/--Maria
Antónia
Diniz
Caetano
Coutinho
ENUNCIAÇÃO
METAFÓRICA E
TEXTO
Perspectivas
de
análise
em
textos
de
Os Afluentes do
Silêncio
de
Eugénio
de
Andrade
FACULDADE
DE
CIÊNCIAS SOCIAIS
E
HUMANAS
UNIVERSIDADE
NOVA DE
LISBOA
A rroressora Doutora Luísa
Opitz
peio interesse
parti
inaao, num campoae
investigação
que orientou eseaimer.tou o cue em r.ira era
motivação antiga
peio
apoio, perspicácia
e arr.piítuaece perspectivas que
alicerçaram
arealização
ceste trsoainoNos saoores e cissaoores oo percurso, estiveram
comigo
aDoutora Heiena
Trigo,
a Doutora Fernancia -y.enér.ces e aEM JEITO DE PREFACIO
"ici encere, ce aue le eis
m aooreria ce cue ie vais cir
0.
Aoctneicr-Ter.ee caco rorma a este traoaino. muitas cas mtiuencias
teorzeas zz.e ne.e se razem sentir continuam a ser motivo ae
r•:T . exão e ceserrvo_vixer.to .
I— .=3 -^. rer lecte
'.e-.ss introcuz:co e mesmo procuraco ar ti cu
pois um estádio ca investi
cação
-cue o traoaino reaiizacc
- 3
-O
lugar
ce cestaque queEugénio
ce Anarade ocupa nopanorama c; literatura portuguesa é um racto
consagrado,
que diversas e auterizacas vezes aa '-:ssa critica literária
ceco foram assinalar.ee. O volume ce que escolnemos
nos pece ccr.sicerar-se único na
procuçãc
co poe'ca rezoina ce textos em presa irr
i;T: -cú
1
1 • r-f~~,
. e:
Data ca ce 1966, a
primeira
edição
reunia t-ríitos ce caracter- 4
-e
constituição
do actopoético.
A critica acolneu comagraCo
o acontecimento (1). A"invulgar
finura crítica" comque o poeta comenta outros poetas,
realçada
por EcuardoPrado Coelho (1972:204), atribui-a Nuno Teixeira Neves
(1971:401-2) a uma sabeaoria
analógica
quepermite
ao autorcaptar em vias tão distintas das que ele
próprio
percorre omovimento de
unificação
que todo o actopoético
procura. Eê neste sentido que Nuno Teixeira Neves afirma: "Também
através da sua prosa (agora mais
explicadamente
)Eugênio
deAndrade visa a
plenitude,
(...)"(1971:406).
No mesmosentido em que
poderíamos
dizer que Os Afluentes doSixéncio
exemplarmente
manifestam o estatuto defunção
(1) Nâo se
pretendeu
umaapresentação
exaustiva dabibliografia
disponível
sooreEugénio
de Andrade. Asreferências feitas tornam presentes
alguns
pontos devista
-quer
peia importância
que lhes atribuímos noreconhecimento ca obra, quer
pela
pertinência
que- 5
-poética
que Ecuarco Lourenço reivindica para a crítica(1987:21;22) (2).
De facto, parece consensual o reconhecimento da
indiscutível
qualidade
a queEugénio
de Andrade noshabituara,
pelo
menos desde As mãos e çs. Frutos, nestaprosa
poética
que, como também Luís de Miranda Rocha nota,"só inadvertidamente
poderíamos
considerarmarginal".
(Í971:3ó7). Ponto ce vista, de resto, assumido
pelo próprio
(2) Vem a
propósito
oDservar quejá
em A Poesia de Eugênioae Anarade
(artigo
publicado
em 21 ensaios sopreEugénio de Andrade e retomado em Tempo e Poesia,
Eduardo
Lourenço
enuncia: "Como só oamigo
tala bem doamigo,
só o poeta devia falar dopoeta".
Se nãoreconhecêssemos no aforismo a
pertinência
de umalapidar
argumentação,
alguma
má - consciência nosautor, quer na
intenção
do título { 3 ) , quer no acto mesmode
publicação,
que nãopode
deixar de ser entendido comoreconhecimento de
qualidade
apesar de, em breveprólogo,
anunciar não gostar do livro.
Se este é um direito que ihe caoe, insistiremos no entanto
em verificar a validade das razões para tal
apresentadas
admitindo a
hipótese
ce as mesmas contriDuirem paraexplicar
aqualidade
quejulgamos
ter opróprio
autorreconhecido.
Diz
Eugénio
de Andrade não gostar ce "livros assim,esparsos e
privacos
dearquitectura"
. Para defender que setrata ce um livro unificado,
poderíamos
referir umaconvergência
temáticaglooal
(o acto decriação).
viremos a faiar da prosa
poética
ceEugênio
de Andrade.Mas sabemos que o menos
amigo
pode
Dem dizer algumasverdade* - o cue só atesta a
pragmática
justeza
decomparação
utiiizaca por Ecuardo Lourenço.- 7
-partilhada
entre aespecífica
reflexão sobre o actopoético
e o comentário de escritores e
pintores
- ou, sepreferirmos
acaracterização
ce João Rui de Sousa,distriouída por três grupos distintos de textos: de
carácter evocativo, dedicados à
interpretação
artística, ece reflexão sobre a arte
poética.
(1971:194)
Mas admitimos que, nas suas
primeiras
edições,
este foi umlivro esparso
-comparado
com a versão detinitiva, em 4aedição
(Junho de1979).
Conforme Noticia Bibliográfica nelainserida, introauzem-se então quatro textos novos (sobre
Pascoaes, Rilke,
Lopes-Graça
eOrpheu),
e três textos sãodeslocados para Rosto Precário, volume de prosa saído ainda
no mesmo ano. Se tivermos presente a natureza dos últimos
-uma entrevista (Da Palavra ao Si1 éncio) e dois textos
1 Poética e 0 Sacri f icio ce I f icénia) que, de entre os que
integravam
a versão inicial, maisexplicitamente
constituemuma arte
poética
- reconheceremos que a prosa de carácterensaístico e
poético
ííXjOU a identicace ca ODra.Se
podemos
chamar ensaios a estes textosdepende jã
de umaoutra
questão
- aque nos parece tamDém colocar o autor, ao
falar de
"arquitectura".
Sem nos determos nacomplexidade
- tí
-arquitectura
textuai, aceitá-la-emos aeterminada por umcerto número de
regularidades.
Conviria portanto, antes dedecidir que estes textos não obedecem a uma
arquitectura
ceensaio, identificar as
regularidades
que a caracterizam (eprovavelmente
distingui-las
das que, por serem clássicas,com elas se
podem
confundir).
Mas que o autor os considere"privados
dearquitectura"
solicita-nos para umaquestão
prévia:
da análise a desenvolver neste trabalho esperamoscacos que
permitam
confirmar aintuição,
contráriaàquele
ponto de vista, ce se verificarem
algumas
regularidades
textuais em Os Atluentes do Silêncio.
A conf irr.ar-se, esta
hipótese
justificaria
provavelmenteque se duvide da
adequação
dos termos em queEugênio
deAndrade formula a
segunda
das razões invocacas para nãogostar do livro: "não ter sabido
distinguir,
na maioriadestes escritos, a íronteira entre prosa e
poesia".
Quanto a nós,
importa
ponderar
asimplicações
de talafirmação:
"não ter saDido" fazé-io baixa o Índice dequalidade
quelegitimamente
podíamos
esperar do autor? enão
distinguir aquela
fronteira constitui necessariamente- 9
-Eduardo Praao Coelho parece valorizar a
diluição
defronteiras: "Eis um livro que torna fluidas todas as
distinções
entre prosa epoesia,
entre crítica ecriação."
(1972:204). Mas esta
posição
nãochega
a constituir umponto
de vista contrário ao deEugênio
ae Andraae-tanto
mais que nenhuma
reformulação
maisexplícita
se nos oferecedepois
de, linhas adiante, deduzir doprólogo
"a nitidez defronteiras" como um dos valores maiores para o poeta.
Subtilmente, Eduardo Prado Coelho desloca a
questão:
procura a
reiteração
daquele
valor na"dispersa
artepoética"
que o livro contêm, mas não o avalia noplano
deconfiguração
textual quejulgamos
terEugénio
de Andradeconsiderado .
Realçando
o carácterinesperado
ae vertentepoética
de CsAfluentes co 5i 1 encio, João Rui de Sousa parece confirmar o
ponto ce vista co autor: "Efectivamente, embora na
origem
dos textos (...)
esteja
umaintenção
que pouco ou nada tema ver com um
objectivo
poético,
veririca-se que na suaexploração
acaba por virlargamente
àsuperfície
o poetaque o autor sobretudo é." (1971:193).
A
sequência
do comentário coloca-nos perante aconstatação
- 10
-desarticulado e mero recurso formai que o crítico considera
frequente:
"num terreno onde muitas vezes se dã saída aexcessos verbais sem
correspondência
com um válido teorsignificante,
o escritor soube manter-se fielàquela
essencialidade formal,
àquela
segurança estilística,àquela
vibração
contida que sempre temposto
aoserviço
do queOscar
Lopes
chama, certeiramente, umapoesia
do sim, davida e da plenitude." (1971: 193-4).
Consideramos decisiva, para a
questão
que nos ocupa , estademarcação
dos textes de Os Arluentes ço Silênclo de outrosque diremos aparentarem o mesmo
tipo
ce escrita. É pena,por isso, que João Rui de Sousa tenha rodeado dois aspectos
que se nos
afiguram
ce1importância
maior:designar
o"terreno" em causa, e
oojectivar
aconstatação
de que oautor exibe, neste "terreno", as
qualidaaes
reconhecidas àsua
poesia.
Luís de Miranda Rocha contricui
significativamente
paraesta reflexão, sublinhando um nível ce
identificação
entreos textos de Os Afluentes do Silencio e a
poesia
do autorque, sem os vincular às "mesmas" cuaiidaces aesta,
permitirá
explicar
o que neles constitui umaqualidade
- 11
-resultado tamDém de um trabalho intenso como a maior parte
da
poesia
dopoeta
deOs^
Amantes sem Dinheiro" .(1971:367).
S não será certamente alheio à lucidez desta
observação
queo crítico não hesite em falar ce prosa
poética
- aocontrário de João Rui de Sousa que, criticando o que é
prática
nesse "terreno",permite
que entendamos a metáforacomo recurso para
fugir
aetiquetar
assim Os Afluentes doSilêncio.
Escrúpulo
vão, o ce João Rui de Sousa: eie quejustamente
nota aqualidade
quedistingue aqueles
textos,perde
a ocasião de lembrar que a fertilidade do terreno nãodepende
exclusivamente de características intrínsecas mastambém, e talvez
predominantemente,
da forma como étratado.
Na verdace, a
posição
de João Rui de Scusa sugere-ncs apossibilidade
ce considerar umaambiguidade
paralela
emEugênio
de Andrade, queexplicaria
acontradição
entrepublicar
o livro-por lhe reconhecer
qualidade
- e nãogostar ceie
-por menosprezar a prosa
poética.
Apesar da distância que separa Rosto Precário da
primeira
edição
tíe Os Atluer.tes do Silêncio, ondelogo
se introduz oprólogo,
admitimos confirmar a nossainterpretação
a formacaracteriza a prosa
poética:
"produto
híbrido,quando
não émero
subproduto,
muito do gosto da sentimentalidade àportuguesa"
(4). E convirá notar que talapreciação
não êdeterminada
pela convergência
de prosa epoesia,
na medidaem que se reconhece o poema em prosa como "um ser
específico,
comperfil próprio".
(4)Se esta
avaliação
sepode
considerarjustificada
pelas
imagens
de prosapoética
e poema em prosadisponíveis
(5),
julgamos
que uma obra como Os Afluentes do Silênciopoderia
constituir ocasião para rever ambas, no que diz
respeito
àprosa
poética.
Em
qualquer
caso,aquestão
de "fronteira entre presa e(4) Cf. ANDRADE 1979:89-90
(5) Apesar
deEugénio
ie Andrade consiaerar que o poema emprosa "não tem entre nós
tradição
nemprestígio".
- 1-3
-poesia"
parece cclocar-se em termos ce reconhecimento evalorização
de umaprática
textual - ou, per outraspalavras,
subordinada a critérios de literariedade .veja-se, a este
prepósito,
TODOROV1969:10.-'?).
literários" em discursos considerados não literários ou
literariamente menores leva autores como Todorov e Greimas
a considerar a
oposição
entre literatura e não literaturasuoorcir.ada a uma
tipologia
ce discursos. (TODOROV 1975;GREIMAS - COURTÈS
1979,. Enquanto
Toderevcneça a per em
dúvida uma especi ricidade literária, Greimas faz suostituir
o conceito ce literariedade intrínseca ao texto
pelo
de"conotação
social", variável segunoo as culturas e asépocas.
íGREIMAS, COuRTES 1979: 214 J .Fa r e c-^—n o*s rr-1s pertinente c e s e rivc-1','er r e11e xa o r. o
senticc ce caracterizar, nao a íronteira, mas a articu.açao
entre prosa e r.oesia, numa
prática
textual aceite comoprosa poética . Determinar a
função
que nesta assume a- 14
-"Toute tentative de réduire ia
sphère
ae iafonction
poétique
à lapoésie,
ou de confinar lapoésie
à la fonctionpoétique,
n'aboutirait cu' àune
simplif
ication excessive et trompeuse. Lafonction
poétique
n 'est pas la seule fonction del'art du
langage,
elle en est seulement la fonctiondominante, determinante,
cepandant
que dans lesautres activités verbales elle ne
joue
cu' un rolesubsidiaire, accessoire."
(JAKOBSON
1963:218)
Aguiar
e Silva faz notar que, apesar destaooservação,
oestudo de Jakobson
abrange
apenas a"poesia
versificada".(SjLVAb,fc%983:
60, n. 40). O facto não desmerece, quanto anós, a
sugestão
de Jakobson que, de resto, r.odesenvolvimento do bem conhecido
artigo
emquestão,
referea
complexidade
desproblemas
que, em suaopinião,
pode
suscitar a prosa, como fenómeno ce
transição
entre alinguagem
estritamentepoética
e alinguagem
estritamentereferencial (cf. Jakobson 1963:243). Se
daqui
sepode
inferir, como
julgamos,
a utilização maleável decódigos
(esubcódigos)
linguísticos,
será útil rever aquestão
dopoético numa
perspectiva
comunicacional que, sem secingir
- 15
-fenómenos interaccionais entre os interlocutores em
presença.
Admitimos
pois
adeterminação
discursiva dopoético
-que
restringiremos
aos enunciados metafóricos. E aceitando vero texto instituído através da actividade discursiva
(6),
propomo-nos verificar a
hipótese
ce lhes caber umafunção
na
organização
textual.0 presente trabalho crientar-se-á assim no sentido de:
1. mostrar a
pertinência
de se encarar o fenómeno literárionuma
perspectiva
comunicacional;(6)
Antecipanro-nos
aqui
ao que aexplanação posterior
viráa
justificar;
vejam-se
emparticular
oscapítulos
3 e- 15
-2.
esboçar
umacaracterização
dacomunicação
escrita eliterária;
3.
perspectivar
o funcionamento discursivo daenunciação
metafórica;
4. apresentar
algumas
questões
que se consideramparticularmente
relevantes para a análise textual.Através da análise de textos de Os Afluentes do Silêncio
(5.) esperamos ver confirmado o interesse co percurso
estabelecido e validado a
hipótese
de umafunção
textual- 18
-Na
sequência
ce Peirce, quedistinguiu
o modo defuncionamento de diferentes
tipos
aesigno,
Morris entendeua semiótica desdooraaa em três
disciplinas:
ásintaxe, ã semântica e à
pragmática
caoia descrever,respectivamente,
arelação
aos signos entre si, arelação
com os oDtectos que representam e a
relação
comaqueles
queos utilizam.
Assim introduzida, a
pragmática
constituiu para os estudoslinguísticos,
numa fase que pcaemos considerar inicial, umareflexão
suplementar.
O sentiaopragmático
vinha"acrescentar-se" aos níveis ae análise tidos como
- 19
-frase e a sua
significação
- entendiaa, naperspectiva
casemântica vericondicional , que se
apoia
nalógica
formal,em termos de condições de verdade, isto è, as
condições
requeridas
para que possa ser atribuído ã trase um vaior aeveraaae,
correspondente
à suaadequação
ao estado de coisasrepresentado
.No percurso para a
pragmática
contemporânea, sào decisivosos contri-outos de filósofos aa escola analítica
anglo-saxónica.
Concebenao a linguagem como
possioi
1idade derealização
deaeterminacas
acções
-actos Oe fala
-que
ligam
osinterlocutores, Austin
(Í962-1970)
distingue
actosilocutór ios, que se realizam através ca
enunciação
(porexemplo,
interrogar),
de actos oerlocutorios, que serealizam ccmo
consequência
Gaenunciação
(porexemplo,
intimidar). A
partir
de umageneralização
danoçào
deperformatividade
(1), Austin aefine os actos i locutórios- 20
-como
acções
realizacas através caenunciação, sujeitas
a umdeterminado número de
condições
ce emprego que têm a vercom a
adequação
contextual e cotextuai e com oreconhecimento, por parte ao interlocutor, da
intencionaliaade go locutor; constituem
transformações
deordem institucional, criando direitos e
obrigações
entre osinterlocutores; finalmente, são actos de carácter
convencional, isto ê,
produzidos
e reconhecidos no seio deuma
instituição
- alinguagem
-que ines confere
existência.
A convencional idade que define o acto ilocutório (e o
distingue
aoperiocutório
)permite
considerar umapragmática
propriamente
linguística,
como Recanati feznotar: "Avec Austm, ia
pragmatique
estrêintégrée
dans leper tormatividade encontra-se
jé
em Benveniste, numartigo
de 1958 (EENVENiSTE 1966:265). £ no entanto aAustin que se deve a
fixação
do conceito: um enunciadoé cito
performativo
se aescreve uma acção presente docnarrp ces etudes
preprement
linguist
:quês : elle n'est plusr.ctamment 1 'étude ze L'n
"parole"
au sensdéprécistif
cuSaussure emp 1cie ce terme." (RECANATI 1979:11). Leme:anco
os termos em que Saussure define lancue e parole, o autor
prossegue: "Mais à cela on peut desonrais
rêponcre qu'ii
ya,
"cêposées
danschaque
cerveau", desrégies
cujeu
ce laparole,
commune3 a teus etpiacées
en cenc-rs ae ia volontédes
dépcsitaires
. "O nível
pragmático
dedescrição
linguística
presta-se noentanto a
opções
teóricas diversas.A manifesta insuficiência das
"condições
de verdade" paraestabelecer o sentido de um enunciaco que apresente uma
força
iiocut-cria 'ie criem ou de perguntaimpôs
umarefcrmuiaçio
em termos ce conaiçoes cesatisfaça:-
(ce"felicidade", nes terres de Austin;.
Enquanto
asignificação
da frase determina as contições
zesatisfação,
a que é suposta ooececerquando
enunciada, onentico do enunciado
pode
ser entendido como uítjsreavaliação
cessascondições
numasituação
deenunciaçlo
1975-79)
(2)corresponderia pois
à"pragmatização"
ao nívelsemântico, necessário sobretudo em caso de actos indirectos
(SEARLE
1979)
.Pode no entanto constatar-se que,
pelo
menos emalguns
casos, os elementos que definem a
significação
da frase nãosão alheios à
identificação
daforça
ilocutória associada aum enunciado dessa mesma frase: ê ocaso por
exemplo,
dorecurso ao
imperativo
para estabelecer umaforça
ilocutóriade ordem, de fenómenos de
modalização
epressuposição,
dapresença de conectores
argumentativos.
Descrevendo em
particular
o funcionamento aos últimos - asua presença num enunciaco não contrioui para descrever o
(2)
Máximas dequantidade, qualidade,
relação
e maneira,contidas num
princípio geral
cecooperação
(GRICE1975-1979). A elas se
pode
fazercorresponder
o que DUCROTchama leis de discurso (cf. DUCROT 1984: 95-114) e
Kerbrat-Orecchioni
competência
retõrico-pragmãtica
(cf.- 23
-estado das coisas representado, mas mostra a
argumentatividace
que se pretende através daenunciação.
Anscombre e Ducrot
propõem,
umapragmática integrada,
istoê, interveniente oesce o nívei semântico aa frase. A
investigação
desenvolvida levou estes autores a admitir ageneralização
daproposta:
umacomponente
retórica(pragmática) agiria
primeiro
soore asignificação
da frase(produto
da componentelinguística)
emfunção
dasituação
de
enunciação;
e umasegunda
vez, actualizando oumodificanco o seu sentido literal. (3)
Como Ducrot faz notar, a
pespectiva
dapragmática
integrada
toma emconsideração
o que num enunciaGO resiste aser descrito em termos de
condições
de verdade.Longe
deconsiderar esta "falta de
lógica"
como umaimperfeição
aospredicados
daslínguas
naturais, relativamente aospredicados
lógicos,
Ducrot pensa que eia manifesta o queconsidera
função
primeira
daslínguas:
nào veicular(3) Sobre
pragmática
integrada,
veja-se
emparticular
informações,
mas, "off rir aux interiocuteurs un ensemble cemodes d 'actions
stéréotypés
ieurpermettant
de ^ouer et ces'imposer
mutueilement ces roles(...)"
(DUCROT 198*4 :11 1 ; .0 desenvolvimento da
pragmática
linguística
seria razãosuficiente para se procurar verificar a dimensão
comunicacional do fenómeno literário. Convém no entanto
sublinhar que, se a 1iterariecace náo constitui uma
propriedade
intrínseca, mais uma razãc> haverá para seadmitir ccnsicerar o texto literário como unidade
pragmática,
isto é, texto em situaçáo - noinesgotável
percurso ce uma
comunicação
que semultiplica
sem sereretir. Ccmo sucere 5sr.ce, "la "
ii ttérar ité" serait done à
situer au
plan
de la communication, dans ie caare c unerecherche
pragmatique."
(RANGE 1963:148)
Mas quem
julga
emcrer.har-se na tarefa ce icentincar umaespecificidade ca
comunicação
literária, nao pc-ce deixar ceconstatar c
algo caqtri-o
que parecia aesvio ou pe_3 menosdiferença
relativamente àcomunicação
quotidiana
è srinaldecisivo para a
compreensão
da última. Repare-se cen.oDucrot (1964:
205-210),
a traços com acenstruçào/expesiçèo
de uma teoria
poiiíónica
ia enunciação, è :evazo a recorrerestaee.ecer cu clarificar os conceitos ce
sujeito
falante,como ser
empírico, produtor
electivo co enunciaco, locutorcomo ser ce ciscurse,
responsável
por esse enunciaco, eenunciador, como ser que se
exprime
no enunciado sem que 3responsabilidade
co mesmo Ine possa ser atri tul ca. Ooojectivo
ce Ducrot é mostrar que existe no discursoquotidiano
umapoiifonia
enunciativa que. siém cepermitir
a não coincidência do
sujeito
faiante com o iccuter,pode
fazer movimentar no
palco
de um enunciaco outro locutor(fenómeno
dedupla enunciação,
ce que o rebato em ciscursodirecto é apenas um cos casos) e enuncia-dcres. Se para tai
o recurso ao teatro e à narrativa se mostra
cperací
c-nai èporque o desdobramento que ne.es se manifesta assume ou
accuire estatuto de evicencia: no caso co teatro, atestact'
p-el-a
presença dcpúblico,
aleeutèrio de um locutor ausente;o autor) que se mani resta através ce personagens; no caso
da narrativa,
consagrado
ncquadro
dos estudes literários.no-meacamer.te
depois
ce Genette 1972, através cas noções cenarrador e centro de
perspectiva.
Importa
no entanto verificai se o cescc-oramenti^ra amos serve apenss como
comparação
c>u constitui ceq\:e
facto
- zb
-de ter em conta cuas
observações
íuncamentais no quaorodesta teoria. Em
primeiro
lugar
convirá recordar que,embora Ducrot se tenha por assim ai zer
inspirado
noconceito de.
poiifonia
desenvolvido
por Ba /.':-.tine, as duasnoções
não coincidem, como opróprio
autor faz notar:"Mais cette théorie tíe Bakhtine, à ia connaissance,
a
toujours
étéappiiquée
à ces textes, c'est-à-cireà des suites d'énoncés,
jamais
aux éncncés dont cestextes sont constituas. De sorte cu'elie n'a pas
abouti à mettre en doute ie
postulat
selonlaquei
un énoncé isole fait entenare une seule voix."
(DUCROT 1964: 171 )
Em
segundo
lugar
impoe-se
sublinhar adefinição
ceenunciado que Ducrot insiste em
precisar:
entendido comoocorrência de frase, entidade
gramatical
aostrcta. eie é noentanto delimitado por
princípios
de coesão eindependência
que ine conferem uma determinada autonomia (DUCROT
1984: 174-5) .
uma escoma única e, como tal, constituindo um único
enunciado em que o locutor, coincidente com o
sujeito
r a. ante ■re actores), faz ouvir vozes oe enunciador*:
(as personagens). <j outro registo, que corresponce mais
directamente às
investigações
ae Ducrot, seránecessariamente outros
registos:
recuando autor e actorespara o
papei
exclusivo desujeito
rasante e sendo aspersonagens locutores, instalar-se-á no(s) enunciado( s) ce
caca locutor uma cena
polifõnica
idêntica à co discursoquotidiano.
Repare-se:
meme i. =; r i r-•-vi '"■ dans ie iar*gage
orcir.aire, au iccuteur et cu su;et pariant qui *.e
rena apte à 1 '
útil isation
paiicuiière
qu'
en faitie tnèàtre: le erepre du théàtre, par rapport au
récit pur, c'est-à-cire au récit sans d ialogue
- 28
-Ainda que o texto dramático, enquanto enunciado cloral,
constitua um caso
exemplar
depoiifonia
enunciativa,reconhecer-se-á que no discurso literário em
geral
oprodutor
efectivo do enunciado se dilui, e c-uvem-se vezesde locutores,
sejam
elas personagens, narradores ou, ãfalta de melhor termo, poeta. 0 reconhecimento deste
mecanismo aponta numa
inesperada proximidade
dos ccistipos
de
comunicação
quedesignamos
por literária e nãoliterária: em nennum dos casos se encontra a entidace coesa
e transparente que se
julgou
ser o emissor.Será útil, antes de avançarmos, tornar presente a
reformulação
do conceito ce ilocutório, estabelecida porDucrot, relativamente ã
concepção
realista que -zeieapresentam os filósofos de Oxford. Partindo do
princípio
comum ce que o acto ilocutório se destina a transformar a
- 29
-enunciado do
quotidiano
do que num enunciado literárioambas são apenas uma
pretensão
ilocutória estabelecida nouniverso do discurso. Mas é
próprio
tíe umaforça
ilocutóriaque extravase esse universo, uma vez satisfeitas as
condições
deapropriação
contextual e cotextual eadequadamente
interpretada
a intencionalidade do locutor.No caso do discurso de
ficção,
no entanto, ascondições
defelicidade de actos ilocutórios parecem não ser
pertinentes,
de acordo com ajá
clássicaconcepção
estabelecida por Searle
(1979: 56-75)
trata-se nesse casode
simulação
ce actos de faia.Admitiremos que o
princípio
cesimulação
toca um aspectofundamentai do discurso literário, fazendo valer "a set of
conventions wnich
suspend
the normaloperaticn
of the rulesrelating
i llocutionary
acts and the world." (SEARLE 1979:67).
Mas o alcance deste fenómenopode
ser entendido numsentido diferente
daquele
para que àprimeira
vista aponta:Pierre Bange faz
precisamente
notar que acomunicação
quotidiana
ignora
a suaprópria dependência
a um modelo derealidade, enquanto a
comunicação
literária a exibe. (cf.- 30
-A
operação
normal de que faia Searle terá assim de servista relativamente a um modelo de realidade socialmente
aceite e, por isso mesmo, tido por "a realidade".
Suspender
a
ligação
normal entre os actos de fala e um mundoequivale
pois,
emcomunicação
literária, a estabelecer aligação
normal entre os actos de fala e um mundo textualmente
estabelecido, através da actividade discursiva.
Por serem alternativos, esses mundos ou modelos de
realidade não deixam de constituir um
quadro
depressuposições
a que o"produtor
literário" se mantém fiele a que também o receptor se terá de referir, aceitando
limitar
pontualmente
a validade do seupróprio
modelo derealidade.
A este
propósito,
seria talvez .p:rtuna adistinção
estabelecida em DUCROT cT q.--^ 80: fazia-se então
corresponder
ao
sujeito
falante, ao locutor e ao enunciador,respectivamente,
o ouvinte, o alocutário e o destinatário-sendo locutor e alocutário personagens de
enunciação,
enunciador e destinatário agentes de actos ilocutórics.
Posteriormente o autor
rejeita
estaposição:
não sendoatribuída ao enunciador a
responsabilidade
do enunciado mas
-:-l
-.sturalmer.te ser-lne atribuída a realização ce actos
:aia. (DUCROT 1964). Parece-nos no entanto que nada ocs1
■.anter a tincão entre ouvinte e aiccutario.
Instituído
peio
discurso, ouniverso de referencia que e mesmo discurso tamoém
institui. O ouvinte, como o ser ralante, é um ser
empírico
- condicionamentospsicc
iógiccs,
culturais eideológicos
determinam a validace, para o mundo ceexperiência
que é- o seu, cacomunicação
literária (4j.Saberes prévios pr edis
põem-
r.o a ela: o interlocutorliterário ê alguém cue escojlhe sé-io (5). Mas em caca caso
(4) Bar.oe cor.sieera que o moco ilocutório próprio
cc-discurso ficcionai reside no
duplo
comportamento(crer/não crer: do
sujeito
carecep-jÇào
( BAN GE l*rJcr:_52)- 32
-concreto, o conhecimento do mundo e, a par aa
competência
linguística,
umacompetência
discursiva e textual (6),permitem-ihe
reter o conhecimento e o prazer comunicados eavaliá-los em
função
de umasituação
concreta - aque
justamente
não é alheio um contrato decomunicação,
independentemente
dolugar
-tempo em que se estabelece e
reestaoelece.
6) De forma mais ou menos
preponderante,
estascompetências
sãorequeridas
em todo o processo deinterpretação.
Note-se que C. Kerorat-Orecchioniconsidera como
competências
dossujeitos
falantes, apar da
linguística,
aenciclopédia
1corr.-cimentos sobreo mundo),
retcrico-pragmática
(conhecimento
dofuncionamento cos discursos) e
lógica
(mecanismos dededução
e inferência).(KERBRAT-ORECCHIONI
1966:Entendemos contrato de
comunicação
num sentidopróximo
doCharaudeau atribui a Contrat ce Parole: "Rituel
socic-langagier
dontdépend
1'Implicite
codé (...)","qui
surcêtermine en
partie
lesprotagonistes
dulangage
dansleur double être de
sujets
agissants
et desujets
deparole
(...)".
(CHARAUDEAU 1983:54-5).
0 contrato de
comunicação
literáriapede
considerar-seassinalado por
informações preliminares
(comoindicação
explícita
degénero,
prefácios,
títulos) ou estabelecer-setacitamente ce acordo com Charaudeau em
função
de umacompetência
stuacional.(CHARAUDEAU
1983:65-6).
centre do literário, nos interessa em
onde não se faria esperar.
Admitimos que
aparentemente:
porque se não sepode
restringi-lo
àcomunicação
literária, serápertinente
suporcue, no exercício da
linguagem,
ihe caiba umaesceci ficidade
pragmática,
útil emcomunicação quotidiana.
rever, numa
perspectiva
desica
gratuidade
atribuída aopoético iue,
particular
- er.rSe assim é, parece
possível
comunicação
literária, a clãs2.
PARA UMA
CARACTERIZAÇÃO
DA
COMUNICAÇÃO
LITERÁRIA
- ZiD
-De acerco com os
objectivos
do presente traealnc, nãopretendemos problematizar
toca acomplexidade
que envolve ofenómeno literário: encarámo-lo, numa
perspectiva
pragmática,
como fenómeno decomunicação.
Vamospois
trataros textos que constituem Os Afluentes co Si-éncio tomo
objectos
decomunicação
literária eobjectos
de escrita.fuscitada
pelos
textos de que nos ocupamos, aconvergência
do escrito e do literário apresenta-se no entanto coj-t.o rir:-;
fenómeno quase
gerai,
peio
menos centro da moderna cultura- 36
-Durante séculos, os modelos de referência, os
padrões
degosto, os critérios de reconhecimento confinaram o campo
literário à literatura escrita
-cuja
hegemonia
parecemanter-se inabalável, apesar ca subversão de valores também
literários, que no século XX se tem
operado.
Uma
excepção
a considerar seria apoesia
concretaper formanciai - ou mesmo de
suporte
gráfico,
através daruptura com a leitura da
esquerda
para a direita ou com aunidade
grafemática
(veja-se
PIMENTA1978:142-146).
Nenhumadas modalidades carece no entanto
cingir-se
âconvencionalidace
linguística
do orai - considerando, deacordo com uma tendência actual em
linguística,
que tanto arealização
orai come a eserita obedecem a regraspróprias.
Se dentro do fenómeno
gerai
decomunicação
convémpois
distinguir
o escrito co oral, admitimos quequalquer
tentativa de caracterizar a
comunicação
literária não possaalhear-se ca mesma
distinção.
Não nos ocuparemos, noentanto, de muitas das
questões
que, nestaperspectiva,
seria
importante
abordar - eque reservamos a um estudo
posterior.
Porque
nos fixámos na análise dos textos que- 37
-possa ser
próprio
dacomunicação
literária, enquantorealização
escrita.Autores diversos têm chamado a
atenção
para oscondicionalismos
linguísticos próprios
do texto escrito.Parece-nos interessante reter os termos em que Culioli
enuncia este mesmo pcnto de vista, no
prefácio
aLa^
LanaueAu Ras cu texte:
"(...) Le texte suivi à
support
écritpossède
sespropes contraintes
linguistiques
(nous laisseronsde côté les aspects
esthétiques
) :régies
tíeproduction
et de reconnaissance, enparticulier
statut
particulier
de 1 " interlocution différéeentre
scripteur
et lecteur,régies
tíe cohêrer.ce(ruptures;
reprises;
ajustements)
et tíe moces deconstruction des valeurs rêférentielles" . (CULIOLI
1984:9)
Verificar, na
sequência
destasugestèo,
que ainterlocução
diferida se marca
linguisticamente
nasuperfície
do texto,exige
distinguir
a instância tíelocução
- 38
-considerar
pragmaticamente
definica - ca instancia deenunciação,
entendida cesce Benveniste como instânciaforma. de
produção
do enunciado. (1) De entre osdispositivos
linguísticos
que tanto a instituem como arevelam, vem a
propósito
destacar asexpressões
especializadas
em referir elugar
e o tempo daenunciação.
Necessárias ao
dialogismo próprio
ca actividadediscursiva,
estas
expressões,
citas ceícticas, pocem em texto- escritorevelar-se
imprecisas,
sceretuco na ausência ceinformações
cotextualmente
explicitadas
(2) que assegurem a suainterpretação
.É o que se passa com cs
exemplos
co.niQO? err1) Convirá notar que esta distinção poce constituir
argumento para cyze o fenómeno literário
seja
encaradocomo
comunicação.
(2) Por
exemplo,
indicação celugar
e cata em mensagemepistolar.
Enter.ce- se por cotext o o ■on t e x t o
- 39
-textos de Os Afluentes 'do S1 1êncio; verifica-se r.o entar.
a vereal
ização
de dados contextuais quecorrespondem,
cada um des casos, à
selecção
tíe um aspectc, entre cutque
poderiam
naturalmente caracterizar asituação
enunciação
:em
(1) "(...) eu,
aqui
rodeado dos seus àeser.tcz, (...)"(77)
(2;
"Agora
que tanto se fala emalfabetização,
culturapopular,
criatividade,(...}" (1-3)
Se o funcionamento característico c; ;tí*ui
açora consiste em
ae»->-eeicricc + cotexto
;-^3',-:o
*.e J marcam a
representação
dessaa mesmo dizer-se re- representação, na
rn-a
própria
referênciaespacio- temporal
representação.
- 40
-O facto mostra a
pertinência
tíedistinguir
opiano
dialógico
ca actividade discursiva doplano
textual que,entendemos estabelecido por mecanismos
próprios
deestruturação
que,organizando
aquela
actividade, instituemo texto como configuração, semântica e
pragmaticamente
significativa. Imprecisa
relativamente a umacategorização
espacio-temporal
, ê do ponto de vista caconstrução
textualque se revela a
precisão
dasituação
representada:
ela fazparte de operações enunciativas e
argumentativas
que, comoadiante se verá, definem a dimensão conf
iguracional
dotexto.
Assim entendida, a
questão
das referencias deícticasprende-se
cem o que Desclês chama valores referenciaisque, em seu entender, convém
distinguir
de referentes:extrai
inguísticos
) (4). Já em 1974 este autor, retomando eformalizando o modelo de Culioli, entendia a actividade
enunciativa con.o encaixe de actos enunciativos, que se
(4) Soore valores referenciais,
veja-se
DESCLESestabelecem por
identificação,
deslocação,
ruptura oureferência fictiva aos parâmetros ca
enunciaçáo-er
igem
(enunciaccr, tempo,
situação:.
Resu.tante ceoperações
enunciativas, assim entendidas, e
predicativas,
o valorreferenciai ce um enunciaco (ou ae uma
expressão)
epcis,
para este autor, o acontecimento (ou
objecto)
apresentado
p-e.o enunciacor e, ccmo tal estabelecido a
partir
copróprio
enunciado,independentemente
da verdade oufalsidade da referência extra 1
inguística
(ousimp.esmente
da existência
extralinguí
stica ; .Oponco-se
a umalinguística
vericondicional, que assenta natradição
dalógica
formai, estaperspectiva
iioerta averdace linguistica relativa a um enunciacor. Na
sequência
ia
distinção
ja ir.trotíuzica entre os :textuai, convém suo-innar
r^ancs ciscursivo e
VxZr ■-■'
enciaís cisou: sivos que, senco consensuais (ou ticos
- 42
-valores referenciais textuais, que o
próprio
texto constrói(e que, como se verá, constroem a vercace textual).
Não
sujeito
ainterrupções
extraiinguísticas
, o textoescrito
apresenta-se
como um ideal de linearidade - semque
por isso se
veja
reduzido a umasimples
sucessão deenunciados.
Assegurada
a conectividade do materiallinguístico,
aorganização
textual obedece, tíe acordo comVan
Dijk,
a umaestruturação
porsequências:
os efeitos desentido
(semântico/pragmáticos)
sequenciais
determinam umefeito
global
ce texto,produzido
e reconhecível como umtodo coerente. 0 mesmo ponto de vista é defendido por Jean
Michei Adam, que define o efeito de texto
"(...) comme It; a Li. i. ant cu passage de Ia
séquence
àIa
eonfiguration,
c" est-a-dire de ia linéarité ce1' èr.cncé à la
figure
(définitien de ?.Ricoeur),
de la
séquence
textuelle comme suite linéaired 'uni tês
linguist iques
(cennexité) à lareconstruetion de cette
séquence
comme un toutsignificant
( cchêsit et cohérent)." (ADAM- 43
-Concordamos que são mecanismos de coesão e coerência que
definem a unidade do texto
-apesar ce
algumas divergências
que, soore est=is
noções,
sepodem
verificar nos autores quese
debruçam
sobre a matéria.Van
Dijk
parece utilizar ccmo sinónimos cs termesconectividade e coesão
(veja-se
DIJK1977-1984:83;,
quedistingue
de coerência,sequencial
eglobal.
Outros autoresconsideram distintos os mecanismos de conectividade, coesão
e coerência; é o caso de Adam, na passagem que citámos, e
de
Hatakeyma,
Petofi e Sozer, para quem "cohesion is strongconnexity,
i.e.,connexity
fulfilling
special
cendictio-ns. "[HATAKEYMA, PETOFI,
SÍjZER 1965:68).
A Gramática de Língua,-*crtuguesa parece cc.c-oar-se na sequência ce
Beauçrande
1980,
distinguindo
conectividadesequenciai
(entendida comocoesèo>
gramatical
elexical)
de conectividadeconceptual
(ou coerência), (cf. MATEUS et ai.
JÍ96
3J
1r&9: 137-1 46 ) .Apesar cestas
divergências,
admitimospoder
considerar quea coesão diz
respeito
a mecanismoslinguísticos
ediscursivos ce
articulação sequencial,
enquanto a coerênciase define em termos
conceptuais
(reservando para a- 44
-Do
ponto
de vista darecepção,
atribuir coesão e coerênciaa um texto
equivale pois
a reconhecer/aceitar aorganização
textual, na sua
dupla
dimensão(sequencial
econf
iguracional
) .A decisão
pode
ser dificultadapeio
carácter menos familiarde uma estrutura
sequencial
-que, ainda
segundo
Adam, ésemp-re convencionai, embora possa ser
adquirida
culturalmente, por
prática
ememorização,
ou ocasional esujeita
avariação
no tempo.(cf.
ADAM1987:57-6).
Faz
parte
daexperiência
comum que a dificuldade em"seguir
o texto"
impede
a suacompreensão.
Atribuir sentido(coerência- a uma
configuração
textualdepende
efectivamente da
reconstituição
da estruturasequencial
;uai
o- sentido se co-nstrói.■s«.'«<«. ,-;
Estabelecida através de
operações
argumentativas
que- 45
-modelização
enunciativa(6),
ostentada cu dissimulada, adimensão conf
iguracional
apresenta-se
como verdade textual.A isto se
poderia
também chamar a ficcionalitíatíe do texto,sobretudo escrito,
seguido
esequencializado
- se tal fossenecessário para sublinhar que a
especificidade
dacomunicação
literária, enquantorealização
escrita, nãopode
ser atribuída ao seu carácter ficcional(peio
menos,entendido relativamente a uma realidade suposta
objectiva).
A coerência do texto escrito, literário ou não, nâo se
decide em termos de verdade cu falsidade, mas de
aceitabilidade para um
sujeito
emsituação.
Essa
avaliação
é co»ndicien=da por factores de ordemdiversa, com
destaque
para oideológico
e cultural. Maspode
consicerar-se cyze r.opróprio
texto se defende a sua(6)
Pode dizer-se, em termosgerais,
que amodalização
marca a distância do enunciador relativamente ao seu
próprio
enunciado; sobre estaquestão,
veja-se
FARRET- 46
-aceitabilidade - na medida em
que é atravessado
pelo
plano
discursivo
(7),
sempre estabelecido emfunção
de um alterego.
É
pois
a adesão co outro - nacontingência
cainterlocução
diferida
-que visa a actividade
argumentativa:
através davalidação
ce valores referenciais e daanulação
cehipotéticos
contra-diseursos cue são, afinal, parte caconstrução
referenciai do texto, ela faz ver o/co mesmoponto de vista.
Operações
dedestaque
e conclusãoconsti*c-em-se assim ccmo pontos de vista comuns - em
primeiro lugar,
ao enunciador e ac outro de sipróprio
queocupa a
posição
ce interlocutor, naprodução
do sentido; emcaca acto de leitura, ao enunciador e ao seu interlocutor
actualizado*, na
reconstituição
do sentido.- 47
-autores
ligados
ao Centre de RecherchesSémiologiques
deNeuchátel. Por
oposição
àlógica
formal, que conclui doverdadeiro o verdadeiro (o raciocínio é analisado em
proposições
e não em enunciados), alógica
natural, que seserve das
línguas
naturais, desenvcive-se comopersuasão;
ela é per isso,
lógica
desujeitos,
diaió>gica
einteractiva, e
lógica
deobjectos,
que o discurso constróie torna comuns aos
sujeitos
eminteracção.
Pode assim dizer-se que os raciocínios não formais elaboram
com
rigor
um saber comum -parcial
e localizado. E sequisermos comparâ-io
com o de ciências ditas constituídas,convirá lembrar que "a um moment de leur histoire, elles
ont bien cu
explicitei
leurpoint
de regara, leuroojet
etl'espac.e
de leursprcpesitions"
. ( KCHLER-CKESNY 1982:102)O
próprio
saber científico parecepois poder
serparcial
elocalizado. E fazemos nessas as
palavras daquela
autora: aoposição
não se estabelece entre ciências "curas" eciências "moles", mas entre ciências que se encontraram e
ciências que se procuram.
No contexto das últimas
-que todas, foram, se é que nem
tocas voltam a ser - a
- 48
-transmissão, que
supõe
a estabilidade de conteúdosadquiridos,
mas comocriação
de sentido, isto éelaboração
e
validação
de conteúdos. Forparadoxal
que èprimeira
vista
pudesse
parecer, este facto éparadigmático
daquestão
que nos ocupa:sujeito
a ' contraintes'específicas,
como fenómeno
linguístico
que é, o texto escrito - deinvestigação
científica, literário ou outro-apresenta-se
sempre co.iio
criação
de sentido simbólico. Asemelhança
doque se passa com cada
língua
que, como disse Eenveniste,"configure
Ie monde à sa manièrepropre"
(BENVENISTE,1965:62),
cada textoconfigura
o mundo (o real) à suaprópria
maneira.- através ce regularidades discursivasque manifestam o
enquadramento
emformações
discursivas deum colectivo e, como tal, sào
apropriadas
aformações
ideológicas
determinadas (8) - e deregularidades
próprias(6) Cs conceitos de
formação
discursiva eformação
ideológica
enquadram-se
napersp-eetiva
de análise dodiscurso desenvolvido per M. Fêcheux. Sobre -rite
assunto,
pode
consultar- se a número 37 de Langages(Março
1975)
ou, para uma breveapresentação,
- 49
-do nível textual
-que se instituem como
re-preser.taçâo.
As marcas
linguísticas
daprodução
de sentido sepoderá
pois
atribuir, no caso de ser considerada coerente aorganização
textual, umaprevisibilidade
linguística
eretórica: a
primeira
estabelecida a nível lexical esintáctico, per
exemplo
noquadro
de umagramática
devalências; a
segunda
associada a níveispropriamente
textuais
(unidades
textuais latas e valores referenciaiscomplexos)
que constituem efeitos de sentido, oufiguras,
que continuamos a chamar retóricos - e
que teremos ocasião
ce
precisar
através da análise ce textes.Se todo o texto se
propõe
a sipróprio
como símboloadequado
a uma faceta de real, nãoprévia
e exterior aotexto, mas que o
próprio
texto revela, e sustentado per umaestrutura
sequenciai
aprendida
ouproposta,
emqualquer
caso ree:-nhecí vel
-parece
plausível
que acomunicação
literária passe
pela
aceitação
de otritas foi".asconvencionais de texto (narrativa, poema, etc.) e
pela
predisposição
para re-ver o real através deobjectos
que- 50
-Mas cue a convencionalidade histórico-cuiturai da
literatura,
partilhada
peraquele
que escreve eaquele
quelê, constitua um factor situacional
específico
decomunicação
literária não a identifica ainda. Seránecessário considerar o valor que a caracteriza,
independentemente
dedeterminações
convencionais: não éporque o que se escreve ou lê é dito poema, por
exemplo,
que acontece efectivamente
comunicação
literária; e um actode
comunicação
literária ir-c-vatícrpode
transformar esparâmetros estabelecidos
(9)
(a história da literatura éjustamente
a história ca sua cc-nvencic-r.al idade ) .De acordo com a
orientação
que estaoelecemes, interessa-nosconsiderar o valor cu prazer estético inerente à
comunicação
literária do ponto ce vista da materialidadelinguística
e discursiva em que se inscreve.(9)
Essaalteração
depende,
ce facto, ce interlocutoresprivilegiados
(críticos, editores,professores)
quepromovem a
integração
do texto nos circuitos literáriosNos tropos ou
figuras,
que tradicionalmente se consideramanifestarem- no, se
poceria
reconhecer um cesprincípios
gerais
da teoria dainformação:
o grau deimprevisibiiidaee
aumenta a infermativi dade e elimina a redundância. Oue
aconteça no entanto consicerar-se vaga ou hermética a
i nformativicade de uma ocorrência metafórica, per
exemplo,
mostra, se não
jã
apertinência
de duvidar canomogeneidace
do
código
linguistico,
a necessidade de repensar ascircunstâncias tíe codif
icaçãc/cesccci
ficação
: deemissor/receptor
comosujeitos
universais a interlocutoressituacos, de modelos de
competência linguística implícita
amodeles de
produção/ interpretação
efectivas, queexigem
odomínio do funcionamento discursivofctextuai (10).
De tacto, â cr
esci a r e c e r
oco:
C C rrr
extua_
ização
discursiva e textuai pocerasmoicuidade e
imprevisibiiidaee
casras. Envolvidas em tarefas de
c o n s11 1 u em
(10) Veja-se o que O """i**
articulações
específicas,
que adescrição
linguística
dosconectores não cnega para identificar, mas
cuja
exactidãoterá de ser encontrada no
quadro
de efeitos retóricos(reterico- textuais ) . Federá por isso admitir-se que
sejam
momentos
previsíveis
daorganização
textual - no sentidojã
introduzido ce uma previsibilidade a. posterior i .
Nesta
perspectiva,
o prazer estético,conquistado
epartilhado,
é trabalho que na epela
língua
se instituipara (ver)
designar/mostrar
o que sendo único, porquecircunscrito ao texto, pc-ce consicerar-si an .e r ic i me:,l•
nao- :o .
jo- nto tíe V_ Í _3
-r- T
r-...x^l.-.x-X..x^x
=- A~ f.-.^ Oq
- o3
-temático-estrutural (11
Anexo 1 .
título oe exemplo
regis
taça noO ponto ce vista que vamos
privilegiar
é o cacontextualização
discursiva e textua. das ocorrênciasmetafóricas
-p-e"_o
que, apesar ae considerarmos que, deforma
explícita
ouimplícita,
seintegram
numa estruturapredicativa,
renunciaremos a utilizar asexpressões
foco e(II)
É porprovisoriamente
ce faciliaade que
designa.m.os
remo temática es~a recuçào,
err.ter.cer como noção, no se.ntioo que ^:.e atrioui uuncn
(CULIOLI 19c-i j - A
utilização
queaqui
fazemos de temanão se eonrunde
pcis
cen; asnoções
re.ativas âorganização
frásica e à erganização
textual, que o termo- 54
-restringir-se
(12).
Designaremos
como núcleos metafóricos as ocorrências que,através ce nexos que
importará
determinar em caca casoconcreto, admitimos assumirem uma
função
na coerência113). A
verificação
destahipótese,
através dace textos ce Os Ariuer. tes ço £i lencio,
poderá
mostrar a
especificidade
literária,previsível
anivei ca
regularidade
estilística ce umconjunto
tíe textos.(12) Cf. p. 57
( 12 )
Distinguir
que, cont
cc-nsí -der ar
er.quaeramento, que a eia parecem
(concretamente em Max Eiack, que as
propõe)
textual
também
mes ce núcleos metafóricos as expressões
r.cor emoora um termo metarõrice, se pooem