Sumaya Persona de Carvalho
Departamento de Psicologia, PROEG/CPA/UFMT
sumayapersona@ufmt.br
Era uma vez uma joaninha que nasceu sem
bolinhas...
Por isso, ela era diferente. As outras joaninhas
não davam „bola‟ pra ela. Cada qual com suas
bolinhas, viviam dizendo que ela não era
joaninha.
A joaninha ficava triste, pensando nas bolinhas
e no que poderia fazer... Comprar uma capa
de bolinhas? Ou, quem sabe, ir embora para
longe, muito longe dali?
Ela pensava e pensava...
Sabia que não seriam as bolinhas que iriam
dizer se ela era uma joaninha verdadeira ou
não. Mas as outras joaninhas não pensavam
assim...
Então, ela resolveu não dar mais importância
ao que as outras joaninhas pensavam e
continuou sua vida de joaninha sem
bolinhas...
Até que um dia, as joaninhas reunidas
resolveram expulsar do jardim aquela que
para elas não era uma joaninha!
Sabendo que era uma autêntica joaninha,
mesmo sem bolinhas, teve uma ideia...
Contou tudo para o besouro preto, que é
parente distante das joaninhas. Decidiram ir à
casa do pássaro pintor e contaram a ele o
que estava acontecendo.
O pássaro pintor, então, teve uma ideia. Pintou
com capricho o besouro, que ficou parecendo
uma joaninha de verdade...
E lá se foram os dois para o jardim: a joaninha
sem bolinhas e o besouro disfarçado.
No jardim ninguém percebeu a diferença. E
com festa receberam a nova joaninha.
A joaninha sem bolinhas, que a tudo assistia
de cima de uma folha, pediu um minuto de
atenção e, limpando a pintura que disfarçava
o besouro preto, perguntou:
- Quem é a verdadeira
joaninha?
Proponho que, tal como o besouro e o pássaro
pintor, nós (professores ou não) façamos uma
aliança (quase cumplicidade) com a
joaninha-sem-bolinhas, para que ela tenha espaço
para ser e espaço para provar que sendo uma
“verdadeira” joaninha (com ou sem bolinhas)
é sempre capaz de aprender... e de ensinar.
Lígia Amaral: Histórias da exclusão – e de inclusão – na rede pública. Educação em debate. SP, Casa Psicólogo, 1997.
Por muitos anos e pelas mais variadas
razões, sujeitos com necessidades
especiais não chegavam ao ensino
superior, razão pela qual sua
presença hoje nesse espaço social
pouco foi discutida no passado
mobilizando hoje pré-conceitos e
mitos que a história se incumbiu de
cristalizar.
Entretanto, essa realidade vem se
alterando...
Um exemplo é este momento!
...que evidencia a preocupação em se
discutir também a educação especial
como uma das diversidades
constitutivas da população brasileira.
Apresentar aspectos das condições
de acessibilidade no interior da
UFMT, no
campus
de Cuiabá.
Equipe da pesquisa
Eliza Moura Pereira Silva Mariane Cristine Baicere Queiroz
Curso de Pedagogia, UFMT
Maria Madalena Simões Sumaya Persona de Carvalho
C
onhecer os aspectos da estrutura física
dos espaços externos da UFMT (
campus
Cuiabá) sob o amparo dos documentos
legais de acessibilidade e de direitos
humanos.
Decreto N° 5.296 (2004)
ABNT NBR 9.050 (2004)
O Decreto n° 5.296 de 02/12/2004
“Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de
novembro de 2000, que dá prioridade de
atendimento às pessoas que especifica, e
10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.”
Conforme Decreto n° 5.296, a
acessibilidade
é“condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida”.
De acordo com a ABNT,
acessibilidade
“a possibilidade e condição de
alcance, percepção e entendimento
para a utilização com segurança e
autonomia de edificações, espaço,
mobiliário, equipamento urbano e
elementos”.
De acordo com a ABNT,
acessível
“espaço, edificações, mobiliário,
equipamento urbano ou elemento
que
possa
ser
alcançado,
acomodado, utilizado e vivenciado
por qualquer pessoa, inclusive
aquelas com mobilidade reduzida.
O termo acessível implica tanto
acessibilidade física como de
comunicação.”
De acordo com a ABNT,
adaptável
“espaço,
edificação,
mobiliário,
equipamento urbano ou elemento
cujas características possam ser
alcançadas para que se torne
acessível.”
De acordo com a ABNT,
adaptado
“espaço,
edificação,
mobiliário,
equipamento urbano ou elemento
cujas características originais foram
alteradas
posteriormente
para
serem acessíveis.”
De acordo com a ABNT,
adequado
“espaço,
edificação,
mobiliário,
equipamento urbano ou elemento
cujas
características
foram
originalmente
planejadas
para
serem acessíveis.”
De acordo com a ABNT,
barreiras
arquitetônicas, urbanística ou ambiental
“qualquer
elemento
natural,
instalado ou edificado que impeça a
aproximação,
transferência
ou
circulação no espaço, mobiliário ou
equipamento urbano.”
“Inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao desfrutamento e exercício dos direitos humanos. Dentro do campo da educação, isto se reflete no desenvolvimento de estratégias que procuram promover a genuína equalização de oportunidades.”
Decreto nº 5296 de 02/12/2004
Art. 24. Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários.
§ 1o Para a concessão de autorização de
funcionamento, de abertura ou renovação de curso pelo Poder Público, o estabelecimento de ensino deverá comprovar que:
I - está cumprindo as regras de
acessibilidade arquitetônica, urbanística e na comunicação e informação previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica ou neste Decreto;
II - coloca à disposição de professores,
alunos, servidores e empregados portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida ajudas técnicas que permitam o acesso às atividades escolares e administrativas em igualdade de condições com as demais pessoas; e
III - seu ordenamento interno contém
normas sobre o tratamento a ser dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qualquer tipo de discriminação, bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas.
“A ideia é fomentar a implantação de programas e projetos de ensino, pesquisa e extensão que ampliem as oportunidades educacionais das pessoas com deficiência no contexto das Instituições Federais de Educação Superior (IFES).
O INCLUIR ainda contempla verbas para reformas de cunho estrutural (adaptações dos espaços físicos: elevadores, rampas, etc.) e compra de recursos tecnológios, tais como: computadores, impressoras Braille, softwares
especiais, lupas, etc.” (MIRANDA, 2007, p. 126).
Neste movimento, a UFMT, com a iniciativa da PROEG e apoio do Núcleo de Inclusão e Educação Especial (NIEE), realizou um mapeamento para analisar a equidade de acesso e permanência das pessoas com deficiência. Esse estudo visou também direcionar os esforços para criar melhores condições de acessibilidade para todos.
A pesquisa de campo foi realizada ao longo dos meses de outubro e novembro do ano de 2009 e resultou num mapeamento fotográfico
do campus e seus principais acessos externos,
identificando não só as principais barreiras arquitetônicas presentes na universidade, mas também os avanços.
Foram mapeados os espaços de acessos à UFMT desde os blocos das faculdades e institutos, até os prédios da reitoria, biblioteca central, restaurante universitário, museu Rondon do Índio, parque aquático, quadras, zoológico, ginásio, centro cultural, ADUFMAT, teatro, entre outros.
Rampas de acesso à calçada. Vagas reservadas para cadeirantes no estacionamento do bloco de Direito.
Como resultado das análises dos ambientes acadêmicos, propomos ações que articulem e envolvam todas as pró-reitorias, afinal, as barreiras arquitetônicas podem ser facilmente superadas por meio de reformas e adaptações da estrutura física. No entanto, as atitudinais, por serem intrínsecas
aos sujeitos, exigem procedimentos mais complexos de superação, que, por sua vez, requerem mudanças de concepções e, portanto, a conscientização por parte das pessoas.
A entrada no ensino superior é, possivelmente, um marco na vida do indivíduo e, logo, precisa ser assegurada não apenas por pilares edificais, mas, principalmente, por planejamentos e ações que garantam sua permanência na universidade.
“A diferença não é só compatível com o ser humano como é sua própria condição” (PINO, 2007, p.62)
Tudo isso não parece óbvio?
Já que é tão óbvio, por que há tanto preconceito e
discriminação?
Como dizia Darcy Ribeiro, lá pelos idos da década de 1970,
quando a sombra da ditadura militar obscurecia as nossas escolas e as nossas universidades...
“Acho mesmo que os cientistas trabalham é com o óbvio. Aparentemente, Deus é muito treteiro, faz as coisas de forma tão recôndita e disfarçada que se precisa desta categoria de gente – os cientistas – para ir tirando os véus, desvendando, a fim de revelar a obviedade do óbvio. O ruim deste procedimento é que parece um jogo sem fim. De fato, só conseguimos desmascarar uma obviedade para descobrir outras mais óbvias ainda.” (Ribeiro 1978, p.09)
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Norma Brasileira 9.050. 2.ed. Rio de Janeiro: [s.m], 2004. 97p.
BERNARDES, Lúcia Helena Garcia. Subjetividade: Um objeto para psicologia comprometida com o social. Coleção História da Psicologia no Brasil. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2007.
BRASIL. Decreto Nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Disponível em
<WWW.planalto.gov.br/ccivil/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em 25 de agosto de 2010.
___________. Projeto Lei 2905 de 2004. Disponível em
<http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/51165.html>. Acesso em 20 de setembro de 2010. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Política e Prática em Educação Especial. Disponível em <
WWW.cedipod.org.br/salamanc.htm >. Acesso em 25 de agosto de 2010.
DISCHINGER, Marta; MACHADO, Rosângela. Desenvolvendo ações para criar espaços escolares
acessíveis. Inclusão – Revista da Educação Especial, Brasília, ano 2, n.02, p. 36-39, agosto/2006. MIRANDA, Theresinha Guimarães. A inclusão de pessoas com Deficiência na Universidade In JESUS,
Denise Meyrelles de at. AL. (orgs). Inclusão, Práticas Pedagógicas e Trajetórias de Pesquisa. Porto Alegre: Mediação/ Prefeitura Municipal de Vitória/ CDV/FACITEC, 2007.
PIZZI. L.C.V.; FUMES, N. F. (orgs). Formação do pesquisador em Educação: identidade, diversidade, inclusão e juventude. Maceió: EDUFAL, 2007.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Inclusão – Revista de Educação Especial. Brasília, v.4, n.1, p.7-17, jan/junh. 2008. Edição Especial.
RIBAS, João Baptista Cintra. O que são pessoas deficientes. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1983.