Rendimento e repartição dos rendimentos
A actividade produtiva e a formação dos rendimentos
O facto de vivermos em sociedade exige uma repartição dos rendimentos, que não é nada mais do que dar a cada pessoa o resultado do seu trabalho em uma qualquer unidade monetária ou qualquer outra forma de pagamento.
Para que a produção se concretize é necessária a participação de dois factores fundamentais, são eles o Trabalho e o Capital.
É na realização do processo produtivo que se geram os rendimentos.
Repartição Funcional do Rendimento
A repartição funcional do rendimento mostra-nos como são remunerados os diferentes intervenientes no processo produtivo, tendo em atenção as funções por eles desempenhadas.
Pois, para que um bem ou serviço seja produzido é necessário a conjugação de vários factores. Por exemplo para produzir pão é necessário o trabalho dos padeiros, que transformam a farinha em pão, mas é necessário também que os empresários disponibilizem equipamentos como o forno, as instalações, recipientes etc.
Cada um destes intervenientes deverá ser remunerado, cabendo-lhe uma parte do rendimento gerado, aos trabalhadores caberão os salários aos empresários os lucros aos proprietários de imóveis as rendas e aos que cederam capital sob a forma de dinheiro caberão os juros.
Factor Trabalho -Trabalhador -Salário
Factor Capital -Empresário
-Proprietário de Imóveis -Detentor de capital/dinheiro
-Lucro
-Rendas
-Juros
Salário
O salário corresponde à parte do rendimento que é auferido pelo trabalhador em troca do trabalho realizado no processo produtivo. Neste caso fala-se em salário directo, ou seja, na quantidade de moeda que o empresário paga aos trabalhadores.
Algumas famílias recebem, por vezes, transferências do estado, sob a forma de subsídios, como o de desemprego, de doença, etc. Neste caso trata-se de um salário indirecto pois não derivou de uma participação directa no processo produtivo.
No entanto, temos de distinguir entre salário nominal e salário real.
Salário ou remuneração é o conjunto de vantagens habitualmente atribuídas aos empregados, em contraprestação de serviços ao empregador, em quantia suficiente para satisfazer as necessidades próprias e da família.
Segundo alguns juristas, a diferença entre os termos salário e remuneração, está no fato do primeiro dizer respeito apenas ao pagamento em dinheiro, e o segundo engloba também as utilidades, ou benefícios, como alimentação, moradia, vestuário, e outras prestações em natura. Segundo legislação brasileira, salário é o valor pago como contraprestação dos serviços prestados pelo empregado, enquanto remuneração engloba este, mais outras vantagens a título de gratificação ou adicionais.
Salário Nominal e Real
O salário nominal é a quantidade de moeda que o trabalhador recebe pelo trabalho prestado num determinado período de tempo. O salário real corresponde à quantidade de bens e serviços que o trabalhador pode adquirir com o salário nominal. O salário real traduz, assim, o poder de compra dos trabalhadores.
A remuneração do factor capital no processo produtivo assume as formas de:
- Juros, - Rendas - Lucros.
Etimologicamente a palavra salário vem de sal. Na antiguidade, como não havia moeda como instrumento de valoração e troca, usava-se a pitada de sal como expressão de valor. Sob a óptica económica há duas formas de salário: o nominal e o real. O salário nominal representa a quantidade de moedas que o governo informa, por decreto, que o trabalhador recebe como ordenado (semanal, quinzenal ou mensal); já o salário real representa o poder de compra do ordenado. Vamos imaginar que o salário mínimo de R$ 240,00 seja capaz de comprar 10 cestas básicas em Abril e possa, com os mesmos R$ 240,00, comprar 11 cestas básicas em Maio. Isto quer dizer que o salário mínimo real aumentou 10% embora o salário nominal continue nos mesmos R$ 240,00. Em outras palavras: é mais consistente o aumento salarial pela redução dos preços do que pelo ilusório crescimento do salário nominal.
Pois os metalúrgicos do Rio querem antecipar a data base do reajuste previsto para Outubro, ignorando a diferença entre salário nominal e salário real. Isso terá um efeito em cascata nas demais categorias, provocando um efeito tenebroso nas relações entre patrões e empregados e, principalmente, soprando a lenha na fogueira da inflação. Parece que estamos voltando na roda do tempo e revivendo a velha indexação ou "gatilho salarial". Nada mais ilusório e nefasto para o poder de compra dos salários que a inflação de custos se encarregará de corroer. Figurativamente, é como o cachorro tentando morder o próprio rabo: vai ficar tonto de tanto rodopiar.
O importante numa política salarial racional é aumentar a produtividade da mão-de-obra e, sobretudo, dar participação aos empregados no lucro adicional das empresas. O LUCRO, ALIÁS, SÓ SE JUSTIFICA PELA SUA APLICAÇÃO SOCIAL. A antecipação pretendida pelos metalúrgicos não pode ser justificada somente pela inflação ocorrida após o último reajuste, é preciso contabilizar a possível oscilação da produtividade caso a caso, empresa por empresa, pois a questão salarial não deve ser tratada linearmente. Se essa moda de antecipar a data-base de reajuste virar rotina, o governo Lula e o controle da inflação podem sofrer um grande e indesejável desgaste. Nada mais indesejável neste início de governo banhado de tantas esperanças.
“Artigo de Gilberto Ramos – economista e empresário.”
Juro
O juro constitui a remuneração que os detentores de capital auferem pelos empréstimos dos seus capitais. Esta remuneração varia consoante:
- A taxa de juro fixada,
- A duração (tempo) do empréstimo - O montante do capital emprestado.
Juro, do ponto de vista económico, é a remuneração do capital-dinheiro. Basicamente pode ser definido como a renda do banqueiro ou dos capitalistas rentistas. Analogamente, existem ainda o lucro (remuneração dos empresários e accionistas) e alugueis (remuneração dos proprietários de bens imóveis alugados).
Juro Composto
No regime de juros compostos os juros de cada período são somados ao capital para o cálculo de novos juros nos períodos seguintes. Os juros são capitalizados e, consequentemente, rendem juros. Também conhecidos como juros sobre juros.
Renda
A renda, actualmente, corresponde aos rendimentos recebidos pelos proprietários dos prédios urbanos em virtude da sua cedência a terceiros.
Lucros
O lucro designa a remuneração dos empresários como contrapartida da sua iniciativa e dos riscos assumidos nos investimentos realizados. O lucro é variável e depende do resultado da actividade produtiva da empresa. O lucro é o resultado da diferença entre o preço de venda e o preço de custo dos produtos produzidos.
Lucro é o retorno positivo de um investimento feito por um indivíduo ou uma pessoa nos negócios.
Segundo os princípios da Economia Aziendal, o lucro pode ser originário do funcionamento (lucro operacional) e do crédito (lucro da gestão económica).
De acordo com a estrutura das Demonstrações Contáveis de Resultados utilizados no Brasil, o lucro é desdobrado nas seguintes categorias:
Lucro Bruto: diferença positiva de Receitas menos Custo;
Lucro Operacional: diferença positiva do lucro bruto e das despesas operacionais;
Lucro não operacional: resultado positiva das receitas e despesas não operacionais;
Lucro Líquido: diferença positiva do lucro bruto menos o lucro operacional e o não operacional;
Lucro a ser distribuído: lucro liquida menos a quantia destinada a Reservas de Lucros ou compensada com os Prejuízos Acumulados;
A legislação tributária criou outras categorias de Lucro, a saber (vide Contabilidade tributária):
Lucro Real: Base de Cálculo do Imposto de Renda das pessoas jurídicas. (Contabilmente, seria o Lucro Líquido menos as adições e exclusões de despesas feitas para fins de apuração do tributo citado).
Lucro Inflacionário: parcela do Lucro Real, composta do saldo credor da correcção monetária de balanços ajustado pelas variações monetárias e cambiais, e que podia ser diferido, ou seja, devido em exercícios futuros).
Lucro de Exploração: parte do Lucro Real formado pelas Receitas oriundas de incentivos fiscais do Imposto de Renda (isenção ou redução).
Lucro Presumido: outra base de cálculo do imposto de renda, basicamente sobre Receitas, e com escrituração simplificada no Livro-caixa.
Medição das desigualdades da Repartição dos rendimentos – Curva de Lorenz Curva de Lorenz: Gráfico utilizado pelos analistas económicos para realçar, sobretudo, a desigualdade da repartição do rendimento ou da riqueza. O método proposto traduz-se na construção de uma curva de distribuição do rendimento ou da riqueza relacionando a % das famílias (valores acumulados) com a % do rendimento ou riqueza (valores acumulados). A análise da curva de Lorenz permite aos governantes tomar medidas para reduzir as assimetrias existentes através das chamadas políticas de redistribuição do rendimento.
Curva de Lorenz :
A questão da distribuição e repartição de rendimentos numa economia é das mais controversas dentro da teoria económica em geral, sendo a discussão em torno deste tema incentivada pela evidente desigualdade que se verifica na repartição do rendimento a nível mundial. O tema em causa leva a que, por um lado, sejam investigadas as causas para a desigualdade existente e, por outro, se encontrem formas adequadas para medir o grau de igualdade ou desigualdade ao nível da distribuição e repartição do rendimento de uma determinada economia pelos indivíduos que a compõem.
Ao nível da segunda vertente referida, merece especial destaque a contribuição de O.
Lorenz através da criação de um instrumento muito utilizado ao qual se atribuiu, tendo em conta o seu autor, a denominação de curva de Lorenz.
A curva de Lorenz corresponde a uma representação gráfica que deriva da relação entre rendimento e população e que tem como objectivo a avaliação do grau de desigualdade em termos de repartição do rendimento de uma economia pelos seus indivíduos. Mais concretamente, é considerada como eixo vertical a percentagem acumulada de rendimento e como eixo horizontal a percentagem acumulada de população, que é colocada por ordem crescente de rendimento individual. Assim, cada ponto da curva de Lorenz representa o volume de rendimento auferido pela percentagem acumulada de população correspondente.
Deste modo, a situação ideal seria aquela em que todos os indivíduos auferissem precisamente o mesmo volume de rendimento, que daria origem a uma curva de Lorenz coincidente com a bissectriz do gráfico em causa. Por outro lado, se imaginarmos uma situação em que apenas um indivíduo (o último colocado no eixo horizontal) aufere todo o
rendimento da economia (pelo que todos os restantes auferem zero de rendimento), teremos a outra situação-limite, de desigualdade total, em que a curva de Lorenz é representada pela linha quebrada constituída pelo eixo horizontal e pela linha vertical com início no ponto de 100% de população acumulada, onde se encontra o indivíduo que absorve neste caso todo o rendimento.
Na prática, a curva de Lorenz situa-se numa posição intermédia entre as duas situações- limite referidas, sendo que quanto mais se afastar da bissectriz do gráfico maior a desigualdade na repartição do rendimento que representa.
Para além do rendimento de uma economia, a curva de Lorenz pode ser utilizada para representar o grau de igualdade ou desigualdade na distribuição de outros recursos.
A curva de Lorenz serve ainda de base para o cálculo de um outro indicador utilizado para a avaliação do grau de igualdade ou desigualdade na repartição do rendimento, o coeficiente de Gini. Este coeficiente corresponde ao dobro da área entre a curva de Lorenz representativa de uma determinada situação e a bissectriz do gráfico no qual ela se encontra.
O Rendimento Nacional per capita RNC= Rendimento Nacional/População total
O Rendimento nacional per capita indica-nos uma média, partindo de uma hipótese de igualdade se o rendimento fosse distribuído equitativamente por todos os elementos de uma população, qual seria o valor recebido por cada pessoa?
O Rendimento per capita é um indicador económico que permite conhecer melhor o poder de compra da população de um país.
Determina-se do seguinte modo:
Rendimento nacional Rendimento per capita =
População total
Este indicador é utilizado para estabelecer comparações entre diferentes regiões e países, tornando possível, em certa medida, verificar o desenvolvimento social e económico de um país.
Embora o Rendimento per capita seja um indicador importante, ele apresenta algumas limitações que se devem ao facto de:
- Por representar uma média, esconde desigualdades na forma como a riqueza de um país está distribuída pela população, ou pelas diferentes regiões do país.
- Por ser calculado a partir de dados fornecidos pelos valores da economia formal (declarados), não engloba os valores e os rendimentos da economia paralela, que nos países menos desenvolvidos, representam uma parte significativa da sua riqueza.
- Por representar um valor global, o Rendimento per capita não discrimina a natureza da riqueza. Um país pode ser rico em termos económicos, mas ainda pobre em termos sociais, culturais, ambientais, etc. A sua população pode não beneficiar de um bom sistema educativo; ter cuidados de saúde que aumentem a esperança e a qualidade de vida, etc.
Para ultrapassar as limitações do indicador Rendimento per capita e, para se conseguirem conhecimentos mais aprofundados sobre a realidade social dos países, recorre-se aos seguintes elementos de correcção:
- Curvas de Lorenz que evidenciam as desigualdades na repartição dos rendimento
- Inclusão de elementos disponíveis sobre o valor da economia paralela
- Recurso ao indicador Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) o qual inclui dados sobre educação e saúde, para além de valores económicos
O Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) inclui os indicadores:
- PIB p.c. real, baseado na paridade do poder de compra - Esperança média de vida à nascença
- Taxa de alfabetização de adultos e taxa de escolaridade combinada dos ensinos primário, secundário e superior
A curva de Lorenz é um diagrama que representa, por classes percentuais, a parte do rendimento que cabe a cada grupo da população, permite avaliar a desigualdade entre as classes de rendimentos.
Repartição Pessoal do Rendimento
A repartição pessoal do rendimento permite-nos analisar como é que os rendimentos se distribuem pelos agregados familiares de uma dada comunidade. Através da análise podemos apreciar o grau de desigualdade dessa distribuição, as desigualdades salariais.
O rendimento pessoal disponível é um indicador do rendimento pessoal. Como sabemos, as famílias têm por principal função consumir. Os seus recursos são constituídos, fundamentalmente, pelas remunerações pagas pelos outros sectores institucionais.
O rendimento das famílias tem origem nas receitas provenientes:
- Da actividade produtiva: salários, juros, rendas, lucros;
- Das transferências internas: as prestações sociais feitas pela Administração Pública e Privada (pensões, abonos, diversos subsídios, etc.);
- Das transferências externas: nestes têm especial relevância as remessas dos emigrantes e outras;
No entanto, as famílias têm que pagar impostos sobre o rendimento (impostos directos) e outras contribuições sociais à Administração Pública. Deste modo, o seu rendimento ficará diminuído.
O Rendimento Disponível das Famílias é, então, constituído pelo total dos rendimentos recebidos pela participação na actividade produtiva e pelas transferências (internas e externas) depois de subtraídos os impostos directos e as contribuições sociais.
Rendimento Pessoal Disponível = Rendimento do Trabalho +Rendimentos do Capital + Transferências – Impostos Directos – Contribuições Sociais
O leque salarial
O leque salarial é uma das formas utilizadas para medir as desigualdades salariais,
evidenciando a relação existente entre o salário máximo e o salário mínimo
praticado num determinado pais.
Redistribuição dos rendimentos
A repartição do rendimento pode ser analisada, quer segundo a óptica da repartição funcional, quer ainda através da repartição pessoal.
É o processo, através do qual o estado e outras instituições procedem à recolha de rendimentos e à sua respectiva transferência, de forma a garantir um melhor nível de vida a todos os cidadãos, corrigindo assim as desigualdades provocadas pela repartição primária dos rendimentos.
Na repartição pessoal verificamos a existência de desigualdades de rendimentos.
Para reduzir as desigualdades existentes na repartição dos rendimentos, torna-se necessário garantir a toda a comunidade, independentemente dos rendimentos provenientes da actividade exercida por cada um, um conjunto de prestações sociais consideradas fundamentais.
Cabe, assim, ao Estado proceder a uma redistribuição dos rendimentos. Para isso, o estado actua de duas formas:
-Verticalmente: reduzindo as desigualdades provocadas pela repartição primária dos rendimentos, através dos impostos directos
-Horizontalmente: ao efectuar transferências para as famílias mais carenciadas, através, por exemplo, de subsídios.
O processo de redistribuição dos rendimentos levado a cabo pelo estado tem, de uma forma geral, os seguintes objectivos:
-corrigir as desigualdades provocadas pela repartição dos rendimentos.
-cobrir colectivamente os riscos individuais
-pôr à disposição de toda a população um conjunto de bens e serviços sociais.
A redistribuição realiza-se através de diferentes instituições, como por exemplo, a Administração Pública Central e Local, a Segurança Social e o Fundo de Desemprego e outras organizações.
Estas instituições canalizam as transferências quer para as empresas quer para as famílias, sob diversas formas, nomeadamente para as famílias:
- Fornecimento de bens e serviços colectivos, gratuitamente ou
Através de pagamento parcial;
- Pensões e subsídios vários;
Para as empresas:
- Subsídios à produção em determinados sectores;
- Isenção de impostos;
O essencial da redistribuição é feito através da Segurança Social.
As desigualdades provocadas pela repartição primária do rendimento levam a que o estado intervenha. Para isso são desenvolvidas várias políticas de redistribuição levadas a cabo pelo estado, das quais se referem:
- Politica de Preços: aplicação de impostos indirectos sobre o consumo de bens e serviços consumidos pelas classes de rendimentos mais elevados. Atribuição de subsídios aos bens ou serviços de primeira necessidade de forma a torna-los mais acessíveis a população com menores recursos, como a saúde e educação.
- Politica Social: criação de sistemas de segurança social, que garante a protecção dos cidadãos em situações de invalidez, desemprego ou velhice.
- Politica fiscal: aplicação de impostos directamente sobre os rendimentos das pessoas ou indirectamente sobre os bens e serviços.
Ricardo Carneiro Economia A