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CONSELHO DE DISCIPLINA

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Academic year: 2022

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CONSELHO DE DISCIPLINA

SECÇÃO NÃO PROFISSIONAL

Processo nº 32 – 2020/2021

DESCRITORES: Treinador - Sanção de suspensão por tempo - Deliberação - Incumprimento - Infração disciplinar

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ESPÉCIE: Processo Disciplinar

PARTES: Filipe José Oliveira Moreira, treinador da SCU Torrense - Futebol SAD, na qualidade de arguido DATA DO ACÓRDÃO: 8 de junho de 2021

TIPO DE VOTAÇÃO: Unanimidade RELATOR: Leonel Gonçalves

OBJETO: Factos ocorridos no jogo oficial nº 101.04.015, disputado entre a SCU Torreense – Futebol SAD e a Amora FC – Futebol SAD, realizado em 14/12/2020, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021

NORMAS APLICADAS: Artigos 15º, 37º, nºs 1 e 3, 137º, nº 1 e 183º, nº 1, todos do RDFPF SUMÁRIO:

I - A sanção de suspensão de agente desportivo importa a proibição do exercício da atividade desportiva na qual a infração que a originou foi cometida.

II - A sanção de suspensão por período de tempo impede qualquer agente desportivo de exercer, durante esse período, qualquer cargo ou atividade desportiva nas competições que se encontrem sujeitas ao poder disciplinar da Federação.

III - Pratica a infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 137º, nº 1, do RDFPF o treinador que não acate e/ou incumpra deliberação emanada do Conselho de Disciplina da FPF, ou não cumpra sanção de suspensão que lhe tenha sido aplicada.

IV - O incumprimento da sanção de suspensão efetiva-se/consuma-se quando o treinador, sabendo estar suspenso, por ocasião de jogo integrado em competição organizada pela FPF, não é inscrito na respetiva ficha técnica, não está no banco dos técnicos, mas acede à bancada oposta a esses bancos e aí permanece durante todo o tempo de jogo, sendo a única pessoa aí presente e, a partir desse local, interage com os jogadores, através de gritos e gestos, que se traduzem em orientações e instruções, técnicas e táticas, individuais ou coletivas, com vista à melhoria da performance da sua equipa durante o jogo.

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ACÓRDÃO

Acordam, em Plenário, ao abrigo do disposto nos artigos 216º, nº 1, 229º e 245º, todos do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol1, os membros do Conselho de Disciplina, Secção Não Profissional, da Federação Portuguesa de Futebol2,

I – RELATÓRIO DE TRAMITAÇÃO PROCESSUAL

§1. Registo inicial

1. No dia 18 de dezembro de 2020, o CDSNP deliberou a instauração de processo disciplinar contra Filipe José Oliveira Moreira3, treinador da SCU Torreense - Futebol SAD4, com vista à apreciação da factualidade reportada pelo Delegado da FPF que acompanhou o jogo oficial nº 101.04.015, disputado entre a Torreense SAD e a Amora FC - Futebol SAD, realizado em 14/12/2020, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021 – cf. deliberação de fls. 1.

2. A factualidade exarada pelo referido Delegado da FPF é do seguinte teor: «Antes do início do jogo o Senhor Delegado Sérgio Lopes do SCU Torreense, abordou-me dizendo, " o nosso treinador principal Filipe Moreira está castigado, pode ir para a bancada do lado de lá?". Respondi que a entrada e presença de pessoas no estádio, encontra-se regulada em CO, pelo que é da responsabilidade do clube o seu cumprimento. Acrescentei que qualquer pessoa que dê entrada e permaneça no estádio, deverá constar da lista de presenças a elaborar pelo clube visitado. O Senhor Agente Desportivo, Filipe Moreira, esteve durante todo o jogo na bancada do lado nascente, a gesticular e a falar para os jogadores do SCU Torreense, inclusive quando o árbitro apitou para o final da primeira parte, chamou o jogador número 7 do SCU Torreense junto ao muro que serve de vedação entre as bancadas e o relvado e esteve à conversa, cerca de 2 minutos. No final do jogo e passados 30 minutos esteve no interior do balneário do SCU Torreense a falar com os jogadores» - cf. Relatório de Ocorrências, a fls. 18.

1 Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol com as alterações aprovadas pelo Direção da Federação Portuguesa de Futebol na sua reunião de 10 de julho de 2020, doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDFPF. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página oficial da FPF na internet e foi publicitado pelo Comunicado Oficial nº 460, de 13 de julho de 2020.

2 Adiante apenas identificado como CDSNP.

3 De ora em diante também apenas Filipe Moreira ou treinador arguido.

4 De ora em diante também apenas Torreense SAD.

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3. No dia 21/12/2020, o processo disciplinar foi autuado, registado e distribuído a Inquiridor (cf.

verso da capa), nos termos e para os efeitos do previsto no artigo 232º, nºs 4 e 5 do RDFPF, após o que, ainda na mesma data, foram os autos feitos conclusos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, em cujo contexto, por despacho do seu Coordenador, foi nomeada Instrutora - cf. fls. 20.

4. Na data da conclusão dos autos à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF, o processo encontrava-se autuado com a seguinte documentação:

a) referida deliberação deste CDSNP de instauração destes autos, a fls. 1;

b) o Comunicado Oficial da FPF nº 258, de 18/12/2020, a fls. 2 e 3;

c) a Ficha de Jogo referente ao jogo oficial nº 101.04.015, disputado entre a Torrense SAD e a Amora FC SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021, a fls. 4 e 5;

d) as fichas técnicas das duas equipas intervenientes nesse jogo oficial nº 101.04.015, de fls. 6 a 15;

e) o Relatório de Ocorrências elaborado pelo Delegado da FPF que acompanhou esse identificado jogo oficial, e lista de presenças anexa ao mesmo, de fls. 16 a 19.

5. Na sequência da aludida nomeação, a senhora Instrutora, em sede de inquérito, promoveu a realização das seguintes diligências probatórias:

a) juntou aos autos o detalhe de inscrição da Torrense SAD, a fls. 22 e 23;

b) juntou o detalhe de inscrição, a documentação anexa ao mesmo, e o cadastro disciplinar do treinador arguido, Filipe Moreira, de fls. 14 a 39;

c) incorporou no processo notícia retirada do sítio na internet tvi.iol.pt, datada de 20/12/2020, com o título «A cumprir castigo, treinador do Torrense viu o jogo … do Hospital», a fls. 40 e 41;

d) exarou cota nos autos referindo ter consultado a Nota Informativa nº 68 RET/2020-2021/CA, de 11/12/2020, e ter verificado que não foi nomeado qualquer observador à equipa de arbitragem que dirigiu o jogo oficial nº 101.04.015, a fls. 42;

e) exarou cota nos autos referindo ter acedido à plataforma “InStatScout” e procedido ao download do ficheiro de som e imagem do jogo oficial dos autos, que gravou no DVD que consta a fls. 43;

f) juntou aos autos 22 (vinte e duas) fotografias resultantes de captura de ecrã (printscreen) na visualização do ficheiro multimédia de fls. 44, as quais constam de fls. 45 a 66;

g) incorporou ainda no processo o detalhe do cadastro disciplinar do treinador arguido referente à sanção de suspensão que lhe foi aplicada por ocasião da realização do jogo oficial nº 260.06.047, Ficha de Jogo, fichas técnicas, Relatório de Ocorrências, e respetivos anexos, tudo de fls. 68 a 86;

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h) solicitou às autoridades policiais o Relatório de Policiamento Desportivo atinente ao jogo oficial dos autos, disputado entre a Torreense SAD e a Amora FC - Futebol SAD, a fls. 87, que haveria de constar a fls. 98 e 99;

i) convocou para prestar declarações Ragner José Paula, agente desportivo da Torrense, SAD, a fls.

89, que haveria de as prestar em 18703/2021, como se afere do auto de inquirição de fls. 116, declarações essas que se encontram gravadas no DVD de fls. 117;

j) solicitou esclarecimentos ao Sr. Delegado da FPF presente ao jogo oficial nº 101.0.015, disputado em 14/12/2020, entre a Torreense SAD e a Amora FC – Futebol SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, a fls. 90 e 118, que respondeu nos termos que constam a fls. 112 e 122, respetivamente;

k) pediu à Direção de Arbitragem os endereços de correio eletrónico dos senhores árbitros que dirigiram aquele jogo oficial, a fls. 91, e, após lhe serem facultados, a fls. 100, solicitou-lhes esclarecimentos, como consta a fls. 102, que foram prontamente prestados, como se afere de fls. 106, 108 e 110.

6. Entendendo o inquérito findo, a senhora Instrutora considerou existirem nos autos indícios suficientes da prática de infração disciplinar, pelo que elaborou projeto de acusação, que em 02/04/2021 submeteu à apreciação do Inquiridor, tendo logrado a sua adesão expressa em 14/04/2021, nos termos impostos pelo artigo 238º, nº 1, do RDFPF (cf. cotas de fls. 126 e 127), constando aquele libelo acusatório de fls. 133 a 143, a quem imputou a prática de «Uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 137º do RDFPF, aplicável por força do número 1 do artigo 183.º do mesmo diploma, à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de suspensão de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC».

7. No dia 15/04/2021, a senhora Instrutora notificou a acusação ao treinador arguido, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 240º do RDFPF (cf. fls. 128), na sequência do que, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 241º, nº 1, do RDFPF, foram os autos conclusos ao CDSNP e distribuídos a Relator, a quem foram apresentados - cf. fls. 144 e 145 145.

8. Em 19/04/2021, pelas 15:14 horas e através de mandatário que constituiu (cf. requerimento e procuração de fls. 145 e 146), veio o arguido solicitar cópia integral do processo disciplinar, que prontamente lhe foi facultada pela senhora Instrutora, pelas 15:30 horas daquele mesmo dia (cf. fls. 148).

9. No dia seguinte, 20/04/2021, veio o arguido apresentar defesa escrita, que consta de fls. 153 a 168, articulado no qual requereu a inquirição de 3 (três) testemunhas, tendo a senhora Instrutora, em 23/04/2021, marcado o dia 30/04/2021, pelas 09:30 horas, para a sua inquirição (cf. fls. 169). Notificado desse agendamento, veio o Ilustre Mandatário do arguido alegar não ter disponibilidade para aquele dia,

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sugerindo que a diligência se realizasse no dia 3 ou no dia 7 de maio (cf. fls. 175). A senhora Instrutora anuiu a tal solicitação e remarcou então a diligência para o dia 7 de maio, no mesmo horário e disso e notificou o requerente (cf. fls. 177). Após nova solicitação do Ilustre Mandatário arguido, a senhora Instrutora voltou a reagendar a diligência de inquirição de testemunhas para o dia 10/05/2021, no mesmo horário, e notificou aquele Sr. Advogado do arguido (cf. fls. 184).

10. No dia 10/05/2021, dois minutos antes da hora marcada para o início da diligência (09:30 horas), a senhora Instrutora procedeu a abertura a sessão, na plataforma Microsoft Teams; até àquele momento, não dera entrada na caixa de correio eletrónico da Instrutora qualquer requerimento de adiamento da diligência; tendo a senhora Instrutora aguardado até depois das 10:00 horas, decorridos que foram 31 minutos após o início da sessão, ninguém compareceu, isto é, não se apresentou nem o mandatário do arguido, Dr. João Lobão, nem qualquer uma das testemunhas indicadas na defesa escrita apresentada;

durante aquele período de tempo não foi recebido pela senhora Instrutora qualquer pedido de assistência técnica, fosse por via telefónica ou através de correio eletrónico; pelas 10:00 horas, a senhora Instrutora procedeu à captura de ecrã (“printscreen”) da sessão iniciada na plataforma Microsoft Teams, encerrou a diligência e lavrou cota em conformidade, como se afere de fls. 191 e 192.

11. Subsequentemente, no dia 28/05/2021, a senhora Instrutora procedeu à elaboração de relatório final do processo disciplinar, o que fez ao abrigo do disposto no artigo 243º, nº 1, do RDFPF, que consta de fls. 193 a 217, no qual, a final, propõe sejam aplicadas ao arguido Filipe José Oliveira Moreira as sanções concretas de 3 (três) meses de suspensão e, cumulativamente, multa de 5 UC, correspondente a 510,00 € (quinhentos e dez euros), pela prática de infração disciplinar prevista e sancionada pelo artigo 137º, nº 1, em conjugação com o artigo 183º, nº 1, ambos do RDFPF; e ainda multa de 2,5 UC, correspondente a 255,00 € (duzentos e cinquenta e cinco euros) ao abrigo do disposto no artigo 240º, nº 4, do RDFPF.

12. Ainda naquele dia 28/05/2021, os autos foram conclusos ao Relator (cf. fls. 218), o qual considerou encontrarem-se reunidas as condições processuais para encerramento da fase de instrução, na sequência do que prosseguiram os mesmos para elaboração de projeto de acórdão, nos termos do disposto no artigo 245º do RDFPF.

§2. Da acusação

13. Em sede de acusação, refere-se, no essencial, que o arguido, Filipe José Oliveira Moreira, se encontra inscrito, na atual época desportiva 2020/2021, como treinador da SCU Torreense - Futebol SAD;

através do Comunicado Oficial da FPF nº 258, de 11 de dezembro de 2020, foi publicitada a aplicação ao

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mesmo da sanção de 22 dias de suspensão e, cumulativamente, multa de 5 UC, por factos ocorridos por ocasião do jogo oficial n.º 260.06.047; no dia 14 de dezembro de 2020, realizou-se, no Campo/Estádio Manuel Marques, em Torres Vedras, o jogo oficial nº 101.04.015, disputado entre a Sport Clube União Torreense - Futebol SAD e a Amora Futebol Clube - Futebol SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021; antes do início do jogo, o Delegado ao jogo da equipa visitada questionou o Delegado da FPF presente sobre a possibilidade de o treinador Filipe Moreira permanecer na bancada, uma vez que estava “castigado”, tendo o mesmo respondido que «a entrada e presença de pessoas no estádio, encontra-se regulada em CO, pelo que é da responsabilidade do clube o seu cumprimento» e ainda que «qualquer pessoa que dê entrada e permaneça no estádio, deverá constar da lista de presenças a elaborar pelo clube visitado»; durante esse jogo oficial nº 101.04.015, o treinador Filipe Moreira permaneceu na bancada oposta aos bancos de suplentes e, a partir desse local, interagiu com os jogadores através de gritos e gestos que se traduziam em instruções táticas individuais ou coletivas; após o final da primeira parte do jogo, o treinador arguido chamou o jogador Ragner Paula, sub capitão da Torreense SAD, e conversou com o mesmo durante cerca de dois minutos; finalmente, que o agente desportivo Filipe José Oliveira Moreira agiu de forma livre, voluntária e consciente, com o propósito concretizado de, em violação dos Regulamentos federativos, ao interagir com o jogadores no decurso do jogo e emitindo instruções táticas, que sabia estar-lhe vedado, por se encontrar a cumprir sanção de suspensão imposta pelo Conselho de Disciplina.

14. Face a tal, considerou a acusação que o treinador arguido incorreu na prática de «uma infração disciplinar prevista e sancionada pelo número 1 do artigo 137º do RDFPF, aplicável por força do número 1 do artigo 183º do mesmo diploma, à qual corresponde, em abstrato, a aplicação da sanção de suspensão de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC».

15. A imputação sustentada em sede de despacho de acusação vem ancorada no acervo probatório aludido nos pontos 4. e 5. do presente acórdão.

§3. Da defesa

16. Como suprarreferido, regularmente notificado do mencionado despacho de acusação, o treinador arguido apresentou defesa escrita, do seguinte teor:

«FILIPE JOSÉ OLIVEIRA MOREIRA, [doravante abreviadamente identificado como TREINADOR] vem nos termos e para os efeitos do número 1 do artigo 240.º e dos números 1 e 5 do artigo 242.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol [doravante RDFPF] apresentar a sua defesa o que o faz nos seguintes termos e fundamentos:

I - QUESTÃO PRÉVIA

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1. Prima facie, desconhece-se a menção feita na acusação [ponto 19º] onde é alvitrada uma subliminar incriminação ao treinador; “Nos termos da alínea a) do número 2 do artigo 130.º, cuja epígrafe é

“Ameaças e ofensas à honra, consideração ou dignidade”:

“1. O dirigente de clube que, dirigindo-se a terceiros ou ao visado, através de qualquer meio de expressão, formular juízo, praticar facto ou, ainda que sob a forma de suspeita, imputar facto ofensivo da honra, consideração ou dignidade da FPF, de órgãos sociais, de comissões, de sócios ordinários, de delegados da FPF, de árbitros, de observadores de árbitros, de cronometristas, de outro clube e respetivos jogadores, membros, dirigentes, colaboradores ou empregados ou de outros agentes desportivos no exercício das suas funções ou por virtude delas, é sancionado com suspensão de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC, se sanção mais grave não lhe for aplicável por força de outra disposição deste Regulamento.

2. Se a infração prevista no número anterior for cometida antes, durante ou após a realização de jogo oficial, o dirigente de clube é sancionado:

a) Se pelo menos um dos visados for elemento integrante da equipa de arbitragem, delegado da FPF ou observador de árbitros, com suspensão de 15 dias a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC;

b) Se o visado for outro agente desportivo no exercício das suas funções ou por virtude delas ou espectador, com suspensão de 8 dias a 1 ano e cumulativamente com multa entre 1 e 10 UC.

3. É sancionado nos termos dos números anteriores o dirigente de clube que, através de qualquer meio de expressão, ameaçar com a prática de violência ou qualquer crime ou infração algum dos sujeitos nele elencados ou espectador.”

2 Em momento algum subsequente é elencado qualquer facto e/ou apresentada qualquer consideração que corporize qualquer comportamento do Treinador capaz de se enquadrar na tipologia de ilícito ali apresentada.

3. Nesta senda, a acusação “a la minute” demonstra uma atabalhoada leitura dos factos e dos Regulamentos conforme se apresentará.

II - CONTEXTO JURIDICO DISCIPLINAR

4 Os Regulamentos Disciplinares são não mais que normas que regulamentam o papel de todos os participantes nas competições e dentro das mesmas estabelecem ditames que orientam a função de todos os atores no fenómeno desportivo.

Têm assim, e só assim, legitimidade de impor comportamentos e consequências dentro do espectro do normal funcionamento das competições.

As medidas e sanções aplicadas tem a sua materialização dentro do fenómeno competitivo e/ou em circunstâncias com o mesmo relacionadas dentro da dimensão a elas ínsita.

7. O âmbito dos Regulamentos permite e deve enquadrar que todos são agentes desportivos, mas nem todos estão sob alçada dos Regulamentos em todos os momentos e funções do seu dia-a-dia profissional e em ultima ratio em dia de jogo.

III – A FUNÇÃO DO TREINADOR Se não vejamos;

8. Com a devida vénia, a função de treinador para efeitos Regulamentares não é nem pode ser confundida com a função de treinador na dimensão jus-laboral.

9. Assim, a sanção de suspensão imposta pelo Conselho de Disciplina em 11 de dezembro de 2020, comunicada através do Comunicado Oficial n.º 258.º ao treinador não o impede de desempenhar a sua

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profissão, mas tão só o impede de praticar as suas funções no espectro das competências reguladas para o efeito.

10. Aqui chegados, o Conselho de Disciplina com o respeito que nos merece, não pode assumir que a “Beira da Estrada” seja equivalente à “Estrada da Beira”.

11. O Treinador foi impedido de exercer as suas funções tais quais veem descritas nos termos regulamentares e no âmbito dos regulamentos, nesta ótica, existe uma panóplia de direitos e obrigações que lhe são reconhecidos e que por via da sanção são reprimidos, todavia, não é – nem nunca poderia ser - por via de um ato administrativo com efeitos única e exclusivamente aplicáveis no espectro da entidade que produziu o ato que poderá ser vedado o exercício da profissão regulada nos termos do Lei n.º 106/2019 de 6 de Setembro.

12. Nesta senda, torna-se mister analisar o escopo da função de treinador à luz dos regulamentos em vigor e interpretar a amplitude dos atos do Treinador no caso em questão.

13. Por conseguinte, o Treinador confirma e reconhece que estava na bancada apresentada, todavia não reconhece nem é sua obrigação, competência e ou relevante explicar se estaria a dar ou não indicações para a sua equipa (nem a Acusação concretiza nem a testemunha ouvida estatui).

14. O Treinador não foi proibido de treinar a sua equipa, mas tão só, proibido de exercer a função de treinador nos termos e nas fronteiras dos regulamentos.

15. Pode o Treinador no âmbito da sanção de suspensão continuar a ministrar os treinos com a sua equipa?

Indubitavelmente.

16. Pode o Treinador no âmbito da sua sanção de suspensão continuar a acompanhar a equipa até ao Estádio onde a equipa se vai deslocar e bem assim ministrar as táticas à equipa? Sim, todavia, sempre que a equipa entrar em “zona técnica” num determinado período de tempo o treinador deixará de poder acompanhar a mesma.

17. Pode o Clube iniciar um jogo oficial inserido nas competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol sem incluir um Treinador na ficha de jogo? Apenas e sempre e quando o treinador estiver suspenso, assim a pergunta que se segue tem mister importância.

18. Cumpre os regulamentos um Clube que não inscreve um treinador principal na ficha de jogo? Não.

19. Por corolário, pode o treinador-principal estar inscrito na ficha de jogo, mas não estar no banco. Nada do Regulamento nos indica a essa obrigatoriedade, todavia, em consequência o treinador adjunto não poderá dar indicações para o relvado e bem assim não será na ausência física devidamente regulamentar que o treinador-adjunto será reconhecido como principal e poderá dar indicações para o terreno de jogo.

20. Por conseguinte, analisando a acusação somos a perceber que o Treinador não acedeu à zona técnica no período que lhe era vedado, não foi inscrito na Ficha de Jogo, não se deslocou à conferência de imprensa e/ou flash interview, não esteve presente em qualquer reunião preparatória do jogo e em bom rigor apenas acedeu à zona dedicada à permanência de adeptos.

21. Se não vejamos, será fácil confundir a irregular permanência do Treinador nas bancadas com uma ofensa à deliberação da sanção de suspensão assumida, todavia, a verdade é que necessário entender a grande diferença entre a presença no mesmo e o descumprimento da sanção da sanção aplicada.

22. Explicada que está a dimensão factual da sanção aplicada convém atender à tipificação da mesma nos Regulamentos Desportivos.

IV – DA SANÇÃO DE SUSPENSÃO i) Da Caracterização

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23. Versa o RDFPF sobre cumprimento da sanção de suspensão onde dispõe o artigo 37.º nº 1 que: “1. A sanção de suspensão de agente desportivo importa a proibição do exercício da atividade desportiva na qual a infração que a originou foi cometida, por um período de tempo ou de jogos oficiais, podendo tornar-se extensiva a qualquer outra atividade desportiva que o infrator pratique.

24. O número 1 do artigo 37.º RDFPF apresenta o objeto regulamentar da suspensão e clarifica que qualquer agente desportivo suspenso deve considerar-se proibido de praticar atos relacionados com a atividade desportiva que praticava no momento em que sofreu o julgamento disciplinar.

25. Por conseguinte, p.ex. um jogador que lhe viu ser aplicada uma sanção de suspensão por um comportamento que lhe mereceu censura disciplinar pelos atos praticados enquanto jogador verá os efeitos dessa suspensão materializarem-se no espectro dessa função e não outra.

26. Adiante, o número 3 do Art.º 37 RDFPF vem acrescentar outra dimensão à clarificação da sanção de suspensão, a saber, a amplitude dos efeitos da sanção de suspensão.

Vejamos;(…)

3. A sanção de suspensão por período de tempo impede qualquer agente desportivo de exercer, durante esse período, qualquer cargo ou atividade desportiva nas competições que se encontrem sujeitas ao poder disciplinar da Federação, ainda que a sanção tenha sido aplicada por órgão disciplinar de associação distrital ou regional, e inabilita-os, em especial, para o exercício das funções de representação no âmbito das competições e das relações oficiais com a FPF, com a LPFP e com as associações regionais ou distritais de futebol.

27. Assim, é possível discernir que um jogador que seja suspenso por um período de tempo verá essa sanção ser-lhe aplicada unicamente na atividade que motivou a censura disciplinar e apenas e só nas competições sujeitas ao poder disciplinar da Federação (Federação Portuguesa de Futebol.

28. Nesta medida, qualquer jogador sujeito à sanção de suspensão por 10 (dez) dias compreenderá facilmente o “o quê” e “onde” se aplica a malograda suspensão; i) na sua condição de jogador; ii) nas competições sob a égide disciplinar da Federação;

29. O n.º 4 do Art.º 37 do RDFPF responde à derradeira questão e clarifica quais as restrições impostas aos agentes desportivos durante a sanção de suspensão.

A saber:(…)

4. Os agentes desportivos suspensos não podem, durante a suspensão, estar presentes na zona técnica dos recintos desportivos em que se disputem jogos oficiais integrados nas competições organizadas pela FPF, tal como definida no regulamento da respetiva competição, desde duas horas antes do início de jogo oficial e até trinta minutos após o seu termo. (…)

30. Assim se extrai que (voltando ao exemplo do Jogador) que durante uma suspensão o mesmo não pode (“o quê?”) praticar a modalidade (jogar futebol) no âmbito (“onde”?) nas competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol materializando-se o seu incumprimento (“em que momento e onde?”) sempre e quando o Jogador aceda duas horas antes e até meia hora depois à zona técnica definida nos Regulamentos em caso.

31. A clarificação do “em que momento e onde?” constitui o elemento determinante na destrinça entre o cumprimento ou não cabal da sanção de suspensão. Por hipótese, um jogador suspenso pode – sem qualquer problema – participar em treinos e ou exercícios sozinho ou em conjunto com a equipa que ocorram no dia do jogo trinta minutos apôs o término do mesmo ou duas horas antes do mesmo.

32. Da mesma forma, o Jogador pode jogar futebol durante o decorrer do evento nas bancadas do recinto desportivo durante o período de suspensão. Por hipótese, o jogador pode ter na sua posse uma série de

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bolas que vai chutando para dentro do relvado sempre que a bola de jogo saia. Ou no limite, pode chutar as bolas que aprouver para o relvado mas a sua atuação merecerá censura enquanto adepto e não na dimensão de JOGADOR para efeitos disciplinares.

33. Ainda que o apresentado anteriormente seja um exemplo pouco crível a verdade é que nada obsta a essa prática nos regulamentos disciplinares uma vez que em momento algum ele foi inserido nas três dimensões anteriormente apresentadas.

ii) Das Fronteiras Regulamentares;

34. Recuperando o n.º 4 do Art.º 37 do RDFPF constatamos que: (…)

4. Os agentes desportivos suspensos não podem, durante a suspensão, estar presentes na zona técnica dos recintos desportivos em que se disputem jogos oficiais integrados nas competições organizadas pela FPF, tal como definida no regulamento da respetiva competição, desde duas horas antes do início de jogo oficial e até trinta minutos após o seu termo. (…)

35. Torna-se assim primordial definir e clarificar o que se deve entender por estar presentes na zona técnica dos recintos desportivos (…) tal como definida no regulamento da respetiva competição”

36. In casu, será aplicável o Regulamento da Taça de Portugal da Federação Portuguesa de Futebol (RTP) e este convida-nos a analisar o Art. 30º onde é clarificado que:

“ARTIGO 30º ZONA TÉCNICA

Os Clubes definem para cada estádio a Zona Técnica, podendo a FPF emitir parecer, que deve incluir, pelo menos, as seguintes zonas:

a) Zona representada no Anexo I deste Regulamento;

b) Zona situada entre as linhas exteriores do terreno de jogo e a área de ligação entre o terreno de jogo e os balneários;

c) Zona de corredores de acesso ao terreno de jogo, aos balneários dos Clubes e da equipa de arbitragem;

d) Balneários dos Clubes e da equipa de arbitragem;

e) Sala de controlo antidopagem;

f) Área técnica, nos termos das leis do jogo.”

37. Como é percetível, tanto no artigo 30º como no Anexo I do RTP não é referenciado como sendo parte da zona técnica as bancadas do recinto desportivo. Assim, o TREINADOR não acedeu à zona técnica no período definido como estando impedido de o fazer.

38. Em corolário e por jurisprudência das cautelas, analisa-se o especificado no Art. 4º do RDFPF relativo à definição de “Complexo desportivo”: o conjunto de terrenos, construções e instalações destinadas à prática desportiva, compreendendo os espaços reservados ao público e parqueamento de viaturas, bem como os arruamentos privados e dependências anexas necessárias ao bom funcionamento do conjunto.

“Limites exteriores ao complexo desportivo»: as vias públicas contíguas ao complexo desportivo que servem para a entrada e saída das pessoas no mesmo”

“Recinto desportivo”: o local destinado à prática do futebol ou onde esta tenha lugar, confinado ou delimitado por muros, paredes ou vedações, em regra com acesso controlado e condicionado

“Terreno de jogo”: a superfície onde se desenrola o jogo de futebol, incluindo as zonas de proteção definidas de acordo com os regulamentos aplicáveis à respetiva competição.

“Zona técnica»” área determinada em conformidade com o regulamento da respetiva competição.”

39. Assim, é o próprio RDFPF que nos apresenta diversos contextos e definições atinentes à aplicação do seu normativo, por conseguinte, escolheu o RDPFP definir como “Zona Técnica” a proibição de permanência e passagem dos agentes desportivos suspensos e essa escolha permite a contrariu sensu a

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sua permanência – ainda que suspensos - dentro dos limites do Complexo Desportivo ou Recinto Desportivo.

40. Ademais, o mesmo Art.º 4 do RDFPF define:

«Ficha Técnica»: documento oficial, formalmente predefinido pela FPF, preenchido por clube participante em jogo oficial e por elemento da equipa de arbitragem do mesmo, de acordo com o regulamento da respetiva competição, que contém obrigatoriamente menção, entre outras, aos agentes desportivos participantes naquele jogo oficial.”

«Formulário de banco suplementar»: documento, formalmente predefinido pela FPF, preenchido por clube participante em jogo oficial com a identificação, entre outras, dos agentes desportivos por si indicados para, naquele jogo, ocuparem um lugar no banco suplementar.”

V – DA IMPUTAÇÃO DA PRÁTICA DE UM ATO DESCONFORME COM OS REGULAMENTOS AO TREINADOR 41. O TREINADOR não surge em momento algum mencionado nos referidos documentos e como tal, não é um agente desportivo participante no jogo oficial (inserido na competição oficial).

42. O TREINADOR não surge em momento algum mencionado nos relatórios dos Delegados ao jogo como tendo entrado em área restrita e que não lhe era permitido, pelo contrário, é explicado que apenas acedeu à mesma nos termos regulamentares, isto é, 30 (trinta) minutos apôs o término do jogo.

43. Falece assim a demonstração de dois dos pressupostos objetivos para materialização e verificação da tipificação da ilicitude do TREINADOR, mormente, que estivesse inserido formalmente na competição oficial (ausência de referência nos documentos oficiais do jogo) e que se estivesse em zona que lhe seria privada em momento de “jogo oficial”.

44. Percebe-se assim que a acusação se centra apenas no alegado facto de o TREINADOR poderá ter dado indicações aos seus jogadores durante um jogo oficial fora da zona especifica para o efeito e sem tão pouco ter entrado e permanecido na regularmente delimitada.

45. O TREINADOR é assim equiparado e reconhecido como um adepto que exerceu a função regulamentar de TREINADOR e procura por analogia transportar o comportamento de um adepto para a razão de censurabilidade disciplinar.

46. Primeiramente, e em atalho de foice, procura o Conselho de Disciplina Secção Não Profissional uma dupla condenação contraditória por uma mesma atuação. Se não vejamos, a fls.3 do Processo em lide apresenta o Comunicado Oficial nº258 onde é exibida uma multa ao Sport Clube União Torreense – Futebol, SAD pelo acesso e permanência no Recinto Desportivo de elementos não permitidos (atente-se à letra do artigo 8º do Regulamento Covid-19 para a retoma da prática competitiva de Futebol, Futsal e Futebol de Praia) mas com a presente acusação pretende insinuar que o TREINADOR desempenhou as suas funções em contradição com sanção de suspensão que lhe fora aplicada.

47. Pois bem, ou o TREINADOR é uma pessoa autorizada mas que está em arrepio de um comportamento censurável e aí o Sport Clube União Torreense, Futebol SAD não poderia ser multado uma vez que o treinador (na definição regulamentar) integra o leque de pessoas elencadas no artigo aplicável, ou, pelo contrário, o TREINADOR não estava no âmbito das suas funções e como tal, corretamente andou o Conselho de Disciplina na Secção Não Profissional a considerar que houve um comportamento censurável pelo Sport Clube União Torreense, Futebol SAD.

48. As realidades apresentadas é que não podem estar ambas corretas.

49. Consultados os autos resulta ainda claro e indubitável que nenhum elemento da equipa de arbitragem – atenta ao jogo – conseguiu perceber qualquer indicação do TREINADOR para os jogadores, ademais, que o Jogador Ragner inquirido, não confirmou qualquer indicação tática e apenas o Delegado ao jogo

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conseguiu de forma abstrata definir como “gritos” e “linguagem gestual” do TREINADOR algo que lhe pareceu serem indicações para os jogadores.

50. SE máxime o comportamento do TREINADOR encaixa como o comportamento de qualquer adepto, torna-se absurdo do ponto de vista regulamentar e disciplinar equiparar qualquer indicação – ainda que a mesma existisse – dada da bancada como tendo a mesma relevância e fosse considerada como sendo análoga aquela que o treinador principal presta no seu local regularmente definido.

51. O Regulamento Disciplinar que consubstancia a ação da Douta Secção Disciplinar Não Profissional é o mesmo que se apressa a diferenciar “de pé” ou “sentado” (Artº 108-A) a atuação de alguém que dá indicações para o relvado, no entanto, procura nesta acusação equiparar a atuação do Arguido à de um treinador principal que pode dar indicações de “pê” em local privilegiado junto ao relvado.

52. Quando o Regulamento Disciplinar FPF diferencia a censurabilidade de dar “indicações” de pé por alguém que não considerado oficialmente treinador principal é porque implicitamente reconhece como diferente o simples facto de estar de pé ou sentado – ainda que em local de destaque – e assim, torna-se, reitera-se absurdo que se queira equiparar o desempenho da função regulamentar de treinador principal a alguém que está na bancada, fora do relvado, fora da zona técnica, fora dos limites de jogo a vociferar algo que não se consegue precisar e que apenas foi percetível a um elemento afeto à organização do jogo.

53. Certo é que o que a acusação labora na tese que o TREINADOR incumpriu com a suspensão MAS i) que não entrou em zona que lhe estava vedada, ii) que não surge identificado em qualquer documento oficial como fazendo parte integrante dos agentes desportivos do jogo oficial e HIPOTETICAMENTE iii) pode ter desempenhado a função de treinador que lhe estava vedada no âmbito das competições profissionais e no local e durante o período que a própria acusação esclarece que o TREINADOR não entrou.

VI – DA PROVA 54. Decorre dos autos:

• O TREINADOR não esteve em zona que não lhe era permitido durante o período definido regularmente;

• O TREINADOR não está incluído na ficha de jogo nem em qualquer documento oficial em modelo da FPF conforme obriga os Regulamentos;

• A SECÇÃO NÃO PROFISSIONAL considerou que o Sport Clube União Torreense, Futebol SAD autorizou a entrada e permanência de pessoas que não tinham qualquer função no decorrer do jogo oficial e como tal não estava autorizada a entrar no Recinto Desportivo.

• Que os Exmos. Srs. Pedro Ramalho, Jorge Roque e João Marques (árbitros) e o Exmo. Sr. Ragner Paula não confirmam que o TREINADOR tenha dado qualquer indicação tática à equipa do Sport Clube União Torreense, Futebol SAD.

55. Por conseguinte, a acrescentar ao já taxativamente demonstrado é solicitado ao TREINADOR que apresente a sua defesa, todavia olvida que materialmente e objetivamente faleceu a Secção Não Profissional em demonstrar que o TREINADOR não cumpriu com a deliberação emanada em que consistiu na sanção de suspensão.

56. Em bom rigor, demitiu-se a Acusação em apresentar o percurso teleológico condizente com a acusação ao TREINADOR deixando a este a árdua tarefa de se defender do ponto subjetivo suscitado pela acusação.

57. Se por um lado já ficou demonstrado que sem concretização e demonstração do incumprimento do TREINADOR do nº 3 e 4 do Art. 37 do RDFPF falece qualquer censura do comportamento do TREINADOR certo será que se torna impossível demonstrar um facto negativo, isto é, torna-se prova impossível

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demonstrar que o TREINADOR não deu indicações táticas e como tal terá a Secção Não Profissional conseguir esse desiderato.

58. Maxime se dirá por curiosidade académica que se por hipótese se considerasse que o TREINADOR efectivamente tivesse dado qualquer indicação para o relvado o fez na qualidade e na dimensão de espectador e que como tal não revestia nos termos do Regulamento Disciplinar aplicável qualquer juízo de censurabilidade.

VII – DA FALTA DE ELEMENTOS TIPICOS DA CONDUTA ALEGADAMENTE IMPUTADA

59. Já foi sobejamente demostrado que o TREINADOR não acedeu à zona técnica nem que se encontrava incluído na ficha de jogo resta então perceber que a acusação procura por via análoga equiparar o comportamento do TREINADOR na bancada dando-lhe a mesma relevância de como se tivesse a fazê-lo (na mera hipótese que não se aceita de estar a dar indicações) em área restrita e delineada para o efeito.

60. Assim, é mister atender ao Artigo 15.º onde é clarificado que “constitui infração disciplinar o facto voluntário, ainda que meramente culposo, que por ação ou omissão previstas ou descritas neste Regulamento viole os deveres gerais e especiais nele previstos e na demais legislação desportiva aplicável.”.

61. Pois bem, almeja-se assim sancionar o TREINADOR quando ele obedeceu ao Regulamento que se procura agora utilizar como arma de arremesso aquele. O TREINADOR inclusive como referido no Relatório do Jogo aguardou que decorresse 30 (trinta minutos) antes de entrar no balneário.

62. Por conseguinte, ignora a acusação o princípio ínsito no Artigo 7.º que claramente esclarece que “só pode ser sancionado disciplinarmente o facto descrito e declarado passível de sanção por norma anterior ao momento da violação de dever praticada, cuja previsão tem de ser também precedente ao cometimento da infração” e, com suprema relevância e importância, “não é permitido o recurso à analogia para qualificar um facto como infração disciplinar ou determinar a sanção aplicável por apelo ao conteúdo material das infrações expressa e especialmente descritas no presente Regulamento(…).”

63. Pelo contrário, foi o Exmo. Sr. Sérgio Marques assumir o papel de treinador principal – ainda que sendo treinador adjunto – cumprindo todas as obrigações regulamentares conforme o mesmo poderá testemunhar, nomeadamente – não exclusivamente – mas principalmente assumir a condução e a orientação da equipa da Sport Clube União Torreense, Futebol SAD.

Termos em que,

a) Deve a presente defesa procedente por provada, com as legais consequências e nesses termos merecer a presente acusação a decisão de arquivamento;

PROVA TESTEMUNHAL:

- FILIPE MANUEL LOPES ANTUNES, treinador-adjunto Sport Clube União Torreense, Futebol SAD, a apresentar;

- SÉRGIO NUNO NOGUEIRA PASCOA MARQUES, treinador-adjunto Sport Clube União Torreense, Futebol SAD, a apresentar;

- SÉRGIO PAULO LUCAS LOPES, delegado Sport Clube União Torreense, Futebol SAD, a apresentar;

O ADVOGADO»

17. Se bem se entende a prolixa defesa escrita apresentada pelo treinador arguido, a mesma suscita, em resumo útil, as seguintes questões concretas:

a) confirma e reconhece que esteve na bancada apresentada, todavia não reconhece, e diz não ser sua obrigação, competência e/ou relevante, explicar se estaria a dar ou não indicações para a sua equipa;

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b) compara a execução da sanção de suspensão de jogador com a suspensão de treinador, como se o regime de ambos fosse o mesmo, para concluir que a suspensão apenas opera no exercício de funções no terreno de jogo;

c) afirma que não tendo acedido à zona técnica nos momentos em que tal lhe estava vedado por força do RDFPF, nunca poderia haver incumprimento da sanção de suspensão; e, finalmente,

d) afirma que, independentemente do que estava a fazer na bancada, estava aí enquanto mero adepto.

II – COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE DISCIPLINA

18. De acordo com o disposto no artigo 43º, nº 1, do Regime Jurídico das Federações Desportivas e do Estatuto de Utilidade Pública Desportiva5, compete a este Conselho, de acordo com a lei e com os regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos estatutos e das competências da liga profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva.

No mesmo sentido, dispõe o artigo 15º do Regimento deste Conselho6.

III – QUESTÕES PRÉVIAS

19. Inexistem questões prévias que tenham sido suscitadas, que obstem ao conhecimento da causa ou que cumpra previamente decidir, sendo os elementos constantes do processo disciplinar bastantes para conhecer do mérito.

IV – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

§1. A prova no direito disciplinar desportivo

20. O artigo 220º, nº 2, do RDFPF estatui que «Salvo quando o Regulamento dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção dos órgãos disciplinares”. Contudo, expressamente subtraídos a este normativo disciplinar ficam, com interesse para o caso, “… os factos presenciados pelas equipas de arbitragem e pelos delegados da FPF, no exercício de funções, e constantes de relatórios de jogo e de declarações complementares”, que se presumem

5 De ora em diante RJFD2008, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2º e 4º Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último.

6 Disponível, na íntegra, na página da Federação Portuguesa de Futebol.

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verdadeiros, enquanto a sua veracidade não for fundadamente posta em causa (cf. artigo 220º, nº 3, do RDFPF), constituindo este um exemplo daquela exceção “Salvo quando o Regulamento dispuser diferentemente …”.

21. Com efeito, neste enquadramento, os factos constantes das Fichas de Jogo gozam de valor probatório especial e reforçado, de presunção de veracidade (presunção “juris tantum”), que se mantém enquanto não for “fundadamente” posta em causa. A opção legislativa assenta na posição de independência que os árbitros assumem perante o jogo – diversa do clubismo que afeta os restantes intervenientes – e ao facto de serem, ali, os representantes da FPF, o que permite atribuir, aprioristicamente, especial credibilidade aos factos por estes relatados. Mas, com relevância para a decisão, o que emerge é o esforço probatório que, nestes casos, se impõe aos acusados: apresentar prova bastante para fazer a contraprova, para colocar fundadamente em causa, ou justificadamente em dúvida, os factos constantes na Ficha de Jogo, ou nas declarações complementares prestadas pela equipa de arbitragem que dirigiu o jogo.

22. Esse valor probatório qualificado constitui um mecanismo justificado pela atribuição de funções particularmente importantes aos árbitros e aos delegados da FPF, zelando pelo cumprimento dos regulamentos, nomeadamente em matéria disciplinar, e representando a instituição em jogos oficiais. O superior interesse das competições, realizado no âmbito dos poderes de natureza pública exercidos pela própria FPF, justificam a aludida presunção de veracidade das declarações daqueles, vinculados que estão aos deveres de isenção e equidistância, distanciando-se desse modo das disputas clubísticas que envolvem os participantes naquelas competições.

23. Assim, perante tal presunção de veracidade, a todos que pretendam sindicar e/ou refutar a materialidade relatada por árbitros e delegados da FPF, desde que diretamente percecionados no exercício das respetivas funções oficiais, impõe-se um especial esforço probatório, exigindo-se-lhes a apresentação de prova bastante para legítima e racionalmente questionar, colocar fundadamente em causa ou justificadamente pôr em dúvida, a veracidade dos factos narrados nos relatórios oficiais ou declarações complementares. Desse modo, o valor probatório reforçado de que gozam tais relatórios oficiais apenas será abalado quando, perante a prova produzida, existam fundadas razões para acreditar que o seu conteúdo não é verdadeiro.

24. Finalmente, referir ainda que, no atinente à atividade decisória, face à força probatória especial

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e reforçada de que tais relatórios beneficiam, outrossim se impõe ao julgador um “especial dever de fundamentação”7 quando entenda dever afastar-se aquela presunção de veracidade. Em todo o caso, importa ainda tomar em linha de conta que, à semelhança do processo penal, neste contexto e à luz do que determina o artigo 220º, nº 1, do RDFPF, ”São admissíveis as provas que não forem proibidas por lei (…) podendo os interessados apresentá-las diretamente ou requerer que sejam produzidas quando forem de interesse para a justiça da decisão”.

§2. Factos provados

25. Analisada e valorada a prova produzida nos autos, com relevância para a decisão da causa, consideram-se provados os seguintes factos:

1) O arguido Filipe José Oliveira Moreira encontra-se inscrito, na atual época desportiva 2020/2021, como treinador da Torreense SAD;

2) No dia 11 de dezembro de 2020, através do Comunicado Oficial da FPF nº 258, foi publicitada a aplicação ao agente desportivo arguido da sanção de 22 dias de suspensão e, cumulativamente, multa de 5 UC, por factos ocorridos por ocasião do jogo oficial nº 260.06.047;

3) No dia 14 de dezembro de 2020, pelas 11:00 horas, realizou-se, no Campo/Estádio Manuel Marques, em Torres Vedras, o jogo oficial nº 101.04.015, disputado entre a Torreense e a Amora Futebol Clube - Futebol SAD, a contar para a Taça de Portugal Placard, época desportiva 2020/2021;

4) A equipa de arbitragem que dirigiu o jogo supra identificado foi constituída pelo árbitro principal, Pedro Miguel Torres Ramalho, pelo árbitro assistente nº 1, Jorge Miguel Crato Roque, e pelo árbitro assistente nº 2, João Carlos Mansos Marques;

5) Aquele jogo oficial nº 101.04.015 decorreu sem a presença de público, o policiamento desportivo esteve a cargo da Polícia de Segurança Pública, contou com o acompanhamento de Delegado da FPF, mas não esteve presente observador da equipa de arbitragem;

6) Antes do início do tempo regulamentar de jogo, o Delegado ao jogo da equipa visitada, Torrense SAD, Sérgio Paulo Lucas Lopes, questionou o Delegado da FPF, Carlos Elias, sobre a possibilidade do treinador Filipe Moreira permanecer na bancada, uma vez que estava “castigado”.

7) Perante tal questão, o Delegado da FPF respondeu que «a entrada e presença de pessoas no estádio, encontra-se regulada em CO, pelo que é da responsabilidade do clube o seu cumprimento» e ainda

7 Convocando o pensamento de PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE, este “A limitação do julgador consiste em que ele deve

“fundadamente” pôr em causa a autenticidade ou veracidade do documento”, In Comentário ao Código de Processo Penal, 2.ª Edição, Un. Católica Editora, 2008, pág. 452.

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que «qualquer pessoa que dê entrada e permaneça no estádio, deverá constar da lista de presenças a elaborar pelo clube visitado».

8) Durante o citado jogo oficial nº 101.04.015, o treinador Filipe Moreira permaneceu na bancada oposta aos bancos de suplentes e, a partir desse local, interagiu com os jogadores (da sua equipa) através de gritos e gestos que se traduziam em instruções táticas individuais ou coletivas.

9) Após o final da primeira parte do jogo, o treinador arguido chamou o jogador Ragner Paula (sub capitão da Torreense SAD), e conversou com o mesmo durante cerca de dois minutos;

10) O agente desportivo Filipe José Oliveira Moreira agiu de forma livre, voluntária e consciente, com o propósito concretizado de, em violação dos Regulamentos federativos, ao interagir com os jogadores no decurso do jogo e emitindo instruções táticas, o que sabia estar-lhe vedado, por se encontrar a cumprir sanção de suspensão imposta pelo Conselho de Disciplina;

11) O agente desportivo Filipe José Oliveira Moreira bem sabia, e não podia ignorar, que essa sua atuação era ilícita e, nessa medida, configurava a prática de infração disciplinar prevista e sancionada pelos Regulamentos, mas, ainda assim, não se absteve de a concretizar;

12) À data dos factos, o treinador arguido apresentava averbadas, no cadastro disciplinar, na época desportiva 2020/2021, no Campeonato de Portugal, uma infração prevista e sancionada pelo artigo 130º, nº 2, alínea a), do RDFPF; nas épocas desportivas 2018/2019 e 2017/2018, no Campeonato de Portugal, o arguido apresentava averbada, em cada uma daquelas épocas, a prática de uma infração prevista e sancionada pelo artigo 138º, nº 1, do RDFPF.

§3. Factos não provados

26. Com relevância para a apreciação de mérito, inexistem quaisquer factos não provados.

§4. Motivação

27. A factualidade dada como provada resulta da valoração dos elementos probatórios juntos ao processo à luz das regras da experiência comum. A convicção formada apoia-se, fundamentalmente, na Ficha de Jogo elaborada pela equipa de arbitragem, no Relatório de Ocorrências elaborado pelo Delegado da FPF, nos esclarecimentos prestados pelos mesmos e ainda nos suportes vídeo do jogo oficial dos autos.

Concretizando, a factualidade dada como provada resulta, em concreto, dos seguintes elementos:

- o facto provado 1) estriba-se no detalhe de inscrição do agente desportivo Filipe José Oliveira Moreira, a fls. 24 e 25, e no contrato de trabalho desportivo, de fls. 29 a 31;

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- o facto provado 2), para além de ser do conhecimento oficioso deste CDSNP, resulta ainda do detalhe (gestão disciplinar) da sanção aplicada ao treinador arguido, de fls. 68 e 69;

- os factos provados 3) e 4) encontram sustento na Ficha de Jogo, de fls. 4 e 5, nas fichas técnicas dos clubes intervenientes no jogo oficial nº 101.04.015, de fls. 6 a 15, no Relatório de Ocorrências elaborado pelo Delegado da FPF, de fls. 16 a 19;

- o facto provado 5) resulta também ele da Ficha de Jogo, a fls. 4, no quadro reservado aos “Dados do Jogo”, onde consta “Nº aprox. de espetadores: 0”, das fichas técnicas da Torreense SAD, a fls. 10, e da Amora FC - Futebol SA, a fls. 15, do Relatório de Ocorrências do Delegado da FPF, a fls. 16, de onde resulta que a segurança esteve a cargo da PSP, e do Relatório de Policiamento Desportivo, elaborado pela Divisão Policial de Loures, 74ª Esquadra da Polícia de Segurança Pública - Torres Vedras, de fls. 98 e 99 e, finalmente, quanto à não presença de observador da equipa de arbitragem, da cota elaborada pela senhora Instrutora a fls. 42;

- os factos provados 6) e 7) suportam-se, por forma bastante, no Relatório de Ocorrências elaborado pelo Delegado da FPF, no qual consta expressamente, a fls. 18, «Antes do início do jogo o Senhor Delegado Sérgio Lopes do SCU Torreense, abordou-me dizendo “o nosso treinador principal Filipe Moreira está castigado, pode ir para a bancada do lado de lá?”. Respondi que a entrada e a presença de pessoas no estádio, encontra-se regulada em CO, pelo que é da responsabilidade do clube o seu cumprimento.

Acrescentei que qualquer pessoa que dê entrada e permaneça no estádio, deverá constar da lista de presenças a elaborar pelo clube visitado»;

- os factos provados 8) e 9) assentam no Relatório de Ocorrências elaborado pelo Delegado da FPF, no qual consta expressamente, a fls. 18, «O Senhor Agente Desportivo, Filipe Moreira, esteve durante todo o jogo na bancada do lado nascente, a gesticular e a falar para os jogadores do SCU Torreense, inclusive quando o árbitro apitou para o final da primeira parte, chamou o jogador número 7 do SCU Torreense junto ao muro que serve de vedação entre as bancadas e o relvado e esteve à conversa, cerca de 2 minutos»; tais factos suportam-se ainda na circunstância de o treinador arguido, Filipe Moreira, não constar na lista de pessoas autorizadas a estar presentes, entregue pela Torrense SAD ao Delegado da FPF, constante a fls. 19, sendo certo que, excluindo os agentes desportivos inscritos nas fichas técnicas, só as pessoas identificadas naquela listagem poderiam aceder ao recinto desportivo; para considerar tais factos como provados teve-se ainda em conta as capturas de ecrã (“printscreens”) efetuadas pela senhora Instrutora da gravação do jogo oficial dos autos, após ter acedido à plataforma “InStatScout” e procedido ao download do ficheiro de som e imagem do jogo oficial dos autos, que constam no DVD de fls. 43, constando as 22 (vinte e duas) fotografias resultantes daquelas capturas de ecrã de fls. 45 a 66; teve-se

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ainda em conta os esclarecimentos prestados pelo árbitro Pedro Ramalho, a fls. 106, quando, não conhecendo a pessoa em causa, referiu «… notámos que estava alguém relacionado com a equipa do Torreense na bancada oposta aos bancos dos técnicos e que interagiu com os atletas. Julgo que era a única pessoa que se encontrava na bancada», pelo árbitro assistente nº 1, Jorge Roque, a fls. 108, quando afirmou «Efetivamente tenho uma vaga ideia de estar lá alguém …» e pelo árbitro assistente nº 2, João Marques, a fls. 110, quando afirmou «… efetivamente estava alguém na bancada que estava do lado oposto dos bancos e, consequentemente nas minhas costas e por este mesmo motivo, não foi de todo possível identificar de quem se tratava, por estar focado no terreno de jogo …»; finalmente, foram ainda considerados os esclarecimentos prestados pelo Delegado da FPF, a solicitação da senhora Instrutora, que constam a fls. 122, o qual afirmou «O senhor agente desportivo Filipe Moreira esteve durante todo o tempo do jogo posicionado na Bancada Nascente, a qual se encontrava encerrada a qualquer uso.

Atendendo à linguagem gestual deste agente, assim como aos constantes gritos dirigidos aos seus jogadores, tornou-se evidente que se tratavam de interações com os seus jogadores que se encontravam em jogo, consubstanciadas em orientações, tendo em vista influenciar a ação dos jogadores, individual e coletivamente considerados, durante o jogo, tudo com vista à melhoria da performance da equipa da obtenção do melhor resultado para o jogo»; foram, ainda, tidas em consideração as declarações prestadas pelo jogador da Torreense SAD, Ragner José Paula, perante a senhora Instrutora, que se encontram gravadas no DVD de fls. 117, que identificou o treinador arguido numa fotografia que lhe foi exibida, uma daquelas 22 (vinte e duas), afirmou que o mesmo estava na bancada, mas disse não se recordar do teor da conversa havida entre ambos, sendo certo, não obstante, que dita a experiência comum no meio futebolístico que, no intervalo do jogo, os jogadores não interagem com os adeptos presentes na bancada, razão pela qual o jogador se dirigiu à bancada naquele momento porque quem o interpelou, que era o seu treinador Filipe Moreira (as imagens demonstram-o à saciedade), e não um qualquer adepto comum, contrariamente ao que singelamente alega a Torrense SAD na defesa escrita, até porque o jogo decorreu sem público e sem adeptos nas bancadas;

- os factos provados 10) e 11), atinentes a materialidade de índole subjetiva,

- finalmente, o facto provado 12) escora-se no cadastro disciplinar do treinador arguido, extraído de plataforma informática interna da FPF, sobre cuja autenticidade não temos quaisquer dúvidas, de fls.

37 a 39.

28. Cumpre ainda exarar que a defesa escrita apresentada pelo treinador arguido não coloca em causa, em momento algum, a validade do descrito pelo Delegado da FPF, quer em sede do Relatório de Ocorrências submetido após o final do jogo, quer posteriormente em sede de esclarecimentos

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complementares, pelo que não ocorre qualquer abalo à credibilidade daqueles documento e esclarecimentos. Com efeito, como suprarreferido, a factualidade diretamente percecionada pelos elementos da equipa de arbitragem e pelos delegados da FPF, constante das Ficha de Jogo e dos Relatórios de Ocorrências, respetivamente, gozam de um valor probatório reforçado, atenta a presunção de veracidade constante no artigo 220º, nº 3, do RDFPF. Mais do que a existência de um mero indício, há uma presunção de veracidade associada ao conteúdo desta descrição factual – tanto da conduta em si, como de quem foi o seu autor – feita pela equipa de arbitragem na Ficha de Jogo e pelo Delegado da FPF no Relatório de Ocorrências. Deste modo, esses factos gozam de um valor probatório especial e reforçado, de uma presunção de veracidade (presunção iuris tantum), imune à contraprova e perecível apenas perante a prova do contrário. A opção assumida pelo regulamentador assenta na posição de independência e imparcialidade que a equipa de arbitragem e os Delegados da FPF assumem perante o jogo. Tal determina que, estando a factualidade suficientemente descrita e enunciada, aqueles documentos sejam idóneos, per se, a fazer prova dos factos que neles se atestam como diretamente presenciados pela autoridade que os relata.8 Deste modo, perante tal presunção, a todos os que pretendam sindicar e refutar a materialidade relatada naqueles documentos, ou nos esclarecimentos complementares pelos mesmos prestados, impõe-se um especial esforço probatório, exigindo-se-lhes a apresentação de prova bastante para legítima e racionalmente questionar, colocar fundadamente em causa ou justificadamente pôr em dúvida a veracidade dos factos narrados nos relatórios oficiais ou declarações complementares, o que, mais uma vez se sublinha, não aconteceu, pelo que a decisão a tomar não pode deixar de os ter em consideração.

V – FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO

§1. Enquadramento jurídico-disciplinar – Fundamentos e âmbito do poder disciplina

29. O poder disciplinar exercido no âmbito das competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol assume natureza pública. Com clareza, concorrem para esta proposição as normas constantes dos artigos 19º, nºs 1 e 2, da Lei nº 5/2007 de 16 de janeiro (Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto), e dos artigos 10º e 13º, alínea i), do RJFD2008.

30. A existência de um poder disciplinar justifica-se pelo dever legal – artigo 5.º, nº 1, do RJFD2008 – de sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas,

8 Com as devidas adaptações, GERMANO MARQUES DA SILVA, Curso de Processo Penal, Volume II, 5ª edição revista e atualizada, Verbo Editora, 2011, pp. 273 e 274.

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nomeadamente as relativas à ética desportiva, entendendo-se por estas últimas as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo (artigo 52º, nº 2, do RJFD2008).

31. O poder disciplinar exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade desportiva compreendida no seu objeto estatutário (artigo 54º, nº 1, do RJFD2008). Em conformidade com o artigo 55º do RJFD2008 o regime da responsabilidade disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal. O quadro normativo agora sumariado alumia estarmos na presença de um poder disciplinar que se impõe, em nome dos valores mencionados, a todos os que se encontram a ele sujeito, no âmbito já delineado e que, por essa razão, assenta na prossecução de finalidades que estão bem para além dos pontuais e concreto interesses desses agentes e organizações desportivas.

§2. Das infrações disciplinares em geral

32. Neste contexto, deve, antes de mais, notar-se que o RDFPF se encontra estruturado, no estabelecer das infrações disciplinares, pela qualidade do agente infrator – clubes, dirigentes, jogadores, delegados dos clubes e treinadores, demais agentes desportivos, espectadores, árbitros, árbitros assistentes, observadores de árbitros e delegados da FPF. Para cada um destes tipos de agente o RDFPF recorta tais infrações e respetivas sanções em obediência ao grau de gravidade dos ilícitos, qualificando assim as infrações como muito graves, graves e leves.

§3. Das infrações disciplinares concretamente imputadas

33. No caso que nos ocupa, a imputação lançada em sede de libelo acusatório sustenta-se no vertido no artigo 137º do RDFPF, que, sob a epígrafe “Incumprimento de deliberação ou suspensão”, preceitua nos seguintes termos:

«O dirigente de clube que não acate ou não faça cumprir ordem ou deliberação emanada de órgão social competente da FPF, órgão disciplinar especialmente previsto nos seus Estatutos ou no presente Regulamento, ou não cumpra suspensão, ainda que preventiva, é sancionado com suspensão de 1 mês a 1 ano e cumulativamente com multa entre 5 e 10 UC, salvo quando haja de ser aplicada norma especial constante do presente Regulamento».

34. Este normativo disciplinar é aplicável ao treinador arguido por força do disposto no artigo 183º, nº 1, do RDFPF, nos termos do qual «Os delegados ao jogo dos clubes, os treinadores e todos os outros agentes desportivos, independentemente da função exercida, não especialmente nomeados nos capítulos

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anteriores, são sancionados nos termos do Capítulo VI relativo às infrações específicas dos dirigentes de clube nos casos não especificamente previstos neste capítulo».

§4. O caso concreto: subsunção ao direito aplicável

35. A subsunção ao direito aplicável pressupõe que se efetue a exegese da norma sancionatória em causa, para assim verificar se se encontram preenchidos todos os elementos típicos, objetivos e subjetivos, que a mesma comporta.

36. Nesse pressuposto, cumpre acrescentar que, nos termos do disposto no artigo 15º, nº 1, do RDFPF, constitui «infração disciplinar o facto voluntário, ainda que meramente culposo, que por ação ou omissão previstas ou descritas neste Regulamento viole os deveres gerais e especiais nele previstos e na demais legislação desportiva aplicável».

37. O conceito de infração disciplinar integra pois os seguintes elementos constitutivos: (i) um facto voluntário (ativo ou omissivo); (ii) típico; (iii) ilícito e (iv) culposo. Significa isto que, na medida em que aqueles elementos são de verificação cumulativa, a falta de qualquer um deles comporta, como consequência necessária, a inexistência de qualquer infração disciplinar.

38. O arguido Filipe José Oliveira Moreira, enquanto treinador da Torreense SAD, é agente desportivo para os efeitos do RDFPF, nos termos da alínea b), do artigo 4º, em conjugação com o nº 1 do artigo 3º, daquele Regulamento, estando, como tal, sujeito ao exercício do poder disciplinar por parte da FPF, na medida em que pratique factos que possam ser integrados nalgum dos tipos de infração naquele previstos.

39. Como suprarreferido, vem o mesmo acusado da prática de uma infração disciplinar, que o RDFPF classifica como muito grave, prevista e sancionada pelo artigo 137º, nº 1 (“Incumprimento de deliberação ou suspensão”), em conjugação com o artigo 183º, nº 1, ambos do RDFPF. Este tipo de infração implica que, voluntariamente e ainda que de forma meramente culposa:

(i) O dirigente de clube (ou treinador, por força da norma remissiva constante no artigo 183º, nº 1, do RDFPF);

(ii) não acate ou não faça cumprir ordem ou deliberação ou não cumpra suspensão, ainda que preventiva;

(iii) emanada de órgão social competente da FPF, ou órgão jurisdicional/disciplinar especialmente previsto nos seus Estatutos ou no presente Regulamento.

40. Ora, como se disse anteriormente, o artigo 183º, nº 1, do RDFPF, sob a epígrafe “Âmbito de aplicação” preceitua que «Os delegados ao jogo dos clubes, os treinadores e todos os outros agentes

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