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Acordam os Juízes, em conferência, na Secção Criminal do Tribunal da Relação de Évora:

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 121/12.7GAMCQ-A.E1 Relator: JOÃO AMARO

Sessão: 21 Outubro 2014 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: NÃO PROVIDO

PEDIDO DE INDEMNIZAÇÃO CIVIL REJEIÇÃO

Sumário

I – A admissão liminar do pedido de indemnização civil formulado pela assistente não impede a sua ulterior rejeição por extemporaneidade, na

sequência de arguição tempestiva, por parte do arguido, da irregularidade da sua admissão.

Texto Integral

Acordam os Juízes, em conferência, na Secção Criminal do Tribunal da Relação de Évora:

I - RELATÓRIO

Recorre a assistente M. do despacho proferido em 20 de Fevereiro de 2014 pela Mmª Juíza do Tribunal Judicial de Monchique, no âmbito do Processo Comum (Tribunal Singular) nº 121/12.7GAMCQ, despacho que não admitiu, por extemporaneidade, a dedução do pedido de indemnização civil.

Da respetiva motivação retira as seguintes (transcritas) conclusões:

“1. O despacho inicial proferido pela Meritíssima Juiz de Direito do Tribunal “a quo”, datado de 19 de Dezembro de 2013, no qual se decidiu pela

tempestividade do pedido cível formulado pela recorrente, constitui “Caso Julgado Formal”, atendendo a que o mesmo já tinha transitado em julgado

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aquando do seu segundo despacho judicial sobre a mesma questão, mas contraditório, datado de 20 de Fevereiro de 2014.

2. A questão sobre a qual incidiu um segundo despacho judicial, que vem negar a aceitação do pedido cível, não poderia ter sido alterada, porque com o primeiro despacho esta questão já ficou assente e, ao adquirir força

obrigatória para o processo, estava o Juiz impedido processualmente de modificar uma decisão anteriormente proferida e fundamentada.

3. A questão de carácter processual decidida por via do primeiro despacho, em aceitar o pedido cível e o considerar, ficou violada quanto à sua legalidade e aplicabilidade, em face do segundo despacho proferido no mesmo processo e pela mesma Meritíssima Juiz, que vem contradizer completamente o que estava instituído anteriormente e que, em consequência, foi a Assistente prejudicada nos seus direitos constitucionais por não ver o seu pedido cível formulado a ser discutido e julgado.

4. A Recorrente considera que o despacho inicial, datado de 19 de Dezembro de 2013, no qual se decidiu aceitar o pedido cível e entendê-lo como “

tempestivo” reveste natureza perentória e obrigatória para o processo,

consignada aquando do seu trânsito em julgado, não podendo deste modo ser alterada. O que ao sê-lo estamos perante uma situação de ilegalidade

processual, que tem que ser revogada e consequentemente ser o pedido cível, anteriormente aceite, discutido e julgado.

Nestes termos, e nos melhores de Direito que V. Exas. doutamente suprirão, deverá o douto despacho proferido pelo tribunal “a quo” em 20 de Fevereiro de 2014 ser revogado, e, consequentemente, ser o pedido de indemnização cível formulado pela Recorrente, em 13 de Junho de 2013, discutido e julgado em sede de audiência de discussão e julgamento”.

*

O arguido respondeu, entendendo que o recurso interposto pela assistente deve ser declarado improcedente, e, em consequência, deve ser mantido o despacho, de 20 de Fevereiro de 2014, que não admitiu, por

extemporaneidade, a dedução do pedido de indemnização cível.

O Exmº Magistrado do Ministério Público na primeira instância respondeu ao recurso, entendendo também que este não merece provimento.

Neste Tribunal da Relação, a Exmª Procuradora-Geral Adjunta emitiu douto

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parecer, concluindo pela improcedência do recurso.

Cumprido o disposto no artigo 417º, nº 2, do C. P. Penal, não foi apresentada qualquer resposta.

Efetuado o exame preliminar, e colhidos os vistos legais, foi o processo à conferência, cumprindo agora apreciar e decidir.

II - FUNDAMENTAÇÃO

1 - Delimitação do objeto do recurso.

Uma única questão é suscitada no presente recurso, segundo o âmbito das correspondentes conclusões, que delimitam o objeto do recurso e definem os poderes cognitivos deste tribunal ad quem, nos termos do disposto no artigo 412º, nº 1, do C. P. Penal: saber se o pedido de indemnização civil deduzido nos autos pela assistente pode ou não ser considerado como extemporâneo.

2 - A decisão recorrida.

É do seguinte teor o despacho revidendo:

“No despacho que recebeu a acusação pública, a fls. 177, foi admitido o pedido de indemnização civil formulado pela ofendida, por se entender ser o mesmo tempestivo.

Na sua contestação, a fls. 201 e ss., veio o arguido A. arguir a irregularidade do referido despacho, uma vez que entende que o pedido de indemnização civil deveria ter sido rejeitado, por manifestamente extemporâneo.

Dada agora a palavra à mandatária da assistente, para se pronunciar sobre a alegada irregularidade, a mesma manteve todo o alegado anteriormente nos autos.

Efetivamente, compulsados melhor os autos, verifica-se que assiste razão ao arguido, porquanto o pedido é realmente extemporâneo, tendo por isso sido cometida pelo Tribunal uma irregularidade processual, a qual, de acordo com o disposto no artigo 123º, nº 2, do CPP, pode ser agora reparada.

Na verdade, a ofendida M foi informada nos termos do disposto no artigo 75º, nº 1, do CPP, da possibilidade de deduzir pedido de indemnização civil no âmbito deste processo, em 27/08/2012 (cfr. fls. 6 e 7). Devia por isso ter

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manifestado nos autos a sua intenção de deduzir tal pedido até ao encerramento do inquérito (cfr. artigo 75º, nº 2, do CPP), a fim de ser

posteriormente notificada da acusação e poder beneficiar do prazo previsto no artigo 77º, nº 2, do CPP. Não o fez.

A acusação pública foi notificada ao arguido em 25/03/2013 (fls. 107 verso, e artigo 113º, nº 3, do CPP). Logo o prazo da ofendida – de 20 dias a contar da notificação da acusação ao arguido, pelo nº 3 do artigo 77º do CPP –

terminaria em 26/04/2013 (considerando as férias judiciais e os 3 dias úteis com multa).

Não temos dúvidas de que a ofendida beneficiava do prazo previsto no nº 3 e não no nº 2 do artigo 77º do CPP, por a mesma ter sido avisada nos termos do artigo 75º, nº 1, do CPP, e não ter manifestado nos autos o seu propósito de ser indemnizada, pelo que nem sequer teria aquela de ser notificada da acusação, como foi. Neste sentido vejam-se os Acórdãos do Tribunal da

Relação do Porto de 24/10/2007, Proc. nº 0714673 e da Relação de Lisboa de 04/11/2004, Proc. nº 2714/2003-9, ambos disponíveis na base de dados do ITIJ, em www.dgsi.pt.

E não diga a ofendida que não teve hipótese de deduzir pedido no prazo de 20 dias a contar da notificação da acusação ao arguido, porque a acusação só lhe foi notificada muito tempo depois. Tal argumento não colhe. Por um lado, porque era obrigação da ofendida consultar o processo e aí averiguar quando é que se concretizava a notificação ao arguido. Por outro lado, se a acusação lhe foi notificada (o que nem tinha de ter sido) apenas em 24/05/2013, ou seja muito depois da notificação ao arguido, tal facto só a ela é imputável. Isto porque a notificação à ofendida teve de ser realizada por OPC (fls. 129 verso), já que a carta que lhe foi remetida veio devolvida (cfr. fls. 110), apesar de lhe ter sido enviada no mesmo dia que ao arguido (fls. 106 e 107).

Deste modo, tendo a ofendida M deduzido pedido de indemnização civil em 13/06/2013 (cfr. fls. 130), o mesmo é claramente extemporâneo e por isso não pode ser admitido, o que agora se determina.

Notifique”.

3 - Factos relevantes para a decisão.

Da análise dos presentes autos de recurso independente em separado, e com efetivo interesse para a decisão da questão colocada à nossa apreciação, resultam os seguintes elementos essenciais:

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a) A ofendida foi informada da possibilidade de deduzir pedido de

indemnização civil no âmbito destes autos no dia 27 de Agosto de 2012, não tendo, até ao encerramento do inquérito, manifestado o propósito de o fazer.

b) O arguido foi notificado da acusação no dia 25 de Março de 2013.

c) A ofendida foi notificada da acusação no dia 24 de Maio de 2013.

d) A ofendida deduziu pedido de indemnização civil no dia 13 de Junho de 2013.

e) No despacho que recebeu a acusação e designou datas para julgamento, proferido em 19 de Dezembro de 2013, a Mmª Juíza admitiu a dedução do pedido de indemnização civil.

f) O arguido foi notificado desse despacho em 09 de Janeiro de 2014 (e, nessa mesma data, foi notificado para apresentar a sua contestação).

g) Por discordar do despacho proferido em 19 de Dezembro de 2013, o

arguido, na respetiva contestação (que foi enviada por carta registada em 13 de Janeiro de 2914, e que deu entrada nos autos em 14 de Janeiro de 2014), sustentou que a admissão do pedido de indemnização cível apresentado pela lesada constituía uma irregularidade, por tal pedido ser extemporâneo, e, como tal, requereu a reparação dessa mesma irregularidade, com o

consequente desentranhamento dos autos do pedido de indemnização civil em questão.

h) Perante a arguição dessa irregularidade (ínsita no despacho de 19 de Dezembro de 2013), a Mmª Juíza, conhecendo da mesma, proferiu, em 20 de Fevereiro de 2014, o despacho objeto do presente recurso.

i) Além de, na sua contestação, o arguido ter invocado a existência da aludida irregularidade, interpôs também, em requerimento autónomo, recurso do despacho proferido em 19 de Dezembro de 2013, na vertente agora em discussão (tempestividade da dedução do pedido de indemnização civil), recurso esse que, por a Mmª Juíza ter reparado a anterior decisão e ter agora decidido em sentido favorável ao arguido, perdeu utilidade, e não chegou, por isso, a ser tramitado e a subir ao Tribunal da Relação de Évora.

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4 - Apreciação do mérito do recurso.

Questiona a recorrente, na motivação do recurso, não os fundamentos

substantivos do despacho revidendo (proferido em 20 de Fevereiro de 2014), mas, isso sim, a oportunidade processual do mesmo.

Alega a recorrente, em breve síntese, que o despacho inicial (datado de 19 de Dezembro de 2013), no qual se decidiu pela tempestividade da dedução do pedido cível, constitui “caso julgado formal”, não podendo ser alterado.

Ou seja: o despacho de 19 de Dezembro de 2013 já tinha transitado em julgado na altura em que foi proferido o despacho, sobre a mesma questão, mas contraditório, datado de 20 de Fevereiro de 2014.

Cabe apreciar.

Entende a recorrente que o despacho proferido pela Mmª Juíza no dia 19 de Dezembro de 2013 (que admitiu o pedido de indemnização civil por si

formulado) transitou em julgado, pelo que tal decisão não podia ter sido alterada, como o foi (no despacho proferido no dia 20 de Fevereiro de 2014).

Porém, e com o devido respeito, não lhe assiste razão.

Na verdade, notificado do despacho de 19 de Dezembro de 2013, o arguido, na sua contestação e no prazo de 3 dias após a data do conhecimento do ato, invocou a sua irregularidade, nos termos do preceituado no artigo 123º, nº 1, do C. P. Penal, alegando ser extemporâneo o pedido de indemnização civil formulado pela assistente.

Ora, foi sobre essa irregularidade (invocada pelo arguido) que se pronunciou a Mmª Juíza, no seu despacho datado de 20 de Fevereiro de 2014.

E, nesse despacho (o despacho recorrido, datado de 20-02-2014), e bem (a recorrente não questiona sequer diretamente, na motivação do recurso, os fundamentos substantivos do aí decidido), a Mmª Juíza entendeu que a dedução do pedido de indemnização civil era extemporânea.

E decidiu bem a Mmª Juíza (quanto ao aspeto substantivo da questão) porque, tendo a assistente sido informada, nos termos do disposto no artigo 75º, nº 2, do C. P. Penal, da possibilidade de deduzir pedido de indemnização civil, nunca manifestou o propósito de o deduzir no decurso do inquérito, e, assim, o prazo

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para a sua dedução era de 20 dias após a notificação do despacho de acusação ao arguido, nos termos do preceituado no artigo 77º, nº 3, do mesmo diploma legal; a esta luz, tendo o arguido sido notificado da acusação no dia 25 de Março de 2013, teria a assistente que deduzir o pedido de indemnização civil até ao dia 26 de Abril de 2013, pelo que, ao deduzi-lo no dia 13 de Junho de 2013, o mesmo foi apresentado fora de tempo.

De todo o modo (e regressando ao estritamente alegado na motivação do

recurso), tendo a irregularidade do despacho de 19 de Dezembro de 2013 sido arguida em tempo (artigo 123º, nº 1, do C. P. Penal), impunha-se à Mmª Juíza a pronúncia sobre a mesma, o que foi feito (e bem, repete-se) no despacho de 20 de Fevereiro de 2014, e sendo, obviamente, que as irregularidades são

suscetíveis de reparação.

Assim, e sempre com o devido respeito, carece totalmente de sentido a alegação segundo a qual estamos, in casu, face a uma violação do “caso julgado” (entende a recorrente que o despacho inicial, datado de 19 de Dezembro de 2013, transitou em julgado, e, por conseguinte, o despacho de 20 de Fevereiro de 2014 violou esse “caso julgado”).

Com efeito, a partir do momento em que o arguido invoca a existência de uma irregularidade relativamente ao despacho de 19 de Dezembro de 2013, este despacho não transita em julgado enquanto sobre essa arguição de

irregularidade não for proferida decisão.

Isto é: o despacho de 19 de Dezembro de 2013, e quanto à questão objeto da arguição de irregularidade (admissão da dedução do pedido de indemnização civil), só podia transitar em julgado depois de ser proferido novo despacho a decidir sobre essa mesma questão (a descrita irregularidade), oportunamente suscitada pelo arguido - despacho novo esse onde podia ser reparada a

invocada irregularidade, ou, pelo contrário, ser mantido o anterior despacho, nos seus precisos termos, por se entender não existir qualquer irregularidade.

Aliás, a assistente nem sequer foi surpreendida com a nova decisão da Mmª Juíza (datada de 20 de Fevereiro de 2014), já que foi notificada da contestação apresentada pelo arguido, e, por isso, tinha conhecimento que o arguido havia invocado a irregularidade em causa (admissão liminar de pedido de

indemnização civil extemporâneo), bem sabendo a assistente, assim, que a Mmª Juíza teria, necessariamente, que decidir a questão suscitada pelo arguido.

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Em suma: não assiste razão à recorrente quando alega que o despacho de 19 de Dezembro de 2013 transitou em julgado, e que, por isso, o despacho de 20 de Fevereiro de 2014 não o podia ter revogado (na opinião da recorrente, sem fundamento - como acabámos de expor -, o despacho de 19 de Dezembro de 2013 “reveste natureza perentória e obrigatória para o processo, consignada aquando do seu trânsito em julgado”).

Para chegar a esta nossa conclusão, e além do já dito, basta até verificar que o arguido, quando notificado da sua prolação, logo interpôs recurso do despacho datado de 19 de Dezembro de 2013 (face a tal interposição de recurso, e bem vistas as coisas, dificilmente se entende até como pode alegar-se que o

despacho de 19 de Dezembro de 2013 transitou em julgado) – sendo que tal recurso, perante a nova decisão da Mmª Juíza (favorável ao entendimento e às pretensões do arguido), perdeu utilidade, não chegando sequer a subir a este Tribunal da Relação de Évora.

Face a tudo o que fica dito, o recurso interposto pela assistente é totalmente de improceder, mantendo-se o despacho de 20 de Fevereiro de 2014.

III - DECISÃO

Nos termos expostos, nega-se provimento ao recurso da assistente, mantendo- se, consequentemente, o douto despacho recorrido.

Custas pela recorrente, fixando-se a taxa de justiça em 3 (três) UCs. - sem prejuízo do apoio judiciário que lhe foi concedido.

Texto processado e integralmente revisto pelo relator.

Évora, 21 de Outubro de 2014.

________________________________

(João Manuel Monteiro Amaro) _________________________________

(Maria Filomena de Paula Soares)

Referências

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