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Biblioteca comunitária e o impacto no desenvolvimento sociocultural do país: estudo de caso da Biblioteca Cora Coralina do projeto Semeando Grãos de Mostarda

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Academic year: 2021

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BIBLIOTECA COMUNITÁRIA E O IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO SOCIOCULTURAL DO PAÍS: Estudo de caso da Biblioteca Cora Coralina do projeto

Semeando Grãos de Mostarda

COMMUNITY LIBRARY AND THE IMPACT ON SOCIOECULTURAL DEVELOPMENT IN THE COUNTRY: Case study Cora Coralina Library from the

project Semeando Grãos de Mostarda

GT1 – Educação, política e sociedade Artigo Completo Para Comunicação Oral

COSTA, Marcelly Ramos1 MOURA, Êda Maria Bastos de2 RESUMO

O artigo apresenta a importância da biblioteca comunitária e o papel do bibliotecário como mediador cultural no contexto socioeconômico do Brasil. Aponta a ineficiência das políticas públicas e propõe reflexões acerca do terceiro setor e dos projetos sociais como salutares para o processo de apropriação cultural. Define a natureza das bibliotecas comunitárias e apresenta a relevância da interação comunitária. A metodologia empregada foi o levantamento bibliográfico e o estudo de caso da biblioteca do projeto Semeando Grãos de Mostarda. Expõe, no estudo de caso, a Biblioteca Cora Coralina como exemplo de viabilidade e sucesso de implementação de uma biblioteca comunitária e inclusão social.

Palavras-chave: Projeto social. Biblioteca comunitária. Ação cultural. Inclusão social. Terceiro setor.

ABSTRACT

The article presents the importance of the community library and the role of the librarian as cultural mediator in the socioeconomic context of Brazil. It points to the inefficiency of public policies and proposes reflections about the third sector and social projects as fundamental for

1 Discente de bacharelado em Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal

Fluminense (UFF). Email: marcelly.rc4@gmail.com / costamarcelly@id.uff.br

2 Discente de bacharelado em Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal

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the process of cultural appropriation. Defines the nature of community libraries and shows the relevance of community interaction. The methodology used was the bibliographical survey and the case study on the library from the project Semeando Grãos de Mostarda. The case study uses the Cora Coralina Library as an example of feasibility and success of implementing a community library and social inclusion.

Keywords: Social project. Community library. Cultural action. Social inclusion. Third sector.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade brasileira tem passado por profundas mudanças sociais de modo que a economia e o acesso à educação e cultura não são mais formas exclusivas da soberania estatal. No sentido de garantir a cidadania, os brasileiros ao longo dos anos, por sua livre iniciativa, conscientes das desigualdades num cenário pessimista cujas prerrogativas de desenvolvimento não estão aquém da melhoria, muitos decidem pela proatividade no sentido de fazer por eles mesmos. As políticas públicas ineficazes, escândalos de corrupção e ausências de ações governamentais que visam priorizar os direitos do cidadão, são barreiras que impedem o pleno exercício dos direitos mais básicos e o desenvolvimento socioeconômico.

A lacuna promovida pelo Estado permitiu o desenvolvimento do que é conhecido atualmente como “terceiro setor”. Nesse aspecto, o termo “terceiro setor é herdeiro de uma tradição anglo-saxônica. Particularmente impregnada pela ideia de filantropia. Essa abordagem identifica o terceiro setor ao universo das organizações sem fins lucrativos.” (FILHO FRAGA, 2002, p. 10, grifo nosso).

O cenário de desigualdade social que se vê hoje teve sua origem na Revolução Industrial, que permitiu que a burguesia acumulasse riquezas em contraposição ao proletariado que era a classe dos menos favorecidos. Em vista da disparidade atual, é necessário ressaltar a influência dos projetos sociais no sentido redutos importantes que minimizam às mazelas inerentes da pobreza.

A situação entra em evidência nos países em subdesenvolvimento, por exemplo, cujo processo de favelização surge de forma exponencial, periférica e sem controle, o que possibilita vivenciar os surgimentos de projetos e programas embasados em ONGs, Organizações Não-Governamentais, que tem por objetivo contribuir para o crescimento social

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do país. Os impactos causados por essas entidades têm promovido à geração de renda, como no caso das cooperativas, e emprego, bem como auxiliam na plena consciência do ser humano enquanto cidadão, permitindo que o mesmo ultrapasse a linha da marginalização.

No que diz respeito à educação e a cultura, que são formas fundamentais de apropriação do conhecimento, a Constituição preza que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” (BRASIL, 1988, art. 215). Dessa forma, entende-se que a biblioteca, assim como a escola, é fonte de apropriação do conhecimento e referência de cultura. No escopo da biblioteca no Brasil, pode-se citar suas classificações de acordo com o SNBP - Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (2018) como: biblioteca pública, biblioteca escolar, biblioteca nacional, biblioteca universitária, biblioteca especializada, biblioteca/centro de referência e a biblioteca comunitária.

O modelo atual da sociedade é excludente. Nesse aspecto, as bibliotecas comunitárias surgem com o objetivo de suprir a carência informacional provocada pela ineficiência educacional e cultural oriunda do Estado. A biblioteca comunitária promove a democratização da informação em lugares de difícil alcance governamental. Em detrimento ao que foi observado, ainda pode-se dizer que na chamada “sociedade da informação” existem muitos pessoas “desinformadas”. Jesus reitera,

Na chamada sociedade da informação, ainda existem pessoas desinformadas, não pela opção de não quererem fazer parte desse processo, mas porque se veem privadas do direito de participação. Isso se deve ao fato de que a informação só está acessível a quem pode pagar por ela, pois a informação está contida em suportes informacionais como: Internet, livros, revistas, etc., cujo valor ultrapassa o poder aquisitivo de grande parcela da população. (JESUS, 2011, p. 2-3).

Nesse cenário, os profissionais de bibliotecas comunitárias atuam a fim de proporcionar uma articulação entre a leitura e a comunidade local, acreditando que é na construção do conhecimento que se dá o desenvolvimento humano e social.

Esse artigo é dedicado à compreensão da atuação do bibliotecário (como mediador, gestor, mediador e educador) em projetos sociais e a importância de tais projetos para o desenvolvimento social que contribui com a diminuição das desigualdades e carências que compõem o quadro atual da comunidade inserida. Sendo assim, o objetivo específico desse

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trabalho é apresentar considerações sobre as ações desenvolvidas no projeto Semeando Grãos de Mostarda, e seus esforços para promover a inclusão e integração para os moradores da região de Itaoca e proximidades.

2 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA

As bibliotecas comunitárias ascenderam e começaram a ter mais visibilidade no Brasil nas últimas décadas. Os diferentes tipos de biblioteca se dão de acordo com as suas funções, a sua comunidade e pelo vínculo institucional que esta possui. O termo "biblioteca comunitária" ainda causa bastante embaraço, pois a discussão sobre o tema é escassa na literatura.

É interessante perceber que a biblioteca comunitária surge como um poder subversivo de um coletivo, uma forma de resistência contra-hegemônica, de quase enfrentamento social, numa nova realidade, que escapa das medidas e das categorias descritivas existentes, passando praticamente despercebida pela academia. (MACHADO, 2008, p. 51).

As bibliotecas comunitárias não possuem vínculo direto com o Estado. Ou seja, são unidades mantidas para e pela sociedade, sem vínculos com a esfera governamental e costumam ser criadas por algum morador, associação, Organização Não-Governamental ou igreja local. Outra característica bem comum que se percebe é que, normalmente, estas bibliotecas surgem em lugares periféricos dos centros urbanos, justamente na intenção de suprir as dificuldades ou a falta de acesso aos suportes informacionais como livros e revistas. Além disso, Machado (2008) aponta uma outra diferença nas bibliotecas comunitárias: sua forma de atuação é mais ligada a ação cultural do que aos serviços de processamento técnico. Deve-se lembrar que muitos desses espaços são geridos por cidadãos comuns, sem o recurso de um bibliotecário.

Os bibliotecários como líderes de um projeto como este, tem de ter em mente que muitos dos que moram em áreas marginalizadas, desconhecem diversos dispositivos culturais, já que nunca foram ao cinema, ao teatro, ao museu ou tiveram acesso à leitura (BOTELHO, 2012) e que esse espaço é um instrumento de mudança que propicia lazer, conhecimento e informação.

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Os líderes, principalmente os que mantêm bibliotecas em áreas com concentração de pessoas sem o aprendizado da palavra escrita, preocupam-se com um fazer não excludente, demonstram na prática que a biblioteca pode ser mais do que distribuidora de um acervo impresso (mesmo valorizando o livro como componente principal da biblioteca). (SILVA, 2012, p. 16).

Por isso, a ação cultural é tão valorizada nesse meio. Devido a importância que se dá a disseminação de informação, considerando que, ainda que os livros sejam o principal objeto, não são a única forma de agregar conhecimento.

Segundo Botelho (2012, p. 61), as principais habilidades/conhecimentos listados por gestores de bibliotecas comunitárias foram:

 Ter um bom relacionamento com a comunidade;  Trabalhar em equipe;

 Possuir boa comunicação interna e externa;  Articular-se em rede;

 Participar de fóruns de leitura;

 Realizar ou proporcionar mediação de leitura;  Administrar e organizar a biblioteca;

 Elaborar relatórios de planejamento e avaliação;  Elaborar, avaliar e executar projetos.

Portanto, não basta só tornar a informação disponível. Há a necessidade de se fazer disponível a fim de tornar a informação compreensível. O bibliotecário se coloca nesse cenário também como um educador/mediador sendo coadjuvante na formação de opinião, respeitando as diferentes formas de expressão cultural, os níveis de escolaridade, os níveis socioeconômicos, e os desgastes emocionais. Assim, pode-se relacionar o conceito "educação bancária" de Paulo Freire (1987) em contraposição ao conceito de "educação libertadora" nesse contexto, pois o bibliotecário é o profissional mediador da informação. É ele quem se coloca entre a pobreza e a obrigatoriedade estatal e auxilia no fomento de formas de apropriação do conhecimento de modo que os beneficiados passem a ter consciência dos direitos e deveres. Adquirindo assim, a consciência crítica, libertadora das opressões que comporta a marginalização.

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O Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão A tela e o texto lista à que se propõe uma biblioteca comunitária:

 empréstimos domiciliares;  pesquisas;

 atividades culturais (voltadas para a integração cultural e social da comunidade);

 atividades escolares.

Além disso, esses espaços também podem oferecer cursos de aperfeiçoamento para os moradores locais, auxílio na emissão de documentos e orientação quanto à outros assuntos burocráticos. A diversificação de serviços e atividades nas bibliotecas comunitárias pode ser uma forma de:

 atrair diferentes grupos de forma mais espontânea e menos rigorosas;

 valorizar a comunidade, na medida em que promove a integração social e reafirma valores sociais compartilhados;

 trabalhar o empoderamento (como força para obter meios de mudar fatos e costumes que causam as desigualdades) da sua comunidade (GUEDES, 2011; MACHADO, 2008).

Sendo assim, o papel dos bibliotecários e das bibliotecas comunitárias é de atuar como transformador social à cidadania trabalhando em função de uma coletividade e, para o funcionamento deste espaço socioeducativo, tem-se a necessidade de adequar outros serviços para além dos trabalhos tradicionais de uma biblioteca.

3 METODOLOGIA

No que concerne às reflexões dedicadas à compreensão da importância da biblioteca comunitária para o desenvolvimento socioeconômico da nação, bem como à sua abordagem, a pesquisa será qualitativa, como elucida Ludke (1986, p. 99), pois “tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento”. Quanto a natureza, será de caráter exploratório com base nas experiências das autoras como voluntárias, pois, segundo Ludke (1986, p. 13), “envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no

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contato direto do pesquisador com a situação estudada". O embasamento teórico se dará a partir da leitura de artigos e livros que convergem para temática da importância das bibliotecas comunitárias.

4 PROJETO SEMEANDO GRÃOS DE MOSTARDA

O projeto Semeando Grãos de Mostarda é um projeto social sem fins lucrativos que sobrevive unicamente das doações de voluntários e não recebe ajuda governamental. Perifericamente localizado em três comunidades: Fazenda dos Mineiros, Itaoca e Porto do Rosa, no município de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro. A Comunidade de Itaoca é formada por uma população extremamente carente e este projeto propicia assistência mediante educação e cultura aos ex-catadores do Lixão de Itaoca.

O Semeando Grãos de Mostarda atua junto à comunidade há 18 anos e tem por primazia contribuir para a inclusão social através de atividades educacionais e culturais que desenvolvem a capacidade de inserção das crianças e adultos no contexto social, de modo que sua identidade social seja respeitada em sua dignidade plena. Logo, o público alvo das atividades do projeto são, especificamente, as 300 crianças assistidas e suas respectivas famílias. Seu objetivo é auxiliar e estimular os usuários para que se tornem indivíduos capazes de conquistar sua autonomia e construir um modelo de vida mais feliz, pois, sobrevivem esquecidas pelo Poder Público. O projeto oferece seus préstimos sociais com amplitude em vários seguimentos como:

Educação

o Aulas de reforço para crianças que apresentam dificuldades de aprendizado. o Curso de alfabetização de adultos.

Cultura

o Aulas de teatro para que possam fortalecer as atividades psicomotoras e intelectuais de maneira a inseri-las dentro do contexto social.

o Aulas de música para as crianças, com a criação do grupo Os Mostardinhas, que motivam a sociabilidade e autodisciplina.

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o Aula de dança.

o Trabalho de ações culturais com temática de relevância social.

o Oficinas de Leitura para as crianças promovendo o seu desenvolvimento intelectual na Biblioteca Cora Coralina.

o Oficinas de poesias.

Promoção Social

o Serviço de Assistência odontológica e Psicológica.

o Palestras informativas a fim de instruir as famílias acerca de saúde como DSTs, amamentação, vacinação, controle de natalidade.

o Profissionalização com aulas de informática.

o Atividades artesanais para as mães a fim de promover recursos financeiros para suas sobrevidas.

o Distribuição de cestas básicas, fraldas e roupas.

4.1 BIBLIOTECA CORA CORALINA

No início do projeto Semeando Grãos de Mostarda, observou-se o total descaso com a literatura por parte dos moradores. Na época do Lixão, os livros e demais impressos que chegavam ao aterro sanitário eram tidos como produtos de reciclagem sem que jamais pudessem interpretar as informações contidas e seus significados. Então, percebeu-se a necessidade de fundar uma biblioteca comunitária na sede do projeto. O nome da mesma, Cora Coralina, foi por meio de votação dos moradores após explicitar alguns autores da literatura brasileira.

O primeiro passo foi o estudo de usuário e diagnóstico de sua comunidade de potenciais leitores. O diagnóstico organizacional é uma radiografia da situação de uma organização em determinado momento, a fim de se verificar o funcionamento de seu sistema de gestão. Pode ser realizado em um contexto geral, como também especificamente com relação aos processos realizados dentro da instituição. Através do diagnóstico, são obtidas informações que servirão de auxílio para a implementação de medidas que mitigarão ou

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solucionarão problemas verificados e também para o incremento de novas ações objetivando o desenvolvimento e a melhoria dos serviços prestados.

O processo sistematizado, com tempo e espaço definidos, de avaliação de serviços em organizações. [...] Consiste numa intervenção na rotina da organização, usando conceitos e métodos das ciências sociais para avaliar o estado da organização num determinado momento. Seus objetivos específicos são: identificar pontos fracos e fortes na estrutura e no funcionamento da organização; compreender a natureza e as causas dos problemas ou desafios apresentados; descobrir formas de solucionar esses problemas; e melhorar a eficiência e a eficácia organizacionais. (ALMEIDA, 2005, p. 53).

Para que haja a elaboração de um projeto de ação cultural dessa magnitude, que permita melhor interação com a comunidade, faz-se necessário observar alguns aspectos de suma relevância como planejamento/políticas/gestão, que incluem também infraestrutura, tecnologia, acervo, produtos/serviços, marketing e recursos humanos. Dos problemas avistados foram: ausência de financiamento público, o baixo índice de escolaridade, tipo de acervos doados desatualizados, diversidade de público e poucos voluntários. Relacionado ao último item, a higienização dos acervos e colagem das fichas catalográficas deu-se com auxílio dos moradores, depois de treinados, cabendo às voluntárias de Biblioteconomia a avaliação e catalogação após os processos de aquisição. De acordo com Maciel e Mendonça (2006, p. 17), deve-se identificar os procedimentos como “estudo da comunidade, políticas de seleção, aquisição, desbastamento e descarte e avaliação”. Dessa maneira, permitirão uma visão completa do desenvolvimento de coleções em uma biblioteca comunitária.

5 DADOS E RESULTADOS

Percebeu-se que as unidades de informação têm se desenvolvido bastante, apesar das dificuldades. Não é tarefa fácil destacar-se perante a globalização e a tecnologia da informação e dispor rapidamente de instrumentos que a façam se ressaltar, pois requer planejamento, inovação e avaliação frequentes, já que precisam agradar um público cada vez mais heterogêneo, que lida com as informações de modo diversificado, afinal “no atual ambiente social em que as bibliotecas ou serviços de informação se inserem, alguns fatores

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são fundamentais: inovação, qualidade, agilidade e atenção ao cliente, estão com certeza entre os principais” (BELLUZZO, 2009, p. 26).

No contexto da biblioteca Cora Coralina, foi possível perceber que para que a gestão fosse produtiva era importante saber da necessidade dos usuários e a interação com a comunidade para a tomada de decisão. A gestão de um projeto em uma unidade de informação só é viável a partir de uma análise criteriosa dos pontos fracos e fortes visando à execução eficaz.

A infraestrutura, sua sede, foi construída na entrada do projeto para que a comunidade pudesse ter acesso imediato. Seu espaço era uma antiga varanda. Quanto à tecnologia, a ausência de recursos para aquisição e manutenção de equipamentos não alterou o pleno funcionamento da mesma. No que diz respeito ao seu acervo, é composto por 1.600 livros de literatura infanto-juvenil e literatura diversa, além de DVDs, jornais e revistas. A divulgação para aquisição do acervo foi em redes sociais como Facebook e Whatsapp. Para o comparecimento dos usuários, a divulgação foi por meio da propagação informal através das relações com a comunidade, conhecido popularmente como “boca a boca”, bem como cartazes espalhados. O serviço é ofertado para os bairros do Fazenda dos Mineiros, Itaoca e Porto do Rosa de forma voluntária e com o envolvimento das comunidades. Por fim, os recursos humanos deram-se por meio de trabalho voluntário das bibliotecárias, dos demais voluntários e por meio dos próprios frequentadores da biblioteca.

As atividades desenvolvidas pela biblioteca, além dos empréstimos, são trabalhos de ações culturais com atendimento em média de 80 crianças por empreitada. Além das temáticas em voga na sociedade como racismo, respeito pelas diferenças, direito da mulher e saúde (todas visando a apropriação literária). As atividades de ação cultural constituem um excelente estimulante para a comunidade local e os livros utilizados pertencem à própria biblioteca. As temáticas das atividades são construídas por meio de reuniões com os voluntários e desenvolvidas com assuntos que estão em alta nas discussões da sociedade. Em suma, as ações culturais realizadas no projeto são:

A Hora do Conto e o Museu do Conto que tem por objetivo abrir as portas da fantasia como as atividades sobre folclores e seus personagens.

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Álbum de Figurinhas e a Hora do Autor e Pintor tem por função fazer os usuários conhecerem pintores, escritores nacionais como a atividade de ação cultural sobre Tarsila do Amaral (pintora) e de Monteiro Lobato (autor).

Oficina musical dos Mostardinhas, que tem por objetivo a inclusão social por meio da música.

Oficina de Poesia Os Mostardas que permite a apropriação psíquica-emocional das crianças e dos adultos.

Aulas de Dança e apresentação teatral compõem parte importante dentro do escopo das atividades do projeto como apresentação do Auto de Natal e danças com músicas do Gonzaguinha. Tudo ensaiado dentro da biblioteca.

Tais ações culturais são desenvolvidas pelas bibliotecárias voluntárias e por demais voluntários tendo bastante sucesso junto à comunidade. Neste contexto, o livro passou a ser visto como fonte de informação e entretenimento, e o buscam com devida necessidade. De acordo com Campos et al. (2014, p. 9), “o papel social do bibliotecário como agente de transformação social, não só pode como deve mudar a realidade da comunidade a qual está inserida, preservando e respeitando os valores e crenças e a sua cultura”, acreditando que a construção da cidadania está relacionada às questões de acesso e uso da informação.

Por fim, o presente estudo permitiu ofertar uma gama de reflexões sobre a importância de uma biblioteca comunitária dentro de um contexto onde a esfera pública não alcança, e que possa contribuir de maneira efetiva para a inclusão social.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No sentido de garantir a cidadania, em especial a educação e a cultura, cujas ineficiências nas políticas públicas do Estado tornam-se cada dia mais alarmantes, muitos brasileiros têm promovido iniciativas salutares no terceiro setor com o objetivo de contribuir com o exercício dos direitos básicos do cidadão no desenvolvimento socioeconômico. Neste aspecto, a criação de bibliotecas comunitárias, tem apresentado valorosa contribuição, minimizando o distanciamento de acesso à leitura. Compreendeu-se, no presente artigo, que a atuação do bibliotecário como mediador dos projetos sociais é de vital importância, pois tem

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expertise para entender as necessidades dos usuários, propiciando, além do desenvolvimento de atividades de ações culturais, a função de instigar e fortalecer os hábitos de leitura fomentando o diálogo intercultural. Trata-se de uma posição que vai além da mediação cultural. A elaboração de um projeto que vise à construção de uma biblioteca comunitária, a priori, deve respeitar a interação com a comunidade local promovendo o nível máximo participativo bem como conhecer a perfil do usuário. Necessário, além do diagnóstico organizacional, que haja observância no planejamento, infraestrutura, tecnologia, acervo, produtos/serviços, marketing e recursos humanos. Dito isto, o trabalho apresentou um projeto de relevância social que tem contribuído para a apropriação cultural para junto à sociedade.

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