicando que em anos de El Niño o inverno tende a ser mais quente que o normal no norte do país, com maior probabilidade de eventos extremos de calor.

Este trabalho é uma pesquisa climatológica da ocorrência de geadas na região da Pampa Úmida, na Argentina (figura 1). A importância do estudo desta região reside no fato de que, por tratar-se de uma zona altamente baroclínica associada à passagem de sistemas transientes, pequenos distúrbios em termos das trajetórias dos ciclones e anticiclones podem originar ondas de frio totalmente distintas, com um grande impacto na ocorrência de geadas não apenas no centro e nordeste da Argentina, como também no centro-sul do Brasil. Foram usados dados de temperatura mínima diária para 41 estações meteorológicas na região, durante o período de 1961 à 1990. Ênfase foi dada na análise da distribuição de freqüência e da tendência das séries de geadas para o período analisado. Foram também realizadas composições de anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e de alguns campos de circulação atmosférica, com o intuito de verificar-se eventuais influências. No item 2, são descritos os dados e a metodologia, e no item 3 são apresentados alguns resultados preliminares.

2. DADOS E METODOLOGIA

Para este estudo, foram utilizados dados de temperatura mínima diária para 41 estações meteorológicas na região da Pampa Húmeda, para o período de 1961 – 1990. Originalmente, dispunha-se de um conjunto de estações meteorológicas maior, pertencentes ao Servicio Meteorológico Nacional (SMN) e ao Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA). Entretanto, ao serem aplicados alguns critérios de consistência dos dados (Muller et al, 2000), muitas estações precisaram ser desconsideradas. A figura 1 mostra um mapa ampliado da região da Pampa Húmeda com as divisões políticas das províncias e as estações meteorológicas correspondentes, indicadas por cruzes. A Pampa Húmeda, que abrange boa parte da Província de Buenos Aires, como mostrado na figura 1, é considerada o celeiro agrícola do país, pois é uma grande produtora de grãos.

Foram definidas geadas generalizadas quando, para um dado dia, mais de 75% das estações apresentaram a o ocorrência do fenômeno, e também geadas parciais (entre 25 e 75% das estações com registro de geada) e geadas isoladas (menos que 25% das estações), onde “geada” foi considerada como a geada meteorológica, ou seja, temperatura mínima no abrigo menor ou igual a zero grau celsius. Realizou-se composições de TSM entre 40ºS e 40ºN (dados do COADS, vide por exemplo Woodruff et al 1987 e 1998) associadas à casos de geadas acima da média mais um desvio padrão e abaixo da média menos um desvio padrão. Estes cálculos foram realizados para os três grupos de geadas (isoladas, parciais e generalizadas) e para períodos distintos do ano.

(3)

Para a ocorrência de geadas generalizadas, foi feita uma análise de composições de anomalias de alguns campos atmosféricos associadas à casos de anomalias positivas e negativas na freqüência de ocorrência. Para tanto, foram utilizados os dados da Reanálise do NCEP (Kalnay et al, 1996) para o período de 1961 à 1990, disponíveis na Internet através do endereço www.cdc.noaa.gov. Finalmente, foi feito uma análise de distribuição de freqüência dos anos com relação à classificação normal, El Niño ou La Niña, de acordo com a classificação sazonal do NCEP disponível na Internet no endereço www.cpc.ncep.noaa.gov. Esta análise foi avaliada em conjunto com o resultado das composições de TSM.

Figura 1: Localização geográfica aproximada das estações meteorológicas utilizadas para a Pampa Húmeda.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As tabelas 1 e 2 mostram o número de dias com ocorrência de geadas generalizadas apenas (tabela 1), e número total de dias com geadas (tabela 2), ou seja, considerando-se inclusive a ocorrência de geadas parciais e isoladas. Os dados referem-se ao período de 1961 à 1990. Todos os cálculos referem-se às estações meteorológicas da Pampa Húmeda, conforme os critérios discutidos. Em vermelho, foram marcados os casos correspondentes à ocorrência de geada inferior à média decrescida de um desvio padrão, e em azul foram indicados os casos correspondentes à freqüência de geadas superior à média somada de um desvio padrão. Note que esta classificação em cores está dividida para as categorias anual, MJJAS e JJA, sendo os anos que apresentaram desvios superiores a um desvio padrão para pelo menos uma das categorias foram coloridos na coluna da esquerda, e usados para a análise de distribuição em categorias El Niño, La Niña e normal. Os anos de ocorrência de El Niño e de La Niña foram indicados por EN e LN, e os anos normais foram indicados por N.

Comparando-se as tabelas 1e 2, nota-se que, enquanto a média anual de geadas generalizadas é de cerca de seis dias apenas (tabela 1), para o número total de dias com geadas tem-se um valor bem mais elevado, com 91

(4)

eventos (tabela 2). Estas diferenças mostram que o critério de abrangência espacial das geadas é muito importante para a determinação da respectiva contagem de freqüência. Um dado interessante é que geadas generalizadas possuem uma concentração quase total nos meses de junho, julho e agosto. Por outro lado, em termos da ocorrência total de geadas, verifica-se uma maior contribuição de ocorrência de eventos isolados durante o restante do ano. Considerando-se apenas o período de inverno (JJA), os anos de maior ocorrência de geadas (indicados em azul), ou seja, com freqüência superior à média acrescida de um desvio padrão foram: 1970, 1976 e 1988 para geadas generalizadas, e 1964, 1967, 1983 e 1984 para o número total de geadas.

Em termos da distribuição de freqüências da fase do evento ENOS, a tabela 1 mostra que para geadas generalizadas acima do normal ocorreram dois anos normais e dois anos de La Niña, enquanto para o caso oposto ocorreram um ano normal, uma Niña e dois Niños. Para a ocorrência total de geadas (tabela 2), no caso de freqüência acima do normal registrou-se cinco Niñas, quatro anos normais e apenas um Niño, e finalmente para freqüência de geada abaixo do normal registrou-se duas Niñas, dois anos normais e três Niños. Estes resultados sugerem que geadas acima do normal estão associadas tanto com anos normais como anos de La Niña, mas dificilmente com anos de El Niño, enquanto geadas abaixo do normal podem ocorrer em qualquer caso, apenas com uma freqüência ligeiramente maior em anos de Niño. A figura 2 mostra a série temporal do número de dias com ocorrência de geadas generalizadas apenas e de geadas parciais e generalizadas, durante o período de inverno, para a região da Pampa Húmeda. Pela figura, vemos que não existe nenhuma tendência estatisticamente significativa para o período analisado (JJA), não havendo sugestão de mudanças climáticas neste parâmetro.

ANO TOTAL ANNUAL MJJAS JJA 1961 (N) 3 3 3 1962 (N) 6 6 6 1963 (EN) 3 3 3 1964 (LN) 7 7 6 1965 (EN) 6 6 6 1966 (EN) 5 5 4 1967 (N) 8 8 8 1968 (N) 2 2 1 1969 (EN) 7 7 7 1970 (N) 11 11 11 1971 (LN) 9 9 6 1972 (EN) 7 6 5 1973 (LN) 0 0 0 1974 (LN) 10 10 7 1975 (LN) 4 4 4 1976 (N) 14 14 14 1977 (N) 5 5 3 1978 (N) 4 4 4 1979 (N) 5 5 5 1980 (N) 9 9 8 1981 (N) 6 6 6 1982 (EN) 2 2 2 1983 (EN) 7 7 6 1984 (LN) 8 8 6 1985 (LN) 4 4 4 1986 (EN) 0 0 0 1987 (EN) 5 5 5 1988 (LN) 13 13 13 1989 (LN) 4 4 4 1990 (EN) 5 5 4 MÉDIA 6 6 5

Tabela 1: Número de dias com ocorrência de geadas generalizadas na região da Pampa Húmeda (Argentina) para o período de 1961 à 1990, considerando-se o número total anual, o período de maio à setembro e o inverno (JJA) apenas.

(5)

Foram feitas composições de anomalias de TSM para o período de inverno (JJA) e para os meses de junho, julho e agosto separadamente, a fim de identificar-se os períodos com sinais mais fortes. Para geadas generalizadas acima do normal, as anomalias mais significativas ocorreram para a composição de inverno, e no caso de geadas abaixo do normal, o mês de julho foi mais significativo. A figura 3 mostra composições de anomalias de TSM para todos os invernos (JJA) com número de dias de geadas generalizadas acima de um desvio padrão. Os anos obtidos para a composição foram 1970, 1976, e 1988. Pela figura, nota-se a ocorrência de um padrão típico de Niña para geadas generalizadas acima do normal durante o inverno. Este padrão também foi verificado para composições realizadas para outras épocas do ano (figura não mostrada), e está de acordo com o discutido para a distribuição de casos mostrado nas tabelas 1 e 2. Para ocorrência de geadas abaixo do normal, a variabilidade em termos da fase do fenômeno ENOS foi muito elevada (vide tabelas 1 e 2), não tendo sido encontrado um padrão definido de anomalias (figura não mostrada).

ANO TOTAL ANNUAL MJJAS JJA 1961 (N) 64 59 40 1962 (N) 92 85 65 1963 (EN) 70 64 42 1964 (LN) 101 86 70 1965 (EN) 102 79 51 1966 (EN) 92 84 56 1967 (N) 95 84 72 1968 (N) 87 75 43 1969 (EN) 93 79 64 1970 (N) 104 83 69 1971 (LN) 107 88 69 1972 (EN) 82 71 57 1973 (LN) 101 96 63 1974 (LN) 101 88 65 1975 (LN) 83 77 62 1976 (N) 99 93 65 1977 (N) 91 84 58 1978 (N) 80 76 55 1979 (N) 108 91 62 1980 (N) 94 82 62 1981 (N) 100 85 63 1982 (EN) 67 62 54 1983 (EN) 110 105 79 1984 (LN) 96 90 72 1985 (LN) 75 70 48 1986 (EN) 82 80 60 1987 (EN) 77 73 42 1988 (LN) 111 101 66 1989 (LN) 82 72 42 1990 (EN) 81 74 56 MÉDIA 91 81 59

Tabela 2: Número de dias com ocorrência total de geadas (isoladas, parciais e generalizadas) na região da Pampa Húmeda (Argentina) para o período de 1961 à 1990, considerando-se o número total anual, o período de maio à setembro (MJJAS) e o inverno (JJA) apenas.

A figura 4 mostra a composição de anomalias de TSM para número de dias com geadas parciais e generalizadas acima (A) e abaixo (B) de um desvio padrão durante o mês de julho. Pela figura 4A, fica evidente um padrão de resfriamento no Atlântico na costa sudeste da AS. Destaca-se que o mesmo apareceu frio ou normal, mas nunca quente, para todos os casos de geadas acima do normal. Para o número de dias de geadas inferior à média

(6)

menos um desvio padrão durante julho (figura 4B), observou-se um padrão muito fraco típico de Niño. Conforme discutido, para geadas abaixo do normal tem-se uma grande variabilidade, com ocorrência de anos normais, Niños ou Niñas, se considerarmos o período de inverno como um todo. Estas constatações são coerentes com outros trabalhos existentes na literatura, que indicam uma maior incidência de geadas em anos de Niña (Muller et al, 2000) e a ocorrência de bloqueios durante anos de El Niño (Nobre et al, 1986), com menor incidência de geadas (Rusticucci, 2000). 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990

Ano

m

e

ro

d

e

Dia

s

Parcial e Generalizada Somente Generalizada

Figura 2: Número de dias com ocorrência de geadas parciais e generalizadas e apenas generalizadas para a Pampa Húmeda (Argentina), durante o período de inverno (JJA) de 1961 à 1990.

Figura 3: Composições de anomalias de TSM para JJA com freqüência de número de dias com geadas generalizadas na região da Pampa Húmeda acima de um desvio padrão (1970, 1976 e 1988), período de 1961 à 1990.

(7)

Figura 4: Composições de anomalias de TSM para os meses de julho com freqüência de número de dias de geadas parciais e generalizadas na região da Pampa Húmeda (A) acima e (B) abaixo de um desvio padrão, período de 1961 à 1990. Anos usados na composição: (A) 1963, 1968, 1978, 1982 e 1987 e (B) 1962, 1964, 1976, 1983 e 1988.

Dando seqüência ao trabalho, foram analisados os casos de ocorrência de geadas generalizadas na Pampa Húmeda que também corresponderam a casos de geada em São Paulo (estação do IAG/USP na Água Funda) em até no máximo 4 dias depois do evento ter sido registrado na Argentina. Os anos em que isso ocorreu foram: 1963,

1965, 1972, 1975, 1979, 1981, 1984 e 1988. Fisicamente falando, estes anos são um indicador de casos de fortes

massas polares que se propagaram rapidamente para o Sul e Sudeste do Brasil, possivelmente ocasionando o fenômeno da friagem, como já descrito para os anos de 1975 e 1979 (Parmenter, 1976, Girardi, 1983 e Fortune e Kousky, 1983). Casos em que as frentes ficam retidas no sul ou região central da Argentina possuem um comportamento distinto, com ocorrência de geadas restrita àquela região. Comparando-se os anos em negrito com a tabela 1, verifica-se que apenas o ano de 1988 apresentou uma freqüência de geadas generalizadas acima do normal. A “propagação” das geadas da Argentina para São Paulo reflete a intensidade e deslocamento de massas polares em particular, mas não necessariamente implica em um uma freqüência de eventos acima do normal.

A figura 5 mostra composições de anomalias de pressão atmosférica ao nível médio do mar durante o período de inverno (JJA) para os anos com freqüência de número de dias com geadas generalizadas acima (1970, 1976 e 1988 – figura 5A) e abaixo (1968, 1973, 1982 e 1986 – figura 5B) de um desvio padrão, onde alguns padrões ficam bastante evidentes. No caso de freqüência de geadas acima do normal (figura 5A), verifica-se a ocorrência de um centro anômalo de alta pressão ao redor de 110ºW, 50ºS, à sudoeste da AS. Fisicamente, este centro reflete a incidência acima do normal de anticiclones intensos passando pela região. Sabe-se, pela climatologia, que esta faixa do oceano Pacífico leste está associada à penetração de massas de ar frio sobre o continente, portanto, o campo de anomalias descrito na figura 5A sugere uma maior atuação de ondas frias no sul da Argentina. Destaca-se ainda que a referida área é apontada na literatura pela alta freqüência de bloqueios atmosféricos (Sinclair 1996, por exemplo).

A

(8)

Para geadas abaixo do normal, a figura 5B mostra um padrão aproximadamente oposto ao indicado na figura 5A, com anomalias negativas de pressão à sudoeste da AS. Fisicamente consistente com os comentários anteriores, estas anomalias indicam uma ocorrência de anticiclones migratórios frios inferior ao normal na região, o que é coerente com o padrão de menor freqüência de geadas. Outro detalhe interessante é a ocorrência de anomalias positivas no Atlântico sul seguido de anomalias negativas próximo à costa oeste da África, o que deve favorecer o aporte de ar frio em direção ao Sul e Sudeste do Brasil. Da literatura, sabemos que tal padrão pode estar associado à ocorrência de invernos mais frios que o normal no sul do Brasil, apesar da freqüência de geadas ter sido inferior ao normal na região central da Argentina, caracterizando um padrão inverso de temperatura (Pezza e Ambrizzi, 1999).

Figura 5: Composições de anomalias de pressão reduzida ao Nível Médio do Mar (hPa) para freqüência de número de dias com geadas generalizadas na região da Pampa Húmeda acima (A) e abaixo do normal (B), para o período de inverno (JJA) de 1961 à 1990. Vide texto para maiores detalhes. Anos usados nas composições: (A) 1970, 1976 e 1988; (B) 1968, 1973, 1982 e 1986.

Os campos de anomalias de vento nos altos níveis também foram analisados. A figura 6 mostra o vetor e magnitude do vento anômalo em 250 hPa para a freqüência de geadas generalizadas acima (figura 6A) e abaixo (figura 6B) de um desvio padrão. Para a ocorrência de geadas acima do normal (figura 6A), tem-se um fortalecimento do jato subtropical ao redor de 27oS sobre o norte da Argentina, Chile e oceano Pacífico, o que pode ter contribuído para a ocorrência de bloqueios atmosféricos, fazendo com que as massas frias ficassem confinadas

A

(9)

na Argentina e consequentemente corroborando com o aumento da ocorrência de geadas. Nota-se que a região da Pampa Húmeda ficou ao sul das anomalias de vento oeste, portanto ao sul da possível zona de provável influência dos bloqueios dos sistemas frontais.

Para os casos de freqüências de geadas abaixo do normal, a figura 6B indica anomalias de leste entre 25 e 30oS, com o conseqüente enfraquecimento do jato Subtropical, e o fortalecimento do jato polar no extremo sul do continente. Este padrão é favorável para a ocorrência de anomalias negativas de temperatura no sul do Brasil e anomalias positivas na maior parte da Argentina, pois permite a rápida passagem de sistemas frontais para as regiões ao norte de 30o S, com retorno da circulação de norte sobre o centro e sul da Argentina (Pezza e Ambrizzi, 1999). Isso dá suporte, do ponto de vista dinâmico, para a menor ocorrência de geadas na região dos Pampas.

Figura 6: Análogo à figura 5, para o campo de anomalias de vento em 250 hPa. Na figura, estão indicados os vetores vento horizontal (setas) e a magnitude é indica por cores, dada em m/s.

(10)

4. CONCLUSÕES

Neste trabalho, foi analisada a ocorrência de geadas na região da Pampa Húmeda, na Argentina, para o período de 1961 à 1990, com um total de 41 estações meteorológicas. As geadas foram classificadas em generalizadas, parciais e isoladas, de acordo com a porcentagem de ocorrência de temperaturas negativas considerando-se todas as estações meteorológicas. A análise da série temporal de ocorrência de geadas parciais e generalizadas para todo o período analisado não mostrou qualquer tendência significativa de alteração do número de eventos.

Em termos de associação com o fenômeno ENOS, verificou-se o seguinte: em termos da distribuição dos casos de geadas acima e abaixo do normal em relação à classificação ano normal, El Niño ou La Niña, verificou-se que geadas acima do normal durante o inverno podem ocorrer durante anos normais ou de La Niña, mas dificilmente em anos de El Niño, ainda que isoladamente julho de 1983 tenha apresentado geadas acima do normal. Por outro lado, geadas abaixo do normal podem ocorrer em qualquer ano, com uma freqüência ligeiramente superior em anos de El Niño. Em termos do oceano Atlântico, observou-se um sinal na costa sudeste da América do sul (sul do Brasil, Uruguai e leste da Argentina), sendo que o mesmo aparece frio ou normal (mas nunca quente) para geadas acima do normal.

Finalmente, a análise da composição de alguns campos atmosféricos indicou que as anomalias de frequência de geadas na Pampa Húmeda estão associadas com padrões de grande escala bem definidos, caracterizados nos campos de vento e pressão em superfície. Uma alta anômala de cerca de + 4hPa ficou caracterizada no oceano Pacífico ao redor de 110o W, 50o S, em associação à ocorrência de geadas acima do normal na Pampa Húmeda. Estes resultados mostram boa concordância com trabalhos existentes na literatura, e também com análises similares realizadas para a cidade de São Paulo (Pezza e Ambrizzi, 2002).

5. AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer à FAPESP pelo suporte financeiro através da bolsa de doutoramento processo número 99/04105-2 e pelo projeto temático processo número 98/01403-4. T.A. também agradece ao auxílio do CNPq através do processo número 301111/93-6. Este estudo insere-se também dentro do projeto IAI – CRN055, recebendo um auxílio financeiro parcial.

(11)

6. REFERÊNCIAS

FORTUNE, M., e KOUSKY, V.E. Two severe freezes in Brazil: precursors and synoptic evolution. Mon. Wea.

Rev., 11, 181-196, 1983.

GIRARDI, C. El Pozo de los Andes. Proceedings, FIRST INTERNATIONAL CONGRESS ON SOUTHERN HEMISPHERE METEOROLOGY. São Jose dos Campos, São Paulo, Brazil. Amer. Meteor. Soc. 226-229, 1983.

HAMILTON, M. e TARIFA, J. Synoptic aspects of a polar outbreak leading to frost in tropical Brazil, July 1972.

Mon. Wea. Rev., 106, 1545-1556, 1978.

KALNAY, E., KANAMITSU, M., KISTLER, R., COLLINS, W., DEAVEN, D., GANDIN, L., IREDELL, M., SAHA, S., WHITE, G., WOOLLEN, J., ZHU, Y., CELLIAH, M., EBISUZAKI, W., HIGGINS, W., JANOWIAK, J., MO, K.C., ROPELEWSKI, C., WANG, J., LEETMAA, A., REYNOLDS, R., JENNE, R. E JOSEPH, D. The NCEP/NCAR 40-Year Reanalysis Project. Bull. Am. Meteorol. Soc. vol.77, núm. 3, 437-471, 1996.

MARENGO, J., CORNEJO, A., SATYAMURTY, P., NOBRE, C. e SEA, W. Cold Surges in the Tropical and Extratropical South America. The strong event in June 1994. Mon. Wea. Rev., 125, 2759-2788, 1997. MULLER, G. V., NUÑEZ, M.N. e SELUCHI, M. Relationship Between ENSO Cycles and Frost Events Within

the Pampa Humeda Region. Int. J. of Climatol. 20 1619-1637, 2000.

NOBRE, C.A., OLIVEIRA, A.S. e NEVES, E.K. Precipitation and Circulation Anomalies in South America and the 82/83 El Niño/Southern Oscillation Episode. Anais, IV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 1, 339-345, 1986.

NUÑEZ, S, HORDIJ, H., CIAPPESONI, H., e outros. Boletin Climatologico Mensual. Programa de vigilancia del clima en la Argentina y región subantártica adyacente. Servicio Meteorologico Nacional. Fuerza Aerea Argentina, volume VII, número 7, Julio de 1995.

PARMENTER, F. A Southern Hemisphere cold front passage at the Equator. Bull. Am. Meteorol. Soc., 57, 1435-1440, 1976.

PEZZA, A. B. e AMBRIZZI, T. Um Estudo das Flutuações de Temperatura para o Período de Inverno na América do Sul, Correlacionando a Patagônia com o Sul do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, volume 14, número 1, pp. 23-34, 1999.

PEZZA, A. B. e AMBRIZZI, T. Uma Associação Entre as Anomalias da Temperatura da Superfície do Mar dos Oceanos Pacífico e Atlântico e a Temperatura, Geadas e Precipitação na Estação Meteorológica do IAG/USP em São Paulo Durante o Período de Inverno. Revista Brasileira de Meteorologia, submetido, 2002.

RUSTICUCCI, M., e VARGAS, W. Synoptic situations related to spells of extreme temperatures over Argentina.

Meteorol. Appl., 2, pp. 291-300, 1995.

RUSTICUCCI, M. Potential ENSO – Related Predictability of Temperature Extreme Situations in Argentina.

Anais, SIXTH INTERNATIONAL CONFERENCE ON SOUTHERN HEMISPHERE METEOROLOGY

AND OCEANOGRAPHY. Santiago, Chile, 03-07 de abril de 2000, pp.108-109, 2000.

SINCLAIR, M.R.: A climatology of anticyclones and blocking for the Southern Hemisphere. Mon. Wea. Rev., 124, 245-263, 1996.

WOODRUFF, S.D., SLUTZ, R.J., JENNE, R.L. e STEURER, P.M. Comprehensive ocean-atmosphere data set.

(12)

WOODRUFF, S. D.; DIAZ, H. F.; ELMS, J. D.; WORLEY, S. J.. COADS Release 2 Data and Metadata Enhancements for Improvements of Marine Surface Flux Fields. Phys. Chem. Earth, Vol. 23, número 5-6, pp. 517-526, 1998.

Referências

Documentos relacionados

Como objetivos específicos, são apresentadas, para cada uma dos postos pluviométricos de três mesorregiões do Estado da Paraíba, a probabilidade da ocorrência de chuva acima da

▪ uma seção vertical da troposfera, associada às nuvens St, pode não apresentar valores de CAPE+ em baixos níveis e, nestes casos, o ar úmido e condicionalmente instável

Tabela 1 - Características das precipitações nas estações do CPMET (CP) e Agrometeorológica da UFPel (Agr) para os meses dos anos de La Niña, El Niño e Normal. As

Neste horário, as folhas das plantas estressadas entram em um estádio de murcha muito mais acentuado do que aquelas não estressadas, gerando uma diferença no IAF (índice de

Nas leituras de falhas efetuadas, foram obtidos códigos de anomalia por meio de dois diferentes protocolos de comunicação: o ISO 14230 KWP (2000) e o ISO 15765-4 CAN. A seguir, no

Correspondem aos volumes medidos (uso administrativo da companhia, fornecimento a caminhões pipa) e volumes não medidos (combate a incêndios, lavagem de vias

Esse trabalho tem por objetivo apresentar os resultados dos primeiros experimentos da aplicação do GPS na quantificação do IWV no Brasil e por em discussão as perspectivas para

Mineração de conhecimento interativa em níveis diferentes de abstração: Como é  difícil  prever  o  que  exatamente  pode  ser  descoberto  de  um  banco