Telemarketing. Tele-atendimento – É irrelevante a distinção que pode ser feita entre as atividades de operador de telemarketing e operador de tele-atendimento para aplicação de convenção coletiva na qual o sindicato da categoria profissional representa os operadores de telemarketing e os empregados de empresas de serviços de telemarketing e conexos, porque as atividades mencionadas são conexas.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário em que são partes, como Recorrente, CSU CARDSYSTEM S.A. e, como Recorridos, RAFAEL E SILVA ARAÚJO e OUTRO (VIVIANE FERREIRA DE LEMOS) e TIM CELULAR S.A.
Irresignada com a decisão da 65ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, a fls. 276/278, da lavra da juíza Jacqueline Lippi R. Moura, que julgou procedente em parte o pedido em face das reclamadas, a 2ª de forma subsidiária, recorre ordinariamente a 1ª reclamada a fls. 282/294. Alega que não comprovaram os reclamantes o exercício de atividades próprias de teleatendimento, que compreendem a captação, retenção e recuperação de clientes; que os operadores de telemarketing ganham por produtividade e têm que atingir metas, o que não é o caso dos autores, sendo inaplicável o piso normativo constante em convenção coletiva, bem como indevida a retificação na CTPS; que os reclamantes eram atendentes, prestavam informações e tiravam dúvidas, não atuando em empresa “de instalação e manutenção de redes, equipamentos e sistemas e operações de serviços de telecomunicações e prestadoras de
serviços no ERJ”, pelo que a norma coletiva invocada na inicial não tem aplicabilidade aos reclamantes, pois o enquadramento sindical do empregado se dá de acordo com a atividade preponderante da empresa empregadora, que no caso em tela é o assessoramento e manipulação de informações, prestando serviços de consultoria vinculados à administração de cartão de crédito, para cujo desempenho também realiza atividades de teleatendimento; que não pode prevalecer a condenação subsidiária da 2ª ré, por contrária à lei e à jurisprudência. Pede a improcedência do pedido, com a absolvição da condenação.
Depósito recursal a fls. 296/295 e custas a fls. 297. Representação a fls. 257.
Contrarrazões dos reclamantes a fls. 302/304 e da 2ª reclamada a fls. 308/315, sem preliminares e no mérito prestigiando o julgado.
Dada a forma de apresentação do pedido, determinei a conversão do recurso para o rito ordinário, nos termos da decisão de fls. 324/325. Cumprida a determinação.
É o relatório.
VOTO
I - Preliminar de ilegitimidade e falta de legítimo interesse, de ofício
A recorrente inclui no recurso pedido para absolvição da condenação imposta à litisconsorte. Ora, não tem legitimidade para postular em nome desta, porque não é sua representante legal, nem procuradora. E, ao mesmo tempo, não identifico o legítimo interesse que possa ter em defender o patrimônio alheio.
2ª reclamada, e dele conheço no remanescente, por tempestivo e aviado no feitio legal.
II – Mérito
Todo o recurso se funda na premissa de que os reclamantes não eram operadores de telemarketing, e que a recorrente tampouco é empresa “de instalação e manutenção de redes, equipamentos e sistemas e operações de serviços de telecomunicações e prestadoras de serviços no ERJ”. Com base nisso é que afirma não lhes ser aplicável a convenção coletiva de fls. 41/46, na qual se funda o pedido de diferenças salariais.
No que diz respeito à representação da categoria econômica que celebrou tal convenção o equívoco da recorrente é monumental, obviamente decorrente da prática de copiar arquivos de computador sem a indispensável adaptação ao caso concreto. Nenhuma dificuldade há em verificar que o sindicato de categoria econômica ali indicado nenhuma relação tem com empresas “de instalação e manutenção de redes, equipamentos e sistemas e operações de serviços de telecomunicações e prestadoras de serviços no ERJ”, sendo o Sindicato das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações, Pesquisas e de Prestação de Serviços Temporários do Município do Rio de janeiro. Ora, é a própria recorrente quem afirma que sua atividade principal é de “assessoramento e manipulação de informações, prestando serviços de
consultoria vinculados à administração de cartão de crédito” (marcação
da transcrição), com o que fica evidente sua representação pelo sindicato convenente. E só não lhe imponho multa por litigância de má-fé porque, como dito, considero que se trata de um equívoco cometido por descuido, e não por deslealdade processual.
recorrente não tem razão, embora não mais se cuide de equívoco, e sim de falta de atenção. Quer ela fazer distinção entre operador de telemarketing e Atendente TR. A primeira coisa a observar é que a profissão de operador de telemarketing não é regulamentada, de modo que o máximo que se pode ter é um conceito dessa atividade, fixado conforme decisões judiciais, doutrina e o conhecimento fruto da observação do mundo que nos cerca. A segunda, de não menos importância, é que às escâncaras não serve para qualificar a verdadeira função do trabalhador o nome que lhe é atribuído pelo empregador, a menos de haver um plano de cargos e salários que contenha descrição clara das funções de cada cargo, de modo a se poder identificar se, a despeito do nome atribuído ao cargo, corresponde ele a uma determinada profissão que recebe nome diverso em outras empresas ou lugares. Não é o caso da recorrente.
Colocadas essas premissas, admito que identifico uma diferença entre as atividades de operador de telemarketing e operador de tele-atendimento que, pela descrição feita pela própria recorrente, é aquela que normalmente corresponde ao cargo da reclamante, que recebeu por nome de Atendente TR. É que, a meu ver, operador de telemarketing trabalha basicamente com telefone, fones de ouvido e terminais de computador com o fito de promover venda de produtos de
clientes; já o operador de tele-atendimento trabalha basicamente com
telefone, fones de ouvido e terminais de computador com o fito de dar
informações, prestar esclarecimentos, lançar dados de cadastro, etc., de clientes. E, nesse aspecto, não tenho dúvida em reconhecer que os
reclamantes eram, efetivamente, operadores de tele-atendimento, até porque nenhuma prova fizeram de que sua atividade envolvesse vendas.
Mas isso é rigorosamente sem importância em relação ao que postulam, que é a aplicação da convenção coletiva cuja cópia está a
fls. 41/46.
De fato, prendeu-se a recorrente aos detalhes da função dos reclamantes sem observar que o sindicato de categoria profissional que celebrou a convenção coletiva indicada não representa apenas os operadores de telemarketing. Fácil é identificar que se trata do Sindicato dos Operadores de Telemarketing e Empregados de Prestadoras de Serviço de Telemarketing e Conexos do Município do Rio de Janeiro (grifo meu). Pela descrição que fiz acima do que sejam ambas as atividades mencionadas, ressalta que em ambas o instrumental usado para o desenvolvimento de ambas as atividades é rigorosamente o mesmo. O que as diferencia é a destinação, o que não impede que seja marcada a conexão.
Nego provimento.
ISTO POSTO
Não conheço do recurso quanto ao pedido de absolvição da 2ª reclamada, e no remanescente NEGO PROVIMENTO ao recurso.
Vistos e bem examinados,
A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Quarta Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, não conhecer do recurso quanto ao pedido de absolvição da 2ª reclamada, e no remanescente negar provimento ao recurso.
Rio de Janeiro, 1 de Junho de 2010.
Desembargador Federal do Trabalho Damir Vrcibradic
