O que será tratado
nesta aula
Esta aula vai discorrer a respeito do teatro, do simbolismo no teatro grego, da evolução do teatro grego para o moderno, bem como a influência que essa evolução provocou
no imaginário do público. Também serão abordadas as relações entre artes cênicas e psicologia, e de que modo o teatro pode elucidar questões fundamentais sobre nossa personalidade.
Os símbolos do teatro
Trataremos, neste curso de Artes Cênicas, de teatro, história e gesto. “Teatro” vem da junção das palavras gregos “theo”, que significa “observar, contemplar”; com
“atrium”, que significa “espaço, edifício”. De fato, o teatro é um lugar onde se contempla.
E tanto é assim que, na Grécia, o teatro ficava no alto de uma colina – símbolo do próprio Universo. Não existia luz elétrica.
As peças eram, portanto, apresentadas ao longo do dia, iluminadas pela luz do Sol, símbolo da inteligência e do próprio Deus.
Como a platéia contempla a representação dos atores, Deus contempla nossas ações.
Ir para o alto da colina assistir às
apresentações de teatro era, para o grego, sair de sua realidade cotidiana e contemplar as ações dos homens desde um ponto
intermediário entre o céu e a terra. Os
homens não eram, como são hoje, sedentos por realismo. O grego não exigia que o
ator fosse o personagem em vez de apenas representá-lo.
A diferença
entre ser uma pessoa e agir
como ela
N o teatro de hoje, bem como no
público de hoje, existe uma confusão entre representar o personagem e ser
o personagem. Essa confusão aparece em nossa própria vida sempre quando imaginamos, por exemplo, poder
construir a nossa própria personalidade.
A personalidade não é uma coisa que se construa e, mesmo se fosse, sua
personalidade é a sua própria pessoa, e é impossível que você se construa a si mesmo.
A mesma confusão aparece também
quando pensamos em “auto-imagem”. Uma coisa é o terapeuta olhando para o paciente, com determinado arcabouço teórico,
tentando desenhar uma imagem dele.
Outra, muito diferente, é a própria pessoa querer enxergar a si mesma. Como alguém poderia ser, ao mesmo tempo, sujeito e
objeto de sua própria consciência?
Essa confusão evidencia, também, a
conexão que existe entre as Artes Cênicas e a Psicologia. Não se trata de uma
coincidência, as duas ciências tiveram, no século XX, um avanço significativo.
O ator moderno é resultado do pensamento de Stanislavski. Ele foi o primeiro a sistematizar o trabalho do ator e seu trabalho impregnou- se em nossa cultura. A conhecida expressão
“memória emotiva”
vem de sua obra.
Antes de Stanislavski, apresentações
teatrais feitas por
A evolução
do teatro com Stanislavski
Constantin Stanislavski
amadores eram muito comuns. As pessoas encenavam sem se preocupar com a
técnica, mas apenas com narrar uma história.
A preocupação em narrar é, inclusive,
uma das marcas que diferenciam o gênero dramático do gênero épico. A narração,
própria do épico, pretende contar uma história e não fazer com que ela se
desenrole diante de seus olhos; sua matéria dirige-se aos ouvidos.
O teatro, que é gênero dramático, dirige- se aos olhos. Se você está assistindo a Hamlet, você não escuta a história, mas a vê representada. Stanislavski sofisticou a representação, dando mais ênfase ao
trabalho do ator. Isso afetou o imaginário do público.
Depois de Stanislavski, a maior parte das pessoas supõe que construir a personagem
apenas, agir como alguém. Da mesma forma, quando tentamos, nós mesmos, mudar nossa maneira de ser, não vamos jamais conseguir ser menos orgulhosos ou ser mais humildes. A única coisa que conseguiremos é mudar nossas próprias ações.
N ão há como representar qualidades.
É possível representar, com
tranquilidade, uma ação física. O tom de sua voz, por exemplo, é algo que você é
capaz de mudar. Com meu corpo, eu posso dar a impressão de estar mais ou menos presente, mais ou menos triste. Alguém
pode dar a entender que está triste, ausente, sem de fato estar triste ou ausente; o seu
corpo, porém, deu a impressão desses estados.
Temos responsabilidade sobre nossos
estados mentais, porque muitas vezes eles são influenciados pelo nosso corpo. É um vício querer relacionar-se com o ambiente apenas de modo mental. Se alguém tenta
Ações físicas e ações mentais
mentalmente é presente e confiante, não vai convencer. Seu corpo vai apresentar ausência e insegurança.
É por isso que, embora seja importante desenvolver a “leitura corporal”, muito mais necessária é a “escrita corporal”.
Desenvolvê-la é essencial para o ofício do ator. O ofício do ator não consiste em, como muitos imaginam, sentir como uma personagem, mas em fazer suas ações.
Saber disso é útil para nossa própria vida.
Como poderíamos, de uma hora para outra, sentir menos orgulho? Podemos, entretanto, mudar a nossa postura, os nossos gestos, a nossa maneira de olhar para transmitir menos orgulho. Quem
sabe, depois de agir bastante como pessoas humildes, acabemos por ficar menos
orgulhosos.