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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 7174/2003-4

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 7174/2003-4

Relator: PAULA SÁ FERNANDES Sessão: 28 Abril 2004

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: CONFIRMADA

TRANSFERÊNCIA LOCAL DE TRABALHO

TRABALHO SUPLEMENTAR

Sumário

No sector de prestação de serviços de vigilância, porque o local de trabalho pressupõe, como característica da própria actividade de vigilância, a

rotatividade dos postos de trabalho, só é considerada como mudança de local de trabalho, no âmbito dessa rotatividade, a mudança do local de prestação que determine acréscimo de tempo ou despesas de deslocação para o

trabalhador.

Texto Integral

Acordam na Secção Social do Tribunal do Trabalho de Lisboa

(A), intentou a presente acção emergente de contrato individual de trabalho, sob a forma comum, contra

Transegur – Transportes de Valores e Serviços de Segurança, LDª , com sede em Rua Francisco Sousa Coutinho, n.º 4 B, em Lisboa, pedindo:

«Seja declarada a legitimidade e recusa do autor em ser transferido definitivamente para outro local de trabalho, anulando-se a ordem de transferência dada pela ré e condenar-se esta a pagar-lhe a quantia de

9.031,37 euros, já vencida e quantias vincendas até decisão final, acrescida de juros de mora à taxa legal desde 19 de Junho de 2002 até integral

pagamento.»

Alegou, em síntese, que trabalha por conta da ré, sob sua direcção e

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fiscalização, desde 4 de Janeiro de 1988, com a categoria de vigilante, tendo, até 1991, prestado as suas funções nas instalações da Sonadel, sitas em Sobralinho (Alhandra). Em Dezembro de 1991 foi transferido, com o seu acordo tácito, para as instalações da BP, sitas no Parque de Santa Iria de Azóia, seu local de trabalho, com excepção do período que mediou entre Janeiro e Março de 1999, prestando o seu trabalho no Metropolitano - Ameixeira.

Em 24 de Janeiro de 2002, recebeu uma ordem verbal comunicando-lhe a decisão da ré em o transferir para as instalações da Teixeira Duarte, sitas no Estaleiro de Vale Figueira em São João da Talha, tendo o autor informado o seu superior que não dava o seu acordo à transferência, por falta de motivo e por lhe acarretar prejuízo, tendo ainda solicitado que tal decisão lhe fosse comunicada por escrito, o que veio a suceder.

A ré não lhe pagou as despesas de transporte para as instalações do

Metropolitano e o acréscimo do tempo de percurso, no período compreendido entre Janeiro a Março de 1999, bem como o pagamento de 1232 horas de trabalho suplementar no valor de 4.274 €, e o descanso compensatório pelo trabalho suplementar prestado (905,31 €) e o acréscimo médio mensal do valor do trabalho suplementar prestado (1.000,79 €).

A ré na contestação impugnou os factos alegados pelo autor e concluiu que a transferência para a BP foi ordenada dentro dos seus poderes de direcção, sendo o actual local de prestação de trabalho do autor nas instalações da Teixeira Duarte em São João da Talha.

A distância da residência do autor para a BP e para a Teixeira Duarte, sensivelmente igual (cerca de 6 km) mas para lados opostos, sendo ambas servidos por transportes públicos directos, não resultando prejuízo para o autor; sendo que o mesmo nunca comunicou que tinha problemas de saúde, nem que a esposa lhe levava as refeições, contudo, nas instalações da Teixeira Duarte os trabalhadores da ré têm à sua disposição instalações próprias com uma pequena cozinha totalmente equipada onde podem confeccionar ou preparar a respectiva refeição.

Não é devida qualquer retribuição ao autor por se encontrar a faltar

injustificadamente ao trabalho, tendo a ré instaurado processo disciplinar com vista ao seu despedimento com justa causa.

Realizada a audiência de discussão e julgamento, foi proferida sentença final que decidiu nos seguintes termos :

“Face ao exposto, julgo a presente acção proposta por (A) contra Transsegur - Transporte de valores e serviços de segurança, parcialmente procedente,

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condenando a ré no pagamento ao autor da quantia global de 926,75 €

(novecentos e vinte e seis euros e setenta e cinco cêntimos), à qual acrescem juros à taxa legal anual desde a citação até integral pagamento, absolvendo-a a ré dos demais pedidos formulados pelo autor e não considerando legítima a recusa do autor em ser transferido para outro local de trabalho.”

O autor, inconformado, interpôs recurso de Apelação.

(...)

CUMPRE APRECIAR E DECIDIR

I - As questões suscitadas nas conclusões de recurso, que delimitam o seu objecto, ao abrigo dos art.s 684, n.º3 e 690, n.º1 do CPC, são as seguintes a saber :

1. Se é ou não legitima a ordem de transferência de local de trabalho dada pela recorrida ao recorrente e, consequentemente, ilegítima a recusa deste em ser transferido para outro local de trabalho ;

2. Se o autor, no período entre Janeiro e Março de 1999, tem direito ao

pagamento dos acréscimos de tempo das deslocações, fixando-se o respectivo quantitativo em conformidade com o peticionado;

3. Pagamento do trabalho suplementar.

II - Fundamentos de facto

Após a discussão da causa foram dados como provados os seguintes factos : 1. 0 autor trabalha por conta da ré, sob sua direcção e fiscalização desde 4 de Janeiro de 1988, com a categoria profissional de vigilante;

2. No período compreendido desde a data mencionada em A. Dezembro de 1991, o autor prestou as suas funções de vigilância nas instalações da Sonadel, sitas em Sobralinho (Amadora);

3. Em Dezembro de 1991, o autor foi transferido, com o seu acordo tácito, para as instalações da BP Portuguesa, sitas no Parque de Santa Iria de azóia, seu local de trabalho desde então, com excepção do período de tempo de

Janeiro a Março de 1999, em que teve como local de trabalho as instalações do Metropolitano na Ameixoeira;

4. Nas instalações da BP o autor cumpria um horário de trabalho a tempo completo, em regime de três turnos rotativos, das 8h às 16h, das 16h às 24h e das Ohm às 8h, separados por dois dias de descanso;

5. 0 autor auferiu, no ano de 2002, o vencimento base de 534,71 € acrescido de subsídio de trabalho nocturno no valor de 59,37 € e de subsídio de

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alimentação no valor de 4,51€ diários, conforme documentos de fls. 21 e 22,;

6. À relação de trabalho existente entre autor e ré é aplicável o CTT para o Sector das Empresas de Vigilância e Segurança, publicado no BTE n.º 4; de 29-01-1993, com PE, publicada no BTE n.º 13, de 08-04-1993, com as

posteriores alterações e tabelas salariais;

7. 0 autor é filiado no Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas, Profissões Similares e Actividades Diversas - STAD;

8. Em 24-01-2002 o autor recebeu uma ordem verbal e escrita proveniente do controlador de zona operacional, 0 Sr. António Rocha, comunicando--Ihe a decisão de o transferir para as instalações da Teixeira Duarte, sitas no Estaleiro do Vale Figueira, em São João da Talha;

9. 0 autor continuou a exercer as suas funções no seu local de trabalho

habitual, até que, em 30 de Janeiro de 2002, foi impedido pela ré de aceder ao seu local e posto de trabalho e de aí exercer as suas funções;

10. Foi-lhe transmitido, na data referida em L, pelo Sr. (A) que se deveria apresentar no dia seguinte nos estaleiros da Teixeira Duarte em São João da Talha, no horário das 8h às 16h;

11. 0 autor esteve impossibilitado de comparecer ao serviço, por doença de 31 Janeiro a 18 de Junho de 2002, tendo apresentado os respectivos atestados médicos à ré, conforme documento de fls. 25;

12. Em 19-06-2002, o autor apresentou-se na BP em Santa Iria de Azóia, tendo sido impedido de aceder ao seu local de trabalho pelo supervisor da ré, Sr. (B), situação que se manteve nos dias seguintes;

13. 0 STAD remeteu à ré a carta junta a fls. 24, não tendo obtido resposta daquela;

14. 0 autor, comunicou à ré, por carta registada de 11-03-2002, que se

continuaria a apresentar na BP, em Santa Iria de Azóia, conforme documento junto a fls. 25;

15.0 autor recebeu da ré, em Junho de 2002, duas cartas, datadas de 07.06.2002 1,18-06-2002, conforme documentos de fl. 26 e 27;

16 0 local de trabalho nas instalações da BP em Santa Iria de Azóia situa-se próximo da residência habitual do autor;

17 0 autor sofre de patologia gástrica, conforme documento junto a fls. 28, o que o obriga a cuidados especiais com a alimentação;

18. 0 autor é um profissional e pessoa bem vista e estimada pelo cliente da ré, a BP Portuguesa;

19. A ré continua a manter na BP Portuguesa, os colegas do autor que ali trabalhavam há pelo menos dois anos;

20. 0 autor propôs em 15-07-2002, procedimento cautelar comum contra a ré,

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que correu termos sob o n.º 242/02, 40 Juízo 2ª Secção deste tribunal, tendo sido julgada improcedente e indeferido o requerido por decisão proferida em 06-08-2002, conforme autos em apenso;

21. 0 autor despendeu em transportes - passe social L-12, 90.68 €,

decorrentes da mudança de local de trabalho da BP, em Santa Iria de Azóia, para as instalações do Metropolitano, sitas em Ameixoeira, em Lisboa, conforme documentos de fls. 29/30;

22. 0 autor prestou 173 horas de trabalho suplementar entre 22-01.1999 e 30-01-2002, conforme documento de fls. 31 a 67;

23. A BP dedica-se à comercialização e distribuição de combustíveis líquidos e gasosos e outros derivados de petróleo;

24. Na sequência dos atentados de “11 de Setembro" nos EUA a BP entendeu que devia ser mais rigorosa quanto à segurança das suas instalações;

25. E promoveu reuniões com os representantes da ré e dos vigilantes que lá prestavam serviço;

26. Nessas reuniões a BP deu a conhecer que uma das medidas de segurança a adoptar era a rotatividade dos vigilantes, não permitindo que lá

permanecessem mais tempo, pelo que deviam ser substituídos periodicamente, a começar pelos mais antigos.

27. Numa reunião realizada em 23-10-2001 o autor questionou os

representantes da ré e o superintendente da BP para a área da segurança, mantendo esta a rotatividade periódica dos vigilantes que prestavam serviço em Santa Iria de Azóia;

28. 0 autor era o vigilante mais antigo na BP;

29 . Em 01-11-2001, a BP enviou à ré o fax junto a fls. 83;

30 . Como a substituição do autor não foi feita a BP enviou à ré novo fax datado de 23-01-2002, conforme documento junto a fls. 84;

31. A ré destinou ao autor, como local de trabalho, as instalações da Teixeira Duarte em Vale de Figueira, São João da Talha, conforme documento de fis.82;

32. Por o autor não ter acatado a ordem de transferência referida em DD., a ré repetiu-a por escrito em 02-01-2002, conforme documento junto a fls. 85;

33. A ré solicitou a comparência do autor na BP no dia 17-06-2002 para ser desocupado o armário que lhe estava distribuído, conforme documento de fls.

86 ;

34. 0 autor não compareceu nem enviou mandatário de sua confiança pelo que o armário foi desocupado com arrolamento dos bens, conforme documento de fls. 87;

35. Foi indicado ao autor o horário que iria praticar, o qual, após o estágio e folga, passaria a ser por turnos rotativos de 8h com 2 dias de descanso por

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semana, como acontecia na BP;

36. A colocação do autor foi feita por ordem da ré;

37 . A distância da residência do autor para a Sonadel era de cerca de 12 km;

38. A distância da residência do autor para a BP e para a Teixeira Duarte é de cerca de 6 km, mas em sentidos opostos;

39 . Ambas são servidas por transportes públicos directos;

40 . 0 tempo de percurso para a Teixeira Duarte é de 8 a 10 minutos e processa-se

por boas vias de acesso, em situação semelhante ao que sucedia quanto à BP;

41. 0 autor não comunicou à ré que tinha problemas de saúde ou que a esposa lhe levava as refeições;

42. Nas instalações da Teixeira Duarte, os vigilantes da ré têm à sua disposição instalações próprias com uma pequena cozinha totalmente equipada, onde podem confeccionar ou preparar as refeições;

43. O que não sucedia na BP;

44. As remunerações mensais e valor hora são, respectivamente, em:

i. 1999: 97.750$00/563$94 ii. 2000: 100.000$00/576$92;

iii. 2001: 104.000$00/600$00;

iv. 2002: 534,71€/ 3,08 €. l,/

45. A ré pagou ao autor a título de trabalho suplementar e feriados (remido a dinheiro) em 1999, 470.581$00, em 2000, 234.403$00 e em 2001 -343.796

$00.

46. A ré concedeu ao autor 3 dias de folga em espécie no ano de 2000 e 2 dias em 2001.

III - Fundamentos de Direito

Como se referiu, a 1ª questão a apreciar é a de saber, se é ou não legitima a ordem de transferência de local de trabalho dada pela recorrida ao recorrente e, consequentemente, ilegítima a recusa deste em ser transferido para outro local de trabalho ;

O recorrente veio alegar que a recorrida ordenou a sua transferência para outro local de trabalho unilateralmente, sem o informar de maneira mais ou menos circunstanciada das razões da transferência, de molde a permitir ao recorrente a apreciação da legitimidade e justeza da medida da transferência e a adequação às razões invocadas.

Na verdade, o local de trabalho é um conceito fundamental na relação laboral, pois que : - determina o lugar do cumprimento das obrigações contratuais do trabalhador, assim, por exemplo, se o trabalhador oferecer a sua prestação

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em lugar diverso do estabelecido há incumprimento do contrato; - fixa o âmbito geográfico onde a entidade empregadora pode, em regra, exercer os seus poderes de direcção e disciplinar; - é igualmente importante para o trabalhador organizar a sua vida familiar e social, sendo, ainda, relevante na caracterização do acidente de trabalho, cfr. resulta do art. 6 da Lei n.º 100/97 .

E, porque constitui um elemento essencial para a estabilidade da relação laboral e do emprego, a lei consagra o princípio geral da inamovibilidade no art. 21/e) da LCT, apenas comportando os desvios consagrados no art. 24 do mesmo diploma legal, que só permite a mudança do trabalhador para outro local, salvo estipulação em contrário, se essa transferência não causar prejuízo sério ao trabalhador ou se resultar de mudança total ou parcial do estabelecimento onde aquele presta serviço – n.º1 do art. 24 da LCT

Esta ausência de prejuízo sério para o trabalhador, a que se refere aquele normativo legal, deve ser apreciada em função das circunstâncias do caso concreto cabendo à entidade patronal o ónus da prova da inexistência do prejuízo sério, por constituir pressuposto do direito a mudar o local de trabalho do trabalhador, cabendo, contudo, ao trabalhador alegar as

circunstâncias de facto que integram esse prejuízo, isto é, as circunstâncias daquilo que é fundamental na sua vida e em que medida ficará afectado; com este entendimento na jurisprudência, sobre a repartição dos ónus de prova e alegação , vide Acs do STJ, e de 26.5.93 In CJ Tomo 3º pág. 308 , e de 24.3.99 , In AD , 455, 1487, na doutrina vide Prof. Júlio Gomes, em RDES, ano 33

n.º1/2 Janeiro7 Junho, de 1991 pág. 77 a 127, «Algumas considerações sobre a transferência dos trabalhadores ...»

Mas, se a transferência resultar de mudança total ou parcial do

estabelecimento a lei reconhece ao trabalhador o direito a rescindir o contrato e a receber um indemnização, salvo, também, se entidade empregadora

provar que da mudança não resulta prejuízo sério ao trabalhador - n.º 2 do art.

24 da LCT

Sendo por definição o local de trabalho o correspondente ao sítio onde o trabalhador deve concretizar a prestação a que se encontra obrigado, não deixa de ser um conceito relativamente indeterminado a que está associada a natureza da prestação do trabalho em causa, pois se é fácil perceber que, por exemplo, um empregado de escritório tenha o seu local de trabalho no

estabelecimento ou nas instalações da empresa, já o local de trabalho de um vendedor depende da área percorrida na prestação do trabalho.

No caso vertente, tratando-se de um trabalhador do serviço de vigilância e face às características especiais das suas funções, que pressupõem a sua não habituação ao sítio vigiado, o conceito de local de trabalho encontra-se

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definido na Cl 14 do CCT aplicável, (Convenção Colectiva de Trabalho para o Sector das Empresas de Vigilância e Segurança, publicado no Boletim do Trabalho e Emprego n.º 4, de 29-01-1993 com Portaria de Extensão, publicada no mesmo boletim, n.º 13, de 08-04-1993, com as posteriores alterações e tabelas salariais ) que dispõe, sobre o local de trabalho do pessoal de

vigilância, que “o local de trabalho é o sítio geograficamente convencionado entre as partes para a prestação da actividade pelo trabalhador; sendo que a estipulação de local de trabalho não impede a rotatividade dos postos de trabalho característica da actividade de vigilância, sem prejuízo de tal

rotatividade ser entendida como mudança de local de trabalho nos termos e para os efeitos da cláusula seguinte ( 15ª)”

A cláusula seguinte veio consignar um regime especial para a mudança do local de trabalho, começando logo por a definir no seu n.º1 , nos seguintes termos:

“"Entende-se por mudança de local de trabalho, para os efeitos previstos nesta cláusula, toda e qualquer mudança de local da prestação de trabalho, ainda que na mesma cidade, desde que determine acréscimo de tempo ou despesas de deslocação para o trabalhador”

Assim, pela conjugação do disposto nestas duas cláusulas, no caso dos trabalhadores do serviço de vigilância, o local de trabalho pressupõe a rotatividade de postos de trabalho, dado ser essa uma característica na actividade de vigilância, e como tal só é considerado como mudança do local de trabalho, no âmbito dessa rotatividade, a prestação do trabalho que

determine acréscimo de tempo ou despesas de deslocação para o trabalhador.

Vejamos, então, se, no caso vertente, a mudança do local da prestação de trabalho das instalações da BP, no Parque de Santa Iria da Azóia, para as instalações da Teixeira Duarte, em Vale da Figueira, São João da Talha, implicaria esse acréscimo de tempo ou despesas para o autor.

Resultou provado que :

- A distância da residência do autor para a BP e para a Teixeira Duarte é de cerca de 6 km, mas em sentidos opostos;

- Ambas são servidas por transportes públicos directos;. 0 tempo de percurso para a Teixeira Duarte é de 8 a 10 minutos e processa-se por boas vias de acesso, em situação semelhante ao que sucedia quanto à BP;. 0 autor não comunicou à ré que tinha problemas de saúde ou que a esposa lhe levava as refeições;

- Nas instalações da Teixeira Duarte, os vigilantes da ré têm à sua disposição instalações próprias com uma pequena cozinha totalmente equipada, onde podem confeccionar ou preparar as refeições;

- O que não sucedia na BP.

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Destes factos provados facilmente se pode concluir que a mudança do local da prestação do trabalho do autor das instalações da BP para as da Teixeira

Duarte não determinou qualquer acréscimo de tempo de deslocação como não fez acrescer quaisquer despesas ao trabalhador.

Na verdade, consoante os referidos factos, a distância da residência do autor para a BP e para a Teixeira Duarte é de cerca de 6 km, mas em sentidos

opostos, sendo ambas servidas por transportes públicos directos e o tempo de percurso para a Teixeira Duarte é de 8 a 10 minutos e processa-se por boas vias de acesso, em situação semelhante ao que sucedia quanto à BP.

Igualmente, nas instalações da Teixeira Duarte, os vigilantes da ré têm à sua disposição instalações próprias como uma pequena cozinha totalmente

equipada, onde podem confeccionar ou preparar as refeições, o que não sucedia na BP.

Não se provou, assim, qualquer prejuízo sério causado ao autor, não sendo suficiente fundá-lo na doença que sofre, patologia gástrica, que, segundo alega, o obriga a cuidados especiais com a alimentação, dado nunca ter comunicado à ré tal problema de saúde ou que a esposa lhe levava as

refeições, sendo certo que as condições nas instalações da Teixeira Duarte a esse nível, confecção de refeições, também são superiores.

Em síntese, as condições de vida do trabalhador não se modificaram para pior, a distância do novo local de trabalho é similar e as condições concretas do novo local são melhores.

Deste modo, ao abrigo do n.º1 da Cl 15, a mudança do lugar de prestação de trabalho do autor determinada pela ré, não configura qualquer mudança do local de trabalho, dado ser permitida e desejada a rotatividade dos lugares onde os trabalhadores vigilantes prestam a sua actividade e no caso não ter determinado acréscimo de tempo ou despesas de deslocação para o

trabalhador.

Assim, a sentença recorrida decidiu correctamente ao considerar legítima a ordem da ré no sentido de mudar o local de prestação de trabalho do autor das instalações da BP para as instalações da Teixeira Duarte.

Analisemos, agora, a 2ª questão, a de saber se o autor tem direito ao pagamento dos acréscimos de tempo das deslocações, no período compreendido entre Janeiro a Março de 1999, fixando-se o respectivo quantitativo em conformidade com o peticionado

O recorrente, no tocante ao pedido formulado relativamente ao pagamento das despesas mensais de transportes para as instalações do metropolitano na Ameixoeira e ao acréscimo do tempo de percurso respectivo, no período de Janeiro a Março de 1999, discorda da decisão proferida, na medida em que

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tendo condenado a recorrida a pagar o valor dos passes sociais L-12- 90, no montante de 68 euros, decorrente da mudança, não a condenou no pagamento correspondente aos acréscimos de tempo ( de ida e regresso do local de

trabalho superior a 40 minutos,) gastos com a deslocação para o novo local de trabalho, ao abrigo n.º 5 da cl.15 do CCT aplicável

Mas, o recorrente não tem razão, pois não provou que, quando esteve colocado no Metro na Ameixoeira, tenha tido acréscimo de tempo de

transportes superior a 40 minutos, tal como alegou no artigo 38 da petição inicial, sendo certo que o acréscimo de tempo de transporte superior a 40 m, não constitui, contrariamente ao por si alegado, qualquer facto notório, pois no âmbito do art. 514 do CPC, apenas, são de considerar como factos notórios os que são do conhecimento geral ou aqueles de que o tribunal tenha

conhecimento por virtude do exercício das suas funções, o que não se passa com o facto em questão.

Assim, não tendo o autor provado que, quando esteve colocado no Metro da Ameixoeira, teve o acréscimo de tempo de transportes superior a 40 m, também, nesta parte não merece provimento o recurso.

Finalmente, quanto 3ª questão colocada , relativa ao trabalho suplementar resultou, apenas, provado a prestação de 173h, de trabalho suplementar no período compreendido entre 22.01.99 e 30.01.02, não tendo sido considerado provado integralmente o conteúdo de todos os docs. de fls. 31 a 67, como pretende o recorrente.

Porém, os referidos documentos juntos com a petição foram impugnados pela ré na contestação (arts. 62° e 63° da contestação), pelo que a decisão de considerar provada parte do seu conteúdo (173h) resultou da sua conjugação com a prova testemunhal, tal como consta do despacho de fundamentação da matéria de facto, que refere :" a prova dos factos com suporte documental baseou-se igualmente, nos depoimentos de diversas testemunhas que versaram sobre a matéria constante dos documentos." - fls. 146 dos autos Deste modo, improcede igualmente a alegação do autor no sentido do pagamento de 1232 horas de trabalho suplementar, por não ter logrado produzir a prova da sua realização, cujo ónus de prova lhe competia .

Relativamente à alegação do recorrente de que então o seu pagamento, face ao montante da condenação e ao número de horas prestado 173h, é superior ao valor hora devido, terá de considerar-se que nessa parte a decisão transitou em julgado, dado a ré não ter interposto recurso, conformando-se, assim, com o seu pagamento.

Assim, também, relativamente a esta 3ª questão não merece provimento o recurso.

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IV – Decisão

Face ao exposto, nega-se provimento ao recurso, confirmando-se a sentença recorrida.

Custas pelo recorrente Lisboa, 28 de Abril de 2004

Paula Sá Fernandes Filomena Carvalho Ramalho Pinto

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