ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2040193-38.2014.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante ANTONIO LUIZ JOSÉ DE CARVALHO, é agravado OSWALDO MULLER.
ACORDAM, em 34ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GOMES VARJÃO (Presidente), NESTOR DUARTE E ROSA MARIA DE ANDRADE NERY.
São Paulo, 5 de maio de 2014.
Gomes Varjão RELATOR Assinatura Eletrônica
Comarca: SÃO PAULO – FORO CENTRAL – 17ª VARA CÍVEL Agravante: ANTONIO LUIZ JOSÉ DE CARVALHO
Agravado: OSWALDO MULLER
VOTO Nº 23.370
Locação de imóvel. Há relação de prejudicialidade entre a ação de despejo por falta de pagamento e a ação de consignação em pagamento de alugueis, relativas ao mesmo período e que somente não podem ser reunidas para julgamento conjunto porque se encontram em diferentes graus de jurisdição (Súm. 235, STJ). Assim, impõe-se a suspensão do despejo, pelo prazo máximo de um ano, como determinado pelo Juízo a quo. Exegese do art. 265, IV, “a” e § 5º, do CPC.
Recurso improvido.
Trata-se de agravo de instrumento tirado contra decisão que, em ação de despejo por falta de pagamento, por considerar que há relação de prejudicialidade com ação de consignação em pagamento em trâmite perante a 40ª Vara Cível, extinta sem resolução de mérito e que se encontra em grau de recurso, suspendeu o processo pelo período de um ano, com fundamento no art. 265, IV, “a” e § 5º, do CPC, ou até o julgamento da referida apelação (fls. 7/8).
Alega o agravante, em suma, que não há relação jurídica pendente de julgamento que possa causar prejuízo ao réu, pois a via por ele escolhida não é adequada à solução do litígio, tanto que a ação consignatória foi extinta por falta de interesse de agir, entendendo
o magistrado que o devedor sabe a quem pagar, deseja pagar o valor integral da prestação e o credor não se recusa a receber o aluguel. Sustenta que a ação de consignação em pagamento, na qual nem foi citado, não serve para compelir o locador a providenciar reparos no imóvel. Afirma que a consignação só tem lugar nas hipóteses do art. 335 do Código Civil, que não estão presentes no caso. Aduz que o recurso de apelação tem remotas chances de sucesso, haja vista a ausência de justo motivo para a consignação. Por isso, requer a reforma da r. decisão agravada, para que se determine o prosseguimento da ação de despejo.
Recebido o recurso no efeito devolutivo (fl. 51) e contrariado (fls. 54/56), a lide está em termos para julgamento.
É o relatório.
Segundo a dicção do art. 265, I, “a”, do CPC, deve ser suspendo o processo quando a sentença de mérito “depender
do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente”. Nos termos do § 5º do referido dispositivo, o
período de suspensão nunca poderá exceder um ano, período ao fim do qual, julgada ou não a outra demanda, o juiz mandará prosseguir o feito então sobrestado.
Na hipótese dos autos, em que se encontra pendente de julgamento recurso de apelação interposto na ação de consignação em pagamento ajuizada pelo agravado, de fato há relação de prejudicialidade a autorizar a suspensão do despejo na forma determinada pelo Juízo a quo. Isso porque a causa de pedir desta demanda é precisamente o inadimplemento de locativos, cujo
pagamento, de outro lado, é o que se busca na ação consignatória, de modo que eventual procedência daquela pode fazer ruir a pretensão do agravante.
Ademais, como ressaltado pelo i. magistrado singular, ambas as ações se referem ao mesmo período e o locatário vem depositando mensalmente o valor dos alugueis e encargos, de modo que “Se acolhida a pretensão consignatória, não haverá
inadimplemento por parte do locatário, sendo improcedente o despejo. Se rejeitada a pretensão consignatória, a mora estará devidamente
comprovada, autorizando o despejo. Evidente, assim, a
prejudicialidade”.
Registre-se que a situação não seria a mesma se fosse outro o fundamento da ação de despejo, como a retomada para uso próprio. Nesse exemplo, pouco importaria o resultado da ação consignatória, porquanto a causa de pedir do despejo não seria por ela afetada. Tratando-se de demanda fundada no inadimplemento de alugueis, porém, a solução da lide instaurada pelo locatário é relevante e pode, eventualmente, obstar a pretensão de decreto do despejo, pela não caracterização do descumprimento contratual, como acima explicitado.
Confiram-se, a propósito do tema, precedentes desta E. Corte:
Agravo de instrumento. Locação. Ação de despejo por falta de pagamento. Concessão liminar do despejo, nos termos do artigo 59, §1º, IX, da Lei 8.245/91. Requisitos. Ausência. Ajuizamento anterior, pelo locatário, de ação de consignação em pagamento,
com deferimento dos depósitos nos autos.
Prejudicialidade externa. Caracterização. Ademais, não se verifica qualquer ausência de pagamento, o
que não legitima o despejo liminar sob esse fundamento. Reconhecimento. Liminar revogada. Recurso provido.
(32ª Câmara de Direito Privado, Agravo de Instrumento nº 2001718-47.2013.8.26.0000, Rel. Des. ROCHA DE SOUZA, j. 18.07.2013)
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS - DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO C.C. COBRANÇA DE ALUGUÉIS E
ENCARGOS E POR INFRAÇÃO LEGAL E
CONTRATUAL E AÇÃO CONSIGNATÓRIA -
PREJUDICIALIDADE - CONEXÃO - REUNIÃO DOS PROCESSOS - POSSIBILIDADE - RECURSO NÃO PROVIDO. A ação de despejo por falta de pagamento tem como sustentáculo o inadimplemento de contrato de locação que, em ação precedente, é objeto de discussão em juízo diverso em ação de consignação. Evidente, assim, a conexão das ações, porquanto é notória a prejudicialidade entre esta e aquela primeira e, em sendo a consignatória precedente, de se reconhecer a prevenção do juízo a que esta última foi distribuída.
(31ª Câmara de Direito Privado, Agravo de Instrumento nº 0182676-67.2010.8.26.0000, Rel. Des. PAULO AYROSA, j. 08.06.2010)
Até se poderia cogitar da reunião dos processos para julgamento conjunto, a fim de evitar decisões conflitantes.1 Ocorre
que uma das ações já foi julgada em primeiro grau e encontra-se em âmbito recursal, circunstância que impede a providência, a teor do que dispõe a Súmula 235 do STJ.
Por derradeiro, observo que não cabe adentrar ao mérito das chances de sucesso da apelação interposta pelo agravado. Para a suspensão, basta que haja possibilidade de reversão do julgamento de primeiro grau.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso.
1 Esta Col. Câmara reconhece a existência de conexão entre ações de despejo por
falta de pagamento e de consignação em pagamento de alugueis (cf., inter plures, AI nº 1.124.703-00/7, Rel. Des. NESTOR DUARTE, j. 12.11.2007).
É meu voto.
Des. GOMES VARJÃO Relator
