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EMBARGOS DE TERCEIRO TEMPESTIVIDADE URGÊNCIA

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 5225/2008-8

Relator: SALAZAR CASANOVA Sessão: 14 Junho 2008

Número: RL

Votação: DECISÃO INDIVIDUAL Meio Processual: AGRAVO Decisão: PROVIDO

EMBARGOS DE TERCEIRO TEMPESTIVIDADE URGÊNCIA

CADUCIDADE PRAZO

Sumário

I- O prazo de caducidade a que alude o artigo 353º/2 do C.P.C. não se aplica tratando-se de embargos de terceiro com função preventiva; nestes, a

tempestividade é aferida pelos limites definidos no artigo 359º do C.P.C. que visa precisamente os embargos deduzidos, antes de realizada, mas depois de ordenada a diligência ofensiva da posse ou de qualquer outro direito

incompatível com o seu âmbito.

II- Para efeitos de rejeição dos embargos de terceiro, hoje, atento o disposto no artigo 354.º do C.P.C.(“ sendo apresentado em tempo e não havendo outras razões para o imediato indeferimento da petição de embargos […]”), o

Tribunal pode conhecer oficiosamente da intempestividade dos embargos, mas não fica precludida ao embargado, que não é ouvido nesta fase processual, a possibilidade de invocar em sede de facto e de direito a aludida excepção de caducidade.

(SC)

Texto Integral

Decisão liminar nos termos do artigo 705.º do C.P.C.

1. Mário […] deduziu embargos de terceiro contra B. […] , SA alegando que teve conhecimento em 11-3-2008 de que, por decisão judicial proferida em procedimento cautelar, fora ordenada a entrega imediata à requerente de

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veículo Mercedes identificado nos autos.

2. Os embargos foram deduzidos no dia 7-4-2008 remetidos ao Tribunal por carta registada de 3-4-2008.

3. O Tribunal proferiu decisão de rejeição dos embargos considerando-os intempestivos.

4. De acordo com a decisão, ora sob recurso, a providência cautelar de entrega judicial da viatura foi deferida em 2-10-2007.

5. O embargante foi citado na acção declarativa (não foi demandado na providência) em 30-10-2007 e deduziu contestação no dia 3-12-2007.

6. Em 28-2-2008 conforme requerimento de fls. 77 o ora embargante, ainda de acordo com a decisão recorrida, teve conhecimento pelas autoridades policiais de que fora ordenada judicialmente a entrega da viatura; em 3-3-2008 foi passada certidão da decisão proferida nos autos de providência cautelar. Os embargos deviam ter sido deduzidos até ao dia 28-3-2008, não sendo,

portanto, tempestivos os embargos deduzidos apenas no dia 7-4-2008

7. Nas suas alegações de recurso o recorrente sustenta que desconhecia no dia 28-2-2008 o teor da decisão judicial que havia ordenado a entrega do veículo. Ora o prazo de 30 dias não se deve contar desse momento, mas do momento em que é conhecido o teor da decisão.

8. A certidão solicitada pelo embargante foi emitida no dia 3-3-2008,

notificada no dia 4-3-2008 e levantada no dia 11-3-2008. Só nesta data ele teve acesso à decisão.

9. O momento a considerar como o momento da dedução dos embargos é o dia 3-4-2008 ( e não o dia 7-4-2008) pois foi nessa data que os embargos foram remetidos ao Tribunal por carta registada: ver artigo 150.º/2, alínea b) do C.P.C.

10. Ora, mesmo considerando que o termo inicial se conta do requerimento de 28-2-2008, ainda assim os embargos teriam sido deduzidos tempestivamente no 3º dia útil permitido por lei (dia 3-4-2008) embora com sujeição a multa nos termos do artigo 145.º/5.

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11. Seja como for, segundo o recorrente, não são de contar os dias de férias judiciais de Páscoa por não serem os embargos de terceiro processo urgente.

12. O termo inicial deve ser contado, porém, do referido dia 11-3-2008, data em que teve acesso à certidão por então a ter levantado em juízo.

13. Nas suas contra-alegações o recorrido chama a atenção para o facto de o recorrente, que foi citado para a acção principal, conhecer, pelo teor da

petição, muito antes de 4-1-2008, o teor da decisão proferida no procedimento cautelar, o número do respectivo processo e, por isso, naquela data de

28-2-2008 já tinha há muito decorrido o prazo a que alude o artigo 353.º/2 do C.P.C.

Apreciando:

14. A primeira nota que nos cumpre fazer salientar neste processo é que, de acordo com os elementos de que dispomos, no momento em que os embargos foram deduzidos não tinha ainda sido efectuada a apreensão do veículo, ou seja, os embargos foram deduzidos com função preventiva ( artigo 359.º do C.P.C.).

15. Assim sendo, pelas razões que a seguir se indicam, esta questão prejudica todas as demais visto que o prazo de 30 dias apenas importa tratando-se de embargo repressivo, ou seja, quando houve acto judicialmente ordenado ofensivo do direito do embargante.

16. Outra nota é a de que, para efeito do conhecimento da tempestividade ou não dos embargos, o tribunal de recurso tem de analisar as questões

suscitadas à luz dos termos constantes da decisão recorrida e não à luz de termos que não foram considerados nessa decisão. Ficam, assim, prejudicadas todas as questões relacionadas com um eventual conhecimento da decisão proferida na providência cautelar antes do referido requerimento de

28-2-2008.

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17. Refira-se ainda que a fase introdutória dos embargos não admite contraditório e, por isso, mal se compreenderia a invocação de factos por

parte do embargado que podem ser por ele invocados em sede de contestação, pois, como é sabido, a caducidade por dedução de embargos de terceiro

extemporâneos constitui excepção cujo ónus de alegação e prova compete ao embargado.

18. É certo que hoje, por força do disposto no artigo 354.º do C.P.C., o Tribunal poderá oficiosamente, na fase introdutória dos embargos, conhecer da sua tempestividade, mas não fica, por isso, precludido para o embargado o ónus de invocar no momento próprio a aludida excepção.

19. Admitindo, por mera comodidade de raciocínio, que no dia 28-2-2008 o embargante soubera que tinha sido decretada providência determinando a apreensão de veículo que alegadamente lhe pertence, então, porque os embargos foram deduzidos no dia 3-4-2008 ( ver artigo 150.º/1, alínea b) do C.P.C.), o Tribunal não os deveria rejeitar mas tão só determinar a aplicação da multa a que se refere o artigo 145.º/6 do C.P.C.

20. No entanto, seria sempre de seguir o entendimento de que o conhecimento da ofensa passaria pelo conhecimento do teor da decisão ( questão que só se suscita porque as partes partiram do princípio da aplicabilidade da regra do artigo 353.º do C.P.C. aos embargos com função preventiva) e, nessa lógica ou nessa ordem de ideias, então o prazo não poderia deixar de se iniciar com a notificação da passagem da certidão, presumindo-se então que tal notificação ocorreu no dia 6-3-2008 ( ver artigo 254.º/3), não podendo ser prejudicado o embargante pelo conhecimento prévio da notificação; ora, assim sendo, o prazo de 30 dias terminaria no dia 7-4-2008.

21. Quer isto dizer que o Tribunal jamais deveria ter rejeitado os presentes embargos mesmo seguindo-se a lógica que perfilhou.

22. Hoje, por força de expressa previsão constante do artigo 354.º do C.P.C.,

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contrariamente ao que sucedia no regime anterior à revisão de 1995/1996 do Código de Processo Civil (ver artigo 1040.º do C.P.C/61), a tempestividade dos embargos de terceiro pode ser conhecida oficiosamente na fase introdutória dos embargos: ver Ac. do S.T.J. de 27-6-2006 (Borges Soeiro) (Revista nº 1239/2006).

23. Hoje os embargos de terceiro não são um processo especial, como sucedia antes da revisão de 1995/1996 do Código de Processo Civil ( artigos 1037.º a 1043.º do C.P.C/61), constituem um incidente de oposição de penhora, ou de qualquer acto judicialmente ordenado de apreensão de bens, ofensivo da posse ou de qualquer direito incompatível com a realização ou o âmbito da diligência, de que seja titular quem não é parte na causa (artigo 351.º do C.P.C).

24. No que respeita ao prazo para dedução de embargos de terceiro anteriormente à revisão de 1995/1996 prescrevia a lei ( artigo 144.º/4 do C.P.C) que a suspensão do prazo judicial durante as férias, sábados, domingos e dias feriados não se aplicava aos prazos de propositura das acções com excepção dos embargos de terceiro. Assim, muito embora se estivesse diante de um prazo para propositura de acção, o que inculca a sua natureza de prazo substantivo, destinava-se ele, no entanto, a reagir contra diligência judicial. A lei, para evitar dúvidas que se suscitavam, passou a determinar que tal prazo se suspendia durante as férias, sábados, domingos e dias feriados. A partir da revisão de 1995/1996 tal entendimento alargou-se considerando-se que “ os prazos para a proposição de acções previstas neste código seguem o regime dos números anteriores” (artigo 144.º/6) que estabelecem as regras de contagem dos prazos processuais. Não sendo os embargos de terceiro uma acção, mas um meio de oposição, o prazo em causa ( para dedução de embargos) é um prazo processual que se acolhe directamente à sombra da regra da continuidade dos prazos processuais e não por via da remissão a que alude o mencionado artigo 144.º/4.

25. Se estamos face a um incidente de instância, meio processual de

intervenção de terceiros, suscita-se a questão de saber se deve ou não ser considerado acto urgente por se dever considerar acto a praticar em processo que a lei considera urgente. (artigo 144.º/1 do C.P.C.)

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26. Estamos face a um incidente de instância, a autuar por apenso, no âmbito de procedimento cautelar que reveste sempre carácter urgente (artigo 382.º/1 do C.P.C.). Não se vê razão para retirar a um incidente de instância, que se traduz num meio de oposição ao procedimento cautelar, a natureza urgente que reconhecidamente a lei não deixa de conferir ao meio de oposição previsto no artigo 388.º do C.P.C. apenas porque aqui a oposição cabe ao requerido e ali ao terceiro. Os embargos de terceiro produzem efeitos na própria

tramitação do procedimento cautelar pois, como resulta expressamente do artigo 356.º do C.P.C., uma vez recebidos os embargos determinam a

suspensão dos termos do processo em que se inserem, quanto aos bens a que dizem respeito, bem como a restituição provisória da posse, se o embargante a houver requerido. No caso de embargos deduzidos com função preventiva, a diligência não será efectuada antes de proferida decisão na fase introdutória dos embargos e, sendo estes recebidos, continuará suspensa até à decisão final, podendo juiz determinar que o embargante preste caução (artigo 359.º/2). Quer isto dizer que a diligência destinada a admitir ou rejeitar os embargos é causa de suspensão da própria execução do acto de apreensão ordenado judicialmente em procedimento cautelar e, tratando-se de embargo repressivo, a decisão que o receba suspende os termos do processo em que se insere. Assim sendo, quem requer um procedimento cautelar visando

acautelar o periculum in mora não vê, por força dos embargos, acautelado o seu interesse pelo menos até ao momento em que vier a ser proferida decisão de rejeição ou de recebimento dos embargos. A partir desse momento, porque o seu interesse pode ser acautelado pela prestação de caução, poderá

considerar-se que está minimizado o referido risco de demora que justifica a urgência.

27. No entanto, o reconhecimento da natureza urgente de um processo não implica, de acordo com jurisprudência mais recente, que todos os actos processuais devam considerar-se urgentes. Assim, a regra de que, nos

processo urgentes, o prazo processual é contínuo e não se suspende durante as férias judiciais (artigo 144.º/1 do C.P.C.) deve ser limitada àqueles actos que se destinem a evitar dano irreparável (artigo 143.º/2 do C.P.C.). Ora a

interposição de um recurso no âmbito de providência cautelar já decretada não será um daqueles casos que se destinam a evitar dano irreparável: veja-se o Ac. do S.T.J. de 18-10-2007 (Silva Salazar) (Revista nº 2683/2007).

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28. Nesta medida, tratando-se de embargos de terceiro, a urgência poderia considerar-se restringida até ao momento da prolação do despacho de

admissão ou de rejeição dos embargos. É uma questão em aberto de que não temos aqui de nos ocupar visto que até esse momento afigura-se que, por força do regime legal, é manifesta a urgência da decisão judicial e muito particularmente nos casos de embargos de terceiro com função preventiva (artigo 359.º do C.P.C.)

29. Dir-se-á então que a urgência do incidente de intervenção de terceiros é aferida em função do processo a que respeita: se este, por lei, for considerado urgente, urgentes são igualmente os meios de oposição que a lei consente que nele se insiram.

30. A propósito do prazo para dedução de embargos de terceiro, referimos no P. 2981/2005 de 2-6-2005 publicado in www.dgsi.pt o seguinte:

Estamos, portanto, face a embargos deduzidos, a título preventivo, antes de realizada, mas depois de ordenada a diligência de entrega da loja susceptível de ofender a posse ou qualquer direito incompatível com a realização ou o âmbito dessa mesma diligência (artigos 351º e 359º do C.P.C.).

Ora, no que respeita aos embargos deduzidos a título preventivo, o prazo que rege não é o que consta do actual artigo 353º (anteriores artigos 1039º do CPC/61 e 1037º do CPC/39) mas sim o que conta do artigo 359º ambos do C.P.C. (anteriores artigos 1043º do CPC/61 e 1039º do CPC/39).

Assim ensinava Alberto dos Reis: “ se os embargos tiverem função preventiva, equivalente a da acção possessória de prevenção, isto é, se tiverem por fim evitar o esbulho e por fundamento o justo receio dele, rege o artigo 1039º e não a 1ª alínea do artigo 1037º, na parte relativa ao prazo.

O art. 1039º diz: os embargos podem ser deduzidos antes de realizada, mas depois de ordenada, a diligência a que se refere o artigo 1036º.

Não há, neste caso, prazo fixo; há dois limites processuais. Os embargos não podem ser deduzidos antes de ordenada a diligência, porque, enquanto o não for, não há justo receio de esbulho; também o não podem ser depois de

efectuada a diligência, porque, se esta já se realizou, o esbulho é um facto consumado, o possuidor já está privado da posse e portanto já não tem cabimento embargos com função preventiva.

Pretendeu-se recentemente aplicar aos embargos de carácter preventivo o

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prazo estabelecido no artigo 1037º, fazendo decorrer os vinte dias desde a data em que foi ordenada a diligência. Tal entendimento é manifestamente inaceitável. O que regula é o artigo 1039º, que não fixa prazo, como

assinalámos, e unicamente nos limites relacionados com o estado do processo”

(Processos Especiais, Vol 1º, pág. 436/437).

Ora o entendimento do recorrente vai precisamente no sentido daquele que o citado autor considerava inaceitável.

Nos embargos preventivos não há que falar em violação do direito que só se dá com o acto de esbulho judicialmente ordenado.

Os embargos foram, pois, deduzidos tempestivamente face ao disposto no artigo 359º/1 do C.P.C.

31. Este entendimento não foi afastado pelo Supremo Tribunal de Justiça:

veja-se o Ac. do S.T.J. de 9-2-2006 (Salvador da Costa) (P. 14/2006) assim sumariado quanto a esta questão: “o prazo de caducidade de embargar de terceiro a que se reporta o artigo 353º, nº 2, do Código de Processo Civil só é aplicável aos embargos de função repressiva, não prevendo a lei prazo fixo para a dedução de embargos de terceiro de função preventiva, podendo deduzi-los entre a data do despacho que ordena a diligência e a sua efectiva realização”.

Concluindo:

I- O prazo de caducidade a que alude o artigo 353º/2 do C.P.C. não se aplica tratando-se de embargos de terceiro com função preventiva; nestes a

tempestividade é aferida pelos limites definidos no artigo 359º do C.P.C. que visa precisamente os embargos deduzidos, antes de realizada, mas depois de ordenada a diligência ofensiva da posse ou de qualquer outro direito

incompatível com o seu âmbito.

II- Para efeitos de rejeição dos embargos de terceiro, hoje, atento o disposto no artigo 354.º do C.P.C.(“ sendo apresentado em tempo e não havendo outras razões para o imediato indeferimento da petição de embargos […]”), o

Tribunal pode conhecer oficiosamente da intempestividade dos embargos, mas não fica precludida ao embargado, que não é ouvido nesta fase processual, a possibilidade de invocar em sede de facto e de direito a aludida excepção de caducidade.

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Decisão: concede-se provimento ao recurso, determinando-se o prosseguimento dos autos

Custas pelo recorrido

Lisboa, 14-6-2008

(Salazar Casanova)

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