Reflexões Sobre o Ensino Médio
O ensino médio que temos e o ensino médio que queremos
O que não funciona e precisa mudar?
Modelo
• Falta diálogo com alunos e professores ainda são vistos como únicos detentores do saber;
• Alunos conformados, acomodados, passivos, sem perspectiva, que não se identificam e nem sabem por que estão na escola;
• Foco no vestibular e no ensino superior e limitação nas possibilidades de escolha e nos diferentes projetos de vida.
Clima escolar e relações
• Comportamento nocivo e intolerância no ambiente escolar (bullying e preconceito); • Relacionamento entre adultos e estudantes ainda permeado por indiferença, sem visão
sobre o ser humano.
Metodologias
• Falta uma didática que garanta um papel mais ativo aos alunos e que abra espaço para análise e produção de conhecimento.
Organização e infraestrutura
• Ambiente “positivista”, com carteiras enfileiradas, sirene e uniforme.
Que tipos de conhecimentos os estudantes desejam?
Conhecimentos para atingir seus objetivos e interesses
• Conhecimentos gerais básicos, com a possibilidade de aprofundamento em áreas de seus interesses;
• Conhecimentos conectados com a vida dentro e fora da escola;
• Aprender a aprender, bem como saber a lógica por trás das matérias e ter a possibilidade de questionar o currículo e os métodos.
O que os estudantes querem aprender?
Política: a Constituição Federal, o funcionamento das instituições e das leis;
Consciência crítica: filosofia, sociologia, economia, educação financeira, artes, culturas,
ciências (física, química, biologia);
Socioemocionais: habilidades interpessoais, apoio psicológico e técnicas para
administração do tempo;
Diversidade e respeito às diferenças: questões de gênero e orientação sexual, etnias e
racismo, xenofobia e religiões;
Formação do povo brasileiro: maior aprofundamento sobre a história e herança africana e
indígena para desconstruir estereótipos;
Idiomas além do inglês: outras línguas do Brasil (tupi guarani, yorubá, dialetos africanos,
Libras);
Formação técnico-profissional: reflexão vocacional com foco no desenvolvimento de
perspectivas para o futuro (a partir do 1º ano) e cursos técnicos ou preparatórios opcionais com respeito a escolhas individuais (a partir do 2º ano);
Consciência corporal: sexualidade, bem-estar e saúde.
Como os jovens querem aprender?
• Aulas práticas, atividades em laboratórios e projetos; • Rodas de conversa, compartilhamentos e debates; • A partir da experiência de vida do professor;
• Por meio de jogos, desafios e gincanas; • Trabalhos em grupo e seminários;
• Palestras de pessoas de fora da escola, principalmente sobre profissões; • Pesquisas científicas e feiras de ciências;
• Atividades artísticas , shows de talentos e feiras culturais.
Em que ambiente os jovens querem aprender?
Espaços temáticos: locais que tenham relação com o que se está aprendendo;
Nova hierarquia: horizontalidade entre professores e alunos, mais interação entre grupos e corresponsabilização;
Nova organização: desconstrução, mistura de séries, atividades conjuntas, outros agrupamentos (por temas, ideias, projetos, áreas de conhecimento);
Infraestrutura: construções de qualidade, equipamentos modernos e funcionais, menos grades, espaços mais abertos, atraentes, confortáveis, coloridos, mobiliários flexíveis para permitir várias organizações da sala de aula;
Clima: ambiente mais ético e propositivo;
Gestão democrática: decisões coletivas, escuta e participação dos estudantes, mais força e incentivo para os grêmios.
Quais são as preocupações dos jovens?
• Como o ENEM irá se alinhar ao Novo Ensino Médio? • Como garantir a viabilidade a implementação?• Como os professores vão aceitar e se adequar à mudança? • Como mudar a formação inicial dos professores?
• Como evitar que a mudança amplie desigualdades entre escolas que têm mais e menos recursos?
• Como assegurar que escolas públicas com menos recursos promovam itinerários atrativos e de qualidade?
Quais as nossas sugestões?
• Estudantes deve ter visão inicial de suas vocações e dos itinerários disponíveis antes de fazer suas escolhas;
• O planejamento para a construção dos itinerários deve levar em conta a capacidade da escola, as parcerias disponíveis, o contexto em que a escola está inserida e a escuta dos estudantes;
• Gestores e equipes escolares precisam receber formação para saber como montar e implementar seus currículos e itinerários;
• Secretarias precisam monitorar e apoiar a implementação, especialmente as escolas com maior dificuldade;
• Itinerários que permitam aulas eletivas para o aprofundamento de conhecimentos, tanto em componentes das áreas como em outros assuntos não necessariamente ligados a elas;
• Itinerários devem ter foco na produção de conhecimento, mais aulas práticas (e não só teoria), principalmente no de matemática, de maneira a se diferenciar da parte comum a todos;
• Oferecimento de orientação psicológica dentro da escola com foco no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e do projeto de vida;
• Formação inicial e continuada de professores que os prepare a ter uma atitude mais aberta e empática com os alunos; que os permita diversificar as metodologias de ensino (incluindo o uso de tecnologia) e consigam oferecer uma formação integral;
• Reformular o Enem para adequá-lo à BNCC;
• Permitir incentivo técnico e financeiro do governo ou de parcerias com a iniciativa privada governo para que escolas com menos recursos possam oferecer itinerários. Como critério, deve-se preservar a autonomia escolar e o foco na formação mais humana, crítica e ética;
• Educação a distância restrita à oferta de formações que a escola não dê conta de oferecer presencialmente, mas sempre mediadas por um professor presencial.
Pontos positivos:
Visão geral:
• Articulação dos componentes curriculares com temas atuais. Quando bem articulados entre si, fazem mais sentido para o estudante;
Matemática:
• Foco no entender e aplicar o conhecimento para resolver problemas;
Linguagens:
• Muito relacionada à vida e interesses dos jovens, possui conhecimentos organizados por campos de atuação social;
Ciências Humanas e Sociais:
• Foco na análise crítica, problematização e busca de solução;
• Busca desenvolver capacidade de autoconhecimento, o papel social do estudante e da sociedade de forma contextualizada, a partir da ética e da participação cidadã;
Ciências da Natureza:
• Apresenta habilidades relacionadas ao cotidiano.
Pontos negativos:
Visão geral:
• Algumas competências são mais complexas e podem não se concretizar na prática
Matemática:
• Por ser obrigatório e isolado e outros componentes, não traz tanta mudança ou flexibilização;
• Não consegue relacionar tanto os conhecimentos com o mundo real;
• Na habilidade MAT406, o foco deveria ser na lógica de programação (pensamento computacional) e não nos comandos da programação;
Ciências Humanas/Sociais e Ciências da Natureza:
• A maioria dos professores não têm o hábito de conversar entre si para compartilhar experiências e articular seus componentes curriculares.
Desafios para implementação:
• O engajamento a formação dos professores;• A dificuldade dos estudantes se reconhecerem seu papel, uma vez que não participaram das discussões e pela ausência das questões de gênero;
• Estrutura física da escola não provê condições para que a BNCC aconteça da forma prometida;
• O Brasil é muito grande e será difícil assegurar implementação homogênea em todo território;
• Propostas para apoiar a implementação; • Regime de colaboração entre União e estados; • Fomento e disseminação de casos de sucesso;
• Elaboração de planos estaduais eficientes para garantir a viabilidade técnica e financeira.
Este documento apresenta propostas feitas por integrantes do Conselho Jovem do Porvir.
Ele foi elaborado após a participação dos estudantes em audiências públicas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), em Florianópolis e Fortaleza, e em uma reunião privada com membros do CNE (Conselho Nacional de Educação), que aconteceu no dia 12 de setembro de 2018, em Brasília (DF), a convite do
Movimento pela Base Nacional Comum Curricular.
Participaram do encontro em Brasília um representante de cada região do país: Tamires Costa, de Porto Alegre (RS), Túlio Fogagnoli, de Rio das Ostras (RJ), Caio Henrique, de Recife (PE), Jaíra Lima, de Porto Velho (RO) e Yasmin Mireli, de Cuiabá (MT). Os membros do CNE presentes na reunião foram Eduardo Deschamps,Chico Soares, Aurina de Oliveira Santana, Ivan Cláudio Pereira Siqueira e Nilma Santos Fontanive.