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O PAPEL DA EDUCAÇÃO CONTINUADA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO DE INFORMAÇÃO JURÍDICA ANA VALÉRIA DE JESUS MOURA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

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ANA VALÉRIA DE JESUS MOURA

O PAPEL DA EDUCAÇÃO CONTINUADA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO DE INFORMAÇÃO JURÍDICA

Salvador 2022

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

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ANA VALÉRIA DE JESUS MOURA

O PAPEL DA EDUCAÇÃO CONTINUADA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO DE INFORMAÇÃO JURÍDICA

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Instituto de Ciência da Informação, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciência da Informação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Isabel de Jesus Sousa Barreira

Salvador 2022

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Dados internacionais de catalogação na publicação

Elaborada por Ana Valéria de Jesus Moura - CRB 5: 1734

M929 Moura, Ana Valéria de Jesus

O papel da educação continuada na formação profissional do bibliotecário de informação jurídica / por Ana Valéria de Jesus Moura. – 2022.

176 f. : il., color.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Isabel de Jesus Sousa Barreira.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Instituto de Ciência da Informação, Salvador, 2022.

1.Bibliotecários da área jurídica. 2. Formação profissional. 3. Educação permanente. I. Barreira, Maria Isabel de Jesus Sousa. II. Universidade Federal da Bahia – Instituto de Ciência da Informação. III. Título.

CDD – 026.34

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ANA VALÉRIA DE JESUS MOURA

O PAPEL DA EDUCAÇÃO CONTINUADA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO DE INFORMAÇÃO JURÍDICA

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Instituto de Ciência da Informação, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciência da Informação.

Salvador, aprovada em 08 de julho de 2022.

Banca examinadora:

___________________________________________________________________________

Maria Isabel de Jesus Sousa Barreira – Orientadora

Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia

__________________________________________________________________________

Julio Cesar de Sá da Rocha – Membro Externo Titular

Doutorado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

__________________________________________________________________________

Fernanda Maria Melo Alves – Membro Interno Titular

Doutorado em Documentación Archivos y Bibliotecas en entorno digital pela Universidad Carlos III de Madrid

__________________________________________________________________________

Anderson Luis da Paixão Café – Membro Externo

Doutor em Difusão do Conhecimento pela Universidade Federal da Bahia

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“Ter alguém para te ajudar não significa que você falhou, significa que você não está sozinho.”

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AGRADECIMENTOS

“Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui...” 1

Essa frase tão clichê é a perfeita tradução do sentimento que se perpassa por mim após a conclusão desse trabalho. Só eu sei das alegrias, prazeres, descobertas, insights, dores e desventuras dessa escrita dissertativa.

Eu sei que você não sabe os caminhos que tracei até chegar na concretude desse trabalho, mas se está lendo esse agradecimento é porque tem curiosidade de descobrir. Então, permita-me que eu te conte em poucas palavras desse meu caminhar.

Tudo começou por um sonho, um sonho que virou materialidade por meio desta dissertação.

Nem todos os sonhos são fáceis de realizar, exigem renúncia, horas em claro, dedicação, disciplina, constância e perseverança. Se vamos ter força de vontade todos os dias? Não! Mas não desistir é o que torna a concretude do sonho tão satisfatória. E eu agora me sinto em total júbilo.

E nesse estado de contentamento, felicidade, alívio e satisfação, eu gostaria de agradecer primeiramente e imensamente a Deus, ao meu Anjo de Guarda e às Leis do Universo que me sustentaram e me ajudaram a renascer como uma fênix em meio às cinzas.

Sobre os ombros de gigantes! É assim que meu trabalho foi construído, apesar de a escrita ser algo solitário, eu sempre estive rodeada de teóricos renomados, que me ajudaram com ideias e fundamentaram a minha escrita, - a eles o meu agradecimento.

Acima de tudo, eu contei com o especial cuidado, paciência, atenção e direcionamento da minha orientadora Maria Isabel de Jesus Sousa Barreira, exemplo de profissional que ama a Biblioteconomia, o fazer bibliotecário e as diversas possibilidades que a profissão oferece. A Isabel agradeço imensamente pelo apoio, aconselhamentos, escuta, sensibilidade e por acreditar em meu projeto. Pelas suas experientes mãos, eu fui lapidada e conduzida pelas veredas da pesquisa e escrita acadêmica.

Meus constantes agradecimentos a professora Nídia Lubisco, ser humano admirável e inspiradora, apaixonada pela Biblioteconomia, pelo fazer Bibliotecário, pela pesquisa e pelas diversas possibilidades da Ciência da Informação. Em Nídia Lubisco encontro um apoio, um lugar para troca de dúvidas e muitas vezes um norte acadêmico.

Às minhas parceiras de turma Normaci Correia e Vanessa Jamilli, minhas Marias acadêmicas, elas me fizeram rir e trouxeram leveza a minha vida de mestranda.

Agradeço a minha turma do Mestrado que, durante alguns semestres, dividiram comigo ideias, conhecimentos, sorrisos e críticas construtivas.

Agradeço a Jaires Oliveira e Fernanda Guimarães pelos aconselhamentos, direcionamentos e palavras de motivação.

1 Cidade Negra. A Estrada. Composta por Toni Garrido, Bino, Lazão e Da Ghama em 1998.

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Aos servidores e funcionários do Instituto de Ciência da Informação, em especial os do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), pela prestatividade e apoio de sempre.

Agradeço a Julio Cesar de Sá da Rocha, Fernanda Maria Melo Alves e Anderson Luis da Paixão Café por terem aceitado o convite para serem examinadores da banca e pela relevante avaliação do meu trabalho acadêmico, já demonstrada durante o período de qualificação.

Agradeço demais aos Bibliotecários e Bibliotecárias que aceitaram fazer parte desse trabalho, sem eles, a materialização desse sonho não seria possível. Em nossas conversas, ouvi histórias de vida, desabafos, experiências e sonhos. Gratidão pela confiança em mim depositada, desejo que esse trabalho honre suas falas, pensamentos e o fazer Bibliotecário de cada um de vocês.

Agradeço a minha família, especialmente a minha mãe Valda Lima de Jesus, que mesmo sem entender a importância do Mestrado na minha vida, estava ao meu lado, me dando incondicional apoio.

À Biblioteca Teixeira de Freitas, da Faculdade de Direito UFBA, meu local de trabalho e inspiração para essa pesquisa.

A Simone Guimarães Lima e Silva, minha colega bibliotecária, parceira de trabalho e ouso dizer amiga.

Aos “meninos” da Biblioteca Teixeira de Freitas, companheiros (as) de trabalho que tornam minha rotina alegre, descontraída e produtiva.

E, finalmente, às demais pessoas que, com críticas ou sugestões, contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.

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“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes” (Marthin Luther King).

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RESUMO

A pesquisa trata da educação continuada do bibliotecário que atua em instituições jurídicas, por compreender que a formação generalista do bibliotecário demanda a aquisição de saberes e competências para o desempenho das atividades laborais especializadas. Nesse sentido, a carência de cursos formais no Brasil que propiciem qualificação para o exercício profissional para atender, de forma eficaz, os operadores do Direito, aliada à exígua literatura sobre a prática do bibliotecário jurídico, motivaram a realização deste estudo. A realidade descrita ensejou questionamentos que foram sintetizados na seguinte pergunta: como deve ocorrer o processo de educação continuada do bibliotecário que atua nas instituições jurídicas? Para responder a essa questão foi delineado um objetivo geral: conhecer o processo de educação continuada dos bibliotecários que atuam em instituições jurídicas; e três específicos: levantar o perfil profissional demandado aos bibliotecários que trabalham com informações jurídicas; verificar as dificuldades dos bibliotecários para buscar, tratar, utilizar e disseminar a informação jurídica;

averiguar as ações de educação continuada desenvolvidas pelos bibliotecários para atuarem em bibliotecas jurídicas; identificar as perspectivas e desafios para a atuação profissional dos bibliotecários de instituições jurídicas, frente aos paradigmas tecnológicos da sociedade da informação. Para o alcance desses objetivos, a metodologia da presente investigação assume caráter qualitativo, descritivo e exploratório, cuja população são os bibliotecários jurídicos da cidade de Salvador, tendo como amostra 10 participantes, divididos em dois subgrupos de acordo com o ambiente de atuação dos respondentes: grupo 1 - bibliotecários ligados a instituições de ensino superior e grupo 2, aqueles que atuam em instituições, cuja prática jurídica dá suporte informacional aos operadores do Direito. Os resultados mostraram que: a) o perfil profissional majoritariamente pertence ao gênero feminino, com experiência consolidada de atuação na área jurídica, faixa etária acima de 40 anos e pós-graduados; b) as dificuldades mais expressivas no exercício laboral estão atreladas ao pouco domínio da terminologia jurídica, a falta de autonomia nas decisões no âmbito institucional; c) as ações de educação continuada estão ligadas a iniciativas próprias na busca de novos conhecimentos, isto é, cursos, eventos e listas de discussão e/ou por incentivo institucional; d) as perspectivas que se apresentam tem relação com o uso massivo das TIC no ambiente informacional para otimização dos serviços prestados, enquanto os desafios são de ordem financeira, de recursos humanos, de infraestrutura e tecnológica. Conclui-se que os conhecimentos e competências sobre a Biblioteconomia Jurídica adquiridos pela maioria desses profissionais ocorrem de forma autodidata e no exercício da profissão, devido à ausência de ferramentas formais que os habilite para o trabalho em instituições jurídicas. Investimentos nas instituições formativas da Biblioteconomia são necessárias no sentido de oferecer capacitação para os bibliotecários que atuam ou desejam atuar nas diferentes áreas do conhecimento, em especial aqueles devotados a biblioteconomia jurídica.

Palavras-chave: Bibliotecários da área jurídica. Formação profissional. Educação permanente.

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ABSTRACT

The study is about the continuing education of the librarian who works in legal institutions. The understanding that general education of librarians does not enable them to effectively meet the needs of legal professionals in their demands for legal information, combined with the lack of formal courses in Brazil that provide qualification to work in this area, as well as scarce literature on the practice of law librarians motivated this study. The lack of training aimed at developing specialized skills in legal information is considered in the literature related to the topic and needs to be highlighted, considering that spaces of dialogue in which the subject is discussed don’t have an adequate systematization to achieve this purpose. In discribing that reality, the research has the following question: how shall occur the continuing education process of the librarian who works in legal institutions? To answer this question, a general objective was designed: to know the process of continuing education of librarians who work in legal institutions. The specific objectives consist of: to describe the professional profile that is demanded for librarians who work with legal information; to verify the difficulties of librarians to search, process, use and disseminate legal information; to investigate the continuing education actions developed by librarians to work in law libraries; to identify the perspectives and challenges for the professional performance of librarians of legal institutions, facing the technological paradigms of the information society. To answer the question and achieve the objectives, the methodology of the present investigation assumes a qualitative, descriptive and exploratory genre, whose population is the law librarians of the city of Salvador. The sample made a total of 10 participants which were divided into two subgroups according to the respondents' working environment: group 1 - librarians linked to higher education institutions and group 2 - those who work in institutions whose legal practice provides informational support to legal operators. The results showed that: a) professional profile mostly belongs to the female gender, with consolidated experience in working in the legal area, age group above 40 years old and postgraduation; b) the most expressive difficulties in the work exercise are linked to the lack of mastery of legal terminology, the lack of autonomy in decisions in the institutional scope; c) continuing education actions are linked to own initiatives in the search for new knowledge, that is, courses, events and discussion lists and/or institutional incentives;

d) perspectives that were presented are related to the massive use of ICT in the information environment to optimize the services provided, while the challenges are financial, human resources, infrastructure and technology. It is concluded that most of these professionals acquire knowledge and skills about Legal Librarianship in an autodidact way and in exercising the profession, due to the absence of formal tools that would enable them to work in legal institutions. Investments in librarianship training institutions are necessary in order to provide training for librarians who work or wish to work in different areas of knowledge, especially those devoted to legal librarianship.

Keywords: Legal librarians. Professional qualification. Permanent Education.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Características das diversas sociedades... 30

Quadro 2 Perfil da biblioteca contemporânea... 40

Quadro 3 Criação de bibliotecas públicas nos séculos XIX e XX... 46

Quadro 4 Disciplinas escolares: Rio de Janeiro (BN) e São Paulo... 56

Quadro 5 Equivalência entre matérias do Currículo Mínimo de 1962 e Currículo Mínimo de 1982... 62

Quadro 6 Perfil, competências e habilidades da formação do bibliotecário... 67

Figura 1 Demonstrativo das diferentes concepções de information literacy... 75

Figura 2 Competências específicas do Bibliotecário Jurídico... 84

Figura 3 Pesquisa documental versus pesquisa bibliográfica... 98

Quadro 7: Amostra das instituições ligadas ao Direito da cidade de Salvador... 101

Quadro 8 Perfil dos respondentes... 106

Gráfico 1 Educação continuada dos Bibliotecários...... 108

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AALL American Association of Law Libraries

ABEBD Associação Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação ALA American Library Association

ALBA Assembleia Legislativa do Estado da Bahia

ARPANET Rede da Agência para Projetos de Pesquisa Avançada

BI Biblioteca Infantil

BN Biblioteca Nacional

BPB Biblioteca Pública da Bahia CAB Centro Administrativo da Bahia

CBBD Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação

CES Câmara de Educação Superior

CFE Conselho Federal de Educação

CI Ciência da Informação

CNE Conselho Nacional de Educação

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

DDI Divisão de Documentação e Informação

ENEBCI Encontro Nacional de Ensino da Biblioteconomia e Ciência da Informação

ENEBD Encontro Nacional de Biblioteconomia e Documentação ENIDJ Encontro Nacional de Informação e Documentação Jurídica ESDEP Escola Superior da Defensoria Pública do Estado da Bahia

EUA Estados Unidos

GIDJ/RJ Grupo de Profissionais em Informação e Documentação Jurídica do Rio de Janeiro

IBBD Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação IBICT Instituto Brasileiro de Informação Ciência e Tecnologia IES Instituições de Ensino Superior

JD Juris Doctor

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

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MEC Ministério da Educação MERCOSUL Mercado Comum do Sul MIS Master of Information Science

MLIS Master of Library and Information Science MLS Master of Library Science

OAB Ordem dos Advogados do Brasil PGJM Procuradoria-Geral da Justiça Militar

PIB Produto Interno Bruto

PUCCAMP Pontifícia Universidade Católica de Campinas SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida TIC Tecnologias de Informação e Comunicação Ucsal Universidade Católica do Salvador

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFPA Universidade Federal do Pará

UFPB Universidade Federal da Paraíba UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UI Unidade de Informação

UnB Universidade de Brasília

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNIFACS Universidade Salvador

Unijorge Centro Universitário Jorge Amado

USP Universidade de São Paulo

UW University of Washington

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ... 21

3 BIBLIOTECA E BIBLIOTECÁRIO: DUAS FACES DA MESMA MOEDA ... 36

3.1 BIBLIOTECA: CONCEITO, DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO ... 36

3.2 TIPOLOGIA E FUNÇÃO DA BIBLIOTECA ... 41

3.3 VESTÍGIOS HISTÓRICOS DAS PRIMEIRAS BIBLIOTECAS NO BRASIL ... 45

4 BIBLIOTECÁRIO: ASPECTOS HISTÓRICOS DA SUA FORMAÇÃO, PERFIL E EDUCAÇÃO CONTINUADA ... 51

4.1 FORMAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS ... 51

4.2 COMPETÊNCIAS DOS BIBLIOTECÁRIOS ... 72

4.3 EDUCAÇÃO CONTINUADA ... 78

4.4 O BIBLIOTECÁRIO DA ÁREA JURÍDICA ... 81

5 PERCURSO METODOLÓGICO ... 92

5.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ... 93

5.2 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ... 96

5.3 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ... 99

5.3.1 Critério de seleção ... 99

5.4 ESTRATÉGIAS DE COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS ... 102

5.4.1 Pré-teste ... 102

5.4.2 Técnica de análise de dados ... 103

5.4.3 Limitações da pesquisa ... 103

6 APRESENTAÇÃO DE DISCUSSÃO DOS DADOS ... 105

6.1 PERFIL E TRAJETÓRIAS ACADÊMICAS ... 106

6.2 ATUAÇÃO PROFISSIONAL: COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E DIFICULDADES...123

6.3 EDUCAÇÃO CONTINUADA ... 129

6.4 PERCEPÇÕES SOBRE DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA ATUAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO JURÍDICO ... 139

6.5 BIBLIOTECONOMIA JURÍDICA E AUTOIMAGEM ... 146

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ... 151

REFERÊNCIAS ... 153

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ... 175

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1 INTRODUÇÃO

Pessoas ainda são os melhores 'meios' para identificar, categorizar, filtrar, interpretar e integrar a informação. Não me refiro ao pessoal de TI, que lida com computadores e redes, mas às pessoas que fornecem e interpretam as informações. A mais importante equipe informacional de uma empresa lida com as mais valiosas modalidades de informação, como o conhecimento organizacional e os melhores métodos de trabalho. Se a informação, nessas categorias, deve ser valorizada, precisa continuar sendo organizada, reestruturada, interpretada e sintetizada - tarefas que o computador não é capaz de executar satisfatoriamente. (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p. 53, grifo do autor)

A informação sempre foi um insumo básico para a vida nos diferentes tipos de sociedades e das suas redes de relações ao longo da existência humana, o que mudou foram os suportes e meios de transmissão da informação.

O avanço da tecnologia é, sem precedentes, um fator condicionante das mudanças ocorridas nas sociedades, as quais podem ser contempladas nos ramos político, econômico, social e cultural. Após a invenção da roda (criada cerca de 3500 a.C.), a revolução industrial foi, sem dúvida, o ponto de partida para as principais transformações. Com a criação da máquina a vapor, mudou-se o modo de trabalho humano, consequentemente, todos os outros ramos que permeiam a vida em sociedade. No mesmo contexto de mudança, enquadram-se as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), principalmente pela velocidade de sua introdução nos ambientes da vida em sociedade; além disso, essas tecnologias também são responsáveis por intensificar a produção, transmissão e difusão do conhecimento.

Segundo Borges (2000), “vivencia-se uma nova ordem que tem suas bases nas mudanças paradigmáticas por que passa este fim de século, tanto do ponto de vista social, econômico, cultural, político, tecnológico e outros”. Certamente, as mudanças tecnológicas de informação e comunicação são as que provocaram maior impacto, gerando um novo paradigma do final do século XX e início do século XXI que configura a sociedade da informação.

A Internet e as tecnologias digitais são as grandes responsáveis por configurar a sociedade da informação. Assim, a informação torna-se insumo básico, matéria-prima, visto que a geração, o processamento e a transmissão da informação são fontes de poder, interferindo significativamente nas relações econômicas, sociais e políticas.

Na atual Sociedade da Informação, “o que torna a informação especialmente significativa é sua natureza digital” (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 149). E essa natureza da informação interfere diretamente no mercado de trabalho, a ponto de provocar o desaparecimento de algumas funções e o surgimento de outras, tendo em vista que a produção

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e a venda de informação, nas palavras de Burke (2003), e a mercantilização da informação e do conhecimento contribuem significativamente para o desenvolvimento da economia e do mercado de trabalho.

O mercado de trabalho é afetado pelo uso das tecnologias de informação e comunicação, que demanda por um profissional flexível e multifuncional, uma vez que as mudanças ocorridas, sejam elas de ordem política, sejam de ordem econômica ou social, exigem de qualquer profissional atualização constante.

Para o profissional bibliotecário, o contexto em tela exige competências, habilidades e atitudes que vão além da sua formação na graduação: é necessário buscar novos conhecimentos e desenvolver habilidades para se adequar à realidade exigida pelo mercado de trabalho, tendo em mente a dificuldade dos currículos de acompanharem as demandas sociais e mercadológicas, o que faz com que os conteúdos oferecidos na formação inicial se tornem insuficientes para atenderem “[...] as tendências do mundo do trabalho nessa nova configuração social” (CURI, RODRIGUES; LÜCK, 2015, p. 2).

Em face disso, é frequente a necessidade de flexibilizar as práticas tradicionais, adaptando-as para os desafios que emergem: “[...] novas tarefas, resolução de problemas, capacidade de organização do seu próprio trabalho, aprendizagem de trabalho em grupo de modo cooperativo e submissão a novas responsabilidades” (CURI, RODRIGUES; LÜCK, 2015, p. 2). O aprender a aprender torna-se pulsante, e é um diferencial que o profissional deve oferecer nessa nova ordem mercadológica.

É evidente que o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação em rede gera constantemente impactos significativos na maneira como a informação é produzida, organizada, preservada e disseminada, até mesmo na forma como a sociedade se relaciona.

Consequentemente, as exigências do mercado de trabalho são modificadas para atender a um novo tipo de demanda informacional.

O bibliotecário é um dos profissionais que teve suas práticas laborais modificadas com o desenvolvimento das tecnologias. Seu campo de atuação se tornou mais abrangente, uma vez que ele pode atuar em qualquer organização cujo insumo seja a informação. Hoje, as atividades dos bibliotecários envolvem diferentes espaços de instituições públicas e privadas, quais sejam:

bibliotecas, museus, arquivos, provedores de Internet, bases de dados, emissoras de rádio e televisão, escritórios de advocacia, editoras, centros culturais, livrarias, bancos, indústrias, universidades, entre outros.

As repartições públicas, as instituições de ensino e o mercado jurídico são um dos principais empregadores de bibliotecários que lidam com informação jurídica (MARTINHO;

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OCHÔA, 2016). No entanto, a formação generalista da maioria dos cursos de graduação em Biblioteconomia no Brasil não habilita esses profissionais para atuarem na área jurídica, inclusive são poucos os cursos formais brasileiros que habilitam nessa área. As oportunidades ofertadas para aproximação com a área jurídica surgem nos diferentes espaços de interlocução em que a temática é discutida, como: grupos de pesquisa, conferências, sítios, encontros, disciplinas na graduação, workshops, palestras e exposições, a exemplo do Grupo de Profissionais em Informação e Documentação Jurídica do Rio de Janeiro (GIDJ/RJ),2 o Infolegis — Pesquisa Jurídica no Brasil3 e o Encontro Nacional de Informação e Documentação Jurídica (ENIDJ), os quais constituem possibilidades para auxiliar o bibliotecário atuante na área do Direito. Apesar dessas chances, boa parte do conhecimento adquirido pelos bibliotecários para se tornar especialista em informação jurídica ocorre pela experiência e por iniciativas autodidatas.

A realidade em destaque motivou a realização desta investigação em razão da atuação como bibliotecária em um espaço de formação jurídica, ambiente que evidenciou a necessidade de uma formação continuada para atender com eficiência às necessidades e demandas informacionais da área jurídica. Um outro aspecto decorrente desse fato é a constatação de que a exígua literatura pouco reverbera sobre a prática do bibliotecário jurídico, o que faz com que haja o desejo de aprofundar sobre a temática.

A respeito dessa inquietação pessoal, Passos (2001) reforça a situação anteriormente aludida, ao afirmar que a especialização do recém-formado em Biblioteconomia está de acordo com a demanda do mercado de trabalho. Consequentemente, para ser um bibliotecário jurídico é imperioso atuar em uma instituição ligada ao Direito, onde se aprende a terminologia da área, as noções básicas e a compreender as necessidades informacionais do público especializado.

Por outro lado, alguns “[...] profissionais sentem a necessidade de dupla formação voltam, então, à universidade para graduar-se em Direito. Não existem estatísticas nacionais sobre a dupla formação do bibliotecário” (PASSOS, 2001, p. 3). A citação evidencia que, no caso brasileiro, a prática em instituições jurídicas é que demanda a apropriação dos saberes relativos a essa área e faz com que o bibliotecário amplie seus conhecimentos em uma graduação em Direito.

Nessa conjuntura, são levantados alguns questionamentos: que conhecimentos são indispensáveis para um bibliotecário atuar na área jurídica? Seria necessário realizar uma

2 <http://gidjrj.com.br/guiadebibliotecas/>.

3 Sítio da área jurídica criado por bibliotecários com a finalidade de organizar dados e informações para auxiliar no trabalho do bibliotecário jurídico brasileiro. <http://www.infolegis.com.br/sobre-infolegis.html>.

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graduação em Direito? Uma especialização para a formação em Biblioteconomia Jurídica seria o suficiente? Há uma demanda por uma especialização para a formação em Biblioteconomia Jurídica?

De acordo com as explanações e questionamentos mencionados, toma-se como ponto de partida para constituir o problema de pesquisa deste trabalho a seguinte questão: como ocorre o processo de educação continuada do bibliotecário para atuar nas instituições jurídicas?

Acredita-se que ainda há um longo caminho a percorrer após a formação do bibliotecário para atuar na área jurídica, visto que o novo profissional é graduado com um currículo composto por conhecimento genérico inerente à Biblioteconomia e não é, portanto, preparado para atuar em determinada área específica. As dificuldades apresentadas pelos bibliotecários podem estar associadas à literatura, ao tipo de terminologia da área, à complexidade da estrutura, dentre outros fatores.

Em razão dos aspectos apresentados, Bourdieu (2012) explica que os óbices encontrados pelo bibliotecário para atuar na área jurídica vão além da formação do profissional, pois, de acordo com ele, há uma instituição do monopólio no espaço judicial, e isso:

[...]implica a imposição de uma fronteira entre os que estão preparados para entrar no jogo e os que, quando nele se acham lançados, permanecem de facto dele excluídos, por não poderem operar a conversão de todo o espaço mental

 e, em particular, de toda a postura linguística  que supõe a entrada neste espaço social. (BOURDIEU, 2012, p. 225)

O fato de não possuir o domínio do campo do conhecimento e das terminologias da área jurídica é um fator de exclusão dentro do campo de atuação, ou seja, o profissional que não tem as competências inerentes ao Direito, mesmo aqueles que não o exercem diretamente, será, pelo próprio campo, excluído. Diante dessa realidade, Bourdieu (2012, p. 225-226) preleciona que

“a constituição de uma competência propriamente jurídica, maestria técnica de um saber frequentemente antinómico das simples recomendações do senso comum, leva à desqualificação do sentido de equidade dos não-especialistas”. Logo, essa situação demandará do novo profissional uma formação complementar que o qualifique para buscar, tratar, utilizar e disseminar a informação jurídica, além de garantir sua efetiva inserção dentro desse espaço social.

Para responder às inquietudes mencionadas, a pesquisa delineou como objetivo geral:

conhecer o processo de educação continuada dos bibliotecários que atuam em instituições jurídicas cujos objetivos específicos consistem em: levantar o perfil profissional demandado aos bibliotecários que trabalham com informações jurídicas; verificar as dificuldades dos

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bibliotecários para buscar, tratar, utilizar e disseminar a informação jurídica; averiguar as ações de educação continuada desenvolvidas pelos bibliotecários para atuarem em bibliotecas jurídicas; e identificar as perspectivas e desafios para a atuação profissional dos bibliotecários de instituições jurídicas frente aos paradigmas tecnológicos da sociedade da informação.

Cumpre destacar que para responder ao problema e atingir os objetivos, a metodologia da presente investigação assume caráter qualitativo, descritivo e exploratório, cuja população é composta por bibliotecários jurídicos da cidade de Salvador, e em função das condições impostas pela pandemia e consequente isolamento social, fez-se necessária a composição de uma amostra com o total de 10 participantes que foram divididos em dois subgrupos, de acordo com o ambiente de atuação dos respondentes: grupo 1, bibliotecários ligados a instituições de ensino superior; e grupo 2, aqueles que atuam em instituições cuja prática jurídica dá suporte informacional aos operadores do Direito.

Os resultados mostraram que: a) o perfil profissional majoritariamente pertence ao gênero feminino, com experiência consolidada de atuação na área jurídica, faixa etária acima de 40 anos e pós-graduado; b) as dificuldades mais expressivas no exercício laboral estão atreladas ao pouco domínio da terminologia jurídica, à falta de autonomia nas decisões no âmbito institucional; c) as ações de educação continuada estão ligadas a iniciativas próprias na busca de novos conhecimentos, isto é, cursos, eventos e listas de discussão e/ou por incentivo institucional; d) as perspectivas que se apresentam têm relação com o uso massivo das TIC no ambiente informacional para otimização dos serviços prestados, enquanto os desafios são de ordem financeira, de recursos humanos, de infraestrutura e tecnológica. Conclui-se que a maioria desses profissionais adquire conhecimentos e competências de Biblioteconomia Jurídica de forma autodidata e no exercício da profissão devido à ausência de ferramentas formais que o habilitem para o trabalho em instituições jurídicas. Investimentos nas instituições formativas da Biblioteconomia são necessários a fim de oferecer capacitação para os bibliotecários que atuam ou desejam atuar nas diferentes áreas do conhecimento, em especial aqueles devotados à Biblioteconomia Jurídica.

Para a realização da pesquisa, tornou-se necessário um aprofundamento bibliográfico sobre a formação do profissional bibliotecário, afunilando para o bibliotecário especialista em informação jurídica, no intuito de buscar as competências e habilidades para exercer a função de bibliotecário jurídico e, assim, atender com qualidade os usuários que demandam por informação específica do Direito.

Desse modo, o conteúdo deste material dissertativo é dividido nas seguintes seções:

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 Seção 1 – Introdução: responsável por apresentar o problema de pesquisa, objetivo geral e específico, a motivação e justificativa para a realização deste trabalho;

 Seção 2 – Sociedade da Informação e do Conhecimento: cuja finalidade é conceituar sociedade, informação e o conhecimento, de modo a fazer aproximações entre esses conceitos e a Ciência da Informação;

 Seção 3 – Biblioteca e bibliotecários: duas faces da mesma moeda — faz um levantamento da história das bibliotecas em um contexto mundial e brasileiro, a fim de entender como essas construções de caráter milenar impactam na formação dos bibliotecários;

 Seção 4 – Bibliotecário: aspectos históricos da sua formação, perfil e educação continuada; foca justamente na conjuntura formativa do profissional, principalmente no Brasil, analisando currículos e verificando como se dá a formação do bibliotecário, competências a serem desenvolvidas, a necessidade de educação permanente e como ele busca capacitação para se especializar em informação jurídica;

 Seção 5 – Percurso metodológico: esta seção descreve o processo de construção do conteúdo dissertativo, incluindo o universo de estudo, a amostra utilizada, instrumentos e estratégia de coleta de dados, metodologia e demais atividades;

 Seção 6 – Apresentação de discussão dos dados: discutem-se as informações coletadas durante a coleta de dados com respaldo na literatura da área;

 Seção 7 – Considerações finais e recomendações: apresentam-se os principais achados em face dos objetivos traçados.

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2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

São os fazedores de machados, cujas descobertas e inovações vêm há milhares de anos, presenteando poder sobre inúmeras formas. Eles deram aos imperadores o poder da morte, aos cirurgiões o poder da vida. Toda vez que os fazedores de machados ofereciam uma nova maneira de nos tornar ricos, seguros inteligentes ou invencíveis, nós a aceitávamos e a utilizávamos para mudar o mundo. E ao mudar o mundo, mudávamos nossas mentes, porque cada presente redefinia nosso modo de pensar, os valores e as verdades por que vivíamos e morríamos. (BURKE; ORNSTEIN, 1998, p. 15)

Na contemporaneidade, o termo mudança persiste de maneira irreversível, tendo em vista o domínio das novas TIC sobre o convívio social. Os impactos ocasionados pelas TIC interferem nas relações políticas, econômicas, laborais, éticas, ambientais, sociais e culturais da vida em sociedade. Atreladas ao fator mudança, existe a velocidade com que as TIC ocorrem, o que exige a capacidade de adaptação das instituições, grupos sociais e profissionais na mesma medida.

Nesse cenário, a discussão sobre a sociedade da informação perpassa pelo conceito de informação, cuja terminologia ganha novos contornos nunca vivenciados pela humanidade, pois ela se torna insumo básico, matéria-prima para a tomada de decisões e redução de incertezas dentro dos ambientes sociais. O processo de uso da informação se intensifica pela concomitante inserção da informática e das telecomunicações em uma interação simbiótica, de tal modo a facilitar “[...] o processamento, armazenamento e distribuição da informação.”

(CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p.153)

A informação é um recurso de gestão para a manutenção da soberania do Estado, de modo a coordenar a complexidade da realidade social, econômica, tecnológica, cultural e política de uma nação. Segundo Ferreira (2003, p. 37), “[...] a informação no contexto do Estado está voltada para a análise da realidade social e subsequente elaboração, aplicação e controle de políticas públicas que promovam o bem-estar da coletividade”, no caso da sociedade civil, o uso da informação se faz presente no exercício da cidadania, no desenvolvimento intelectual, criativo, nas relações com o outro e na mudança da realidade social do sujeito.

Na perspectiva apresentada, a informação é objeto de estudo da Ciência da Informação de acordo com Michael Buckland (1991), Rafael Capurro e Birger Hjorland (2007) e Frohmann (2012), dentre outros autores que buscam conceituá-la em diferentes campos do conhecimento em razão de seu caráter interdisciplinar.

Nesse sentido, Borko (1968, p. 2) salienta que conceitualmente a informação não se restringe ao campo da CI, tendo em vista que esta “é uma ciência interdisciplinar derivada de

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campos relacionados [...]” como a Matemática, a Psicologia, a Lógica, a Comunicação, a Linguística, a Biblioteconomia e outras áreas científicas correlatas. Capurro e Hjorland (2007, p. 160) reforçam a ideia do estudo da informação em cada campo do conhecimento por considerarem que “[...] quase toda disciplina científica usa o conceito de informação dentro de seu próprio contexto e com relação a fenômenos específicos”, ou seja, há o alargamento de fronteiras quanto ao uso do termo informação.

Assim, levando em conta tais considerações, Michael Buckland (2001) entende a informação como ponto para a redução da ignorância e da incerteza. Desse modo, o autor apresenta a informação em três definições: a informação-como-processo (o que se conhece é modificado pela adição de uma nova informação); a informação-como-conhecimento (seria o conhecimento que é comunicado, portanto, intangível) e informação-como-coisa (consiste na representação do conhecimento de forma tangível, ou seja, a informação enquanto objeto).

Buckland (2001) deixa claro a necessidade de análise cuidadosa da informação-como-coisa, visto que essa é o único tipo de informação tratado pelos sistemas de informação.

Ampliando a discussão, Capurro (2003) apresenta três paradigmas distintos para compreender e estudar a informação no campo da CI: o paradigma físico, que tem suas bases na teoria matemática da comunicação de Shannon e Weaver (1949), cuja essência consiste em um suporte físico informacional onde o emissor transmite a informação ao receptor; o paradigma cognitivo baseado em Karl Popper (1973), que relaciona a informação com o conhecimento. Nessa teoria, algo é considerado como informacional quando altera as estruturas de conhecimento do indivíduo. Para Araújo (2010, p. 96), no paradigma cognitivo, “[...] é preciso se considerar o estado de conhecimento (o que se conhece, o que se sabe): a informação não é apenas a sua manifestação física, o registro material do conhecimento – é preciso ver, também, o que está na mente dos usuários”; e o paradigma social, que reconhece as limitações do paradigma cognitivo ao não levar em consideração as construções sociais e existenciais da vida humana; esse paradigma é abertamente discutido por Frohmann (2008).

A informação deve ser pensada em seu caráter social, público, econômico, político e cultural. Nesse sentido, Frohmann (2008) defende a materialidade da informação como escopo de estudo nesses contextos. A materialidade está ligada à questão da existência, mas não à questão do espaço. Segundo o autor, mesmo sem estar em um suporte físico, ainda assim a informação terá materialidade. O ponto principal no estudo de Frohmann (2008) se concentra no relacionamento do sujeito com a informação, sem dissociá-lo da questão social, pública, econômica, política e cultural.

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As ideias trabalhadas por Frohmann (2008) é corroborada por Gomes (2016, p. 95-99) ao afirmar que a informação é o conhecimento em estado de compartilhamento, pois saiu do seu plano mental por meio da materialidade. Por esse ângulo, a informação não precisaria ter um suporte físico de registro para ter materialidade, o ato de compartilhar em si se configura

“[...] como um ‘terreno’ de interligação entre informação e comunicação”. Assim, a informação seria “o fenômeno que emerge do esforço de compartilhamento do conhecimento e dos saberes humanos [...]”, em vista disso, informação e sociedade são contextos indissociáveis, posto que a vida humana se correlaciona com as trocas de informações e os seus usos.

Na mesma linha de estudo do paradigma social, situa-se Rendón Rojas (2005), ao indicar que a informação não existe como um ente acabado e autônomo, ela é construída no mundo material, ou seja, com as interações sociais e o ambiente de inserção do sujeito. Com base nesse pressuposto, o autor faz uma divisão histórica da sociedade tomando a informação como alicerce para essa divisão. Assim, apresenta o período da vida humana em quatro etapas:

a sociedade de tradição oral; a sociedade das elites privilegiadas com acesso a documentos manuscritos; a sociedade leitora do documento impresso; e a sociedade da informação. Para cada uma dessas etapas são apresentadas características que as distinguem:

1. A primeira etapa corresponde à sociedade de tradição oral; a informação é transmitida de geração em geração por meio da oralidade, os adultos ensinam aos mais jovens as tradições, os valores e os costumes do povo local, bem como a forma de realizar as atividades cotidianas.

2. A segunda etapa caracteriza-se pelo acesso restrito à informação e a formação da cultura leitora direcionada para as elites privilegiadas. O modo de reprodução é manual e se utiliza do papiro, do pergaminho e do papel como suporte informacional.

3. A sociedade leitora do documento impresso refere-se à terceira etapa. Graças à invenção da prensa, houve uma revolução cultural no modo de acesso ao livro, que passou a ser reconhecido como principal fonte de acesso à informação. O autor ressalta que, apesar da cultura leitora dos documentos impressos, podem existir nessa sociedade pessoas que não tenham sido alfabetizadas.

4. Por fim, a quarta etapa diz respeito à sociedade da informação, qualificada pela interconexão de tecnologias e pessoas, que provoca relações dinâmicas e mutáveis na estrutura e no funcionamento da sociedade. Atrelado a essa dinâmica da interação social, existe o fenômeno globalização, que rompe com as estruturas do espaço-

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tempo. Em razão disso, decisões locais se tornam globais, pois a informação flui e age independentemente das barreiras geográficas. A informação no contexto da sociedade da informação converte-se em um recurso estratégico, uma mercadoria não apenas para a esfera econômica, mas para todas as esferas da vida em sociedade.

(RENDÓN ROJAS, 2005)

Em linhas gerais, a “[...] informação é todo o dado trabalhado, útil, tratado, com valor significativo atribuído ou agregado a ele, e com um sentido natural e lógico para quem usa a informação” (REZENDE; ABREU, 2003, p. 60, grifo do autor). Em contrapartida, o dado é um elemento da informação, mas ele, por si só, não conduz ao entendimento, pois não possui um significado claro, não produz conhecimento.

No contexto das TIC, à informação correspondem os dados numéricos (0 e 1) processados pelo computador; ela é o registro do conhecimento a ser utilizado em momento oportuno para a “[...] criação, transmissão, armazenamento, recuperação, recepção, cópia (em diferentes formas), processamento e destruição” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 201). A transmissão da informação, por sua vez, pode ser “[...] feita numa grande variedade de formas, entre as quais se incluem: luz, som, ondas de rádio, corrente elétrica, campos magnéticos e marcas sobre o papel” (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 201). Nessa direção, a globalização é um conceito essencial para ampliar a discussão sobre a informação na sociedade da informação.

A globalização intensifica os processos de uso da informação; é, dessa maneira, o resultado de intensas mudanças que vêm ocorrendo no sistema econômico mundial e interfere, consequentemente, em todos os setores sociais. Nesse âmbito, a estrutura tempo-espaço é modificada, devido a possibilidade de se ter informações de diversas partes do mundo ao acionar um botão. Assim, a globalização pode ser definida pelas “[...] relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa” (GIDDENS, 1991, p. 76). Apesar das características econômicas serem as que mais se sobressaem, o processo de globalização interfere em todos os ramos da vida em sociedade de forma heterogênea e desigual, direta ou indiretamente. Em outro ponto de vista, o termo é entendido por Milton Santos (2001) sob três perspectivas: como fábula, como perversidade e como possibilidade.

Na globalização como fábula (como fazem crer que o mundo é), tomam “[...] como verdade um certo número de fantasias [...]”. A ideia de aldeia global traz a visão de que a disseminação de informação realmente informa as pessoas, quando, na verdade, existem

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diferenças entre a divulgação da informação e o uso dela pelo usuário, pois nem toda a informação difundida é transformada em conhecimento. Na perspectiva apresentada, existe o estímulo ao consumo e à presença de um mercado global que defende a homogeneização em escala mundial, todavia as desigualdades são acentuadas, o que torna o mundo menos unido e

“[...] o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal” torna-se cada vez mais distante. O ideal de uma comunidade global e igualitária não passa de uma utopia, uma fábula (SANTOS, 2001, p. 18-19).

Por outro lado, na globalização como fábula, prega-se a “morte do Estado”. Entretanto, na sociedade da informação, a figura do Estado é fortalecida, pois é inevitável a atuação do setor público como regulador e controlador de abusos por parte do setor privado, de modo a garantir os direitos fundamentais da sociedade civil (SANTOS, 2001, p. 19).

A globalização como perversidade estrutura-se na ideia da adesão do comportamento competitivo do mercado global e provoca, assim, aumento do desemprego, produção da pobreza, diminuição da qualidade de vida, da educação e dos valores morais. Esse quadro de vulnerabilidade social ocasiona o ressurgimento de doenças consideradas extintas, bem como o aparecimento de novas, segundo Santos (2001, p. 19-20) “[...] novas enfermidades como a SIDA se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal [...]”.

A visão do referido autor sobre a realidade por ele descrita é confirmada no contexto atual da sociedade da informação.

O caráter perverso da globalização também se encontra na forma como a informação é utilizada, se considerarmos que ela visa a atender interesses particulares. Por se tratar de um bem essencial na sociedade da informação, a informação acaba sendo manipulada;

consequentemente, a percepção fragmentada, maquiada da informação é passada para o leitor ou telespectador, que fica desinformado. As “[...] técnicas da informação (por enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando, assim, os processos de criação e desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica [...]” (SANTOS, 2001, p. 39). Na contemporaneidade, a informação manipulada é falseada, assim notícias são divulgadas nas redes sociais sem a verificação dos fatos ou julgamento editorial, o que favorece interesses de alguns em detrimento de outros, a exemplo das informações publicizadas sobre a influência das fake news nas eleições dos Estados Unidos em 2016 (HUNT; GENTZKOW, 2017)

Seguindo a linha de pensamento dos autores anteriormente citados, Lewandowski (2019) afirma que a sociedade pós-moderna é marcada pelo retrocesso de princípios e valores e pelo profundo ceticismo nas ciências, de tal modo que visões bizarras (terraplanismo) são

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aceitas sem a menor crítica. Essa sociedade pós-moderna que se caracteriza pela liquidez, pelo consumismo, egoísmo, falta de empatia, valores artificias etc., produz um mundo da pós- verdade que se prolifera pelo uso das TIC e interfere na soberania do Estado, principalmente nas decisões de ordem econômica.

O fato de estar inserido na sociedade da informação não significa que todas as pessoas usam as TIC de forma igualitária, visto que envolve o desenvolvimento de competências, questões sociais e econômicas que estão imbricadas nessa realidade. Desse modo, a sociedade da informação pode assumir a perspectiva da desinformação.

A relação sociedade da informação/desinformação nos alcança cotidianamente nas ruas, nas praças públicas, nas conversas de bar e, contraditoriamente nas Universidades. De um lado, encontramos cientistas que descrevem com propriedade as mais recentes descobertas nos campos da biogenética, da física, da cibernética e em direção contrária, pessoas que não sabem sequer decifrar o código escrito [...] (CASTRO; RIBEIRO, 1997, p.22)

A globalização como perversidade exige que os atores envolvidos nesse sistema estejam suscetíveis a dois tipos de tirania, a do dinheiro e a da informação (SANTOS, 2001), fatores intimamente relacionados nos quais é difícil não se envolve e que impulsionam a competividade entre os atores, conforme ressalta Suaiden (2000, p. 57):

A competição acaba estimulando a violência (talvez o maior problema social da atualidade), porque a regra que vigora é a regra do resultado. Não existe ética. Quando, por exemplo, privilegia-se, no ensino secundário, a formação técnica, sem nenhum conteúdo humanístico, está se criando mais um fator que estimula atividades violentas. Além disso, devemos destacar que a globalização é um navio e o ingresso é conhecimento e informação, não há lugar para os analfabetos e para as pessoas que não apresentam mão de obra qualificada.

A proposta de uma outra globalização como possibilidade é baseada no ideal de como ela pode ser. Estrutura-se na concepção de uma globalização mais humana, de modo que a mesma materialidade utilizada para construir a globalização como perversidade seja utilizada na construção de um mundo mais humano, na completude da “mutação tecnológica” e da

“mutação filosófica da espécie humana.” A “mutação tecnológica” refere-se às técnicas da informação, que, quando usadas democraticamente, estarão a serviço da humanidade. Por outro lado, a “mutação filosófica” refere-se à possibilidade de o homem atribuir sentido à sua própria existência e à do planeta (SANTOS, 2001, p. 174).

Em se tratando do processo de globalização e da economia baseada no uso da informação, Castells (2000) analisa que a Revolução da Tecnologia de Informação fornece as

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bases para uma nova realidade econômica, a informacional e a global. Para o autor, a economia

“[...] é informacional porque a produtividade e a competividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos”.

Outrossim, a economia é considerada como global, porque as “[...] atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos”. (CASTELLS, 2000, p. 87, grifo do autor)

A Revolução da Tecnologia da Informação caracteriza-se pelo uso da informação como matéria-prima, pelos aparatos tecnológicos com alta penetrabilidade dentro da sociedade, do predomínio da lógica de redes que estrutura o “não estruturado” pela flexibilidade que permite a constante reconfiguração tecnológica, e principalmente a convergência das tecnologias (CASTELLS, 2000, p. 78-79). O elemento-chave para o desenvolvimento dessa revolução concentra-se na “[...] capacidade de gerar sinergia com base em conhecimentos e informação[...]”. Essa sinergia entre informação, conhecimento e tecnologia propicia a natureza digital da informação, e é essa natureza que perdura nas relações informacionais da atualidade (CASTELLS, 2000, p. 75).

Entretanto, vale fazer uma diferenciação entre as tecnologias tradicionais e as novas tecnologias pós revolução das TIC. A esse respeito, Assmann (2000, p. 9) assinala que:

As novas tecnologias da informação e da comunicação já não são meros instrumentos no sentido técnico tradicional, mas feixes de propriedades ativas.

São algo tecnologicamente novo e diferente. As tecnologias tradicionais serviam como instrumentos para aumentar o alcance dos sentidos (braço, visão, movimento etc.). As novas tecnologias ampliam o potencial cognitivo do ser humano (seu cérebro/mente) e possibilitam mixagens cognitivas complexas e cooperativas.

As tecnologias tradicionais mencionadas por Assmann (2009) foram potencializadas durante as revoluções industriais. A máquina a vapor, criada durante a primeira revolução industrial no século XVIII, passou a substituir a mão de obra humana no processo produtivo e, portanto, abriu espaço para a criação das indústrias. A difusão da eletricidade na segunda revolução industrial afetou os meios de produção nas indústrias e revolucionou os meios de comunicação à distância, atrelada ao desenvolvimento de produtos químicos, do telégrafo e da telefonia (CASTELLS, 2000). Segundo Bell (1978, p. 539), a revolução industrial “[...] foi um esforço que visava a colocar uma ordem técnica no lugar da ordem natural, uma concepção

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técnica da função e da racionalidade em lugar das aleatórias distribuições ecológicas dos recursos e dos climas”. Essas revoluções formaram a base para a Revolução da Tecnologia de Informação ou para a terceira revolução industrial.

O epicentro da Revolução da Tecnologia de Informação foi a criação da Internet, que surgiu no final da década de 60, por intermédio do poderio militar estadunidense. Em um contexto de Guerra Fria, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos criou uma arquitetura de rede formada por milhares de computadores que não poderiam ser controlados por um centro; desse modo, poderiam impedir a destruição ou a tomada dos meios de comunicação pelos soviéticos. Assim, surgiu a ARPANET, uma base para a rede de comunicação formada por milhares de redes de computadores (CASTELLS, 2000). A Internet, como ela é utilizada na contemporaneidade, transforma-se em um fator de impulsionamento da era informacional,

“[...] um meio de extensão da capacidade de alcance da comunicação e quanto mais ela se expande, tanto mais o poder de processamento das informações altera a vida das pessoas, impactando no desenvolvimento de sistemas próprios de comunicação de massas [...]” (BOFF;

FORTES; FREITAS, 2018, p. 33).

Sendo a Internet um dos principais meios de comunicação da atualidade, gera-se um novo antigo problema, a crise informacional. Essa crise é decorrente da explosão bibliográfica, ocasionada inicialmente pela invenção dos tipos móveis de impressão, no século XV, e, na contemporaneidade, pelo aparecimento das TIC, o que contribui para a produção e circulação de informação em massa. O aumento exponencial de informação dificulta o armazenamento, processamento e a disponibilização; nesse contexto, a crise informacional é entendida pelas

“[...] mudanças nos paradigmas do fazer científico e nas concepções sobre verdade” (CASTRO, RIBEIRO, 1997, p. 17). A legitimidade do conhecimento produzido nessa conjuntura é colocada em questão, visto “[...] que se perde o controle do que é produzido em espaços tempos determinados” (CASTRO; RIBEIRO, 1997, p. 17).

A Revolução da Tecnologia de Informação traz em seu bojo o termo sociedade da informação. Para definir essa atual sociedade, entretanto, existe certa divergência entre os teóricos sobre a nomeação dessa atual conjuntura da sociedade, caracterizada pelo uso de tecnologias para facilitar a comunicação. Alguns chamam de sociedade da informação, sociedade informacional, sociedade do conhecimento, sociedade da aprendizagem, sociedade aprendente, sociedade em rede, sociedade da informação e do conhecimento, sociedade pós- industrial, sociedade cibernética, sociedade sensoriada, sociedade dos sensores, sociedade da transformação digital, dentre outros (BELL, 1978; CAPURRO; HJORLAND, 2007;

CASTELLS, 2000; JAMBEIRO, 2004; MIRANDA, 2000; RENDÓN ROJAS, 2001; WEISS,

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2019; WERTHEIN, 2000). Na construção deste texto dissertativo, o termo utilizado será sociedade da informação, que tem como ponto principal a informação e as transformações das relações entre o homem e a informação oportunizadas pelo uso das TIC e por se considerar que os termos utilizados pelos diferentes teóricos são sinônimos.

A expressão “sociedade da informação” passou a ser usada em substituição à expressão

“sociedade pós-industrial” (WERTHEIN, 2000), termo cunhado por Daniel Bell (1978), que caracteriza a sociedade pós-industrial de acordo com as mudanças que ocorriam nos diversos campos da sociedade até chegar na sociedade da informação.

[...] no setor econômico, representa uma transposição da manufatura para os serviços; na tecnologia, é a centralidade das modernas indústrias com bases científicas; em termos sociológicos, é ascensão de novas elites técnicas e o advento de um novo princípio de estratificação. Partindo desse terreno, pode- se recuar e afirmar, de um modo mais geral, que a sociedade pós-industrial representa o aparecimento de novas estruturas e princípios axiais: uma sociedade produtora de bens transformada em sociedade de informação, ou erudita; (BELL, 1978, p. 538)

A sociedade da informação tem como principal característica o seu funcionamento em rede, em que progressivamente convergem “[...] produtores, intermediários e usuários em torno a recursos, produtos e serviços de informação afins.” (MIRANDA, 2000, p. 81). Nessa sociedade, também há outras formas de trabalho, novas possibilidades de produção de bens e serviços. A aplicação das inovações tecnológicas nos setores laborais transformou as relações de trabalho, algumas profissões foram extintas e demais outras foram criadas.

Concomitantemente, houve um aumento da qualificação ou da intelectualização da mão de obra, causada pelo avanço científico e tecnológico.

[...] la sociedad de la información desde el enfoque histórico es el conjunto de relaciones sociales en un espacio social (institucionalidad) altamente dinámico, abierto, globalizado y tecnologizado, que se apoyan y realizan a través de la información; la cual es igualmente dinámica, abierta, globalizada, tecnologizada además de mercantilizada. (RENDÓN ROJAS, 2001, p.16)

O conhecimento e a comunicação estão no cerne da sociedade humana como fenômeno social; entretanto, o que caracteriza a sociedade da informação “[...] é o surgimento da tecnologia da informação e seus impactos globais” (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p. 149).

Na perspectiva do conhecimento e da informação presentes em todas as sociedades, Castro e Ribeiro (1997) apresenta, no Quadro 1, as características informacionais de cada sociedade nos diferentes períodos históricos.

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Quadro 1: Características das diversas sociedades

Fonte: CASTRO; RIBEIRO, 1997, p. 20

O Quadro 1 evidencia que a informação esteve presente em vários períodos da sociedade, o que muda é a utilização, o acesso e o desenvolvimento tecnológico para seu uso.

Castells (2000) faz uma distinção entre as expressões sociedade da informação, sociedade informacional e sociedade em rede. Para o sociólogo, “o termo sociedade da informação enfatiza o papel da informação na sociedade” (CASTELLS, 2000, p. 46).

Entretanto, o autor expressa seu desconforto com o uso do termo informação para designar a sociedade atual, pois a informação enquanto conhecimento comunicado foi essencial em todas as sociedades.

Frequentemente, a sociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de informação ou sociedade do conhecimento. Eu não concordo com esta terminologia. Não porque conhecimento e informação não sejam centrais na nossa sociedade. Mas porque eles sempre o foram, em todas as sociedades historicamente conhecidas. O que é novo é o facto de serem de base microelectrónica, através de redes tecnológicas que fornecem novas capacidades a uma velha forma de organização social: as redes. (CASTELLS, 2005, p. 17)

Por outro lado, a terminologia sociedade informacional “[...] indica o atributo de uma forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder devido às novas condições tecnológicas surgidas nesse período histórico” (CASTELLS, 2000, p. 46),

Sociedade Primitiva Sociedade Feudal Sociedade Industrial Sociedade da Informação

Natureza – fator de agregação;

Terra – fator de agregação;

Relação homem-máquina;

Relação homem/conhecimento;

Economia centrada na troca; Economia agrícola e monetária; Produção em série; Informação desterritorializada;

Informação localizada e rudimentar;

Atividades manuais desenvolvidas e em sistema de cooperativas;

Economia capitalista; Inteligência humana x Inteligência artificial;

Atividades manuais; Informação localizada e centralizada em espaços determinados (mosteiros, universidades) e privilegiados (ensino humanista para os nobres e

“sub-leitura da informação” – bibliotheque blue para a plebe)

Conhecimento tecnológico em detrimento do intelectual;

Conhecimento determina as leis de mercado;

Relações de trabalho conflituosas; Economia neo-liberal;

Cidade no lugar de campo; Metalinguagens e meta-informação;

Mão-de-obra especializada em maquinários;

Redes de sistemas de informação transnacionais;

Informação sigilosa “localizada”; Atividades profissionais destituídas do lugar físico;

Redes e sistemas de informação nacionais;

Atividades profissionais centradas em empresas;

Atividades profissionais centradas em empresas;

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justamente para caracterizar as transformações atuais. Dentro da sociedade informacional defendida por Castells (2000), existe a lógica da sua estrutura, que é fundamentada em redes, deve-se, então, a isso, consequentemente, o uso da terminologia sociedade em rede.

De acordo com Castells (2005, p. 20), sociedade em rede é “[...] uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microelectrónica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes [...]”. Por outro lado, a sociedade da informação caracteriza-se pelo uso de tecnologias para armazenamento, processamento, produção e transmissão de informação com baixo custo.

Segundo Takahashi (2000, p. 5), essa nova sociedade determinada pelo uso da informação “não é um modismo”, representa grandes mudanças na organização social, econômica e política com alcance global. Miranda (2000) corrobora com Takahashi (2000), quando afirma que:

Na sociedade da informação, a comunicação e a informação tendem a permear as atividades e os processos de decisão nas diferentes esferas da sociedade, incluindo a superestrutura política, os governos federal, estaduais e municipais, a cultura e as artes, a ciência e a tecnologia, a educação em todas as suas instâncias, a saúde, a indústria, as finanças, o comércio e a agricultura, a proteção do meio ambiente, as associações comunitárias, as sociedades profissionais, sindicatos, as manifestações populares, as minorias, as religiões, os esportes, os esportes, lazer, hobbyes etc. . (MIRANDA, 2000, p.80-81, grifo do autor)

A sociedade da informação caracteriza-se pelos fluxos de informação em esfera global que abrangem os setores públicos e privados, considerando que o acesso à informação nesse âmbito consiste em um direito fundamental de todo cidadão. Nessa direção, Castells (2000, p.

436) ressalta que “[...] por fluxos, entendo as sequências intencionais, repetitivas e programáveis de intercâmbio entre posições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade”. Os fluxos que prevalecem na sociedade da informação podem ser, além dos informacionais, os fluxos de capital, tecnologia, interação organizacional, imagens, símbolos e sons (CASTELLS, 2000).

A fim de analisar e caracterizar o desenvolvimento da sociedade da informação, Miranda (2000) e Jambeiro (2004) identificam os elementos que a estruturam, bem como o cenário onde esses elementos operam. Adicionalmente, sinalizam os postulados dessa “[...]

correnteza de tecnologias, processos e produtos, de onde e por onde fluem oceanos de informação” (JAMBEIRO, 2004, p. 67).

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