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ESTUDO SOBRE REDUÇÃO DE DANOS E SUA UTILIZAÇÃO COM ADOLESCENTES

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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EM SAÚDE

ESTUDO SOBRE REDUÇÃO DE DANOS E SUA UTILIZAÇÃO COM ADOLESCENTES

Fernanda Letícia Calore Thomazini Orientadora: Neusa Aparecida de Sousa Basso

2014

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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EM SAÚDE

ESTUDO SOBRE REDUÇÃO DE DANOS E SUA UTILIZAÇÃO COM ADOLESCENTES

Fernanda Letícia Calore Thomazini Orientadora: Neusa Aparecida de Sousa Basso

2014

Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação em Gestão em Saúde - UAB/Unesp, para obtenção do título de Especialista.

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Dedico este trabalho aos meus pais João e Ana e ao meu noivo Vinícius.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, João e Ana, por terem me ensinado valores imprescindíveis que nortearam meu caminho e me estimularam a chegar até aqui.

Aos meus tios, Izolete e Edson, por acreditarem em mim, pela motivação fornecida para perseverar na busca de meus sonhos e por todo amor oferecido ao longo de minha vida.

Especialmente ao meu noivo Vinícius, por seu companheirismo e amor em todos os momentos e pelo apoio e paciência ofertado ao longo do curso de pós-

graduação e durante a elaboração deste trabalho.

À minha orientadora Profa. Dra. Neusa Aparecida de Sousa Basso pela paciência, tranquilidade e cuidado com que me orientou para a realização deste estudo.

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Não preciso me drogar para ser um gênio;

Não preciso ser um gênio para ser humano;

Mas preciso do seu sorriso para ser feliz.

Charles Chaplin

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RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a literatura relacionada à estratégia de redução de danos no contexto da população em geral e, principalmente dos adolescentes usuários de substâncias psicoativas, verificando-se como as estratégias de redução de danos estão se consolidando em nosso país nos últimos anos. Foi realizada revisão bibliográfica a partir de pesquisa nas bases de dados SciELO, LILACS e outras publicações no período entre 1999 e 2014. A literatura mostrou que a temática da Redução de Danos ainda é um assunto relativamente contemporâneo, que apresenta escassos conhecimentos, verificando-se que, a bem da verdade, está engatinhando em nosso país. Os estudos, em sua maioria, discorreram a respeito da implantação da RD no Brasil, no qual apontam divergências desta estratégia de intervenção para usuários de substâncias psicoativas. No Brasil, há uma forte tendência de consolidar a RD, porém, há uma série de desafios e dificuldades a serem superados para a consolidação deste modelo de intervenção. A escassa produção científica sobre a utilização da RD com adolescentes tem evidenciado resultados positivos de programas direcionados a esse público. Portanto, se faz necessário a realização de novas pesquisas neste campo para analisar a utilização de Redução de Danos com adolescentes usuários de substâncias psicoativas, principalmente pela preocupação constante de que os adolescentes usuários de substâncias psicoativas da atualidade poderão se tornar os adultos dependentes químicos do futuro.

Palavras chave: Redução de danos. Adolescentes e drogas. Redução de danos para adolescentes.

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ABSTRACT

The objective of this study was to analyze the literature related to the harm reduction strategy in the context of the general population and especially of teenage users of psychoactive substances, verifying how the strategies of harm reduction are consolidating in our country in recent years. It was performed a literature review from search in databases SciELO, LILACS and other publications between 1999 and 2014. The literature showed that the issue of Harm Reduction is still a relatively contemporary subject matter, which has scarce knowledge by checking was found that, in actual fact, it is in its infancy in our country. The studies, mostly discoursed concerning the deployment of HR in Brazil, in which indicate differences of this intervention strategy for drug users. In Brazil, there is a strong tendency to consolidate HR, however, there are a number of challenges and difficulties to be overcome for the consolidation of this intervention model. The scarce scientific literature on the use of HR with adolescents has shown positive results from programs aimed at this public. Therefore, it is necessary to conduct further research in this field to analyze the use of harm reduction with adolescent psychoactive drug users, mainly because of the constant concern that teenagers users of psychoactive substances today may become the chemically dependent adults of the future.

Keywords: Harm Reduction. Teenagers and drugs. Harm reduction for adolescents.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 8

2 MATERIAL E MÉTODO... 10

3 REFERENCIAL TEÓRICO... 11

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 14

5 CONCLUSÃO... 19

REFERÊNCIAS... 20

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1 INTRODUÇÃO

A adolescência é uma etapa da vida determinada por alterações biológicas, psicológicas e sociais, com alguns riscos, apesar da sua normalidade, e com alguma carência de proteção e conhecimento. Também é caracteriza por instabilidade, dúvidas, angústias e sentimentalismo. No entanto, as dificuldades de adaptação exigidas poderão tornar os jovens mais vulneráveis para diferentes tipos de problemas emocionais e comportamentais (FERREIRA; NELAS, 2006; CORDEIRO, 2009; KERREMANS;

CLAES; BIJTTEBIER, 2010).

Assim, literalmente, a adolescência significa processo de crescimento físico, porque compreende o período de vida entre a puberdade e o desenvolvimento completo do corpo, que nas meninas acontece dos 12 aos 21 anos e, nos meninos dos 14 aos 25 anos (CATARINO, 1999).

Segundo a literatura, durante a fase da adolescência, os jovens não aceitam as orientações e conselhos das pessoas mais velhas, por se achar um adulto e ter o poder de decisão e controle sobre si mesmo. É um momento de diferenciação em que de modo natural se afasta da família e se junta a um grupo de adolescentes, considerando- se igual a eles. Porém, se este grupo estiver utilizando drogas ele também fará o mesmo (MARQUES; CRUZ, 2000).

O uso de drogas na adolescência muitas vezes surge como um vínculo no estabelecimento de laços sociais com novos grupos, isso ocorre porque buscam novos ideais e novos vínculos, diferentes do seu grupo familiar (NERY FILHO; TORRES, 2002)

Destaca-se que nesse estudo a estratégia de Redução de Danos foi conceituada e descrita como proposta de promoção de saúde que vem ganhando espaço nos serviços de saúde.

De acordo com Santos, Soares e Campos (2010, p. 1007):

De maneira geral, no Brasil, a RD se apresenta como um conjunto de práticas de saúde fundamentadas na perspectiva teórica que concebe a existência de diferentes formas de relação do homem com as drogas, nem sempre vinculadas a um consumo problemático e, nesse sentido, seus objetivos não se restringem à eliminação do consumo. As medidas propostas visam a um conjunto de políticas voltadas para a redução de riscos e danos relacionados a todo tipo de consumo.

potencialmente prejudicial, distanciando-se do enfoque da guerra às drogas.

Acredita-se ser de suma importância a pesquisa nessa área de estudo, haja vista o aumento no índice de adolescentes usuários de substâncias psicoativas que, por si mesmo ou através da intervenção de familiares ou de terceiros e que são

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acompanhados em serviços de saúde em consequência dos prejuízos do consumo de drogas.

O objetivo do presente artigo foi analisar a literatura nacional relacionada à estratégia de redução de danos no contexto da população em geral e, principalmente dos adolescentes usuários de substâncias psicoativas, verificando-se como as estratégias de redução de danos estão se consolidando em nosso país nos últimos anos.

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2 MATERIAL E MÉTODO

O presente artigo faz uma revisão bibliográfica a partir de uma pesquisa nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino- Americana em Ciências de Saúde (LILACS), no período entre 1999 e 2014. Foram utilizados os seguintes descritores nas bases de dados: redução de danos, adolescentes e drogas e redução de danos para adolescentes. Ademais, foram efetuadas buscas em fontes primárias, como livros e periódicos científicos na área de estudo.

A busca inicial de artigos resultou em 321 (trezentas e vinte e uma) publicações, de acordo com os descritores utilizados e a data selecionada para a busca. Após uma avaliação dos artigos encontrados, foram descartados aqueles que se referiam à redução de danos de doenças em plantas e animais, aos cuidados médicos e de enfermagem com pacientes e também os artigos que se referiam especificamente à redução de danos de DST. Nesta seleção, houve uma redução de 321(trezentos e vinte e um) para 101(cento e um) artigos.

Para a fundamentação deste estudo foi efetuada leitura dos artigos selecionados e foram rejeitados aqueles que abordavam o tema de forma geral ou associado a outras questões não pertinentes para esse estudo. Ao final foram selecionados 30 (trinta) artigos que abordam a redução de danos para o uso de substâncias químicas e o uso de substâncias psicoativas por adolescentes.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

O início da adolescência é caracterizado pelas mudanças biopsicossociais do sujeito, que passa a vivenciar suas experiências de forma diferente do que na infância.

De acordo com a classificação de Aberastury e Knobel , em 1984, os sintomas mais comuns que integram a adolescência normal são aqueles relacionados à busca de identidade, a tendência ao grupo, a necessidade de intelectualizar e fantasiar, a separação progressiva dos pais e flutuações no estado de ânimo. Assim, a adolescência é um período crucial na vida de um indivíduo, haja vista a obrigatoriedade de ingressar no mundo adulto e a perda definitiva da condição de criança (BORDÃO-ALVES; MELO- SILVA, 2008).

É neste processo que os pais desempenham um papel fundamental de referência aos filhos, vez que estabelecem a base do indivíduo no que diz respeito à educação de normas e regras para o convívio social e atuam como modelos internalizados de comportamentos e atitudes (BIASOLI-ALVES, 2001).

Assim, é incontestável o papel da família no desenvolvimento de cada indivíduo e a representação de modelos positivos ou negativos refletem diretamente na tomada de decisões dos adolescentes e no planejamento para o futuro, podendo ser marcado por maiores ou menores dificuldades dependendo da estrutura e do funcionamento familiar (ALVES; KOSSOBUDZKY, 2002).

É nesse momento de transformações que o adolescente inicia o uso de drogas.

Como exemplo verifica-se o estudo de Calaça, Ferreira e Duarte (2006) que relata que o primeiro contato dos jovens com o álcool ocorre precocemente e, em geral, dentro da própria casa, onde a família ou amigos colaboram para a experimentação de bebida alcoólica.

As pesquisas relatadas por Cavalcante, Aves e Barroso (2008) também citam o uso de drogas no início da adolescência. Embora igualmente precoce, o consumo de drogas ilícitas ocorre em média um ano e meio depois da experimentação do álcool ou do tabaco, por volta dos 14 anos de idade.

Os motivos que levam os adolescentes a iniciar o consumo de substâncias psicoativas são variados. Schenker e Minayo (2005) referem que os fatores de risco e de proteção, associados ao uso de drogas, estão relacionados a seis aspectos da vida (o individual, o familiar, o escolar, o midiático, os pares e a comunidade), sendo que todos esses aspectos apresentam relações entre si.

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Freitas (2012) destaca em seu livro a vulnerabilidade do adolescente diante dos apelos do mundo das drogas em virtude das modificações pelas quais passa o seu mundo interno. Todas as transformações, tanto no nível psíquico como também no corporal, levam o adolescente a ser atraído pelas drogas.

Schoen-Ferreira, Silva e Farias (2005) referem que estudos sobre levantamentos dos problemas que afetam a saúde do adolescente detectaram os mais comuns:

gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis, acidentes com veículos a motor e uso de álcool, tabaco e drogas. Esses problemas são de caráter comportamental e levam a uma diminuição considerável da qualidade de vida dos adolescentes.

Destaca-se que o uso de substâncias psicoativas iniciado precocemente, seja na infância ou na adolescência, pode ocasionar graves prejuízos à saúde mental dos indivíduos, sendo de extrema relevância a estimulação para a formação e implantação de políticas públicas direcionadas a este público, com a definição de estratégias para minimizar a problemática enfrentada devido ao uso de drogas por adolescentes.

Sampaio, Hermeto e Carneiro (2009, p.453-454) salientam que:

Atualmente, o uso de drogas ilícitas configura-se como um problema de saúde pública, por sua extensão e pela natureza das novas drogas, bem como pelos impactos sociais — sociológicos, econômicos, políticos — e pelos impactos sanitários — doenças diretas e indiretas, tratamentos e seus custos. A compreensão de uma problemática tão complexa requer diferentes leituras e atuação intersetorial e interdisciplinar, de cada vez maior número de profissionais de campos distintos como saúde, educação, justiça, polícia e serviços sociais.

Raupp e Milnitsky-Sapiro (2009) afirmam que a exposição e a convivência com as drogas são um desafio duplo. Para os adolescentes é desafio representado pelo fácil acesso à violação das normas e pela fuga dos conflitos desta fase da vida. Para a sociedade, é representado pela relevância da criação de dispositivos legais que possam oferecer novos caminhos e inserção social a esses adolescentes, oferecendo serviços que atendam às suas demandas.

Nas últimas décadas é crescente a preocupação com os prejuízos ocasionados pelo abuso de substâncias psicoativas. Frente à necessidade de atingir aos usuários e propor estratégias diferentes das utilizadas no enfrentamento do tráfico e na “guerra às drogas”, a Redução de Danos (RD) vem ganhando cada vez mais espaço como alternativa aos tratamentos realizados. A Redução de Danos constitui-se como:

Uma estratégia de abordagem dos problemas com as drogas que não só parte do princípio que deve haver imediata e obrigatória extinção do uso de drogas, seja no âmbito da sociedade, seja no caso de cada indivíduo, mas também

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formula práticas que diminuem os danos para aqueles que usam drogas e para os grupos sociais com que convivem (SENAD, 2013, p. 159).

A Redução de danos (RD) foi aceita, pela primeira vez, como proposta de intervenção de saúde pública no nosso país em 1989 no Município de Santos, devido ao uso de drogas injetáveis e a transmissão de HIV. Proposta inicial utilizada na prevenção de HIV no Programa de Trocas de seringas (PTSs), que ao longo dos anos tornou-se uma estratégia de produção de saúde alternativa às estratégias relacionadas à abstinência com a finalidade de oferecer saúde a um maior número de pessoas usuárias de drogas. No entanto, a partir de 2003, as ações de RD se tornaram uma estratégia norteadora da Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e Ouras Drogas e da política de Saúde Mental, portanto, deixando de ser uma estratégia exclusiva dos Programas de DST/AIDS (PASSOS; SOUSA, 2011).

Do final dos anos 80 aos dias de hoje a Redução de Danos vem se consolidando como ferramenta para tratar as conseqüências decorrentes do uso de drogas. Em 2003, já havia mais de 150 (cento e cinquenta) programas de Redução de Danos em funcionamento no Brasil e, em sua maior parte, os programas foram financiados pelo Ministério da Saúde (SENAD, 2013, p. 162).

A proposta de redução de danos visa à promoção da saúde dos indivíduos, retirando o maniqueísmo de usar ou não as substâncias psicoativas do centro de discussões para desenvolver ações de promoção de saúde com toda a população e, especificamente com os adolescentes, sem discriminação e sem o risco de cair em juízo de valor (MOREIRA; SILVEIRA; ANDREOLI, 2006).

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos trabalhos publicados nos últimos anos que foram analisados, há a prevalência de dúvidas e divergência sobre a implantação da redução de danos (RD) enquanto estratégia de intervenção para usuários de substâncias psicoativas. Verifica-se que há uma forte tendência em nosso país de consolidar a RD, porém há uma série de desafios e dificuldades a serem superados para a consolidação deste modelo de intervenção.

Dentre os 50 artigos selecionados, a maioria trata dos modelos de saúde relacionados ao consumo de álcool e drogas: de um lado a chamada “guerra às drogas”

e de outro a consolidação da redução de danos como estratégia adotada. Alguns artigos discutem a RD como política pública e fazem referência à Redução de Danos em relação ao uso de substâncias psicoativas e doenças transmissíveis. Escassas produções científicas abordam a utilização da RD com adolescentes.

O conceito de Redução de Danos originou-se no Reino Unido e chegou ao Brasil devido ao aumento de usuários de drogas injetáveis e a disseminação de doenças infectocontagiosas entre os usuários.

Em nosso país, há uma crescente assimilação da Redução de Danos pelo poder público, sendo que inicialmente era vista como uma estratégia direcionada, como um vetor, para o campo das doenças transmissíveis e, nos últimos anos, vem se expandindo como modelo de política para o campo da saúde mental (SANTOS;

SOARES; CAMPOS, 2010).

No artigo publicado por Elias e Bastos (2011), é abordado o contexto histórico e o marco da implantação dos programas de redução de danos no campo da saúde pública brasileira. Esse estudo enfatiza a entrada da RD em nosso país como iniciativa para minimizar as conseqüências dos prejuízos do consumo de drogas, especialmente aquelas injetáveis as quais ocorriam o compartilhamento de seringas entre os usuários.

Em vista da notoriedade da RD neste contexto, compreendeu-se que a estratégia de RD desenvolvida no trabalho com os usuários de drogas injetáveis poderia ser estendida a usuários de outras drogas, como o álcool, crack e tabaco, no que diz respeito ao fortalecimento do protagonismo destes consumidores para a realização de ações entre pares, sua participação na formulação de políticas públicas e estratégias de comunicação (DELBON; DA ROS; FERREIRA, 2006).

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O Conselho Nacional Antidrogas (CNA, 2005), aprovou a Política Nacional de Drogas por meio da Resolução nº 3, de 27 de outubro de 2005, no qual discorre a respeito dos pressupostos, objetivos, prevenção e tratamento dos usuários de drogas.

A Política Nacional de Drogas (CNA, 2005) se orienta para a redução da oferta com ações de prevenção e repressão ao tráfico de drogas ilícitas, a redução da demanda de drogas atuando na prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social e a redução de danos. O enfoque da redução de danos aparece com força ainda maior nessa nova versão do texto da política, o que se faz notável naquela que talvez represente a mudança mais expressiva na trajetória discursiva das políticas públicas sobre drogas no Brasil: o discurso quanto ao ideal de uma “sociedade livre de drogas”

dá lugar ao ideal de uma “sociedade” protegida do uso de drogas ilícitas e do uso indevido de drogas lícitas”.

O processo de ampliação e definição da RD como paradigma ético, clínico e político para a política pública de saúde de álcool e outras drogas provocou um processo de enfrentamento com as políticas antidrogas que tiveram sua base fundada no período da ditadura no Brasil (PASSOS; SOUSA, 2011). Assim houve uma abertura política para a RD concomitantemente à política global de “guerra às drogas”.

A política brasileira de drogas aproxima discursos antagônicos. Alves (2009) refere que essa política compartilha do discurso quanto à redução da oferta e da demanda de drogas, mediante mecanismos de repressão e criminalização do tráfico e porte de drogas ilícitas. Em caminho oposto, a mesma política mostra-se aderente à abordagem de redução de danos. A autora refere ainda que enquanto a política do Ministério da Saúde se posicionar a favor da construção de um modelo de atenção orientado pela lógica da redução de danos, a Política Nacional de Drogas admite e incentiva a coexistência dos modelos distintos de atenção à saúde.

Souza e Monteiro (2011), em seu estudo, comentam que em termos das ações de controle e prevenção do uso indevido de drogas, as pesquisas apontam para as limitações e insucesso da abordagem tradicional de negação total ao uso de drogas, conhecida popularmente com “guerra às drogas”. Justifica-se que as ações educativas sobre saúde e consumo de drogas devem ser planejadas em conjunto com o público- alvo, acordando os conhecimentos dos educadores com as necessidades e potencialidades da realidade local.

Para Machado e Boarini (2013), o cenário do debate sobre drogas, saúde e segurança pública encontra-se cindido, uma vez que a oscilação entre prevenção e

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repressão ainda não foi superada. A adoção da RD traz censura ao ideal de abstinência e às políticas proibicionistas, alertando para a responsabilidade da saúde pública ao problema das drogas.

Neste contexto, Nardi e Rigoni (2005) pontuam que os modelos de tratamento que trabalham com o imperativo da abstinência podem produzir a segregação de usuários de drogas, inviabilizando o acesso e acolhimento aos usuários de drogas nos serviços de saúde, a partir de uma posição julgadora dos profissionais.

A partir da análise dos artigos que tratam sobre a redução de danos versus a guerra às drogas observa-se que estes fazem críticas ao modelo antigo de repressão e prevenção do uso da abordagem da abstinência à droga, incentivando a adoção da RD como abordagem mais apropriada, principalmente para os usuários que se mostram resistentes em aceitar intervenções que pregam a abstinência do consumo de substâncias psicoativas.

Ademais, a literatura revela a imperiosa necessidade de uma atuação mais ativa do usuário na implantação e desenvolvimento de programas, onde devem ser adotadas estratégias que proporcionem maior autonomia aos usuários.

Alguns autores estudados não se mostram otimistas frente à consolidação da RD como modelo de intervenção. Elias e Bastos (2011) referem que se faz necessário iniciativas de saúde pública para que as ações de RD possam ser plenamente integradas à saúde, priorizando o respeito aos direitos humanos e visando beneficiar a população de usuários de substâncias psicoativas e seus familiares.

Para Machado e Boarini (2013), a implantação da RD ainda é rudimentar, sendo que há diversos desafios que demandam uma compreensão ampliada do fenômeno das drogas a fim de formular ações diversificadas que vão além do consumo de drogas e prevenção de DTS.

De acordo com a experiência de Passos e Sousa (2011) um dos principais desafios da RD é a construção de redes de produção de saúde que incluam os serviços de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS), Postos de Saúde, Estratégias de Saúde da Família e Caps.

Em estudo efetuado recentemente, Inglez-Dias, Ribeiro e Bastos (2014) apontam que as principais fragilidades das políticas de RD no Brasil fazem referência à precarização do trabalho dos agentes redutores, monitoramento deficiente de suas práticas e da habilidade em conseguir vincular os usuários aos serviços de saúde, pouca adesão dos participantes do programa e financiamento fragmentado.

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Implantar um Programa de Redução de Danos, ainda que embasado na legislação é uma tarefa difícil que exige criatividade, esforço conjunto e flexibilidade.

Nesta ótica, para iniciar um trabalho de RD é essencial que a equipe internalize a premissa de que a abstinência não é o foco primordial de seu trabalho (DELBON; DA ROS; FERREIRA, 2006).

Em contrapartida, há autores que demonstram, em seus trabalhos, a importância do investimento na estratégia de RD. Silva et al. (2014) destaca que o fortalecimento e ampliação da Política Nacional de Redução de Danos é instrumental relevante de garantia de direitos sociais e para o planejamento e elaboração de políticas e ações direcionadas ao cuidado dos usuários de substâncias psicoativas, possibilitando que sejam protagonistas das intervenções realizadas.

Na mesma direção, Passos e Sousa (2011) enfatizam que a Redução de Danos é um método construído pelos próprios usuários e constitui um cuidado de si subversivo às regras de condutas coercitivas. Neste ínterim, os usuários de drogas são responsáveis pela produção de saúde à medida que tomam para si a tarefa do cuidado.

De acordo com Cavalcante, Alves e Barroso (2008) uma das formas mais eficazes de lidar com o uso e abuso de drogas é a prevenção, cujo enfoque é as ações de redução de danos, reabilitação e socialização dos usuários, principalmente dos adolescentes.

No que tange ao tratamento de adolescentes, observa-se que a literatura estudada mostra-se ambivalente frente à utilização da Redução de Danos, sendo que a discussão dos autores, sobre o assunto, tem embasamento na experiência que cada um tem na implementação dos programas de Redução de Danos, bem como, do apoio financeiro, da capacitação das equipes multidisciplinares e do trabalho dos Redutores de Danos.

Em relação aos adolescentes, denota-se que há pouca produção científica sobre o trabalho da Redução de Danos com sujeitos situados nessa faixa etária. Observa-se que o tema da RD vem sendo mais explorado e incentivado em programas direcionados para adultos.

É possível pensar que muitos serviços permanecem conservadores em relação ao tratamento de adolescentes usuários de substâncias psicoativas, principalmente no que diz respeito à manutenção de programas que pregam a abstinência independentemente das singularidades de cada sujeito que busca ajuda nos serviços de saúde.

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Foram analisados artigos nos quais há relatos bem-sucedidos de programas de RD. Os autores Raupp e Milnitsky-Sapiro (2009), por exemplo, acompanhou em sua pesquisa a abordagem terapêutica de três instituições, sendo que duas tinham como base o alcance da abstinência e uma cujo programa terapêutico ofertado aos adolescentes era baseado na estratégia de RD. A referida autora ressalta que nas instituições com abordagem de abstinência não tinham sequer programas específicos para adolescentes, e que estes participavam das atividades junto com adultos. Na instituição cuja abordagem adotada era a Redução de Danos, foi observado o esforço da equipe em proporcionar autonomia aos adolescentes e que os encontros em grupo efetuados eram conduzidos pelos próprios adolescentes, os quais faziam a redução por si mesmos.

Em seu trabalho recente, Adade e Monteiro (2014) discorre sobre a importância do desenvolvimento de ações educativas direcionadas aos adolescentes como propõe a abordagem de Redução de Danos, visando à contextualização do fenômeno do uso de substâncias psicoativas a partir de uma perspectiva educativa e que conta com a participação ativa dos adolescentes.

O tema é enfatizado por Cavalcante, Alves e Barroso (2008), que destaca que a prevenção não deve se limitar a ações isoladas, mas desenvolver-se em todas as frentes, mobilizando os adolescentes através do enfoque de redução de danos, reabilitação e socialização dos jovens.

Os autores citados demonstram que é possível realizar um trabalho eficiente de RD com adolescentes que consomem substâncias psicoativas. A ênfase em todos os artigos analisados que defendem a RD diz respeito à autonomia, participação ativa do usuário em seu tratamento e estimulação do processo de conscientização dos jovens.

Para tanto, acredita-se ser necessário a criação de ações direcionadas para a formação adequada dos profissionais de saúde que trabalham com adolescentes usuários de substâncias psicoativas, bem como, a discussão e definição de ações educativas sobre o tema visando à prevenção do uso e uma educação continuada sobre o assunto.

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5 CONCLUSÃO

A literatura revisada mostrou que a temática da Redução de Danos ainda é um assunto relativamente contemporâneo, que apresenta escassos conhecimentos, verificando-se que, a bem da verdade, está engatinhando em nosso país.

Embora essa estratégia apresente bons resultados em diversos segmentos, ainda há muitos desafios e dificuldades a serem superados, especialmente em setores onde se predomina o pensamento da abstinência dos indivíduos em função da Redução de Danos.

Depreende-se que os estudos que se discutem a Redução de Danos para adolescentes apresentam-se em insignificantes quantidades, vez que há uma tendência na utilização dessa abordagem para adultos. Dessa feita, verifica-se que a produção científica embasada no assunto direcionado aos adolescentes ainda é recente e pouca explorada no Brasil.

Todas essas evidências corroboraram com o conceito da imprescindível e urgente necessidade de realização de novas pesquisas neste campo em nosso país, principalmente pela preocupação constante de que os adolescentes usuários de substâncias psicoativas da atualidade, evidentemente poderão se tornar os adultos dependentes químicos do futuro.

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Referências

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