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ABUNDÂNCIA DE SARDINHA POR TODA A COSTA PORTUGUESA

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES DE PRODUTORES DA PESCA DO CERCO

ABUNDÂNCIA DE SARDINHA POR TODA A COSTA PORTUGUESA

Pescadores portugueses entendem que o parecer do ICES para 2020 não pode

ignorar esta grandiosa realidade, cuja visibilidade diária se estende por toda a costa

portuguesa, de Caminha a Vila Real de Santo António.

Com o argumento de ter sido atingido o limite fixado, foi anunciado em Diário da República a proibição da captura, manutenção a bordo e descarga de sardinha a partir do próximo sábado, dia 12 de outubro de 2019. Em jeito de balanço a ANOPCERCO apresenta a sua análise do ano de 2019 e as perspetivas que se colocam para o próximo ano.

Em 2019, os pescadores conviveram com muita sardinha no mar

Como todos sabemos, nos últimos anos a pesca da sardinha em Portugal tem estado sujeita a severas medidas de gestão que, no corrente ano de 2019, apenas permitiram o início da atividade no passado dia 3 de junho. Ao longo destes pouco mais de quatro meses de atividade fomos

transmitindo com regularidade ao governo e ao IPMA a permanente constatação da enorme abundância de sardinha que era diariamente avistada por toda a nossa frota em todas as zonas costeiras que eram frequentadas pelas embarcações de pesca de norte a sul do País.

Ao longo destes quatro meses fomos também alertando para a sistemática vastidão e enorme dimensão da sardinha T4 (Petinga – juvenis de sardinha, com tamanho comercial) que era avistada pelas nossas embarcações. Esta sardinha com cerca de um ano de idade, foi uma permanente companhia da nossa frota de cerco entre os portos de Figueira da Foz e de Matosinhos, estendendo-se atualmente até Viana do Castelo.

Também ao longo destes quatro meses solicitámos ao Senhor Secretário de Estado das Pescas que diligenciasse todos os seus esforços para garantir um bom acompanhamento científico desta

permanente realidade de abundância de sardinha, em particular de juvenis, que foi verificada

pelas nossas embarcações. Infelizmente não temos conhecimento de qualquer acompanhamento científico relevante concretizado pelo IPMA, fosse pela manifestação da sua intenção de colocar observadores a bordo das traineiras que pudessem acompanhar in loco essa abundância, fosse pela realização de reuniões com as organizações e os seus pescadores para melhor compreender a vastidão da dimensão nacional do stock da sardinha diariamente visualizado pela nossa frota, garantindo assim uma boa monitorização da sua evolução e abundância.

Toda esta fartura de sardinha na costa portuguesa verificada nestes quatro meses de 2019 pelos nossos pescadores é facilmente comprovável pelo movimento diário de desembarque nos principais portos de sardinha do nosso país.

A colocação de sardinha à venda em todas as nossas lotas foi bastante regular, embora a sua

dimensão global não seja muito elevada porque esteve fortemente condicionada pelas limitações muito restritivas que foram aplicadas à pesca da sardinha ao longo destes 4 meses. Para além do início ter sido apenas em 3 de junho, não é demais relembrar que a partir de 25 de julho foi proibido capturar sardinha nas quartas feiras, reduzindo a apenas quatro dias a

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atividade semanal e que os limites diários de captura autorizados por embarcação foram os mais reduzidos de sempre na história da pesca da sardinha em Portugal.

Esta forte convivência diária, durante quatro meses, com uma enorme abundância de sardinha em toda a costa portuguesa teve associada algumas especificidades regionais que passamos a descrever:

a) Na zona norte do País foram e estão a ser observadas vastíssimas áreas de concentração de juvenis de sardinha com um ano de idade, áreas essas que se estendem por dezenas e dezenas de milhas entre Figueira da Foz e Matosinhos, seja junto à costa seja em zonas de maior profundidade. Os níveis de abundância são de tal forma elevados que a grande maioria dos mestres desta zona do país garante convictamente não ter qualquer paralelo nas últimas duas décadas.

b) Relativamente à área entre o Cabo Carvoeiro (Peniche) e a Barra do Rio Tejo, a simples listagem do grande número de embarcações nacionais que, em junho e em julho, por razões de mercado e de maior valorização da sardinha, concentraram a sua atividade no porto de Peniche, bem como o registo em lota da regularidade das suas capturas e do tamanho da sardinha desembarcada, é suficiente para validar a grande concentração de biomassa de sardinha de maiores dimensões que toda aquela área tem evidenciado nos últimos anos e que está a ser sistematicamente confirmada por todos os cruzeiros de avaliação científica recentemente realizados.

c) A costa ocidental portuguesa a sul da Barra do Tejo, e que inclui os portos de Sesimbra Setúbal e Sines manteve uma forte disponibilidade de sardinha, com tamanhos maioritariamente próximos das 18 peças por quilo. Esta abundância conduziu a uma atividade regular na captura de sardinha, interrompida pelos momentos em que a disponibilidade de cavala, e a rentabilidade daí resultante, justificou uma maior concentração da frota na pesca dirigida à cavala.

d) Em relação ao Algarve, uma das regiões mais afetada pela diminuição da disponibilidade de sardinha nos últimos anos, armadores e pescadores são unânimes em garantir que este ano o recurso recuperou bastante, e em reconhecer que não têm memória recente de um ano com tanta fartura de sardinha como o corrente ano de 2019. Sobre esta grande abundância na costa algarvia salienta-se o facto de ser maioritariamente com classe de idade entre 1 e 2 anos, ou seja, tamanhos que validam os excelentes recrutamentos verificados em 2017 e em 2018, conforme as campanhas científicas PELAGO 2018 e ECOCADIZ 2018 tinham já evidenciado.

As recentes campanhas científicas validaram a abundância do recurso

Os cruzeiros de investigação científica realizados nos últimos três anos, destinados a avaliar a biomassa de sardinha nas águas atlânticas da Península Ibérica, são muito claros sobre a significativa melhoria da quantidade de sardinha adulta existente nas águas atlântico ibéricas. Anualmente, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e o Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO) realizam cruzeiros de avaliação da abundância de recursos pelágicos nas águas ibéricas, utilizando para o efeito os seus navios de investigação.

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Os dados a seguir apresentados estão associados a essas campanhas de investigação realizadas nos últimos três anos e são claramente elucidativos sobre a franca melhoria do estado do recurso

sardinha, que passou de 103.853 toneladas avaliadas em 2017, para 223.541 toneladas no corrente ano de 2019, ou seja, um aumento de 115% nestes dois anos.

O franco crescimento da biomassa de sardinha com mais de um ano de idade (B1+) avaliada pelas campanhas científicas de 2018 e de 2019 e a consolidação de dois recrutamentos muito positivos verificados nos últimos dois anos na costa sul da zona IXa, conjugada com a grandeza do recrutamento atualmente observado na Costa Ocidental Norte permite-nos facilmente concluir que:

 a produtividade de sardinha nos dois últimos anos tem sido bastante elevada,

 estes dados muito positivos, por serem recentes, não foram tidos em conta pelo ICES no Grupo de Trabalho que apoiou a elaboração do seu último parecer, e, portanto,

a conclusão apresentada pelo ICES sobre a sardinha estar num regime de baixa produtividade é totalmente desajustada da realidade atual do stock de sardinha nas águas ibéricas, em particular nas águas portuguesa da zona IXa. Entretanto, entre os dias 9 e 25 de setembro de 2019, os dois institutos de investigação desenvolveram nova campanha de investigação na costa ocidental da península ibérica, denominada IBERAS/JUVESAR, com o objetivo prioritário de avaliar o recrutamento das espécies pelágicas e que contou com a colaboração de uma embarcação de cerco portuguesa. Desta colaboração obtivémos a confirmação da grande quantidade de juvenis de sardinha que, particularmente na zona ocidental norte, foi rastreada pelo Navio de Investigação espanhol denominado “Angeles Alvarino”.

A ANOPCERCO está consciente da extrema importância dos dados científicos que foram obtidos nesta campanha de investigação conjunta do IPMA e do IEO e que agora vão ser trabalhados para

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integrarem o Relatório Final deste cruzeiro, que estará disponível antes do final do corrente mês de outubro.

Estamos também conscientes da importância deste Relatório para a reunião do WGHANSA 2019 em Madrid, entre 25 e 28 de novembro e para a elaboração do parecer do ICES sobre a pesca da sardinha no ano de 2020, cuja divulgação está prevista para 11 de dezembro de 2019. É importante relembrar que o principal argumento utilizado pelo ICES para justificar a mudança da data de divulgação do parecer anual de julho para dezembro, passou exatamente pela possibilidade de poder integrar as realidades mais recentes do stock obtida justamente com os dados deste e de outros cruzeiros de outono.

As perspectivas para 2020

Como já salientámos, o Grupo de Trabalho do ICES para o Biqueirão, a Sardinha e o Carapau (WGHANSA), reunirá em Madrid, Espanha, de 25 a 28 de novembro de 2019 para, entre outros assuntos, construir as bases do parecer para 2020 relativo à sardinha da zona 8c e 9a estando prevista a sua publicação em 11 de dezembro, da responsabilidade do Advisory Committee do ICES.

Neste momento em que os pescadores portugueses são confrontados com a imposição de uma nova interdição da pesca, afirmamos, sem sombra de qualquer dúvida, que esta proibição

coincide com a existência de muita sardinha nas nossas águas, diariamente comprovada pelas

nossas traineiras. Assim os pescadores e as suas organizações estão totalmente confiantes em que todas estas melhorias, também já reconhecidas pela comunidade científica, sejam validadas pelo ICES e transpostas para a recomendação para 2020, apontando para possibilidades de pesca mais

condizentes com a melhoria do estado do recurso nas águas ibero atlânticas e, portanto,

superiores às quantidades irrisórias que foram definidas para 2018 e para 2019.

Assim, é com muita curiosidade que aguardaremos pelas respostas às seguintes questões:

De que forma é que o ICES vai integrar a boa qualidade de todos as campanhas científicas realizadas em 2018 e em 2019, nos seus trabalhos do WGHANSA a realizar em Madrid no final de novembro e no parecer a publicar em dezembro deste ano?

Dados os bons níveis de produtividade de sardinha que as campanhas científicas de 2018 e de 2019 evidenciaram e estão a evidenciar, como é que o ICES vai reverter a sua recente decisão de ter determinado o regime de baixa produtividade para a sardinha ibérica?

A qualidade das respostas a estas duas questões será determinante para a definição das possibilidades de pesca de sardinha em 2020, associado à validação de uma regra de exploração devidamente enquadrada com esta dinâmica de sucessivo crescimento do recurso sardinha. Da nossa parte, e confortados com todos os dados positivos que as recentes campanhas científicas estão a demonstrar, sentimo-nos cada vez mais identificados com a conclusão do Grupo de Trabalho do ICES sobre o Plano de Gestão da Sardinha Ibérica que afirma que “a regra

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ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES DE PRODUTORES DA PESCA DO CERCO M ortalidade por pesca F Capturas tons PT 66,5% ES 33,5% 0 0,0000 Até 112 942 0,0000 - - -112 943 0,0710 8 019 5 333 2 686 148 695 0,0756 11 244 7 477 3 767 154 354 0,0763 11 785 7 837 3 948 180 140 0,0808 14 554 9 678 4 876 200 000 0,0822 16 449 10 939 5 510 223 541 0,0853 19 066 12 679 6 387 269 958 0,0913 24 642 16 387 8 255 300 000 0,0952 28 549 18 985 9 564 B lim 337 448 0,100 33 745 22 440 11 305

HARVEST CONTROL RULE 6

Biomassa com mais de um ano B1+ B1+ entre 112.943 e 337.448 tons F evolui linearmente de 0,071 até 0,100

recuperação do Plano de Gestão da Sardinha Ibérica, o critério de precaução a longo prazo do ICES e a manutenção da atividade da pesca.” ICES SCIENTIFIC REPORTSWKSARMPConclusões Pág. 76

O que é que significa a HCR6

O ICES realizou em Lisboa, entre os dias 1 e 5 de abril deste ano a reunião de um Grupo de Trabalho denominado WKSARMP que teve como único objetivo a avaliação da regra de exploração do Plano de Gestão da Sardinha Ibérica apresentado à União Europeia pelos Governos de Portugal e de Espanha em janeiro de 2018.

O Grupo de Trabalho do ICES concluiu que a regra de exploração inicial do Plano não era suficientemente precaucionaria e, em alternativa, avançou com uma nova regra

de exploração (HCR6) que, no seu

entender, assegura a total recuperação do

recurso sardinha nos próximos anos e responde positivamente aos apertados critérios de precaução que o ICES estabelece para as suas recomendações.

A regra de exploração tem como ponto de partida a avaliação da biomassa com mais de um ano (B1+), e, em função da sua dimensão, procede-se ao cálculo da mortalidade por pesca (F) associada a essa biomassa.

Deste modo se, por exemplo, o ICES validar a biomassa de sardinha dos cruzeiros de primavera B1+ =223.541 toneladas, a mortalidade por pesca será de 0,0853, que irá significar uma possibilidade de pesca em 2020 na ordem das 19.066 toneladas de sardinha para Portugal e para Espanha.

Nunca é demais salientar que é especialmente do interesse dos pescadores que o stock de sardinha recupere o mais rapidamente possível para os níveis desejáveis de sustentabilidade, em sintonia com os objetivos da União Europeia. Os pescadores portugueses de sardinha estão desde 2015 a condicionar a sua atividade e a pôr em prática medidas muito restritivas que estão a produzir resultados muito positivos. A grande quantidade de sardinha que vai ficar no mar após a nossa paragem no próximo dia 12 é a garantia que esse objetivo será rapidamente alcançado.

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