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5.6  as áreas de lazer dos novos bairros

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Academic year: 2022

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5.34 Nova Guarapiranga.

Foto aérea.

5.35 Nova Guarapiranga, depois. Acervo sehab.

5.36 Localização.

5.37 e 38 Nova Guara- piranga, depois. Acervo sehab.

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estruturador e abertura de claros nas áreas centrais para a criação de praças -, as propostas urbanísticas exploraram possibilidades de projeto que foram descobertas na ocupação informal desestruturada. Não eram intervenções de grandes dimen- sões espaciais, porém mudavam completamente a paisagem local, possibilitando as conexões com os bairros vizinhos, e outra descoberta dessa fase, criando um relação de “pertencimento” à cidade entre os moradores e o novo bairro, que se sentiam recompensados após anos de convívio com condições precárias e bastante orgulhosos de seu bairro “diferenciado”.

5.6  as áreas de lazer dos novos bairros

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Nas favelas, em geral, os moradores estão preocupados com o acesso à moradia indi- vidual e, com esse propósito, investem, inicialmente na construção do abrigo e, ao longo dos anos, na melhoria e ampliação do patrimônio construído. Assim, é possível encontrar, nas favelas paulistanas, casas de vários pavimentos e com acabamento interno refinado, em conformidade com os padrões predominantes nas lojas populares de materiais de construção.

O que vai além da soleira da porta, considerado espaço público, não é objeto da atenção do morador, o que resulta na transformação destas áreas em locais sem usos, cuidados, quase sempre transformados em lugar da marginalidade, da violência, das práticas ilícitas, como por exemplo, o consumo de drogas, que tanto amedronta as famílias que vivem em sua vizinhança mais próxima

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.

Conforme relatado no início deste capítulo, à medida que as primeiras obras de urbanização de favelas (Lote i) eram implantadas, os espaços públicos remanescentes tendiam a ser ocupados de modo individual, mesmo quando se tratava de uma viela sa- nitária, aberta para a passagem das redes de água e esgoto. Em geral, os moradores não consideravam ser um problema ou uma infração ampliar sua casa ocupando as novas áreas livres que iam surgindo, mesmo porque não existia um “código pré-estabelecido”

definindo os limites entre privado e público aos moldes das urbanizações formais.

As evidências sobre um possível embate que ocorreria entre os moradores propensos à incorporação das áreas livres ao seu “patrimônio” e a prefeitura, interessada em preservar a condição de “área livre comum”, apresentaram-se como novas oportunidades de projeto

22 Esse texto foi elaborado a partir da experiência apresentada em Sales, França e Filardo Jr. (2000, p. 185).

23 É comum, nas favelas que estão sendo urbanizadas, que a população vizinha aos futuros espaços públicos se manifeste contra sua implantação, alegando que será usado para o consumo de drogas, motel ao ar livre, local para atividades que causam barulho e conflitos. Em geral, após longo processo de debates em reuniões com os arquitetos, as famílias se convencem da melhoria que um espaço aberto com o acesso livre para os moradores representa uma valorização geral do bairro.

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e como forma de controle dessas expansões e adensamento ilimitado. A partir dessa primeira experiência, adotou-se, como premissa dos projetos, a qualificação dos espaços públicos remanescentes com o propósito de delimitar o território de interesse comum, em suas várias escalas, definindo usos para o desenvolvimento de atividades coletivas, a qual foi incorporada quando da elaboração do Termo de Referência para Projetos.

Os projetos e obras dos espaços públicos realizados tanto no interior das favelas, como nas áreas livres dos loteamentos localizados na Bacia do Guarapiranga, com- preendiam desde pequenas intervenções, como melhoria urbanística de escadarias de acesso, espaços remanescentes com locais de estar com bancos, floreiras, playgrounds, equipamentos para prática de esportes (campos de futebol, pistas de skate, quadras de basketball, ciclovias entre outros), até praças maiores com ambientes para jogos de mesa, quadras poliesportivas e campos de futebol, parques lineares com diversas atividades localizadas ao longo do córrego. O uso de cores que destacassem o espaço público na paisagem cinza das habitações autoconstruídas foi estimulado, bem como a adoção de bons padrões técnicos quando da especificação de projeto.

A implantação dos espaços públicos seguiram o modelo adotado por Oriol Bohigas em Barcelona (1986, p. 22), conhecido como “método das ações pontuais programa- das”, com o objetivo de implantar uma pequena rede de espaços públicos, até então inexistente no interior desses assentamentos. O impacto desses projetos assume uma dimensão urbanística e social, na medida em que funcionam como elementos de qualificação e estruturação, conferindo identidade e “pequenas centralidades” a setores com uma morfologia urbana fragmentada e extremamente densa. Socialmente, esses espaços de convivência funcionam como elementos agregadores, direcionando e ca- nalizando as energias dos moradores para atividades esportivas, culturais e sociais.

É evidente que, quando em um bairro degradado ou não conformado urbanis- ticamente se constrói um espaço público, este atua como um spot exemplar, como motor de uma regeneração do entorno sob a iniciativa dos próprios usuários, inclusive provocando um novo equilíbrio da demografia, frequentemente alterada pela persis- tência de algumas condições físicas deficientes e pela ausência de uma estrutura de habitabilidade e de significação e representação urbanas:

[…] A criação de espaço livre e a atribuição de um significado a este espaço são os dois fatores decisivos para a reconstrução de um bairro. Esta é a política urgente de transformação, porque através dela se conseguem três objetivos muito claros – a permeabilidade e higienização sem destruir a estrutura essencial do bairro, uma maior aglutinação social do setor afetado mediante os processos de significação e monumentalização, e a geração de transformações sucessivas a partir do foco constituído pelo novo espaço livre (bohigas, 1986, p. 18).

Entre 1995 e 2000, cerca de vinte espaços públicos foram implantados nas áreas urbani-

zadas, variando em dimensões entre 1.000 a 7.000 metros quadrados, todos observando

as mesmas diretrizes estabelecidas nos TdR, que previa a “qualificação urbana” como

forma de incorporar os assentamentos precários à cidade reconhecida como formal.

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Os seis exemplos apresentados a seguir ilustram os resultados obtidos com a implantação dos projetos que foram elaborados segundo a hipótese apresentada no presente trabalho.

No loteamento Parque Boulogne, situado na margem esquerda da represa, tendo acesso às Estradas do M'Boi Mirim e da Baronesa, foi implantada a praça na área destinada como espaço livre público do loteamento (1.800 m

2

), o qual configurava um talude íngreme com processos erosivos e depósitos de lixo em sua base. O projeto buscou uma melhor destinação para o terreno público localizado entre dois setores do loteamento, que não se comunicavam devido às diferenças de nível entre eles.

A partir da escadaria proposta, os dois setores foram conectados. E nos patamares criados para vencer o grande desnível, foram implantados espaços de estar com jogos e equipamentos de lazer.

5.39 Parque Boulogne.

Projeto.

5.40 Parque Boulogne.

Acervo sehab.

5.41 Localização.

5.42 Parque Boulogne.

Acervo sehab.

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A praça do Jardim Vista Alegre, também área pública municipal – espaço livre do loteamento contíguo -, tem como acessos principais a Avenida Guarapiranga e a Estrada do Itupu. A área sofreu, durante décadas, aterros de ponta (tipo “bota-fora”), o que ocasionou a configuração de taludes inadequados sobre o talvegue, assim como processos erosivos que contribuíam para o contínuo assoreamento da represa. A praça executada (7.000 m

2

) recuperou geomorfológica e urbanisticamente o terreno an- teriormente abandonado e mal utilizado. Buscou-se, além da instalação de quadras de esportes, campo de futebol e equipamentos de lazer, tirar partido da localização privilegiada que dispõe o lugar – um belvedere para a represa.

A praça do loteamento Vila Natal (7.500 m2) localiza-se em área destinada a espaço livre do loteamento, correspondendo a situações desfavoráveis, seja do ponto de vista da topografia, seja com relação à situação geomorfológica. Neste caso, o terreno dis- ponível, além dos desníveis existentes, consistia num grande talvegue, caminho das águas de toda a sub-bacia denominada Campinas, na margem direita da represa. As obras de macrodrenagem e de pavimentação executadas nas ruas lindeiras e no próprio terreno, permitiram, seguindo a declividade do terreno e com alguns ajustes de nível, a construção de montante a jusante de duas quadras poliesportivas, um grande piso arborizado com bancos e mesas de jogos, e patamares nas cotas inferiores com áreas de estar, playground e gramados.

5.43 Jardim Vista Ale- gre. Projeto.

5.44 Localização 5.45 JardimVista Ale- gre. Acervo sehab..

5.46 Jardim Vista Ale- gre. Espaço público.

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Também localizada nos limites da Bacia do Guarapiranga, ao sul do bairro de Campo Limpo, a praça implantada no Parque Amélia ocupou uma área de convergência da contribuição de drenagem natural e de esgotos tanto da favela, quanto do lotea- mento a montante. O espaço livre tem como referência a copa de um alto eucalipto, marco paisagístico na árida paisagem do entorno. Nesse espaço de aproximadamente 2.700 m

2

, geometricamente central em relação à favela, foram definidos diferentes tratamentos para os pisos, configurados acessos que respeitavam a relação com as vielas existentes e a topografia, e implantados equipamentos de lazer, como pista de patins, quadra de esportes, playground, tirando-se partido, também, da canalização de três nascentes que hoje funcionam como pequeno lago para crianças. O novo espaço funciona como nó de articulação entre a comunidade local e os loteamentos lindeiros, como comprova a maior frequência verificada nos finais de semana.

5.44 Vila Natal. Acervo sehab.

5.45 Localização

5.46 Parque Amélia.

Acervo sehab..

5.47 Localização

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Ainda na margem direita, no Jardim Boa Sorte, foi implantada uma área de lazer (4.000 m

2

), em uma encosta antes ocupada por habitações precárias e em situação de risco. Após a remoção das famílias, foram criados patamares que possibilitaram a implantação de uma quadra de esportes e locais de lazer contemplativo, os quais se conectavam por várias escadarias. A posição privilegiada da área de lazer permitiu criar um belvedere com vista para o lago.

5.48 Localização 5.49 Jardim Boa Sorte.

Projeto.

5.50 e 51 Jardim Boa Sorte. Acervo sehab.

Na margem esquerda da represa, cabe destacar o exemplo da Praça Israel,

localizada no bairro Interlagos. Em 1999, os moradores da região procuraram a

coordenação do programa para expressar seu incorformismo frente às notícias de

implantação de praças nas favelas da região, enquanto o bairro de classe média não

recebia investimentos e a área pública localizada na Avenida Robert Kennedy era

castigada pelos constantes alagamentos nos períodos de chuva. Assim, foi implantada

a nova praça (4.700 m

2

), com projeto paisagístico adequado à região e elementos

que desenhavam caminhos a serem percorridos para integrar os vários pequenos

equipamentos ali instalados.

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5.7  a implantação dos projetos e novos aprendizados

A experiência adquirida com as primeiras obras permitiu entender que os proje- tos executivos, mais que um instrumento técnico a ser executado automaticamente, constituiam-se em referência para a equipe da empresa construtora, que necessitava de constantes mediações e readequações, tendo em vista a realidade das áreas, as condições de solo, a topografia e, as reivindicações sociais, que surgiam à medida que a população se interava do projeto.

Inicialmente, o projeto de urbanização parte da definição do traçado urbano geral, o qual ocorre em função de determinada realidade existente e das possibilidades oferecidas pela morfologia da área, a partir do qual são distribuidos os fluxos internos e externos,

5.52 Praça Israel.

Acervo sehab.

5.53 Praça Israel.

Projeto.

5.54 Localização.

5.55 Praça Israel.

Acervo sehab.

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a acessibilidade para pedestres, veículos, serviços urbanos, redes de infraestrutura e as conexões com outros bairros e equipamentos públicos localizados na região.

Definido o traçado, parte-se para a elaboração dos projetos de redes de infraestrutura, geométrico e pavimentação, micro e macro-drenagem, distribuição de água, esgotamento sanitário e consolidação geotécnica. Ao final dessa fase, também estará definido o número de remoções de casas (famílias que serão reassentadas em unidades localizadas fora da área de mananciais) e de relocações (parte da moradia que será perdida).

O traçado das redes internas de esgotamento sanitário, a viabilização da passagem de coletores de esgoto em fundos de vale, bem como a viabilização de acesso para coleta de lixo e manutenção mecânica das redes de esgoto mais importantes, definidos em funções dos padrões estabelecidos pela empresa concessionária dos serviços de água e esgoto (sabesp) e empresas concessionárias de serviços públicos no caso da coleta de lixo, constituíram o principal condicionante para a definição da abertura do sistema viário, das obras de macrodrenagem e de parte das obras de consolidação geotécnica.

Os padrões e normas exigidos por esses órgãos implicaram na busca do diálogo entre o projeto e a norma, obtendo avanços significativos, seja mediante a adaptação destas, seja por meio da colaboração intensa com concessionárias no sentido da criação de padrões adequados.

Durante a fase de obras, o processo de revisão de projetos continua existindo de forma intensa, tendo em vista que parte considerável das decisões será tomada durante o desenvolvimento dos trabalhos.

O período que separa a elaboração do projeto e o início da obra pode resultar no surgimento de novas interferências, quase sempre com consequências que impedem a implantação das soluções adotadas para o acesso viário e redes de infraestrutura, resul- tando na obsolescência prematura dos projetos executivos, e na necessária revisão e re- elaboração dos projetos, bem como em alterações no escopo dos serviços contratados.

Essa realidade apontava para a necessidade dos projetos executivos serem ela- borados pari passu com as obras, implicando em uma mudança de procedimentos quando da contratação de obras de urbanização, que passou a ser realizada a partir do projeto básico, previsto na legislação que regulamenta as licitações no país (Lei Federal n

o

8666/93).

Um avanço significativo, resultado do aprendizado empírico possibilitado pela implantação das primeiras obras, foi a consolidação da ideia de que a intervenção em favelas não deve prender-se à ideia da obra “mais barata”, mas, sim, ao serviço mais adequado à realidade dessas áreas, o que poderá representar custos mais elevados do que os utilizados em situações não sujeitas a mudanças de toda ordem. O exemplo mais significativo deste enunciado está relacionado às áreas de lazer: um playground implan- tado em uma nova praça será utilizado ao máximo da sua capacidade, portanto deve ser produzido com material mais resistente e durável, o que representa custos maiores do que os equipamentos tradicionais implantados em locais onde são pouco utilizados.

Aprendeu-se que, para implantar ações dessa natureza em condições tão adversas,

é necessário o envolvimento de profissionais com enorme capacidade técnica e de

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iniciativa diante das interferências e “surpresas” que se apresentam no dia a dia da obra, experiência no enfrentamento da contínua necessidade de adequação dos projetos à realidade mutante da favela, treinamento e desenvoltura para trabalhar com a comunidade e com profissionais das mais diversas disciplinas. Enfim, exige-se, desse técnico, ao mesmo tempo que um perfil polivalente, treinamento específico para aliar a boa técnica ao trato das questões sociais e urbanísticas, muito além do estabelecido nos currículos escolares.

A implantação de obras em situações de insalubridade, com risco de escorrega- mentos de encostas e margens de córregos, inundações, baixa capacidade de suporte do solo e do subsolo, lençol freático aflorante, dificuldade de acessos, e principalmente interferências com as moradias existentes, significa enfrentar dificuldades, muitas delas não previstas. Essa realidade demanda o trabalho de acompanhamento social, e o esclarecimento contínuo dos objetivos a serem alcançados com a urbanização, a participação das lideranças comunitárias e dos moradores na definição dos projetos, e o cadastramento daqueles que sofrerão interferências diretas com as obras, são fundamentais para o bom andamento das intervenções.

Imediatamente após a conclusão das obras, novas dinâmicas dominam os novos espaços públicos - ruas ocupadas com a circulação de veículos e pedestres, moradores investindo na melhoria das suas casas, utilização das áreas de lazer. O contraste acentuado entre as favelas e o bairro vizinho, assim, desaparece.

A implantação das “pequenas centralidades”, espaços de convivência que funcio- nam como elementos agregadores da vida social do bairro, ao mesmo tempo em que cumprem uma função educativa, os quais servem como observatórios de reconheci- mento dos processos naturais (como no caso da recuperação das nascentes), conferem uma dimensão urbana aos novos bairros.

O impacto desses projetos assume uma dimensão urbanística, ambiental e social,

na medida em que funcionam como elementos de qualificação e estruturação, confe-

rindo identidade a setores com uma morfologia urbana fragmentada e extremamente

densa. Ambientalmente, permite-se recuperar parte dos processos naturais, antes

rompidos pelas ocupações precárias.

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